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PREFÁCIO
Rita Juliana Soares Poloni
O primeiro volume desta obra organiza-se em torno de três subcapítulos, que buscam congregar, a partir de temáticas afins, reflexões que se apresentam como fruto de pesquisas em processo de desenvolvimento ou de recortes temáticos de objetos de investigação outrora explorados de forma mais aprofundada por seus autores. Procura ser uma obra que objetiva provocar os leitores acerca de temáticas de interesse, despertando questionamentos em torno de objetos com grande potencial de investigação, além de apresentar ao público resultados específicos de pesquisa que permitam, desde já, contribuir com o desenvolvimento de seus campos e temáticas de estudo.
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Assim, o primeiro subcapítulo, denominado MeMÓria arQUiVos & MUseUs, congrega pesquisas em torno de museus e arquivos, ressaltando a importância de tais objetos, não somente na compreensão dos temas a que os acervos em questão se referem, mas sobretudo aos campos científicos que os
investigam e à sociedade brasileira como um todo. Nesse sentido, Francisco Cougo Júnior discute o contexto de aferição de “patrimonialidade” nos arquivos brasileiros e busca compreender quais são os critérios envolvidos nesse processo ao longo de seu desenvolvimento. Já Alvaro Filho propõe a análise de campos descritivos para o tratamento arquivístico do acervo do jornal A Razão, da cidade de Santa Maria, rs, de forma a assegurar a recuperação e a contextualização de utilização e/ou reutilização das imagens nas edições do jornal, tomando como base a Norma Brasileira de Descrição Arquivística (noBrade).
Também Daiane de Souza e Glaucia Konrad procuram demonstrar a importância dos arquivos relacionados a práticas desportivas, tendo como foco o Riograndense Futebol Clube, em pesquisa que procurou reunir o acervo documental do Clube, contando, assim, parte de sua história, enquanto Raquel Schwonke, por sua vez, busca subsídios para comprovar a intencionalidade e a participação do artista Leopoldo Gotuzzo na constituição do Museu de Arte que leva seu nome e que pertence à Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Finalmente, Valdir Morigi e Rafael Chaves propõem reflexões acerca das transformações do conceito de museu no mundo contemporâneo, das informações digitais que divulga, de como se dá o compartilhamento entre instituições e seus públicos e de como se configuram os novos patrimônios a partir dos museus e dos acervos virtualizados.
No segundo subcapítulo, MeMÓria & edUCaÇÃo, reúnem-se textos que procuram estabelecer diálogo entre pesquisas em Memória social e contextos escolares do estado do Rio Grande do Sul, levando-nos a refletir sobre a importância de tais instituições na constituição do sujeito e de suas identidades e
memórias, tanto em âmbito local quanto em contextos políticos de grande impacto social, como é o caso do período ditatorial militar brasileiro. Assim, o texto de Roselâine Corrêa fala sobre o Projeto de Extensão Santa Maria da Boca do Monte: tempos de memória (1858-2018), nos seus objetivos de discutir a história sociocultural do município, valorizando os campos da memória, das artes visuais, da literatura, das religiosidades, da arquitetura, da historiografia, do teatro, do vestuário, da culinária, da música, do mobiliário e dos espaços de sociabilidade. Já Tânia Teixeira busca analisar as práticas escolares de Educação Física no Curso de Magistério no Instituto de Educação Assis Brasil (Pelotas/rs), durante os “anos de chumbo” da ditadura civil- militar no Brasil, destacando nas narrativas das normalistas e na documentação escolar e legislativa a existência de um conjunto de práticas pedagógicas que visavam a garantir o controle corporal das jovens estudantes. Finalmente, Karin Schwarzbold fala do processo de criação da Universidade Federal de Rio Grande e da participação de alunos secundaristas nesse processo.
O último subcapítulo da obra, intitulado MeMÓria, soCiaBiLidades & PaTriMÔnio UrBano, reúne, por sua vez, textos em torno de temáticas variadas, que têm como ponto de convergência a importância do patrimônio material e imaterial na constituição dos sujeitos e na compreensão das sociedades nas quais se inserem. Nesse sentido, Gianne Atallah e João Fernando Nunes tratam das representações locais sobre o Clube Caixeiral de Rio Grande, rs, abordando as suas transformações ao longo do século XX e a forma como essas mudanças relacionam-se a questões socioeconômicas de cada período; Claudia Daiane Molet analisa a Irmandade de Nossa Senhora do
Rosário, fundada em Mostardas, durante o século XViii, e ainda existente, a partir do Ensaio de Pagamento de Promessas, um ritual afro-católico; Charlene Del Puerto e Maicon Vieira procuram debater a relevância da memória e do patrimônio para a existência e desenvolvimento do turismo no Brasil. Já Melina Pereira e Glaucia Konrad analisam o registro fotográfico de edificações de São Gabriel, rs, realizado entre as décadas de 20 a 40 do século XX, com o objetivo de identificá-las, traçar sua contextualização histórica e perceber as modificações e a preservação dessas edificações.
Mais um importante objeto, desta vez do norte do País, é abordado por Rosanna de Mendonça, que debate as questões de patrimônio industrial na cidade de Manaus através do olhar dos moradores do bairro de Nossa Senhora de Aparecida para com o antigo edifício da Cervejaria Miranda Corrêa, procurando compreender se, e como, ela se constitui como patrimônio industrial. De retorno ao Rio Grande do Sul, ainda uma última abordagem, de autoria de Mônica Praz, fala das artes pictóricas produzidas na zona rural do estado no século XiX e início do XX, mais especificamente em três casas de fazenda da Região da Campanha.
Concluindo, ressalta-se, uma vez mais, que em suas múltiplas abordagens e objetos, a presente obra tem por intuito instigar o leitor acerca das abordagens multidisciplinares no campo da Memória Social e do Patrimônio Cultural e de convidá-lo ao estudo de temáticas com importantes potenciais de análise, constituindo-se, assim, em um instrumento de fomento para futuras pesquisas nos campos em questão.