TFG Beatriz de Sousa Alves - Habitar o Semiárido

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BEATRIZ DE SOUSA ALVES

H A B I TA R

O SEMIÁRIDO A requalificação da arquitetura vernácular como instrumento da perpetuação cultural



H A B I TA R

O SEMIÁRIDO A requalificação da arquitetura vernácular como instrumento da perpetuação cultural

CENTRO UNIVERSITÁRIO SETE DE SETEMBRO – UNI7 Curso de Arquitetura e Urbanismo Trabalho final de graduação

oritentador - dau uni7

prof. Msc. Tiago Bezerra de Souza professor convidado - dau uni7

prof. Msc. Felipe Sardenberg professor convidado - dau ifce

prof. Dr. Levi Pinheiro

Beatriz de Sousa Alves Fortaleza, Junho de 2018


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 1- ENCONTRO COM CRIANÇAS DA COMUNIDADE RAPOSA DO TRILHO.


AGRADECIMENTOS

A

o decorrer destes anos de faculdade, agradeço a todos que fizeram parte desta trajetória ao meu lado: a minha companheira Júlia, pelo apoio que você me ofereceu em todos os momentos em que eu tanto precisei, mesmo quando eu parecia incrédula e incapaz, suas palavras foram meu alento e força; aos meus amigos de faculdade Catarina, Daniel, Camily, Patrícia, Raquel, Raíssa, Mirella, Bruno, Marcela, Natália, Tereza, os quais se tornaram minha segunda família, saibam que tornaram minha experiência acadêmica incrível e levarei vocês comigo sempre; aos meus pais, Sérgio e Nilta, que tornaram essa experiência possível e apoiaram essa trajetória, essa conquista é nossa; ao meu orientador Tiago, por ser mais que um professor para todos, um amigo; e as mulheres e crianças que compõem a Comunidade Raposa do Trilho por me receberem de braços abertos e compartilharem suas experiências de vida na composição deste trabalho, este é para vocês. *

Beatriz de Sousa Alves

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO Tema Justificativa Objetivos e Metodologia

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1 A REALIDADE HABITACIONAL NO SEMIÁRIDO Visão Ideológica e a Convivência com o Semiárido O Problema da Habitação no Semiárido

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2 INDIVÍDUO, AMBIENTE E ARQUITETURA Arquitetura bioclimática e a importância do vernáculo. O bioma e o potencial na construção civil Bioconstrução e suas técnicidades Flexibilização no contexto habitacional

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3 DIAGNÓSTICO Delimitação da área de estudo A comunidade raposa do trilho Localidade e acessos Clima Economia Recursos hídricos Aspectos tipológicos Processos construtivos Danos construtivos e problemas infraestruturais Referências Projetuais

53 55 59 66 69 71 73 95 107 120

4 HABITAR O SEMIÁRIDO O projeto Estratégias de projeto Projeto 1 etapa Projeto 2 etapa Projeto 3 etapa Perspectivas

129 132 144 146 148 155

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FONTE: FOTOGRAFIA POR MARCELO PINHEIRO PORTO

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FIG. 2 - SERTÃO DE ITAPIPOCA.


I

INTRODUÇÃO

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FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 3 - MORADA DE TAIPA.


TEMA

O

tema deste trabalho é a investigação sobre o tipo de habitação produzido no semiárido cearense, com base em sua análise crítica, propondo um desenho piloto habitacional mais adequado à realidade destes locais. Este projeto será adaptável ao bioclima do semiárido, de forma que haja o emprego eficaz de técnicas construtivas regionais e materiais locais buscando requalifica-la, atendendo as diferentes tipologias familiares e suas particularidades dentro de seu contexto cultural. O projeto poderá ser introduzido à qualquer localidade dentro do semiárido, adaptando-se às condicionantes físico-ecológicas, como os agentes naturais, as características geográficas e os produtos naturais. Soma-se a isso a possibilidade de modificações que o usuário achar necessário e poderá executar, como a inclusão ou exclusão de cômodos. A problemática envolve a importância do desenho arquitetônico que, aliado às técnicas necessárias, pode garantir o bem-estar dos seus ocupantes em uma localidade não propicia à habitabilidade, seja por condicionantes sociais, políticas ou ambientais. Portanto, busca-se a relação harmônica dentre tais condicionantes, garantindo sua autonomia e identidade, resultando na transformação da inadequação atual em habitabildade.

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JUSTIFICATIVA

Q

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uando se discute déficit habitacional no Brasil, sempre recorremos aos problemas urbanos das grandes cidades, de suas expansões e crescimento desordenados, grandes densidades demográficas nas centralidades urbanas, resultando na formação de assentamentos irregulares em regiões periféricas, as denominadas favelas, dando ênfase ao déficit quantitativo, no qual acreditasse na falta de habitações para a vigente demanda da população. Porém, não há falta de imóveis, o que ocorre é a falta de oportunidade de compra para uma grande maioria, sendo esta a população de baixa renda que carece de condições financeiras para suprir a alta demanda econômica do mercado imobiliário, destacando que o déficit qualitativo das habitações é muito maior que o déficit quantitativo em si. Segundo o IBGE, censo demográfico de 2010, estimasse que no Brasil há cerca de 6,5 milhões de moradias possuem déficit habitacional, considerando quatro componentes: domicílios precários, coabitação familiar, ônus excessivo com aluguel, adensamento excessivo de domicílio alugado; desconsiderando assim os domicílios com condições inadequadas de moradia, como saneamento dentre outros. Cerca de 70% desses domicílios se localizam no Sudeste e Nordeste. Entretanto, os componentes citados

muitas vezes se adequam apenas a zona urbana, visto que, na zona rural a coabitação familiar tende a vir de um fator cultural. No Ceará, a necessidade das comunidades rurais, de infraestrutura e de moradia de qualidade projetada em conformidade com suas práticas culturais é emergente visto que sua problemática está inserida no clima Semiárido. Tal clima, este que abrange 92% do território cearense é um bioma marcado pela escassez hídrica, com altas taxas de evaporação, fator que dificulta o desenvolvimento da agricultura, esta que é a base da geração de renda rural, culminando na falta de rotatividade da produção do sertanejo que em conjunto com a dificuldade do desenvolvimento das cidades e o estabelecimento de indústrias, colaboram com a pobreza no sertão nordestino, fator gerador de um ciclo, onde a baixa renda da população não supre a demanda qualitativa de suas habitações, impossibilitando uma correlação benéfica com o clima. Segundo MALVEZZI (2007) a imagem difundida do semiárido, como clima, sempre foi distorcida, passandose a ideia de uma região árida, chegando ao extremo de ser estereotipada como inadequada a sobrevivência humana. É preciso que haja, portanto, uma mudança ideológica, na qual prevaleça o conceito de convivência harmônica


com o Semiárido. Historicamente, existem diversos exemplos, assim como os povos de cultura árabe que possuem sua arquitetura baseada em técnicas milenares de convivência com o deserto, de modo que se adaptaram ao ambiente hostil, tornando-o viável para habitabilidade. No semiárido, a integração antrópica habitacional com a natureza pode ser possível e esta deve vir através de uma busca coletiva de soluções. Considerando a atual realidade das habitações inseridas no semiárido cearense, as edificações carecem de infraestrutura que atendam as demandas da população. Foram constatadas que mais de 900 mil famílias no país residem em casas de taipa artesanal segundo o IBGE (2014), que se encontram, em sua maioria, na paisagem do interior semiárido nordestino incluindo regiões metropolitanas como da capital cearense, Fortaleza, estimandose quase 100 mil famílias só estado do Ceará. Além da necessidade constante de manutenção, as casas de taipa desproveem de recursos básicos de infraestrutura. Sua alvenaria, normalmente sem tratamento e execução adequadas, falha com o desgaste natural, permeando fissuras, desníveis e deformações, fragilizando a edificação, que ao logo do tempo se torna um fator de risco para seus habitantes. Além de, consequentemente, exigir manutenções constantes, as patologias superficiais possibilitam em um ambiente propício a proliferação de insetos, como o Barbeiro disseminador da Doença de Chagas, que se podem se alojar nos orifícios permeados na alvenaria. Já os dejetos humanos, por falta de uma rede hidro sanitária,

por muitas vezes são realizados a céu aberto sem qualquer tipo de tratamento, também agravando o quadro na proliferação de doenças Outro fator determinante encontra-se nos programas habitacionais fornecidos pelo governo. A estrutura básica modular habitacional é, por muitas vezes, aplicada de maneira padrão em diversas realidades que desconsideram: as variações climáticas de suas respectivas localidades, as possíveis flexibilizações quantitativas na estrutura familiar, o custo-benefício de materiais e técnicas locais, além da identidade social e a expressão de suas singularidades. Tal falta de sensibilidade implica na construção de habitações ineficientes, caracterizadas por espaços não ergonômicos e inflexíveis, sem aproveitamento de recursos naturais, permeando sensações térmicas e lumínicas desfavoráveis, com materiais de matérias primas finitas e não renováveis, aumentando os custos de manutenção, além da descaraterização ideológica do sertanejo, potencializando a degradação cultural gradual das técnicas regionais, sobre habitações estas que deveriam ser uma solução para a população que carece de necessidades básicas e lutam contra as intempéries do clima árduo do semiárido. Com a baixa renda sendo uma realidade para uma considerável parte da população, a qualidade das habitações que se resumem a técnicas vernaculares, são conservadas pela tradição oral, mantendo seu conhecimento no meio rural, porém ocasionando perdas de suas características, qualidades e possibilidades futuras. O preconceito

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somado à industrialização da construção civil determinaram o declínio do tradicional processo de construção da casa de pau-a-pique, que foi definitivamente atingido pela má aplicabilidade construtiva, decorrente de um progressivo abandono e esquecimento das práticas de sua feitura. Desse modo, as antigas habitações, quando contempladas por programas habitacionais, são bruscamente deixadas de lado por padrões habitacionais que não distinguem ou caracterizam a identidade do sertanejo, como será descrito adiante neste caderno.

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Na união desses componentes, a Comunidade Raposa do Trilho, situada a no município de Itapipoca- CE, foi escolhida como estudo de caso, por reunir tais adversidades encontradas pelo morador rural do semiárido, podendo-se destacar dentre três antros globais de problematização: o social, o ambiental e urbano. No antro social, podemos destacar o alto índice de pobreza encontrados nesta comunidade, somadas a falta de qualidade habitacional e de abrangência de políticas públicas. O déficit é abrangente nas áreas de: capacitação, escolaridade, saúde, economia e infraestrutura básica para habitabilidade. No antro ambiental, destaca-se a localidade, que se encontra inserida na zona semiárida cearense, a qual possui intempéries climáticos, como o baixo índice de pluviosidade, além de possuir um distanciamento de recursos hídricos dificultando na busca por matéria prima, alimentos e na possível produção de alimentos ou criação de animais. Já no antro urbano habitacional, encontra-se a soma das questões sociais e ambientais, refletidas no

modo de habitar. Habitações com déficit qualitativo, com infraestruturas inadequadas e flexibilizações desordenadas somadas a perda gradativa da técnica da taipa, o pau-apique. Assim, justifica-se a necessidade de pensar em soluções de tipologias habitacionais voltadas para a adaptação adequada ao bioclima e a configuração familiar, capaz de demonstrar que a qualidade de uma habitação não deve corresponder ao padrão econômico de uma determinada classe social, mas sim às principais demandas dos usuários. *


OBJETIVOS E METODOLOGIA

O

objetivo geral deste trabalho é a elaboração de um protótipo habitacional que leve em consideração a adaptabilidade das habitações ao clima, empregando técnicas locais e materiais de baixo custo, pensado de maneira flexível expansível correspondendo às diversas demandas da população vigente que sofre com as intempéries do clima semiárido e ainda perpetuando a cultura regional, através do aperfeiçoamento da técnica de pau-a-pique a qual encontra-se defasada. * OBJETIVO

Delimitação da área de estudo exemplar, compreensão do contexto do lugar e realidade social, econômica e cultural

Investigar aspectos tipológicos existentes, destacando suas principais potencialidades e problemáticas.

METODOLOGIA

ETAPA DIAGNÓSTICO

• • •

Visita técnica a comunidade Entrevista com moradores locais Levantamento de dados

Elaboração de análise de adequabilidade do material da taipa através de comparativos construtivos Elaboração de análise de ambientações básicas e flexibilizações construtivas ao longo do tempo Levantamento do processo construtivo, assim como as patologias infraestruturais e estruturais.

• ESTUDO DE CASO •

• •

Desenvolver um módulo habitacional, no contexto da reconstrução das habitações sertanejas vinculando o projeto a especificidades locais e do semiárido

• PROCESSO PROJETUAL

Elaboração de estratégias projetuais a partir das patologias e flexibilidades encontradas Desenvolvimento de partido e programa de necessidades de infraestrutura básica de baixo custo, com técnicas vernaculares e materiais locais.

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FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 4- A REALIDADE HABITACIONAL DO SERTANEJO.


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A REALIDADE

HABITACIONAL NO SEMIÁRIDO 17


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 5- A CRIANÇA DO SEMIÁRIDO.


VISÃO IDEOLÓGICA E A

CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

A

ntes de tudo, o semiárido é uma mescla entre região, clima, cultura, de diversidade. Vai além da seca, das pobrezas de solo, de renda, da escassez das chuvas, do sofrimento do sertanejo. Imagens estas difundidas pela mídia e reforçadas pelo governo através do famigerado termo “combate à seca”; das políticas públicas emergenciais, que não preveem sustento hídrico a longo prazo para a população dos sertões, nas quais se investem milhões para “trazer a água”; através de carros pipa ou transposições de grandes rios; do destacamento da vida urbana, do “viver o moderno”, através dos televisores, que mobilizam o sertanejo ao litoral para suposta melhor qualidade de vida, e provocam a retenção de sua identidade ao não se adequar às grandes cidades; do desejo de obter o progresso esquecendose do passado, e a perda da cultura hereditária da forma de viver até a forma de morar, das técnicas construção à autonomia construtiva, para modelos habitacionais mascarados por suas fachadas de alvenaria, que não se adequa ou se adapta às famílias e ao semiárido. O semiárido é, primeiramente, previsível. Historicamente, sempre soubemos que, suas chuvas são irregulares, seus solos são rasos, seu índice de evaporação alto, e ainda

assim insistimos em nos surpreender com os “períodos de escassez real”, termo este que é validado por não falarmos de um clima árido, mas sim semiárido. O que ocorre não é a falta de água, e sim a sua má distribuição em decorrência das terras fornecidas para a população, que segundo SCHISTEK (2013) “é a questão da terra, ou melhor, do tamanho da propriedade”, que permitem uma melhor estadia e produção nas épocas de aridez. O autor ainda ressalta que, um estudo da Embrapa Semiárido afirma que nas áreas da grande Depressão Sertaneja, uma propriedade familiar necessita de até 300 hectares de terra para manter sustentabilidade, sendo a atividade principal a criação de caprinos e ovinos, ou seja, é possível manter estabilidade dessas famílias garantindo o tamanho mínimo de terras. Ressalta-se que a unidade familiar e suas relações são de uma identidade cultural única, as quais são diretamente impactadas no seu convívio social e com o meio físico ambiental. Devese levar em consideração a crescente demanda, típica do semiárido, de famílias nucleares ou de coabitantes geralmente com vínculo conjugal ou de parentesco, todas com altas probabilidades de natalidade. São famílias que ressaltam os laços de união, que se distribuem morfologicamente

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umas do lado das outras e que MAYRINK (2016) descreve que “assim vão acomodando irmãos e irmãs, avós, tios e tias, parentes de parentes e compadres sem laços consanguíneos”.

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Tendo esse fato em vista, e comparando-o com a tipologia habitacional oferecida por entidades, como será abordado posteriormente, percebe-se a inadequação das mesmas à fatores primordiais, como a própria tipologia familiar sertaneja, que é claramente diferente da urbana. Dessa forma, vê-se essas habitações inadequadas disponibilizadas por programas governamentais, como extensões das habitações já existentes e construídas pelas próprias famílias. Mesmo diante desse quadro, em decorrência da implantação do ponto de vista de vida urbana forçadamente inserido no sertão, juntamente com o fator da má distribuição de terras e recursos, que essa parte da população se encontra refém, tanto do estado quanto dos latifundiários já citados. É através da perpetuação da pobreza, que se cria uma relação de dependência da população perante o estado. Implementam-se grandes projetos de minérios e irrigações, que destroem o bioma, exploram os bens naturais, e desertificam a região tornando-o mais insustentável para se habitar, que em conjunto aos grandes proprietários de latifúndio, segregam por fim o sertanejo que necessita de terras para produção agrícola comercial, e principalmente, de subsistência. Soma-se a isso a questão da água. Como dito anteriormente, o problema hídrico do semiárido não é a falta d’água, mas sim da má distribuição dela ou da dificuldade de acesso para

a mesma. Morar no semiárido implica uma relação forte de interdependência, segundo DREW (2010) por mais que haja domínio do homem sobre o meio físico, dependemos da importação de seus recursos. Ou seja, por mais dominante que seja a ação antropológica, não se pode lutar contra aspectos naturais como o sol e os ventos, ecossistemas ou variações climáticas, pois estamos diretamente interligados com a natureza, portanto nos cabe aproveitar os potenciais do meio e adaptar-se de forma inteligente. Assim como ao longo de milhares de anos, plantas do semiárido se se adaptaram ao clima, como a flor do mandacaru que armazena água, os povos indígenas já disseminavam conhecimentos sobre a convivência com o meio. Entretanto, as primeiras ocupações portuguesas cuidaram para que o modo de vida harmônico fosse substituído por suas concepções sociais e econômicas, além da radicalidade cultural, trataram de permear a monocultura e a pecuária extensiva.

“Solicitados, ano após ano, pela periódica sucessão dos opostos, que tão bem fixa e linda o clima semiárido do Ceará, o sertanejo e o praieiro hodiernos vivem os mesmos problemas e padecem as mesmas necessidades, vividos e padecidos pela indiada bravia e andeta, ali surpreendida, no começo da história pátria, pelo aventureiro transatlântico da conquista” (FERNANDES,1977)


Os processos de mudanças ideológicas culturais acabam por passar por uma mera metamorfose, e perpetuar apenas novas formas de ocupação do semiárido de formaprejudicial e ameaçadora ao meio. Concluindo-se, dessa forma, que a convivência não é um processo inovador, mas uma visão que foi derrubada por interesses socioeconômicos, das classes influenciadoras dominantes de suas respectivas épocas e, que sendo necessidade essencial do homem, a relação harmônica com a natureza vem se inserindo novamente na atualidade. A convivência com o semiárido, como dito anteriormente, é um processo gradativo, que ganha espaço no cenário do semiárido nordestino. Organizações como o ASA (Articulação no Semiárido Brasileiro), disseminam práticas que influem diretamente no aproveitamento dos recursos de forma sustentável, como o Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC), que permitiu a formação de políticas públicas juntamente com o governo para a construção de cisternas, de modo que possibilitasse o armazenamento água para as épocas de estiagem. Além da segurança para época de seca, o programa possibilitou a autonomia do sertanejo em relação ao estado, seu baixo custo de produção e acessibilidade a água potencializam o ideal de pertencimento e a abrangência do projeto possibilitou a atender famílias rurais nas regiões mais distantes. Exemplos como este ressaltam que o estímulo a convivência é uma essencialidade do homem e ao seu modo de vida. Quando se fala sobre qualidade de vida, nos atrelamos saúde. No

semiárido nos preocupamos com o acesso a água, com a nutrição, com geração de renda, do sustento, no modo de viver, mas deixamos de dar ênfase no modo de morar. A habitação por si só influi diretamente na saúde do homem. Segundo uma entrevista com o Prof. Marcondes Araújo Lima da Universidade Federal Cearense (UFC), foi possível concluir que a arquitetura está vinculada diretamente com a saúde física e mental do ser humano, e é através dela que lidamos com o destino dos resíduos humanos, que garantimos aberturas que promovam a qualidade do ar, é o preparo da vida sem doenças, sendo ela o vínculo entre o homem e a natureza onde o mesmo está inserido. O que nos leva a investigar os impactos da habitação em sua totalidade, tanto em relação ao homem quanto ao meio. *

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FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 6- CONTRASTE DE TIPOLOGIAS.


O PROBLEMA DA

HABITAÇÃO NO SEMIÁRIDO

S

obre a origem dos programas habitacionais rurais no brasil, discorre:

“A partir do ano 2000, alguns programas de habitação rural surgiram no Brasil, em função de bem-sucedidas parcerias entre a Caixa Econômica Federal, o INCRA, movimentos sociais e cooperativas de agricultores familiares. Mas até 2003, com o lançamento do PNHR em sua primeira versão, esses programas se constituíam de iniciativas isoladas, baseadas sempre em adaptações à realidade rural de programas habitacionais urbanos já existentes operacionalizados pela Caixa” (MILANEZ,2014, p.99)

Esses programas foram contemplados a nível nacional, portanto abrangem o semiárido em sua totalidade, tendo em vista que, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014), apenas cerca de 38,03% dos programas habitacionais estão voltadas para áreas

rurais (IBGE, 2010).

“É importante observar que o INCRA está quase sempre envolvido nas iniciativas relatadas. Isso se deve, principalmente, ao fato dos beneficiários de Reforma Agrária contarem apenas com recursos do INCRA para habitação, e por isso mesmo concentram suas pressões nesta instituição, forçando-a criar soluções” (MILANEZ,2014, p.102) Porém, as iniciativas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) não estão livres de falhas. É de suma importância perceber que essas mesmas iniciativas relativas à habitação, infelizmente não são mais que a reprodução do modelo urbano no âmbito rural, onde os ambientes propostos e sua distribuição projetual interna não levam em consideração fatores importantes e não atendem as demandas de flexibilizações familiares, de adaptação ao clima semiárido e suas intempéries ou de aproveitamento das potencialidades do meio exterior. Nesse ponto, a habitação proposta pelo governo se torna um reflexo do mercado, que na relação

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entre Estado e beneficiário da habitação, MACHADO (2012) ressalva que “ é percebida como um ‘presente’, uma dádiva que compromete uma reciprocidade - mesmo nos casos em que ela é subsidiada”. As ditas habitações de interesse social, são usadas como estratégias eleitorais, e assim é desenvolvida, ainda mais a relação de dominação do estado perante os beneficiários, se utilizando da habitação como moeda de troca. MORA (2010) afirma que “Os programas governamentais utilizam a expressão ‘Habitação de Interesse Social’, mas diante da lógica subjacente às políticas governamentais, pensamos que poderia ser mais bem conceituada com ‘Habitação de Interesse Eleitoral’”.

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Essas habitações oferecidas, tem por fim aparente a redução do déficit habitacional, na qual se refere à quantidade de cidadãos sem moradia adequada em uma determinada região que, segundo a Fundação João Pinheiro (FJP):

“Esse déficit está associado às moradias que estão em risco, e que se necessita de uma nova construção, o que é diferente de moradias inadequadas, que estão associadas a qualidade de vida da pessoa no local, como a falta de água potável, recolhimento de esgoto, acesso à energia elétrica, telefonia fixa, recolhimento de lixo, entre outros fatores que interferem na qualidade de vida da população.” (FJP,2015,p.15)

Ainda, explica-se que o cálculo de déficit habitacional leva em consideração apenas as moradias consideradas precárias e improvisadas, mas não as inadequadas. O déficit, portanto, como não abrange moradias inadequadas, causa a perda do caráter qualitativo das habitações, realçando apenas o quantitativo. A fundação ainda ressalta que a iniciativa habitacional “não está relacionada ao dimensionamento do estoque de habitações e sim às suas especificidades internas”, de maneira que o suficiente seria apenas ter um exemplar de cada cômodo básico dentro da moradia, ressaltando que, mais uma vez, a tipologia familiar e o ambiente em que está inserido são desconsiderados. As moradias inadequadas fazem parte de uma realidade maior do sertanejo no semiárido. Suas raízes tecnológicas construtivas, passadas por hereditariedade, foram perdendo sua tecnicidade ao longo das épocas, resultando na arquitetura que vemos hoje, com uma variedade de problemáticas estruturais. As casas de taipa ou pau-a-pique, são uma das principais heranças da identidade do sertanejo, sendo uma das primeiras manifestações culturais mestiças do Brasil.

“A Arquitetura tem uma importância muito grande para a Cultura enquanto concretização no espaço das diversas configurações do imaginário de uma região. A busca pelo abrigo, símbolo da defesa e da separação do homem da natureza se torna fonte de definições entre a paisagem


(natural ou criada) e os significados atribuídos aos objetos (criação humana). A construção dos elementos arquitetônicos (edificações) marca e transforma o lugar, reiterando a passagem e originando novas mediações. ” (ARAÚJO, 2008,p.44) A taipa tem sua difusão às camadas populares, sendo ela ideologicamente taxada como habitação precária, e assim como as baixas classes sociais, ela é marginalizada. Dita como uma construção pobre, é também denominada, erroneamente, de antihigiênica desde a era do ‘Sanitarismo’ no século XX de Oswaldo Cruz. Isto advém de reflexos do mercado capitalista, que historicamente construiu e reforçou seus contrastes com as convenções da indústria, de forma a minimizar a arquitetura vernácula, sendo ela um importante vetor de historicidade, autonomia e canal de uma possível hegemonia cultural, ainda hoje aplicada por arquitetos nos mais diversos locais. Soma-se a isso, mais um dos problemas da construção civil atual, na qual se emprega a arquitetura denominada convencional, com custos construtivos maiores no transporte de materiais e o deslocamento de mãode-obra especializada, que acabam por inibir a capacidade do sertanejo de possuir uma habitação “digna” aos olhos do mercado, fator que instiga ainda mais dependência de programas do Estado por conta do encarecimento da construtividade.

O encarecimento da construção somado às perdas gradativas do emprego da tecnologia da taipa, demonstram habitações rurais carentes de infraestrutura básica de saneamento vinculados a uma falta de conhecimento de soluções alternativas para tal. Além do que, o emprego da técnica construtiva de forma não eficaz ocasiona a deterioração na construção de terra. Segundo PINTO (1993) e SOUZA (1996) a maior ameaça à sustentação da terra são as infiltrações de água, tanto por capilaridade do solo, quanto por falta de proteção por revestimentos inadequados. Então conclui-se que o problema habitacional do semiárido engloba muito mais do que a arquitetura em si, ela influi nos antros sociais, naturais, políticos e econômicos, datando a existência da necessidade de melhoria desses condicionantes e da busca por um novo modelo de desenvolvimento, que traga inovação e a valorização da tecnologia da taipa, desde que se mantenha a sua essência e otimize sua eficácia. *

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FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 7- COTIDIANO DO SERTANEJO


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INDIVÍDUO,

AMBIENTE E

ARQUITETURA 27


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 8- JANELA DA CAATINGA.


ARQUITETURA BIOCLIMÁTICA

E A IMPOTÂNCIA

DO VERNÁCULO

O

conceito de bioclimático veio como uma necessidade de levar em consideração o clima e o seu entorno, propondo um método de acondicionamento ambiental, baseado em análises das condicionantes climáticas e vinculálas com as demandas de conforto. Na arquitetura isso se insere de modo a atualizar soluções presentes nas habitações rurais tradicionais, porém com o uso de novas ferramentas e tecnologias, que permitem passar de edificações que surgem intuitivamente que vão evoluindo com o tempo, para construções que são previamente analisadas comportamentalmente frente às condições ambientais. Dessa forma, o bioclimatismo para a construção no semiárido é imprescindível, visto que se apresenta certa hostilidade climática, a habitação deve atender as percepções físico-mentais do homem assim como fortalecer suas relações com o ambiente natural, a fim de diminuir este nível de hostilidade.

“A conceituação das habitações e suas técnicas construtivas devem estar subordinadas às responsabilidades sociais e ambientais,

privilegiando os aspectos regionais face à demanda por qualidade de vida, necessidade de expansão e atualização de metodologias na concepção de projetos habitacionais[...]” (CARVALHO, 2012, p.1704) Na percepção do ambiente o corpo humano atua como um grande receptor de sensações físicas e químicas, voluntárias e involuntárias. Classifica-se como voluntárias, reações as quais temos controle, como em uma alta exposição a luz solar colocamos a mão na testa para evitar o ofuscamento e irritabilidade, por exemplo. Já os involuntários, são os que não controlamos conscientemente, são as denominadas de reações fisiológicas. Nosso corpo atua instintivamente para adaptar-se ao meio, mobilizando apenas o mínimo de energia, destacando que condições abaixo dessa condição mínima, que como afirma OLGAY (1963), são consideradas zonas de conforto. O estresse fisiológico se dá ao ultrapassar o status da zona de conforto, de forma que o corpo tende a atuar com maior esforço, e

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assim consumindo mais energia. Os fatores climáticos hostis implicam no estresse fisiológico, impactando negativamente e de maneira prejudicial o corpo humano, que somado a uma arquitetura inadequada, acaba por agravar o quadro da saúde do homem e, consequentemente, interferindo na qualidade de vida. MARLIZE (2012) afirma que “O ser humano possui diversos mecanismos que têm como função manter as condições internas do corpo constantes. ”, sendo parte desses mecanismos, reguladores térmicos, lumínicos e acústicos. Porém, apenas as defesas corporais não são suficientes para a qualidade dessa manutenção, e tais fatores devem ser considerados nos métodos construtivos contrariando as adversidades climáticas.

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A habitação entra como o meio de atender a demanda ao conforto, intercalando as relações do homem com o meio, otimizando a habitabilidade, gerenciando os elementos do meio ambiente de acordo com favorabilidade ou prejudicialidade no conforto humano. Além disso, a habitação, como dito previamente, é o reflexo de condições sociopolíticas, econômicas e culturais, sendo ela um marco de existencialidade à essência da identidade humana. Neste ponto, a arquitetura vernácula no Semiárido é um símbolo da identidade do sertanejo. Sendo ela produzida através de um procedimento artesanal e com aproveitamento de recursos locais, ela é um resumo de historicidade e conhecimentos. Através da tecnologia da taipa, o sertanejo, mesmo que de forma rudimentar, sobreviveu e sobrevive às intempéries do clima, possibilitando a sua habitabilidade.

MINKE (2010) descreve a taipa como possuidora de um variado potencial construtivo, econômico e ambiental. Seu uso permite a redução nos custos de transporte pelo uso de materiais locais com bases reutilizáveis; ideal para o conforto térmico, devido ao mantimento da regularidade das temperaturas internas, além de possibilitar conforto acústico, pela sua capacidade de absorção de ruídos, de forma que, através da sua aplicabilidade correta, a habitação, como abordado anteriormente, será capaz de suprir a demanda de conforto, uma das necessidades primárias do homem. Portanto, a conscientização quanto a valorização e o aprimoramento da tecnologia juntamente com os preceitos bioclimáticos, são imprescindíveis para a melhoria do déficit qualitativo na habitação rural.

“E aí a taipa saberá corresponder às demandas dos novos tempos possibilitando ao homem brasileiro resgatar a sua autoestima e a sua subjetividade [...]” (ALVES, 2010,p.20) *


O BIOMA E O POTENCIAL NA

CONSTRUÇÃO CIVIL

N

a concepção de uma habitação bioclimática ou vernacular no Semiárido é importante conhecer seus regionalismos e reconhecer seus potenciais. Clima, solo, vegetação, ventos, umidade, insolação, são fatores que influem diretamente na eficácia da edificação e em sua construtividade.

“[...]um bioma é formado por todos os seres vivos de determinada região, cuja vegetação é similar e contínua, cujo clima é mais ou menos uniforme, e cuja formação tem uma história comum. Por isso, a diversidade biológica também é parecida. Não existe bioma sem gente. O ser humano faz parte dos biomas. Para nos adaptarmos bem ao bioma em que vivemos, para não destruí-lo – se já não foi destruído –, precisamos estudá-lo e compreendê-lo. ” (MALVEZZI,2007,p.51) Sendo o bioma que constitui o Semiárido, a Caatinga é ideologicamente taxada como não prospera, de pouca diversidade, sendo ela constantemente ameaçada

por ações antrópicas. Estas se qualificam pela pecuária extensiva e a monocultura, culminando na ausência de manejo do solo, na devastação da mata nativa, impactando diretamente na fertilidade de seus solos e na extinção de inúmeras espécies da fauna e da flora, que possuem característica endêmica, ou seja, são únicas do Semiárido brasileiro. Diferentemente do que se pensa a caatinga é um bioma rico com ampla biodiversidade. O Programa de Pesquisa em Biodiversidade do Semiárido (PPBio Semiárido) desenvolve trabalhos que possibilitaram catalogar mais de 4000 espécies de plantas e animais até o momento. Sua vegetação possui potenciais de diversos âmbitos, como: forragem para animais, usos medicinais, consumo alimentício, confecção artesanal e na construção civil. A carnaúba e o ipê roxo, endêmicas do Semiárido, possuem um caráter construtivo fundamental para o sertanejo. O emprego da madeira é utilizado na estruturação de suas habitações e é a partir dele que a casa toma sua forma inicial, sendo a carnaúba utilizada para coberturas em geral e o ipê roxo como estrutura para que posteriormente haja a fixação da taipa, por exemplo.

31


Sendo a taipa um material constituído de terra, pode ser facilmente produzida no sertão, por mais que necessite de uma certa liga argilosa, há métodos que permitem o controle da qualidade da areia para a taipa. Se coleta areia de diferentes localidades próximas e com a simples mistura da terra com a água, sertanejo consegue distinguir facilmente o melhor material, comparando suas fissuras após a secagem. O que possuísse menores fissuras seria o mais adequado para a construção, concluindo intuitivamente, a ocorrência de maior maleabilidade do material e a maior durabilidade da edificação.

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Exemplos como estes, comprovam a praticidade na busca de matéria prima para construção civil no semiárido. Diante dos fatos apresentados até este ponto, comprova-se que a habitação feita de taipa, além de sua praticidade construtiva para os habitantes do semiárido, se realizada de forma correta, será uma habitação salubre, confortável e estável. *

FIG. 9- CAATINGA.


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 10- BIOCONSTRUÇÃO NO SEMIÁRIDO.


BIOCONSTRUÇÃO

E SUAS TECNICIDADES

E

m meio ao vernáculo e ao bioclimatismo, a bioconstrução aparece como a junção desses fatores:

“A bioconstrução consiste na construção de ambientes sustentáveis por meio do uso de materiais de baixo impacto ambiental, adequação da arquitetura ao clima local e tratamento de resíduos.” (PROMPT,2008, p.9) Nesse sentido, bioconstrução é se utilizar os materiais que estão à disposição no ambiente de maior durabilidade e resistência, aliados ao uso passivo dos recursos naturais, a implementação de materiais ecológicos como terra, madeira, pedras, atrelando o caráter rústico aos regionalismos de cada localidade, somados a gestão e ao aproveitamento de resíduos e ao paisagismo espontâneo feito com espécies nativas, sem a necessidade de manutenção e atendendo ás necessidades dos habitantes. A biocontrução vem sido utilizada e disseminada pelo sertanejo no semiárido de forma histórica e instintiva através de suas habitações de taipa, utilizando-se de materiais locais, usufruindo de todas as vantagens desse modo de construir, que nos permite ser autossuficientes,

possibilitando-nos a capacidade de produzir e repararmos casas com as próprias mãos, na medida em que se fortalece esse sentimento latente de intimidade e união, confiando o abrigo à sua própria mão-de-obra que pode ser feita juntamente a família e/ou amigos, tornando o pertencimento e o sentimento de propriedade um marco de realização. As construções de terra, uma classificação das chamadas técnicas bioconstrutivas, tem sua base feita de solo que combinada com outros materiais possui várias aplicações, podendo ser queimada, seca ao sol, comprimida, esculpida, enformada, além poder de ser adicionada de palha, esterco, cal, dentre outros materiais. Das aplicações que possuem base de terra, das mais conhecidas na atualidade, podem-se destacar técnicas como: taipa de mão, taipa de pilão, adobe, superadobe e o cob; sendo a taipa-de-mão a mais utilizada e disseminada no Brasil. A seguir serão apresentadas tais técnicas, assim como seus processos construtivos, afim de demonstrar que sua eficiência e eficácia podem vir através de diversas aplicabilidades, possibilitando uma variabilidade construtiva de acordo com as condicionantes de cada localidade.

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TAIPA DE MÃO MATERIAIS

Areia + Argila

Água

A

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taipa de mão, também conhecida como Pau a pique, é uma técnica construtiva que consiste no entrelaçamento de uma trama formada por madeiras verticais fixadas no solo, com vigas horizontais, amarradas entre si com fibras vegetais, dando origem a uma estrutura perfurada, que será preenchida, barreada, com a taipa, formando assim uma parede. No processo de barreamento as paredes devem ser protegidas das condicionantes climáticas, para evitar os processos de dilatação e contração durante a secagem. Dentre as técnicas em arquitetura de terra esta é a mais utilizada, principalmente por dispensar boa parte do material de origem industrial, sendo feita apenas de recursos de origem natural local, como a madeira e o barro. Após a percepção de patologias ao longo dos tempos, a técnica foi aprimorada e as madeiras deixaram de ser fixadas no solo, pelo fato de apodrecerem rapidamente, implementando sua elevação através de fundações e suas amarrações passaram a ser feitas de outros materiais como o arame. No Brasil, a técnica foi disseminada pelos portugueses no período colonial, e atualmente a técnica de terra é mais utilizada no meio rural.

Madeira

Pedras


VANTAGENS Rápida execução, além de possuir menor espessura se tornando ideal para paredes internas; Materia-prima inteiramente reutilizavél; Isolamento térmico e acústico; Baixo custo; Durabilidade; Sem necessidade de mão-de-obra especializada; O barro preserva a madeira interna e materiais orgânicos;

FONTE: PINTEREST

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FIG. 11 a 18 - CONSTRUÇÃO DE TAIPA DE MÃO.


TAIPA DE PILÃO MATERIAIS

Terra + Areia

Água

A

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taipa de pilão é uma técnica construtiva que consiste na compressão da terra em formas de madeira, denominadas taipais, sendo a taipa compactada horizontalmente com um pilão, manual ou mecânico, e disposta em camadas até atingir a densidade e altura ideais, que a medida que o nível da terra atinge a parte alta do taipal, desmonta-se a forma e volta-se a montá-la ao alto da parede para seguir elevando a parede, formando uma estrutura resistente, espessa e durável.

Assim como a taipa de mão, a taipa de pilão possui a necessidade de ser elevada do solo, porém para a proteção da alvenaria em relação a umidade, sendo necessária uma fundação, que pode ser feita de pedras ou cimento. No Brasil, a técnica foi disseminada na construção de igrejas no período colonial, com construções de até 300 anos de idade. Atualmente, a técnica da taipa de pilão sofreu modificações que potencializam a alvenaria de forma a aumentar sua resistência, eliminando até a necessidade de implementar revestimentos ou tratamentos posteriores. Podem ser adicionados de 5% a 15% de cal na mistura para maior estabilidade, resistência a tração de esforços estruturais.

Madeira

Cal

Pilão


VANTAGENS Não requer estrutura interna pois a técnica é trabalhada pela compressão, sendo as cargas distribuídas uniformemente formando paredes muito resistentes, o que a torna ideal para localidades com recursos escassos.; Materia-prima reutilizavél; Isolamento térmico e acústico; Baixo custo; Durabilidade; Sem necessidade de mão-de-obra especializada;

FONTE: TECNICAS PARA CONSTRUCAO SUSTENTAVEL

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FIG. 19 a 26 - CONSTRUÇÃO DE TAIPA DE PILÃO.


ADOBE MATERIAIS

Argila+ Areia

Água

A

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O adobe é um tijolo feito de terra crua, com uma massa composta de areia, argila, silte* e fibras, compactada manualmente em formas de madeira, que em seguida é feito a cura natural, sem queima, sendo seco à sombra em fase inicial e depois ao sol. O processo de cura ocorre em um período de 10 dias, virando o tijolo a cada 2 dias, para sua secagem uniforme. Suas dimensões variam de acordo com a forma, podendose padronizar inclusive juntas e amarrações em diferentes formatos. O barro deve conter dosagem correta de argila e areia, para atingir o auge de sua resistência, nem muito quebradiço, nem demasiadamente plástico, podendo-se acrescentar fibras vegetais ou estrume de boi no processo como garantia. Os tijolos de adobe após confeccionados são assentadas com a mesma massa crua, e revestidas com reboco natural. Além da praticidade construtiva por ser a mais parecida com a construção convencional, uma pessoa experiente consegue produzir de 200 a 300 adobes por dia.

*Silte: fragmentos de rocha ou partículas detríticas menores que um grão de areia, que entram na formação do solo ou de uma rocha sedimentar.

Fibra

Silte


VANTAGENS Não requer estrutura interna pois a técnica é trabalhada pela compressão, sendo as cargas distribuídas uniformemente formando paredes muito resistentes, o que a torna ideal para localidades com recursos escassos.; Materia-prima reutilizavél; Isolamento térmico e acústico; Baixo custo; Durabilidade; Sem necessidade de mão-de-obra especializada; Elemento padronizado devido a forma;

FONTE: CURSO NATURAL ARQUITETURA

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FIG. 27 a 34 - CONSTRUÇÃO DE ADOBE.


SUPERADOBE MATERIAIS

Terra

Saco de ráfia

A

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O superadobe consiste em uma técnica desenvolvida nos anos 1970, pelo arquiteto iraniano Nader Khalili, o qual estudou os modos tradicionais de construção com terra. Então na missão de ajudar pessoas de baixa renda através de habitações de baixo custo e impacto em meio ao deserto iraniano, aprimorou-se a nova técnica de solo compactado, que sendo ele ensacado, comprimido e moldado manualmente, a preparação é feita no próprio local e sua aplicabilidade torna-se extensa e adaptável a qualquer tipo de construção e configurações volumétricas. As sacas são dispostas umas sobre as outras em cima de uma fundação, que com o auxilio de um socador, manual ou semi-industrial, a parede será apiloada, que logo após concluído o processo as sacas são retiradas deixando apenas a parede de terra para o recebimento do acabamento final. Vale ressaltar o uso do arame farpado entre as sacas, sendo ele necessário para garantir a aderência no processo de apiloamento, evitando possíveis deslizes ou deslocamentos das sacas. Segundo o arquiteto, uma casa de superadobe pode ser construída em apenas dois dias por apenas três pessoas sem nenhuma experiência anterior, sendo ela ideal para climas desérticos .

Arame

Pilão


VANTAGENS Não requer estrutura interna pois a técnica é trabalhada pela compressão, sendo as cargas distribuídas uniformemente formando paredes muito resistentes, o que a torna ideal para localidades com recursos escassos.; Materia-prima reutilizavél; Isolamento térmico e acústico; Baixo custo; Durabilidade; Sem necessidade de mão-de-obra especializada;

FONTE: JARDIM DO MUNDO.

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FIG. 35 a 42 - CONSTRUÇÃO DE SUPERADOBE.


COB MATERIAIS

Argila+ Areia

Água

A

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O COB, também conhecido como adobe monolítico, é uma técnica de terra crua de origem anglo-saxônica, um sistema mais artesanal como a taipa de mão, que possuindo uma massa similar ao adobe, são separadas massas esféricas em forma de bolotas e sovadas umas às outras, formando uma alvenaria espessa em camadas até atingir-se a altura desejada. Sua forma densa, permite uma alvenaria resistente contra os efeitos de abalos sísmicos e da ação do fogo por exemplo, que segundo SALAZAR (2005) o material apresenta características semelhantes a do concreto armado. Diferentemente do tijolo de adobe, a massa do COB é aplicada e secada diretamente na construção de forma progressiva, ou seja, cada camada é adicionada após a secagem da anterior, criando uma massa homogênea com caráter plástico, que por possuir extrema maleabilidade, o COB se destaca pela capacidade de esculpir não apenas da alvenaria, mas mobiliários internos fixos como bancadas, cadeiras, forno, dentre outros.

Fibra

Silte


VANTAGENS Não requer estrutura interna pois a técnica é trabalhada pela compressão, sendo as cargas distribuídas uniformemente formando paredes muito resistentes, o que a torna ideal para localidades com recursos escassos.; Materia-prima reutilizavél; Isolamento térmico e acústico; Baixo custo; Durabilidade; Sem necessidade de mão-de-obra especializada; Maleabilidade;

COB PALACE. FONTE: FLICKR danielleackley

45

FIG. 35 a 42 - CONSTRUÇÃO DE COB.


TERRA CRUA RESUMO DE TÉCNICAS

46

FIG. 43 - CLASSIFICAÇÃO DAS CONTRUÇÕES DE TERRA

Este esquema representa um resumo (elaborado pelo CRATerre) das dezoito tecnologias mais significativas, divididos em três grandes grupos referentes à sua capacidade estrutural, além da quantidade de água necessária para cada técnica.


CARATÉR ESTRUTURAL

QUANTITATIVO DE ÁGUA

A - PORTANTE MONILÍTICA

SECA

(ESTRUTURAL)

1 - Terra escavada

1 - Terra escavada

8 – Blocos cortados

2 – Terra plástica

9 - Torrões de Terra

3 – Terra empilhada: COB

ÚMIDA

4 – Terra modelada

3 - Terra empilhada: COB

5 – Terra prensada: TAIPA PILÃO

5 – Terra Prensada : TAIPA PILÃO 6 – Blocos apiloados

B - PORTANTE ALVENARIA

7 – Blocos prensados

(ESTRUTURAL)

18 – Terra de cobertura

6 – Blocos apiloados

PLÁSTICA

7 – Blocos prensados

4 – Terra modelada

8 – Blocos cortados

10 – Terra extrudida

9 – Torrões de terra

11 – Adobe Mecânico: BTC

10 – Terra extrudida

12 – Adobe

11 – Adobe Mecânico: BTC

13 – Adobe moldado

12 – Adobe

LÍQUIDA

13 – Adobe moldado

2 – Terra plástica 14 – Terra de recobrimento: REBOCO

C - ENCHIMENTO DE ESTRUTURA

15 – Terra sobre engradado:

(NÃO ESTRUTURAL)

PAU-A-PIQUE

14 – Terra de Recobrimento: REBOCO

16 – Terra palha: PAU-A-PIQUE

15 – Terra sobre engradado: PAU-A-PIQUE 16 – Terra palha: PAU-A-PIQUE 17 – Terra de enchimento 18 – Terra de cobertura

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FLEXIBILIZAÇÃO E A

NECESSIDADE DE

FLEXIBILIZAR

A

flexibilidade na arquitetura entra, inicialmente, no contexto das “habitações mínimas”, introduzida pelos modernistas no século XX, deveria atender atributos funcionais, abrigando as mínimas necessidades existenciais. Essas habitações foram utilizadas como uma resposta capitalista às questões habitacionais das camadas populares, as quais mal correspondiam às necessidades de sobrevivência.

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“Nos últimos anos esta situação de estagnação vem se agravando na medida em que, ao privilegiar a aparência, as maiores preocupações do projeto arquitetônico para os edifícios residenciais se resumem na sua imagem global. Atender as exigências dos promotores, da legislação sempre restritiva e, se possível, e num segundo plano, tentar uma composição não conflitante com a cidade e o entorno imediato, são os grandes logros do projeto arquitetônico. ” (VILLÁ, 2012) A habitação social como item comercial, dito previamente, não vem levando em consideração as

divergências dos antros sociais, questões comportamentais e formas de convivência, em detrimento das relações de familiares e de quantitativo humano. O conceito de flexibilidade, no seu significativo simplista, é algo maleável. Trazendo para o indivíduo, a flexibilidade, é a qualidade de compreender, aceitar ou assumir as opiniões, ideias ou pensamentos de outras pessoas. Dentre suas definições gerais, a flexibilidade está associada à capacidade de adaptação. Na arquitetura, atribui-se a flexibilidade na soma desses fatores, com um olhar projetual evolutivo, onde se prevê a habitação sendo ela passível de modificações que atendam às necessidades atuais e futuras do antro familiar.

“A evolução implica na modificação do espaço a longo prazo, segundo às transformações da família, adaptando-se à evolução do agregado familiar, adicionando ou removendo compartimentos” (CORREIA, 2013, p.41) No caso do sertanejo não seria diferente, ainda mais quando falamos em quantidades. Ainda hoje, percebe-se a presença marcante da unidade familiar nuclear, de


hierarquia patriarcal, com laços de extrema união, e de uma cultura de agrupamento parental. A coabitação no sertão é algo natural. São avós, pais, irmãos, tios e agregados que convivem em conjunto ou em proximidade, sendo sua distribuição morfológica entre as habitações, quando existente, é sem grandes definições territoriais. Visualmente, não se delimita o fim de uma habitação para o começo de outra, diferente da morfologia dos centros urbanos em que há extremas definições de parcelamento do solo. Além disso, as condicionantes climáticas, mais uma vez, influem na habitação e na criação de novos espaços. Como suas construções vernaculares tem caráter intuitivo, a criação de espaços, como a construção alpendres, é bastante comum, visandose à proteção da incidência direta da radiação solar e da chuva, por exemplo. Por isso a necessidade de flexibilização é tão atenuante no Semiárido. São famílias que modificam constantemente a tipologia de suas casas, adicionando ou removendo ambientes, tanto para o conforto em relação às condicionantes climáticas, quanto para os quantitativos familiares. Portanto prever essas modificações diminuiria a possibilidade de uma futura ocupação desordenada, prejudicando as interrelações entre o meio e o espaço construído. Segundo DAVICO(2013), existem varios tipos de flexibilidade, sendo a que mais se atribui a caracteristica do semiárido mediante sua classificação é a flexibilidade de expansão que consiste na capacidade de acrescentar área útil posteriormente, de carater

transformavél permitindo adicionar ou remover elementos construtivos que abrem ou fecham o espaço, podendo até modificar de forma. *

49


FONTE: ACERVO PESSOAL

50

FIG. 44 - CRUZAMENTO.


3

DIAGNÓSTICO

51


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 45 - COMUNIDADE RAPOSA DO TRILHO


ASPECTOS DELIMITAÇÃO DE ÁREA DE ESTUDO

SOCIAL

AMBIENTAL MORFOLÓGICO URBANO

• • • •

alto índice de pobreza; falta de qualidade de vida e de abrangência de políticas públicas; Perda cultural gradativa da técnica de pau-a-pique déficit nas áreas de: capacitação, escolaridade, saúde, economia e infraestrutura básica para habitabilidade.

localidade, que se encontra inserida na Zona Semiárida Cearense (ZSA) intempéries climáticos, como o baixo índice de pluviosidade distanciamento de recursos hídricos e a dependência de carrospipa. Falta de sistemas de capitação

• •

Infraestrutura habitacional inadequada Flexibilizações desordenadas

• •

53


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 46 - CRIANÇAS DA COMUNIDADE


A COMUNIDADE

RAPOSA DO

TRILHO

A

comunidade surgiu originalmente no ano de 2003, com as migrações de algumas famílias locadas no Mocambo, Itapipoca- CE, que após serem despejados por proprietários das terras, à beira dos trilhos da Ferrovia Transnordestina de trem formouse uma comunidade em busca de uma nova vida. Mesmo com poucos recursos e sem acessos a necessidades básicas, se instalaram, até o último balanço realizado, um total de 35 famílias, reunindo cerca de 180 pessoas, incluindo crianças e idosos. Em 2012, visto as necessidades básicas, criou-se a Associação da Comunidade Raposa do Trilho, que visava a notoriedade e a autoorganização da mesma no antro político-social, na busca por direitos e suporte diante ao Estado. Junto ao processo de formação da associação, houve a assistência do Centro Espírita Simples Como a Fé, que promove frequentemente ações sociais, através de doações, na disseminação da doutrina espírita, no acompanhamento de jovens e idosos e na contribuição de alguns profissionais de diferentes especificidades que participam do grupo espirita, na contribuição do aprendizado e do lazer para os moradores.

Para a exercício dessas atividades foi feito uma edificação em meio a comunidade que por intermédio a doação e ao voluntariado junto aos moradores foi executada pouco a pouco, nela se dispõem: salas para atendimento espiritual, um salão principal multiuso, uma sala odontológica, a qual recebe visitas periódicas de profissionais da área, uma sala de brinquedos para as crianças, uma cozinha na qual havia o uso como nova fonte de renda na produção de pães e doces artesanais, a qual se encontra recentemente estagnada; além de dois banheiros convencionais, porem ambos só se encontram a disposição da comunidade junto as atividades do centro. Assim como centenas de mulheres inseridas na realidade das comunidades rurais do semiárido, a senhora Vanderlene Carneiro Marques, apelidada por Vanda, aparece à frente da Associação da Comunidade Raposa do Trilho, destacando o novo protagonismo feminino no meio rural. A mulher do semiárido aparece como um instrumento de ligação entre as inter-relações entre família, trabalho e sustento, seguidas de uma desvalorização de seus feitos, que por sua vez é retratado pela invisibilidade diante de uma sociedade marcada pelo patriarcado, que denegre sua

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sua autonomia e a sobrecarrega com uma divisão sexual do trabalho em que a mulher se torna responsável pelas atividades domésticas, no cuidado de pessoas e ainda no trabalho braçal do “roçado”( criação de animais e hortas) e na leva do abastecimento de água, a qual por muitas vezes se encontra a longas distancias. Na comunidade raposa do trilho isso ainda é uma realidade, que, apesar de vir sendo minimizada quanto a visibilidade da mulher, na tomada e no engajamento por papeis políticos como o de Vanda, o papel do homem se restringe a trabalhos externos à comunidade, que a partir de um processo de invalidez, seja por envelhecimento ou por condicionantes de saúde, sua participação ativa é cessada por completo, não alterando ou minimizando o cenário sobrecarregado da mulher, mas agravando-o pelo trato do indivíduo inválido.

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Além disso, foi constatado por intermédio de entrevistas aos moradores, que os processos construtivos são liderados comumente pelas matriarcas de seus respectivos núcleos familiares, que são assistidas pela sua própria prole, infantojuvenil, de forma independente e intuitiva, agregando ainda mais à responsabilidade da mulher e de seu engajamento quanto a manutenção da família e da habitabilidade. *


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 47 - FAMÍLIA DA COMUNIDADE


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 48 - ESTRADA CARROÇÁVEL.


LOCALIDADE

E ACESSOS

A

Comunidade Raposa do Trilho, é sitiada na área rural da cidade Itapipoca, região oeste do estado do Ceará, a qual é predominada pelo bioma semiárido. A comunidade está localizada numa distância de aproximadamente 10,4 km em relação a cidade de Itapipoca, sendo ela acessada, principalmente, por uma ramificação no km 05 da CE- 240, sentido nortesul, e mais dois acessos, sentido leste-oeste que acompanham a linha férrea Transnordestina. Tais acessos são predominantemente de estradas carroçáveis, de terra-batida, que se encontram condições precárias, fator agravado durante o período de maior pluviosidade. Os meios de locomoção se restringem a carroças de tração animal, bicicletas e motocicletas. A área ocupada pela comunidade é de aproximadamente 3,84 hectares, num perímetro de 967 metros, totalizando em 30 habitações de taipa e uma edificação de alvenaria convencional onde funciona o projeto social do centro espírita Simples Como a Fé. *

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MAPA 1 - SITUAÇÃO DA COMUNIDADE.


FONTE: BASE GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA.

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MAPA 2 - USOS E EQUIPAMENTOS


FONTE: BASE GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA.

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FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 49 - FERROVIA TRANSNORDESTINA - ITAPIPOCA -CE.


FONTE: ACERVO PESSOAL.

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FIG. 50 - ENTRADA DA COMUNIDADE NO KM 5 DA CE-240.


CLIMA A comunidade está inserida no semiárido, na região do sertão de Itapipoca, que possui um clima tropical quente semiárido. A temperatura oscila de 33.49 Cº durante o dia e 23.36 Cº durante a noite, possuindo uma variação média de 1.5 Cº durante o ano. Possui ventos predominantemente no sentido nordeste-oeste de 3 a 8 m/s, totalizando na velocidade média diária de 24 km/h.

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A estação invernosa, denominada estação das chuvas, onde ocorre maiores índices de pluviosidade, ocorre entre os meses de Janeiro a Maio, que decaem drasticamente nos meses de Junho e Julho, chegando a sua total escassez nos meses de agosto a dezembro. Calculando-se uma média anual da soma dos índices pluviométricos mensais, estima-se um valor de 142 mm se distribuídos pelos 12 meses igualmente. Através de análises in loco, realizado na estação das chuvas, foram coletados dados sobre os índices de umidade relativa do ar no interior e exterior das habitações da comunidade, assim como as medições de temperatura, obtendo-se um parâmetro comparativo entre tais ambientações. Pôde-se constatar que existem variantes quanto as habitações de taipa, sendo elas classificadas em dois antros para este estudo: Habitações puras: aquelas feitas puramente de taipa sem adições

de fechamentos ou sintéticos/industriais;

acabamentos

Habitações modificadas: todas aquelas que possuem algum ambiente/ edificação revestida de algum material sintético/industrial, sendo ele, comumente, o reboco de base cimentícia; Com auxílio de um termohigrômetro, as medições foram realizadas durante o período das 11h às 12h, que no ambiente externo alcançou-se a maximidade 33.9ºC com uma umidade relativa de 54% e mínima de 47%. Em ambas as habitações ocorreram variações e sensações térmicas notórias, demonstrando a eficiência ou ineficiência dos materiais. Nas habitações puras houve a diminuição da temperatura em até 2ºC em relatividade com a externa, já nas habitações modificadas essa variação decai para apenas 1ºC. Vale ressaltar a existência de duas edificações de material convencional, as quais foram constatados o aumento interno de até 4ºC se comparados a temperatura exterior. Com base a tais análises, conclui-se que apesar da modificação superficial do material da taipa, ele ainda demonstra maior adequabilidade à ação climática, garantindo a eficácia do conforto térmico. *


500

300 200 100 0 Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

FIG. 51- GRÁFICO DE PLUVIOSIDADE.

Set

Out

Nov

Dez

FONTE: ACERVO PESSOAL

Pluviosidade (mm)

400

Chuva Mensal

FONTE: ACERVO PESSOAL

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Habitações Puras

Habitações Modificadas

2 Cº FIG. 53- COMPARATIVO DE TEMPERATURA.

1 Cº

Alvenaria Convencional

4 Cº

FONTE: ACERVO PESSOAL

FIG. 52- DIAGRAMA DE VENTILAÇÃO E INSOLAÇÃO.


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 54 - BASE DE SUBSISTÊNCIA.


ECONOMIA

A

renda e manutenção da comunidade advém do programa governamental em parceria com a Caixa Econômica Federal, o Bolsa Família, que possibilita parte da alimentação básica e garante o acesso à educação pública para a geração mais jovem. Junto a isso, a outra fonte de renda existente é no trabalho executado em pedreiras em Itapipoca, no manejo de pedras e britas de forma não autônoma (sem a utilização de máquinas), abastecendo os veículos de transporte. Segundo entrevistas com os moradores, a segunda fonte de renda citada é descrita de forma restritiva para comunidade, sendo ela a única oportunidade de trabalho encontrada, já que há a incapacitação da população quanto a escolaridade e tecnicidade exigidas para os demais empregos. Vale ressaltar, que algumas moradoras usufruem dos benefícios de aposentadoria, visto que ao longo da vida trabalharam em outras localidades em meio a processos migratórios em busca de uma melhor qualidade de vida, que, entretanto, acabaram por retornar à comunidade. A rotatividade da renda é constante, o pouco dinheiro que recebem é logo gasto com necessidades básicas, de vestuário à materiais construtivos para as habitações como pregos ou o próprio barro para as

paredes das habitações. Soma-se a isso a criação animal de base, com origem na suinocultura e a avicultura de subsistência, como fonte nutritiva complementar. A caça, ainda que escassa, faz parte dessa realidade, sendo feito o adestramento de cães e até gatos, na tentativa da coleta de animais silvestres com fins alimentícios, em situações de baixa renda extrema. *

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FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 55 - RECURSO HÍDRICO INTERMITENTE UTILIZADO PELOS MORADORES


RECURSOS

HÍDRICOS

C

onsiderando a água como fator essencial na convivência com o semiárido, a escassez de recursos hídricos nas proximidades agrava o quadro precário da comunidade, influindo diretamente na qualidade de vida dos habitantes. Depende-se da água para a criação de animais, alimentação, condições de higiene, construção, manutenção das habitações, dentre outros fatores, portanto, a água é a base para a habitabilidade. A fonte de água de consumo humano, atualmente, advém do abastecimento de cisternas de placa, fornecidas por diferentes patrocinadores, incluindo doadores do projeto Águas Transformando Vidas do Comitê Bentinho (2017), o Programa Cisternas (2013) realizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e pelo programa Sistema Bioágua (2014) do financiado pela Fundação Banco do Brasil (FBB), após uma visita da relatora da ONU, Catarina Albuquerque, em 2013, a qual constatou a disparidade da comunidade em comparativo a outras do entorno de Itapipoca, na escassez distributiva de acesso a água e às necessidades básicas hidrossanitárias. O programa geral para a comunidade consiste num sistema, separado em duas categorias classificatórias para os usos da água: 1ª água - destinada ao abastecimento

para consumo humano, após tratamento simplificado, a qual deveria vir da captação da água proveniente das chuvas; 2ª água - à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas, e à dessedentação de animais, com os quais o público possa vir a ter contato direto, a qual seria abastecida através de um poço cartesiano. Entretanto, o abastecimento de tais cisternas, após finalizadas, foi intermediado apenas por carros pipa, fornecidos pelo estado, somados ao fato de que apenas 5 dentre as 30 habitações possuem sistema de capitação de águas pluviais para o abastecimento das cisternas, ressaltando que as calhas e conexões foram adquiridas por renda própria dos moradores. Anteriormente ao programa de cisternas, desde a sua origem, a comunidade usufruía de um pequeno recurso hídrico intermitente, sendo este a única fonte hídrica utilizada pelos habitantes, localizado a 730 metros a partir da extremidade leste do território de ocupação. Tal recurso hídrico era avaliado por um profissional da saúde uma vez por ano na estação das chuvas para averiguar sua salubridade, em decorrência de casos de doenças infecciosas que assolaram os habitantes da comunidade. Atualmente o recurso é utilizado apenas para o lazer por jovens e crianças.

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72

FIG. 56 - TIPOLOGIA HABITACIONAL.


ASPECTOS

TIPOLÓGICOS

São residências térreas de pau-apique, com estruturas e coberta em madeira e fechamento de taipa e sem definições territoriais exatas de entorno, definindo uma proximidade das edificações e cercados apenas para quem possui criação de subsistência de aves e suínos. Sendo predominantemente de taipa, as habitações possuem aspecto rudimentar, dotando de energia elétrica apenas para iluminação e alimentação de poucos eletrodomésticos, em geral televisores. Em sua totalidade, as habitações não dispõem de saneamento básico, os dejetos são feitos a céu aberto e o lixo produzido não possui tratamento, fator que potencializa a proliferação de doenças. Vale-se ressaltar que apesar de possuírem uma caraterística formal aparentemente uniforme, as flexibilizações habitacionais são recorrentes devido a necessidade de novos usos ao longo da estadia do sertanejo na comunidade, sendo estes os principais fatores de flexibilização: aumento de populacional e geração de novos núcleos familiares, conforto e fatores ambientais externos (insolação). Com base nestes fatores, organizouse um estudo destas flexibilizações e morfologias espaciais das habitações da comunidade. Em uma análise inicial, consta-se que as edificações são compostas

de elementos gerais, que foram catalogadas por três zonas de ambientações principais baseadas na classificação de CARDOSO (2008): Zona do corpo (Zc): dormir, estar, banheiro. Zona de preparo (Zp): preparo e refeição. Zona de troca (Zt): varanda e alpendre, transição. A habitação em fase inicial normalmente possui apenas as Zc e Zp, que ao longo do tempo após percebidas as variações térmicas e luminicas excedentes provocadas pela insolação, são adicionadas varandas e/ou alpendres (Zt). A Zona do Corpo pode ser expandida na ambientação dos dormitórios devido as relações de coabitação familiar, sendo adicionados um ou mais quartos na edificação original.

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Das flexibilizações constatadas in loco, foram estudadas 4 tipologias divergentes como representatividade da comunidade em sua totalidade, que somadas de entrevistas aos moradores foram averiguadas suas devidas expansões. As personalidades proprietárias de tais habitações, são predominantemente femininas, matriarcas de seus núcleos familiares, sendo ambas pertencentes a família mais antiga da comunidade raposa do trilho. Com grau de parentesco direto, foram entrevistadas três gerações de mulheres da comunidade que descreveram suas respectivas habitações, construídas por elas, sendo destacadas suas dificuldades e necessidades prioritárias, e como discorrem os processos expansivos ao longo de sua construção. *

FONTE: ACERVO PESSOA

A

s habitações são dispostas entorno de um descampado dentre a densa caatinga arbustiva, tendo sua maioria com orientação norte-sul, com características formais simples, de uma essência e constância de fácil constatação, onde a habitação “brota” do chão como uma árvore em meio ao solo da caatinga. Portanto, a arquitetura se manifesta de forma cultural, de percepção comum, característica da comunidade.


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FIG. 57 - CASA DA DONA MARIA


FONTE: ACERVO PESSOAL

75


76

Proprietária: Maria Andrade Rodrigues Marques Idade: 68 anos Renda: Parentesco: Possui 5 filhos, 27 netos, 9 bisnetos. Sendo Tereza Marques Alves (irmã), Antônia Marques Alves (sobrinha), Cristiane Marques Alves (sobrinha-neta). FIG. 58 - DONA MARIA

FONTE: ACERVO PESSOAL

Aposentadoria e Bolsa Família.


2º Etapa

3º Etapa

QUARTO

QUARTO + COZINHA

QUARTO + COZINHA +SALA

FIG. 59 - PROGRESSÃO EXPANSIVA (MARIA)

HABITAÇÃO nº 1

especiarias.

Coberta:

A expansão dentro da Zona do Corpo (Zc) em uma área social como a sala, surge da necessidade da interrelação com amigos e familiares, já na Zona de Preparo (Zp) a expansão se torna a par da cozinha, em uma área independente para o tratamento do alimento de origem animal, o qual é abatido e higienizado anteriormente ao cozimento, atuamente considerado Zona de Troca (Zt).

Telha Colonial

FIG. 60 - PLANTA BAIXA (MARIA)

Estrutura: Madeira sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia) e carnaúba (Copernicia prunifera) – aplicada diretamente no solo. Fechamento: Taipa

Piso: Cimento aplicado diretamente no solo Ambiências: Uma sala, uma cozinha, um quarto, área de expansão inacabada, uma horta, uma área de preparo. Cisterna:

FONTE: ACERVO PESSOAL

1º Etapa

4 3

7779

2

Construção: A proprietária construiu a habitação com ajuda dos filhos e netos, sendo o processo construtivo executado com a técnica de taipa de mão, levando em torno de 1 semana para o levantamento das paredes, e 1 dia para a execução e fechamento do telhado. Inicialmente foram feitos apenas o quarto, logo após, a cozinha, e posteriormente houve a expansão frontal da habitação, originando a sala de estar/jantar. Além disso, aos fundos da edificação há uma expansão inacabada da cozinha, que será destinada ao preparo de alimentos, a qual atualmente encontra-se exterior a edificação, juntamente com o cultivo de uma horta elevada, com temperos e

1 LEGENDA

Zona do Corpo(Zc) Zona de Preparo (Zp) Zona de Troca (Zt) AMBIENTES 1 SALA 2 QUARTO 3 COZINHA 4 EXPANSÃO INACABADA (serviço e preparo)

FONTE: ACERVO PESSOAL

Possui uma cisterna, com captação.


78

FIG. 61 - CASA DA DONA TEREZA


FONTE: ACERVO PESSOAL

79


80

Proprietária: Tereza Marques Alves Idade: 65 anos Renda: Aposentadoria e Bolsa Família. Possui 8 filhos, 20 netos, 3 bisnetos. Sendo Maria Andrade Rodrigues Marques (irmã), Antônia Marques Alves (filha), Cristiane Marques Alves (neta). FIG. 62 - DONA TEREZA

FONTE: ACERVO PESSOAL

Parentesco:


2º Etapa

3º Etapa

SALA

SALA + QUARTO + ANTESALA

SALA + QUARTO + ANTESALA + COZINHA

FIG. 63 - PROGRESSÃO EXPANSIVA (TEREZA)

Estrutura: Madeira sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia) e carnaúba (Copernicia prunifera) – aplicada diretamente no solo. Fechamento: Taipa com revestimento a base de cimento. Coberta: Telha Colonial Piso: Terra batida Ambiências: Uma sala, uma cozinha, um quarto, antessala intermediária, pequena criação de ovinos e um caprino.

esta última que possui múltipla funcionalidade, tanto para transição quando como um segundo quarto na recepção de visitas, e por último a outra expansão ao fundo delimitando área da cozinha. Além disso, atualmente a área externa a edificação, delimitada, é destinada a uma pequena criação de ovinos, juntamente a criação de um caprino. A expansão dentro da Zona do Corpo (Zc) em uma área individual, o quarto, advém da necessidade básica de dormitório assim como a cozinha, na Zona de Preparo (Zp), para o preparo e cozimento do alimento. A partir da necessidade da inter-relação com amigos e familiares, a antessala acaba por aderir a função de dormitório na recepção destes, entrando para Zona do Corpo (Zc). FIG. 64 - PLANTA BAIXA(TEREZA)

4

Cisterna: Possui uma cisterna, com captação. Construção: A proprietária construiu a habitação com ajuda de dois filhos, sendo o processo construtivo executado com a técnica de taipa de mão, levando em torno de 1 semana para o levantamento das paredes de cada ambiente. A proprietária relata que por possuir inexperiência, baixa renda e falta de auxílio, a execução dos ambientes foi prolongada, passando um período de quase 1 ano com apenas a sala, inacabada, com noites dormidas ao relento. Inicialmente foram feitos apenas a sala, e posteriormente houve a expansão ao fundo da habitação, originando mais dois ambientes, quarto e antessala,

8183

3

2

1 LEGENDA

Zona do Corpo(Zc) Zona de Preparo (Zp) AMBIENTES 1 SALA 2 QUARTO 3 ANTESALA 4 COZINHA

FONTE: ACERVO PESSOAL

HABITAÇÃO nº 2

FONTE: ACERVO PESSOAL

1º Etapa


82

FIG. 65 - CASA DA DONA ANTÔNIA


FONTE: ACERVO PESSOAL

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Proprietária: Antônia Marques Alves Idade: 45 anos Renda: Parentesco: Possui 7 filhos, 4 netos. Sendo Tereza Marques Alves (mãe),Maria Andrade Rodrigues Marques (tia) e Cristiane Marques Alves (filha). FIG. 66 - DONA ANTÔNIA

FONTE: ACERVO PESSOAL

Bolsa Família.


SALA+ 2 QUARTOS + COZINHA + SERVIÇO

SALA+ 2 QUARTOS + COZINHA + SERVIÇO + VARANDA

FIG. 67 - PROGRESSÃO EXPANSIVA (ANTÔNIA)

HABITAÇÃO nº 3 Estrutura: Madeira - sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia) e carnaúba (Copernicia prunifera) – aplicada diretamente no solo. Fechamento: Taipa Coberta: Telha Colonial Piso: Cimento aplicado diretamente no solo e terra batida em alguns ambientes. Ambiências: Uma sala, uma cozinha, dois quartos, uma área de serviço, uma varanda. Cisterna: Não possui cisterna.

serviço, e por último a outra expansão, desta vez frontal, delimitando área da varanda. Além disso, atualmente foram adicionadas a edificação, o revestimento cimentício na sala, assim como a fachada frontal. A expansão dentro da Zona de Preparo (Zp), surge pela divisão dos serviços de alimentação e lavanderia. Junto a isso, a partir da necessidade da inter-relação com amigos e familiares e contato exterior, através da intercessão cultural entre público e privado, a varanda é adicionada a edificação, originando o surgimento Zona de Troca (Zt). FIG. 68 - PLANTA BAIXA (ANTÔNIA)

4

8587

3

2

1

2

Construção: A proprietária construiu a habitação com ajuda dos 7 filhos, sendo o processo construtivo executado com a técnica de taipa de mão, levando em torno de 2 semanas para o levantamento das paredes de cada ambiente. A proprietária relata que por possuir, inexperiência e a área do barreiro recentemente encontrar em propriedade privada, a execução dos ambientes foi prolongada, passando um período de quase 1 ano entre construções e demolições dos ambientes, sendo refeita 3 vezes até a etapa final. Inicialmente foram feitos sala, dois quartos e cozinha, posteriormente houve a expansão ao fundo da habitação, originando mais a área de

FONTE: ACERVO PESSOAL

SALA+ 2 QUARTOS + COZINHA

3º Etapa

2º Etapa

5 LEGENDA

Zona do Corpo(Zc) Zona de Preparo (Zp) Zona de Troca (Zt) AMBIENTES 1 SALA 2 QUARTO 3 COZINHA 4 SERVIÇO 5 VARANDA

FONTE: ACERVO PESSOAL

1º Etapa


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FIG. 69 - CASA DA DONA CRISTIANE


FONTE: ACERVO PESSOAL

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Proprietária: Cristiane Marques Alves Idade: 22 anos Renda: Parentesco: Possui 2 filhos. Sendo Tereza Marques Alves (avó),Maria Andrade Rodrigues Marques (tia- avó) e Antônia Marques Alves (mãe). FIG. 70 - DONA CRISTIANE

FONTE: ACERVO PESSOAL

Bolsa Família.


SALA+ QUARTO + CORREDOR + COZINHA

3º Etapa

2º Etapa

SALA+ 2 QUARTOS + CORREDOR +COZINHA

SALA+ 2 QUARTOS + CORREDOR +COZINHA + BANHEIRO

FIG. 71 - PROGRESSÃO EXPANSIVA (CRISTIANE)

HABITAÇÃO nº 4 Estrutura:

o qual é alimentado por uma caixa d’água elevada, servindo apenas para o banho.

Telha Colonial

A expansão dentro da Zona de Corpo (Zp), surge pela necessidade de privacidade entre casal e filhos, formatando a divisão do quarto em dois e junto a isso a necessidade de infraestrutura básica para higiene, o banheiro, que fez parte de um programa inicial para a comunidade, encontra-se atualmente cancelado por falta de financiamento.

Piso:

FIG. 72 -PLANTA BAIXA(CRISTIANE)

Madeira - sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia) e carnaúba (Copernicia prunifera) – aplicada diretamente no solo. Fechamento: Taipa com reboco cimentício. Coberta:

Cimento aplicado diretamente no solo. Ambiências:

FONTE: ACERVO PESSOAL

1º Etapa

5 8991

Uma sala, uma cozinha, dois quartos, um corredor, um banheiro.

3

Cisterna:

Construção: A proprietária construiu a habitação com ajuda da mãe e irmãos, sendo o processo construtivo executado com a técnica de taipa de mão, levando em torno de 1 semana para o levantamento das paredes de cada ambiente. A proprietária relata que para ela a execução foi facilitada comparado ao processo construtivo da habitação da mãe, Antônia, visto que foi encontrado um barreiro em área não privatizada na região, além da experiência anterior da família na área construtiva. Inicialmente foram feitos sala, quartos e cozinha, posteriormente houve a divisão do ambiente do quarto, que agora são dois ambientes, e por último uma expansão originando o banheiro, desta vez ao fundo da edificação em uma área externa ao corpo principal,

2

4

2 1

LEGENDA

Zona do Corpo(Zc) Zona de Preparo (Zp) Zona de Troca (Zt) AMBIENTES 1 SALA 2 QUARTO 3 COZINHA 4 CORREDOR 5 BANHEIRO

FONTE: ACERVO PESSOAL

Possui cisterna com captação.


D

os resultados obtidos, percebeu-se que forma inicial e a derivação da unidade habitacional, atrela-se aos parâmetros encontrados na estrutura funcional e nos arranjos entre os ambientes, normalmente em proporções (1x1; 1x1/2) compondo combinações e divisões diversificadas. Além disso, constatou-se que a progressão dos ambientes é relativa a capacitação da mão-de-obra existente, iniciando sempre pela Zona do Corpo (Zc), constituindo de uma área de estar ou dormitório, em seguida a execução de uma Zona de Preparo (Zp) como a cozinha, e só ao final, quando parecer necessário ao usuário, uma Zona de Troca (Zt), constituída por um alpendre ou varanda.

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Todas ambientações compõem um suporte ao modo do vida do sertanejo, principalmente na Zona de preparo, onde ocorre o abate e preparação do alimento, a fixação do tradicional fogão a lenha, assim como na Zona de troca o alpendre com contato com a "rua", um local de reunião social com amigos e parentes. Portanto, nos cabe perceber este modo e qualifica-lo a atender a essas necessidades, de maneira que haja um melhor aprovitamento destes espaços. *


FONTE: ACERVO PESSOAL

91

FIG. 73 - PEDRA RACHÃO NO INTERIOR DA CASA DA DONA MARIA.


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FIG. 74 - FOGÃO A LENHA DA CASA DA DONA TEREZA


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 75 - TRAMA DE MADEIRA DA CASA DA DONA MARIA.


PROCESSO

CONSTRUTIVO

O

processo de construção da habitação de taipa na comunidade é, em média, dentre 1 mês a 1 ano. Essa variabilidade ocorre, pois, o conhecimento construtivo se limita à apenas três habitantes da comunidade, logo, os demais permanecem construindo de forma instintiva ocasionando na manutenção e desconstrução constante da estrutura até que seja considerada aceitável para a habitabilidade. Em sua fase inicial busca por matéria prima é primordial pois, é a partir dela que será executada toda a infraestrutura, desde a base até sua finalização, sendo esta encontrada pelos arredores da comunidade. Segundo os moradores, a madeira utilizada para as estruturas da casa de taipa é extraída da própria caatinga. O sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia) é utilizada para a trama e para a forquilhas e a carnaúba (Copernicia prunifera) para o madeiramento do telhado. Anteriormente, o barro era comprado pelos habitantes, adquirido com o pouco dinheiro que acumulavam durante o mês, porém recentemente houve a descoberta de um barreiro num raio de 3 km da comunidade, descartando a necessidade de compra do material. Para o fechamento da coberta utiliza-se a telha colonial, normalmente coletada nos resíduos de

obras ou comprada nos arredores da cidade. Tendo-se coletado a matéria prima, inicia-se o procedimento da obra. Para medição dos ambientes da futura habitação, os habitantes medem no solo com suas próprias passadas, sendo elas equivalentes a 60 cm cada, e marcam com pequenos pedaços de madeira as extremidades dos espaços. Em média cada casa possui 10 metros de comprimento por 6 metros de largura. Feito as medições no solo, finca-se as os apoios verticais, denominados de esteios, nas extremidades de cada ambiente, sendo cada esteio fixado ao solo com barro. O travamento das peças verticais se dá com a colocação das peças horizontas ao topo dos esteios. Logo em seguida, cava-se no solo uma vala de aproximadamente 30 cm de profundidade, de esteio a esteio, para a fixação das peças verticais que irão delimitar as paredes, as ripas verticais, que além de fixadas ao solo são fixadas ao travamento horizontal ao topo. Depois de fixadas as ripas verticais, fixam-se as ripas horizontais, formando toda a estrutura. A coberta, em meio ao processo, é instalada antes do início da construção definitiva das paredes, permitindo que esta fique protegida da incidência do

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sol e da chuva. O madeiramento da coberta é sustentado por forquilhas, e seu fechamento é feito com telha convencional. Com a estrutura posicionada, escolhem-se os locais onde serão posicionadas as aberturas, portas e janelas, podendo ser feita pela quebra estratégica da estrutura recém construída ou pela escolha estratégica dos vãos no próprio processo.

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Feito isso, após instaladas portas e janelas, executasse a mistura do barro para o fechamento das paredes, numa mescla de argila e areia a água é adicionada sem excesso e de pouco a pouco até que seja formada a massa homogênea. O barro é aplicado na estrutura de madeira apenas com as mãos, internamente e externamente ao mesmo tempo, sendo arremessado com uma certa intensidade para preencher toda a trama. Finalizado o processo, se espera a secagem e para eles já se é considerável pronta para a habitabilidade. O processo incompleto da casa de taipa na comunidade transpassa problemáticas posteriores a ocupação. A as construções em terra não resistem a umidade, ou seja, em épocas de maior pluviosidade a taipa desprotegida da insolação e em contato direto com o solo se deteriora, a ponto de necessitar não só a manutenção, mas a reconstrução da habitação. Além do que, com a desidratação da taipa, ocasionada por sua não proteção, faz com que naturalmente ocorra o surgimento fissuras ao longo do tempo, tendo a necessidade de revestimento posterior, no qual muitas vezes é mal executado, com materiais como o cimento, o qual não permite a taipa “respirar”, apenas camuflando fissuras ou infiltrações. A seguir seram mostrados os materiais, além da taipa, utilizados no processo construtivo das habitações

assim como a forma como são adquiridos, seja por extração ou compra. *


DIAGRAMA

PROCESSO CONSTRUTIVO

COBERTA

TAIPA

FIG. 76 - PROCESSO CONSTRUTIVO

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FONTE: ACERVO PESSOAL

TRAMA


98

FIG. 77 - CORTE DA HABITAÇÃO DE TAIPA FEITA PELA COMUNIDADE


FONTE: ACERVO PESSOAL.

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SABIÁ Mimosa caesalpiniaefolia

Função: Estrutural

O

100

sabiá é uma árvore comum à caatinga, sedo ele não endêmico do semiárido, visto que ele também ocorre no bioma do cerrado. Podendo chegar a 10 m de altura em seu porte pleno, é caracterizado por sua madeira dura e compacta, possuindo uma grande durabilidade mesmo com divergências climáticas, como a exposição a umidade e insolação. Sua resistência demonstra seu potencial construtivo, o que o torna essencial na construção das habitações de taipa. A trama que compõe o “esqueleto” das paredes e as forquilhas de sustentação do telhado são feitas dos galhos provenientes do sabiá, que apesar da variabilidade podem ser encontrados nas dimensões de 5 a 20 cm de diâmetro e de 2 a 3 m de comprimento, o que possibilita na execução de paredes até 2,8 m de altura. Além da trama e forquilhas, os usos construtivos do sabiá se expandem na confecção de esteios e vergas de sustentação e até estacas para cercas externas. De fato, toda a anatomia da planta é aproveitável e não se restringe aos fins construtivos: suas folhas possuem alto valor forrageiro, essencial na alimentação animal; sua casca quando cozida auxilia no tratamento de bronquites sendo ela ingerida como tônico para tosse, o que ressalta seu potencial medicinal;

além de seu tronco e galhos possuírem grande potencial na produção de lenha para abastecer os fornos das habitações da comunidade. *


FONTE: ACERVO PESSOAL.

101

FIG. 78 - ESTOQUE DE MADEIRA SABIÁ


CARNAÚBA Copernicia prunifera

Função: Estrutural

A

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carnaúba, popularmente conhecida como “árvore da vida” pelo sertanejo, é natural e endêmica do semiárido e é possuidora de um aproveitamento múltiplo e integral de seus recursos, atendendo a diversos usos em meio a vivência no semiárido. Podendo chegar a 15 m de altura em seu porte pleno com troncos de 10 a 20 cm de diâmetro, possui um lenho denso e maciço e sua madeira é bastante utilizada como emadeiramento: esteios, ripas, terças, caibros e até mesmo pilares, sendo o último uso não utilizado pelos moradores. Habitações inteiras podem ser construídas a partir dos subprodutos da carnaubeira, incluindo o mobiliário interno. De acordo com FROTA e LE ROY(1978), a parte reta do tronco e boa para construção, é de aproximadamente até 4,50 m de comprimento, podendo ser utilizada em balanço de até um metro, com o peso do telhado, sendo resistente e durável, desde que seja protegido do contato com a umidade. A carnaúba é ideal para a modulação de ambientes amplos, potencializando a mobilidade interna do habitante. Assim como a árvore sabiá, a carnaúba não se restringe aos fins construtivos: sua palha forte e lisa é essencial na confecção de assessórios e artefatos como peneiras, vassouras, sacos ou trançados; seus

frutos constituem de alto valor nutricional, promovendo uma opção na alimentação animal; além de conter raízes com propriedades medicinais que contribuem no tratamento de doenças venéreas e reumatismo. A carnaúba é a árvore símbolo do Ceará e um grande trunfo na agricultura familiar. *


FONTE: ACERVO PESSOAL.

103

FIG. 79 - CARNAÚBA COMO MADEIRAMEITO DE TELHADO


TELHA COLONIAL Função: Vedação

A

telha cerâmica colonial é utilizada como fechamento para a estrutura do telhado, comumente comprada com muito esforço pelos habitantes da comunidade devido à baixa renda, os quais juntam o material, pouco a pouco, visivelmente encontrados amontoados na fachada de suas casas.

104

Ao longo do tempo, sem instalação adequada, o fechamento de telha colonial acaba por apresentar goteiras, culminando na infiltração de água para o interior da habitação Além disso, a telha colonial é uma cobertura leve de baixa inércia térmica, a qual permite mais facilmente transferências de calor interna e externa, fato que agrava as sensações de desconforto térmico na edificação, por não atrasar o calor intenso durante o dia ou segurar o mesmo durante a noite fria. Portanto, a telha colonial só se torna realmente viável para as variações climáticas com o auxílio de uma camada isolante, juntamente com um maior custo benefício do material para os moradores, fato esse que acaba por inviabiliza-lo. *


FONTE: ACERVO PESSOAL.

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FIG. 80 - TELHADO DE TELHA COLONIAL


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 81 - DETERIORAÇÃO DA TAIPA


DANOS CONSTRUTIVOS

UMIDADE

U

m dos grandes problemas encontrados nas construções de terra é a relação com a umidade que em contato direto com o material promove o acumulo de líquidos internos, fator este que, ao longo do tempo, desabilita suas capacidades estruturais, ocasionando fissuras e desprendimento do material. Isso ocorre devido a ausência de sistemas de coberta, drenagem ou fundações eficazes na proteção da edificação contra a água proveniente de estações chuvosas. Decorrentes de uma exposição direta, dos danos relativos a umidade, a mais encontrada nas habitações da comunidade se apresenta na forma de dano na parte inferior das paredes, que conectadas diretamente ao solo, sem elevações, são facilmente atingidas por acúmulos ou enxurradas de água formadas pela chuva. Soma-se a isso a ausência de piso na maioria das edificações, estas que são de chão de terra batida, que se tornam facilmente alagáveis agravando o quadro de deterioração inferior das paredes de taipa. Vale ressaltar que esse tipo de patologia ocorre rapidamente, devido ao contato direto com maiores volumes de água. No caso de exposição a longo prazo, o acumulo de umidade ocorre

de dentro para fora das paredes de taipa, sendo este de difícil identificação imediata, pois a mesma demora a se instalar na superfície do material. *

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FIG. 82 - DETERIORAÇÃO INFERIOR POR UMIDADE E APLICAÇÃO DE REVESTIMENTO CIMENTÍCIO


FONTE: ACERVO PESSOAL

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FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 83 - FISSURA DE ESQUADRIA


DANOS CONSTRUTIVOS

FISSURAS,

RACHADURAS E

INCLINAÇÕES

F

issuras superficiais ou rachaduras profundas na alvenaria de taipa são recorrentes e possuem causas variadas, estas que são consequências da má execução do processo construtivo. Dentre as mais encontradas nas edificações da comunidade são provocadas por assoreamento do solo, umidade, sobrecarga por ações mecânicas e efeitos de dilatação e contração pela temperatura. Tais ações propiciam na formação erosiva, ou até mesmo na alteração da aderência entre os componentes estruturais devido à falta de homogeneidade. A partir de análises in loco, datou-se a presença de gretamento massivo, com fissuras generalizadas superficialmente que podem culminar na exposição da trama interna, caracterizando o desmoronamento gradual da parede de taipa, fazendo-se necessárias continuas manutenções ao fechamento. Além disso, existem gretamentos específicos ocasionados por aberturas de vãos e portas, que quando mal executadas, sejam com vãos grandes ou pequenos de madeiramento pouco incorporado somados a ausência de detalhes construtivos, não dissipam corretamente as tensões transmitidas por deformidades estruturais.

Tal fator de dissipação vale para rachaduras provenientes da força das cargas exercidas pelo peso da estrutura da coberta, visto que os habitantes se utilizam de uma madeira de menor densidade e superfície de contato, o sabiá, para suportar uma madeira de maior diâmetro e massividade, a carnaúba, ocasionando em rachaduras verticais na área superior da parede de taipa. Apesar de possuir demasiada resistência, a madeira do sabiá sem suporte de maiores agentes dissipadores de sustentação, acabam por demonstrar danos como inclinações e desníveis nas paredes e estruturas da edificação, que consequentes de cargas horizontais acabam por apresentar deformações geométricas ao longo do tempo, afetando diretamente na estabilidade da edificação, incluindo a deformação de esquadrias e a posterior desvinculação dessas peças. *

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FIG. 84 - DESNÍVEL POR ASSOREAMENTO


FONTE : ACERVO PESSOAL

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FIG. 85 - DETERIORAÇÃO POR APLICAÇÃO DE REBOCO CIMENTÍCIO


FONTE : ACERVO PESSOAL

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FONTE: ACERVO PESSOAL

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FIG. 86 - CISTENA DE PLACA.


PROBLEMAS INFRAESTRUTURAIS

CAPTAÇÃO DE ÁGUAS

PLUVIAIS E REDE

HIDROSSANITÁRIA

A

falta de acesso as redes de saneamento é uma realidade comum às comunidades rurais inseridas no semiárido, sendo este um fator agravante na qualidade de vida do sertanejo. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a falta de saneamento resultado da crise da água é a segunda maior causa principal de mortalidade infantil no mundo, sendo elas vítimas de doenças parasitárias intestinais ou disenterias. Soma-se a isso, a captação de recursos hídricos sem tratamento ou de fontes insalubres, sejam eles poços, chafarizes, massas de água periódicas ou perenes, dentre outras, aumentando fatores de risco de contaminação. Na comunidade Raposa do Trilho essa realidade não é muito diferente. Apesar de ser recentemente agraciada com o programa governamental P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas), a comunidade não provém de água tratada ou de sistemas de captação pluvial, em decorrência, as cisternas existentes são somente abastecidas por carros-pipa periodicamente, enfatizando que apesar de poderem armazenar a água, há um incentivo à dependência recorrente de recursos do Estado para a manutenção de sua subsistência. Tal ação/ fato pode ser

visto como contraproducente para o próprio governo visto que, devido a falta dos sistemas de captação, maior a renda que deve ser investida no translado da água pelos caminhões pipa, que são e devem ser mantidos por ele. Além disso, a disposição e a exposição das cisternas ao longo da comunidade aumentam a possibilidade de evaporação da água armazenada, visto que, apenas semienterradas, recebem insolação direta durante o dia, agravando a escassez recorrente. Juntamente a isso, as habitações desproveem de sanitários e esgotamento, restando aos habitantes a única alternativa de realizar suas necessidades fisiológicas a céu aberto, que além do mal odor provocado os dejetos agravam o risco de contaminação, alterando a salubridade do ambiente. *

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118

FIG. 87 - CISTERNA DE PLACA SEM CAPTAÇÃO.


FONTE: ACERVO PESSOAL

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS

PROTÓTIPO

INFONAVIT CASAPÚBLICA® | SINALOA, MÉXICO Clima: Quente e seco Referência: Flexibilidade de expansão, bioclimatismo, bioconstrução.

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uso de materiais de baixo custo como o bambu, a madeira, e o mínimo de concreto para fundação e azulejo para áreas molhadas. Para potencializar a inércia térmica na edificação a coberta elevada barra a insolação direta formando um bolsão de térmico entre ela e a laje de terra. Cada coberta possui apenas uma água para maior absorção da radiação solar, que a medida que a edificação se expande ambas desaguam para um pátio central formado entre os dois blocos de ambientes, o qual possui uma cisterna pluvial que armazenará a água das chuvas drenada pelo solo. * FIG. 88 - ETAPAS DE CONSTRUÇÃO

. FONTE: ARCHDAILY

A

través de um projeto de pesquisa organizado pelo Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Sustentável (CIDS) do Instituto do Fundo Nacional para a Habitação dos Trabalhadores (INFONAVIT), denominado ‘Del Territorio al Habitante’ (‘Do território ao habitante’ em português), que procura abordar o desenvolvimento cultural, sócio-ambiental, espacial e funcional das soluções habitacionais diferenciadas pela localização, de forma a melhorar o caráter qualitativo das habitações de baixa renda estabelecendo a aplicabilidade de processos normativos, conceituais e arquitetônicos para este tipo de construção, a habitação desenvolvida pelo escritório casaPública foi um dos 84 projetos selecionados para participar de tal pesquisa. Nela se reúnem conceitos de bioclimatismo e bioconstrução atrelados a técnicas modernas e de flexibilidade espacial progressiva dividida em quatro etapas, reunindo ambientações de acordo com as necessidades do usuário. A bioconstrução aparece com a utilização da técnica de taipa-de-pilão base estrutural de pedra, atrelada ao


FONTE: ARCHDAILY

FIG. 89 - HABITAÇÃO SOCIAL POR casaPública.

FONTE: ARCHDAILY

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FIG. 90 - ESTUDO BIOCLIMÁTICO.

FIG. 91 - MATERIAIS E ESTRUTURA.


REFERÊNCIAS PROJETUAIS

CASA DE CAMPO

ECOARQ | SÃO PAULO, BRASIL Clima: Quente e temperado Referência: Técnica construtiva, bioclimatismo e bioconstrução, redução de custo.

N

Apesar da técnica tradicional, o projeto resulta em linguagem contemporânea, com uma execução eficaz na distribuição das cargas estruturais. Fundação de pedra argamassada elevando as paredes de terra, pilares feitos de eucalipto devido sua rigidez e resistência, a trama interna feita de bambu permitindo um trançado flexível, além do barro FIG. 92 - SALA DE ESTAR retirado diretamente do local, adição de novos materiais resultou apenas nas esquadrias, vedação de telhado e sistema hidrossanitário. Além disso sistemas de aproveitamento passivos da luz para o aquecimento interno permitem uma maior relação do interior com o exterior, acompanhados com a adição de cores fortes em cada parede, saindo do tradicional terroso da taipa, formando uma residência viva em meio ao exterior verde.

FONTE: ECOARQ

122

FONTE: ECOARQ

as proximidades de Campos do Jordão, em que a dificuldade de acesso de estradas de terra, subidas íngremes, pontes precárias, barrancos e trechos estreitos, levou ao uso do pau-a-pique como técnica construtiva, minimizando o transporte de cargas de maior peso.

FIG. 93- FOGÃO A LENHA.


FONTE: ECOARQ

FIG. 94 - CASA DE CAMPO

FONTE: ECOARQ

FONTE: ECOARQ

FIG. 95 - CONSTRUÇÃO DE TAIPA-DE- MÃO

FONTE: ECOARQ

123

FIG. 96 - TRAMA INTERNA

FIG. 97 - DETALHE MADEIRA


REFERÊNCIAS PROJETUAIS

RESIDÊNCIA SOCIAL

BIOCONSTRUÍDA MARGEM ARQUITETURA | MARANHÃO, BRASIL Clima: Quente e úmido Referência: Bioconstrução, baixo custo, capacitação, autoconstrução.

FIG. 98 - PÓS SECAGEM DO ADOBE

Os espaços foram projetados de acordo com as necessidades de uma família de três pessoas, que de forma participativa foram escolhidas duas técnicas bioconstrutivas: o super adobe para as paredes externas e adobe para as internas, este que já fazia parte da tradição local. Soma-se a isso a execução do reboco natural para acabamento, técnica que também é de domínio dos habitantes.

FONTE: CECÍLIA PROMPT (ACERVO)

124

FONTE: CECÍLIA PROMPT (ACERVO)

A

través de uma consultoria prestada ao Proecotur, Ministério do Meio Ambiente, o projeto abrangeu um curso de bioconstruçã direcionado aos moradores locais da Ilha Grande do Paulino, localizado no Delta do Parnaíba, Maranhão. O curso se dividia em teórico e prático, sendo que a parte prática foi realizada por meio da construção de uma casa de uma das famílias residentes, resultando na execução de uma habitação de baixo custo, confortável e adequada ao clima local e ambiental. O curso por fim resultou na capacitação e conscientização dos moradores, que têm como os recursos naturais sua fonte principal de sobrevivência.

* FIG. 99 - SOVAGEM DO SUPERADOBE


FONTE: CECÍLIA PROMPT (ACERVO)

FIG. 100 - RESIDÊNCIA BIOCONSTRUÍDA

FONTE: CECÍLIA PROMPT(ACERVO)

FONTE: CECÍLIA PROMPT(ACERVO)

FIG. 101 - PAREDE DE ADOBE COM SUPERADOBE

FONTE: CECÍLIA PROMPT(ACERVO)

125

FIG. 102 - PREPARO DA FUNDAÇÃO

FIG. 103 - PILARES DE CARNAÚBA


FONTE: ACERVO PESSOAL

126

FIG. 104 - HABITAÇÃO DE TAIPA INACABADA


4

HABITAR O SEMIÁRIDO

127


O PROJETO

O

projeto Habitar o Semiárido nasce como uma resposta a necessidade existente de promover uma habitação digna para os residentes de baixa renda do m0.. eio rural do semiárido, a qual possua melhores soluções arquitetônicas dentro dos parâmetros e tecnicidades autônomas já permeados por eles.

128

Levou-se em conta muitos aspectos sociais no desenho da proposta, tais como: renda e atividade econômica, dinâmicas sociais, núcleos familiares "atípicos" onde pessoas com diferentes especificidades podem ser encontradas, sendo elas de famílias nucleares à coabitações familiares, além de aspectos construtivos culturalmente tradicionais e vernaculares. No estudo das habitações, algumas características se ressalvam culturalmente como:

• O telhado principal constituído por duas águas;

é

• A área de serviço é utilizada também como espaço para o preparo de alimentos integrada a localização do tradicional fogão à lenha; • O banheiro, quando existe, fica localizado na área externa, integrandose à área de serviço; • A utilização de áreas com contato externo como alpendres ou varandas;

O envolvimento da comunidade beneficiada no processo de construção, envolve a execução eficaz da técnica de pau-a-pique, um sistema construtivo a base de terra e madeira, comum a realidade do sertanejo inserido no semiárido, o que eventualmente e organicamente desencadeará sua repercussão dentro das diversas comunidades rurais. O projeto é desenvolvido para ser construído com fechamento em taipa e palha, materiais que permitem obter um excelente desempenho térmico em zonas áridas, considerando que estas serão habitações que normalmente não terão sistemas artificiais de refrigeração. A base dos materiais utilizados no projeto é facilmente encontrada em meio ao bioma Caatinga, sendo caracterizada como uma habitação de baixo impacto e custo. O projeto é um sistema aberto à livre interpretação e adaptação por parte de seus habitantes, o que permite criar um modelo habitacional flexível que possa satisfazer tanto as necessidades dos usuários finais como as de adaptação sustentável ao meio ambiente, clima e território. Visando uma arquitetura com infraestutura básica de construção progressiva, contendo as ambientações necessárias para habitabilidade.


Apesar de livre interpretação, foram selecionadas expansões possíveis com o máximo de aproveitamento de insolação e ventilação, assim como da continuidade estrutural, sendo dividido em três etapas: a primeira com ambientações básicas com áreas sociais, intimas e de serviço, ja as outras duas etapas como expansões ou adições de espaços. *

MATERIAIS EMPREGADOS

MADEIRA ESTRUTURAL Carnaúba. Sabiá. TAIPA E REBOCO Terra + areia + água + cal virgem. FUNDAÇÃO Pedra rachão. COBERTURA Palha de Carnaúba.

ASPECTO ESTRUTURAL PROBLEMÁTICAS

ESTRATÉGIAS

Deterioração através da umidade

Proteção da parede de taipa por beirais maiores e fundações elevadas;

Surgimento de fissuras, rachaduras e inclinações

Projeto de sistemas de sustentação e dissipação de cargas adequados, através de maiores áreas superfície de contato;

ASPECTO INFRAESTRUTURAL PROBLEMÁTICAS

129

ESTRATÉGIAS

Falta de rede hidrosanitária

Banheiro a seco compostável;

Falta de sistema de captação

Projeto de sistema de biovaleta com reservatório de lona adaptado ao semiárido;

FONTE: ACERVO PESSOAL

DIAGRAMA DE INSOLAÇÃO E VENTILAÇÃO FIG. 105


130

MAPA 3 - SITUAÇÃO DO LOTE


FONTE: BASE GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA.

131


ESTRATÉGIAS DE PROJETO

FUNDAÇÕES

BEIRAIS E

SUSTENTAÇÃO Caráter: Estrutural

D 132

anos ocasionados por umidade e patologias por agentes biológicos, devem ser evitadas anteriormente à execução do fechamento da habitação através de soluções simples, como a execução de uma fundação elevada, impedindo o contato direto da parede de terra com o solo, com no mínimo de 30 cm de distanciamento vertical. A fundação pode ser facilmente executada com o uso de pedras naturais encontradas in loco, mais comumente identificada como ‘pedra rachão’, a qual, em alguns locais, transpassa a superfície do solo, tornando-a visivelmente simples de ser encontrada e extraída. Já a coberta deve possuir um beiral maior do que 50 cm para proteção das paredes contra a umidade e insolação diretas durante o processo de construção e secagem do material, assim justificando a execução da coberta anteriormente às paredes. Para a proteção da madeira, serão utlizados a técnica de pau-apique portuguesa do período colonial que consiste em limitar a trama por um baldrame inferior afim de evitar flexões e o contato com a fundação, já os pilares enterrados ao solo, possuem

sua extremidade crestada com fogo, formando uma capa protetora evitando a ação de agentes biológicos. Deve-se prever as devidas soluções no processo de sustentação, já que as trajetórias de torção, flexão e esforços são constantes no muro de taipa, devendo estas estarem sempre perpendiculares à superfície resistente (estrutura), evitando cargas horizontais. Já para mantimento da estabilidade, deve-se garantir os processos de fixação estrutural por sambladura, tanto ao solo quanto aos seus próprios componentes, de modo que haja a distribuição de sustentações com maiores áreas de contato para dissipação das cargas horizontais com a atribuição de contraventamentos estruturais, além de prever anteriormente as possíveis aberturas, evitando recortes posteriores a execução da trama de madeira e ao risco de desestruturação mediante a tal processo. *


FONTE: ACERVO PESSOAL

DIAGRAMAS APLICABILIDADE

133

.FONTE: ACERVO PESSOAL

DIAGRAMA DE SAMBLADURA FIG. 106

DIAGRAMA ESTRUTURAL FIG. 107


ESTRATÉGIAS DE PROJETO

BANHEIRO

A SECO Caráter: Infraestutural

C 134

omo solução viável para o quesito infraestrutural hidrosanitário, propõemse um sistema de banheiro a seco compostável, uma edificação de função excretora sustentável que se utiliza de uma descarga de matéria orgânica seca (serragem, terra ou folhas secas), proporcionando um novo uso ao esgoto negro (aquele que possui fezes), de forma a aproveitar os dejetos humanos na produção de adubo através do processo de compostagem. O desenho baseia-se na separação de líquidos e sólidos, sendo esta feita de forma natural por um sistema de camadas para filtragem do material, onde as fezes ficam retidas na câmara de compostagem e a urina escoa diretamente para abaixo do solo. O sistema da cabine é composto por um vaso, uma câmara de armazenagem dos dejetos e um tubo de ventilação. Através do vaso é coletado os dejetos humanos, que logo em seguida são adicionadas a serragem para a compostagem. Logo após a captação os dejetos são armazenados na câmara abaixo do vaso, a qual se encontra o sistema de camadas para filtragem e retenção. Esta ainda possui um tubo de ventilação para a execução

natural de troca de gases, evitando por sua vez maus odores provocados. Além disso, a câmara possui um acesso externo para a retirada do composto. O composto necessita estar sempre seco, podendo ser adicionados além da serragem, terra, folhas secas e até mesmo cinzas remanescentes do fogão a lenha utilizado pelos moradores. Soma-se a adição de matéria orgânica, como restos de alimentos advindos da natureza, como resto de frutas, casca de ovos ou verduras, para a aceleração do processo de compostagem. Após completar sua capacidade plena, fator que ocorre em aproximadamente 6 meses de uso continuo do sistema, o adubo se encontrará pronto para coleta. Ja a área molhada destinada para o banho, será executada com um sistema curto de canos de pvc o qual retira água do reservatório através de uma bomba manual, alimentando o chuveiro, que após o uso a água escoada passará por um filtro e retornará para o resevatório podendo ser reutilizada, garantindo a sustentabilidade do processo. *


FONTE: ACERVO PESSOAL

CORTE BANHEIRO SECO FIG. 108

FONTE: ACERVO PESSOAL

DIAGRAMA ÁREA MOLHADA FIG. 109

135


ESTRATÉGIAS DE PROJETO

SISTEMA DE

CAPTAÇÃO POR

BIOVALETAS Caráter: Infraestutural

136

Entretanto, para o semiárido, este conceito pode ser adaptado de forma que, ao invés da infiltração seguida de dispersão da água no solo, a mesma será armazenada em um reservatório , a fim de ser utilizada posteriormente. Devido à sua rapidez de escoamento, o processo de evaporação será evitado e o volume d’água armazenada será maior. Para total eficiência desse sistema, as biovaletas serão inseridas abaixo das quedas d’água proveniente das cobertas e nos pontos suscetíveis de alagamento e tranportadas através de "canos" de telha colonial para um reservatório de lona. Além da redução de custos com materiais externos devido menor demanda para execução, o uso da telha colonial como encanamento é eficaz

no transporte da água por inclinação. A telha comum já possui o próprio encaixe o que padroniza e facilita sua execução colocada uma em cima da outra formando o tubo, podendo ser vedada apenas pela pressão do solo se enterrada. Para manter a tubulação longe de corpos sólidos, pode-se adicionar uma tela com elástico na saída e entrada do encanamento de telha. O reservatório de lona sendo o ultimo estágio do sistema, é de fácil execução e de baixo custo, devendo ser evolto de areia fina, quando em contato com o solo, para evitar rasgos e deterioração da mesma. Para sua fixação e vedação, aplica-se cola de contato em suas extremidades. *

FIG. 110 - CANO DE TELHA

FONTE: ACERVO PESSOAL

B

iovaleta é uma estratégia de Infraestrutura Verde com o propósito de drenar e filtrar a água proveniente da chuva. Esse sistema consiste em depressões preenchidas com camadas de vegetação, areia e pedras, de forma que esta água escoa rapidamente, evitando alagamentos e, ao mesmo tempo, é filtrada e absorvida pelo solo.


DETALHE BIOVALETA FIG. 111

ARRIMO DE PEDRA AREIA BRITA Nº3 CANO DE TELHA

FONTE: ACERVO PESSOAL

BRITA Nº1

137

FONTE: ACERVO PESSOAL

DIAGRAMA CAPITAÇÃO FIG. 112


ESTRATÉGIAS DE PROJETO

PALHA DE CARNAÚBA Caráter: Material Potencial

138

na forma de cobertura natural. Em decorrência disso, a proteção e impermeabilização da cobertura pode ser realizada com a aplicação da cera da própria carnaúba. *

Optar por uma cobertura natural é sinônimo de vantagens sob as adversidades climáticas e econômicas, visto que a palha pode ser extraída nas proximidades e secada pela luz solar. Além disso, o material se comporta como ótimo isolante térmico, retardando a penetração do calor durante o dia e do frio durante a noite, que por ser um material que “transpira”. Soma-se a isso a durabilidade do material a longo prazo, podendo chegar uma vida útil de até 5 anos. Vale ressaltar que se não secada corretamente, a palha pode apresentar a presença de agentes biológicos que acabam por deteriorar o material FIG. 113 - FOLHAGEM DA CARNAÚBA

FONTE: ACERVO PESSOAL

D

entre as diversas propriedades da carnaúba, a palha feita de suas folhagens é caracterizada por sua utilização na proteção e resfriamento de solos. Na forma de cobertura morta*, a bagana seca da carnaúba proporciona benefícios ao solo, dentre eles, a redução da variação de temperatura e a manutenção de umidade se destacam, apresentando um maior aproveitamento construtivo na forma de cobertura natural para as novas tipologias habitacionais.


FIG. 114 - COBERTA NATURAL DE PALHA SECA

FONTE: ACERVO PESSOAL

139


ESTRATÉGIAS DE PROJETO

REBOCO NATURAL Caráter: Material Potencial

P

O reboco natural, finalizado a secagem, aceita qualquer tipo de pintura, sendo ele um material de secagem lenta se comparado ao reboco cimentício, demorando em torno de 30 a 40 dias para secar, enquanto que o outro se dá em torno de apenas 20 dias.

componente cimentício se solidifica e posteriormente petrifica, não possuindo a mesma maleabilidade, podendo até ser utilizado como camada de transição para o reboco covencional, caso seja da vontade do usuário. Além disso, o cal pode ser adquirido a baixo custo, sendo uma saca de 20 kg à 8 reais, em média. Já os outros materiais podem ser adquiridos in loco, se tornando uma solução viável à comunidade, possibilitando também uma opção estética convencional de acordo com as necessidades do usuário. *

Em proporção, o composto é feito de duas partes de terra, duas partes de areia e uma parte de cal hidratada. A utilidade do cal virgem é justificada pelo seu potencial de dilatação, que acompanha os processos “respiratórios” da parede de taipa, evitando-se fissuras posteriores. Vale ressaltar a superioridade do material em relação ao cimento, visto que o

FONTE: ACERVO PESSOAL

140

ara o acabamento e proteção da parede de taipa, o projeto visa a utilização de uma técnica de bioconstrução que consiste em um material composto por terra, água, e cal virgem. A aplicação é feita após a primeira secagem das paredes de taipa, onde estas se encontram fissuradas devido aos processos de dilatação e contração do processo de secagem. Nesse momento as fissuras são ideais para fixação do composto, permitindo uma penetração profunda e homogeneidade superficial.

FIG. 115 - MASSA DO REBOCO NATURAL


FONTE: ACERVO PESSOAL

DIAGRAMA DE APLICAÇÃO FIG. 116

FONTE: ECOEFICIENTEs

141

FIG. 117 - APLICAÇÃO DO REBOCO NATURAL


ESTRATÉGIAS DE PROJETO

FILTRAGEMCOM

MANDACARU Caráter: Material Potencial

A

A planta nativa da caatinga, podendo ser encontrada em quase toa da extensão do semiárido, é muito rica em fibras e por ela é retirado um fragmento, onde é usado a parte gelatinosa do cacto na filtragem e limpeza da água. O mandacaru possui na sua composição um polímero natural, que em contato com água faz uma floculação da sujeira, deixando-a limpa para qualquer uso. A cada 1 grama da planta pode-se filtrar 1 litro de água impura dentro de um período de 10 minutos se incentivada a floculação através de agitação. Já para purificação de uma água represada, pode-se adicionar o cal na mesma proporção do mandacaru. FONTE: WIKIPÉDIA

142

técnica de filtragem através da utilização do mandacaru foi desenvolvida pelo químico industrial Sálvio Aires, a partir da necessidade de água limpa na criação de animais e para o consumo humano, em meio as impurezas encontradas no acumulo das águas pluviais na região do semiárido cearense.

*

FIG. 118 - MANDACARU


FONTE: DIARIO DO NORDESTE

143

FIG. 119 - DEMONSTRAÇÃO DA FILTRAGEM COM MANDACARU


PROJETO

1ª ETAPA ÁREA: 53 m² PROGRAMA DE NECESSIDADES: Sala, quarto, cozinha, área de serviço, banheiro e terraço. DESTINAÇÃO: Novos núcleos familiares de 2 pessoas.

FONTE: ACERVO PESSSOAL.

144

DIAGRAMA DE IMPLANTAÇÃO 1ª ETAPA FIG. 120 LEGENDA 1 SALA DE ESTAR 2 COZINHA 3 QUARTO 4 SERVIÇO COM TERRAÇO 5 BANHEIRO 6 ÁREA DE CRIAÇÃO 7 ÁREA DE HORTA 8 COMPOSTEIRA 9 RESERVATÓRIO


9

8

7

6

5

145

4 1

3

FONTE: ACERVO PESSOAL

2

IMPLANTAÇÃO 1ª ETAPA FIG. 121


PROJETO

2ª ETAPA ÁREA: 95 m² PROGRAMA DE NECESSIDADES: Sala, 2 quartos, cozinha, área de serviço, banheiro, terraço e varanda. DESTINAÇÃO: Novos núcleos familiares até 4 pessoas.

FONTE: ACERVO PESSSOAL.

146

DIAGRAMA DE IMPLANTAÇÃO 2ª ETAPA FIG. 122 LEGENDA 1 SALA DE ESTAR 2 COZINHA 3 QUARTO 4 SERVIÇO COM TERRAÇO 5 BANHEIRO 6 ÁREA DE CRIAÇÃO 7 ÁREA DE HORTA 8 COMPOSTEIRA 9 RESERVATÓRIO


9

8

7

6

5

147

4 1

3

FONTE: ACERVO PESSOAL

2

IMPLANTAÇÃO 2ª ETAPA FIG. 123


PROJETO

3ª ETAPA ÁREA: 122 m² PROGRAMA DE NECESSIDADES: Sala, 3 quartos, cozinha, área de serviço, banheiro, terraço e varanda. DESTINAÇÃO: Novos núcleos familiares até 6 pessoas.

FONTE: ACERVO PESSSOAL.

148

DIAGRAMA DE IMPLANTAÇÃO 3ª ETAPA FIG. 124 LEGENDA 1 SALA DE ESTAR E JANTAR 2 COZINHA 3 QUARTO 4 SERVIÇO COM TERRAÇO 5 BANHEIRO 6 ÁREA DE CRIAÇÃO 7 ÁREA DE HORTA 8 COMPOSTEIRA 9 RESERVATÓRIO


9

8

7

6

3

5 4

3 1

3

FONTE: ACERVO PESSOAL

2

149

IMPLANTAÇÃO 3ª ETAPA FIG. 125


CORTE LONGITUDINAL FIG. 126 150

CORTE DO SISTEMA DE BIOVALETA FIG. 127


151


152

CORTE LONGITUDINAL BANHEIRO FIG. 128

CORTE TRANSVERSAL BANHEIRO FIG. 129


153


FONTE: ACERVO PESSOAL

154

FIG. 130 - JANELA


PERSPECTIVAS

DO PROJETO 155


156


FIG. 131 - PERSPECTIVAS

157


REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS ALVES, I.; Morada do bixo homem. Cartilha pela CSA Arquitetura. ARAÚJO. F.S.G; MIGUEL, J.D.; SANTOS, F. Arquitetura Rural e Cultura Sertaneja no Rio Grande do Norte. IV Encontro de História da Arte. UNICAMP. Campinas, 2008. CARVALHO, C.;CORTEZ, T. Conforto ambiental como parâmetro para construção de novas habitações rurais no semiárido. XIV ENTAC - Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Juiz de Fora, 2012. CORREIA, A. Flexibilidade em arquitetura um contributo adicional para a sustentabilidade do ambiente construído. Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitetura Darc. FCTUC. Coimbra, 2013. DAVICO, A. Avaliação da flexibilidade dos espaços de habitação: influência das divisórias e mobiliário. Tese de doutorado – Universidade de Minho. Escola de Arquitetura. Especialidade em construção e tecnologia. Braga, Portugal, 2013.

158

DE LA MORA, Luis.; A produção social do habitat: estratégia dos excluídos para a conquista do direito social da cidade e à morada. In: LEAL, Suely; LACERDA, Norma (orgs.). Novos padrões de Acumulação Urbana na Produção do Habitat Olhares Cruzados Brasil – França. Recife: Ed. Universitária da UFPE,2010. DREW, D. Processos Interativos Homem-Meio Ambiente. 7ª edição. Rio de Janeiro, 2010. FERNANDES, Y. Notícias do Povo Cearense. Capítulo 1 – Cenário. 1977. FROTA, P.; Le ROY, L. A casa de taipa em São Miguel do Tapuio. Brasília, 1978. MACHADO, J. M.; MOTTA, A. L. T. S.; GITAHY, P. F. S. C. R. O resgate do adobe e sua adequação à necessidade de construções contemporâneas. Construção, 2004. MACHADO, P. Interesses da Habitação Social Politicas e Processos no Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação de Arquitetura e Urbanismo (PPGAU), UFRN, 2012. MALVEZZI, R. SEMIÁRIDO - Uma Visão Holística. Série Pensar o Brasil e Construir o Futuro da Nação, 2007. MAYRINK, J. A influência da moradia nas relações familiares: uma análise das famílias em risco social. 4º Simpósio Mineiro de Assistentes Sociais, Belo Horizonte,2016. MILANEZ, C.; Habitação rural: uma luta por cidadania. Trabalho de Conclusão de Curso como

exigência parcial para graduação no Curso de Arquitetura e Urbanismo, 2014.

MINKE, G. Building with Earth: Design and Technology of a Sustainable Architecture. Birkhauser, Basel, 2001.


OLGAY, V. Design with climate. Princeton University Press, Nova Jersei, 1963. PINTO, F. Arquitectura de Terra - Que Futuro?. Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa - Lisboa, Portugal, 1993. PROMPT, C. Curso de Bioconstrução. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável. Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável. Brasília: MMA, 2008. SALAZAR, J. Manual de Construcción Natural Construyendocon Cob. Esculpiendo a mano su propia casa. Modulo 1, Recopilado.2005. SCHISTEK, H. O Semiárido Brasileiro: uma região mal compreendida. Da SÉRIE COOPERAÇÃO BRASIL – ESPANHA Acesso à Água e Convivência com o Semiárido, no livro CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO BRASILEIRO: Autonomia e Protagonismo Social. Brasília, 2013. SILVA, M. S. A terra crua como alternativa sustentável para a produção de habitação social. Escola de Engenharia de São Carlos – SAP, Interunidades em Ciência e Engenharia de Materiais (Tese de Doutorado). 2001 SOUZA, M. Qualidade do Ar no Interior do Edifício e o Projeto de Arquitetura. Tese de Mestrado em Conforto Ambiental. Rio de Janeiro: FAU/ UFRJ, 1995. SUELY, S.; Arquitetura sustentável: em busca de lições nas técnicas construtivas vernaculares. Trabalho de Conclusão de Curso como exigência parcial para graduação no Curso de Arquitetura e Urbanismo, 2017. VARELA, J. Técnicas De Construção Em Barro. Universidade Federal Rural Do Semiárido, Departamento De Ciências Ambientais E Tecnológicas, 2012. VILLÁ, J. Flexibilidade: Exigência Do Habitat Contemporâneo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Presbiteriana Mackenzie. *

159


LISTA DE FIGURAS

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Figura 1- Encontro com crianças da comunidade raposa do trilho. | pág. 4. Fonte: Acervo Pessoal Figura 2 – Sertão de Itapipoca | pág. 8. Fonte: Fotografia por Marcelo Porto. Figura 3 – Morada de Taipa | pág. 10. Fonte: Acervo Pessoal. Figura 4 - A realidade habitacional do sertanejo | pág.16. Fonte: Acervo Pessoal. Figura 5 – A criança do semiárido | pág. 18. Fonte: Acervo Pessoal. Figura 6 – Contraste de tipologias| pág. 22. Fonte: Acervo Pessoal. Figura 7 – Cotidiano do sertanejo | pág.26 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 8 – Janela da Caatinga | pág. 28 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 9 - Caatinga| pág.32 e 33 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 10 – Bioconstrução no Semiárido | pág.34 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 11 a 18 - Construção de Taipa de Mão | pág. 36 e 37 Fonte: https://casa.abril.com.br/ casas-apartamentos/casa-no-sul-da-bahia-emprega-parede-de-pau-a-pique/#2 e https:// www.kickante.com.br/campanhas/bioconstrucao-em-ecovila-espiritual-1 Figura 19 a 26 – Construção de Taipa de Pilão | pág. 38 e 39 Fonte: http://tecnicasparaconstrucaosustentavel.blogspot.com/2015/05/como-fazer-paredes-de-taipa-de-pilao.html e https://letu-cefs.wikispaces.com/Sustainability+in+Rammed+Earth+Construction?responseToken=0adfff106b0fc854a89f175b79eda2b59 Figura 27 a 34- Construção de Adobe | pág. 40 e 41 Fonte: Curso Natural Arquitetura. https://www.facebook.com/groups/1227508850621582/ Figura 35 a 42 – Construção de SuperAdobe | pág. 42 e 43 Fonte: http://www.jardimdomundo.com/veja-como-construir-uma-casa-em-superadobe-passo-a-passo-com-fotos/ Figura 43 a 50 – Construção de COB | pág.44 e 45 Fonte: https://www.flickr.com/photos/ danielleackley/sets/72157623078007101/page3. Figura 43 - Classificação das construções de terra | pág.46 Fonte: http://architetturedallaterra.it/wp-content/uploads/2013/12/QUADRO-SINOTTICO-CRAterre.jpg Figura 44 – Cruzamento | pág. 50 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 45 – Comunidade Raposa do Trilho| pág.52 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 46 - Crianças da Comunidade | pág.54 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 47 – Família da Comunidade | pág. 57 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 48 – Estrada Carroçável | pág.58 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 49 - Ferrovia Transnordestina Itapipoca- CE | pág.64 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 50 – Entrada da comunidade no km 5 da CE-240 | pág. 65 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 51 – Gráfico de Pluviosidade | pág.67 Fonte: Plataforma Projetee. Figura 52- Diagrama de ventilação e insolação | pág.67 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 53 – Comparativo de temperatura | pág.67 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 54 - Base de subsistência | pág.68 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 55 - Recurso hídrico intermitente utilizado pelos moradores| pág.70 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 56- Tipologia habitacional | pág.72 e 73 Fonte: Acervo Pessoal.


Figura 57- Casa da dona Maria | pág. 74 E 75 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 58 – Dona Maria | pág. 76 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 59- Progressão Expansiva (Maria) | pág. 77 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 60 – Planta baixa (Maria) | pág.77 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 61 – Casa da dona Tereza | pág.78 e 79 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 62- Dona Tereza | pág.80 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 63- Progressão Expansiva (Tereza) | pág. 81 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 64 – Planta baixa (Tereza) | pág.81 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 65 – Casa da dona Antônia | pág.82 e 83 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 66 – Dona Antônia | pág. 84 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 67- Progressão Expansiva (Antônia) | pág. 85 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 68 – Planta baixa (Antônia) | pág.85 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 69- Casa da dona Cristiane | pág.86 e 87 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 70- Dona Cristiane | pág.88 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 71- Progressão Expansiva (Cristiane) | pág. 89 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 72 – Planta baixa (Cristiane) | pág.89 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 73- Pedra Rachão no interior da casa da dona maria | pág. 91 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 74- Fogão a lenha da casa da dona Tereza| pág.92 e 93 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 75 – Trama de Madeira da casa da dona Maria | pág.94 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 76 – Processo Construtivo | pág.97 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 77- Corte da habitação de taipa feita pela comunidade| pág.98 e 99 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 78 – Estoque de madeira sabiá | pág.101 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 79 – Carnaúba como madeiramento de telhado | pág.103 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 80- Telhado de telha colonial | pág.105 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 81 – Deterioração da taipa | pág.106 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 82 - Deterioração inferior por umidade e aplicação de revestimento cimentício | pág. 108 e 109 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 83 – Fissura de esquadria | pág.110 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 84 - Desnível por assoreamento | pág. 112 e 113 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 85 - Deterioração por aplicação de reboco cimentício | pág.114 E 115 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 86- Cisterna de placa | pág.116 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 87 - Cisterna de placa sem captação | pág.118 e 119 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 88 – Etapas de construção | pág.120 Fonte: Acervo Pessoal. Figura 89 – Habitação social por casaPública | pág.121 Fonte: https://www.archdaily. mx/mx/873072/en-sinaloa-mexico-prototipo-para-infonavit-por-casapublica Figura 90 – Estudo bioclimático | pág.121 Fonte: https://www.archdaily.mx/ mx/873072/en-sinaloa-mexico-prototipo-para-infonavit-por-casapublica Figura 91 – Materiais e estrutura | pág.121 Fonte: https://www.archdaily.mx/ mx/873072/en-sinaloa-mexico-prototipo-para-infonavit-por-casapublica Figura 92 – Sala de estar | pág.122 Fonte: http://www.ecoarq.com.br/ Figura 93 - Fogão a lenha | pág.122 Fonte: http://www.ecoarq.com.br/ Figura 94 - Casa de Campo | pág.123 Fonte: http://www.ecoarq.com.br/ Figura 95 – Construção de taipa de mão | pág. 123 Fonte: http://www.ecoarq.com.br/ Figura 96 - Trama interna | pág.123 Fonte: http://www.ecoarq.com.br/

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Figura 97 – Detalhe madeira | pág.123 Fonte: http://www.ecoarq.com.br/ Figura 98 - Pós secagem do adobe | pág.124 Fonte: http://www.margemarquitetura.com. br/portfolio-items/residencia-social-bioconstruida/?portfolioCats=23 Figura 99 – Sovagem do superadobe | pág.124 Fonte: http://www.margemarquitetura. com.br/portfolio-items/residencia-social-bioconstruida/?portfolioCats=23 Figura 100 – Residência bioconstruída | pág.125 Fonte: http://www.margemarquitetura. com.br/portfolio-items/residencia-social-bioconstruida/?portfolioCats=23 Figura 101 – Parede de adobe com superadobe | pág.125 Fonte: http://www.margemarquitetura.com.br/portfolio-items/residencia-social-bioconstruida/?portfolioCats=23 Figura 102 – Preparo da fundação | pág.125 Fonte: http://www.margemarquitetura.com. br/portfolio-items/residencia-social-bioconstruida/?portfolioCats=23 Figura 103 – Pilares de Carnaúba | pág.125 Fonte: http://www.margemarquitetura.com.br/ portfolio-items/residencia-social-bioconstruida/?portfolioCats=23 Figura 104 - Habitação de taipa inacabada| pág.126 Fonte: Acervo pessoal. Figura 105 – Diagrama de insolação e ventilação | pág.129 Fonte: Acervo pessoal. Figura 106 – Diagrama de sambladura| pág. 133 Fonte: Acervo pessoal. Figura 107 – Diagrama estrutural | pág.133 Fonte: Acervo pessoal. Figura 108 – Corte banheiro seco | pág.135 Fonte: Acervo pessoal. Figura 109 – Diagrama de área molhada | pág.135 Fonte: Acervo pessoal. Figura 110 – Cano de telha | pág.136 Fonte: Acervo pessoal. Figura 111 – Detalhe biovaleta | pág.137 Fonte: Acervo pessoal. Figura 112 – Diagrama de captação| pág. 137 Fonte: Acervo pessoal. Figura 113 – Folhagem da Carnaúba | pág. 138 Fonte: Acervo pessoal. Figura 114 – Coberta natural de palha seca | pág.139 Fonte: Acervo pessoal. Figura 115 – Massa do reboco natural | pág.140 Fonte: Acervo pessoal. Figura 116 – Diagrama de aplicação | pág.141 Fonte: Acervo pessoal. Figura 117 – Aplicação do reboco natural | pág.141 Fonte: http://www.ecoeficientes.com. br/curso-de-bioarquitetura-tiba/reboco-grosso/ Figura 118 – Mandacaru | pág.142 Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mandacaru#/media/File:Cereus_jamacaru.JPG Figura 119 – Demonstração de filtragem com mandacaru | pág.143 Fonte: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/pesquisador-trata-agua-de-barreiro-com-mandacaru-1.1687460 Figura 120 – Diagrama de implantação 1ª etapa | pág.144 Fonte: Acervo pessoal. Figura 121 – Implantação 1ª etapa| pág.145 Fonte: Acervo pessoal. Figura 122 – Diagrama de implantação 2ª etapa | pág.146 Fonte: Acervo pessoal. Figura 123 – Implantação 2ª etapa | pág.147 Fonte: Acervo pessoal. Figura 124 – Diagrama de implantação 3ª etapa | pág.148 Fonte: Acervo pessoal. Figura 125 – Implantação 3ª etapa| pág.149 Fonte: Acervo pessoal. Figura 126 – Corte longitudinal | pág.150 e 151 Fonte: Acervo pessoal. Figura 127 – Corte do sistema de biovaleta | pág.150 e 151 Fonte: Acervo pessoal. Figura 128 – Corte longitudinal do banheiro | pág.152 e 153 Fonte: Acervo pessoal. Figura 129 – Corte transversal do banheiro | pág.153 e 153 Fonte: Acervo pessoal. Figura 130 - Janela | pág.154 Fonte: Acervo pessoal. Figura 131 - Perspectivas| pág.157 Fonte: Acervo pessoal.  *


LISTA DE

MAPAS Mapa 1 - Situação da comunidade | pág. 60 e 61 Fonte: BASE GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA. Mapa 2 - Usos e Equipamentos | pág. 62 e 63 Fonte: BASE GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA. Mapa 3 - Situação do Lote |pág. 130 e 131 Fonte: BASE GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA. *

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DESENHOS,MODELAGEM, RENDERIZAÇÃO E PÓS PRODUÇÃO DE IMAGENS: BEATRIZ DE SOUSA ALVES FOTOGRAFIA (ACERVO PESSOAL): BEATRIZ DE SOUSA ALVES


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