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BEATRIZ KONSTANTINOVAS
ATIVAR E CONECTAR O PEDESTRE
RANSPONDO A VÁRZEA DA BARRA FUNDA:
Beatriz Konstantinovas Trabalho de Graduação Integrado II Instituto de Arquitetura e Urbanismo IAU - USP
Comissão de Acompanhamento Permanente David Moreno Sperling Francisco Sales T. Filho Lúcia Zanin Shimbo Luciana Bongiovanni M. Schenk Coordenador de Grupo de Trabalho Renato Anelli
São Carlos nov/2015
“...a cidade é sempre uma obra em andamento, por isso sempre permite que se veja, com clareza, outras possibilidades de configuração, por isso ela demanda ações e sugere configurações, é fonte e alvo, sujeito e objetivo, ao mesmo tempo, das nossas ações no seu espaço” (BUCCI, 2003)
Aos professores desta caminhada, por despertarem as buscas por perguntas, mais do que de respostas. Aos amigos de sempre e colegas do cotidiano, pela companhia e ajuda mĂştuas. Aos meus pais, pelo amor, apoio, incentivo e amparo. Ao Rodolfo por somar seu amor Ă minha vida.
ÍNDICE
BUSCA CONSIDERAÇÕES LOCAL LEITURA DIAGNÓSTICO UNIVERSO PROPOSTA REFERÊNCIAS
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BUSCA
Dentre inúmeras questões, minhas inquietações voltaram-se para a vivência na cidade: como esta poderia ser transformada em local de intercâmbio, de trocas de experiências, diálogos, e, de como tantos locais das cidades têm essa carência. Fato cada vez mais alarmante quando os novos espaços de lazer, consumo e as práticas sociais, tornam-se cada vez mais virtuais. Assim, constata-se que a falta de incentivo urbano ao uso de locais públicos aumenta ao analisarmos a conformação desconexa do território da cidade contemporânea. Suas fraturas e fragmentos apresentam-se de diversas formas, dentre elas: a segregação induzida, e a auto segregação – essa cada vez mais frequente – como produtos de crise social, econômica e sentimento de insegurança nas cidades; pela formação histórica da cidade, resultando em áreas subutilizadas – principalmente em antigas regiões industriais que, hoje em dia, sofrem com seu esvaziamento; por grandes vazios urbanos; pela existência de barreiras físicas quando não possuem infraestrutura adequada de transposição e, assim, sem a possibilidade de integração do espaço. A partir de tais pontos, minha busca parte do sentido de como é possível a transformação de um espaço fragmentado para ser reinserido à cidade, ativando seu uso, permanência e circulação. A cidade como local de intercâmbio, como dito ser o elemento central do urbanismo atual, segundo Borja (2006), ademais a três aspectos importantes: a criação de âmbitos de segurança; proximidade nas relações; e o bom ambiente, a qualidade do entorno. Assim como também diz Jacobs (2011): “Muito mais do que um espaço urbano fechado, recortado por ruas e avenidas, construído com blocos de concreto e lajes de aço... a dominar todas as paisagens, a cidade é... um território de relações no qual cada cidadão/cidadã busca satisfazer suas necessidades e realizar seus quereres. (...) É uma realidade viva, pulsante. Ela é composta e compõe uma rede de fluxos de pessoas, mercadorias, matérias... energias em constante movimento.”
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CONSIDERAÇÕES
Como parte importante do entendimento de uma cidade e de como atuar nela é a conceituação de Desenho Urbano, ou Urban Design. Nascido em países anglo-saxões, onde cursos de arquitetura e planejamento urbano são distintos, surgem como forma de ponte entre o alcance do planejamento urbano e o da arquitetura, em muitos países também como reação ao urbanismo e à arquitetura modernistas. Hamid Shirvani (1985 apud Nobre 2011) engloba na definição de desenho urbano, como campo multidisciplinar, o planejamento urbano, o paisagismo, a arquitetura, a engenharia de transportes, a psicologia ambiental, o desenvolvimento imobiliário, o direito urbanístico, entre outros, tendo como elementos essenciais os seguintes componentes: 1. Uso do solo – deve propor o “mix” de usos compatíveis que ocasionem a maximização do uso da infra-estrutura instalada 2. Forma e volumetria do espaço construído – a relação das novas construções com o ambiente natural e construído, entre o novo e o velho (recuos, coeficientes urbanísticos, gabaritos, cones visuais, “envelope” da construção, relações de forma e proporção 3. Circulação viária e estacionamento – essenciais para a vitalidade das atividades econômicas na cidade 4. Espaço público – vias, ruas, calçadas, praças, parques e espaços recreacionais 5. Circulação de pedestres – essencial para a vitalidade do comércio varejista e dos espaços públicos, diminui a necessidade do uso de automóveis. 6. Atividades de apoio – são todas as atividades que animam o espaço público, como o comércio varejista, barzinhos etc. 7. Mobiliário urbano – sinalização, arborização, iluminação pública, equipamentos tais como bancos, telefones públicos, etc Já, segundo Del Rio (1990), é como um “campo disciplinar que trata a dimensão físico-ambiental da cidade, enquanto conjunto de sistemas físico-espaciais e sistemas
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de atividades que interagem com a população através de suas vivências, percepções e ações cotidianas.” Destrinchando em temáticas as principais preocupações do desenho urbano também segundo Del Rio, temos: A imagem da cidade – imagens-símbolo da cidade, muitas vezes exploradas pelo turismo Visualidades – percepção dos espaços, vistas e panoramas. Tanto como vistas panorâmicas como corredores visuais no próprio tecido urbano, que indicam caminhos para algum local. Identidades locais – identidade própria, com características e história do local. Relação com o ambiente natural – sendo através de parques, visibilidade aos rios, etc. Relações com as arquiteturas existentes – problema decorrente da promoção de arquitetura independentes numa corrida para se ter sempre um novo e sensacional objeto. relações morfológicas – em relação com o modo de vida do local. É a falta de desenvolvimento compatível com a continuidade urbana. Como exemplos temos: condomínios fechados, shopping centers e mesmo conjuntos habitacionais, e mesmo quadras muito extensas dificultando passagens. Espaços públicos – seu uso e preservação vão de encontro com a cultura e educação da população e de seus dirigentes. Quando não há sensação de pertencimento da população ao local público, ele deixa de ser cuidado. Para tal é necessário planejamento que preveja atividades temporárias constantes, assim, com seu maior uso, torna-se parte do lazer da população e faz com que seja visto como local a ser preservado. Variedade de acontecimento – herança do modernismo, o monofuncioalismo tanto de edifícios quanto de bairros ou regiões, é algo a ser modificado. Uma cidade só se torna socialmente forte com uma rica mistura social e de usos. 15
Outro aspecto importante ao Desenho Urbano é o próprio espaço, sujeito e objeto de atuação. A forma como ele é utilizado e gerido influencia diretamente em seu desenvolvimento. Segundo VILLAÇA (1997), o espaço intra-urbano (conceito por ele desenvolvido, que tem como eixo central a estrutura urbana, “um todo constituído de elementos que se relacionam entre si de tal forma que a alteração de um elemento ou de uma relação altera todos os demais elementos e todas as demais relações.”) das cidades é muitas vezes utilizado como “mecanismo de dominação e controle, caracterizando, assim, espaços segregados”. O que também pode ser complementado pelo conceito de “empresariamento” que, segundo HARVEY (1986), “tem como característica central a noção de “parceria público-privada” na qual as tradicionais reivindicações locais estão integradas com a utilização dos poderes públicos locais para tentar atrair fontes externas de financiamento, novos investimentos diretos ou novas fontes geradoras de emprego”. Assim, em análise de CANUTTI (2008) Harvey busca esclarecer que a conformação do espaço urbano moldado para atender a critérios capitalistas impõe limitações ao seu próprio desenvolvimento, ao passo que as relações sociais e os processos de acumulação capitalistas são parte do resultado da configuração do espaço urbano. Dessa forma, ao percorrer histórico urbano da área escolhida para a proposta projetual, é evidente a ação do poder público, até os dias de hoje, o que resultou em períodos de limitação de seu desenvolvimento e transformações direcionadas, de acordo com diferentes períodos.
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LOCAL
O local escolhido é a região da Barra Funda, subprefeitura da Lapa, em São Paulo/SP.
Como parte da análise, trago um breve percurso histórico urbano, segundo CANUTTI (2008). Com início em meados de 1890 quando, da constituição do bairro, surge o primeiro arruamento da Barra Funda, a partir da Chácara do Carvalho, incentivado pela implantação das estradas de ferro, ligada aos interesses doa barões de café para o escoamento de mercadorias, o fortalecimento da economia cafeeira e da imigração europeia, e, deste, surgem a primeiras ocupações do bairro, separadas em parte alta e baixa, pela ferrovia. Juntamente com a ferrovia, o processo de modernização e industrialização da cidade de São Paulo, traz modificações na ocupação do bairro. Trouxe alterações na organização social do bairro, introduzindo iluminação pública e sistema de bondes elétricos, por exemplo, incentivados também pelo aumento populacional no local. O próximo período de grandes transformações foi no ano de 1929, com a crise econômica mundial, que alterou a organização social do bairro, quando grande parte da classe média, composta pelos pequenos industriais, comerciantes e produtores de café, deixa o bairro e, concomitantemente, os cortiços e pensões proliferam. Como outro reflexo, o Estado passou a buscar mecanismos de controle e regulamentação do uso do solo, por conta, principalmente, do crescimento continuo das cidades, causando manifestações sociais, freadas no período da ditadura. Obras para sanar problemas de drenagem foram implementadas, porém de forma insuficiente, e ocupações populares, concentradas no arruamento já existente, passam a se consolidar. No período seguinte, o país passou por um processo de redemocratização, com constantes mudanças políticas e econômicas. Também pelo incentivo do governo para relocalização industrial, causa retração no desenvolvimento do bairro. O quadro de instabilidade atinge inclusive as políticas públicas que, mesmo com um processo de urbanização intensivo, não apresenta políticas públicas habitacionais de expressividade 17
na cidade. Em 1968 foi elaborado o PUD Plano Urbanístico Básico, abordando diversos aspectos da cidade (cirulação, transporte, saneamento básico, habitação, etc), porém o plano não foi implementado. Já em 1970 o plano de zoneamento da cidade, que definia grande parte da Barra Funda como industrial o que tornou mais difíceis os investimentos imobiliários privados na região. O resultado da questão do zoneamento junto com a relocalização de indústrias, fez com que várias delas fechassem, o que contribuiu ainda mais para o não desenvolvimento do bairro. Grandes áreas ociosas e subutilizadas foram o resultado, mesmo com a implementação dos viadutos da Pompéia e Antártica e obras de prolongamento de vias, que não foram suficientes para evitar as áreas desocupadas na parte baixa do bairro. Apenas em 1988, com a aprovação do Plano Diretor, veio a possibilidade de utilizar o instrumento Operação Urbana, para incentivo da ocupação em determinadas áreas, assim, o bairro passou a ser visto como objeto de interesse pelo mercado imobiliário, com a Operação Urbana Água Branca. Tal instrumento tem como finalidade estimular e direcionar investimentos aprovados para o processo de transformação da Barra Funda, buscando estabelecer uma nova caracterização, de industrial-operária para se voltar ao comércio e prestação de serviços. Atualmente a área conta com incentivos do governo para que haja sua ocupação e desenvolvimento, assim, conta com diversos agentes transformadores que vem pensando para viabilizar uma melhor produção do espaço urbano no local, assim, podemos citar, além da Operação Urbana Água Branca, os seguintes: projeto urbanístico elaborado pela EMURB, Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo, concurso Bairro Novo, Operação Urbana Lapa-Brás e produção do mercado imobiliário. 18
BARRA FUNDA subprefeitura
Sテグ PAULO
LAPA
ZONA OESTE
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LEITURA
O local apresenta uma das menores densidades de São Paulo, 2568 hab/km² em uma área de 5,6km², sendo a menor dentro da subprefeitura à qual é subordinada, juntamente com os distritos de Jaraguá, Jaguaré, Vila Leopoldina, Lapa, e Perdizes, com área total de 40,1 km². Tem como limites a marginal Tietê, os distritos de Perdizes, Lapa, Bom Retiro e Santa Cecilia. A configuração atual do tecido urbano da área teve como responsável a ferrovia implantada que fez com que a ocorresse o desenvolvimento urbano e ocupação industrial em sua proximidade. Ao sul da linha ferroviária é predominante o uso residencial, em quadriculas e sistema viário regulares, apresentando uma continuidade com áreas vizinhas. Ao norte da linha férrea, a ocupação industrial inicial fez com que a área se formasse a partir de lotes e quadras de dimensões maiores, apresentando formas irregulares, muitas com baixa ou nula utilização. Seu traçado viário descontinuo se dá devido aos grandes lotes, formando eixos não uniformes. Atualmente apresenta a conformação de uso predominante do solo segundo o mapa a seguir.
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A área apresenta grande rede viária e de transporte público: marginal Tietê, Avenidas Marques de São Vicente e Francisco Matarazzo e o terminal intermodal da Barra Funda, estações da CPTM, terminal rodoviário intermunicipal e corredores de ônibus conectando a cidade, garantindo à região uma grande acessibilidade na escala metropolitana. Porém, quando olhamos a situação da acessibilidade em escala de bairro esta apresenta muitas dificuldades, principalmente aos pedestres. As barreiras criadas pela linha férrea, o rio Tietê, as grandes quadriculas impermeáveis ao passeio, tornam o ambiente árido, de difícil circulação e com nenhum atrativo de permanência em questão de espaços públicos livres e de lazer, pois há apenas o Parque da Água Branca, enquanto que na zona de maior uso industrial e comercial até a presença de simples áreas vegetadas é quase nula. Outro ponto relevante a se destacar são os equipamentos públicos e privados importantes na área(pág 22): Parque da Água Branca, Memorial da América Latina, Sesc Pompéia, Estádio Palestra Itália, Centro de treinamentos do Palmeiras, além de dois shoppings, diversas universidades, Rede Record de Televisões, Fórum criminal, e a já citada estação da Barra Funda. Dando continuidade à análise da área, diversos mapas frios da cidade de São Paulo foram cruzados para ressaltar pontos relevantes para a região. Detectamos então pontos de alagamento, algumas favelas e áreas de vulnerabilidade social. Pontos que são importantes ao pensar em um projeto urbano para o local, de forma a estabelecer melhorias em seu entorno (pág 23)
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DIAGNÓSTICO
Para que seja feita uma proposta de enfrentamento para a área é necessária a análise conjunta dos obstáculos, deficiências e potenciais do local, assim, pontuo-as. As deficiências constatadas são a falta de áreas livres públicas, áreas de alagamento, disparidade habitacional em relação à empregos (porém estes com baixa diversidade), deslocamento de pedestres truncado, baixa densidade demográfica e presença de favelas. Os obstáculos se apresentam fisicamente como a linha férrea e o rio Tietê. E os potenciais da área são: variedade e grande quantidade de transporte coletivo, região bem servida de universidades. E, ademais, um potencial a ser ativado na região para que os outros quesitos venham a ter melhor resultado, é a habitação. A partir do diagnóstico primário a busca por diretrizes projetuais resultou em três chaves principais para o programa: priorizar o fluxo dos pedestres (transposições físicas, térreos permeáveis, circulação entre edifícios); ativar a habitação (adensamento, edifícios mistos); e, como um pano de fundo estruturante, a criação de um sistema de áreas verdes livres que proporcionem a conexão do entorno e um melhor passeio ao pedestre, além de serem úteis como áreas drenantes para as regiões alagáveis.
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UNIVERSO
http://hacedordetrampas.blogspot.com.br/2011/02/proyecto-berlin-hauptstadt-de-ap.html
Berlin Hauptstadt – Smithsons, Berlim – Alemanha (1957) https://www.flickr.com/photos/pg/2979356882/
Casa da Cultura – Peter Celsin, Estocolmo - Suécia (1976)
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http://www.frpo.es/#!orsp-norway-overview/ceg5
Oslo Region Suburban Prototype - FRPO RODRIGUEZ & ORIOL ARCHITECTS - Noruega–
http://www.oma.eu/projects/2007/almere-masterplan/
Masterplan de Almere – OMA, Almere – Holanda (2007) 29
Street Bridge Park – OMA e OLIN, Whasigton – Estados Unidos (2014)
http://www.archdaily.com/557944/oma-olin-win-competition-for-d-c-s-bridge-park/
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SEHAB Heliopolis – Biselli Katchborian Arquitetos, São Paulo (2014)
http://www.archdaily.com.br/br/625377/sehab-heliopolis-biselli-katchborian-arquitetos
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http://www.itaproject.eu/TTU/3/calabria.html
Universidade de Calábria – Vittório Gregotti, Calábria – Itália (1972)
http://designyoutrust.com/2012/05/new-york-secret-rooftop-world/
High Line Park - New York, EUA
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http://www.spbr.arq.br/sp-razoes-de-arquitetura-da-dissolucao-dos-edificios-e-de-como-atravessar-paredes/
Mirar, transpor, invadir e infiltrar. Quatro operações, ações, arquitetônicas, para a superação da violência urbana transformada em paredes sólidas da construção da cidade. Atenho-me, primordialmente, à ação de transpor que, segundo BUCCI (2010), é uma “possibilidade técnica da sobreposição vertical para multiplicar o chão da cidade”.
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Imagens: http://concursosdeprojeto.org/2014/09/24/premiados-concurso-baixinha-de-santo-antonio-salvador/
Concurso Público Nacional de Ideias de Arquitetura e Urbanismo para Baixinha de Santo Antônio – RVBA Arquitetos e OCO Arquitetos, Salvador (2014)
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https://en.wikipedia.org/wiki/Barbican_Estate#/media/File:Barbican.flats.london.arp.jpg
Barbican Estate - Chamberlin, Powell and Bon, Londres – Inglaterra (1970)
PROPOSTA
Com o olhar já voltado à proposição projetual foi feito um mapa de levantamento de áreas verdes, vazias e subutilizadas, apresentando, também, ocupações por favelas e construções HIS já consolidadas, porém com alto índice de degradação(pág. 34). Considerando análises e estudos anteriores, a proposta de enfrentamento visa a criação de um sistema de conexões entre áreas verdes livres, criadas a partir de áreas vazias ou subutilizadas do local, como um plano de fundo estruturador dos eixos principais da proposta. No mapa a seguinte (pág 35) vemos as ruas principais destacadas para sua requalificação visando o andar do pedestre, variando de acordo com suas possibilidades, desde aumento na vegetação e permeabilidade do solo, até a retirada de estacionamentos para agregar espaço à calçadas.
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A questão primordial a estruturar o projeto é a transposição do vale do Tietê, visto como forma de conectar o pedestre às áreas adjacentes, proporcionando um passeio que reintegre a visão como pedestre ao seu redor, levando o usuário a transpor o vale do rio tietê atravessando de uma cota até a mesma cota de altura no extremo oposto(imagem pág. 37). Para tal foi eleito um eixo principal para a passagem da travessia, identificado no mapa a seguir. Sua escolha se deve pela possibilidade de conexão inicial com áreas livres, sua força no traçado viário, relativa proximidade para conectar diversos meios de transporte coletivo e por ter sua passagem por áreas onde poucas desapropriações são necessárias, como mostra também a imagem anterior (pág. 35). Como eixo secundário foi estabelecido o caminho, a ser requalificado, que liga o eixo principal ao terminal da Barra Funda, criando um novo fluxo aos pedestres. Assim, o sistema criado conta com a malha de requalificações viárias para conexão do passeio do pedestre entre as áreas livres, o eixo secundário que reforça o novo fluxo para o pedestre e o eixo principal que, além de ser uma transposição, visa um passeio por entre edifícios e proporciona diversas ambientações (imagem pág 38).
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A proposta de ocupação das três grandes quadras e a continuação do eixo principal que se dá pelas quadras seguintes de menor dimensão, ao norte do rio e ao sul da linha férrea, é espacializada segundo o diagrama de programa abaixo:
PARQUE
área consolidada (habitação)
ÁREA REVEGETADA
EQUIPAMENTOS URBANOS
área consolidada (habitação)
rio Tietê
área consolidada (industrial) área consolidada (industrial)
corredor de ônibus ESCRITÓRIOS
área consolidada (industrial)
área consolidada (industrial) HABITAÇÃO COM TÉRREO COMERCIAL GALPÕES
linha férrea área consolidada (habitação)
estação Barra Funda 41
B
C
ESCOLA TÉCNICA
ESCOLA- INFANTIL E FUND. I
ESCOLA- FUND. II E E. MÉDIO
LÂMINAS HABITAÇÃO - 9 PAV.
LÂMINAS HABITAÇÃO - 11 PAV. LÂMINAS HABITAÇÃO - 7 PAV. UNIDADE MÉDICA ATENDIMENTO AO TRABALHADOR ESCOLA- FUND. II E E. MÉDIO
TEATRO ESCOLA- INFANTIL E FUND. I PAVIMENTO SUPERIOR- EQUIPAMENTOS URBANOS UBS
A
TORRES HABITAÇÃO - 17 PAV.
A
DELEGACIA DA MULHER
ESCOLA TÉCNICA ÁREA DE ZOOM LÂMINAS ESCRITÓRIOS PASSARELA CASA DAS CALDEIRAS
B
C
EST. INTERMODAL BARRA FUNDA
Conformação da quadra: a partir do prolongamento de ruas existentes e cruzamento de percursos peatonais fortes, pela existência de pontos de atração, como imagem ao lado, criam-se formas, na maioria não ortogonais, de grandes proporções, as quais, em seu formato apresentam semelhança ao tipo de quadra existente ao longo do vale do rio tietê. A diferenciação começa do ponto em que a permeabilidade de passeio, inexistente nos trechos já consolidados, aparece com muita força nessa nova conformação espacial. O pavimento térreo, ocupado por serviços e comércios na sua maioria, atrai o movimento constante, ao apresentar também usos noturnos e de diferentes durações ao longo da semana, aliados aos usos dos equipamentos urbanos ao longo do eixo principal, por onde passa a transposição completa da várzea.
Conformação do eixo-passarela: a transposição do vale nasce da necessidade de deslocamento de pedestres no momento em que se percebe sua grande carência desse tipo de infra-estrutura. Mas sua conformação vai muito além disso. Há muito a visão na escala do pedestre perdeu-se em meio aos automóveis, a passarela elevada ao longo de todo o vale intencionalmente eleva tal olhar para que o pedestre se localize no ambiente, sinta o que compõe a cidade ao seu redor, tome para si novamente o sentimento de pertencimento ao local que percorre. Alguns marcos urbanos poderão ser percebidos através do percurso ao longo da transposição. Torres da casa das caldeiras, preservada até os dias de hoje, memorial da américa latina e sua ponte sobre a Av. Auro Soares moura de Andrade, SESC Pompéia com sua composição de ruinas de industrias e edificações de anexo, o estádio do palmeiras (time-símbolo do início da conformação da Barra Funda), o próprio relevo do local tendo a visão do vale de uma escala elevada, o rio, como forma de reapresentar aos pedestres sua existência, em contramão ao que ocorre hoje em que sua lembrança torna-se presente apenas como um problema, vindo de enchentes e alagamentos, a linha férrea, também importante na história da formação do local, além da possibilidade de identificar as diferentes conformações de quadra e ocupação existentes ao sul da linha férrea, ao norte do rio e entre ambos, como forma de análise conjunta da formação histórica do local até os dias de hoje. 43
B
C PARQUE 6
CIRCULAÇÃO VERTICAL PASSARELA
PARQUE 5
ÁREA REVEGETAÇÃO
PARQUE 4 GALERIAS SERVIÇO E COM-ERCIO
EQUIPAMENTOS URBANOS - TÉRREO
ESTACIONAMENTOS COL. PARQUE 2
A
ÁREAS DESTINADAS AOS GALPÕES
A
ACESSOS - CIRCULAÇÃO VERTICAL
MIRANTES PARQUE 3
EST. INTERMODAL BARRA FUNDA AREAS TÉRREAS DOS ESCRITÓRIOS PARQUE 1 - INICIAL
B
ÁREA DE ZOOM
C
Parque 1 inicial: ponto de conexão com o caminho revitalizado até a estação Barra Funda. Parque voltado ao caráter cultural da região. Com proximidade à equipamentos como o SESC Pompéia, e a própria casa da Caldeiras que, atualmente, é utilizada para shows e eventos culturais. Contará com um palco de arena para uso em conjunto com tais equipamentos. Além de área arborizada e o primeiro de uma série de mirantes ao longo do projeto de transposição do vale da Barra Funda. Habitações: com duas tipologias e 4 tipos, tem sua conformação sempre em edifícios de uso misto, porém com diferenciação dos espaços. O térreo, com média de pé direito de 5m variando de acordo com o relevo onde se encontra, é ocupado pelos mais diversos serviços e comércios que forem de necessidade da região. Usos diurno e noturno, de curta ou longa duração, de alta ou menor frequência. As galerias abaixo das marquises formam blocos pequenos tornando o passeio do pedestre fluido e sem dificuldade, e sua forma permite criar diferentes ambientes, diferentes graus de intimidade de praças abarcadas pelas áreas de comercio e serviço. Já acima das marquises localizam-se as habitações, tendo seu acesso restrito a moradores, porém mesmo que os moradores tenham acesso por circulações verticais distintas, cada conjunto de edifícios agrupado pela mesma marquise, possui área de convivência integrada, ajudando na preservação do local, como uma praça elevada. Tal conformação é válida para ambas tipologias. Quando torres, apresentam 17 pavimentos com apenas um tipo, e, quando lâminas, variam entre 7 e 11pavimentos, apresentando 3 tipos. Galpões: disponibilizados terrenos para criação de galpões e/ou comércios de médio porte, ou pequenos depósitos, primeiramente para uso dos poucos proprietários que tiverem seus terrenos desapropriados ao longo da implementação do projeto. Com restrições em questões de ruídos e salubridade em decorrência da proximidade com edifícios de habitação. Edifício em lâminas para escritórios: com o objetivo de maior variedade de usos na região, laminas destinadas à escritórios em duas quadras, com localização em proximi45
dade com estacionamentos coletivos. Tendo seu térreo permeável no entorno. Parque 2: área destinada ao parque da quadra 01, sua conformação será se aproveitando do relevo acidentado para criação de percursos lúdicos, conta também com um mirante, sem ligação direta com a passarela, mas com visualidades que proporcionam ao pedestre uma reaproximação com seu entorno. Parque 3: o parque de maior área dispõe de complexo esportivo para atendimento de todo o entorno, carente de áreas para prática de esportes. Contando com ginásio, quadras, construções de apoio como vestiários e banheiros, áreas de descanso, pic nic, pista de corrida e caminhada, pista para bicicletas e área de parque infantil. Parque 4: ponto de apoio do início da transposição-ponte do rio tietê. Com proximidade do rio, sendo a parte mais baixa do entorno, conta com projetos de drenagem para a região além de áreas de fruição. Parques 5 e 6: ao norte do rio tietê, servem como ponto de apoio aos mirantes da passarela e de uso conjunto com os equipamentos urbanos ao seu entorno. Área norte: a região da proposta localizada ao norte do rio Tietê teve pouca intervenção, justificada pelo fato de ser uma área de maior consolidação urbana, tendo poucos terrenos subutilizados, maior quantidade de habitações utilizadas. Assim, tendo em vista as necessidades do local foram disponibilizados espaços destinados a equipamentos urbanos de carência da área, alinhados com a passarela, porém sem delimitação de projeto habitacional ou de comercio e serviço. Passarela: tem seu início e fim em parques e seu percurso proporciona ao pedestre, além do intuito estrutural que é a transposição da linha férrea e do rio, uma ligação direta à equipamentos urbanos e mirantes estrategicamente posicionados. 46
Equipamentos urbanos: foram pensado de forma a suprir as necessidades mais iminentes do local: uma escola técnica (Apesar da região ser formada por diversas faculdades, a ausência de um colégio técnico é sentida), uma delegacia da mulher (visto que existem áreas de alta vulnerabilidade social e que a possibilidade de violência doméstica é grande nesses casos, o atendimento especial às vítimas é necessário) uma UBS (as unidades básicas de saúde não contemplam a região do vale da barra funda, possivelmente por não ser um local com densidade alta, porém, com a instalação de moradias, sua necessidade é latente) um teatro (atividades culturais são de grande importância para melhora do local, sentimento de pertencimento dos usuários e também como diversidade de uso, tanto como produto oferecido como diversidade de horário de animação urbana) uma escola de ensino infantil e fundamental I e uma de fundamental II e ensino médio ( carência de escolas públicas na região como um todo, tendo a possibilidade de utilização a noite pelos moradores assim como para supletivos e educação para adultos), e uma unidade médica de atendimento ao trabalhador (visto a grande quantidade de empregos oferecidos em galpões e pequenas fábricas, o número de acidentes de trabalho pode ser grande, viabilizando a existência de atendimento especializado)
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AA
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BB
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50
100
200
CC
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B
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B
Para um melhor entendimento do projeto e suas diretrizes, uma área foi selecionada para maior detalhamento (à esquerda). O limite escolhido possibilita observamos a disposição dos edifícios com suas caixas de escada; os acessos verticais principais da passarela; as diferentes áreas vegetadas, tanto parques -como no primeiro em que é composto pelo teatro de arena com pequena arquibancada e articulação da passarela com a casa das caldeiras- e também aspectos como arborização de vias.
AA
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BB
0m
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Como questão de grande importância, a ocupação das quadras foi pensada de forma a adensar a região ao mesmo tempo que a taxa de ocupação permanecesse baixa para que houvesse maior fruição na circulação peatonal, além da criação de diversas áreas livres destinadas à praças, parque e inclusive uma reserva para revegetação. Assim, temos na região da Barra Funda uma densidade de 25,68 h/ha (2568hab/km²) e na região da Subprefeitura da Lapa, 76,19 h/ha (7619hab/km²). Com a implementação do projeto, mais de 6mil unidades habitacionais calculadas (dentre as quais há parcelas destinadas a HMP e HIS), para mais de 24mil habitantes, o aumento da densidade habitacional da Barra Funda e da subprefeitura da Lapa seriam, respectivamente, de 168% e 7% aproximadamente, indo para 69,04 e 82,26hab/km². Contando ainda com áreas destinada à estacionamentos coletivos e médios lotes para a realocação das desapropriações, além do destinado à serviços e comércio, a taxa de ocupação dos terrenos fica em torno de 38%, enquanto que o coeficiente de aproveitamento fica em aproximadamente 1,12, como mostra a tabela a direita.
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torres
1 tipo
laminas
3 tipos
torres
lâminas
TOTAL
6313 u.h. total 6959 u.h. total x 3,5 24356,5 habitantes
100% 78m²
TAXA DE OCUPAÇÃO
294663,0481 m² 778523,4605 m²
38%
COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO
877316,9673 m² 778523,4605 m²
1,12
379645,2093 m² à 50% 158321,6339 m² à 90% 240556,6173 m² à 0%
43%
24475 hab 0,78km²
31378,2 hab/km²
24475 hab 77,852 há
314,38 hab/hectare
20% HMP 80%
130uh 516uh
PERMEABILIDADE DO SOLO
20% HIS 10% HMP 70%
317 u.h. 158 u.h. 1110 u.h
DENSIDADE
50% 48,7m² 3172 u.h tipo 2
80% HIS 10% HMP 10%
2538 u.h. 317 u.h. 317 u.h.
25% 60m² 1585 u.h. tipo 3
20% HIS 10% HMP 70%
317 u.h. 158 u.h. 1110 u.h
25% 36,5m² 1585 u.h. tipo 1
HMP HIS
subTOTAL HMP HIS
646 u.h.
633 u.h. 3143 u.h. 2537 u.h.
763 3143 3053 6959
u.h. u.h. u.h. u.h.
torre: 1 tipo
1 3 lâmina: 3 tipos
2
57
Abaixo, para exemplificar a distribuição dos tipos em cada tipologia de habitação, encontram-se plantas dos níveis térreo, pavimento da marquise/tipo e cobertura.
tipologia: lâminas
pav. térreo 58
cobertura
pav. marquise/tipo
59
60
61
Dessa forma, a proposta, apresenta solução para as deficiências do local, para a resolução dos obstáculos e também para a ativação de seus potenciais. Considera também as propostas do Plano Diretor para o Municipio de São Paulo, em que a reagião tipologia: torres encontra-se no eixo de reestruturação e requalificação, tendo como plano regional estratégico (PRE da Lapa) quesitos, dentre outros, como: transformar zonas industriais em mistas, estimular atividades esportivas em áreas desocupadas, estimular atividades culturais e diversificação das atividades comerciais e de prestação de serviços, estes sendo contemplados no projeto apresentado. De forma abrangente, então, a ilha fragmentada do vale da Barra Funda integra-se novamente ao seu entorno, permitindo fruição, conexão, estares e permanências para que se torne um ambiente propício aos intercâmbios urbanos.
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pav. térreo
pav. marquise
pav. tipo
cobertura 63
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