Revista Pensar(es) 19 - Junho de 2014

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ensar(es) 1999-2014

Revista Escolas | João de Araújo Correia

Nº 19 - Junho 2014


Escolas João de Araújo Correia «Deparou-se-nos há dias (...) uma árvore feliz. Foi um acontecimento! Árvore feliz é coisa rara como homem feliz. (...) Ficaríamos a contemplá-la até ao fim do mundo se ninguém nos dissesse: vamos, que são horas.» João de Araújo Correia, Pátria Pequena (1961)

AS ESCOLAS TAMBÉM PODEM SER FELIZES


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Índice Editorial: 40 Anos (1974-2014) A. Marcos Tavares A felicidade Ana Almeida A vida Ivo Fonseca Anatomia de uma história João Couto A vida sem ser vivida Beatriz Fonseca A vida e o sentido Isabel Gonçalves O amor Ana Araújo Os direitos dos homossexuais Ana Fernandes Não sei escrever Daniela Ferreira Como definir a felicidade Carolina Ferreira Tempos Fernanda Sousa O livro da minha vida Telma Rodrigues Uma coisa sei... Diana Gomes Porquê? Carlota Pinto Só contigo quero estar António Santos As três humilhações do homem A. Marcos Tavares Darwinismo nos dia de hoje Bruno Marques A pena de morte Diogo Teixeira A estrela Soraia Pereira Ajustar o justo Luísa Monteiro A sede Gonçalo Trindade

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A casa José Artur Matos O borboto nunca é poético Ana Meireles A minha pátria Mísia Reima A força que surge Maria Carlos Bullying Serelena Fernandes Minha inspiração Gerson Guedes Casos de vida ou de morte? Tiago Alves Os caminhos do humano Manuel Ferreira Educação sexual Carlota Martins Quantas vezes Senhor... Hugo Santos Será que a homossexualidade... Luana Silva O medo Nicole Vieira Homem em construção Raquel Babo O menino de peixes verdes no olhar Conceição Dias Avaliação e autonomia das escolas Manuel Mesquita O próximo terramoto Elisa Guichard Participar / cooperar / partilhar João Rebelo Vida, valores e... Sociedade Catarina Meneses Ser ou não ser? Inês Mesquita Interculturalidade Clara Pinto Palavra puxa palavra Joana Santos


Editorial

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40 anos (1974 – 2014) O

uvido colado ao aparelho de rádio, conseguia perceber lá longe, por entre ruídos vários, a Emissora Nacional (EN).

- Por favor, mantenham-se nas suas casas. - O aviso, constantemente repetido, era enquadrado por marchas militares. No dia 25 de Abril de 1974, com 18 jovens anos, encontrava-me fora de Portugal por motivos pessoais a que não era alheia a situação política e social que se vivia. Contacto com o país só à noite, escutando a EN, única rádio portuguesa que conseguia sintonizar. Um colega tinha entretanto ouvido rumores e alertou-me que algo tinha sucedido ou estava a suceder na terra lusa. Não acreditei, ao princípio, porque os tentáculos da repressão e da censura não permitiam veleidades. Só perante o aviso repetido e as marchas militares me convenci de que, afinal, algo de novo e de belo estava a acontecer. Recordo-me bem da emoção que sentia ao ver, nas TVs lá de fora, as imagens de cidadãs anónimas colocando cravos vermelhos na bocarra dos fuzis. As armas passaram a perfumar o povo, já não vomitavam repressão. A alegria nas celebrações do dia 1 de maio de 1974 foi esfusiante, das maiores festas de que guardo memória. Cumpriram-se 40 anos. Muitas coisas mudaram. A maioria para melhor, convenhamos. O reconhecimento das liberdades individuais e dos direitos sociais e políticos, amordaçados no regime de Salazar e Caetano, só por si justificavam totalmente o 25 de Abril. Mas a tremenda crise social, económica e financeira que hoje se atravessa é má conselheira e ouvem-se, com certa frequência, vozes saudosistas, por parte de uns, e a reclamar uma nova revolução, por parte de outros.


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José Artur Matos

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De facto, o 25 de Abril ainda se não cumpriu. Não tem sentido, todavia, o saudosismo: retornar ao passado seria como regressar às trevas e, felizmente, tal já não é possível. É necessária, sim, a transformação de mentalidades para a recuperação dos seus ideais. Mudou muita coisa, mas também demasiadas coisas continuam iguais. A corrupção, o chico-espertismo, o compadrio, a inveja mesquinha, a burocracia asfixiante, o provincianismo tacanho continuam a corroer a sociedade portuguesa. As instituições, com especial alarme para a Justiça e para o Parlamento, estão completamente desacreditadas. As principais funções sociais do Estado, como a saúde, a educação e a segurança têm-se degradado assustadoramente. Fazer cumprir o 25 de Abril traduz-se cada vez mais num esforço de mobilização da sociedade civil, tão mortiça entre os portugueses, na defesa da justiça atempada, das leis sem artimanhas, da transparência na gestão da coisa pública (res publica) e na revitalização da saúde e da educação, alicerces de toda a sociedade verdadeiramente justa e democrática. Neste número 19 da Pensar(es), queremos homenagear os construtores do 25 de Abril e apelar à mobilização de todos na defesa esforçada dos seus ideais mais nobres.

A. Marcos Tavares


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A Felicidade Ana Almeida . Aluna do 10º F

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ntes de tudo, quero referir a minha extrema dificuldade em abordar uma questão filosófica de uma forma tão fria, limpa e racional, pois a minha pergunta inicial desdobra-se sempre em centenas de outras perguntas, daí que estas pequenas experiências de filosofar terminem sempre bastante rapidamente e de uma forma bastante confusa. Hoje vou tentar explorar um tema recorrente: a felicidade. Podem chamar-lhe de cliché ou falta de originalidade, mas a verdade é que todos os Homens, durante toda a vida, procuram a felicidade. Segundo muitos filósofos, a felicidade é intrinsecamente valiosa, ou seja, a felicidade é valiosa por si só e não pelo que ela nos possa proporcionar. A maior parte das coisas a que damos valor só valem por aquilo que nos podem proporcionar, como no caso do dinheiro – só damos valor ao dinheiro pelas coisas que podemos comprar com ele. Mas como definir a felicidade?

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Podem chamar-lhe de cliché ou falta de originalidade, mas a verdade é que todos os Homens, durante toda a vida, procuram a felicidade.

A maior parte das pessoas associa a felicidade a um bem-estar, a uma sensação de prazer, alegria. No entanto, não penso que a felicidade possa ser um sentimento. Para mim, a felicidade são momentos, pequenos relâmpagos na vida das pessoas. E é por isso que eu considero que o ser humano está destinado a não poder ser feliz. Penso que o Homem é uma espécie triste e crédula, pois acredita piamente nas histórias que conta acerca dele mesmo, acredita no seu intelecto, na sua grande inteligência e racionalidade que nos distingue de todas as outras espécies. Pois eu acho que a nossa suposta inteligência é uma maldição que não nos permite simplesmente ser felizes. Mal alcançamos uma pequena meta, queremos logo a próxima. Estamos sempre a calcular, a analisar, a relacionar, sempre em busca de algo novo e exótico que possa trazer uma centelha especial para a nossa vida e, sem darmos por isso, a felicidade foge-nos por entre os dedos.Se a felicidade são momentos, nunca conseguiremos ser felizes.


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A vida A vida é uma viagem, Uma viagem a decorrer. Uns dias com sol, Outros a chover. E a vida continua, Sempre, sempre sem parar. Às vezes estamos contentes E outras vezes a chorar. Mas esta viagem tem um fim, Um fim que jamais alguém quererá. Será tranquilo? Ninguém saberá! Até lá, aproveitemos Essa viagem, que é a vida. Que só nós comandamos, Mas nunca impedimos de ser sofrida. E assim é … a vida, Como uma viagem a decorrer. Uns dias com sol, Outros a chover. Ivo Fonseca . Aluno do 12º C

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Anatomia de uma História João Couto . Aluno do 12º B

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Os dias são História em contínuo desenvolvimento através desta frágil interação entre protagonistas, a sua sociedade e o meio em que decorrem. Os dias passam.

Os protagonistas movimentam-se numa rotina interiorizada ao longo do tempo, agindo de forma automática e irracional. Surge como se se tratasse de um movimento inapto e instintivo, superior às vontades do sujeito. Olha-se e diz-se: são inocentes autómatos. Concebem-se como seres que fazem o que querem, donos da sua própria vontade, quando na verdade nada mais são do que o produto do que outrem quer que sejam. As suas vontades, opiniões e manifestações de suposta rebeldia ou amadurecimento não passam de reflexos de algo que eles sonham vir a ser, que nada mais é do que o resultado da influência de uma educação (ou sua ausência) anterior.

Modern Times - Charlie Chaplin

Sim, eles são inocentes.


ensar(es) Mas nada disto os torna inocentes. O que os leva a serem caracterizados de inocentes é o facto de não terem consciência disso. Ainda mais inocentes são aqueles que já se aperceberam da sua condição, mas decidiram aceitá-la como um precioso legado. É mais fácil manter o que já se tem, do que partir à procura de algo que não se revela de forma evidente. É mais fácil seguir os outros do que partir num novo caminho. E certamente será mais fácil, para os respetivos protagonistas, que estes factos sejam aceites por eles mesmos, como posições originais e radicais, do que reconhecer que se trata de um procedimento “estandardizado” e desenhar uma nova conduta a adotar. Por estas razões, sim, eles são autómatos.

Surgirão, no entanto, protagonistas que se movimentam numa rotina igualmente interiorizada. À primeira vista manifestam comportamentos igualmente automáticos, formulados de maneira quase irracional, como os anteriores. Apresentam-se também como inocentes autómatos aos olhos do observador mais desatento. No entanto revelam uma característica única que os diferencia: a existência de espírito crítico. Surgem assim os protagonistas que compõem a história.

A existência de espírito crítico revela-se como um ótimo instrumento de diferenciação nesta massa amorfa de protagonistas. Apesar de se revelar semelhante àqueles mais próximos, este protagonista tem a consciência do que o rodeia e será isto que marcará o seu percurso. Consoante as suas análises, mais aprofundadas ou não, este irá atuar sobre o meio que o rodeia. Apesar de atuar sobre o meio que o rodeia, as suas ações na maior parte das vezes não são visíveis, uma vez que, ao se revelar diferente dos que o rodeiam, assinará o seu desaparecimento. A sua ação será visível através do pensamento e das suas ações perturbadoras do equilíbrio, de caráter negativo ou não, mantido pelos demais protagonistas. A sua influência acabará por ser manifestada a nível do coletivo, cabendo à sociedade adotar uma estratégia de reação a esta perturbação do seu equilíbrio.

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Uma História é como qualquer organismo vivo. E uma sociedade é como qualquer História. Reagirá à existência de elementos estranhos ou diferentes tentando reprimi-los ou destruilos, mantendo-se igual, ou incorporando-os, procurando adaptar-se a eles, realizando uma aprendizagem com os mesmos procurando a transição para um novo estado de equilíbrio.

Os dias são História em contínuo desenvolvimento através desta frágil interação entre protagonistas, a sua sociedade e o meio em que decorrem. Um dia passa, o equilíbrio ficou ainda mais desequilibrado, no entanto não se vê qual será a reação do organismo, ou da História, ou da Sociedade. Eliminará e/ou continuará a reprimir alguns protagonistas para a manutenção do equilíbrio prévio? Ou adaptar-se-á às novas influências exercidas por estes protagonistas? Isto trata-se da Anatomia de uma História.

Não é a Anatomia de uma História em particular, mas antes de uma simples História, como qualquer outra que surge ao longo do tempo e nos influencia. É a Anatomia de uma História coletiva e isto é algo que não nos devemos esquecer, pois todos os protagonistas têm responsabilidade na maneira como esta se desenvolve. É necessário que ocorra a tomada de consciência de que as ações pelos mesmos no seu decorrer, apesar de por vezes nos parecem insignificantes, trarão consequências futuras. Uma página em branco numa história ou o longo silêncio dos seus protagonistas, não significa que acabou a história ou que tudo o que se passa é aceite.

No silêncio e calma da noite, o escritor confrontado com o desafio de uma página em branco e a revolta nascida do silêncio dos seus protagonistas, prepara-se para escrever uma nova história. Surge então um novo dia.


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A vida sem ser vivida Viver simplesmente não chega! Quero deixar a minha marca. Ser um ser triunfante Uma alma não vale nada.

Pesadelos cruéis que me chateais Deixai-me em paz! Quero sonhar, imaginar, Mas sem desesperar.

Não quero viver no escuro Sinto que estou a desaparecer Cada bocado de mim vagueia Como se fosse uma aventureira.

A noite serve para descansar, Mas para mim é uma guerra Uma guerra, que não tem fim Nem eu saio vencedora!

A noite traz o passado, Os maus pressentimentos. Não quero voltar atrás Nem por arrependimentos.

O sossego para mim não existe, Meus pensamentos dominam O meu querer, o meu sentir E, acima de tudo, o meu sonhar.

Viver somente sossega O que já não existe. A luz regressa Será que conseguiste?

Estou farta desta angústia De não saber o dia de amanhã E nem viver o hoje, Pensando em ontem.

Regressa no escuro, Pois no escuro te foste A luz que acabou Foi pelo sufoco.

O passado e o futuro ocupam O meu presente, o meu ideal.

Beatriz Fonseca . Aluna do 12º C


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A vida e o sentido Isabel Gonçalves . Aluna do 10º B

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Se realmente pensarmos que a vida não tem sentido, podemos considerar isso mesmo como o sentido da vida: o facto da mesma não ter um sentido definido.

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ivemos. Somos. Existimos. Pensamos, comemos, dormimos, passamos os dias ocupados nas nossas atividades e o dia passa por nós. Criamos uma rotina e envolvemo-nos nesse ciclo do habitual, do que é conhecido e seguro, do que não se impõe como inexplicável e não suscita dúvidas na profundidade do nosso ser. Mas quando, falando seriamente, nos perguntam: “Qual o sentido da vida?”, ficamos, diga-se, “à nora”. Será que já tentámos alguma vez travar essa espiral de acontecimentos mundanos do nosso quotidiano, e parámos para refletir? Para começar, o sentido disto tudo que tomamos por garantido pode nem existir. Podemos ser somente um conjunto de fantoches inanimados nas mãos de um Deus que tudo planeia e organiza,

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integrantes dalgum teatrinho sujo. Deste modo, viveríamos para morrer. Experienciaríamos uma vida sem objetivo absolutamente nenhum, diante de algo que ultrapassa a inteligência humana. E se nos deixarmos embrenhar nesta controvérsia, ela há-de consumir-nos até nos deixar num estado deplorável, desacreditados e céticos. Portanto, é natural que o Homem se agarre a crenças - que muitas vezes são injustamente alvo de descrédito – para tentar explicar este domínio metafísico. O certo é que, ao encararmos essa possibilidade, começamos a especular sobre a verdadeira razão da nossa existência… Se realmente pensarmos que a vida não tem sentido, podemos considerar isso mesmo como o sentido da vida: o facto da mesma não ter um sentido definido. Por outro lado, procurar um “sentido da vida” universal e aplicável a todas as pessoas é impossível, uma vez que cada um de nós é unicamente singular. Sendo assim, a questão que nos devemos colocar a nós próprios não é “Para quê estamos aqui e existimos?” - porque o ser humano não é um objeto ao qual possamos consignar uma função ou utilidade! Cada um de nós representa uma ínfima gotinha no oceano do Universo, contudo sem nós o oceano seria incompleto! Devemos sim admitir a realidade de que, já que cá estamos e somos, é-nos dado livre arbítrio para decidir em prol do que usamos a nossa vida. Viver para os outros, para um emprego, em função do sucesso, da popularidade, viver para nós próprios. Isso constitui o nosso modo de encarar a vida; antes que sejamos encarados por ela. Apegarmo-nos demasiado àquilo sobre o qual não possuímos conhecimento suficiente para explicar é inútil. Nada podemos fazer para alterar a nossa existência, no sentido de decidir existir ou não… - excetuando casos extremos - simplesmente viver do melhor modo que conseguirmos (interpretem como quiserem) o que dessa condição advém!


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O Amor Ana Araújo . Aluna

do P12º A

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Oh amor! Que será isso? A única coisa capaz de destruir tanto como o amor é o fogo.

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“Amor é fogo que arde sem se ver” já dizia Luís de Camões, são chamas que invadem o nosso coração e logo de repente um nome surge na nossa mente, surge um nome, uma pessoa, um olhar, um calor e de seguida uma pequena raiva e uma enorme vontade de afastar tudo aquilo do nosso coração para evitar aquele sofrimento constante que invade a nossa alma diariamente. Oh amor! Que será isso? A única coisa capaz de destruir tanto como o amor é o fogo. O fogo, uma

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amor, sentimento tão nobre e cruel, um tanto ou quanto agridoce, o único capaz de mudar o nosso estado de espírito em poucos segundos: ora estamos com uma alegria imensa ora os nossos olhos derramam lágrimas de tristeza pura.

vez que começa a arder, destrói e consome tudo ao seu redor lentamente e no final apenas cinzas restam… Exatamente como o fogo, o amor, destrói completamente o coração deixando-o resumido a desespero, lágrimas, dor e destroços.


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Os direitos dos homossexuais Ana Fernandes . Aluna do 10º F

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Que poder temos nós para prejudicar alguém apenas baseando-nos na sua orientação sexual? Somos todos iguais, somos todos Homens, logo todos devemos ser respeitados.

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igualdade de direitos entre os homossexuais e os heterossexuais é um tema controverso que tem vindo a ser uma constante nos últimos anos. Por mais que tentemos negá-lo a verdade é que na nossa sociedade a ideia de um casal de duas pessoas do mesmo sexo ainda não é totalmente aceite e continua a haver um grande preconceito associado. Mais recentemente no nosso país, um dos temas principais a ser discutidos é a adoção por casais homossexuais sendo este ainda um pouco tabu na nossa comunidade. O primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem diz que “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direito (…) ”. Pois se tanto tentamos combater o racismo por que razão continuamos a roubar os direitos a estes casais? O que é a homofobia

senão uma forma de exclusão social? É um direito do Homem ter igualdade de direitos. Que poder temos nós para prejudicar alguém apenas baseando-nos na sua orientação sexual? Somos todos iguais, somos todos Homens, logo todos devemos ser respeitados. Um casal homossexual deve ter o direito de adotar. Muitas vezes é usado o argumento de que as crianças necessitam de uma figura materna e paterna e não de dois pais ou duas mães. Mas isso realmente importa se a criança estiver feliz?! Na verdade existem bastantes casais heterossexuais que por diversas razões não conseguem proporcionar um lar com ambiente saudável e de amor aos filhos. Não seriam estas crianças muito mais felizes se vivessem com um casal homossexual que lhes transmitisse amor e carinho? Temos que deixar de viver no preconceito e ideias feitas da família tradicional. Família é sempre família desde que haja amor e união entre as partes, não é só um homem, uma mulher e crianças. As pessoas devem ter em mente que, para uma criança ser adotada por um casal homossexual, teve que primeiro ser abandonada por um heterossexual. Será que nos podemos considerar um país livre e democrático se não concedemos igualdade de direitos a TODOS os cidadãos?


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Não sei escrever Depois de muitas frases riscar e folhas queimar, dei-me por vencida: não sei escrever, não sei os meus sentimentos descrever nem realidades criar Gostava de saber escrever, de todos os preconceitos vencer, novas realidades criar e contratempos ultrapassar . Gostava de às palavras dar significado e aos sentimentos um carácter revolucionário. Queria personagens criar e acontecimentos relatar. Quero saber escrever, para te poder descrever para poder te conquistar e lá no fundo te amar. Quero acontecimentos retratar e dessa forma os imortalizar. Quero saber escrever e dessa forma viver. Daniela Ferreira . Aluna do 12º B


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Como definir a felicidade? Carolina Ferreira . Aluna do P10º A

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A definição de felicidade é relativa. A felicidade não é visível, mas sim sentida. É uma parte de nós que precisa de ser descoberta e trazida para o exterior.

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A definição de felicidade é relativa. A felicidade não é visível, mas sim sentida. É uma parte de nós que precisa de ser descoberta e trazida para o exterior. Ninguém consegue ser feliz isolado do mundo e das pessoas, porque a felicidade é dar o melhor de nós aos outros sem esperar nada em troca, é ouvir os outros e não os julgar, é apoiá-los nos momentos mais difíceis da sua vida, é nunca abandonar ninguém, mesmo sabendo que esse

Carolina Ferreira

ma pergunta muito frequente. Somos felizes com dinheiro, com as drogas, ou com o álcool? Ou serão as noitadas com os amigos, os jantares de convívio os momentos com a família que nos fazem felizes? Somos felizes sempre ou num determinado espaço de tempo? Será que somos realmente felizes? Num momento estamos felizes, para logo estarmos deprimidos.

alguém possa estar errado. Ninguém pode ter a certeza sobre o que é a felicidade, ou sobre como ela se processa. Por isso, apenas de uma coisa tenho a certeza, que é a de não existir uma definição exata para a palavra felicidade.


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Tempos Fernanda Sousa . Professora de Inglês

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Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. Fernando Pessoa

1904. Suíça, Berna. Bem cedo, para não desperdiçar tempo, chega ao pequeno escritório do terceiro andar e abre as janelas. Sente o cheiro fresco da manhã e puxa do seu cachimbo. Vê os telhados dos edifícios vizinhos, o relógio de igreja, por onde passa todos os dias e que marca quatro minutos a mais que na localidade vizinha. Naqueles tempos, até o tempo era mais livre... Desconhecido do mundo, e ainda nada no tempo da história, este jovem alemão, judeu analisa uma patente na mesa do seu escritório. Nada de complicado, pensa, confere cálculos e decide. Mais uma patente aprovada. Estava inquieto,

apetecia-lhe tocar violino. Mozart, a harmonia em estado puro. Como ele, procurava também a teoria da harmonia, a do universo nas horas livres. Tem agora vinte e quatro anos e um filho, Hans. Perdeu o pai, que o julgou sempre um fracasso, e todos os pedidos de emprego que fez foram recusados. Se calhar o seu pai tinha razão. Era um fracasso. Olhou pela janela e perdeu-se no tempo em devaneios. 2001. Nova Iorque. 6:48 6:49 6.50. O alarme do rádio negro, moderno, com luz vermelha toca no silêncio. Já é hora? Maldito tempo! Tem uma reunião hoje, não pode perder tempo. Salta para o duche e olha para o espelho. Tem quase trinta e cinco, o tempo tem sido bom para ele embora já tivesse mais cabelo e menos barriga. Ainda assim, não está mal. Escolhe o fato cinzento e a gravata azul. A Sofia diz que o azul transmite confiança. Bom, se há dia que precisa disso é hoje. Foi chamado ao patrão dos patrões. Talvez aproveite a oportunidade para pedir um aumento. Pega nas chaves e dirige-se para o metro. A reunião é na Torre Norte. Suíça. Terminou o dia de trabalho. Caminha pela praça e apanha o comboio, igual ao que deu ao filho. Entrega-se aos seus pensamentos. Se conseguisse andar em cima de um raio de luz


ensar(es) e olhasse para o relógio lá atrás, o que veria? E se este comboio andasse à velocidade da luz e pudesse ver cá para dentro, como seria o tempo aqui dentro? Devaneios outra vez. O que é o tempo? Perdia-se em equações e fórmulas, teorias e visões. Para alguns, ele era uma figura estranha, até porque aquele cabelo não ajudava nada e a sua mania de não calçar meias também não. Não tinha preocupações estéticas. Mas preocupava-o o tempo. Tal como ao seu ídolo há duzentos e poucos anos atrás, Newton. O tempo devia ser uma linha única, imutável, eterno, distinto do espaço. Mas não era, não para ele. Torre Norte. Já se via dali. Bom, chegaria a tempo. Com tanta incerteza, pelo menos isso. Trabalha no piso 95. Tem tempo, antes da reunião, de deixar os assuntos pendentes de ontem resolvidos. Mais tarde ia almoçar com a Sofia no restaurante onde a conheceu no topo da torre. Talvez este ano pudessem ir de férias. Se for aumentado, devia leva-la à Suíça. Deixou lá os avós e ele nunca lá tinha ido. O avô partiu o ano passado e sentia-se culpado por nunca o ter ido ver. Não era bom se pudéssemos voltar atrás no tempo? Ou passar para o futuro? Já estaria de férias em vez de estar no escritório, apertado naquela gravata. Bom, se o escritório fosse bem ao lado de um buraco negro, longe da terra, o que às vezes parecia que era, e ele ficasse bem quietinho, segundo Einstein, o tempo pararia devido à sua intensa gravidade, e quando regressasse, quem sabe quantos anos já teriam passado? Um disparate atrás de outro. Queria apenas que o tempo passasse rápido até chegar à hora da reunião. Não admitia, mas estava nervoso. 1905. Ainda não sabe, mas é o seu “ano miraculoso”. Riscava cálculos e começava de novo, fugia-lhe algo importante. Perseguia a fórmula que explicaria tudo. E a fórmula chegou: E= MC2. A energia podia tornar-se matéria e a matéria energia. A fórmula da vida e da morte. 8:40. Torre Norte. Levanta-se, está na hora. Entrou no elevador e as portas fecharam-se. Sai e vê as janelas amplas, sol e céu azul. Nunca se

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cansava daquela sensação ao olhar para fora, era como estar no topo do mundo. Escritório cheio. Cumprimenta dois conhecidos e dirige-se à sala de reuniões. Do canto do olho, vê apenas a sombra em direção à janela. Abafa um grito. A matéria desaparece e com ela o tempo mudou. 1911. Zurique. Também para Einstein, havia alturas em que o tempo não passava. Lutava por explicar a uma plateia em silêncio a sua visão do tempo. Desde que em 1905, sentado num comboio, se tornou claro que tempo e espaço são a mesma coisa, tem tentado convencer o mundo da Física do seu trabalho mas só dali a dez anos receberia plenamente o crédito merecido. 9:00. Torre Norte. Piso 95. O fim. Luz, fogo, barulho, o silêncio dos sonhos. Outros decidiram que o seu tempo tinha acabado. Este era o tempo do ódio e da vingança. Daí a pouco a Torre Norte desapareceria no espaço mas não no tempo. Por toda a cidade, todos os tempos mudaram e, em sincronia, o mundo respirava a um só tempo. 23:45. 2002. Sofia move-se em pensamentos à velocidade da luz mas está parada no tempo. Parada no meio do jardim, à margem de si mesma, segura pela gravidade apenas. Passou um ano. Tempo e espaço confundem-se. Aparentemente calma, como já tudo em seu redor, todos os átomos do seu corpo e, dentro deles, cada eletrão, a um nível subatómico, seguem um outro tempo. Como que sugada para um buraco negro, tempo e espaço estão deslocados da realidade. O seu tempo é outro, diferente, caótico. Só seu. Se pudesse voltar atrás no tempo… Se lhe tivesse dito para não ir. Se tivesse… Olha para o céu, para as estrelas, que não são mais que vestígios do passado. Vê algumas que já não existem, ela própria uma supernova - estrela que explodiu, morreu e que tenta encontrar-se neste tempo.


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O livro da minha vida Telma Rodrigues . Aluna do 10º C

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Anónimo in http://ultramarlembrar2.blogspot.pt/

“Entre 1961 e 1974, Portugal via partir muitos dos seus homens, cuja obrigação era dar a sua vida em prol da sua pátria. Graças a isso, Portugal perdeu muito dos seus homens, alguns deles ficaram debilitados tanto psicológica como fisicamente!

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Para além do sofrimento da personagem principal, surgem duas outras personagens com um papel relevante: a mãe e a noiva de António, que sofrem muito no decorrer da história.

Entre 1961 e 1974, Portugal via partir muitos dos seus homens, cuja obrigação era dar a sua vida em prol da sua pátria. Graças a isso, Portugal perdeu muito dos seus homens, alguns deles ficaram debilitados tanto psicológica como fisicamente! Este livro retrata principalmente a experiência de vida de António, um dos homens vítima dessa violenta e desnecessária guerra.

Na minha opinião, o livro é muito educativo e muito rico a nível de factos históricos, pois através da experiência da vida de António, conhecemos alguns dos acontecimentos em tempos de guerra e a amargura do ser humano em certas alturas, quando tem de abdicar da sua vida para ir para um lugar desconhecido, sem saber o que o espera, com o pensamento de que nunca mais irá ver o que deixou para trás, lidando ai nela o pressentimento da sua própria morte.

livro que mais me marcou sentimentalmente até hoje foi “Um Amor em Tempos de Guerra”, de Júlio Magalhães.

Está história narra a vida de um homem que, como tanto outros, teve de deixar o seu país, a sua família e os seus amigos para se aventurar na defesa de Portugal e das suas colónias.


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Uma coisa sei… Por vezes procuro-me, Mas não me encontro. Onde estarei? Dou por mim a pensar na vida, No que serei, no que farei, Mas só sei que nada sei. Tenho fases, como a lua Fases de andar escondida, Fases de vir para a rua... Pensar na minha vida! Tenho horas de felicidade, Dias de preocupação, Momentos de bipolaridade Cheios de inquietação. Mas uma coisa sei, a minha vida serei eu a escolher. O que farei, o que serei só eu saberei, Ninguém fará de mim o que eu não quero ser, As minhas escolhas serei eu a fazer. Diana Gomes . Aluna do 12º C

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Porquê? Carlota Pinto . Aluna do 10º C

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E então eu continuo a questionarme “Porquê?”. Porquê as guerras, porquê a pobreza, porquê a fome? A essas perguntas é que eu não encontro mesmo resposta, não consigo arranjar uma resposta que na minha cabeça faça sentido.

Por vezes dou por mim a pensar no porquê, no porquê de certas atitudes, no porquê de certas palavras, de certos gestos. Penso “Porque é que que ele agiu assim? O que o levou a fazer e a dizer aquilo?”. Muitas das vezes, tentar responder a essas questões é complicado é quase como se fosse um “puzzle” em que tenho de montar as peças para tentar entender. Tenho de me colocar no lugar de outras pessoas, mas mesmo assim não consigo responder a essas perguntas que eu mesma coloco, talvez porque tenha uma maneira de agir, uma maneira de pensar e uma maneira de sentir diferentes. Ao longo da minha vida tenho-me apercebido de que as pessoas vivem muito por impulso, vivem muito de emoções, vivem o dia-a-dia de uma forma muito intensa, em que por vezes não têm

tempo ou simplesmente nem se preocupam em reflectir, em pensar duas vezes, em pensar nas consequências, em pensar nos outros, nos que os rodeiam que acabam sempre por ficar afectados com uma atitude que, por muito pequena que seja acaba por afectar alguém pela negativa ou pela positiva, porque as pessoas de hoje em dia tendem a ser muito egoístas, muito egocêntricas,não por culpa delas mas sim por culpa da sociedade, que quase obriga as pessoas a serem assim. E então eu continuo a questionar-me “Porquê?”. Porquê as guerras, porquê a pobreza, porquê a fome? A essas perguntas é que eu não encontro mesmo resposta, não consigo arranjar uma resposta que na minha cabeça faça sentido. “Porque é que uns têm muito e outros nada têm?”, “Por que não vivemos todos juntos e amigos em união?”. Para todas estas perguntas todos gostaríamos de obter uma resposta e talvez muitos de vós pensem como eu. Eu revejo-me muito nestas reflexões que faço em relação às atitudes de outras pessoas, porque no fundo eu mesma tenho atitudes semelhantes. Não sou ninguém para criticar ninguém, mas sou toda a gente quando me questiono sobre o “Porquê?”.


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Só contigo quero estar Entraste na minha mente sem avisar, feriste-me o pensamento fiquei a desesperar.

Todos os dias te vejo fico a tremer, que sentimento que posso eu fazer.

O meu coração acelera só de te ver, fico paralisado acabo por enlouquecer.

Este sentimento, nem sei como dizer, o que está cá dentro não consigo perceber.

É de ti que eu gosto o meu coração aperta, só por não poder dizer o quanto me afeta.

Talvez devesse acabar de escrever, depois de tudo sei que não vais entender.

Só queria poder acabar por te beijar. É de ti que eu gosto mas não consigo demonstrar.

Fico sem saber se deva avançar. mostrar quanto te amo só contigo quero estar.

Por mais atos banais que eu possa fazer, tu não me ligas não consegues entender. António Santos . Aluno do P10ºA

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As três humilhações do Homem A. Marcos Tavares . Professor de Filosofia

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Assistiu-se, nos últimos cinco séculos, a três fundamentais mudanças na ideia do homem sobre si mesmo, retirando-o do lugar privilegiado e do pedestal em que, narcisistamente, se contemplava.

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reio que foi o filósofo e teólogo espanhol Juan Alfaro quem lembrou, há já largos anos, que a modernidade tinha infligido três humilhações decisivas ao ser humano como suposto rei da criação.

De facto, assistiu-se, nos últimos cinco séculos, a três fundamentais mudanças na ideia do homem sobre si mesmo, retirando-o do lugar privilegiado e do pedestal em que, narcisistamente, se contemplava.

Sigmund Freud, 1926

Esta ideia serviu de intróito ao filme de John Huston sobre Freud (Freud: the secret passion) e foi recordada por outro filósofo espanhol bastante conhecido entre nós, Fernando Savater (A arte do ensaio).


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Os obreiros dos três grandes golpes que derrotaram a vaidade humana foram Copérnico (1473-1543), Darwin (1809-1882) e Freud (1856-1939). Antes de Copérnico, o homem acreditava ser o centro do universo: todos os corpos celestes giravam à volta da Terra; ora, sendo ele o ser mais nobre do planeta, tudo girava ao seu próprio redor. O astrónomo polaco derrubou este conceito. Desde então, fomos forçados a admitir que o nosso planeta é apenas um de entre os muitos que giram em torno do Sol e que há outros muitos sistemas além do nosso em incontáveis mundos. Antes de Darwin, o homem acreditava ser uma espécie única, orgulhosamente separada do reino animal. O biólogo inglês fez-nos ver que somos produto de um vasto processo evolutivo, cujas leis são em tudo idênticas às dos outros animais. Antes de Freud, o homem julgava que o seu pensamento e a sua ação eram produtos da sua vontade consciente e livre. O médico e psicólogo austríaco veio ressaltar a importância de outra parte das nossas mentes, que funciona no mais obscuro segredo e que comanda as nossas vidas – o inconsciente.

Com as teses de Darwin, o ser humano apercebeu-se da incerteza da sua até aí proclamada superioridade de ser espiritual, quase angélico. Mais do que condição de ser racional, é a feroz luta pela subsistência e pela adaptação que indelevelmente traça o seu destino. Com as provocações freudianas, o humano deixou cair a máscara da superioridade moral de ser livre e autónomo, senhor do próprio existir.

Antony Gormley, escultura

Com a revolução coperniciana, para utilizar a terminologia de Kant, o ser humano perdeu o especial estatuto ontológico de que julgava estar revestido. Afinal de contas não passa, tal como o planeta que o alberga, de insignificante grão na incomensurável praia do universo. Afinal, todo o comportamento é comandado por pulsões que não controla e que determinam, sem que de tal se aperceba, todos os seus atos. O futuro é súbdito do passado; um passado que fervilha na caldeira explosiva do Id. Perdido na imensidão dos astros, mergulhado na luta pela sobrevivência e escravo do inconsciente, o ente humano vai às vezes fingindo que é um ser superior, único, livre, dono da própria vida.


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Darwinismo nos dias de Hoje Bruno Marques . Aluno do 12º B

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No quotidiano, o ser humano esqueceu-se de que não é nada mais que um animal inserido na natureza e que a espécie humana não é alheia a estes factores evolutivos.

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No quotidiano, o ser humano esqueceu-se de que não é nada mais que um animal inserido na natureza e que a espécie humana não é alheia a estes factores evolutivos. No entanto, nos dias de hoje, com os avanços da medicina e melhoria na

Stefan Krilla/ Sxc.hu

uma tentativa de descrição do darwnismo em termos leigos e que seja de compreensão para a população não familiarizada com o mesmo, podemos afirmar que um dos pontos cruciais no darwinismo é que a evolução das espécies na natureza se dá no sentido dos mais fortes, mais adaptados e mais resistentes. A natureza inicia assim um lento processo, eliminando os mais fracos e conduzindo as espécies à perfeição, que, neste caso, é a adaptação total ao habitat em mudança constante.


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Evolução Humana, Darwin

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qualidade de vida, essa evolução parece não se dar. Se tomarmos como exemplo uma borboleta de coloração acastanhada, que habita uma zona altamente florestal, esta terá maior sucesso do que uma borboleta com coloração azul, pois mais facilmente se camuflará ludibriando os predadores. Na espécie humana, existe um elevado número de deficiências (alergias, pequenas mutações, etc.) que, graças aos avanços da medicina, são eliminadas. É a partir deste momento que, na minha opinião, estas deviam deixar de ser tratadas como deficiências, passando a ser nada mais do que a representação da conquista da ciência sobre a natureza. A natureza, no entanto, mantém o seu processo de selecção, não através de mecanismos tão óbvios, mas por mecanismos que de modo oculto desempenham a sua função. Refiro, em particular, os conflitos internacionais, guerras civis e religiosas, etc. Embora seja cruel classificar estas situações como simplesmente “a evolução a tomar o seu rumo”, não posso ignorar as semelhanças com certos factores segundo os quais a evolução se rege.

Ao longo das últimas décadas, observa-se uma evolução económica e social dos países “pacíficos”. Países que evitaram conflitos ao longo dos últimos vinte a trinta anos têm uma facilidade muito maior em obter bons resultados a nível socioeconómico. Por outro lado, vemos países que se deparam com situações de conflito há vários anos em situação de pobreza, com atrasos científicos, com dificuldades na natalidade, com uma reduzida esperança média de vida, entre muitos outros aspectos negativos para a população. É, neste caso, uma “sobrevivência dos pacíficos”, dos que apostam na pesquisa científica e na educação, privilegiando a inteligência em detrimento da força, da violência e do fanatismo. Conclui-se que a evolução se processa nos dias de hoje, tal como sempre se processou, alterandose apenas os elementos que a regem, incluindo um leque novo de factores que, inesperada e infelizmente, se encontram envolvidos no meio destes mecanismos, tal com as crenças religiosas, a escassez de recursos, os conflitos políticos, entre outros.


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algumas das maiores atrocidades cometidas no passado?

A pena de morte Diogo Teixeira . Aluno do 10º B

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Considero a pena de morte um ato absolutamente condenável. Ninguém tem o direito de pôr termo à vida de quem quer que seja, por piores que tenham sidos os seus atos.

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istoricamente, a pena de morte servia, na maior parte das vezes, para punir crimes como assassinato, espionagem, traição e, em alguns casos, apostasia. A maior parte das pessoas olha para esta sanção como algo pertencente ao passado, mas não é assim. Efetivamente, esta prática foi banida de vez, em Portugal, em 1967, que já se havia tornado na primeira nação da Europa e do Mundo a prever a abolição da pena de morte, em 1867.

Mas, e no resto do mundo? Terá esta prática, que é um verdadeiro atentado à dignidade humana, sido abolida por todos os estados? Terão todas as nações, e respetivos líderes, tido a coragem de acabar com algo que, para além de revelar o lado mais frio e cruel da raça humana, traz à memória

Apesar de ter sido banida por uma grande maioria dos países a nível mundial, a pena de morte continua a ser praticada em países do Médio Oriente e, por exemplo, países como a China, Brasil e até mesmo EUA!

Perante tais factos, sou obrigado a concluir que há aspetos nos quais a Humanidade e, em concreto, algumas sociedades pouco evoluíram. Acho perfeitamente inadmissível que em pleno século XXI, enquanto somos diariamente surpreendidos por descobertas espantosas em campos como os da saúde e da ciência, ainda haja nações a condenar cidadãos seus à morte. Considero a pena de morte um ato absolutamente condenável. Ninguém tem o direito de pôr termo à vida de quem quer que seja, por piores que tenham sidos os seus atos.

Sou um defensor incontornável da dignidade humana e da sua preservação, mesmo nas situações mais extremas! A vida de uma pessoa não deve depender de questões de ideologia ou religião, ou de qualquer outra, uma vez que a dignidade humana deve ser tida em conta como o mais alto valor.

Está na hora de se bater o pé a esta prática! A sociedade actual não pode permitir que isto continue a acontecer, caso contrário o mundo governar-se-ia pelo “olho por olho, dente por dente”, podendo levar a verdadeiras carnificinas. Já não somos aqueles homens das cavernas que por qualquer coisa se espancavam e matavam… Com o tempo fomos evoluindo até ao ser que somos hoje e, com tal evolução, algumas práticas deveriam ser abolidas. Em jeito de conclusão, digo apenas que a abolição total da pena de morte, por todos os países do mundo, seria um passo crucial para o começo de um novo capítulo na História da Humanidade.


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A estrela Já não estás ao pé de mim, Mas no meu coração sim. Já não te vejo, Mas te desejo. Sinto a tua falta. Porque partiste assim? Senti e sinto a tua perda, Mas uma coisa ficou comigo, Amor e carinho E com isso prossigo Não deste tempo para uma despedida E deixaste-me perdida, Traçaste-me um caminho quando te tornaste numa estrela Estrela essa que é o meu guia. É por ti que chamo em horas de tensão, Pois estás lá, no meu coração. Quando sinto saudade, Mostras-me que não durará uma eternidade, Quando me cai uma lágrima, Mostras-me que estou numa lástima. Porque estás bem E porque não és apenas alguém, És aquela pessoa querida, Aquela que Deus tem! Soraia Pereira . Aluna do 12º C

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Ajustar o justo Luísa Monteiro . Aluna do 12º B

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Justiça significa respeito pela igualdade de todos os cidadãos. É o princípio básico que tem como objetivomanter a ordem social através da preservação dos direitos na sua forma legal.

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esde sempre que uma criança é ensinada a partilhar, mas será que o valor moral que lhes incutimos desde pequenos é o correto?

Aprendemos desde cedo que devemos partilhar os nossos bens materiais em partes iguais pelo número de pessoas em questão para se ser justo, mas será isto necessáriamente verdade? Claramente que é questionável, principalmente se tivermos em conta os fatores externos que, de certa forma, influenciam a situação. Consideremos o exemplo da comida. Sem consideração a fatores externos, a nossa decisão seria distribuir partes iguais do mesmo alimento a todas as pessoas. Mas, como é óbvio, não seria

justo dar certa quantidade de comida a uma pessoa que acabou de comer e dar a mesma quantidade a uma outra que não come há dias. Se falamos em comida, também o mesmo podia ser apontado noutras situações, nomeadamente na educação, na amizade, na responsabilidade, na felicidade e em outros casos tidos como essenciais a todo a ser humano. Então, porque é que há um certo desdém quando as pessoas consideram os aspectos externos? Porque é que são acusadas de insensíveis e injustas se todo o ser humano deve ter os mesmo direitos? Não teremos de avaliar, apriori, as diferentes realidades onde o ser o humano se insere? Quais as suas necessidades básicas? E quais são as suas verdadeiras prioridades? De certo, para ajustar o justo, teremos de averiguar com certa precisão factos que, embora externos, serão decisivos para que a justiça se possa realizar.


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A sede A sede, o desejo da glória, O desejo da vitória, A sofreguidão no rosto, Incessante ambição pelo triunfo, Cega, intriguista, imoral. Mas afinal de que serve? Luta-se sem olhar a meios O próximo é completamente alheio, Ausente fraternidade. Consome-se a hipocrisia, Que velozmente se apodera de tão pobre alma Porque se forte fosse, A sede não seria tanta. Memórias do passado Trazem as mais puras imagens Remotas lembranças de um cenário luminoso. Algo mudou e para pior. Mas quem culpar? Corruptos, mentirosos, detestáveis seres, Putrefacta sociedade Que não se sacia com o que tem. Bebe-se a infelicidade dos outros E é isso que alimenta. E se, na verdade, onde há amor, há vida, Questiono-me continuamente Quando chegará a morte, A morte do corpo, evidentemente, Pois a da alma não tardou em chegar. Gonçalo Trindade . Aluno do 10º C

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A Casa José Artur Matos . Professor de Artes Visuais

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“Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas” António Lobo Antunes

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ou mostrar-te A Casa, o lugar que habito, aquele quadro vermelho num hall de entrada, onde a porta está sempre fechada, e por isso parece não fazer sentido. Mostrar-te também um puzzle de imagens gastas, que o tempo se encarregou de colocar no devido lugar. Como se a casa fosse um lugar de reclusão e simultaneamente de evasão, quero apresentar-te de olhos pregados na vidraça da janela, enquanto te observo por detrás, num belo quadro de inverno. Momento 01 A casa está fria, desabitada, as gatas roçam o dorso pelos móveis, aconchegam-se na cadeira num silêncio sepulcral. A janela está semicerrada, uma réstia de sol extemporâneo atravessa a sala

e projeta a luz difusa pelo chão. As gatas rolam sobre si mesmas nas cadeiras da sala. Observo em silêncio como quem está de fora, como um ausente. O vento assobia na vidraça. Mantenhome firme. Acendo a luz e lentamente ocupo o espaço. Momento 02 Entro. Detenho-me pela enésima vez nas fotos do hall. Sempre as fotos do hall. O olhar está gasto, as fotos cada vez mais coisificadas, históricas. A casa é o lugar onde acumulamos coisas, objetos que vão construindo a história do lugar, e que igualmente se confunde com a nossa própria história. Existem sombras, projeções que se repetem dia após dia, ano após ano, garatujas que ficam nas paredes e nos móveis, testemunhos do tempo. Marcas. A casa comporta uma certa espiritualidade. Nela colocamos os nossos quadros e as nossas fotos, projetamos os nossos desejos, a forma como gostamos que nos olhem. Nas paredes já não colocamos nada, apenas os nossos livros coçados nas estantes, amarelecidos pelo tempo e pelo pó que dia após dia teima em acumular-se nas lombadas. Mesmo assim, a casa


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José Artur Matos. série “A Casa”

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é um dos lugares onde gostamos de nos deixar ficar, porque nos conforta, porque nos liberta, onde nos podemos perder, onde podemos ser quase tudo e quase nada, onde nos deixamos ir. Tudo sem ruído, sem pecado, sem reflexo, tudo anónimo. Tudo nada. Momento 03 A casa é um espaço de identidade, é o lugar que amamos tanto, quanto podemos detestar. É o lugar da angústia, mas também do contentamento, do riso, da felicidade e, mesmo assim, também o lugar onde podemos ser infelizes. O lugar onde nos vemos anoitecer, onde olhamos o corpo nu e descobrimos as marcas do tempo. É sobretudo o lugar dos grandes silêncios, dos nadas... a casa, também sou eu perdido a jogar às escondidas com a minha inteligência, ou a reafirmar velhos erros e a morrer um pouco, a não querer saber. Momento 04 A casa é o corpo que habitamos, são estes olhos que te conhecem por dentro. A casa somos nós todos os dias a esgotarmo-nos nas rotinas, a

subir e descer escadas, esquecidos dos degraus e daquele prego solto que não vamos ter tempo de arranjar. A casa, sou eu a beber tudo dos teus olhos, sou eu a roubar-te os pensamentos e a guardá-los meticulosamente em pequenos papéis dobrados, que vou colocando na gaveta da mesinha de cabeceira. Sou eu a observar-te em silêncio através da porta da sala, enquanto sorris. Momento último, ou talvez não… Hoje a casa está novamente vazia e fria. As gatas saíram para a caça (pouco provável), o vento sopra forte, e a chuva cai com intensidade. Está frio no jardim, as folhas vagueiam ao sabor do vento. Vou relaxar, sentar-me no sofá. Não vou pensar em nada, vou deixar que anoiteça e a depressão conquiste os cantos à casa. E depois, vou dormir.


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O borboto nunca é poético! Porque o borboto nunca é poético! O borboto nunca é visto como necessário É indesejável, feio, rude… O borboto relembra-nos que o tempo nunca para Que o uso tem sequelas Que o branco às vezes é bege Que o liso não é natural Que nada é sempre novo, sempre perfeito… O borboto é cruel, Surge dando-nos ordens… Uma máquina para encontrar, Novas pilhas para comprar, Tempo para o erradicar… Mas ele não desaparece… Ausenta-se, Esconde-se por mais uns meses… E depois volta, Cobre-nos de vergonha, de irritação, De vontade de acabar com tudo… Ri-se de nós, Do tempo desperdiçado, Do trabalho em vão… E feitos tolos, Humanos rotineiros Voltamos a fazer o mesmo… Ana Meireles . Aluna do 12º D


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A minha Pátria Mísia Reima . Convidada

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Qualquer exilado faz do sonho, da alegria e da vontade de regressar às origens causas justas e imperativas para se manifestar laborioso no sucesso desse objectivo.

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Tal como todos os exilados, que não pertencem à pátria que os acolhe, também nós não pertencemos à pátria dos corpos e do mundo onde eles se movimentam. Não significa, todavia, que permitamos tomar conta deles a inércia e a lassidão. Qualquer exilado faz do sonho, da alegria e da vontade de regressar às origens causas justas e imperativas para se manifestar laborioso no sucesso desse objectivo.

Leszek Bujnowski

stou aqui de passagem. Alguns conhecem-me para além do visível, outros sabem de mim apenas o meu exílio, que é o corpo ou figura que alberga a minha alma. Do corpo cuido apenas o suficiente e o necessário para poder permanecer condignamente nesta sala de espera o tempo que me é facultado. Nele estou emprestada, o corpo não é meu, a alma é que é minha.

A passagem pelo exílio é uma prova de resistência e fidelidade, que nos torna ou não merecedores da verdadeira e única Pátria: “ e depois deste desterro nos mostrai Jesus...”


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A força que surge Não desistiu. Apenas deixou de querer ser dominado pela razão . Ser dominado e doméstico não traz o profundo selvagem que reside nele e que o transforma, que lhe diz para ir no precipício e no fundo do mar sem voltar a ser o pescador de sonhos e existir em homem bruto que é, que nasce das rochas e sê animal, que mais tarde ruge no céu infinito onde as estrelas, não são mais lugares pra amar mas sim pontos que lhe iluminam o caminho na metamorfose de si sem questionar a força que irrompe na noite sombria e gelada ´ e que o aproxima tao ingenuamente desses pontinhos brilhantes Outrora quentes. Maria Carlos . Convidada


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Bullying Serenela Fernandes . Aluna do 12º D

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Bullying as consequências afetam todas, mas a vítima, principalmente, é a mais prejudicada, pois poderá sofrer os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte da sua vida.

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ullying consiste em dirigir a alguém,sem motivação evidente, comportamentos intencionais e repetidos, que infligem intencionalmente prejuízos ou desconforto, através de agressões físicas ou verbais, ameaças ou violência psicológica. De facto, e infelizmente, às vezes acontecem determinadas situações de bullying na escola, nomeadamente no grupo de amigos ou até mesmo na rua ou na família. Podem distinguirse quatro tipos de bullying: Bullying verbal, bullying social, bullying físico, Cyberbullying. Há muitos casos de agressões e violências que se traduzem em brigas, ofensas, comentários maldosos, agressões físicas e psicológicas, repressão. A escola pode ser palco de todos esses comportamentos, transformando a vida escolar de muitos alunos num verdadeiro inferno.

As consequências afetam todas, mas a vítima, principalmente, é a mais prejudicada, pois poderá sofre os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte da sua vida. Desenvolve ou reforça atitudes de insegurança e dificuldade de interacção com outras pessoas, tornando-se uma pessoa apática, indefesa aos ataques externos. Muitas vezes, até mesmo na vida adulta, é foco de gozo entre colegas de trabalho ou familiares. Na minha opinião, as vítimas de bullying não se podem isolar, mas devem recorrer a alguém em quem confiem. Pode ser uma pessoa adulta ou amigo, que sabe que respeita a sua confidencialidade, pode ser um professor ou uma professora, o pai ou a mãe. Em suma, de certa maneira, este tipo de violência afeta toda a sociedade, seja como agressor, seja como vítima, ou até como assistente. São situações que marcam e deixam cicatrizes para toda a vida.


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Minha Inspiração Na luz do teu olhar, tenho a minha inspiração. Como a lua comanda o mar, tu comandas o meu coração. Quando olhava para o horizonte, via a nossa união. Sei que é como uma ponte, que sem pilares cai ao chão. Deito-me a olhar para o luar, pedindo um desejo à estrela polar, que me realizasse o que estou a pensar, que era acordar, e sentir o teu beijar. Gerson Guedes .

Aluno do 12º B


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Casos de Vida ou Morte? Tiago Alves . Aluno do 10º F

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A eutanásia enquanto decisão própria, autónoma e consciente é um ato de liberdade.

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existência dos seres humanos passa por dois estados completamente opostos e naturais. Aquilo que separa esses dois estados, a vida e a morte, é no entanto algo de muito complexo, questionável e, por vezes, incompreensível. Esta situação torna-se ainda mais difícil quando alguém pretende acabar com a sua própria vida, de forma consciente e firme. Deste modo, estamos face ao fenómeno da eutanásia. Coloca-se desta forma a questão do direito à morte, em vez de uma vida sem dignidade. A prática da eutanásia é, ainda assim, muito controversa: por um lado acreditase que a vida humana é sagrada, por outro lado defende-se que a morte é a única salvação. Refletindo sobre a prática da eutanásia, consideramos que a morte pode ser um direito daqueles que vivem num sofrimento constante, prolongado e insuportável. É um modo de fugir ao sofrimento aquando da falta de qualidade de vida e em fase terminal, e pode representar uma morte mais digna e menos dolorosa. A eutanásia enquanto decisão própria, autónoma e consciente é um ato de liberdade. Quem pode garantir que nunca irá querer exercer essa liberdade? Quem

poderá impedir um ser humano de querer acabar com o seu sofrimento? Estas questões tornam-se mais claras quando conhecemos exemplos reais, como os que foram retratados no filme Mar Adentro, sobre o caso de Ramon Sampedro, tetraplégico durante cerca de 30 anos, completamente dependente de outras pessoas, e que decidiu um dia lutar pela sua morte. Nesta situação, contra tudo e contra todos, ele consegue atingir a sua meta, apoiado por alguém que respeitou o seu desejo. Também neste filme encontramos opiniões contrárias, baseadas na crença religiosa de que Deus dá a vida ao homem e só ele lha pode tirar ou na prática médica que apenas quer salvar vidas e nunca decidir a morte. Considerando a vida como um bem sagrado, entende-se facilmente a ideia desta ser intocável e inquestionável e de que enquanto houver vida há razões para viver. Quanto aos médicos, formados para salvar vidas, podemos perceber que estes se sintam impedidos de participar num ato anti-vida. Apesar de esta prática ser ilegal no nosso país, sendo equiparada ao suicídio/homicídio, houve já muitas situações em que esta questão se colocou, apoiada por uns e contestada por outros. De uma forma mais ou menos ortodoxa, acreditamos que as posições foram tomadas em defesa da dignidade da pessoa humana. Restanos acreditar também que o ser humano vai um dia encontrar a solução para este dilema.


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Os caminhos do humano Manuel Ferreira . Professor de Filosofia

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Se se pretende afirmar os caminhos do humano, a opção passa por criar janelas de comunicação, por levar os homens a problematizarem o seu estado existencial e a comprometerem-se com uma acção transformadora e de mudança da estrutura social.

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A ocorrência destas situações, porém, não tem esmorecido a luta de muitos protagonistas sociais, notáveis e anónimos, que continuam a empenhar-se numa sociedade dos direitos humanos. Todavia, são também muitos os que defendem e estimulam valores contrários assentes no egoísmo, no materialismo, no abandono, no sofrimento, nos interesses e gostos meramente particulares.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Arame_farpado

m pleno século XXI, tem-se assistido a muitos fenómenos que configuram atentados à dignidade humana e ao que é entendido como sendo os direitos fundamentais de cada pessoa: a liberdade, a autonomia, o respeito, a solidariedade, a justiça, entre outros.


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http://somostodosum.ig.com.br/

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À expansão desta espécie de iliteracia social não tem sido alheio o crescimento do pensamento único ou a hegemonia do poder e da ideologia neoliberal.O seu receituário tem sido aplicado não só a nível das instituições políticas, económicas e sociais, mas também, de um modo mais ou tão perigoso, no campo da educação. Hoje, as escolas e todos os seus intervenientes são confrontados com vicissitudes que são provocadas por políticas educativas desenraizadas de um sentido existencial. O sistema educativo é dominado por ideias e práticas demasiado intelectualistas e tecnocráticas, desligadas da vida, isoladas dos problemas reais. Hoje, é o humanismo tecnológico que domina toda a educação. Esta tornou-se o admirável mundo novo da ciência e da técnica, eliminando a experiência das relações interpessoais, os ideais e as utopias. O pensamento e o conhecimento estão a ser fornecidos como elementos estranhos, formais e vazios, longe do plano da reflexão e da acção, assim como das situações e do homem concreto. Tendo isto em conta, todos aqueles que pretendem continuar este compromisso com a humanização do homem devem voltar a imergir o pensamento e o conhecimento no mundo e fazer do processo pedagógico e educativo um elemento direto da experiência existencial.

Para afirmar o homem como pessoa, é necessário devolver-lhe a consciência crítica. É importante que, através do diálogo e da relação com o outro, o homem tome conhecimento das opções que tem e dos compromissos que pode manter.Desta forma, o homem terá mais possibilidades de responder aos desafios criados pelas instituições políticas, sociais, culturais, económicas e educacionais. Por isso, se se pretende afirmar os caminhos do humano, a opção passa por criar janelas de comunicação, por levar os homens a problematizarem o seu estado existencial e a comprometerem-se com uma acção transformadora e de mudança da estrutura social. É essencial ampliar e ganhar apoiantes para estas formas de pensar, de ser, de sentir e de se comportar, deixando a lamúria, a passividade, a adaptação fatalista e resignada. A realidade e os outros levantam-nos desafios, expõem-nos aos perigos de uma diversidade de vontades, de pretensões, de desejos e de valores que inevitavelmente nos obrigarão a decidir, a optar e a assumir posições. É assim que temos de proceder se são os caminhos do humano que queremos que dominem e norteiem a sociedade humana e os seus diferentes ramos de actividade.


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Educação Sexual Uma visão integral de educação Carlota Martins . Professora de Biologia

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A Sexualidade deve conceberse como qualidade de todo o ser humano e que, por esta razão, é parte integrante das relações que este estabelece consigo mesmo e com os outros.

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O ser humano deve ser encarado como um todo, e nesta visão integral a Educação para a Sexualidade tem de ser vista como uma fração fundamental do crescimento da pessoa, tendo em vista o seu desenvolvimento e felicidade plenos. No entanto, existe muita apreensão em torno da Educação Sexual, fruto da conceção

http://www.sodahead.com/

unânime que a Educação Sexual é, atualmente, encarada como uma prioridade e um direito dos alunos. Embora a família deva constituirse como a fundação mais dominante e sólida na educação para a sexualidade das crianças e adolescentes, a sociedade atribui à Escola a responsabilidade de educar, também nesta área do desenvolvimento humano.


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http://revistaregional.com.br/

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redutora do conceito de Sexualidade, que para a maioria das pessoas se resume ao sexo e ao sistema reprodutor. É um facto que a reprodução é uma das temáticas fundamentais na Educação Sexual, contudo, presentemente, sabe-se que a sexualidade não se esgota no ato sexual, sendo, também, “(…)uma energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura e intimidade; que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual, ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações, por isso, influencia a nossa saúde física e mental”. (Organização Mundial de Saúde).

responsabilizando-se pelas escolhas feitas, pelos frutos que destas se originem e estabelecendo relações interpessoais sadias e felizes.

Partindo desta ideia, a Sexualidade deve conceberse como qualidade de todo o ser humano e que, por esta razão, é parte integrante das relações que este estabelece consigo mesmo e com os outros.

Os alunos devem ser ajudados a desenvolver a capacidade de fazer escolhas livres, responsáveis e conscientes na sua vida sexual e reprodutiva, prevenindo as situações de risco ligadas à vivência da sexualidade, nomeadamente a gravidez não desejada e precoce, a Infecção VIH, outras infecções de transmissão sexual e os abusos sexuais. Deste modo poderão vivenciar a sua Sexualidade de forma mais Informada, Saudável, Responsável e Gratificante.

A educação para a Sexualidade deve concorrer para que os jovens aprendam e sejam capazes de conduzir por inteiro o seu projecto de vida, compreendendo-se melhor, respeitandose, respeitando os outros na diversidade,

A Lei 60/2009 preconiza a implementação da Educação Sexual nos estabelecimentos de ensinos básico e secundário, mediante um programa para a promoção da saúde e da sexualidade humana. A Escola deve procurar que o tema da sexualidade seja objeto de uma intervenção pedagógica estruturada e intencional, numa perspetiva interdisciplinar, da responsabilidade de cada Conselho de Turma.


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Quantas vezes Senhor... Quantas vezes Senhor Eu te virei as costas E procurei em vão Noutros lados Tuas respostas Quantas vezes Senhor Duvidei do que não via E minha fé vacilou Enquanto o orgulho crescia Mas um dia ao acordar O Sol tocou minha face Senti no meu coração Como se uma luz despertasse Uma alegria plena Que não sentia desde criança Era então um homem novo Cheio de paz, amor e confiança Fechei os olhos e procurei De onde vinha aquela luz Ajoelhei-me e chorei Quando me sorriste na cruz Percebi finalmente Os caminhos por onde andava E tal como o filho pródigo À Tua casa, Pai, voltava Tive vergonha de entrar Estava sujo pelo pecado Abriste-me as portas Sentaste-me na mesa a Teu lado Quando por fim abri os olhos Estremeci com o desgosto Em vez de amor e alegria Vi tristeza e ódio em cada rosto

Ensina-me Senhor A tocar cada coração E eu levarei a luz A qualquer homem na escuridão Mostrar a qualquer soldado Que empunhe a sua lança Que o inimigo é irmão E a paz um sinal de esperança Em cada lar despedaçado Pelo ciúme e traição Eu levarei Senhor Teu amor e teu perdão A cada idoso cansado Que conta as horas sozinho Lavarei a confiança, O amor e o carinho Ao coração destroçado Que perdeu um ente-querido Serei eu a consolá-lo A dar-lhe o meu ombro amigo Ao sem abrigo que dorme À chuva e ao frio ao relento Levarei Tua palavra Para aquece-lo por dentro À criança que sorri Sem perceber o motivo Eu direi: “Deus está em ti, No teu coração Ele está vivo” Quando por fim à minha volta Transbordar alegria e amor Sei que reinas em cada um Como reinas em mim Senhor... Hugo Santos . Convidado


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Será que a homossexualidade é tão errada quanto parece? Luana Silva . Aluna do 10º A

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Em suma, qualquer pessoa, independentemente da sua orientação sexual, deveria possuir o direito de construir a sua vida e amar quem quiser, livremente.

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Infelizmente, o mundo em que vivemos ainda é um mundo, na sua maioria, “homofóbico”, ou seja, um mundo que tem receio de pessoas como uma orientação sexual diferente do que se acha o “normal”, e que olha essas pessoas de um modo distinto, não as vendo por aquilo que são, mas sim por aqueles que amam. Este problema é muito grave, dada a “diversidade” sexual que existe

in http://www.lgbt.pt/

e facto, apesar das muitas mudanças que o mundo tem sofrido nestes últimos anos, apesar das diferentes sociedades e respetivos valores se encontrarem numa permanente metamorfose (conforme as necessidades humanas e a realidade que rodeia o Homem), a homossexualidade ainda é tema tabu para muitos. atualmente. E como qualquer outro problema, também este exige uma solução. Muitas pessoas vivem “cegas” devido aos ensinamentos que lhes são transmitidos através dos meios de comunicação social, da religião e cultura em que estão inseridos, e limitam-se simplesmente a aceitar o que lhes é imposto,


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comportando-se em plena conformidade com a sociedade, sem terem uma opinião própria. Quando o tema abordado é a homossexualidade, se os pilares da sociedade (a cultura e a religião) a rejeitam, aquelas pessoas “cegas”, vagabundas de mente própria, aceitam a rejeição sem objeções, o que contribui para uma maior discriminação daqueles que, na verdade, nenhum crime cometeram. O ser humano tem direitos e deveres. Se o homossexual também é humano, deve ter esses mesmos direitos e deveres. Qualquer indivíduo possui o direito de casar, de trabalhar, de ter o seu próprio “teto” (uma habitação) e de construir uma família com a pessoa que ama. O problema surge quando esse mesmo indivíduo assume uma sexualidade diferente da sexualidade “padrão”. Em numerosos países,este perde a liberdade que lhe seria atribuída: perde o direito de se casar com a pessoa que ama, perde o direito de construir uma família, de ter as mesmas oportunidades de trabalho, tornando-se assim num indivíduo censurado e infeliz. Um dos temas mais abordados quando se fala em homossexualidade é o casamento. Este assunto tem vindo a gerar bastante polémica, pois enquanto é aceite em alguns locais, noutros é proibido com dureza, chegando a ser condenado quem tenha intenções de se casar com alguém do mesmo sexo. O casamento é a união em que duas pessoas que se amam partilham a mesma cama, dividem as contas, prometem fidelidade e vivem sobre o mesmo teto. Ora, tudo isto também pode ser concretizado num casamento gay. Um dos argumentos utilizado contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo é que o casamento tem como seu principal objetivo a procriação, e pessoas do mesmo sexo não conseguem procriar. Mas, utilizando essa maneira de pensar, será que as pessoas inférteis também teriam o direito de

se casar? Outro argumento utilizado contra as pessoas com esta orientação defende que o ambiente que um casamento homossexual proporciona não é o melhor para uma criança crescer. Mas o que querem dizer com essa afirmação? Uma criança pode crescer com pais criminosos, violadores, assassinos e negligentes, desde que ambos sejam um homem e uma mulher? É permitido as crianças viverem em ambientes nos quais o amor é inexistente e os maltratos são constantes, mas é proibido crescer num “lar” com duas pessoas do mesmo sexo? Tem que se ter em conta, nestes casos, que as crianças são a prioridade. O número de crianças à espera de serem adotadas é enorme e estas desejam apenas alguém que cuide delas e que as ame, que as façam pertencer a uma verdadeira família, mesmo que essa família não seja a família mais “tradicional”. Além disso, também é utilizado outro forte argumento contra os casais do mesmo sexo. O fato de esse tipo de amor não ser aceite pela Bíblia, e, consecutivamente, pela Igreja. Mas isso também não faz muito sentido. Sempre proclamaram que Deus e Jesus amam todos, mesmo os mais pecadores. Se Eles amam todos e se os homossexuais fazem parte desses “todos”, então deduz-se que Deus e Jesus também os amam, ou seja, estes não deveriam ser discriminados de modo algum pela Igreja.Para além disso, a Bíblia também defende o sacrifício de animais e familiares, atos estes considerados “imorais” pela sociedade, mas dos quais raramente se ouve falar. Em suma, qualquer pessoa, independentemente da sua orientação sexual, deveria possuir o direito de construir a sua vida e amar quem quiser, livremente. Devemos promover a igualdade entre os seres humanos e acabar com a discriminação, pois nós não somos ninguém para julgar ou discriminar. A homossexualidade não se trata de uma doença, mas sim a homofobia.


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O medo Medo é fraquejar, É ter receio, terror Do que nos possa acontecer, Do que queremos expressar. É um perigoso sentimento Que é difícil de combater. Que nos faz duvidar E nos faz refletir. O medo, somos nós que o criámos E que é difícil largar… É como uma droga Que entra e não sai! O medo que devemos enfrentar… O medo que devemos superar… Mas que fala mais alto Que tudo na vida. O medo de algum dia Estar entre a vida e a morte. O medo que há nas pessoas De uma simples palavra… O MEDO! Nicole Vieira . Aluna do 10º C

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Homem em construção

A evolução do homem como espécie e como ser Raquel Babo . Aluna do 12º E

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Sendo assim, foi graças à lentidão no desenvolvimento humano durante a filogénese que o ser humano alcançou a complexidade neuronal e capacidades específicas, relacionados com o cérebro neomamífero.

A

teoria evolucionista apresenta o Homem como o resultado de um prolongado processo construtivo.

Ao recuar cerca de quatro milhões de anos, encontramos o berço da humanidade em África, com os primeiros hominídeos, pertencentes ao grupo dos Australopitecos (crânio com 500cm3 de volume). Os seus sucessores, Homo Habilis (volume do crânio de 800cm3), já mostravam sinais de uma das principais características que distinguem o Homem dos restantes animais, isto é, a sua criatividade e capacidade de invenção, ao terem criado as primeiras ferramentas. O Homo Erectus (volume do crânio de 1100 cm3), conhecido pelo uso do fogo já pode ser encontrado fora do continente africano, existindo vestígios da sua presença na Ásia e

Europa. O Homo Sapiens (volume do crânio de 1500cm3-volume do crânio moderno) surgiu há, aproximadamente, 200 mil anos e corresponde à atual espécie humana, tendo tido a capacidade de se espalhar rapidamente por várias regiões, criar instrumentos de pedra, osso e marfim, desenvolver a linguagem, pintura e escultura. Deste modo, até à atualidade o Homem passou por diversas alterações anatómicas, entre elas o aumento da capacidade encefálica que permitiu o aumento da inteligência. Assim, é importante destacar o papel do cérebro no processo evolutivo humano. Paul MacLean defende que o cérebro reflete os estádios por que passou durante o processo de filogénese (tese triúnica do cérebro).Segundo esta tese, o Homem apresenta três cérebros num só. O cérebro reptiliano é o cérebro mais antigo, característico dos répteis e constituído pelo tronco cerebral, tornando-se útil na coordenação das funções biológicas básicas e ligadas à sobrevivência, concretizadas sem intervenção do pensamento. A estrutura característica dos mamíferos inferiores denomina-se cérebro paleomamífero, constituída pelo sistema límbico (hipotálamo,


ensar(es) amígdala e hipocampo) que permite uma organização difusa e não consciente de dados relativos à memória, sentimento e emoção. Por último, o cérebro neomamíferoé característico do córtex cerebral dos mamíferos superiores, com a consequente capacidade de aprendizagem e funções especificamente humanas: raciocínio, criatividade, imaginação, consciência, simbolismo e linguagem. A cada um destes cérebros correspondem capacidades que vão do menos complexo, mais primitivo e instintivo para o mais complexo e elaborado. Ao tronco cerebral correspondem as características mais primitivas do comportamento, associadas ao cérebro reptiliano enquanto que se córtex assumir a dianteira, o comportamento é ditado pela consciência, inteligência e criatividade. Independentemente da aceitação da tese triúnica, o cérebro, apesar de possuir diferentes áreas, é constituído por uma rede microscópica de neurónios, coordenados e especializados. Toda a complexidade da atividade nervosa resulta da lentificação dos processos de aprendizagem do ser humano, isto é, ao contrário das outras espécies, o Homem é um ser inacabado que depende da aprendizagem para a sua contínua evolução a nível da filogénese (evolução do ser humano enquanto espécie) e ontogénese (evolução do ser humano enquanto individuo). Sendo assim, foi graças à lentidão no desenvolvimento humano durante a filogénese que o ser humano alcançou a complexidade neuronal e capacidades específicas, relacionados com o cérebro neomamífero. Ao nascer sem autonomia para enfrentar o meio, o Homem tem a oportunidade de realizar aquisições e aprendizagens que lhe permitem escapar à padronização, isto é, devido ao inacabamento biológico, cada ser humano tornase num ser autónomo e único pois, além da genética, sofremos influência epigenética e graças à plasticidade cerebral (alterações fisiológicas dos neurónios, resultantes da aprendizagem e

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memória), cada cérebro é único, cada ser humano é único. Por exemplo, se separássemos dois gémeos homozigóticos à nascença e um deles fosse criado no seio de uma família estável, com uma boa alimentação e educação e outro vivesse sempre num local fechado, sem contacto com outros seres humanos, o seu desenvolvimento seria completamente diferente e o segundo nem seria capaz de falar ou escrever, devido à falta de estimulação das áreas cerebrais responsáveis por essas capacidades. Assim, é possível verificar que o cérebro humano funciona como um músculo na medida em que ao ser estimulado, ocorre o maior desenvolvimento de dendrites, conduzindo a uma maior facilidade da transmissão de informações e consequente maior possibilidade de aprendizagem. Logo, ao contrário do que acontece com outras espécies, o programa genético humano possibilita a variação individual (individuação). Desta forma, cada pessoa desenvolve mais determinadas áreas cerebrais consoante as suas aptidões e experiências. Concluindo, a lentificação, complexificação, individuação e plasticidade tornam o ser humano num ser único com características únicas como a originalidade, racionalidade, criatividade, linguagem, entre outras.

Bibliografia e Webgrafia ABRUNHOSA, Maria Antónia, LEITÃO, Miguel, Psicologia B,1º volume, 1ªedição, Porto, Edições ASA, 2012 Evolução Humana. Disponível em http://www.sohistoria.com.br/ Acedido a 23 de jan de 2014 Inacabamento humano. Disponível em http://12bnolimite.blogspot.pt/ Acedido a 24 de jan de 2014 Evolução Humana e aspetos socioculturais. Disponível em http://www2. assis.unesp.br/ Acedido a 28 de jan de 2014 O Cérebro “Triunico” de Maclean. Disponível em http://ensinar-te.blogs. sapo.pt/ Acedido a 28 de jan de 2014 Lentificação do Desenvolvimento Cerebral. Disponível em http:// paulohorta-psicb.webnode.pt/ Acedido a 29 de jan de 2014 Plasticidade Cerebral. Disponível em http://psicologiaxxi.blogs.sapo.pt/ Acedido a 29 de jan de 2014


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O menino de peixes verdes no olhar Conceição Dias . Professora de Inglês

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Não é justo este confronto. A folha em branco não se compadece do meu desalinho mental, da minha vontade de chorar, vá-se lá saber porquê, da minha tristeza, desta inesgotável melancolia que se alojou em mim e impera sobre os meus sentidos.

N

ão sei sobre o que escreva. O tema é livre, sem condicionalismos ou restrição de palavras e eu olho a folha em branco, de caneta na mão e não sei sobre o que hei-de escrever. Isto, no mínimo, é irónico. Mas é facto… e as palavras fogem-me, os sentimentos confundem-se, as emoções atropelam-se e eu, aqui sentada, no silêncio da noite e da casa adormecida, após um dia de labuta e alguns dissabores, diga-se, olho a folha em branco, a bendita folha em branco que parece troçar de mim, da minha inércia,da minha apatia, do meu alheamento… É isso, hoje o alheamento toma conta de mim e a folha em branco parece intuir isso mesmo e prepara-se para cantar vitória, confiante na minha total falta de engenho, completamente

desacreditada do meu suposto “talento” para a prosa, consciente do meu vazio intelectual… Há dias assim, como diria a minha mãe, há dias assim. Acredito que deve, efetivamente, haver dias assim, em que nos sentimos “down”, em que apetece desistir de tudo, em que apetece aceitar a inevitabilidade da vida porque dói menos, porque é mais fácil, menos evasivo, quiçá. Nestes dias assim apraz-me pensar que não depende de mim alterar o rumo dos acontecimentos, que não está nas minha mãos fazer diferente, que não fui eu que errei, que erro, que não fui suficientemente astuta e visionária para perspetivar o inevitável…. Gosto de acreditar que existe um ser superior, uma entidade divina que traça um destino, um fado (bem ao gosto


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http://claudiadu.wordpress.com/

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fatalista dos portugueses) e que age por conta própria independentemente da minha vontade, do meu querer. Bem, eu sei que não é assim, lá bem no fundo sei que não é assim por mais que me conforte esta ideia que me iliba de toda e qualquer responsabilidade sobre os mandos e desmandos da vida, sobre as pessoas que por mim passam e que comigo convivem, sobre as pessoas que amo e que por vezes me magoam ainda que inadvertidamente, acredito que sim, ainda que por imaturidade ou simplesmente rebeldia. A folha em branco já não está em branco e agora lança-me um desafio: quer saber mais de mim, quer saber se vou ou não divagar sobre qualquer assunto, quer saber quem ganha esta luta desigual, se eu, se ela, nos tais dias assim. Não é justo este confronto. A folha em branco não se compadece do meu desalinho mental, da minha vontade de chorar, vá-se lá saber porquê, da minha tristeza, desta inesgotável melancolia que se alojou em mim e impera sobre os meus sentidos. Sinto não ter grande controlo sobre esta folha em branco mas, menos mal, já não a sinto como uma déspota branca; agora começo a perspetiva-la de outra forma, e ela emerge como uma aliada, como um escape a este dia cinzento e

sombrio que, certamente ocorre, agora e logo, na vida de todos nós, humildes e finitos transeuntes na longa estrada da vida…. Chegaste, meu menino de olhos verdes, chegaste e eu olho no fundo dos teus olhos verdes que por breves momentos me parecem peixes, pequenos peixinhos verdes no fundo do aquário do teu olhar. São verdes esses teus olhos cor do mar. São lindos e cheios de fulgor, de pressa para descobrir o mundo como se o tempo oferecido não chegasse para tal e fugisse entre as palmas das tuas mãos… Chegaste, meu menino de olhos verdes, chegaste do profundo silêncio da noite e deste um basta neste meu dia nublado. A folha em branco, já não está em branco, ela fala de mim, nos tais dias assim e dos teus maravilhosos olhos verdes. A folha em branco, agora definitivamente minha amiga, emoldura pequenos retalhos da minha vida e o brilho dos teu olhar faz-me acreditar no sábio provérbio português que diz “ Depois da tempestade vem a bonança” e tu, meu menino de peixes verdes no olhar, és toda a minha bonança. Obrigada.


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Avaliação e autonomia das escolas Manuel Mesquita . Professor de Educação Visual

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Em Portugal,o regime de autonomia, administração e gestão das escolas, originou a valorização do papel da escola no contexto da comunidade educativa e determinou a melhoria da qualidade do ensino, através do desenvolvimento.

Para que tal acontecesse e se pudesse aumentar a qualidade da ação das escolas foi necessário desenvolver mecanismos de avaliação adequados

http://feltcafe.blogspot.pt/

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resentemente, vivemos um momento educativo em que se fala muito de auto-avaliação ou de avaliação interna das escolas como somatório das informações do desempenho escolar. Este desempenho patenteia-se quer na ação educativa quer nos seus resultados, no quadro dos procedimentos avaliativos internos levados a cabo pelas escolas. A avaliação das escolas é um procedimento que foi incrementado nos países europeus. Os objetivos, o campo de ação, o processo e as suas consequências da avaliação variam entre países e vêm exibindo progresso em alguns deles.

aos estabelecimentos educativos. Esta é uma situação de dimensão europeia, como atesta a Recomendação do Parlamento Europeu e do Conselho da União Europeia sobre a Cooperação Europeia em matéria de Avaliação da Qualidade do Ensino Básico e Secundário (2001/66/CE).


ensar(es) Em Portugal, o regime de autonomia, administração e gestão das escolas, originou a valorização do papel da escola no contexto da comunidade educativa e determinou a melhoria da qualidade do ensino, através do desenvolvimento de projetos educativos, instituídos a instrumento central da vida escolar. No entanto, a avaliação das escolas traduziu-se desde os anos 90 em tentativas isoladas e inconsequentes, mesmo após a publicação da lei de avaliação da educação e do ensino não superior, em 2002. Teoricamente, o processo de avaliação terá como objetivo uma evolução e correção permanente das dinâmicas escolares, para que essa situação se verifique, terá que estar sempre associada a uma regulação tanto das atividades protagonizadas pela escola, como da execução das orientações superiores. Apesar dos benefícios que a avaliação das escolas possa proporcionar, sobretudo, com a efetivação da autonomia e das alterações positivas que ocasiona, assim como o de fomentar a competição através de um ranking classificativo, talvez seja de questionar se a avaliação não será um instrumento por parte do Ministério da Educação para uniformizar as escolas. Nesta lógica, os domínios a serem observados para a avaliação externa por parte da IGE comum a todas as escolas são: resultados; prestação do serviço educativo; organização e gestão escolar; liderança; capacidade de auto-regulação e progresso da escola. Estava prevista a sua aplicação para todas as escolas e todas elas tendem a generalizar e a

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uniformizar as respostas perante a avaliação a que estão sujeitas sob pena de receberem uma classificação inferior. Se encararmos a avaliação das escolas como um meio de auto-diagnóstico e correção dos pontos fracos, poderemos afirmar que é salutar para o seu bom funcionamento. Quanto à questão de se tornar autónoma, esta será sempre acessória, relativa e controlada pelo ME. Relativa porque só acontece em situações acessórias do foro administrativo como gerir o crédito horário disponível para o exercício de cargos de gestão intermédia, criar e desenvolver projetos, nalgumas circunstâncias contratar professores e outras iniciativas menores. Será sempre controlada pelo Estado na medida em que normas, as orientações e os exames, outra forma de regulação, serão sempre numa lógica nacional e de natureza centralista e uniformizadora. Para finalizar, considero que a regulação será a responsável pelo controlo da autonomia. Poder-se-á considerar como o instrumento que vai obrigar as escolas a manterem uma atividade uniforme de acordo com as disposições centralizadoras a que estão obrigadas por parte do contrato de autonomia. Pode-se afirmar que, desde a evolução ao tipo de conceito de avaliação que era protagonizada pelo Estado num controlo a todo o sistema de ensino, surge um sistema misto de regulação vertical de controlo por parte do Ministério da Educação com uma regulação horizontal promovida pelas escolas.


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O próximo terramoto Elisa Guichard . Professora de Geografia

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Quando, num futuro mais ou menos distante, o próximo terramoto se fizer sentir, a História procurará o responsável pelas perdas humanas que se verificarão. Encontrá-lo-á na primavera de 2014

http://caminhospelabaixalisboeta.blogspot.pt/

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acontecimento geológico que ocorreu em Lisboa, na manhã do dia 1 de novembro do ano de 1755, fez emergir algumas características que viriam a revelar um grande estadista na pessoa do Marquês do Pombal, que pensava no presente, com visão de futuro. Personalidade controversa, este Ministro do Rei D. José I não perdeu tempo e instruiu, logo após o terramoto, a edificação de uma cidade “nova”, com um plano que constituía uma das mais ousadas propostas urbanísticas da época. Seguindo um modelo iluminista, a capital do reino delinear-se-ia segundo uma planta ortogonal, em que ruas e avenidas seriam largas, retilíneas e paralelas, intercetando-se perpendicularmente, para permitirem e facilitarem a circulação de meios


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de transporte de grandes dimensões; os edifícios destacar-se-iam por uma tipologia própria, construídos para resistir aos abalos sísmicos e seriam dotados de infraestruturas de saneamento. Foi a primeira vez, a nível mundial, que os edifícios apresentaram proteção antissísmica. A crise económica que resultou do terramoto de 1755 não travou a vontade de construção segura por parte do Marquês de Pombal. A Baixa Pombalina hierarquizava-se em torno de duas Praças, o Rossio e a Praça do Comércio. O Passeio Público, zona de recreio da burguesia, prolongava a cidade para norte. Nesta época, a cidade de Lisboa já era a maior do reino mas, pelos parâmetros atuais, era uma pequena cidade. Seria para norte, na direção que o Passeio Público indicava, que a cidade iria crescer. A atração que Lisboa exercia sobre a província originou um movimento de êxodo rural em crescendo, que foi responsável por sucessivos saltos urbanísticos. Lisboa e arredores expandiram-se e, apesar da mão dos arquitetos que entretanto tomaram a seu cargo, aqui e ali, o traçado de vias, bairros e edifícios, o centro da cidade despovoou-se, à custa da periferia que oferecia terrenos amplos e mais baratos, menos tráfego, poluição e a sensação de se viver na cidade, sem se estar na cidade. O caos

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urbanístico instalou-se, fruto da ganância e da incúria do poder autárquico, que tudo permitia. Tentando moralizar a construção e a reconstrução e minimizar as perdas humanas, a Assembleia da República, em uníssono, aprovou em 2006, uma resolução que recomendava a utilização de técnicas antissísmicas nos edifícios existentes ou a construir, em áreas de fraqueza geológica. Entretanto, a presente crise económica foi a desculpa para a eliminação dessa preocupação numa lei que pretende agilizar e dinamizar a reabilitação urbana. Deduz-se que é mais importante requalificar o parque habitacional do país, do que acautelar o futuro. Os proprietários veem facilitada a sua tarefa de reconstrução de edifícios, onde outros viverão e/ou trabalharão. Quando, num futuro mais ou menos distante, o próximo terramoto se fizer sentir, a História procurará o responsável pelas perdas humanas que se verificarão. Encontrá-lo-á na primavera de 2014.


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Participar/ Cooperar/ Partilhar João Rebelo . Equipa Comenius

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O sentimento, a emoção de oferecer e receber é fundamental para a higiene mental. Somos todos carentes de emoções, por isso a novidade e a intensidade leva-nos para novos patamares.

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reio ser necessário partir de conceitos chave para informar e explicar o que nestes dois últimos anos esta equipa tem andado a fazer.

Haverá uma sequência cronológica nesta sucessão de conceitos. Apesar de serem próximos e parecidos querem significar coisas diferentes. Comecemos pela participação. Participar é saber fazer, tomar parte, isto é, jogar. No nosso caso e tendo algum conhecimento prévio destes projectos europeus lançámo-nos à aventura. Sabíamos que podíamos levar alunos a participar noutras culturas, noutras cidades, com outras gentes. Tivemos sorte, fomos aceites, tivemos financiamento e sobretudo foi-nos dados compreender, em diferentes espaços a força das

tradições. O Projectos foi as Tradições que nos Unem (Traditions Unite Us) e teve a participação de, primeiro, cinco países, depois alargado a seis (Portugal, Italia, Hungria, Polónia, Turquia e depois Grécia). Com os nossos alunos visitamos cidades que nunca tínhamos ouvido falar: Zamosc (Polónia), Százhalombatta (Hungria), Soverato (Italia), Grazientep (Turquia) e agora Trikeri eVólos (Grécia). Tal implicou cooperar com as famílias e vice-versa. Os alunos comeram refeições novas, viram programas de Tv que nunca tinham visto, em línguas diferentes, trocaram experiência com outros colegas, assistiram a aulas que nunca tinham imaginado em escolas


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Projeto Traditions Unite Us

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bem diferentes das nossas com currículos e estruturas muito afastadas das nossas. Cooperar é sobretudo trabalhar em grupo, assessorar. Isto é muito importante na profissão docente. Cada vez mais o sistema isola-nos. Atira-nos para questões e problemas pequeninos, miúdos, que em nada alargam os nossos horizontes. Ora, esta cooperação europeia dá-nos o contrário. Alarganos os horizontes. O trabalho com colegas de outras nações faz-nos operar em simultâneo, faznos pensar em colaborações desconhecidas. Finalmente partilhar é ver com “os olhos do coração”, isto é, é repartir, compartilhar, coabitar. Ver o por do sol no Danúbio, sentarse numa esplanada em Grazientep, ouvir o mar em Soverato, dançar com os gregos, etc, são vivências que apesar de únicas fazem estremecer. O sentimento, a emoção de oferecer e receber é fundamental para a higiene mental. Somos todos carentes de emoções, por isso a novidade e a intensidade leva-nos para novos patamares. Esta cooperação levou-nos a ser mais ambiciosos, naturalmente. Daqui partimos para uma série de projectos que passam pelo voluntariado, pelo empreendedorismo e pela competição, tão

fundamentais nos dias de profunda crise como a que vivemos. Por isso envolvemos os nossos alunos e temos tido uma invejável aceitação. São eles que motivados nos motivam. Assim foi no concurso Euro-escola que nos levou a Estrasburgo. Depois de uma ida confusa e difícil à capital, eles acabaram por ganhar uma participação / competição com mais 24 países. Colaboram em pequenos grupos multilingues e ouviram e sentiram coisas que nunca tinham imaginado. O mesmo se passou com o encontro em Mação (Abrantes) onde no âmbito do Parlamento dos Jovens puderam trocar experiências com colegas Belgas e Holandeses. É tudo isto que nos faz continuar, agora em novas parcerias chamadas Erasmus +. A equipa vai ser alargada, teremos novos alunos, novas dinâmicas. Mas sobretudo restará o eco do que já fizemos, do que os alunos já fizeram, numa época tão difícil e problemática com esta, também numa cidade tão afastada dos jogos e benefícios do poder, num país tão singular e tão esquecido….


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Vida, valores e … Sociedade Catarina Meneses . Aluna do 10º A

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Estamos a ser civilizados quando, perante tanta guerra, ninguém consegue chegar a um acordo e acabar com as mortes de inocentes?

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ão escrevi este texto por mera obrigação, simplesmente dei por mim a pensar que estaria na altura de redigir o tão pedido texto acerca do qual o professor de filosofia tanto falava. Para escrever algo que realmente queira transmitir à sociedade, não basta ter imaginação ou criatividade, é preciso refletir sobre um assunto e ser coerente quando o fazemos e, depois, tentar transmiti-lo para uma folha de papel. Muitas vezes, preferimos fechar-nos no nosso quarto, guardar as nossas ideias à espera do momento certo para as mostrar ao mundo, só que optamos pela companhia do telemóvel e dos auriculares, talvez por medo à solidão ou, então, para fugirmos dos pensamentos que, muitas vezes, nos atormentam. Eassim acabamos por não refletir, passando a ver o mundo como os

outros querem que o vejamos e perdendo a nossa opinião. Decidi pôr de lado o telemóvel e o computador, para não me deixar influenciar por frases feitas. Peguei numa simples folha de papel e num lápis e deixei fluir todos os meus pensamentos, escrevendo apenas o que sentia e a minha forma de ver o mundo. Afinal quem somos nós? O que é a vida e a morte? Será que não passamos de seres insignificantes, num universo imenso, com sede de saber mais e sempre à procura de respostas para todos os problemas, chegando a tantas teorias que só mostram o quanto é grande a nossa ignorância? A humanidade evolui com o contraste dos modelos religiosos e científicos, no entanto, nem a religião nem a ciência conseguem explicar por completo a génese de tudo. Olhamo-nos todos os dias ao espelho, para ver como somos, mas quem é que se olha ao espelho para tentar ver quem realmente é? Devíamos interrogar-nos sobre a vida, qual o motivo de viver e sobre o nosso verdadeiro “eu”. Existimos para sobreviver ou vivemos com o objetivo de


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http://vida-sem-rumo.blogspot.pt/

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todos os dias dar o nosso melhor e receber algo despois da morte? A verdade é que muitos continuam a idealizar o mundo perfeito, mas como pode isso ser concretizável se vivemos numa sociedade hipócrita em que “todos”dizem o que deve ser feito, mas agem como gente fútil não como pessoas e cidadãos de um mundo “civilizado”? Sim, escrevo com aspas, pois escrever sem ambiguidade é difícil, devido a conceitos estereotipados cada um de nós está constantemente sujeito a criticas da sociedade e, assim,a que os outros definam a nossa personalidade, mesmo que nem sempre seja a definição mais acertada. Podemos dizer que vivemos numa sociedade civilizada, mas, muitas vezes, estamos simplesmente a iludir-nos; crescemos com a certeza de sermos seres dotados de inteligência e sentimentos, no entanto, nem sempre agimos com inteligência e muito menos com um sentimento mútuo. Posso não ter a sabedoria de uma vida, mas tenho certamente a opinião de uma cidadã. Será que estamos a ser civilizados quando dizemos que todo o Ser Humano tem direito à vida e, mesmo assim, é permitido o aborto?

Estamos a ser civilizados quando, perante tanta guerra, ninguém consegue chegar a um acordo e acabar com as mortes de inocentes? As pessoas preferem viver no seu comodismo e preocuparem-se com o seu bem-estar, mesmo que o seu bem seja o mal dos outros. Infelizmente, a sociedade é assim. Se cada pessoa não pensasse em ser “ a melhor”, mas sim melhorar a cada dia que passa, o ser humano deixaria de ansiar tanto o futuro para viver mais o presente e olhar para o passado sem arrependimento. Muitos de nós vivem como se nunca fossem morrer, mas a verdade é que morrem, morrem como se nunca tivessem vivido. Por isso, devemos viver com dignidade para morrer com dignidade. O melhor a fazer é cumprir com os nossos deveres como cidadãos, para que sejamos sempre, de alguma maneira, recompensados por assim sermos. A vida dá-nos oportunidades para melhorarmos as nossas atitudes e são essas oportunidades que devemos aproveitar.


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Ser ou Não Ser? Inês Mesquita . Aluna do 11º B

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Porque é que gostamos tanto de ferir? Porque é que gostamos de espezinhar? Porque é que a agonia alheia nos satisfaz tanto? Porque é que a nossa espécie se sente tão confortável no meio de uma imensidão de cadáveres? Agora, digam-me: é isto maneira de viver?

P

or vezes dou por mim a pensar no caráter efémero da suposta infinidade que é a existência humana, e o quão sortudos e infelizes somos por termos a oportunidade de a viver e de a morrer. Assim como na ignorância que todos partilhamos, e na falta de “espírito vivente”. Tenho a dizer que não gosto de pessoas. Não gosto. Acho o ser humano a criaturinha mais mesquinha e repulsiva que existe, capaz das piores atrocidades, e ainda assim reclama e protesta contra as mesmas. Enfim…adoraria saber quem decidiu nomear a espécie humana como “animal racional”…obviamente um outro

homo sapiens sapiens, uma prova de que, para além de mesquinho e repulsivo, este ser é também convencido, achando-se mais do que os outros. Mas há que admitir, são assustadoramente fascinantes. Fascina-me e assusta-me o quão frágeis são, que basta o toque certo para se partirem em mil pedaços, figuras completamente destroçadas e desfiguradas. Assusta-me e fasciname no que se podem tornar em seguida: na razão que as fez estilhaçarem-se. Sem dúvida, um ser interessante, digno de um estudo psicológico profundo. Poderia escrever uma enciclopédia com todos os defeitos comuns à nossa espécie, defeitos que todo o individuo tem, mesmo que bem enterrados no seu subconsciente, acompanhados de algumas qualidades. Este contraste entre qualidades e defeitos é, sem dúvida, o constituinte mais interessante da nossa existência, levando às típicas perguntas: “Porquê?” e “Como?”. É realmente incrível como não nos contentamos em viver o ciclo da vida como qualquer outro animal: nascer, crescer, reproduzir, morrer. Tem de haver sempre algo mais, alguma substância, algo diferente, grandioso de preferência, quer seja positivo ou negativo. Infelizmente, o negativo predomina.


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http://www.tecnokronico.com/

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Mas porquê? Na minha modesta opinião, isso deve-se ao caráter desistente entranhado no nosso código genético e mais uma vez, enterrado no subconsciente. Seres humanos são seres desistentes devido à particularidade do cérebro humano de avaliar situações difíceis e considerálas impossíveis. O que não significa que o sejam, mas se são demasiado difíceis, irão implicar sofrimento, e o ser humano faz de tudo para fugir ao sofrimento e agonia. No entanto, somos seres egoístas, e esses sentimentos aos quais queremos fugir, são os nossos. Os dos outros, por vezes, até parecem bem agradáveis. Porque é que gostamos tanto de ferir? Porque é que gostamos de espezinhar? Porque é que a agonia alheia nos satisfaz tanto? Porque é que a nossa espécie se sente tão confortável no meio de uma imensidão de cadáveres? Agora, digam-me: É isto maneira de viver? Viver…perdão…”existir” em constante conflito mental entre o “bem” e o “mal” (Desejar por um Mundo pacífico, ou esperar para ver o Mundo a arder? Eis a questão), rebaixar e espezinhar outros, viver das espectativas de terceiros, tentar,

em vão, ser reconhecido por algo, quer bom, quer mau…Isso não é viver, é simplesmente existir. Viver…viver é fazer algo que nos satisfaça a nós e a outros, é viver das nossas expectativas, é estarmos felizes connosco próprios e ajudar quem não está. É fazer o que gostamos e o que nos cola um sorriso no rosto e que não prejudica nadinha, mesmo que alguém se oponha e diga que “Não!” que “Não é isso que deves fazer! É aquilo!”. É não ter vergonha, nem esconder as memórias desses momentos que tanta felicidade trazem, porque são eles que nos motivam para acordar para a realidade e a continuar em frente. E porque são únicos, e a existência é efémera. Viver, é existir por nós próprios. É ser-se “antihumano”, pois já vimos que ele não é grande exemplo. É correr com a confiança de quem voa e que nunca vai cair.


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Interculturalidade Clara Pinto . Aluna do 10º B

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Uma tentativa para lidar de forma mais eficaz com a diversidade cultural e criar condições para a convivência saudável das várias culturas é a interculturalidade.

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tese que irei defender é “A interculturalidade promove critérios que ultrapassam o etnocentrismo e o relativismo”.

A cultura é o conjunto de formas que um grupo social adota para tratar de todos os problemas que lhe são comuns, que herda e transmite às gerações seguintes. A cultura varia de sociedade para sociedade, já que nem todos os objetivos, crenças, valores e padrões de comportamentos, respeitados por uma sociedade, são reconhecidos por outras. Ao longo dos tempos, os seres humanos reagiram – e continuam a reagir – de maneiras diversas quando confrontados com culturas diferentes da sua.

O etnocentrismo é a tendência para sobrevalorizar uma dada cultura, considerando os seus padrões culturais como medida daquilo que é desejável e estimável para todos. É a visão centrada ou egocêntrica de uma dada cultura em relação a outras, avaliando-as a partir dos seus valores, princípios, comportamentos e padrões culturais. Esta incompreensão face a outras culturas pode vir a manifestar-se através da xenofobia – menosprezo pelos estrangeiros -, pelo racismo – preconceito baseado em diferenças biológicas, como a discriminação baseada na cor da pele -, e pelo patriotismo / Chauvinismo – nacionalismo exagerado.Tudo isto pode ter como consequências a guerra e o genocídio, que é a exterminação sistemática de pessoas, tendo como principal motivação as diferenças de nacionalidade, raça, religião e, principalmente, diferenças étnicas. Por outro lado, o relativismo é a atitude de respeito da diversidade cultural, que aceita cada cultura como uma forma própria de entender e relacionar-se com o mundo. Esta perspetiva cultural defende que todas as culturas estão ao mesmo nível.


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in http://www.contraocorodoscontentes.com.br/

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O relativismo leva à tolerância dos diferentes padrões culturais e comportamentos, mas também à indiferença. Devido à excessiva tolerância das diferentes culturas, muitas delas vivem de costas voltadas, sem contacto entre si, levando ao isolamento cultural, à desvalorização dos valores e à ocorrência de fenómenos de desagregação – guetos (grupos isolados). Monique Canto-Sperber defende que “não há normas universais abstratas que possam ser aplicáveis a todas as culturas, mas antes normas universais concretas, fundadas sobre valores comuns e compartilhados igualmente para todos”. A interculturalidade é uma perspetiva cultural que procura critérios que ultrapassem o etnocentrismo e o relativismo – “Il faut tout comprendre, mais pas tout accepter” (É preciso tudo compreender, mas nem tudo aceitar). Uma tentativa para lidar de forma mais eficaz com a diversidade cultural e criar condições para a convivência saudável das várias culturas é o interculturalismo. Este movimento pretende integrar na sua própria cultura outras diferentes,

propondo-se a compreender a natureza pluralista e a complexidade e riqueza da relação entre as diferentes culturas; a criar mecanismos de integração e não de exclusão de minorias culturais; a colaborar na busca de respostas aos problemas mundiais; a defender a partilha de valores e o estabelecimento de normas de convivência; a assumir a universalidade dos direitos humanos; a exigir a prevenção de conflitos e a apostar na educação para a interculturalidade. Hans Kung defende que existem dois princípios que se deveriam encontrar em todas as religiões e tradições filosóficas, que são o respeito mútuo – “o que não queremos que nos seja feito, não o façamos aos outros” – e a dignidade humana – “os seres humanos têm que ser tratados de forma humana, verdadeiramente humana”. Concluindo, o interculturalismo propõe, assim, que se aprenda a conviver num mundo pluralista e se respeite e defenda a humanidade no seu conjunto, através do diálogo intercultural, da cooperação solidária, da defesa da dignidade humana, da tolerância e da solidariedade.


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Palavra puxa palavra O teu rosto inclinado pelo vento Vento que levou o meu amor Amor que trouxe a minha paixão Paixão que encheu o meu coração Coração que se encheu de dor Dor de te querer e não te ver Ver o teu corpo inesquecível Inesquecível foi o nosso primeiro olhar Olhar que levou a minha alma Alma que ficou fascinada Fascinada pelo teu sorriso Sorriso brilhante Brilhante como as estrelas Estrelas da noite Noite que fico acordada a pensar em ti.

Joana Santos . Aluna do 10º A


ensar(es) Coordenação Professores de Filosofia Redação A. Marcos Tavares Manuel Ferreira Colaboradores / alunos Ana Almeida, Ana Araújo, Ana Fernandes, Ana Meireles, António Santos, Beatriz Fonseca, Bruno Marques, Carlota Pinto, Carolina Ferreira, Catarina Meneses, Clara Pinto, Daniela Ferreira, Diana Gomes, Diogo Teixeira, Gerson Guedes, Gonçalo Trindade, Inês Mesquita, Isabel Gonçalves, Ivo Fonseca, Joana Santos, João Couto, Luana Silva, Luísa Monteiro, Nicole Vieira, Raquel Babo, Serenela Fernandes, Soraia Pereira, Telma Rodrigues, Tiago Alves. Colaboradores / convidados Hugo Santos , Maria Carlos, Mísia Reima Colaboradores / professores A. Marcos Tavares, Carlota Martins, Conceição Dias, Elisa Guichard, Fernanda Sousa, João Rebelo, José Artur Matos, Manuel Ferreira, Manuel Mesquita. Design e paginação José Artur Matos Imagem da capa Foto de José Artur Matos com Ana Araújo, Eugénia Duarte, Luís Silva, Sérgio Almeida Impressão Tipografia Voz de Lamego Tiragem 300 exemplares

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DOURO Património Mundial da Unesco

“Douro verdejante de socalcos vinhedos, sustentam paixões de um Povo vigoroso que produz da sua terra sonhos e encantos.” António Barroso


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