Revista Complexo

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TIPOS DE CARTAZES TIPOCALI A INTERATIVIDADE E O MIS PAINEL SEMÂNTICO MULTIDISCIPLINARIDADE DO DESIGN ENSAIO SOBRE A FORMA

ano I . número 01 junho de 2017

OFICINA TIPOGRÁFICA SÃO PAULO GRÁFICA FIDALGA E O LAMBE LAMBE



Conselho editorial Amanda Tavares Barrozo, Bruna Gabriela da Cunha Santana Gabrielle Silva Militão, Giovanna Lusvarghi Centro Saula Pouza www.csp.sp.gov.br CENTRO SAULA POUZA

Redação e correspondência Av. Roque Petroni Júnior, 630 - Morumbi, São Paulo - SP, 01310-200 Contato Revista Complexo (11) 1234-5678 contato@revistacomplexo.com.br www.revistacomplexo.com.br Assinatura Grande São Paulo: (11) 8765-4321 Demais localidades: 0800-770123 www.revistacomplexo.com.br/assine Serviço ao assinante www.complexosac.com.br 0800-7712345 A Revista Complexo é uma publicação trimestral do Centro Saula Pouza pela editora Moose, impressa em papel couché fosco 90g/m² e utiliza as fontes OpenSans e Merriweather.

editora moose

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AO LEITOR Foi com o intuito de ajudar os ingressantes no mundo do Design, e fornecer um material de referência e busca ativa, promovendo o aprendizado e o desenvolvimento dos estudantes, que nossa revista surgiu. Introduzindo assuntos fundamentais sobre o Design e abordando áreas relacionadas e essenciais para o aprendizado, queremos que nosso leitor se sinta confortável ao entrar em contato com o Design, tendo condições de avançar em suas pesquisas com autonomia e confiança. Nesta edição, falamos sobre tipografia, sobre a importância da experimentação e da preservação de técnicas que outrora foram substituídas pela tecnologia mas hoje retomam o espaço no processo criativo, incluindo uma conversa com Thiago Reginato (Tipocali) e também te contamos como são feitos os lambe lambes da cidade. Falamos sobre cartazes e como podem ser tão diferentes mesmo tendo funções similares, explicamos um pouquinho do importante processo de desenvolvimento de painéis semânticos e sobre a interatividade nos museus. Falamos também sobre como o Design Gráfico se relaciona com uma área muito importante do campo do design, a arquitetura, e como é importante entender um pouco de tudo isso para ser um bom designer gráfico. Seja bem vindo à Complexo!

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SUMÁRIO A FORMA COMO ELEMENTO ESTRUTURAL

AS DIVERSAS CARAS DO CARTAZ

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O QUE O DESIGN TEM A VER COM ISSO?

LAMBE LAMBE

TIPOCALI

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OTSP E A PRESERVAÇÃO DA IMPRESSÃO TIPOGRÁFICA

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PAINEL SEMÂNTICO

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INTERATIVIDADE NO MUSEU

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feito na luz

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feito na luz

A FORMA COMO ELEMENTO ESTRU TURAL

O campus Morumbi da universidade Anhembi Morumbi foi construído no espaço de uma antiga fábrica. Composto por dois galpões e um prédio, construídos em épocas distintas, sua arquitetura apresenta diferenças significativas que nos contam parte de sua história. Os elementos básicos e fundamentais do Design estão presentes em várias coisas. Basta ter um pouco de atenção para perceber a sua força silenciosa presente no cenário. Num contexto de construção, exploramos suas formas em diálogo com eles, valorizando suas linhas e texturas enquanto parte fundamental de sua composição. São vários pontos, linhas e planos em conjunto fazendo o seu papel, sendo capazes de atrair nosso olhar tanto por sua forma quanto por sua simples beleza em harmonia.

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feito na luz

À direita: Prédio Jardins À esquerda: canos do Galpão 2

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feito na luz

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À esquerda: grafitti atrás de uma estrutura À direita: Prédio Jardins

feito na luz

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de tudo um pouco

O QUE O DESIGN TEM A VER COM ISSO? Entenda como o design se relaciona com a arquitetura presente no seu dia a dia A interação entre o design gráfico e a arquitetura ocorre há muito tempo, e um exemplo é a escola Bauhaus. Seus designers e arquitetos possuíam a palavra de ordem “menos é mais”, seguindo o princípio da funcionalidade do objeto, que dizia “a forma segue a função”, ou seja, a forma de um objeto ou espaço deveria seguir apenas o quesito de funcionalidade e ser livre de ornamentos estéticos. Tal princípio aproxima-se da teoria da Gestalt, onde são utilizados apenas elementos básicos na composição. Veremos a seguir alguns edifícios da cidade de São Paulo que também possuem elementos da Gestalt em suas estruturas e interiores. Edifício Itaú Cultural Localizado na Av. Paulista, o edifício Itaú cultural é um dos maiores centros de referência artística intelectual de São Paulo. Foi projetado em 1995 pelo engenheiro Ernest Mange e posteriormente reformado pelo arquiteto Roberto Loeb para que o espaço pudesse se adequar aos programas que o instituto viria a receber. Sua fachada e o interior contam com linhas e planos bem marcados e estruturados.

Edifício Itau Cultural

Hotel Unique Projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake no ano de 2002 e localizado na Av. Brigadeiro Luís Antônio, o projeto do Hotel Unique tinha o objetivo de não passar despercebido. Sua estrutura feita de metal com proteção em vidro é um arco invertido com janelas circulares, demonstrando também o conceito de pontos sobre planos, uma ideia inédita que surgiu, segundo o arquiteto, porque a região onde o hotel está localizado só permitiam prédios de até 25 andares.

Hotel Unique

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de tudo um pouco Itacolomi 445 Construído em 2014 pelos arquitetos Álvaro Puntoni, João Sodré, Jonathan Davies e André Nunes. Logo de cara a fachada do edifício Itacolomi 445 mostra seus planos e linhas bem destacados, o que não é diferente em seu interior, o objetivo desta construção é unir suas formas e estruturas com as do bairro de Higienópolis, onde está localizado, unindo até mesmo as varandas de alguns apartamentos com as copas das árvores.

Frente e hall de entrada do edifício Itacolomi 445

Edifício Esther Considerado um dos edifícios pioneiros do modernismo na cidade de São Paulo, o edifício foi inaugurado em 1938 e projetado pelos arquitetos Álvaro Vital Brasil e Adhemar Marinho. Sua construção foi encomenda de Paulo de Almeida Nogueira, que deu o nome de sua esposa ao edifício. Ele conta com lojas, escritórios e até apartamentos residenciais. Possui também os primeiros apartamentos denominados duplex, além de cobertura residencial. Em sua estrutura podemos ver grandes janelas, que demonstram os aspectos dos planos demarcados por fortes linhas de fácil percepção.

Edifício Esther, vistas frontal e lateral

Box 298 Projetado pelo arquiteto Andrade Morettin no ano de 2013, o Box 298 é um prédio de escritório localizado na Vila Madalena. O edifício, como seu nome já sugere, tem como objetivo representar caixas coloridas empilhadas, de forma que também tragam maior luminosidade e ventilação a todos os andares e combinem com o estilo do bairro. Através das mesmas caixas coloridas, fica evidente a demonstração de fortes planos, as linhas também estão representadas por suas colunas de sustentação.

Box 298, vista externa

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de tudo um pouco Módulo Bruxelas Composto por dois prédios e uma icônica passarela de ligação entre os mesmos, o edifício comercial Módulo Bruxelas, localizado em Perdizes, foi projetado pelo arquiteto Gui Mattos no ano de 2012 com o objetivo de que o edifício comercial pudesse se incorporar a paisagem do bairro, através da luz e da natureza composta em sua arquitetura. A fachada do edifício conta com diversos planos, pontos e linhas, além da passarela que faz a ligação entre os prédios.

Fachada e parte interna do edifício Módulo Bruxelas

Edifício Arlinda Construído no final da década de 40 e localizado no Largo do Arouche, este edifício é composto por diversas quitinetes. Pois na época de sua construção já haviam as mudanças de hábitos dos paulistanos, que começaram a ir para casa apenas com o intuito de dormir e não precisavam mais de um apartamento muito grande. Como característica modernista, os elevadores foram pensados para poder atender dois lados do prédio simultâneamente. Diferentemente dos outros prédios de quitinetes da região que viraram prédios comerciais, o edifício Arlinda continua com seus apartamentos 100% residenciais. Podemos notar pela sua infraestrutura a presença de diversos planos e linhas fortes, bem distribuídas e demarcadas por todo o edifício.

Janelas do edifício Arlinda

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de tudo um pouco Fidalga 727 Projetado pelo escritório de arquitetura Triptyke, o edifício localizado na Vila Madalena é totalmente conceitual. De cada ângulo de visão ele é totalmente diferente, pois o posicionamento das janelas e sacadas, que são formadas por linhas e planos fortes, não se repete. Cada apartamento é único visto que as plantas também não se repetem. O edifício abriga apartamentos residenciais, de 79 a 281m².

Acima fachada do edifício Fidalga 727, ao lado esquerdo vista de lado do edfício e abaixo hall de entrada.

Texto Amanda Tavares Design Amanda Tavares Todas as fotos foram retiradas do site http://www.prediosdesaopaulo.com, acesso dia 10/05/2017 às 15h

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na parede

AS DIVERSAS CARAS DO CARTAZ Exemplos para entender como ele pode ser diferente

Os cartazes são com certeza uma das peças mais produzidas pelos designers, sua história começa no século XIX, o grande meio de divulgação e comunicação direta com as pessoas eram os pôsteres encomendados aos artistas da época, produzidos por meio de xilogravura ou da gravura em metal. Apenas com a chegada da prensa móvel, os cartazes passaram a ser produzidos em massa. Atualmente, os cartazes ainda são um dos maiores veículos de comunicação e muito utilizados em diversos segmentos. Através do uso da cor, da tipografia, sendo digitais ou impressos, os cartazes têm o objetivo de divulgar e persuadir seu leitor, seja para a divulgação de uma peça teatral, filmes, eventos, palestras ou até no meio publicitário.

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na parede Muito utilizados na divulgação de eventos e palestras, como podemos ver no cartaz da Pinacoteca, o cartaz publicitário tem como objetivo de informar e persuadir o leitor a adquirir o produto em questão, na maioria dos casos fazendo uso da linguagem apelativa, a fim de convencer o leitor a visitar determinada exposição ou adquirir tal produto. Seguindo como exemplo a peça publicitária da primeira campanha internacional da marca Havaianas, a mensagem é transmitida em poucas palavras e através de ilustrações, fazendo com que o leitor perceba rapidamente do que se trata. Outro bom exemplo é o cartaz da artista Paula Cruz, que faz parte da série Modernismo Funkeiro. Unindo informações sobre o gênero musical funk e fazendo referências ao design gráfico modernista, a artista criou uma série de divertidos cartazes tipográficos. Para a divulgação de filmes e peças teatrais, o cartaz também é uma peça chave. Através do mesmo o leitor já consegue compreender o gênero e também já possui uma ideia sobre o que se trata, o cartaz da peça teatral “Alice no país da diversidade” ilustra bem como é fácil identificar o gênero a qual pertencem através de uma breve análise.

1. Cartaz Meu Grid é o Poder, por Paula Cruz 2. Campanha Pinacoteca 3. Campanha publicitária Havaianas 4. Peça Alice no País da Diversidade

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Texto Amanda Tavares Design Amanda Tavares

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dado com valor

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dado com valor

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pĂŠ da letra

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pé da letra

A OFICINA TIPOGRÁFICA SÃO PAULO E A PRESERVAÇÃO DA IMPRESSÃO TIPOGRÁFICA “Sim, é o que pode parecer. No vertiginoso fluxo da tecnologia da computação gráfica a palavra de ordem é trilhar o inimaginável, sempre com os olhos no futuro. Mas esse também é o caminho da Oficina Tipográfica São Paulo. Afinal, o passado está presente no futuro. Ou o contrário. Portanto, olhar para trás, buscando o resgate da linguagem visual do antigo sistema de impressão tipográfica e inseri-la como um recurso de estilo dentro do universo digital não é nenhum absurdo.” Trecho - Órgão da Oficina Tipográfica São Paulo, ano I nº 1, publicado na revista Tupigrafia 05.

Texto Bruna Gabriela Design Bruna Gabriela Fotografia Bruna Gabriela

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pé da letra A partir do interesse em comum por tipografia e impressão dos colegas e designers Claudio Ferlauto, Marcos Mello e Claudio Rocha, surgiu em 2004 a Oficina Tipográfica São Paulo. Durante três anos anteriores à fundação da oficina, foram adquiridas por eles algumas gavetas de tipos e equipamentos diversos, como uma prelo tira-provas, uma impressora Minerva Formato 4, uma guilhotina manual e dois cavaletes de tipos. A partir dessa junção, surgiu a ideia de criar um espaço capaz de reconectar o passado e o presente da tecnologia gráfica para repensar o futuro do design gráfico, e foi assim que surgiu a Oficina Tipográfica. O objetivo da Oficina é, desde então, funcionar como uma gráfica experimental e um laboratório, combinando a tipografia clássica junto das ferramentas digitais de computação no desenvolvimento de projetos. No começo, se instalaram provisoriamente nos fundos de uma gráfica onde Marcos Mello era gerente e, com o passar do tempo, o acervo de maquinas e tipos foi aumentando - compraram uma Linotype Modelo 31, fabricada nos Estados Unidos e importada para o Brasil nos anos 1940, que foi utilizada até o início dos anos 1980 no jornal Diário Popular, atual Diário de São Paulo. Como a máquina não era utilizada há muito tempo, precisou ser totalmente desmontada para reparos e limpeza. Antes mesmo da inauguração, a Oficina já realizava seu primeiro trabalho, combinando off-set com tipografia, na composição de um envelope com gravuras para a 7ª Bienal de Design Gráfico da ADG e para a mostra Brasil Faz Design 2004, que acontecia paralelamente ao Salão Internacional do Móvel de Milão.

Linotype Modelo 31 Oficina Tipográfica São Paulo, 2017

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pé da letra

Convite para a inauguração da OTSP, 2004 Foi Impresso em 2x2 cores, em papelão calandrado 500g/m2, no formato 17,9 x 13,8 cm. Projeto de Claudio Rocha, Claudio Ferlauto e Marcos Melo. Fonte: Fotografia de Henrique Nardi, Material de Rafael Neder

Para que o projeto da Oficina fosse economicamente viável, foi estabelecida uma relação com o mercado gráfico em três níveis: sócio fundadores, idealizadores da Oficina; sócios beneméritos, que contribuiram em alguma forma para o projeto, sobretudo na doação de equipamentos e, por fim, sócios colaboradores, contribuindo financeiramente e, recebendo em troca, produtos da oficina e desconto em cursos e workshops, bem como a possibilidade de utilizar a oficina para projetos gráficos. Alguns meses após a inauguração, aconteceram os primeiros cursos na Oficina, acontecendo com agendamento previo nos momentos em que a gráfica não estava produzindo. As instalações da Oficina precisaram ser revistas quando Marcos Mello se desligou da gráfica onde trabalhava, e a necessidade de encontrar um local apropriado para o acervo fez com que procurassem o professor Manoel Manteigas de Oliveira, diretor da escola SENAI Theobaldo de Nigris, referência em ensino da tecnologia gráfica na América Latina. Manteigas se interessou em firmar uma parceria com a OTSP e, em 2005, foi realizado o convênio entre a Oficina e o SENAI, permitindo então o ampliamento de seu acervo, com a inclusão de novos tipos e equipamentos, doados e comprados, e o gerenciamento do acervo da escola por parte da OTSP. A partir desta parceria, as atividades de ensino e pesquisa da OTSP foram consolidadas, os cursos foram sistematizados em módulos de impressão e encadernação, onde o primeiro módulo introduzia os

fundamentos da composição manual e o pensamento projetual da impressão tipográfica, o segundo módulo investigava as possibilidades expressivas da impressão e o terceiro módulo abordava a encadernação artesanal para pequenas tiragens de livros. No curso, os alunos projetaram cartões de visita e cartazes. Um dos principais objetivos dos cursos sempre foi encorajar o pensamento sobre a validade dos conhecimentos adquiridos e as possibilidades de aplicação no contexto do design gráfico contemporâneo, bem como a avaliação desse contexto. Paralelamente aos cursos, a produção da OTSP continuou. Produziram calendários, livros, álbuns e catálogos e entre suas publicações mais notáveis estão a Revista Tupigrafia, a capa do livro Pensar com Tipos, da Ellen Lupton, bem como o calendário OTSP 2009, realizado com a colaboração de diversos artistas visuais e designers, em diversos materiais. Ao longo dos anos, a coleção da Oficina cresceu significativamente, bem como as suas produções, aumentando ainda mais a visibilidade do projeto, com diversas opções de combinações de processos e a credibilidade do segmento gráfico e editorial. Atualmente, são ministrados periódicamente workshops de tipografia e letterpress na Oficina, e a procura pela técnica tradicional de impressão é cada vez maior, uma vez que inequivocamente é um processo enriquecedor e que produz resultados singulares através da união do clássico com o contemporâneo.

Contato OTSP cursos@oficinatipografica.com.br

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LAMBE LAMBE

popular

A história da grafíca Fidalga e sua produção de lambe lambes na cidade de São Paulo

O lambe lambe se assemelha muito a um cartaz, entretanto ele não possui conteúdo comercial e atua como conteúdo artístico ou crítico, ou ambos, convidando quem o olha a refletir ou a apreciá-lo. Na cidade de São Paulo a gráfica Fidalga é grande responsável pela preservação dessa técnica popular. Ela possui três fases de atuação, segundo o dono, Petrus Vieira. A primeira fase da gráfica, por volta de 1960, se inicia com o seu avô, Maurício Vieira, quem trouxe as máquinas do lambe lambe da Europa para o Brasil. Nessa época ela ainda era itinerante, pois seu avô era militante de esquerda, associado ao sindicato dos metalúrgicos do ABC paulista, e era considerado na época da ditadura como “subversivo”, e assim era forçado a se mover com a gráfica devido a perseguição do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Ela ainda não possuía o nome de Fidalga e produzia várias peças de crítica ao governo. Maurício chegou a ser preso político e ele e sua família tiveram que fugir do país, mudandose para o Chile, depois que a gráfica foi invadida pelos agentes do regime, os quais quebraram e incendiaram as máquinas da família. Uma máquina se manteve inteira, e por possuir origem de fabricação alemã e judia, a Alemanha reivindicou sua posse, mas ela ficou retida no porto de Santos devido a um entrave na documentação. Posteriormente o avô de Petrus conseguiu reaver essa máquina.

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popular

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3. 1. Petrus, dono da Fidalga, com o lambe lambe “Mi casa, su casa” 2. Máquina de produção dos lambes 3. Tipos móveis 4. Tintas para produção 5. Lambe lambes “comer, morar bem, viajar sempre” e “coisas boas acontecem aqui”, gráfica Fidalga, 2017

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popular Parede da gráfica Fidalga

A segunda fase foi um momento de menor produção. Nesse período que a gráfica adquiriu o nome de Fidalga, em 1985. Cláudio Vieira, pai de Petrus, ao assumir a gráfica já possuía uma profissão, a qual ele se dedicava na maior parte de seu tempo: mecânico. Assim , a máquina foi pouco usada, mesmo porque novas formas de impressão estavam surgindo, como silk scren, e Cláudio não quis investir nelas, já que não era sua principal fonte de renda. Com a criação da Lei Cidade Limpa, em 2007, a máquina foi guardada em uma garagem até 2010. Assim, inicia-se a terceira e atual fase da gráfica. Com o desejo de colocar a máquina de volta a ativa, Petrus começou a fazer vários projetos pessoais com o lambe lambe, e divulgá-los onde permitido, mas o gasto de suas intervenções artísticas que não geravam retorno financeiro o levou a buscar uma forma rentável de negócio. Isso o levou a fabricar os próprios tipos móveis a mão, pois não haviam várias letras disponíveis para produção e a fabricação de uma tinta própria para a máquina, além da criação de uma estética voltada para decoração. O processo criativo por trás do lambe lambe é completamente artesanal. Petrus não faz um esboço antes de iniciar a encaixar os tipos móveis. Segundo ele, as ideias surgem espontaneamente e ele as testa até chegar em um resultado final. Atualmente, a gráfica Fidalga faz vários trabalhos em parceria com grafiteiros e artistas plásticos. Ela foi crescendo e hoje em dia já apareceu na gazeta, com o título: Gráfica lambe -lambe fez cartazes contra ditadura, assim como na GNT e em outros programas, e também já fez trabalhos para marcas famosas como Nike, Google, Calvin Klein entre outros. Segundo Petrus, o papel do lambe lambe hoje em dia é propagar ideias e questionamentos, além de colorir e trazer vida à cidade.

Texto e Design Giovanna Lusvarghi Fotos Gabrielle Silva Militão e Giovanna Lusvarghi

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quem faz acontecer

TIPOCALI

TIPOCAL

Formado em Design Visual pela ESPM/SP, sócio fundador do Estúdio Maquinário - Laboratório Criativo, e criador do Tipocali, Thiago Reginato é apaixonado por tipografia e caligrafia. Essa paixão teve início durante a graduação e desde então, vem estudando e trabalhando muito. Seus trabalhos, todos direcionados à tipografia e caligrafia na arte e no design, vão desde ilustrações, peças experimentais e pinturas de vitrines até o desenvolvimento marcas para empresas como a Rede Globo, Nestlé e Toyota. Além disso, se dedica a ministrar workshops, cursos e palestrar por aí. Em um papo breve, conversamos sobre experimentação, aprendizado e a experiência de ensinar enquanto também aprende, e essa conversa vem a seguir.

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quem faz acontecer Quando se deu o seu primeiro contato com o Design? Antes de entrar na faculdade você fez algum curso, ou tinha alguma habilidade já bem desenvolvida? Antes de entrar na faculdade eu fiz um curso de história em quadrinhos com 15 anos, lá que eu ouvi falar a primeira vez do termo design ou desenho industrial. Nem sabia direito o que era isso, mas naquela época já senti que era com isso que queria trabalhar. Sempre gostei de desenhar e arte, então minhas habilidades manuais já eram razoáveis. Você tinha alguma expectativa quanto à area que seguiria quando começou a estudar? Não tinha não. Só no 4º Semestre descobri a tipografia e a caligrafia. Depois que tive esse contato com essa disciplina me apaixonei e nunca mais parei de estudar e me envolver cada vez mais com esse assunto. Já durante a faculdade, você sentiu falta de alguma orientação externa, de algum material que te apoiasse durante os estudos, no sentido de te falar das possibilidades que você tinha? Sim, a faculdade para mim está lá para te dar uma base, mas muitas coisas dependem da sua própria atitude, sendo assim, muito da minha formação busquei fora da faculdade, participando de congressos e workshops de profissionais que admirava. Isso abriu muito a minha cabeça para enxergar coisas que não encontrei na faculdade, mas não critico minha faculdade, pois a ESPM foi essencial na minha formação como designer.

Acima: Sketchbook Tipocali 2017 Direita: Tipocali Alfabeto 2015

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quem faz acontecer Abaixo: Tipocali para Joia Rara/Rede Globo 2013 Dir. superior: Sketchbook Tipocali Dir. inferior: Tipocali + King Cap 2015

No desenvolvimento dos seus alfabetos, o seu processo foi primeiramente manual, na coleta e composição das flores e nos desenhos nos sketchbooks. Você acha que é fundamental esse processo? Acha que o mercado já saturou de produções exclusivamente digitais? Qual a sua relação hoje com os processos manuais de criação e produção em design? Eu acredito que todo designer tem que saber pensar e idealizar antes de sair produzindo. Portanto, o processo manual/analógico contribui muito com isso. E eu pessoalmente curto muito essa parte de se sujar, de aprender com o erro, de experimentar algo que vc não sabe para onde vai te levar. Acredito que o sketchbook é bom justamente por isso, é um caderno mágico, um amigo que pode te ajudar em vários momentos. No começo tinha medo de usar sketchbook por não ser tão bom quanto os caras que admirava, passou um tempo e passou esse medo bobo e nunca mais parei de usar. Sempre recomendo ter um na mala, é uma ferramente incrível, confie em mim. Por fim, destaco que o mais importante é o que você quer com a sua ideia, independentemente se você vai começar com o manual ou o digital. Infelizmente vejo muitos designers saindo produzindo sem parar e sem pensar, desse jeito, sua produção fica pobre e sem conceito.

Texto Bruna Gabriela Design Bruna Gabriela Fotografia Acervo pessoal

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acervo

INTERATIVIDADE NO MUSEU Contemplação não é mais a única possibilidade nos museus

Caneta para escrever recados, MIS

Fotos Gabrielle Silva Militão e Giovanna Lusvarghi Texto e Design Giovanna Lusvarghi

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Quando ouvimos que terá uma nova exposição em determinado museu um pensamento bastante comum é o de tédio, afinal já imaginamos elementos estáticos em um ambiente silencioso, mas nem sempre é verdade. O Museu da Imagem e do Som (MIS) , administrado pela Associação do Paço das Artes Francisco Matarazzo Sobrinho Organização Social de Cultura desde 2007, atua no segmento da educação não-formal, promovendo conhecimento e cultura através de oficinas, cursos, palestras, exposições e visitas mediadas, além de oferecer visitas em português e inglês. Ele já exibiu exposições como Silvio Santos vem aí e O mundo de Tim Burton. Esta última contendo um escorregador para descer de andar, uma peça com pouca iluminação, que apresentava o Jack, de O estranho mundo de Jack, a qual dependia da interação do usuário para que fosse melhor vista, assim como vídeos e obras que, ao se passar um determinado período de tempo, mudavam de posição. De 13 de abril a 28 de maio a mostra é sobre fotografia. Embora seja um tema que se espere bastante estaticidade, o MIS conseguiu fazer que o espectador não seja meramente contemplativo e o seduz em suas várias formas a entrar no mundo da exposição. O museu usa textos nas paredes para explicar sobre as fotografias expostas, além de vídeos, sons ambientes e até mesmo fotos projetadas em um loop contínuo. Em uma parte da mostra, nomeada como Farida, um conto sírio, mostra fotos de refugiados em busca de abrigo ou atrás de seus sonhos, e para isso foi utilizada uma sala escura, cuja luz foi montada para parecer que sai da própria fotografia, com trilha sonora e com o uso de feno no pavimento daquela sala de exposição, levando a sensações que fazem a pessoa que assiste a mostra se envolver com a história dos refugiados retratados nas fotos, as quais tem uma iluminação bastante dramática, fazendo com que as fotos se destaquem nesse cômodo escuro. Na saída dessa parte da exposição foi disponibilizado um espaço para quem quiser deixar um recado para os outros espectadores.


acervo

Mural de recados, 2017

Abertura exposição Tim Burton, 2016

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