pรกssaro na cabeรงa LEITURAS COLORIDAS
Ficha técnica
Título: Leituras coloridas - 3
Ilustrações: alunos das turmas 5.º B e 5.º C
Orientação: professora Isabel Ferreira Oficina de escrita da disciplina de Português
Edição: Serviço das Bibliotecas Escolares Agrupamento de Escolas Lima-de-Faria, 2016
Ilustrações a partir do texto de António Manuel Pina “Pássaros na cabeça” Com este pequeno projeto pretendeu-se que os alunos, para além da leitura dos poemas, refletissem sobre aqueles que lhes transmitiram determinadas sensações e as quiseram deixar registadas na ilustração dos mesmos.
GingĂľes e anantes
Gigões e anantes [ilustração de Joana Patarra] Gigões são anantes muito grandes. Anantes são gigões muito pequenos. Os gigões diferem dos anantes porque Uns são um bocado mais outros um bocado menos. Era uma vez um gigão tão grande Que não cabia- Em quê? - O gigão era tão grande que nem se sabia em que é que ele cabia! Mas havia um anante ainda maior que o gigão e esse nem se sabia se ele cabia ou não. Só havia uma maneira de os distinguir Era chegar ao pé dele e perguntar Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar E nunca se sabia se estavam a mentir!
Gigões e anantes Então a Ana como não podia Resolver o problema arranjou uma teoria: Xixanava com ximbimpante era o gigão, E o anante fugia que não. A teoria nunca falhava porque era toda Com palavras que só a Ana sabia. E como eram palavras de toda a confiança Só queriam dizer o que a Ana queria. Manuel António Pina, O pássaro na cabeça
O pรกssaro na cabeรงa
O pássaro na cabeça [ilustração de Dinis Cravo e Sara] Sou o pássaro que canta Dentro da tua cabeça Que canta na tua garganta Que canta onde lhe apeteça. Sou o pássaro que voa Dentro do teu coração E do de qualquer pessoa (mesmo as que julgas que não). Sou o pássaro da imaginação Que voa até na prisão E canta por tudo e por nada Mesmo com a boca fechada.
E esta é a canção sem razão Que não serve para mais nada Senão para ser cantada Quando os amigos se vão.
E ficas de novo sozinho Na solidão que começa Apenas com o passarinho Dentro da tua cabeça. Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar E nunca se sabia se estavam a mentir! Manuel António Pina, O pássaro na cabeça
A Ana quer
A Ana quer [ilustração de Margarida Oliveira] A Ana quer Nunca ter saído Da barriga da mãe Cá fora está-se bem Mas na barriga também Era divertido O coração ali à mão Os pulmões ali ao pé A ver como a mãe é De lado que não se vê.
O que a Ana mais quer ser Quando for grande e crescer É ser outra vez pequena: Não ter nada que fazer Senão ser pequena e crescer E de vez em quando nascer E voltar a desnascer.
Manuel António Pina, O pássaro na cabeça
Para cima e para baixo
Para cima e para baixo [ilustração de Margarida Anjo Cavaco] A Ana tinha um ió – ió muito bonito Que fazia tudo tudo o que ela queria Quando ela dizia “para cima” o ió – ió ia para baixo Quando ela dizia “para baixo” o ió – ió ia para cima Como gostava muito daquele ió – ió A Ana fazia de conta que não percebia Para o ió – ió ir para cima dizia “Para baixo!” Para o ió – ió ir para baixo dizia “Para cima!” E como o ió – ió gostava muito da Ana Era o ió – ió mais obediente que havia Quando ia para cima fazia de conta que ia para baixo Quando ia para baixo fazia de conta que ia para cima. Manuel António Pina, O pássaro na cabeça
A canção dos adultos
A canção dos adultos [ilustração de Filipa]
Parece que crescemos mas não. Somos sempre do mesmo tamanho. As coisas que à volta estão É que mudam de tamanho. Parece que crescemos mas não crescemos. São as coisas grandes que há, O amor que há, a alegria que há, Mas somos sempre como dantes. Que estão a ficar mais pequenos. Talvez até mais pequenos Quando o amor e o resto estão tão distantes Ficam de nós distantes Que nem vemos como estão distantes. Que às vezes já mal os vemos. Por isso parece que crescemos Então julgamos que somos grandes. E que somos maiores que dantes. E já nem isso compreendemos. Manuel António Pina, O pássaro na cabeça