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PREFÁCIO
Rita Juliana Soares Poloni
Este segundo tomo da obra, que reúne os trabalhos do iV Colóquio Internacional Memória e Patrimônio da Universidade Federal de Pelotas, subdivide-se em três subcapítulos que abarcam discussões que têm como ponto de convergência a abordagem de estudos de caso em torno de temáticas em Memória Social e Patrimônio Cultural, constituindo-se como abordagens panorâmicas de pesquisas avançadas, fruto de projetos de pós-graduação finalizados ou em desenvolvimento aprofundado.
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Assim, o primeiro subcapítulo, intitulado MeMÓria, PaTriMÔnio, idenTidades, aborda a relação entre aspectos culturais materiais e imateriais, ressaltando sua relação com a constituição dos sujeitos e das sociedades nas quais se inserem. Nesse sentido, Danilo da Silva analisa o caso da colônia São Lourenço como um espaço complexo, pluriétnico, inter-relacional, ressaltando, em particular, a construção e o positivamento da identidade étnica pomerana; Yara Altez propõe algumas reflexões sobre as tentativas de valorização e uso de alguns artefatos
antigos cotidianos e de restos arqueológicos, encontrados em comunidades afrodescendentes da costa central venezuelana; já Frantieska Schneid procura demonstrar as experiências em fotografia, memória e moda, usando a fotografia como fonte para o estudo das formas vestimentares. Finalizando, Juliani
Brochardt da Silva, Ronaldo Bernardino Colvero e Eduardo
Roberto Jordão Knack percorrem as relações entre performance, memória e a materialidade que envolve o ofício dos benzadores em São Miguel das Missões/rs.
No segundo subcapítulo, denominado ProCessos de PaTriMoniaLizaÇÃo, analisam-se os conflitos que envolvem o processo de ativação patrimonial, destacando a constituição de discursos e memórias acerca do patrimônio e o lugar dos diversos atores envolvidos em torno dos objetos estudados. Assim, no primeiro texto, Laura Ibarlucea trata do processo de patrimonialização de colônia do Sacramento e suas relações com a construção de um discurso identitário, destacando na narrativa patrimonial elementos que foram silenciados ou esquecidos no discurso oficial sobre o tema. Tendo como tema outro interessante objeto em contexto latino-americano, Gabriela Campodónico, Mariciana Zorzi e Facundo Bianchi falam sobre o projeto de identificação e registro de bens culturais da península de Punta del Este, no Uuruguai, destacando a memória e as pertenças dos moradores locais e sua relação com a questão turística no local. Seguindo ainda nas análises do contexto latino-americanos, Zulma Masi fala sobre a Chipa paraguaia e sua face feminina destacando o protagonismo das mulheres paraguaias como pessoas que representam e preservam una tradição cultural, uma memória coletiva e um patrimônio vivo, através da comercialização da chipa.
Finalmente, retornando ao contexto nacional, Lourenço Tomaz, Aline da Silveira e Ana Paula de Faria discutem as diretrizes projetuais de intervenção na Estação Sapucaí, Jacutinga, Mg, e a definição de um juízo crítico e postura de intervenção no patrimônio em questão.
No segundo subcapítulo, denominado MeMÓria, eMoÇÃo E PaTriMÔnio, contextos que envolvem memória, patrimônio e sensibilidades são explorados, tendo como foco objetos localizados no Rio Grande do Sul, especialmente em ambiente rural. No campo da museologia, o texto de Helen Espinosa, Daniel de Souza e Diego Ribeiro discute a relação entre memória e objeto museológico, buscando compreender e definir sua alma, que pode ser ativada mediante revelações de memórias e da compreensão da sua relação com o sujeito (musealidade); dos aspectos simbólicos que eles desencadeiam nos indivíduos (ressonância); de como agem sobre as pessoas (agência), e de seus contextos (suas biografias). Já Helena Medeiros e Juliane Serres analisam o Memorial do Hospital Colônia Itapuã (HCi), discutindo a dualidade entre apresentar esta instituição como um lar ou uma prisão em sua exposição. José Brahm, Diego Ribeiro e Juliane Serres trazem o caso do tacho do Museu Gruppelli, Pelotas/rs discutindo o papel simbólico que pode assumir um objeto dentro do cenário museal, mesmo que em sua ausência material.
Milena Behling e Diego Ribeiro falam sobre o desenvolvimento da pesquisa “Lugares de Memória: Patrimônios afetivos de Morro Redondo-rs”, cujo objetivo é a identificação dos Patrimônios Afetivos da cidade de Morro Redondo na visão dos idosos. Os autores ressaltam que as narrativas dos indivíduos indicam lugares de memória que não são vistos pelo âmbito do
patrimônio consagrado que conhecemos, mas pela afetividade que esses lugares despertam nos sujeitos. Por último, Jenny González Munõz aborda as necrologias presentes na imprensa de Passo Fundo/rs, mostrando a importância desses textos para a história e memória local.
O último subcapítulo do presente volume traz por título MeMÓria, PaTriMÔnio E regiMes aUToriTÁrios. Em consonância direta com o tema do evento gerador, os textos versam acerca de “memórias difíceis” e da importância dos estudos em Memória, Patrimônio, Artes e Cultura Material para as discussões que circunscrevem as ações da Justiça de Transição em diferentes contextos. Nesse sentido, Rita Poloni discorre sobre a relação entre Arqueologia, ditaduras e produção científica, destacando sua importância no contexto da Justiça de transição no País; enquanto Katia Helena Dias e Francisca Michelon discorrem sobre os usos, (re) usos e significações das fotografias de desaparecidos políticos presentes e expostas no Espaço de Memória e Direitos Humanos (Ex-esMa), discutindo acerca do compartilhamento das memórias das vidas ausentes, presentificadas, a partir das imagens fotográficas. Em relação ao campo do Teatro, Marina de Oliveira traz a forte e sensível discussão da representação do estupro de mulheres nas ditaduras latino-americanas em duas peças teatrais – Milagre na cela (1977), de Jorge Andrade, e La Muerte y la Doncella (1992), de Ariel Dorfman – que tematizam de modo divergente testemunhos relacionados ao tema. Fechando a terceira parte, Lidiane Friderichs busca analisar o impacto da ditadura para o movimento sindical dos trabalhadores ferroviários da cidade de Rio Grande, rs, entendendo as formas de controle e repressão efetivados pelo governo militar contra suas organizações.
Dessa forma, o presente volume tem por objetivo divulgar o andamento de pesquisas que envolvem importantes e sensíveis temas que se relacionam aos campos da Memória Social e do Patrimônio Cultural, procurando demonstrar o avanço nos referidos campos em contexto brasileiro e latino-americano e reforçando a importância dos pesquisadores e das temáticas a eles relacionados no desenvolvimento de ações sociais, culturais e políticas de grande importância local e nacional e regional.