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Introdução

Francisca Helena Barbosa Lima

Gerente de Documentação Arquivística e Bibliográfica da Copedoc/IPHAN

Foto: Erich Hess, detalhe O reconhecimento do papel dos fotógrafos para o exercício das práticas de identificação e preservação do patrimônio cultural brasileiro remonta à criação do IPHAN quando profissionais especializados em fotografia eram contratados para retratar os bens ou objetos a serem protegidos. O levantamento preliminar do acervo fotográfico sob a guarda do Arquivo Central do IPHAN, no Rio de Janeiro, teve início na década de 1990, quando foi possível alocar recursos financeiros para a contratação de técnicos e para a compra de mobiliário e material adequado para acondicionamento, visando quantificar e identificar os produtores e os assuntos das imagens fotográficas. O método utilizado para a realização deste levantamento buscou descrever, segundo normas nacionais e internacionais, o conteúdo e o formato das imagens em formulários padronizados, objetivando sua automação. O primeiro texto, intitulado “Mapeamento preliminar das atividades dos Fotógrafos do Patrimônio no IPHAN”, de autoria das historiadoras Brenda Coelho Fonseca e Telma Soares Cerqueira, apresenta um dos produtos da pesquisa denominada “Os Fotógrafos do patrimônio”, desenvolvida como parte integrante do projeto financiado pelo Programa Cai xa de Adoção de Entidades Culturais, “Arquivo Central do IPHAN - negativos históricos: higienização, acondicionamento, duplicação e acesso”. A pesquisa tinha como objetivo refletir sobre a importância da prática da documentação fotográfica para o campo da preservação e, desse modo, atribuir valor aos seus produtos e vestígios. O estudo foi realizado a partir das fontes documentais disponíveis na série “Inventário” com um recorte cronológico estabelecido no período compreendido entre 1937 e 1987. Deste período existe um relevante acervo fotográfico no Arquivo Central do IPHAN/RJ, ao passo que a partir de 1988 as Unidades Descentralizadas (Superintendências Regionais) desta Instituição incorporaram a documentação por elas produzidas aos seus arquivos locais, provocando uma redução de fontes reunidas no Arquivo Central. A partir deste recorte foi priorizado o estudo da produção fotográfica das três primeiras décadas de atuação da Instituição (1930 a 1960), momento em que houve uma maior contrata

ção de fotógrafos. No final da década de 1960, possivelmente em função do aumento da distribuição no Brasil de equipamentos fotográficos e do crescimento de funcionários no quadro do, então denominado, SPHAN, os próprios técnicos passaram a fotografar o patrimônio cultural em detrimento da contratação de profissionais especializados. A pesquisa utilizou como fonte para complementação dos dados biográficos e das informações sobre a relação dos produtores fotográficos com o IPHAN, os Relatórios de Atividades da Instituição, entre 1937 e 1971, os Cadernos de Orçamentos, que detalham os pagamentos feitos aos fotógrafos, e ainda alguns documentos das séries “Obras”, “Personalidades”, “Processos de Tombamento” e parte da documentação do Arquivo Intermediário. No decorrer do trabalho foi feito o estudo da correspondência das décadas de 1930 e 1960 entre Rodrigo Mello Franco de Andrade, diretor do SPHAN, e Godofredo Filho, chefe da Divisão do SPHAN na Bahia, disponibilizada pelo Arquivo da 7ª Superintendência Regional do IPHAN, na Bahia. Foram também coletados depoimentos orais de técnicos que atuaram na Instituição durante décadas e que estabeleceram contato com alguns dos fotógrafos pesquisados. No mês de agosto de 2006, foi entrevistada a museóloga Lygia Martins Costa, que trabalhou no Patrimônio entre 1955 e 1995, e em novembro, Edson Britto Maia, chefe do Arquivo Central/RJ entre as décadas de 1950 e 1990. A partir das fontes consultadas, foi possível conhecer as relações estabelecidas entre o IPHAN e uma importante parcela de fotógrafos que atuaram no registro e documentação do patrimônio cultural em todo o território nacional. De um conjunto de 353 profissionais identificados, foram elencados 41 nomes para compor o “Dicionário dos Fotógrafos do Patrimônio - amostragem” reunidos pelo critério do maior quantitativo de imagens retratando o patrimônio cultural produzidas no período de 1937 a 1987. Do levantamento de 60.086 fotografias na Série Inventário, apenas 25.973 têm autoria identificada. Cabe destacar que neste conjunto incluem-se também reproduções de fotografias de autores identificados. A pesquisa contou ainda com a consultoria histórica e técnica do fotógrafo e pesquisador da fotografia, Pedro Afonso Vasquez, resultando no segundo capítulo deste Caderno, “Construções mentais e imagens reais: notas sobre o diálogo entre arquitetura e fotografia” no qual o autor expõe a relação histórica entre a Arquitetura e a Fotografia e, no caso do IPHAN, analisa o olhar do fotógrafo e do arquiteto ao fixar a imagem do bem cultural.

Os textos subseqüentes expõem os trabalhos de descrição e recuperação de informações e de conservação, duplicação e acondicionamento de acervos fotográficos. Um deles, elaborado pela Gerência de Documentação Arquivística e Bibliográfica, apresenta o método, a técnica e as ferramentas utilizadas para o controle e a descrição dos documentos fotográficos estudados. O outro, elaborado pelo Centro de Conservação e Preservação Fotográfica da Funarte, descreve a metodologia aplicada no tratamento técnico de negativos e, em especial, as soluções adotadas para o trabalho desenvolvido por esta instituição no projeto “Arquivo Central do IPHAN – Negativos históricos: higienização, acondicionamento, duplicação e acesso”. Não foi possível esgotar as fontes do Arquivo Central/Seção Rio de Janeiro, no tocante ao quantitativo do acervo fotográfico sob sua guarda, pois os dossiês, da série intitulada “Obras”, referentes às atividades de conservação e restauração da Instituição não foram estudados. Muito ainda nos aguarda, na medida em que este conjunto documental não dispõe sequer de um livro de registro de fotografias ou negativos para a identificação preliminar. A dispersão das fontes arquivísticas pelas unidades descentralizadas difi-

culta, também, tanto a quantificação quanto a identificação dos produtores das fotografias, assim como a relação destes com a Instituição. As pesquisas complementares com a participação das outras unidades arquivísticas seriam importantes para a construção de um dicionário biográfico dos “fotógrafos” que formaram este valioso acervo documental que propicia a proteção do patrimônio cultural brasileiro. A divulgação destes textos visa contribuir, mesmo que de forma preliminar, para a construção de metodologias para o tratamento arquivístico e de conservação de acervos fotográficos e, sobretudo, para a produção de conhecimento sobre a prática, o uso da fotografia e a inter-relação dos fotógrafos com a missão precípua do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em todo o território brasileiro.

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