Pensares 23 2018

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Escolas | João de Araújo Correia

Nº 23

Junho 2018



ÍNDICE 02 03 03 04 05 06 08 08 09 10 12 14 17 18 19 20 21 23 23 24

Editorial A. Marcos Tavares Silêncio M. Eugénia Monteiro Autoanálise Alguém que foi adolescente Simples Maria Rita Ferreira Agora... Estela Ferreira O poder manipulador das redes sociais A. Marcos Tavares Amor Tiago Teixeira Incógnita da Vida Murphy Guimarães Medo Beatriz Rodrigues Premissas Conceição Dias Ao Homem cabe pensar João Pedro Pereira Astronomia e Mitologia com Arte Sónia Lopes Espera (nça) Inês Carvalho Incertezas Carlos Carvalhosa Chove José Artur Matos Somos assim Raia Serra Embriagado pela peste Leandro Andrade Anjo da guarda Maria Beatriz Trindade Amor Luísa Chambel Gonçalves Para ti, "Humano" Bruna Meneses

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Especial Centro Escolar das Alagoas Especial Centro Escolar da Alameda Especial EB 2,3 de Peso da Régua "Clarim da Verdade" Pedro Babo Esfemeridade da vida Margarida Almeida Eu só queria um recomeço... António Lebres A inveja Jerónimo Carreira "LUA" José Tolentino Mendonça Pedro Miranda Fel Existencial Manuel Ferreira Tempestade Carina Araújo O valor da obra de arte Ricardo Oliveira Dei-te o mundo Bruna Cardoso Droga leve, debate duro Liliana Cardoso Liberdade Ana Fonseca Querida, eu mesma... Diana Ferreira A mentira do tempo Marisa Borges A partida Joana Conceição Adolescência problemática Núria Ricardo O que é a felicidade? Maria Inês Gouveia O que é o tempo Nuno Vasques


Editorial USA TODAY

A democracia fragilizada

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. Sabe-se hoje com bastante segurança que uma determinante forte da eleição de Trump para a presidência dos EUA foi a manipulação de certo eleitorado. Quer os serviços russos quer algumas empresas que se apropriaram indevidamente de dados das redes socias, designadamente o Facebook, interferiram descaradamente no processo eleitoral, levando ao poder alguém que nunca devia detê-lo. O presidente chinês, em março de 2018, fez aprovar uma emenda legal que lhe permite, na prática, eternizar-se no poder. De modo parecido o presidente da Rússia, Putin, musculou o seu poder absoluto, ao fazer-se eleger mediante várias ilegalidades, como confirmaram diversas organizações internacionais independentes. Os três países militarmente mais poderosos, todos eles detentores de um arsenal atómico capaz de destruir muitas vezes o planeta, encontram-se hoje sob a alçada de gente sem escrúpulos, manipuladores e ditadores prepotentes. Ao mesmo tempo assiste-se a uma escalada altamente preocupante de forças da extrema-direita, de cunho discriminatório e xenófobo, enquadrado num populismo também ele manipulador. Estes movimentos triunfaram na Áustria, na Hungria, na Polónia e na República Checa; estão a crescer assustadoramente na Itália, na França, na Holanda e na Bélgica. Custa compreender como se chegou a este ponto, como é que estes países europeus se voltaram para a defesa de ideias que os escravizaram. Na verdade, a maioria deles esteve sob o jugo do nazismo e do estalinismo, contra o qual heroicamente muitos lutaram. Destacam-se os casos da Hungria, da antiga Checoslováquia e da Polónia. Ponto comum a todas estas dolorosas situações é o enfraquecimento da organização democrática. A democracia é o maior legado dos gregos e um dos maiores bens culturais do mundo ocidental. A democracia não se pode conjugar com o populismo, com a manipulação, com a discriminação, com a xenofobia. Por isso, está a ser cada vez mais fragilizada. Este é sem dúvida um dos decisivos desafios que hoje a humanidade enfrenta. 2. No passado ano, iniciaram a sua participação na Pensar(es) os alunos dos Centros Escolares das Alagoas e da Alameda. No presente, damos as boas-vindas aos alunos do 2º ciclo da Escola EB2/3. A. Marcos Tavares


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Silêncio

Autoanálise

Sedutor, Mensageiro da tranquilidade, Voz da alma, Todo calma, Refúgio do ruidoso mundo. Mundo aflito… ansiedade… Calem-se, ó surdos bulícios! Piedade! Aquietem-se, algozes d’ harmonia, Que o espírito revoltam E o corpo enfermam.

Tenho medo de falar; Por isso, não falo. Tenho medo das gentes; Por isso, não me apresento. Eu não me conheço; E assim me refugio. Fracos, são os enganados, Que me tentam enganar. Tenho raiva da minha existência. Que me mortifica aos poucos; E inerte. Procuro a razão, mas não a conheço. À deriva. Eu sou uma janela transparente, Uma janela que está presente. Tenho vergonha, eu não sou nada. Assim, eu sou o que sou, Um diferente.

Silêncio! Quero ouvir: Da brisa que agita a ramagem, A melodia; Da folha que tomba e por terra se ajeita, O doce bailado; A água da fonte, o uivo do vento; Os pingos da chuva e o seu lamento, … Quero ouvir! Pudera calar Esse marulhar; O alvoroço da ruidosa gente; Essa lava incandescente, Que os sentidos queima, Em nota constante… Silêncio! M Eugénia Monteiro. Professora do 1º CEB.

Alguém que foi adolescente

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Simples Maria Rita Ferreira . Aluna

do 10.º B

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o processo de autodescoberta, o ser humano sempre se mostrou mestre em encontrar novas formas para tal. Muitos recorrem à meditação, outros à introspeção e outros reconhecem simplesmente que a melhor forma de nos conhecermos é viajando, quando decidimos deixar de nos focarmos em nós próprios para passarmos a olhar em redor e é então aí que nos deparamos com a realidade do nosso ser. É quando contactamos com diferentes visões de vida que passamos a conhecer a nossa, ultrapassando os nossos limites, derrubando barreiras ao mesmo tempo que construímos fortalezas com base na amizade e no respeito. Pois viajar é o mesmo que voar sem asas permitindo-nos, assim, não ver o panorama geral, mas viver cada cenário pormenorizadamente, deixando que novos sabores, cheiros, sons e culturas se entranham em nós, tornando-nos seres mais atentos, presentes, conscientes e responsáveis neste mundo que também é o nosso, marcado tanto por feitos grandiosos como medíocres. Viajar é ir de encontro ao próximo, é aquele momento em que quebramos as fronteiras que nos separam da Humanidade que, por seu lado, tenta vir ao nosso encontro incansavelmente e nós, de forma constante, fechamos-lhe os olhos, demasiados entediados ou stressados porque o telemóvel ainda não está carregado, porque o computador ainda não chegou ou porque esta-

In http://cafenagringa.com.br

mos demasiados ocupados esperando impacientemente pela próxima ida às compras. Contudo, é quando saímos da dita “área de conforto” que descobrimos que o mundo é a nossa verdadeira área de conforto, que o mundo não é nosso, mas faz parte de nós e nós dele e que se nos queremos conhecer, então devemos querer conhecê-lo primeiro e todas as maravilhas que ele tem para nos oferecer e, o melhor, é que elas não são apenas sete. É quando nos deparamos com a beleza imperfeita deste tão singular lugar que nos apercebemos da sua perfeição única, quando passamos a conhecer as suas bestas e criaturas e vemos que somos parte delas. Descobrimos, com isto que, o que nos define não é o que nos amedronta, mas sim o que nos encoraja; não é quem nos derruba, mas quem nos fortalece; não é o que dizemos que conhecemos, mas sim aquilo pelo qual vamos à procura, encontramos e experienciamos.


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Agora, No tempo do incerto, A probabilidade do mar. Na era da fantasia, A irresponsabilidade do sol… Navegamos precipícios Anteriores aos amanhãs, Ainda que seguindo a azáfama contida De uma virtude consumista. Aqui, agora, Acorrentados como pioneiros do vento que sopra a novidade… Seguimos irmanados mas irremediavelmente sós!

Estela Ferreira. Professora de Filosofia

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O poder manipulador das redes sociais A. Marcos Tavares . Professor de Filosofia e de Psicologia

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. Há cerca de 20 anos, um alto responsável da SIC (não recordo se Pinto Balsemão, se o então diretor de Informação, Emídio Rangel) afirmou que esta estação podia, se assim o quisesse, vender (fazer eleger) um Presidente da República. Poucos anos depois, num debate televisivo, alguns diretores de informação, que já tinham andado pela TSF, pela RTP, pelo Expresso e pela SIC, fizeram passar a ideia de que diversas notícias difundidas pela comunicação social eram encomendadas. Fabricadas claramente para favorecer interesses de empresas e de grupos de pressão. Óbvia manipulação, portanto. O poder dos jornais e das TVs, para influenciar e manipular, continua, mas foi em larga medida superado pelas redes sociais. A última polémica do uso indevido de dados de milhões de utentes do Facebook por parte de uma empresa britânica – a Cambridge Analytica – veio mostrar à evidência a força brutal da informação enganosa. O programador informático Chris Wylie, fundador da Cambridge Analytica, não se coibiu de reconhecer publicamente que, com base em informações retiradas do Facebook, tinha interferido no referendo da saída da Grã- Bretanha da UE (Brexit) e na eleição do presidente norte-americano, D. Trump. 2. Esta situação é deveras perturbadora e tem suscitado acesos debates e iniciativas legislativas

em vários países, para se evitarem novos abusos. Sabe-se que a mentira tem mais força do que a verdade. Pululam pelas redes sociais rumores, boatos, insinuações, informações desvirtuadas, deformação de factos. Tudo parece, depois, transformar-se em verdade infalível As notícias falsas («fake news») passam a constituir a mais privilegiada fonte de opinião, de crenças e de formação de atitudes Todavia, o que mais assusta não é tanto o uso indevido e abusivo de informações pessoais retiradas das redes sociais, mas a aparente facilidade com que as pessoas se deixam enganar e manipular. Como é possível que se consiga influenciar de forma tão determinante opções políticas e cívicas das pessoas, através de publicidade enganosa e notícias falsas? 3. Penso que podem apontar-se, certamente entre outras, duas razões fundamentais para este poder manipulador das redes sociais. Em primeiro lugar, a ausência de um critério, de uma demarcação, que permita distinguir o verdadeiro do falso; que possibilite uma tomada de posição fundamentada e crítica relativamente a tudo o que aí é lançado. Em segundo lugar, e na sequência da anterior, a indiferença pelos acontecimentos, demasiado penosos e frustrantes na sua crueza, substituindo-os pelo espetáculo virtual, mais apelativo,


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In http://science.sciencemag.org/

mais colorido e emocionante. O universo criado pelas redes sociais passa a constituir, para todos os efeitos, a realidade única e inquestionável. 4. Ora, na ausência de um critério rigoroso, sem a referência à realidade fáctica, o que se vê e lê nas redes socias torna-se a verdade absoluta. O critério passará a ser o próprio meio de comunicação: verdadeiro é o que é publicitado nas redes sociais, na Internet. É o triunfo da pós-verdade (termo escolhido pelos dicionários britânicos de Oxford como a palavra do ano 2016). O que significa que se chegou ao tempo da irrelevância e da rejeição da

verdade: pós-verdade é outro nome para mentira ou, como alguns eufemisticamente preferem, para inverdade. O silenciamento, a marginalização e a subjugação da verdade pelas falsas notícias são uma bênção caída das redes sociais para todos os que navegam nas águas turvas de conveniências e de interesses. Os manipuladores têm à mão a arma mais poderosa que vai mutilando, às vezes impercetível mas sempre progressivamente, as mentes. Só uma sensatez redobrada e uma vigilante capacidade crítica poderão fazer frente à falsidade e à manipulação.


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Amor

Incógnita da vida

Amor, Puro mas também feroz… Pode causar dor Até perder a voz.

Sou uma anomalia, Uma mutação sem cura, Só me resta morrer, Neste espaço finito.

Amor, Difícil de sentir! Se for verdadeiro, Acabará por emergir.

Procuro respostas, não sei o que sou, o que faço aqui. Para que vivo?

Amor, Deve ser verdadeiro E não apenas uma mera Brincadeira de recreio.

Sou apenas uma pequena partícula, no meio de milhares, minha presença torna-se insignificante, sofro, mas não sinto.

Amor, Duas pessoas apaixonadas Por mais que sejam diferentes Não devem ser criticadas. Tiago Teixeira, Aluno do 10.º PA

Murphy Guimarães


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Medo Beatriz Rodrigues . Aluna do 11º E

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ormalmente, encaramos o medo como algo negativo, algo que não deveria existir, que nos irá sempre acompanhar na vida como um fardo. Penso, contudo, que interpretamos mal o conceito de medo. Um mundo onde ninguém temesse algo, seria um mundo perdido. O medo impede de “atirarmo-nos de cabeça” a certas situações e opções na nossa vida, faz-nos pensar duas vezes, faz-nos entender que há sempre pelo menos duas opções. O medo torna-nos corajosos, porque o enfrentamos, torna-nos confiantes, porque mesmo estando assustados damos um passo em frente, tentamos alcançar os nossos objetivos. O medo ajuda-nos a viver, mesmo por vezes não parecendo isso. Temos de saber lidar com ele de uma maneira positiva, porque se não o fizermos, nunca iremos deixar que a nossa mente tenha a liberdade de ver para além da nossa realidade. O medo torna-nos fortes, capazes, audazes, perspicazes. E tu, ainda temes?

Gurbaksh Chahal in https://belimitless.com


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Premissas Conceição Dias . Professora de Inglês

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ais um ano letivo que “rapidamente” chega ao fim… Mais um texto legado à posteridade, impresso na revista “Pensares” da nossa escola que e apesar das dificuldades em obter “matéria prima” sobrevive, ano após ano, à custa inabalável de alguns em mantê-la viva (como se de um filho se tratasse) e à maior ou menor propensão para a escrita de tantos outros que com o seu “engenho e arte” ( como sabiamente expôs o ilustre lusitano Luís Vaz de Camões ) se dedicam a colorir , a aromatizar e a dar voz às folhas em branco da nossa revista, ao partilharem com todos o que só a cada um pertence. Por outras palavras, diria que são as histórias, as memórias, os sonhos, as deceções, o medo que nos possibilitam ver e reconhecer fragmentos de uma vida prostrados num verso, num poema, numa ideia deliciosamente esculpida no papel outrora imaculado e virginal e que retratam a nossa condição humana, findável é certo, mas perdurável no tempo, transmissível de geração em geração, em suma eterna… apraz-me acreditar que sim… Frequentei, recentemente, uma formação (mais uma das muitas prerrogativas da profissão que exerço) e “aprendi”, não que intuitivamente não o soubesse ainda, que o conflito entre os seres humanos é inevitável e como tal será totalmente surreal creditar a nossa existência numa utopia… A busca incessante pelo poder, a necessidade de controlar o outro, ainda que inconscientemente, que vinga e vai vergando o Homem ao longo dos séculos (relembremos momentos dramáticos e

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In http://www.stephenhicks.org/

cáusticos da história da humanidade como a escravatura, o nazismo, a inquisição, a extradição, entre outros) que dão conta da “massa” com que somos feitos… melhor dizendo, alguns de nós… atrevo-me a esclarecer. O conflito ocorre, certamente, porque e independentemente da idade física de cada um, não estamos todos no mesmo estádio de desenvolvimento emocional, cognitivo e interpessoal, ou seja, as premissas de que partimos para tecer um plano de ação, juízos de valor não devem ser entendidas como tal uma vez que a interação entre estes diferentes domínios, fundamental ao desenvolvimento global do individuo, não ocorre, certamente, no mesmo “timing” entre todos os seres humanos. Transpondo este entendimento para o campo educativo, é-me difícil assentir não poder partir da premissa de que os pais são, necessariamente, educadores de primeira instância dos jovens com quem, diariamente, labuto e convivo. Se assim não é, devo concluir que a sociedade, na qual obviamente me incluo, é hipócrita, amoral e dissimulada; como justificar tanta ética, tanta polémica à volta do controverso tema “barrigas de aluguer” se devo considerar que os pais são meros progeni-

tores? Como mãe, educadora e professora recuso-me a ter um papel tão diminuto na formação dos meus filhos, dos meus alunos; sou, por força de ser mãe, mais do que uma barriga de aluguer… sou, por força de ser professora, mais do que alguém que debita conteúdos… quero e devo debitar muito mais do que isso… Continuo a crer que os valores nos quais crescemos, a formação que nos é dada a receber no seio da família, na escola, na comunidade que integramos, a delicadeza que deve imperiosamente existir nas relações humanas, o respeito com que se impõe tratar os mais frágeis, a tolerância face às diferenças são premissas que partem de casa, partem do berço e tecem a “matéria prima” que nos é ofertada à nascença e que se vai moldando ao longo do ciclo da vida, gradualmente, através de muitos ganhos e tantas outras perdas.… Uma sociedade que não sabe cuidar dos seus, que não evolui a nível educativo, cívico e ético diz muito de si mesma… Será porque as premissas de outrora (aceites como fundamentos de facto e de direito), tidas como pedras basilares da família e consequentemente da sociedade, deixaram de ser as premissas do mundo contemporâneo? O tempo o dirá.


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Ao Homem Cabe Pensar Já desde esses tempos longínquos, Da humanidade cavernosa, Em que ainda o fogo era jovem, As paredes começavam a ser gravadas, E a língua mal era falada, Que ao invés dos outros seres, O Homem se indagava...

E agora nós, Seus contemporâneos, Que dispomos de todas as magias Que o futuro e a inovação Humana nos traria, Seguimos esses caminhos ínvios, Que nos, aos poucos, vão levando ao saber.

Comtemplava o céu, O sol, a lua e as estrelas, Os ventos, a chuva e o trovão, E a água e os rios e os mares, E as ondas, as correntes e as marés, E a terra e as plantas e os animais, O que via, mas que desconhecia.

E no seio de tanta ignorância, Uma verdade avassaladora Se nos sobrepõe, Que somos nós um nada Quanto aos que já vieram e Quanto aos que ainda hão de vir. Somos um hausto de um conto sem fim!

E aos deuses tudo atribuía, Todos os fenómenos que via, Mas faltava-lhe explicar O porquê da sua vida. Foi essa maior herança que nos deixou. Estavam agora abertas as questões Que o Homem perseguiriam.

E entre ciências e cientistas Que sabemos nós, Se o que conhecemos é a gota E a nossa ignorância, o mar? Seremos nós dignos, Perante a perfeição da Criação, De a sua verdade vir a conhecer?

E nunca mais descanso A sua mente teve. Passaram-se os dos vales, Os egípcios e os fenícios, Os gregos e os romanos, Todos buscaram respostas. Tinham a ciência e a filosofia nascido.

Num universo tão vasto, E nós com horizontes tão pequenos, Seríamos capazes de conceber As grandezas sapientíssimas que tanto procuramos conhecer? Talvez, nunca. Mas deixar de tentar, jamais!


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A nossa criatividade, Fez de nós, de entre todas as espécies, A mais vigorosa. Capazes de manipular a natureza Ao nosso desejo e vontade, E todas a enfermidade que lhe causámos Deveram-se à força do capital sobre o saber!

Não me vejo nem mais, nem menos Digno que qualquer outra pessoa Que a Terra tenha pisado, Nem mais, nem menos sábio, Mas reconheço que a sede Do conhecimento é algo Que no sangue convosco partilho.

E agora eu, Que fitando a areia a cair, Os ponteiros da vida a rodar, Sabendo que esta não me pertence, E que de mim, só o pensamento vai sobrar, Imortal e intemporal como o universo, Que ei eu de buscar, senão saber?

A escrita, o desenho e a música, A matemática e a física, A biologia e a química, As línguas, a história, A filosofia, todas elas Maravilhas da razão humana, Me mantêm cativo.

Com a curiosidade das crianças, A quem tudo é novidade, E uma intelectualização, Talvez de Pessoa digna, Vejo no mundo uma biblioteca sem fim, Da qual, mesmo sabendo ser impossível, Todos os livros anseio ler...

E consciente da minha própria finitude, Sei que nem eu, nem a humanidade, Nos cansaremos dos caminhos trabalhosos do saber! João Pedro Pereira, Aluno do 12.º C


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Astronomia e Mitologia com Arte Sistema Solar – Planetas Telúricos Sónia Lopes . Professora de CFQ

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1 ª P

ARTE

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á um planeta que é avistado sempre próximo do Sol e é rápido a orbitá-lo, por isso batizaram-no com o nome de Mercúrio. Mercúrio é o Deus mensageiro dos Deuses e por isso tem asas nos pés para se mover rapidamente. A escolha do nome para o planeta não podia ser mais acertada porque não só é o planeta que está mais próximo do Sol e por isso a sua órbita é a menor como também, pelo facto de estar mais próximo da estrela, se movimenta com maior velocidade (Mercúrio - 47,9 km/s, Vénus - 35 km/s, Terra – 29,8 km/s). Demora apenas 88 dias terrestres no seu movimento de translação. Se em vez de terráqueos fossemos mercurianos, não teríamos um mas sim quatro anos. Era um deus muito astuto e mostrou-o logo no dia do seu nascimento, quando roubou cinquenta cabeças de gado a Apolo e ocultou o rasto fazendo-os andar para trás. Quando foi descoberto apaziguou a fúria do deus da música dando-lhe uma lira que acabara de inventar a partir da concha de uma tartaruga e das vísceras dos animais. Corregio, artista italiano do séc. XVI, pintou Mercúrio na sua obra “A escola do Amor”. Nela podemos facilmente identificar o Deus acompanhado por Vénus e a ensinar Cupido nas artes da eloquência. Vénus é, depois da Lua, o objeto celeste mais brilhante no céu noturno. As suas nuvens, car-

Corregio, A Escola do Amor


ensar(es) regadas de dióxido de carbono e ácido sulfúrico, refletem a luz do Sol. Ao contrário do que se possa pensar é o planeta mais quente do Sistema Solar. Mercúrio, por não ter atmosfera, apresenta valores de temperatura muito díspares na ordem dos 430º C no lado virado para o Sol e valores negativos de 170º C no lado oposto. Mas Vénus tem uma temperatura média de 480º C porque a sua atmosfera, rica em dióxido de carbono, cria um enorme efeito de estufa.

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zava o amor profano, o amor terreno e a procriação, a outra, despida de preconceitos, nua na sua pureza, também conhecida como Vénus celestial, significava o Amor sagrado, Ticiano, 1514.

Sandro Botticelli, O Nascimento de Vénus

O planeta é também conhecido por Estrela da Tarde ou Estrela da manhã e, talvez pela sua beleza, atribuíram-lhe o nome da Deusa da beleza e do Amor erótico. Para os romanos era Vénus, para os gregos Afrodite daí tudo o que é afrodisíaco estar relacionado com o amor, a paixão… Segundo a mitologia, Vénus nasceu da espuma (aphros em grego, Afrodite) do mar, após os órgãos genitais de Úrano terem sido cortados e lançados à água por Saturno. Foi casada com Vulcano, o deus da metalurgia, mas teve vários casos amorosos: com Marte, de cuja união se gerou Cupido, e com Adónis, um mortal, por quem estava tão apaixonada que quando este morreu e ela pisou uma rosa branca das gotas de sangue nasceram as primeiras rosas vermelhas. Por causa da sua associação à beleza erótica, Vénus tem constituído um tema recorrente na pintura e na escultura. “O Nascimento de Vénus” foi retratado várias vezes ao longo dos tempos: Botticelli, 1490, ou Cabanel, 1863, por exemplo. No renascimento o tema “Toillete de Vénus” serviu de pretexto para pintar nus femininos, Velasquez, 1651, e o tema “Amor sagrado e Amor profano” consistia na representação de duas Vénus lado a lado: uma, vestida, simboli-

O terceiro "calhau" a contar do Sol é o planeta Terra. Para os romanos era Gaia e para os gregos Geia (pangeia, primeira terra), para ambos a Deusa da fertilidade. Teve uma enorme prole e o seu casamento mais famoso foi com Úrano com quem teve, entre outros, os doze Titãs, sendo o mais novo deles, Cronos, o Deus do tempo. Na iconografia é muitas vezes representada a nascer da terra e com espigas na cabeça, por isso, também é confundida com Ceres, a Deusa das searas. Numa representação romana vê-se Gaia junto à terra e rodeada das 4 estações.


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Tem duas luas, Fobos e Deimos, os dois amigos que acompanhavam sempre Marte, o Medo e o Terror. Os romanos tiveram Marte em grande consideração não só porque a guerra era a forma que tinham para expandir o império, mas também porque era pai dos fundadores de Roma, Rómulo e Remo. Marte tomou o partido dos Troianos e lutou ao lado destes sendo derrotado por Minerva, a Deusa da sabedoria. Este tema foi muito retratado sendo uma alegoria ao triunfo da Civilização e das Artes sobre a Barbárie e a Guerra. Mas o que mais inspirou os artistas foi o seu amor com Vénus. A união deu origem a quatro filhos: Cupido, Harmonia, Medo (Fobos, para os gregos) e Terror (Deimos, para os Gregos). Botticelli deixou-se inspirar por esse amor e pintou Marte derrotado pelo amor de Vénus.

Deusa Terra-Mãe

Marte é o planeta vermelho. O seu solo é rico em óxido de ferro (ferrugem) daí a sua cor. Podemos dizer que Marte é um planeta enferrujado.

Os romanos deram-lhe o nome do Deus da guerra (vermelho, sangue) por pensarem que é feito do ferro onde o Deus ia fazer as armas.

Marte ou Ares


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Espera(nça)

Inês Carvalho . Aluna do 11.º E

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inda ontem te senti. Trazias contigo o peso da saudade acompanhado do murmúrio solitário de uma voz ouvida outrora. Parecias ser feita de uma imensa metamorfose de sentimentos que, no fim, acabavam por te concretizar. És habitante de dois seres estranhos. Transeuntes que percecionam o seu redor e que, inevitavelmente, sentem o nariz encolher perante o que notam. Insólitos, perdidos? Talvez. Sentaste-te ao lado de cada um e como se de um convívio se tratasse, apresentaste-te suavemente. Assumiste a liderança no dia em que se conheceram, sem qualquer permissão. Ofereceste uma alimentação que eles nutrem todos os dias e, ainda que curta, se torna viciante. Tomaste o rumo da vida deles, decidiste ser a motivação do acordar e do bocejar de uma manhã neurótica que se tornava fria, de uma noite acompanhada de uma sensibilidade gasta. Esfregaste na pele o sabor das palavras, deste à boca o calor de um sentimento intocável. Não abandonas, eles não te deixam sair. Converteste-te em tempo, deste definição ao teu conceito, despertaste em ti metade da tua palavra - "Espera". Curas a pouca sanidade que por vezes se rasga deles e pronuncias no fundo das almas a tua metade. Aceitaram-na, rendidos. Sorriste com satisfação e fizeste neles o mesmo gesto.

E ainda que sem permissão pudesses entrar na vida de cada um, criaste laços inquebráveis. Então todos os dias eles questionam-te: Queres sentar-te? Em resposta, simplesmente sorris orgulhosa e vês neles a adição das suas subtrações.


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Incertezas Carlos Carvalhosa . Aluno do 12.º E

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esperto, levanto-me e faço tudo o que tenho a fazer, cumprindo uma rotina obrigatória. Encaro as coisas com certeza e sei que não há dúvida ou incerteza que me enfrentem. Retiro-me de casa e tudo se extingue. As ruas por onde deambulo, as pedras que chuto sucessivamente, com o intuito de se afastarem do meu caminho, e tudo o que piso perdem a sua nitidez. Fico sem saber se realmente vejo o que as coisas são, ou se só vejo uma miragem. Quanto às pessoas é igual: vejo-as passar, como se só tivessem um rumo; constato o desinteresse por onde passam e por cada detalhe que os rodeia. E aí, bem…aí surgem-me réstias de incerteza, de dúvida e de tudo aquilo que me enfraquece. Relembro-me de na minha tenra idade só querer crescer e agora que tal desiderato se cumpriu, vejo o quão inconsciente fui em querer ter consciência… Nada é claro! Noto, cada vez mais, tudo desfocado e não sei no que posso realmente confiar. E porquê? Porque tudo me suscita dúvida e, por isso, temo. Levo comigo um peso enorme nas costas e fico à espera da melhor decisão. Todavia, eu não sei! Não sei porque não consigo ver! O meio onde me insiro fornece-me tantos estímulos que não sei como agir corretamente. Se agir mal, irei ser criticado, se agir bem, ninguém se aperceberá. Questiono-me se será que vale a pena qualquer esforço!

Se habito numa cidade “fantasma”, então eu estou sozinho. Apenas repararei nas ilusões criadas pelo meu inconsciente? Ou será que os outros veem uma versão diferente daquilo que eu considero? Dizem que “Quem não sabe o que quer, perde o que tem”. Será assim?


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Chove José Artur Matos . Professor de Artes Visuais

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orque chove todos os dias, …e tão poucas vezes te ouço ronronar? porque te irritas sempre com as mesmas

coisas …e não sais do lugar quando te chamo? Porque faço todos os dias o mesmo caminho, quase sem questionar… e lanço despreocupadamente os passos que se repetem uns atrás dos outros? Porque me inquieto quase todos os dias comigo, contigo e com os outros? Para depois ficar acrítico, deixar-me estar nesta letargia, como se o tempo não interessasse, sabendo dante-mão o quanto o tempo interessa? Porque me perco nas vozes e nos silêncios, nos desesperos e nos nadas? Porque tenho tanto para fazer e não faço nada… desperdiço tempo com coisas sem nome, quando tenho nomes para quase tudo, quando as palavras não me faltam e a força de agir parece presente? Porque atravesso num único dia todos os estádios básicos da angústia de Fritz Riemann e não me chega ser eu mesmo… ter que ser tanta coisa, tantos Eus, lógicas antagónicas e em constante convulsão? Porque não chego para mim? Quantos Vodkas terei de beber, quantas batidas irregulares do coração, quantas respirações ofegantes, quantas máscaras terei de colocar e dias terei de esperar, para que tudo termine, e a manhã volte a ser clara e fresca, como as manhãs

Desenho de Candace Fowler

o deveriam sempre ser, claras e frescas. Quanto silêncio, quantos cigarros, quantas frases erradas e outras tantas inscritas no mural da angústia? Tanta vida, tantos acontecimentos, tanta expetativa e tanto tudo, e no final, nada… tanta disponibilidade para me ver perdido… e ensonado, pela manhã, ir à janela e ver que chove.


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Somos assim Somos aves já sem sombra sobre a terra. Variações no limiar do olhar. Um fio de luz que rasga o céu. Somos a terceira margem num rio de metáforas. Agitação no suor de uma lua nova. Uma estrada sem paragem rumo à raiz dos carvalhos. Somos a música que escapa à harpa. Notas brancas que rebentam no peito. Mãos esticadas à memória dos segundos. Somos pedras esculpidas que caiem do olhar. Templos romanos sufragados no amor. O alicerce que nega a dor. Somos a hábil fuga do silêncio. Donairosas representações da viagem. A ortografia do mel. Somos tudo. Somos nada. Um ponto. Um porto. Um beijo. Uma flor. Raia Serra

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Embriagado pela peste Leandro Andrade . Aluno do 12.º F

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margurado, ressinto a velha maquinaria pesada em que a oratória se interpõe, baseada na interpretação do social, do bom amigo, do velho judeu, do crente. Somos lobos, lobos das estepes, todos nós ou apenas eu, perfilando pela indumentária artificial do rosto humano, entrando na solidão do elo que me separa da Hades, da tão sublime entrada, vagueando à Bukowski pelas entranhas da misantropia, gritando, clamando o meu isolamento envolvido pela solidão autoinfligida. Bem o sei, a culpa encontra-se no sujeito sendo o meu artifício o elo instrumental entre a visão e a exclamação indolente de um subterrâneo, que se transmuta a cada dia, interiorizando cada momento como se a sua própria existência dependesse da crítica momentânea, e preciosa, se prendesse ao belo. A dado ponto em ´Crime e Castigo` de Dostoiévski, Raskolnikov sente pela primeira vez a amargura da solidão, o prazer do alienado dentro de si, a superioridade sentida por um, por muitos, por todos ou pela contínua corrente de Fyodor. Que seja, estaremos ali com a lâmina afiada e certa, ansiando pelo corte que nos libertará da condenação que a existência propõe ao sujeito, a grandiosa criação corroída pela imaginação, confundida pela tão falada intelectualidade. Meu caro leitor, desculpe pela minha grandiosa apresentação e distração, parece que me perdi nos meus próprios conceitos. Serei assim como

os alienados, abstraídos pela natureza revolta, envolvida num jardim obscuro de ansioso clamor, abstraídos pelo grito de desespero. Raskolnikov é uma das mais importantes personagens no espetáculo humano, pois através dele conseguimos entender que a diferença entre nós e aqueles a quem chamamos de criminosos de ordem sub-humana não é tão grande como gostaríamos de imaginar. Olhem bem dentro de vós mesmos e tentem chegar àquela sombra que tanto tentam esconder da superfície com que coabitam. Conversem, tentem perceber a vossa obscuridade antes de a afogar em sinfonias digitais, tomem um copo com a vosso sofrimento, levem-no para a cama e torturem-no para que ele tenha de pedir misericórdia pelos vossos crimes. Meus amigos, aí estaremos a alcançar algo, talvez não muito longe do Ubermensch1. Digo talvez, e mesmo assim nem lá perto chegarão! padeçam num sufrágio tão grande, numa agonia tão tremenda que possa rivalizar com a tortura impetuosa que vossa sombra sofreu ás vossas mãos. Assim na morte do ator, a peça continua e um substituto reclama o seu lugar como herdeiro da vossa tão longa viagem pelos vários níveis do inferno. Talvez se perguntem o que tudo isto significa e que a compreensão deste texto seja apenas uma futilidade, bem, também não esperem que seja eu a descodificá-lo, pois nem eu sei o que raio significa, talvez seja apenas um louco como o nosso 1 Super Homem em Nietzsche


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amigo russo, talvez me ache Napoleão, mas de uma coisa tenho a certeza, o grandioso clamor da existência é sofrimento, a vida é sofrimento, eu mesmo sou a encarnação do sofrimento sem o perceber inteiramente. Confusos? Também eu, talvez esta minha pegada seja de tal forma invisível que apenas um Homem com uma insanidade digna de génio a possa compreender, ou talvez esta narrativa seja apenas isso, um grande e complexo nada. No fim somos todos descendentes de Raskolnikov, filhos de um criminoso. Não será ELE o verdadeiro crente, ignorado pela norma, mas resoluto na sensação? SIM… sintam como ele sentiu, a machadada será necessária, mas o pensamento corrosivo muito mais, seremos criminosos pelo destino e pela fecunda noção da fealdade. Então que assim seja, admito que estou febril, sinto-me a deambular pela fina linha da insanidade e adoro-a como uma dependência que me

toca, como nenhuma alma humana alguma vez o conseguiu fazer. Criamos os demónios deste mundo e bem, eu criei-me a mim mesmo, talvez com uma mãozinha de Mefistófeles, no entanto aceito o mais vil destino desta existência com gratidão, venham, juntem-se, gritem comigo. SEREMOS TODOS CRIMINOSOS.


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Anjo da Guarda

Amor

Quem sou eu? Alguém perdido no Mundo. Roubaram o que era meu, Fizeram-me bater no fundo,

O amor sente-se, Vê-se, não se finge, Nem se inventa!

Lá assim fiquei À espera de salvação. Finalmente apareceste tu E entreguei meu coração. És o único que me faz feliz, O único que me deu a mão. Contigo encontrei a luz E não voltei à escuridão.

O amor planta-se e cresce Se for regado com um olhar, Com uma atenção; Com um simples aperto de mão. O amor vê-se num sorriso, Sente-se com afetos; Vê-se em pequenos gestos Que nos fazem sentir Grandes.

Contigo estou segura, Pois estás perto de mim. Só tenho de te agradecer Por seres um anjo assim.

O amor… O amor é uma gota, Uma gota emocional Que toda a gente tem, Um sentimento brilhante Que vibra sem desdém!

Maria Beatriz Trindade. Aluna do 11.ºE

Luísa Chambel Gonçalves. Aluna do 10.ºD

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Para ti, “humano” Bruna Meneses . Aluna do 12.º C

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ser humano diz-se dotado de racionalidade e permanece na ideia de que é um ser único e especial, mas se conseguisse dar forma ao amor, não seria um formato humano que lhe cederia. No mundo em que nos inserimos, só consegui arranjar uma maneira de sobreviver à catastrófica ameaça humana: ser eu própria, sem máscaras ou protótipos do ser exigido pela sociedade. Em cada dia de existência, penso em como posso ser essa pessoa que adormece de consciência tranquila e com a noção de que o bem foi feito, espalhado e, por vezes, recebido em modo de reciprocidade genuína. Não tenciono modelizar-me como um ser exemplar que todos deveriam seguir, porque, notoriamente, não o sou, mas tento alcançar interiormente o que considero essencial representar, dando e fazendo aos outros o que gostaria que me fizessem a mim. De cada vez que experiencio as situações, por vezes, desumanas, tento perceber a razão para aquilo ter sido feito. Creio sempre no lado bom e na ordem natural do acontecimento. Muitas vezes caracterizam esse meu lado como ingénuo, mas eu não o considero, de todo. Se fomos todos criados à mesma imagem e semelhança, o mais certo seria apresentar conteúdos, ainda que sibilinamente, semelhantes. Imagino a alma com um lado bondoso e com amor a correr nas veias cardíacas de cada ser e confio que, em cada situação, erro, problema ou atitude, é sempre apresentável um fundamento.

Com os antitéticos ideais, surgem as típicas questões existenciais: o que sou no meio da vastidão do monte de terra que piso? Quem sou eu, que simplesmente exijo o melhor dos outros e acalmo o que de mau transpassam, mas estou rodeada de uma constante densidão de maldade? Que sociedade é esta onde me insiro, quebrada, onde os tempos são deslocados, a sobriedade e a lucidez são cada vez mais escassas, os valores desvanecem-se e as leis regem-se consoante o sopro do vento controlado por superiores? É isto que ambiciono para o meu futuro? Tornar-me-ei, eu, numa pessoa sem escrúpulos, capaz de derrubar o que me estorvar e o que me dificultar a passagem para novas fases? Não sei se quero obter respostas, por mais dececionantes ou calorosas que elas sejam. É assim que surge a vontade de mudar, de fazer algo por mim e pelo mundo, e ainda ter a sorte de receber a satisfação consequente de todos os atos dóceis aplicados. Apesar de observar o lado bom dos outros e tentar perceber as emotivas atitudes, dou por mim fechada num invólucro com os meus pensamentos, onde todos os problemas ficam reservados e salvaguardados. Por isso é que somos todos diferentes. Não temos de ter os mesmos gostos, nem adorar as mesmas tendências e crenças ou seguir uma moda. Não temos de ser obstinados do conformismo de nos guiarmos pelo mesmo ideal ou opinião, nem criar uma réplica do outro ou até mesmo


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alcançar o que este já obteve. Devemos tentar, a cada dia, o nosso melhor, sermos nós próprios, não nos prendermos a alguém, nem desanimarmos quando não nos sentirmos diretamente amados. É essencial começarmos a entender a lógica dos pontos e entendermos que brotamos desamparados e secaremos de igual modo. Enquanto isso, a única pessoa digna de nos magoar somos nós próprios. Eu, que vivo comigo mesma, que suporto todas as dores do meu corpo e todas as suas mudanças, não posso deixar que algo ou alguém seja mais que eu mesma, para mim. Não é uma opinião focada nem egocêntrica, chamarlhe-ia amor-próprio. Não aquele sufocante que derruba o que de belo há à minha volta, mas sim o amor que me faz ter orgulho da pessoa em que

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me tornei, do que fiz até ao dia de hoje e do que já tive oportunidade de proporcionar. Considero amor-próprio aquele que resulta do que dou ao mais próximo e ao que precisa de mim, mais até do que eu própria. É de notar que aquilo que sou e recebo é um mero reflexo do que dou e partilho com o mundo. Não vou mais conformar-me na espera pela fase de fraqueza e fragilidade, nem que estas se apoderem de mim. É necessário criar novos caminhos e começar a agir, decidir e alterar a ordem natural do destino e não me resignar a ele, porque hoje estou viva e amanhã poderei estar a ser recordada.


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Não Quero Crescer!

Aprender

Oriana . Aluna do 5.º 6

Leonor . Aluna do 5.º 6

Não, não quero crescer! Não, não quero ser uma adulta com trabalho! Não, não quero estar a receber mensagens de trabalho! Quero ser uma criança e não, não uma adulta! Se for criança, tenho toda a atenção do mundo e se for adulta, não tenho atenção nenhuma. Não, isto vai ter de mudar. Não posso continuar assim. Não, não vou ser uma criança para sempre. Vou ser uma adulta trabalhadora, com muitas responsabilidades e não uma criança mimada!

Não Poder Fazer Nada Nuno . Aluno do 5.º 6 A minha mãe está sempre a dizer: “Não faças isto, não faças aquilo”! Não posso cantar, não posso jogar, e o pior de tudo é que não posso correr. Não estou triste, mas também não estou contente, e a minha mãe continua: “Não faças isto, não faças aquilo”. Não posso falar alto, não posso ir ao treino, não posso chatear a minha irmã. E sem se cansar, lá diz a minha mãe: “Não faças isto, não faças aquilo”!

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Era um dia normal como todos os outros. Acordei a pensar que ia jogar à bola e às escondidinhas, mas não. O meu pai disse: - Tens que aprender a andar de bicicleta. Ainda não sabes, anda! Eu não concordei: - Não, não e não. Não quero. Não vou aprender. Tenho medo! - Não penses que escapas. A bicicleta não anda sozinha. - Pois não! E não vai andar comigo. - Vá lá! Tenta! - Está bem. - Nãooo…Vou cair… - Não vais! Continua!


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Não Há Net!

Ana Margarida . Aluna do 5.º 6 - Não há net, mãe! Não posso ir ao youtube, não posso ir ao facebook e muitos outros sites. - Não consigo viver sem net! Não consigo andar de patins, não consigo andar de bicicleta, não consigo parar quieta! - Mãe, o que faço sem a net? - Estuda, lê, faz composições. - Não gosto. - Mãe, quando vem a net? - Não sei, porque não vais brincar um pouco lá para fora? - Não, não me apetece. - Finalmente, voltaste net!

Tenho um Desafio para Fazer! João . Aluno do 5.º 6

Tenho um desafio para fazer. Fazer com sabedoria e conhecimento. Conhecimento, nunca é de mais! Mais vale tarde do que nunca! Nunca podes desistir, sem primeiro tentares. Tentares ir mais além. Além do que tu consegues. Consegues descobrir novas palavras e desafios que tens de superar. Superar as minhas dificuldades. Dificuldades que me fazem crescer para continuar a aprender. Aprender a escrever, sem medo de errar. Errar é humano, mas tenho de me conformar, é bom desafiar.

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A Paz Turma do 6.º 2

Hoje, amanhã, sempre Todos temos que lutar, Para a violência acabar O mundo tem que mudar! A paz e a alegria Têm que ficar, Vamos todos acordar Os "nós" que há nas ruas Temos que os desatar Para a alegria renascer! O mundo tem que mudar! Aumenta os "nós" positivos com sonhos de encantar, A tristeza, a luta e a raiva, têm que desaparecer! Ofender, gritar, agredir, na escola, na rua, em qualquer lugar, A violência tem que acabar, O mundo tem que mudar! O conflito não é só entre o bem e o mal, é também ignorância, desunião e desrespeito! A união é precisa, Vamo-nos todos juntar! Respeitar as diferentes opiniões, Um carinho é bem melhor. Acabemos com as agressões Tanta ambição, armas, exploração, desigualdade e discriminação, Tanta gente a morrer à fome, Desânimo, morte e destruição! Para que não haja chuva e o sol volte a brilhar, vamos todos dar as mãos! O mundo tem que mudar!

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A Paz

Turma do 6.º 1

Hoje penso e reflito, Como o mundo em que vivo, Anda meio perdido! Como é possível, Haver lugares onde a paz Não é um bem adquirido! Com Paz, o mundo é melhor, Com violência, tudo é pior! Hoje penso e reflito Nos nossos "nós" de conflito, Para a paz prevalecer, Temos que os desfazer! De mãos dadas e unidos, libertamos as amarras, Damos o grito Acabamos com o conflito! Com Paz, o mundo é melhor, Com violência, tudo é pior! Hoje penso e reflito, no que é um conflito,

Na escola...muita agressão! Andamos sempre em confusão! Nós brigamos e gritamos, E só nos arruinamos! Violência na escola, Agarra os alunos como cola, Para a dissolver, Conversar é o que temos que fazer! Com a Paz, o mundo é melhor, Com violência, tudo é pior! Hoje penso e reflito, Nas guerras e injustiças Que são provocadas Por coisas sem sentido. Ambição sem limites, luta pelo poder, desrespeito social, armas químicas, destruição ambiental! Agora, o importante é amar, conviver e partilhar, Pela Paz vamos lutar, E com ela o mundo melhorar!

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ARTE

“Clarim da Verdade”

O género visto por um jornal paroquial Pedro Babo . Professor de História Moldar a Mulher

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er-se homem ou mulher não oferece qualquer tipo de dúvida, parecendo definido no Clarim como um facto biológico em resultado da obra do Criador e, por isso mesmo, imutável ao longo dos tempos : “O Papa definiu a missão da mulher.” « Não só Deus permitiu à mulher que exista, mas também a personalidade feminina, na sua estrutura física e psíquica, responde a um desígnio particular do Criador. O homem e a mulher são os magos de Deus, são entidades iguais em dignidade e possuindo os mesmos direitos, sem que se possa afirmar, de qualquer maneira que a mulher seja inferior» (C.V. 18-1959) Iguais em dignidade, mas com papéis hierarquicamente distribuídos em função das capacidades físicas naturais de cada sexo : « Ao afirmar que as mulheres devem submeter-se ao seu marido, como a Cristo, S. Paulo estabeleceu entre os esposos uma diferença bem nítida mas, ao mesmo tempo ele ilustra a força que os associa um ao outro, mantendo a indissolubilidade do laço que os une» (Afonso, C.V. ,18-1-1959)

O pároco de Fontelas refere-se à tristemente célebre pelas consequências que teve para a condição feminina na civilização ocidental, Epistola aos Efésios1 , em que S. Paulo apresenta uma pretensa teoria da igualdade de direitos e deveres que cabiam ao homem e à mulher, a que Badinter (cf. O Amor Incerto:31) chamou com toda a propriedade «teoria contraditória da igualdade na hierarquia». O que na realidade se verifica no texto bíblico é como vimos no capítulo anterior o estabelecimento de uma hierarquia original entre os sexos, em que o homem como pai e marido assume os poderes de Deus, submetendo a mulher ao seu poder absoluto. O Clarim, por várias vezes, cai na mesma 1 «Submetidos um ao outro no temor de Cristo. Que as mulheres estejam sujeitas a seus maridos como ao Senhor; pois o marido é o salvador do seu corpo. Ora assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim as mulheres devem estar sujeitas a seus maridos em todas as coisas. Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a sua Igreja e se entregou por ela, para a santificar, purificando-a no baptismo da água pela palavra da vida, para a conduzir diante de si, como uma Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante; mas santa e imaculada. Assim devem os maridos amar suas mulheres, como aos seus corpos. Quem ama sua mulher, ama-se a si mesmo; pois nunca ninguém tem ódio ao próprio corpo; pois somos membros puros do seu corpo, formados da sua carne e dos seus ossos. Por essa razão deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne. Grande é este mistério! Digo-o diante de Cristo e da Igreja. Portanto, vós outros, cada um em particular, ame sua mulher como a si mesmo e a mulher respeite o seu marido» ( Liv. Efésios, 5: 21-33).


ensar(es) contradição, não deixando sempre de a resolver da mesma forma que S. Paulo, submetendo em última instância o “sexo fraco” ao poder despótico do homem: “ Uma vontade forte.” É costume dizer que a mulher é o sexo fraco. É-o e ... não é. Revolto-me contra a expressão. Somos nós, raparigas, que temos de mostrar que é errado. Sermos fortes. Apresentar-mos coragem na virtude.» ( Maria, C.V. 24-3-57) 2.1 Maternidade São assim construídos estereótipos comportamentais, aos quais cada indivíduo deve naturalmente obedecer em função do seu sexo de pertença. A mulher é definida como um ser física e espiritualmente frágil. À menor força física adicionam-se as limitações provocadas pela maternidade: «A mulher, mais débil à procura de real apoio, é mãe e precisa de cuidados» ( F. Ramos in C.V.5-10-1958). É, contudo, na maternidade que a mulher encontra a verdadeira razão do seu ser. São constantes os apelos inflamados à mulher para que cumpra a sua missão, recorrendo-se para tal à própria medicina: «Se ela soubesse, como fez notar o Prof. Pinard, que a mulher só adquire o seu desenvolvimento completo depois de ter o seu terceiro filho, procederia mui diversamente» ( F. Ramos in C.V.12-11- 1955). O Clarim não fez mais do que reproduzir de forma redutora a valorização da função materna realizada pelas concepções então dominantes na medicina e a psicologia da época. Os conselhos médicos, divulgando as vantagens do aleitamento materno e dos cuidados com a higiene, bem como da necessidade de deixar o corpo das crianças em liberdade, levaram a um aumento considerável das tarefas femininas (cf.Amâncio 1994:22 e Silva 1995:40), visto que a «psicologização da sociedade», para usar a terminologia de Singly (1995:125-126), levou à atribuição destas tarefas à mãe. Os conselhos médicos dirigidos às mães são uma prioridade para o Clarim, mostrando as vantagens do conhecimento científico sobre a sabedoria popular transmitida

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de geração em geração, de mães para filhas, com resultados tão nefastos para a saúde das crianças: “A vós, Mulheres - Mães” «Parece-te fácil ser Mãe ? Sempre tens conhecido as outras a terem os seus filhos sem se preocuparem muito. Tua Mãe e tua Avó já os tiveram também. Uns viveram, são saudáveis; outros fracos, com mais parecer e débeis; outros ainda morreram ou à nascença ou já depois de criados. Quantas vezes são as próprias Mães as culpadas destas Mortes?(...) Lembre-se, pois, a mulher que, enquanto grávida, deverá ir um médico. Só ele poderá ver se a criança está bem ou mal, o que a Mãe deve comer, etc. Quando algum dos filhos se queixa, onde o levas?- ao médico, para ver o que ele tem. ( Maria Reis, C.V.17-4-55) No Clarim é clara a associação da maternidade com a feminilidade, enquanto qualidades da personalidade, facto esse que, segundo Giddens (1995:29), tem sustentado, desde o século XIX, algumas das concepções sobre a identidade feminina. É a Freud como vimos no capítulo precedente, que se deve, em primeira mão, a sustentação desta associação ao teorizar como «necessária a relação privilegiada da criança com a mãe, atribuindo à mulher uma personalidade especialmente destinada à satisfação do clima afectivo na relação de casal e na relação triangular mãe-paibebé» (Silva 1995:48). Daqui resulta, para Freud, a existência de uma personalidade dicotómica entre homem e mulher, «É sabido que só no período da puberdade se vê aparecer uma distinção nítida entre carácter masculino e o carácter feminino, oposição que depois exerce, mais do que qualquer outra, uma influência decisiva no curso da vida. É verdade que as disposições masculina e feminina já se manifestam durante a idade infantil. O desenvolvimento das inibições sexuais (pudor, desgosto, piedade ) realiza-se muito cedo nas meninas, e encontra menos resistência que nos rapazinhos» (Freud Três Ensaios:157). Esta diferença psicológica resulta da forma como cada um dos sexos vive, segundo o pensamen-


ensar(es) to de Freud, o complexo de Édipo, que resulta, como já analisei no capítulo anterior, do conflito existente entre o desenvolvimento da sexualidade e a sua repressão social. Enquanto que nos rapazes o medo da castração os leva a reprimir a atracção pela mãe e a identificar-se positivamente com a figura do pai que representa a autoridade, nas raparigas, pelo contrário, não existe medo de castração, mas sim o próprio sentimento da castração resultante da sua identificação negativa com a submissão da mãe (cf. Freud Três Ensaios:173-174). Esta coincidência de ideias do Clarim com a psicologia freudiana não é nada de estranho nem apresenta nenhuma originalidade, visto que Freud apenas se limitou a atribuir à toda poderosa biologia a superioridade masculina que a tradição judaico- cristã atribui à vontade divina: «Sería fácil mostrar, con todas las citas necesarias, cómo aparecen los mismos argumentos en Freud y en los Padres de la Iglesia. La inferioridade congénita de la mujer en todos los terrenos, cultural, físico, intelectual, moral: tal es el leitmotiv de un discurso despectivo» (Alzon 1982: 22). Enquanto que para o padre, a mulher que não se sujeita à sua condição e não aceita a missão divina que lhe está confiada é passível de ser condenada ao fogo do inferno, para Freud seria uma doente que não aceitou a sua natural castração: “A vós, mulheres - Mães.” «Ser mulher, é ser esposa, mas acima de tudo, é ser Mãe. Ser homem será ser forte mas a mulher é toda ternura e carinho. Uma mulher que pensa querer ser homem, terá reparado já que está recusando o grande Dom que nosso Senhor lhe concedeu.» ( Maria Reis, C.V. 17-4-55 ) Bibliografia Alzon, Claude, Muyer mitificada, muyer mistificada, Barcelona, Edições Ruedo Ibérico, 1982. Amâncio, Lígia, Masculino e Feminino - A construção social da diferença, Porto Edições Afrontamento, 1994.

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Badinter, Elisabeth, O Amor incerto - História do Amor Maternal do século XVII ao século XX, Lisboa, Relógio d` Água, s/d. Badinter, Elisabeth, Um é o outro, Lisboa, Relógio d` Água, s/d. Badinter, Elisabeth, X Y A identidade masculina, Lisboa, Edições ASA, 1993. Freud, S., Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, Lisboa, Livros do Brasil , S/d. Giddens, Anthony, Transformações da Intimidade - sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas, Oeiras, Celta Editores, 1995. Silva, Manuel Carlos, Resistir y Adaptarse Constreñimientos y estrategias campesinas en el Noroeste de Portugal, Amsterdam, Universidade de Amsterdam - Tese de Doutoramento (edição policopiada),1994. Singly, François de, “As rivalidades entre os sexos na frança contemporânea”, in Duby e Perrot (Org.), As Mulheres e a História, pp 117-128, Lisboa, Publicações Dom Quixote,,1992. (Continua no próximo número)


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Efemeridade da vida… Margarida Almeida . Aluna do 12.º C

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iver a vida, cada momento, como se fosse o nosso último, o nosso último suspiro. Mas sem medo! Depois de deixarmos sair esse último suspiro já não somos nada e aquilo que tinha que passar, já passou. Não vale a pena correr atrás ou esperar que passe outra vez, porque mesmo que a Terra seja redonda, o que passou não torna a passar, pelo menos pelo mesmo sítio, pelo menos por mim. Ao sabermos isto, que a vida é curta, que os momentos são aquilo que mais longo teremos, vale a pena pensar? Pensar é sofrer e sofrer é viver no passado, é viver nos locais mais obscuros da nossa inconsciência, onde os nossos medos abraçam as nossas pulsões mais agressivas. Temos que viver os momentos ao máximo, mas também temos que aceitar, que tal como os ponteiros do relógio transitam segundo após segundo, os momentos também, pelo que temos que nos permitir passar ao próximo. Por vezes, deixar momentos passar dói, mas revivê-los não doeria mais? Isto é um ciclo, tal como o ciclo da vida ou como o ciclo da água. Nós não podemos parar no tempo, não podemos simplesmente congelar o momento. Deixemo-nos aquecer pelas recordações, porque essas sim, são a réstia do que vivemos, dos momentos felizes, dos momentos tristes, dos nossos momentos. Querer parar no tempo não é egoísmo. Querer reviver momentos vezes e vezes sem conta também não é. Isso é humano. Nós temos a necessidade de sermos reconfortados, de não vivermos de lem-

O Pensador, August Rodin

branças sem cor. Mas a vida é assim, tal como a morte é certa, o sofrimento também o é. Seriamos humanos se não sofrêssemos? Pois, parece que não. Estas vivências, estes momentos moldam-nos e hoje eu sou assim porque fui moldada. Eu não me moldei a mim mesma, mas cada uma das pessoas que por mim passou e que ainda vai passar vão-me marcar e fazer de mim uma pior ou melhor escultura. Talvez um dia eu seja digna de museu, mas por enquanto não, estou em construção. Mas tendo em mente que neste momento eu quero passar a outro. E esse, sim, vou tentar vivê-lo ao máximo.


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Eu só queria um recomeço… António Lebres . Aluno do 12.º C

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u só queria um recomeço…. Queria voltar atrás no tempo e fazer tudo de forma diferente. Queria dizer-te o que sinto, queria dizer que te amo como nunca amei alguém antes. Queria estar ao teu lado desde o primeiro minuto, partilhar contigo os meus afetos, os meus dissabores, as minhas alegrias, enfim, a minha vida. Queria estar ao teu lado para cuidar de ti, para me deixar cuidar por ti, para cuidarmos um do outro. Queria ter a oportunidade de te sentir, de te abraçar como nunca, de voltar à troca de olhares tão ímpar, tão singular, que nos caracterizava. Antes, tu sentias-te bem na minha companhia, pois era possível ver aquele maravilhoso brilho pairar sobre nós quando estávamos juntos. Nesta altura, o típico jogo da sedução era evidente, ambos sorríamos com um simples “Boa noite”, com um simples “Adoro-te, é só isso que precisas de saber”, ambos ficávamos acordados até tarde, só para que pudéssemos conversar. Antes, tudo era perfeito. Esse tudo, porém, transformou-se em nada, num vazio profundo que me avassala. Às vezes, dou por mim a pensar se alguma vez houve realmente algo ou se foi apenas uma mera invenção da minha mente, ludibriada pelo meu coração, se foi um sonho, se foi um devaneio. Esse tudo, a existir, ficou trancado no meu coração, num passado onde reinam os meus medos, as minhas fraquezas. A verdade é que o medo de te perder

foi o que levou à minha própria perda. Sim, perdi a primeira pessoa que realmente amei, que ainda amo, simplesmente porque tinha medo de a magoar. E afinal, ironias da vida à parte, quem saiu magoado fui eu, pois levaste a minha felicidade contigo. Será que eu mudei, que tu mudaste? Ou será que eu não te conhecia? Será que não aconteceu porque não deveria acontecer? Agora, ao ver-te feliz com quem não te merece, sinto-me consumido pelo fogo que tu inculcaste em mim e que outrora me sustentava e me fazia sorrir. Este fogo, contudo, teima em não desaparecer, desferindo golpes constantes no meu coração. Sei que, se te amo realmente, devo deixar-te ir, devo desistir de ti, devemos ser os amigos que em tempos fomos, mas, ainda que pequenos, todos aqueles momentos – os nossos momentos – possuem um significado incomensurável para mim. É difícil desistir de alguém que me ensinou o verdadeiro significado da palavra “amar” … A esperança, essa, mantém-se, vai desvanecendo. Talvez seja por isso que aquela chama nunca finda, porque tu foste, és e serás especial para mim, independentemente do lugar para onde os ventos futuros me levarem, uma vez que de uma coisa eu tenho a certeza: tu farás sempre parte da minha vida. [Para ti, que serás sempre a “minha D.B.”]


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A Inveja Jerónimo Carreira "LUA" . Convidado

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magino a inveja igual a um verme que não se vê, mas que faz feridas desconfortáveis e silenciosas no coração das pessoas bem formadas. Suponho-a como uma torrente de lama podre, levada pelo vento furioso para destruir seara bem estimada. Imagino-a como um mafarrico vestido com roupa de gente bem engomada, que tranquilamente se move no meio da multidão de ar educado, terno e manso, mas maquiavélico. Suponho-a como uma silveira de ramos esticados, carregados de lâminas afiadas, estendidos nos montes e verdes prados, para dilacerar corpos distraídos e descuidados, como a centopeia provida de milhares de pernas, escondida nas areias do deserto, em posição silenciosa para apanhar desventurados e indefesos bichos. Vejo-a como um parasita que pouco ou nada produz mas que olha com ar de guloso para o que o vizinho produziu, com esforço e trabalho. Suponho-a parecida com um ser esquisito, com corpo e rabo de bode, cabeça quase humana, com cérebro bipolar, palrador, que aqui fala bem do vizinho e ali diz mal dele, abaixo de cão. Imagino-a igual a uma sanguessuga colada à indefesa presa, chupando-lhe o sangue, como o polvo sufoca com os seus fortes tentáculos cheios de ventosas, peixes inofensivos até à morte para lhe servirem de petisco. A inveja, na minha imaginação, é isto e muito mais: É um ser invisível, agarrado ao estímulo doentio, de sentido perverso e indigente.

in Wikicommons


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José Talentino de Mendonça, O pequeno caminho das grandes perguntas Pedro Miranda . Professor de EMRC

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osé Tolentino de Mendonça sente que estamos sedentos de uma sabedoria, no meio do trânsito infernal de uma sobreinformação e um ruído incessantes, e de mil não sei quês que nos afastaram do essencial. Ousa, contra a corrente, ser um dos aventureiros em busca de perguntas, sim perguntas, e de traços que nos indiquem um caminho. Por exemplo, o da senhora alemã que dava esmola a toda a gente que lha pedia. Não que não soubesse que havia gente matreira - e que, portanto, alguma vez iria ser enganada; mas, ainda assim, sempre que lhe pediam, dava. “E esse gesto, que parece insensato, salva o mundo. A insensatez daquela mulher – escreve Tolentino – enche o mundo de maior amor do que todos os apetrechos de uma prudência que facilmente se torna uma trincheira que nos defende do encontro com a vulnerabilidade, nossa e dos outros”. Esta história real, verdadeira que podemos ler nesse requintado O pequeno caminho das grandes perguntas (editado pela Quetzal) remeteu-me, outrossim, para três versos, de que gosto muito, num livro dedicado à Esperança, do poeta Charles Peguy, colocados na boca de Deus: “porque as crianças são minhas criaturas/mais do que os homens/porque elas ainda não foram derrotadas pela vida”. A morte, a separação, a doença, o sofrimento, os sonhos por cumprir, as vezes em que não estivemos à altura: ser adulto, de alguma forma, e sem negar as vitórias que

José Tolentino Mendonça


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Emil Cioran

felizmente registamos, é ter sido, também, derrotado (pela vida). A visão do vencedor puro, sem fragilidades, todo-poderoso é apenas uma mentira que alguém conta a si mesmo. E, aliás, da constatação da insuficiência própria, a compreensão de que carecemos de adimplemento. De completude. A vida é, por vezes, como escreve Tolentino de Mendonça, decepcionante. Nesse sentido, questão essencial é como respondemos, existencialmente, a essa derrota. Se só amarmos a vida como ideal, e à espera deste, nunca dela nos abeiraremos. E a vida passa, como areia movediça, por entre os dedos que a pretendem, mas já não conseguem, deter. É preciso, porventura, uma aposta, uma senha de confiança: viver, aconteça o que acontecer, como se estivéssemos ao colo; ou, como poderia dizer um teólogo, viver como se a realidade fosse… a realidade. O que nos permitiria, ainda, recuperar a virtude da compaixão (uma virtude de quem divisa no rosto do outro, com Levinas, um mandato, com maiúscula, de responsabilidade por ele, uma virtude afastada do desespero e da indiferença): na compaixão, dá-se “a suspensão do julgamento sobre a vulnerabilidade do outro. Constrói-se como um consentimento oferecido ao outro como nos aparece, aqui e agora. A compaixão liberta-nos do peso do passado ou das idealizações do futuro: ancora-nos vitalmente neste instante, que é o que temos de viver”. O padre e poeta convoca, como seu hábito, um

bazar excelso, de referências, escritores, realizadores, poetas, gente comum que sabe histórias e experiências. E, neste estádio da aventura humana em que nos situamos, é o filósofo Cioran a ser chamado: “esse inesperado mestre contemporâneo dos caminhos da alma, explicava que a maior dádiva da religião só pode ser essa: ensinar-nos a chorar. As lágrimas dão um sentido de eternidade ao nosso devir. Elas guiam-nos da orfandade ao êxtase. São as lágrimas a linha divisória que distingue os seres que sabem tudo dos seres que não sabem nada. E se, por um absurdo, as lágrimas se esgotassem, o nosso desejo e o nosso conhecimento de Deus desapareceriam também”. Tolentino não o diz aqui, mas, de facto, o Papa Francisco indica que uma das maiores debilidades do nosso tempo passa por termos desaprendido de chorar. Com Ermes Ronchi podemos redescobrir como a omnipotência de Deus é a omnipotência do amor. Deus, que em si mesmo, na imagem cristã Dele, é relação ao outro, sendo esse ato relacional a essência de Deus, pode o que o amor pode. E o amor – expresso sobre modos variados, da philia ao eros, desejavelmente agapê - pode tudo.


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Fel existencial Manuel Ferreira . Professor de Filosofia

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inguém vive para sempre. Este é talvez o maior postulado e o axioma mais sólido da vida. Esta finitude, porém, não tem conseguido, ao longo dos tempos, esmagar o pensamento e a ambição humana. Sei que estamos todos numa grande viagem e que não estou sozinho. Todavia, nem essa incomensurável solidariedade me sossega. Queria ser um homem com longevidade, experimentar a imortalidade. Sinto que não estou preparado para o fim. Sinto que o contrato com a vida é muito restritivo e corresponde a uma escravatura que sufoca a obtenção da liberdade que desejo. Encontro-me espiritualmente esmagado. Dentro de mim ouço dor, saturação e perturbação. A vida não pode ser um chorrilho de disparates, de banalidades e o expoente do seu sentido não podem ser as contradições e o ilógico. Não sou daqueles que aspira a outra vida ou vidas no aconchego do transcendente. Insignificante consolação, essa. Tenho um medo terrível de me perder. Com fúria e desespero, tento encontrar o que procuro. Sabe sempre melhor saber que estamos a ser nós próprios. E dou, por mim, a não conseguir chorar. Tento descarregar a minha raiva e apagar a dor. Não pode ser tudo mau... Onde reside a esperança? E é dentro destes limites que tento encontrar a vontade para viver. Quero ser eu a fazer a viagem e gostava de a fazer sem

perda de tempo e de desperdício. O que fica, porém, é um pensamento insatisfeito e inconformado, que não se rendeu ao tormento da escuridão, mas em que o mundo humano não vence. É um triunfo insignificante este de tentar procurar explicar o que se passa depois de nascermos e justificar o nada que vem depois da morte. O que fica continua a ser a ilusão, o disfarce. A ilusão de uma conquista que não existe e de uma paz que não sossega. E a tristeza e a dor acabam por chegar sempre e depressa. E a pergunta não desiste. É sempre a mesma. O que fazer? Só resta aguardar pela promessa de um futuro bom. Bom, porque ainda não veio, mas que rapidamente se tornará num presente que não serve e não presta. E as algemas continuam. O quadro negro do mundo não se fechou e a situação humana de desgraça não se alterou. A vertigem e os arrepios continuam. Eu sei que é uma inutilidade pedir ao mundo aquilo que ele não pode dar. Contudo, outro caminho não encontro do que o da contradição entre um sofrimento e uma amargura que são eternos e uma esperança e um ânimo que não se rendem. Todavia, o que continua a invadir-me é o desejo de um eu absoluto, que sei não alcançar e que se encontra algemado e condenado ao fatalismo do ciclo da vida. Eu sei... Eu sei... Era bom que pudesse amanhar


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perda

as emoções contraditórias e dominar a angústia que me tortura e me sufoca. Continuo a ansiar pelos dias resplandecentes de primavera, sempre voláteis mas de inegável força criadora. Mesmo assim, é sempre o absurdo e o desespero que continuam a roer a vida. Continuo a esbracejar, mas é também sempre a revolta e a desilusão que restam. Procuro..., procuro o que sei que não vou

encontrar. E o que aparece é sempre mais um generoso amanhecer e com ele também a lembrança de uma morte à nossa espera. Neste intervalo, nada, pois, há a esperar. Resta-me continuar a viver de forma a preparar-me para que consiga ser continuamente um bom e melhor ser humano.


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A tempestade Carina Araújo . Aluna do 12.º D

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tempestade que faz lá fora não me incomoda. Há uma muito mais profunda dentro de mim. Uma tempestade que baralha a minha vida, as minhas ideias, os meus sentimentos. Sentada à varanda, a ver como o vento transforma toda a paisagem à minha frente, penso nas transformações que esse mesmo vento fez na minha vida. Terão sido para melhor? Terão sido para pior? Eu não sei. É impossível saber, contudo se a realidade mudou é porque algo não estava certo na minha vida. Algo tinha que mudar. Ainda não descobri o quê. Muita coisa mudou na minha vida mas ainda não entendi, não fui capaz de entender a finalidade de tudo isso. Umas pessoas partiram, outras chegaram. Muitas que me deram sorrisos, outras que só me magoaram. A minha vida, calma e serena, transformou se nos últimos tempos na mais louca montanha russa . Uma montanha russa cuja altura é enorme e o topo é difícil de atingir. É imensamente difícil chegar ao cimo, chegar a um ponto bom, um ponto alto de alegria e felicidade. Pelo invés, descer desse ponto e chegar ao fundo novamente é rápido de mais. A montanha russa é metáfora da efemeridade da felicidade. Não há felicidade que sempre dure nem mal que nunca acabe. Como gostaria que está frase tivesse em si algo de verdade. Sei que

o mal nunca acaba, tenho noção disso, mas podia desaparecer por momentos da minha vida. Já não sei o que é ser verdadeiramente feliz. Já não sei o que é sorrir sem pensar nos problemas que me atormentam. Já não sei o que é uma vida perfeita nem um mundo cor de rosa. Sinceramente também já não quero saber. Conheci outro mundo. Um mundo real. Um mundo que me ensinou a crescer. A enfrentar a vida. A viver enfrentando tudo de cabeça erguida. Cresci. Por muito que queira voltar atrás no tempo não posso. Nem faria sentido. Cada etapa na vida deve ser percorrida a seu tempo. Sem olhar para trás nem demasiadamente para o horizonte. Só espero um dia estar aqui, neste mesmo sitio, olhar para trás e agradecer cada etapa que me foi destinada. Por mais que tudo doa na altura, tudo serve de ensinamento numa etapa posterior da nossa vida. Tudo nos ajuda a construir quem somos e quem seremos. Não quero uma vida fácil. Sei que posso enfrentar montanhas, percorrer oceanos. Sei que posso enfrentar tudo e todos. A menina insegura e frágil ficou no passado. No seu mundo cor de rosa a brincar com a sua boneca de porcelana do vestido cinza. Estou noutro mundo. Neste já não há uma menina. Há uma grande e linda mulher.


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O valor da obra de arte Ricardo Oliveira . Professor de Filosofia

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evido aos preços astronómicos que algumas obras de arte alcançam no mercado, muitas pessoas pensam que as obras de arte são excessivamente caras e não compreendem porquê. Por esse motivo, apesar do interesse que lhes possa suscitar a apreciação, potencial compra ou encomenda de uma obra de arte, chegam a sentir vergonha de pedir preços, com medo dos valores que possam ser pedidos. Paradoxalmente, existe simultaneamente a crença de que se uma obra de arte é barata, é porque não deve ter grande qualidade, o que conduz ao sentimento de que deveria ser ainda mais barata. Comum a estas duas perspetivas é a incompreensão dos valores pedidos por algumas obras face aos preços dos materiais. No caso da pintura, isto é mais premente se tivermos em conta o preço das tintas, pincéis, telas e vernizes. Tudo junto, por exemplo num quadro de Picasso de tamanho médio, o gasto será no máximo 1500€ (estou a ser generoso, pensando nas melhores telas, tintas e pincéis). Então, porque custa dezenas de milhões? Esta questão não tem uma resposta simples, pois há vários aspetos a considerar. Primeiramente: modo geral, ouvimos falar de arte quando, num leilão, uma obra atinge valores de dezenas ou centenas de milhões de euros. O que vemos nos media é, sobretudo, especulação e investimento, através dos quais uma obra é transformada em commodity. Raramente as obras de

arte, quando surgem na televisão (refiro-me aos noticiários e não aos programas que apenas uma minoria vê), são abordadas [não] pelo seu tema ou qualidade da execução, mas quase exclusivamente pelo seu valor de mercado, à boleia da assinatura do seu autor. Assim, a notícia da oferta de 400 milhões de dólares pelo quadro “Salvatore Mundi”, atribuído a Leonardo da Vinci, não se deveu ao facto de que quem o comprou o tenha comprado porque gosta assim tanto dele e o quer ter pendurado na parede da sua sala. A razão principal da notícia foi a exorbitância do investimento, a par do estatuto social que a possibilidade de gastar uma fortuna numa única obra de arte lhe proporciona 1. Como podemos facilmente verificar, o conceito de valor surge aqui com a referência de custo ou preço. Quando ainda estudava Filosofia na faculdade, um professor contou-nos a seguinte história, para ilustrar esta ideia: no início dos anos 90 do séc.XX surgiu em Nova Iorque, meca financeira do mundo, uma moda que logo teve uma grande adesão dos endinheirados yuppies: em vez de fatos de marca, de milhares de dólares, começaram a usar t-shirts brancas de algodão, iguais às que se podem comprar em qualquer superfície comercial. Contudo, como não podia deixar de ser, as t-shirts dos yuppies tinham algo 1 Mesmo que ninguém saiba quem foi, a minha aposta vai para Bill Gates, pela admiração que tem pelo génio de Leonardo.


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Guernica (1937), Pablo Picasso

que as tornava diferentes das t-shirts comuns dos cidadãos comuns: uma estampa a negro com o dizer “This t-shirt cost $1.000” ou “This t-shirt cost $10.000”. Deste modo, uma simples t-shirt de $1 transformou-se numa afirmação de estatuto social, pois as camisolas tinham, nas lojas (de marca) que as vendiam, o preço da estampa . Segundo: o verdadeiro valor da arte, assim como o da filosofia ou das atividades autenticamente humanas reside no questionamento do nosso mundo – entendido holisticamente, na especulação (outro termo também roubado e deturpado pela finança…) acerca dos significados e sentidos, psicológicos ou físicos das experiências da existência humana . É neste sentido que um quadro de Picasso, por exemplo “Guernica”, vê reconhecido o seu valor: o questionamento do sentido das atrocidades da guerra, o questionamento da supremacia dos ideais coletivos em relação à vida individual ou o horror da morte pela morte.

Do mesmo modo, um retrato de família realizado pela minha filha aos seis anos também apresenta um valor semelhante (apesar de não ser nenhum génio precoce da pintura), pois também é autêntico e puro, questionante do significado dos afetos que nos unem. Esta dimensão valorativa não se submete à opinião de uma maioria, nem ao reconhecimento mercantil, apesar de por vezes haver uma aproximação entre ambas as dimensões. Mas se não existir essa aproximação, também está tudo bem. Apesar do caminho percorrido na humanização da espécie humana, ainda há um longo caminho a percorrer, um caminho repleto de escolhos, interrogações e muito poucas certezas, mas através do qual nos vamos reconhecendo humanos e a humanidade no nosso semelhante, a sua subjetividade e não meramente uma objetualidade mercantil.


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Dei-te o mundo E tu recusaste num segundo. Será que a minha proposta não foi atrativa? A amar-te, sinto-me viva.

Passavam os dias E nada evoluía. Não querias ou não conseguias? Davas motivos para as más-línguas.

Acreditei que podia Amar sem iva Inocência a minha De te querer Sem birra.

Poderias não me deixar na esperança Mas quiseste encantar Para virares a vingança Para alguém voltar.

Incondicionalmente fiquei Para te apoiar Pois raiva não era o meu amar. Desculpa se exagerei Em demonstrar Que em algum dia te amei, Tinha medo. Foi com o medo de errar Que te deixei às vezes para trás Queria deixar de acreditar Que haveria um sofrimento por detrás.

Por fim tudo acabou: Sofrimento, desgosto Até mesmo o sentimento desvaneceu. Contudo, não foi suficiente, Contínuo a querer-te Sem esquecer Que ficou permanente A palavra que em mim escreveste. Bruna Cardoso. Aluna do 11.º C

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Droga leve, debate duro Será que a guerra às drogas ainda faz sentido? Liliana Cardoso . Aluna do 12.º E

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esde os anos 60, o mundo trata os entorpecentes como problema de polícia. Nesse período, o consumo cresceu e a violência atingiu a todos – usuários ou não. Será que a guerra às drogas ainda faz sentido? Aliás, outro fundamento mais oportuno: porquê proibir algo que pode colaborar em circunstâncias de tratamento na medicina e em fins terapêuticos? Há umas semanas, discutiu-se na Assembleia da República a possibilidade de legalizar o auto-cultivo de canábis para fins medicinais. É compreensivelmente difícil ser-se contra o uso da canábis para fins terapêuticos. Pode até argumentar-se que, estando-se a discutir o uso médico de uma droga, nem compete aos deputados decidir sobre isso. O assunto estaria bem entregue a autoridades médicas e farmacêuticas. Mas, como é evidente, muitas veem nesta hipótese do auto-cultivo simplesmente uma forma de legalizar a produção para uso recreativo pelo despercebimento. O que deveríamos estar a discutir é se se deve simplesmente liberalizar e regulamentar o cultivo e a venda de drogas leves. Os bloquistas pretendem que dois objectivos sejam cumpridos: a permissão do auto-cultivo e a possibilidade de aquisição, de forma controlada, de cannabis, em locais licenciados para o consumo da cannabis. "O que nós queremos é uma coisa diferente e melhor. Que os médicos possam prescrever a planta em si ou os seus derivados e que possam depois essas receitas ser aviadas

na farmácia e comparticipadas após avaliação de quem tutela a área da saúde no Governo", descreveu o deputado, para quem Portugal deve também dar passos na área da investigação. “Queremos que Portugal aposte na investigação da cannabis para fins medicinais. Já são conhecidos os efeitos terapêuticos do Tetra-hidrocanabinol (THC) e começam a ser cada vez mais conhecidos e descritos os efeitos do cannabidiol (CBD), mas existem muitos outros canabinoides que continuam relativamente desconhecidos e que têm, certamente, efeitos medicinais", acrescentou. "Se trouxermos o consumo da cannabis para a legalidade, necessariamente esse consumo terá de ser mais informado, logo menos perigoso para o individuo e para a sociedade", alegou o deputado. Em matéria de limites, o BE só o prevê no que se refere ao auto-cultivo, limitando o "número de pés por pessoa", assim evitando "a criação de um mercado negro ou paralelo que mais não seria do que o recrear das actuais redes". E eu não poderia estar mais de acordo. Os burocratas que constroem as políticas sobre drogas têm usado a proibição como uma cortina de fumaça para evitar encarar os fatores sociais e económicos que levam as pessoas a usar drogas. A maior parte do uso ilegal e do uso legal de drogas é recreacional. A pobreza e o desespero estão na raiz da maioria do uso problemático da droga, e somente dirigindo-se a estas causas fundamentais é que poderemos esperar diminuir significa-


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tivamente o número de usuários. Discutir este assunto é sempre difícil. Se na prática fomos audaciosos quando avançámos para a descriminalização de todas drogas, também é verdade que, se avançarmos para a legalização da canábis, não seremos os primeiros. Já temos a experiência de outros países que nos podem dar algumas referências. Na Holanda, que nunca chegou verdadeiramente a legalizar a canábis, não houve nenhuma catástrofe com as suas famosas coffee shops. Os efeitos sobre a criminalidade foram mínimos e o mesmo quanto aos efeitos sobre o consumo. Assim como no Colorado, Washington, Alaska e Oregon, estados norte-americanos, os relatórios disponíveis mostram que a criminalidade não aumentou (até diminui), o consumo não parece ter aumentado e nem os acidentes de automóveis aumentaram. Quanto a efeitos benéficos, há um efeito direto positivo sobre as finanças públicas, não só porque, ao ser uma actividade legal, paga impostos, como as restantes actividades, como também pelo dinheiro que se poupa, dinheiro no combate à criminalidade associada a esta droga. Na minha opinião, eu concordo plenamente que seja legalizada, principalmente por questões com fim terapêutico e medicinal, mas também

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questões financeiras, sociais, económicas. Tornando-se as drogas leves legais, retira-se do mercado externo o consumo e procura destas drogas no chamado “mercado negro”. Evitam-se assim, possivelmente, atividades ilegais e criminosas relacionadas a esta matéria. Mesmo sendo o álcool responsável por destruir famílias, causar acidentes e cobrar uma alta conta do sistema público de saúde, e o tabaco causador de doenças, como o cancro, são legais. Todavia as drogas leves em causa, que podem ser usadas para fins medicinais e terapêuticos, como no tratamento de doenças, e que realmente podem trazer benefícios à saúde, ainda são (e serão sempre) alvo de polémica.


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“Quem não terá para si liberdade Mal poderá para outrem ter fraqueza.” Camões

Liberdade Buscou-se grande na busca da liberdade E aprendeu por si próprio Os escolhos dessa busca!

Quem pretende a liberdade desembaraçada de estorvos fá-la tornar-se embaraço de liberdade maior!

Não é livre quem pretende derrubar quem é tirano se, antes, não derrubar esse trono de poder que ergueu no coração.

Mas, se puder pôr os lábios nas águas puras e frescas dessa verdade que busca, não é senão para ter mais foças de procurá-la.

Não é livre quem se inquieta por libertar-se de tudo o que o impede ser livre se, antes, não se dá conta que isso são fragmentos do nosso próprio ser de homens. Quem pretende a liberdade desembaraçada de estorvos fá-la tornar-se embaraço de liberdade maior! Porque o homem se devora nessa sede de verdade - que não temos – pode ele tornar-se escravo do que pode libertá-lo, se for a sua verdade o que persegue afinal.

Só a verdade liberta ao congraçar-nos a vida com tudo o que nos rodeia. Pois, quem não luta pela verdade não é mais um homem livre!

Ana Fonseca, Professora de Matemática


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Querida, eu mesma... Diana Ferreira . Aluna do 11.º E

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lá, eu sou tu mesma… Só que de uns anos depois, sei que está um pouco complicado, mas tu vais entender, ou pelo menos queria que tu entendesses…. Eu queria-te dizer que eu acredito nos teus sonhos, eu sempre acreditei, eu sempre acreditei quando todo o mundo falava que não, quando olhavam para ti e riam, quando tu pensavas que não ias conseguir, eu acreditei em ti, mas eu também espero que tu acredites. Haverá dias que tu vais olhar no espelho e não conseguirás encontrar algo bom, mas também haverá dias que tu vais olhar no espelho e vais sorrir. O importante é que tu acredites porque se tu acreditares tudo vai acontecer do jeito que tu sempre quiseste. Algumas pessoas vão-te questionar e dizer que tu mudaste, que tu estás diferente, que tu não és a mesma pessoa, mas eu queria que tu soubesses que tu nunca mudaste. Tu sempre foste a mesma pessoa. Tu tens muita vergonha e eu sei, porque eu sou tu mesma - é muito difícil. Quando tu chegares aqui onde eu estou, tu vais sentir tudo o que eu senti nesse momento. Espero que lá para a frente, depois destes anos todos, vejas este texto e penses em tudo o que aconteceu. Com tudo isto, o que tenho para te dizer é que todos os teus sonhos poderão tornar-se realidade, por difícil que seja. Tu sabes que tudo o que aconteceu na tua vida foi resultado de muito esforço e sempre vai ser assim. Tu vais lutar muito e não importa o

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que aconteça, não importa o que falem e não importa o que achem sobre isso. Tu não vais desistir porque eu sempre acreditei em ti desde o começo quanto tu nem pensavas nisso. Eu confiei em ti sempre, eu sempre soube que tu alcançarias, eu sempre soube que tu estarias aqui. Não receies cometer erros, não precisas de deixar de fazer o que tu queres fazer. Os erros que cometeste até hoje foram os que te fizeram ser tu mesma. Errar é humano e não te sintas mal, todo o mundo erra e tu não és diferente. Não te sintas diferente, não te sintas desconsiderada por ninguém. Não mudes por ninguém, não mudes porque achas ser diferente ou porque as pessoas acham que tu não és igual a elas. Ser diferente não é errado. Acredita em ti, eu sei que tu estás numa das piores fases da vida. Uma fase em que tu não consegues sorrir, não consegues ver o lado bom das coisas. Eu sei que não gostas muito de estudar até tarde, de aguentar algumas pessoas. Eu sei que tens muito medo de acreditares no teu potencial, eu sei que tens muito medo de acreditares que tu consegues, que és capaz de superar esta fase. Eu sei que achas que não és forte, mas eu tenho a certeza que és pois nasceste para isto, para ajudares as pessoas. Espero que um dia, não te arrependas de nada do que fizeste, porque tudo o que fizeste te tornou a pessoa que tu és hoje. Uma pessoa feliz, mesmo que não o vejas às vezes. Eu queria que te aceitasses do jeito que tu és. Eu sei que não é fácil, mas não é impossível. Eu quero-te dizer que tu és a pessoa de que mais me orgulho neste mundo, que te tornaste a pessoa que eu sempre quis ser. Por fim, ensinaste-me que sempre havia e há o lado bom da vida, que, por mais que as coisas estivessem difíceis, devia sorrir. Sorrir sempre.


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A mentira do tempo Marisa Borges . Aluna do 9.º A

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izemos que o tempo passa e que a dor acaba por ir com ele. Dizemos que o tempo é a cura para a dor que algo ou alguém trouxe. Dizemos isso quando não encontramos outra solução para uma dor que não passa. Dizemos isso na esperança de que o tempo realmente acabe com tudo. Que leve as memórias que tanto insistem em aparecer todos os dias. Que acabe com as lágrimas derramadas numa almofada às três da manhã. Que acabe com algo que nós sozinhos não conseguimos esquecer. Dizemos tanto isso que nós próprios acreditamos em tal mentira. Quem queremos enganar? Afinal, todos nós já sentimos uma dor que insiste em permanecer. E todos nós já esperamos que essa mesma dor desaparecesse. E todos nós verificamos que nem sempre é assim tão simples. Se o tempo fosse a resposta para calar a dor, seria demasiado fácil. E na vida nada é fácil. O tempo pode passar, mas a dor não se vai calar. Um dia acabamos por perceber que, com o tempo, simplesmente encontramos uma forma de tornar a dor, a falta, suportáveis. Menos dolorosas. Mas elas ainda estão lá. E a qualquer momento se manifestam. E vamos voltar a fechar os olhos ao que percebemos e vamos voltar a bater na tecla que nos diz que o tempo cura. É um ciclo vicioso. Mas, no fundo, sabemos. Sabemos que o tempo é

in https://osegredo.com.br

cruel, engana e magoa. Estamos é tão desesperados para que tudo passe, que preferimos acreditar numa mentira.


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A partida Joana Conceição . Aluna do 10.º E

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bandonei tudo o que me restava naquela terra já há muito consumida pela guerra e pelos gritos de sofrimento de quem é vítima do desejo macabro de matar. As minhas vestes vão-se aguentando enquanto o frio me acompanha e o sol me sufoca. Tudo o que levo é um pouco de alma perdida e um coração que há muito não sente um pingo de esperança e amor. As pernas começam a falhar. O choro que reprimi agora saía furioso, encharcando a minha face arranhada e cansada. As forças são inexistentes agora. Não tenho força para pedir ajuda. A sensação de estar a morrer percorreu a minha alma. Era uma sensação nova e assustadora para a maioria das pessoas, mas para mim não. Já a sentira apesar de continuar a respirar. Já a vira nos olhos de

quem amava, nos olhos da minha família. Já a vira nas pessoas mais importantes. Já a presenciara antes. A diferença é que antes o desespero tomava conta de mim, a angústia queimava-me por dentro cada vez que essa sensação aparecia e levava partes de mim. Agora, neste momento, ela está quase a levar tudo de mim e tudo o que sinto é paz! Depois de todos os dias que fui obrigado a permanecer lado a lado com a morte, a ver armas serem disparadas contra inocentes, provocando o caos, a destruição, pondo à prova a sanidade de todos os que apenas queriam paz, agora eu consigo senti-la. Então fecho os olhos e deixo-me levar, sobrevoando o meu próprio corpo largado no meio de tantos outros.


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Adolescência problemática Núria Ricardo . Aluna do 8.º D

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ortas-te? Para quê? Alivia a dor? Possivelmente, mas vale a pena? Suicídio? Para quê? Vais magoar as pessoas que te amam por causa das que te fizeram sofrer? Vais fazer passar as pessoas que amas e que te amam pelo mesmo que estás a passar agora? Chegas a casa todos os dias, cansado da vida, cansado de tudo e de todos. Pegas na carta que já tinhas escrito há três meses, pegas nas lâminas, deitas-te na cama e fazes como se aquilo fosse o último segundo da tua vida. E depois? Os teus pais? Os teus irmãos? Os teus avós? Os teus amigos? Já pensaste como é que se vão sentir? A tua mãe entra numa depressão muito grande, o teu pai “enfia-se” no álcool e nas drogas. O teu irmão magoa-se todos os dias. Os teus avós...de tanto tempo passarem contigo…morreram de desespero. O teu melhor amigo, não come, não dorme e também se magoa. A tua ex-namorada nunca mais enganou ninguém como fez contigo. Aquela rapariga que se preocupava sempre contigo? Sabes? Nunca mais foi a mesma, sempre triste, com um sorriso falso na cara, como se tentasse esconder o que sentia. É isso que queres? Fazer as pessoas passar por pior do que estás tu a passar agora? É isso que tu desejas para o nosso futuro? Acho que não, acho que desejas para nós um futuro melhor do que o que tu vives no momento presente. Portanto, pensa bem. Nunca mais faças o que, provavelmente, fazes todas as semanas. Magoares-te.

in http://highlike.org/emil-alzamora-6/


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O que é a felicidade? Maria Inês Gouveia . Aluna do 10.º D

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inguém sabe ao certo o que é a felicidade, mas todos nós conseguimos distinguir se somos felizes ou não. Muita gente tenta definir felicidade, mas ela é difícil de explicar, porque a felicidade é abstrata, é algo que se sente, é um sentimento próprio não só do ser humano, como também dos outros seres vivos. É isso, a felicidade é um sentimento inerente a todos os seres vivos! A felicidade é “pessoal”, no sentido de que cada pessoa tem a sua própria maneira de ser feliz. Uns são felizes por conseguirem tirar boas notas na escola, outros por serem bem- sucedidos naquilo que fazem… cada um feliz, à sua maneira. A meu ver, é feliz quem conseguiu atingir ou até mesmo superar os seus objetivos e realizar os seus maiores sonhos. Ser feliz é sermos nós mesmos e não mudarmos por causa de certos acontecimentos passageiros que atravessam a nossa vida. Ser feliz é sermos fiéis a nós próprios! Como uma escritora de que não me ocorre o nome afirmou, “a felicidade é algo que é complicado de alcançar e sobretudo de manter, porém, é algo imprescindível ao ser”.

in http://reggae-surf-roots.tumblr.com/post/96500928304


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O que é o tempo Nuno Vasques . Aluno do 10.º A

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que é o tempo? Esta pergunta tem intrigado estudiosos, matemáticos, físicos, filósofos e curiosos ao longo da história da humanidade. Contudo, dificilmente se chegará a um consenso. 1 ano, 365 dias, 8 760 horas… O tempo é marcado por um relógio, não é universal, mas sim uma construção histórica que permite saber a duração dos eventos, quando ocorrem e até mesmo os que aconteceram no passado. O tempo está associado a nós, alguns definem-no como algo que distingue o início do fim; outros descrevem-no como a direção do aumento da entropia do universo; e há, ainda, quem o veja como algo que apenas o relógio nos mostra. Muitos dizem que antes do Big Bang ter acontecido não havia nada, considerando-o o início dos tempos. Outra possibilidade é que o tempo e o espaço fazem parte da nossa criação, sendo apenas a nossa imposição sobre o universo para lhe dar sentido. 1 hora, 60 minutos, 3 600 segundos… Ele não possui explicação nem compreensão, é algo que nos segue, vê todo o tempo e também vive connosco. Mesmo que não o notemos, o tempo paira como um fantasma, sem sabermos quem é, de onde veio ou o que faz. Perceção engraçada que temos deste tempo, que desaparece na alegria e volta em momentos de tédio. No meu calendário, no meu tempo, guardo as

minhas vivências e todas as experiências que me definem. Resta-me dizer obrigado tempo, que graças a ti defino quem sou, o que fui e o que serei. 1 segundo, 9 192 631 770 períodos da radiação correspondente à transição entre os dois níveis do estado fundamental do átomo de césio 133…


ensar(es) Coordenação Professores de Filosofia Redação A. Marcos Tavares José Artur Matos Colaboradores/Alunos António Lebres, Beatriz Rodrigues, Bruna Cardoso, Bruna Meneses, Carina Araújo, Carlos Carvalhosa, Diana Ferreira, Inês Carvalho, Joana Conceição, João Pedro Pereira, Leandro Andrade, Liliana Cardoso, Luísa Chambel Gonçalves, Margarida Almeida, Maria Beatriz Trindade, Maria Inês Gouveia, Maria Rita Ferreira, Marisa Borges, Murphy Guimarães, Nuno Vasques, Núria Ricardo, Tiago Teixeira Colaboradores/Professores Ana Fonseca, A. Marcos Tavares, Conceição Dias, Estela Ferreira, José Artur Matos, Manuel Ferreira, Maria Eugénia Monteiro, Paulo Almeida, Pedro Babo, Pedro Miranda, Ricardo Oliveira, Sónia Lopes, Raia Serra Colaborador/Convidado Jerónimo Carreira “LUA” Participação Especial Centro Escolar das Alagoas Centro Escolar da Alameda EB 2,3 de Peso da Régua Design, paginação e imagem da capa José Artur Matos Na imagem de capa Inês Coutinho e Simão Coutinho Impressão / Tiragem Imprensa do Douro / 300 exemplares

ensar(es)

1999 . 2018


DOURO Património Mundial da Unesco “Douro verdejante de socalcos vinhedos, sustentam paixões de um Povo vigoroso que produz da sua terra sonhos e encantos.” António Barroso


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