Machadiana

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Editorial

Bárbara Gabriele Beatriz Correia Felipe Cunha Isaque de Santana Leandro Blanco Lucca Passos Marcos David Matheus Bittencourt

A Revista Machadiana© foi criada com a proposta de difundir a literatura de um dos maiores escritores brasileiros de nossa época, Joaquim Maria Machado de Assis. Com uma escrita envolvente, o leitor certamente irá se encantar com suas obras que perpassam por várias críticas sociais com uma pitada de humor pessimista e irônico. Seus personagens muito bem desenvolvidos nos encantam. A análise psicológica da alma de cada um, suas qualidades e defeitos, demonstram a real conduta humana, e como o autor transforma pensamentos em palavras de modo tão magnífico. Nós, da redação, desejamos que os senhores desfrutem da nossa revista que possui como foco principal o autor Machado de Assis, exposto de forma lúdica através de curiosidades, entrevistas, críticas, reportagens e entretenimento em geral.

Escola Djalma Pessoa- SESI Professora Mônica 2°D



Realismo

Entenda um pouco mais sobre o movimento que marcou o século XIX

Baseado como marca principal a contradição ao idealismo romântico, o Realismo apresenta uma representação mais objetiva e autêntica da vida humana. O romance deixa de ser tratado como passatempo, para ser usado como meio de crítica às instituições sociais, acusando principalmente a hipocrisia e a corrupção da classe burguesa. Influenciados pelos métodos experimentais colocados em debate pelas ciências naturais, os escritores realistas procuram criar suas personagens com base na observação direta da realidade. Por isso, fazem pesquisas e colhem dados sobre o assunto que vão desenvolver, esforçando-se por dar aos romances um valor de documento da realidade.

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rEalismo

A rabequista árabe, 1884, Museu Nacional de Belas Artes ACONTECIMENTOS IMPORTANTES Em nove de janeiro de 1881 a Lei Saraiva, a mais importante legislação do país, é sancionada pelo imperador Dom Pedro II. O decreto instituiu pela primeira vez no Brasil o “Titulo de Eleitor” e proibindo o voto de analfabetos, além e estabelecer regras para as eleições de todos os cargos do império e outros eleitores. Logo depois em vinte oito de setembro de 1885 é anunciada a lei dos sexagenários, que de inicio libertava os escravos com mais de sessenta anos, mas por resistência dos escravocratas aumentou o limite de idade do cativo de sessenta para sessenta e cinco anos. Em seguida no dia sete de maio de1888 o projeto de abolição da escravatura é apresentado na Câmara dos Deputados e em 13 de maio a Princesa Isabel assina a Lei Áurea, que extingue a escravidão e liberta milhares de escravos no Brasil.


rEalismo Outro acontecimento histórico que deve ser lembrado pelos brasileiros é o dia quinze de novembro de 1889em que houve a Proclamação da Republica Brasileira que foi um golpe de estado político-militar ocorrido na época que instalou a forma republicana federativa presidencialista de governo no Brasil, desfazendo a monarquia constitucional parlamentarista do Império do Brasil e pondo fim na soberania do imperador D. Pedro II sendo exilado junto com a família imperial no dia dezessete de novembro, a seguir no dia sete de janeiro de 1990 a separação entre a Igreja e o Estado é decretada pelo governo republicano de Deodoro da Fonseca dando inicio liberdade religiosa dos cidadãos brasileiros. Esta época também foi marcada por grandes artistas como Rodolfo Amoedo, Pedro Américo e Victor Meirelles. O paraibano Pedro Américo buscava harmonia com as grandes tendências de seu tempo fundindo realismo, romantismo e neoclassicismo em suas obras, sua produção é uma das primeiras grandes expressões do Academismo no Brasil em sua fase de apogeu, deixando obras que permanecem vivas até hoje no imaginário coletivo da nação, como A rabequista Árabe, A Noite com os gênios do Estudo e do Amor, Independência ou Morte e Libertação dos Escravos, reproduzidas aos milhões em livros escolares de todo o país.

Retrato de Pedro Américo


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Auto Retrato de Rodolfo Amoedo O baiano Rodolfo Amoedo nascido em Salvador em 1857 foi outro dos grandes artistas dessa belíssima época que começou na profissão, convidado por um amigo letrista para trabalhar no Teatro São Pedro. Em 1878, aos seus 21 anos e com uma tela retratando O sacrifício de Abel, conquistou, em um polêmico concurso, o Prêmio de Viagem à Europa, em que concorria com Henrique Bernardelli e o paisagista e pintor de assuntos históricos Antônio Firmino Monteiro daí em diante lançou grandes obras como: Marabá (1882) e O Ultimo Tamoio (1883). Já o pintor e professor brasileiro Victor Meirelles de Lima nascido em Florianópolis de origens humildes que também trazia referencias neoclássicas, românticas e realistas teve seu talento reconhecido logo cedo sendo admitido como aluno Academia Imperial de Belas Artes. Especializou-se no gênero da pintura histórica, e ao ganhar o Prêmio de Viagem ao Exterior da Academia, passou vários anos aperfeiçoando seu trabalho na Europa. Lá pintou sua obra mais conhecida, A Primeira Missa no Brasil. Voltando ao Brasil tornou-se um dos pintores preferidos de Dom Pedro II, sendo inserido no programa de mecenato do imperador e aliando-se à sua proposta de renovação da imagem do Brasil através da criação de símbolos visuais de sua história.

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Machado de Assis Biografia

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Biografia 1839/54 Joaquim Maria Machado de Assis nasce no rio de janeiro, a 21 de junho de 1839. Criança pobre, neto de escravos alforriado e nascido no morro. Nessa época o rio de janeiro era bem diferente, possuía iluminação apenas no centro, transporte precário e tinha uma população de 300 mil habitantes onde a metade eram escravos. Aos seis anos presenciou a morte de sua única irmã e, quatro anos depois morre sua mãe. Em 1854 o pai casouse com Maria Inês. Aos 14 anos o menino já ajudava a madrasta a vender doces para sustentar a casa, tarefa difícil depois da morte do pai. Era um menino de subúrbio e a vida intelectual do subúrbio era muito diferente da vida intelectual da corte. Era essa ultima que atraia machado de Assis. Ele passava grande parte do seu tempo na rua do ouvidor onde as pessoas da classe detentora do poder se encontravam.

1855 Publica seu primeiro trabalho a poesia “a palmeira” na marmota fluminense. Nada de excepcional, é bem verdade, era apenas o começo. Logo se tornou membro da redação da marmota fluminense. Cada vez mais ele se afastava do subúrbio nas roupas na postura e na expressão.

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Biografia 1858/64 Começa intensa colaboração em vários jornais e revistas que, com algumas interrupções breves, manterá pela vida toda. Alem disso trabalha como tipografo na imprensa oficial. Em 1864 estreia na poesia com a publicação da obra crisálidas. 1867 É nomeado para o cargo de ajudante do diretor do diário oficial.

1869 Casa-se com Carolina augusta Xavier de Novais em 12 de novembro para quem confessara “como não te amaria eu?”.

1870 Publica Falenas, poesias, e contos fluminenses, coletânea de historias curtas e após três anos publica o conto historias da meia-noite e é nomeado primeiro- oficial da secretaria do estado do ministério da agricultura, comercio e obras públicas.


Biografia 1874/76 Publica seu segundo romance a Mao e a luva e em 1876 publica o romance helena. 1878/9 Passa uma temporada em Friburgo com sua mulher, por motivo de cansaço e doença.

1880 É designado Oficial de gabinete de Pedro Luis, ministro da agricultura. Nessa época escrevia uma de suas obras primas memórias póstumas de Brás cubas que publicaria no ano seguinte. O romance que revelaria um escritor plenamente amadurecido.

1888 É agraciado com a ordem da rosa pelos serviços prestados as letras. Neste mesmo ano ocorreu a lei áurea que finalmente libertou todos os escravos. Machado analisava o problema da escravidão em suas crônicas, contos e romances. 1889 É nomeado Diretor da diretoria do comercio, o mais alto grau da carreira. Aos poucos foi chegando à estabilidade econômica tendo mais tempo para escrever.


Biografia 1893 Torna-se Diretor geral da viação, tendo em vista a transformação da secretaria da agricultura em secretaria da indústria, viação e obras públicas. 1897 É eleito presidente da academia brasileira de letras, fundada no ano anterior. Perde seu cargo de diretor geral da viação, tornando-se apenas adido. 1899/1904 Publica o romance dom casmurro e em 1904 publica o romance Esaú e Jacó. Alem disso se torna membro correspondente da academia de ciências, de Lisboa e morre sua mulher Carolina. 1908 Nesse ano publica seu ultimo romance, memorial de Aires. Licença para tratamento de saúde (junho). Falece no rio de janeiro, a 29 de setembro. Decreta-se luto oficial no rio de janeiro. Seu enterro acompanhado de figuras conhecidas e do povo, atesta a fama que machado de Assis tinha alcançado. Foi sepultado ao lado de Carolina a quem prometera no seguinte soneto:

Querida ao pé do leito derradeiro, Em que descansas dessa longa vida, Aqui venho e virei pobre querida, Trazer-te o coração de companheiro.


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O segredo do Bonzo A essência é a aparência

“O segredo do Bonzo – Capítulo inédito de Fernão Mendes Pinto”. Um conto escrito por Machado de Assis e narrado em 1ª pessoa que se inicia com uma caminhada pela cidade de Fuchéu. Diogo Meireles e o narrador avistam uma pequena multidão em torno de um homem que discursava com intenso vigor acerca da origem dos grilos e, ao fim, termina ovacionado por todos. Em outro local mais um aglomerado de pessoas se reúnem para ouvir a descoberta do princípio da vida futura. Segundo o discursador este princípio se encontrava presente em uma gota de sangue de vaca e, repetindo o caso anterior, a população aclamou-o.

Intrigados com esses acontecimentos, os dois personagens investigam e descobrem que os discursos foram influenciados pela doutrina de um homem muito sábio, o bonzo Pomada. Ao se encontrarem, o bonzo explica a sua sabedoria: “A virtude e o saber tem duas existências paralelas: uma, no sujeito que as possui, Convencidos praticar a outra no espírito dos que o ouvem ou acontemplam.”. doutrina, o narrador Pomada fala da necessidade de convencer o outro, passa pois a fingir que toca não vale de nada um conhecimento sem que ninguém charamela,e inesperadamente acredite fielmente naquilo que é dito, independente da os cidadãos entusiasmam verdade dos fatos. "Não há espetáculo sem se espectador". e exclamam nunca ter ouvido som mais belo. Depois é a vez de Diogo Meireles que, ao perceber uma nova doença


rEsEnhas que inchava o nariz dos pacientes e os deixavam com baixa autoestima, muitos deles recorrendo à morte voluntária, reúne-se com as principais autoridades e decide discursar para o povo sobre um novo tratamento em que consistia na substituição dos narizes doentes por um são, porém de caráter metafísico, no qual os sentidos humanos não seriam capazes de enxergar. Muitos o viram com incredulidade, mas suas palavras firmes e convictas convenceram, o que no fim terminou por ajudar os enfermos. Uma característica Machadiana presente em “O segredo do Bonzo” é a generalidade do relato. Um caso em específico é descrito, mas seu tema permite diversas leituras e interpretações. O exemplo absurdo da persuasão feita por Diogo Meireles ao conseguir com que as pessoas acreditassem não em fatos concretos, e sim no que lhes foi dito com tanta certeza. A ocorrência abre um leque de significações, dentre as quais as próprias citadas pelo autor de que “uma coisa pode existir na opinião sem existir na realidade”. O narrador atiça a curiosidade do leitor durante toda a leitura. Ao descrever no início um fato curioso, que logo após é explicado. E a partir do gancho dado, segue-se com mais ação até o final, para, assim, salientar a moral do conto. Machado de Assis, como em tantas outras obras, emprega um profundo sentido nos seus escritos, reafirmando-se como um dos maiores escritores da nossa época.

Curiosidades

O avô do escritor foi escravo na chácara de Maria de José de Mendonça Barroso, no morro do livramento. Ela batizou e foi em sua biblioteca que Machado começou a ler.


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Verba Testamentária A natureza egoísta do ser humano O conto "Verba Testamentária", de Machado de Assis, traz uma narrativa focada na história de vida do personagem Nicolau B. de C., homem marcado por sua forte personalidade e que, antes de morrer, escreveu um testamento no qual sua única solicitação foi ser enterrado no caixão fabricado por um operário modesto, chamado Joaquim Soares. Esta notícia se espalhou, e as pessoas da cidade consideraram a ação de Nicolau como algo "raro e magnânimo". Mas, como todas as histórias, sempre que houver um efeito, uma causa estará por trás. Os fatos que seguem relatam a vida do personagem principal desde a infância. Era um menino com um caráter egoísta muito forte: destruía os brinquedos dos colegas, agredia os que se mostravam mais inteligentes que ele ou que possuíam vestimentas mais sofisticadas. Uma criança problemática que nem os pais conseguiam impor limites. Na idade adulta, tal característica se mostrou longe de ser solucionada. Não conseguia encarar as pessoas, principalmente as que se mostravam superiores a ele de algum modo, agindo, assim, de forma ríspida. O marido da sua irmã tenta ajudar ao isolá-lo em uma fazenda, estimulando sua autoestima através de falsos jornais que o enchia de elogios. Porém nada foi o bastante, e a velhice apoderou-se de Nicolau que, por conseguinte, morre.


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O narrador faz uso do artifício temporal. No início do conto, ano de 1855, Nicolau acaba de falecer. Logo após, retorna para a infância do personagem principal até o último dia de sua vida. Essa maneira de apresentar os fatos ocorridos se vê presente em outras obras de Machado, instigando a curiosidade do leitor desde o início através de um episódio inesperado. As extensas descrições de cenas são propositais, proporcionando imagens visualmente perceptíveis ao leitor. “Cães sendo perseguidos a pontapés”, “A face ia ficando verde” e “Pratos sendo atirados na cabeça dos escravos” são alguns dos exemplos. Um ponto importante de observar é a duplicidade presente no conto: enquanto que o nome completo de Nicolau é omitido, outros dados como eventos históricos e datas são citados. Isso demonstra como Machado de Assis desejava não só contar a história curiosa deste homem, e sim usá-lo como figura para generalizar o comportamento mórbido de indivíduos que sempre estão na busca por ser ou possuir algo superior, por motivos de genuína inveja do próximo. Por fim, percebe-se a subjetividade para a significação do testamento de Nicolau. Ou a vontade de possuir um caixão de má qualidade para evitar elogios ao operário, ou a necessidade do sentimento de soberania ao gastar essa quantia como sua última vontade.

Curiosidade

Machado falava e escrevia em Francês, e provavelmente aprendeu a língua com um padeiro.


rEsEnhas

Cantiga de Esponsais A melodia da alma A música e a arte de compor foram escolhidos por Machado de Assis como temas do conto “Cantiga de esponsais”. A narração inicia-se situando o leitor do tempo e local na qual a história é discorrida. Em 1813, na Igreja do Carmo, o narrador-observador comenta sobre as festas antigas e as missas cantadas que ocorriam, destacando Romão Pires, um velho que regia a orquestra com muito empenho. Contudo, quando não estava a se apresentar, possuía olhos tristes e passo lento. O seu verdadeiro sonho era ser um ilustre compositor, mas não conseguia exprimir em palavras todo o seu lirismo. Prova disso foi o canto esponsalício inacabado escrito para sua esposa já falecida, em que somente algumas notas fixaram-se no papel. Em certa noite, após a missa, Romão Pires volta para casa indisposto, fato que procede por vários dias. Pressentindo o seu fim, retorna para aquele canto no intuito de finalizá-lo e, assim, deixar um pouco da sua alma na terra. Inquieta-se por horas. Sem sucesso, rasga os primeiros versos, e nesse momento observa um casal apaixonado que declaram o seu amor com justamente as notas procuradas por anos. À noite, Romão falece consternado. Machado expõe, através desse conto, uma das grandes aflições dos artistas ou dos aspirantes a trabalhar no ramo das artes: a técnica e a inspiração. Exemplificando bem essa “luta constante e estéril entre o impulso interior e a ausência de um modo de comunicação com os homens”, a narrativa ironiza tanto esforço que, como resultado, consuma-se com a morte do personagem principal. O plano de fundo da história é um ponto que vale ressaltar. Contrapõe-se a cena inicial da Igreja do


Carmo, bastante animada e divertida, com a casa de Romão Pires, um local melancólico e solitário que se relaciona com a inspiração do personagem no momento da escrita. Firmando-se como um sublime escritor, Machado de Assis revela a genialidade da capacidade de escrever poucas palavras, entretanto, com significados atemporais e que abrem espaço para reflexões infindáveis.

Curiosidades

●Machado traduziu o romance (Os trabalhadores do Mar) de Vitor Hugo, na juventude, publicado em 1886 pela perseverança. Estudou sozinho alemão e inglês. ●Carolina ( mulher de Machado de Assis) era instruída e aficionada por grandes nomes da língua portuguesa. Alguns pesquisadores afirmam que ela o ajudava na revisão gramatical de seus originais. ●Machado de Assis era apaixonado por xadrez . As peças que pertenceu ao escritor foram esculpidas em madeira e estão expostas na Academia Brasileira de Letras


artigo dE opinião

O ESPELHO ESBOÇO DE UMA NOVA TEORIA DA ALMA HUMANA O conto começa com uma reunião de cinco cavalheiros que debatiam sobre assuntos metafísicos. Dentre os cinco, um estava apenas pensativo e a discursão pouco o interessava. Era Jacobina, o protagonista da história. Inteligente, e irônico, tinha uns quarenta e cinco anos. Raramente discutia e achava isto desnecessário. Um dos presentes o intimou a mostrar suas ideias, e assim fez até que chegou ao assunto sobre natureza da alma. Um colega pediu sua opinião sobre o tema, ele redarguiu dizendo que não só o homem tem uma alma como duas. Para provar contou-lhes uma história. Quando jovem, foi nomeado Alferes o que causou grande felicidade entre familiares e amigos. Sua tia, D. Marcolina, o convidou para passar uma temporada em seu sítio. Chegando lá, não só a Tia como também os escravos o tratavam com todo mimo. Vivia recebendo elogios e atenção. A senhora até lhe presentou com um refinado espelho de família, sendo este o melhor ornamento da casa. Certo dia, a filha de D. Marcolina adoeceu e ela deixou a fazenda sob os cuidados de Jacobina enquanto viajava. A partir daí, ele já se vê desconfortável pois sua alma exterior – a necessidade de ser aclamado- estava restrita a meros escravos. Estes cada vez mais paparicavam o senhor, tudo com um propósito. Quando acordou percebeu que todos os escravos tinham fugido e que estava completamente sozinho. A sensação que sentiu nos dias seguidos era inexplicável. Estava desnorteado, sua alma inte-


rior clamava pela exterior. Percebeu que desde os últimos acontecidos não havia se olhado no espelho, e quando mirou-se ao invés de aparecer seu reflexo, viu como se encontrava seu interior, desfalcado e difuso. Atemorizado, não sabia como proceder, pensou que fosse um mal nervoso. Repentinamente pensou em vestir a farda de Alferes. Quando novamente observou, tudo havia voltado ao normal. Sua alma interior encontrou a exterior. O conto reflete sobre como o homem necessita de fatores externos para completar o sentido de sua vida e alcançar a felicidade e bem-estar. Através da história, Machado mostra como essa relação pode igualmente fragilizar o homem. Também faz menção a vaidade. Quando se recebe poder, mesmo que seja mínimo, os detalhes da vida passam a ser desprezíveis, e a necessidade de ser elevado pode ser viciante.

Curiosidades

●O autor escreveu mais de 600 crônicas ao longo dos seus 60 anos, tornando-se um dos responsáveis pela popularização do gênero do país. ●O escritor usou pelo menos 21 pseudônimos ao longo de sua carreira. No fim de vida, publicou crônicas apócrifas em "A Semana", mas seu estilo já era reconhecido por seus leitores.


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notícias

Fortalecimento do Sistema Ferroviário contribui para a circulação de livros Diversas obras da literatura brasileira vêm sendo traduzidas neste século para o francês, o italiano, o latim, o russo, dentre tantas outras línguas. Cada vez mais, estas traduções ganham força. Fato esse que pode ser explicado por uma notável amplificação do público leitor e mudanças por parte da tecnologia, como a ampliação da rede ferroviária europeia e o desenvolvimento dos navios a vapor, que facilitam a divulgação e a circulação dos impressos pelas diferentes partes do globo. O sistema ferroviário está sendo muito impulsionado devido à Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, por volta dos anos de 1850. Com quase 40 anos, grandes diferenças puderam ser notadas na literatura. O grande número de obras traduzidas circula pelo mundo através dos navios a vapor e, principalmente, o transporte por trens. Nos últimos tempos, têm surgido nos países um sentimento de independência, querendo formar nações e se separar uma das outras, ao mesmo tempo em que o processo de integração global ganha força. Livros brasileiros estão sendo traduzidos para o francês e publicados na forma de folhetim em jornais em Paris e obras de autores franceses também fazem o percurso inverso. A tradução de livros na forma de folhetim faz com que pessoas, de diferentes lugares do mundo, fiquem conectadas, porque declamam mais ou menos ao mesmo tempo a mesma história nos jornais.


EntrEvistas A nossa revista entrevistou algumas pessoas para saber a opinião delas sobre Machado de Assis. As respostas vocês conferem logo abaixo.

Entrevistada: Lindiane Brunelli 1-Quais as suas considerações sobre Machado de Assis? “Escritor com um poder argumentativo excelente. Suas considerações expostas permite-me afirmar que ele busca caminhos para uma educação emancipatória, nos alertando para o enfraquecimento da cultura, educação e filosofia.”

2-Qual a sua obra favorita e por quê? “Dom Casmurro. Por confirmar o olhar do autor por toda sociedade brasileira e, sobretudo, pelas polêmicas em torno de Capitu.”

3-Se Machado de Assis estivesse vivo, o que gostaria de falar para ele? “Que o admiro muito por saber da sua trajetória desde aprendiz de tipografia até sua ocupação, sendo o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.”


EntrEvistas

Entrevistado: Francisco Blanco 1-Quais as suas considerações sobre Machado de Assis? “Uma característica muito forte do Machado que considero importante para a maioria das suas obras é a generalidade dos assuntos abordados. Um tema em específico abre caminho para a reflexão de vários outros, o que é relevante considerar para a qualidade do autor.”

2-Qual a sua obra favorita e por quê? “Memórias Póstumas de Brás Cubas. quando criança me marcou muito.”

Por

ter

lido

3-Se Machado de Assis estivesse vivo, o que gostaria de falar para ele? “Parabenizá-lo por seu talento capacidade de tocar a alma de muitas pessoas através da escrita, e de como serão importantes para muitas gerações futuras.”


passatEmpo



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