Souls - Capítulo 1

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Capítulo 1 A Chama


o começo, havia dois planos: o dos Etéreos e o do Inferno. No Inferno, habitam os demônios que, liderados por Lilith, faziam diversas investidas para destronarem os deuses. Então, a mando dos deuses e visando parar a ascensão do Inferno, os anjos criaram uma Chama. Da Chama, surgiram os astros, as montanhas, os mares e a vida – surgiu o plano Mundano. Os primeiros seres vivos filhos da Chama foram os dragões, emergindo como feras alucinadas e irracionais, com suas escamas grossas como pedras e olhos penetrantes como a lança do amor atingindo nossos corações. Eles não precisavam se alimentar, tampouco necessitavam de ar para sobreviverem. Mais de 10000 desses seres míticos ergueram-se da Chama dentro do Ano 1, mas rapidamente foram enlouquecidos por influência de Lilith, a rainha dos demônios, pois a falta de consciência deles impedia que fugissem do seu controle. A raiva deles era insaciável, e levaria o ainda virgem mundo para a destruição: para pará-la, os Etéreos fizeram surgir, no Ano 2, apenas um único dragão, mas que valia pelos 10000 anteriores, pois era o primeiro dos Dragões Reais. Eithre, a última dragão a nascer diretamente da Chama, impôs a ordem, dividiu sua consciência com seus companheiros de raça e criou uma hierarquia dentro de seu povo. Por incontáveis anos, Eithre reinou sobre o plano Mundano – ou, como ela chamou em homenagem a sua filha única, Romerícia. E, nesse reinado, os dragões se acalmaram e presenciaram o surgimento de novas espécies, vindas de fragmentos da Chama que voltaram a aparecer – embora nenhum novo dragão nascera assim. As primeiras bactérias, primeiros

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vírus, protozoários, algas, plantas e fungos. Então, vieram as esponjas, os ouriços e as caravelas gigantes (temidas até mesmo por alguns dragões). Vermes, os terríveis insetos e polvos titânicos. Entretanto, a alma de Eithre cresceu tanto durante as incontáveis batalhas que travara contra os demônios, que ela tomara consciência da função dos Mundanos e, portadora de um poder absurdo, desejava erguer-se aos céus e ocupar um lugar no plano Etéreo. Assustados, os deuses ordenaram aos anjos que enfraquecessem a Chama, e assim ela começou a se apagar. Com isso, os dias se tornaram cada vez mais vermelhos. Os vulcões de todo o mundo entravam em erupção. A gostosa chuva fria do outono, agora maculava as escamas dos repteis voadores. Um estouro ecoou por toda Romerícia. Danadel, um Dragão Azul, desafiara o Anjo Solar e fora derrubado. Foi a primeira morte que o mundo viu. A Chama tomou para si seu esqueleto, e, dele, criou os peixes, os anfíbios e os mamíferos. A morte começou a tomar seu lugar de direito no ciclo da vida. Mas a vida nova não parava de surgir, o que originou os conflitos. Desesperados, dragões brigavam por comida e rompiam a hierarquia. Diové, um Dragão da Terra, se reproduziu com um bonobo, e originou os primeiros filhos da terra. Euribes, uma Dragoa dos Ventos, se reproduziu com uma águia, e originou os filhos do vento. Balzaran, o Dragão Escamoso, se reproduziu com um sapo e criou os filhos da escama. Konshu, uma Dragoa da Lua, se reproduziu com um morcego e criou os filhos da noite. Já Netuno, um Dragão dos Mares, virgem e retido aos estudos, refugiou-se nos fundos dos mares para realizar seus


experimentos visando reverter o renascimento da Escuridão e, com o mana de sua alma, criou as filhas dos mares – mas, se a alma dele é capaz de criar novos seres sem a necessidade de reprodução, seria possível que ela fosse poderosa o suficiente para realimentar a Chama? Para testar sua hipótese, Netuno primeiro gerou mais de mil ovos, a quem passou a chamar de Nereidas, prontos para eclodirem a qualquer momento, e se sacrificou, jogando-se, enquanto ainda vivo, no cerne da Chama. Por um breve momento, tudo parecia normal e, embora a fome dos dragões tenha continuada, ela era menos intensa, parando as guerras. Mas depois de dois anos, a Escuridão voltou ainda mais forte, e a fome tornou-se tão repentinamente absurda, que muitos dragões caíram do céu. E, para sua infelicidade, Eithre sabia o que devia fazer. Se a alma de Netuno tinha acalmado o Universo e alimentado a Chama por um momento, mesmo que curto, a sua alma, aquela mais poderosa, amadurecida com os anos de experiência no plano a ponto de ser, talvez, tão poderosa quanto a criação, poderia impedir o retorno da corrupção por muito mais tempo, pelo menos por tempo suficiente para que sua filha pudesse se fortalecer e fazer o mesmo. E assim foi feito, com o resultado felizmente ocorrendo dentro do esperado. E Romerícia também o fez, assim como seu único filho, e como o filho dele, e como todas as gerações fizeram, sempre com os filhos únicos dessa linhagem caindo na fogueira quando a escuridão já se fazia grande. O sacrifício era, para o que a tradição estabeleceu como Dragão Rei, o momento da glória eterna, pois era quando sua vida acabava para que todas as outras pudessem


existir, com os bardos compondo canções sobre os feitos, e o povo fazendo festa. Era um motivo não de dor, mas de orgulho. Entretanto, por um tempo, os demônios acalmaram-se, gerando paz no plano Mundano. Tanta paz que Rojin, trigésimo segundo Dragão Rei, nem desconfiou da cor vermelho vibrante de sua companheira, nem quanto ao desconhecimento de sua origem. A verdade é que a pausa nos ataques dos demônios era estratégica, para que Lilith juntasse forças suficientes para emergir de um vulcão na forma da mais bela dragonessa já vista. E Lilith engravidou do dragão. Primeiro, ela tentou absorver a alma do feto para ganhar seu poder, mas a alma era muito forte. Depois, ela tentou então abortar, mas a alma era muito forte. Então, como uma última alternativa, ela separou a alma em dois, parindo não um, mas, pela primeira vez na linhagem, dois filhos: Kalemit e Bersekios. E depois disso, voltou para o Inferno. O alto conselho dos dragões não sabia o que fazer com essa situação. E, para piorar, a Chama voltou a fraquejar e Rojin teve de se sacrificar. Agora cabia aos irmãos crescerem e, talvez, se sacrificarem em conjunto. Mas a alma de Bersekios foi a que surgiu após a cisão, e era a mais influenciável. E, com influência do demônio Belial, ele revoltou-se quando o conselho decidiu que Kalemit assumiria o posto de líder dos dragões. Iniciou-se a Guerra Dracônica. Com parte das raças menores ao lado de Bersekios, e outra parte ao lado de Kalemit, Romerícia viu-se misturada em caos e sangue. Muitos dragões caiam, gerando crateras sobre a terra. E um desses foi Kalemit, que perdeu uma batalha contra seu irmão, apoiado por Lilith. Essa queda foi o estopim para a união


do Consulado Mago, que iniciaram rituais para fecharem as portas do Inferno. Junto a isso, as raças menores cada vez mais se voltavam contra Bersekios, a ponto de uma armada liderada pelo leonino Artorias ser formada para tentar aprisioná-lo. Uma batalha entre o exército de Artorias e Bersekios fora travada. O leonino conseguiu atravessar uma das escamas de Bersekios, fazendo-lhe sangrar. Lilith, assistindo tudo de camarote, então resolveu agir, e acabou de vez com o último dos irmãos, antes de voltar ao Inferno. Mas, sem um Dragão Rei, quem reacenderá a Chama? Aldia, um cientista desesperado com essa realidade, iniciou suas pesquisas visando recriar a Alma de um Dragão Rei, aproveitando restos do corpo de Bersekios. Mas, desconfiado, sempre manteve tudo em segredo para evitar ter seus planos frustrados pelos demônios. Entretanto, faz 150 anos que ele sumiu. Drangleic, o maior reino do continente, montou uma armada para buscá-lo, armada com diversas frontes, entre elas uma composta por vocês, aventureiros. É hora de encontrar o laboratório de Aldia, encontrar o lendário dragão recriado, caso ele exista, e tentar reascender a chama para que o plano Mundano não caia em esquecimento.


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