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Práticas culturais na “cidade civilizada”
rou coibir antigos costumes populares que iam de encontro ao programa de modernização nas ruas. Nesse aspecto, E. P. Tompson desenvolveu sobre a Inglaterra dos séculos XVIII e XIX importantes estudos a respeito das pressões dos grupos oriundos de setores dominantes para “reformar” culturas populares com imposições de normas do alto para baixo. Para o historiador britânico, “as pressões em favor da ‘reforma’ sofriam uma resistência teimosa”102. Neste estudo é demonstrado como em Jacobina o poder público tentou implementar seu programa “civilizatório”, ao passo que se percebem nas fotografias como os grupos “insubordinados” procuravam garantir a manutenção de seus costumes através de várias práticas na cidade. Essas imagens podem ser vistas nos olhares fotográficos de Osmar Micucci e nas páginas do jornal Vanguarda. Ainda que não existam pesquisas de fôlego sobre os aspectos culturais em Jacobina entre nesse período em questão, pode-se inferir, tendo por base as informações obtidas através das fotografias, do jornal Vanguarda, das entrevistas orais e de alguns poucos estudos, que neste contexto a sua sociedade ainda tinha forte ligação com o mundo rural. O grande contingente populacional que chegava à cidade era na sua maioria oriundo da zona rural. Segundo Ângelo Fonseca,
a região de Jacobina, nesse período, era predominantemente agrícola, com a população mais concentrada na zona rural. Apesar de começar a se especializar mais no setor terciário, que tem caráter eminentemente urbano, chega ao final da década de 60, predominantemente rural.103
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É provável que esse predomínio rural tenha sido um aspecto marcante na formação cultural de Jacobina, pautado em costumes ligados ao universo agrário e mineiro, com suas histórias, práticas religiosas, festividades e sociabilidades. No entanto, o leitor há de perceber que tais costumes estavam em permanente processo de mudanças e disputas no espaço da cidade. Foi neste sentido que Tompson, estudando os
102 THOMPSON, E. P. Costumes em comum. Tradução Rosaura Eichemberg. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1998. p. 13. 103 FONSECA, Antônio Ângelo Martins da. op. cit., p. 141.