Dezembro | 2016 | Edição 00
RESENHA - LIVRO DESTAQUE - CONTO
´ DO LIVRO AO FILME
ENTENDA MELHOR AS ADAPTAÇÕES
-verão-
MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO
VOCÊ SABE COMO FUNCIONA?
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m agradecimento mais que especial para a nossa professora orientadora Mariana Ferreira Lopes. Somos eternamente gratas pela sua paciência e ensinamentos. Agradecemos também a todos os entrevistados que colaboraram na produção das matérias, aos leitores que participaram do questionário que guiou a elaboração da revista e a todos os familiares e amigos que apoiaram direta e indiretamente a realização deste projeto. Somos gratas pelas fontes, fotos e ícones de reprodução, e principalmente, a Nina e Monet, por garantirem a sanidade mental das jornalistas.
Matérias - Agatha Zago e Beatriz Paludetto. Diagramação - Beatriz Paludetto. Orientação - Mariana Ferreira Lopes. Colaboração - Ana Flávia Bittencort, Catharina Baltar, Ellen Secco, Natália Cristina Martins de Sá. Foto de Capa, Sumário e Horóscopo: Reprodução
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M P.5 - Carta da Leitora, Expectativas para uma revista literária
P.6 - Adaptações, Do livro ao filme
´ P.17 - Desafio, Verão e férias P.18 - Mulheres na Literatura, Inspirações femininas P.20 - Mercado Editorial,
P.11 - Livro em Destaque,
Harry Potter e a criança amaldiçoada
P.24 - Dicas para escritoras,
P.12 - Resenha, Como eu era Antes de Você P.14 - Eventos,
Como sobreviver a um evento literário
Como funciona no Brasil
Todas as informações que você precisa saber
P.26 - Horóscopo Literário,
Livro para cada signo
P.30 - Contos e Quadrinhos. Parque de diversões e Cerulean
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Literárias é uma revista sobre o universo literário, voltado para as leitoras de todo o Brasil. Ela surgiu da proposta de trabalho de conclusão de curso na graduação de Comunicação Social – Jornalismo da UNOPAR pelas pesquisadoras Agatha Zago e Beatriz Paludetto. Nesta primeira edição estreamos com a temática férias de verão, onde abordaremos o mundo das adaptações literárias, do mercado editorial brasileiro e de mulheres que marcaram a literatura nacional. Além disso, trouxemos diversas indicações literárias por meio do horóscopo, livro do ano e em destaque. A Literárias também busca incentivar os escritores iniciantes brasileiros, por isso, mandem seus contos, crônicas ou quadrinhos para a gente! As leitoras também têm o seu espaço na revista, na sessão de “carta da leitora”, e estamos ansiosos para receber suas opiniões e sugestões. A revista é feita para você! Esperamos que você se divirta durante a leitura e aproveite as férias em companhia de seus livros. Boa viagem! _
Agatha Zago, uma fangirl apaixonada por literatura, viciada em doces, protetora dos animais e lufana de coração.
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Beatriz Paludetto, leitora compulsiva, sereia, feita de lua, booktuber e quem sabe uma futura jornalista diagramadora.
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Carta da leitora Escreva pra gente, envie seu comentário, carta ou crítica para nós em literariasrevista@gmail.com
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esde muito pequena sempre fui apaixonada por histórias. O que mais me encanta em um livro é poder mergulhar em outra realidade, vivenciar novas experiências a partir desse novo contexto, e realmente viver essa história que se torna sua. Cada livro traz um aprendizado diferente e alguns até se tornam um divisor de águas na sua forma de pensar, sentir e ver o mundo. Atualmente, a maioria dos livros que leio são de autores internacionais. Acredito que uma revista literária é essencial para expandir o horizonte dos leitores, apresentando leituras e assuntos interessantes que na maioria das vezes não são abordados, explorando um universo de livros que fuja do contexto livros-populares-que-são-divulgados-em-massa-e-todos-conhecem mostrando outros títulos nacionais e internacionais, outros tipos de leitura e gêneros que contribuem para o prazer, crescimento e amadurecimento tanto de leitores iniciantes quanto de leitores de longa data. -Leitora Ellen Secco
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obretudo em uma era tão digitalizada, é primordial se falar de literatura. De fantasias, romances, mistérios, dramas. São essas histórias, enredos em formas de livros, crônicas, contos e poemas que sedimentam criatividade e abrem as portas para a imaginação. Alicerçam o pensamento crítico. Muitas vezes, o primeiro contato de um futuro leitor, é por meio de uma revista exatamente assim, que mostra um pedaço desse universo tão rico e cheio de amor. Por isso, essas revistas são tão importantes para os leitores iniciantes e para os “não iniciantes” também. Por meio delas, novas informações são passadas de um jeito divertido e instigante, e quem ama os livros (e todo o seu universo) sabe: Nunca é demais falar de literatura.
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-Leitora Ana Flavia Bittencourt
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daptações são hoje muito populares, você encontra nos cinemas, na TV e nos livros. Isso acontece porque as vezes determinada história é tão impactante e agrada tanto as pessoas que adaptá-la a diversos tipos de mídias é tanto vantajoso financeiramente quanto desejado por muitos fãs. Entretanto, uma das mais polêmica transposição de mídias, é o livro que vira filme. Tânia Pellegrine¹, diz que os laços entre os livros e o cinemas são tênues, e explica que “nas páginas, são as palavras que acionam os sentidos e se transformam, na mente do leitor, em imagens; a tela abriga imagens em movimento que serão decodificadas pelo espectador por meio de palavras.” O roteirista Rafael Ceribeli afirma que sempre buscam inspiração na literatura “não precisa ser adaptação literal, pode ser algo mais livre, buscamos algum conto ou texto e escrevemos um curta em cima disso. Pois são linguagens diferentes.’ Ou seja, cada pessoa que pegar um livro de histórias, automaticamente imaginará a história totalmente diferente da outra que ler o mesmo livro. E é então que podem surgir as divergências; Algumas sa-
“o que funciona no papel as vezes não funciona na tela”
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gas quando seus direitos estão sendo convertidos para uma adaptação real, é muito comum os fãs inventarem o elenco perfeito. Rafael Ceribeli aponra que um livro é a interpretação individual de cada leitor, enquanto o filme é a interpretação somente do diretor e roteirista. “O livro ele é seu, você construiu o cenário, a identidade e a empatia, sozinho você criou o que você lia. Já o filme é uma história pronta, você compra aquilo ou não”. Quando uma obra é autorizada pelo autor para ser adaptada ao audiovisual, existem autores que preferem ficar de fora e deixar nas mãos dos diretores e roteiristas, outros que já incluem cláusulas em seus contratos de cessão o direito de interferir. Porém, é uma parte crítica, e na hora de adaptar pode dar muitos problemas para o resultado e impressões posteriores. A aclamada adaptação “O Iluminado” do livro de mesmo nome, realizado pelo diretor Stanley Kubrick em 1980,
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não agradou o autor, Stephen King. Segundo King, o filme não fez juz a vários personagens, e que o tom do filme ficou frio e distante da sua obra original. Ou em contrapartida, nas filmagens da adaptação de Cinquenta Tons de Cinza, o contrato dizia que a autora, E.L. James, poderia interferir, o que resultou em muitas brigas e a saída da diretora Sam Taylor-Johnson dos futuros filmes da franquia. O que devemos ter em mente quando falamos de adaptações, é que jamais será idêntico. Rafael pontua que “São dois meios muito diferentes, a linguagem é muito diferente, o que funciona no papel as vezes não funciona na tela” O diretor e produtor de um filme tem que ter a sensibilidade de transmitir a ideia da arte original, mesmo que faça muitos cortes. O que faz uma adaptação ser boa é a capacidade de adaptar a ideia de forma que fique original e adaptada ao mesmo tempo. Ceribeli continua explicando
Foto:Reprodução
O Iluminado- 1980
Cinquenta tons de cinza- 2011
o QUarto de jack- 2016
Foto:Reprodução
Foto:Reprodução
“O cinema é uma arte objetiva, a narrativa tem que ser desenvolvida objetivamente, você tem ponto de inflexão, primeiro segundo terceiro ato. Já a literatura é uma arte subjetiva, você consegue enxergar dentro do caráter do personagem. E no cinema esse é o desafio, você passar o que o personagem tá pensando, transformar as realizações dele em imagens” Mas o que levar em conta na hora de analisar, se aquele filme baseado no livro querido, é ou não uma boa adaptação? Ismail Xavier², diz que quando uma adaptação é boa alguns fatores são primordiais na hora de avaliar, e são como “A fotografia reproduz a atmosfera sombria ou luminosa do livro, que o ator compõe bem a fisionomia e o caráter dos protagonista, que a montagem e os movimentos de câmera imprimem o ritmo certo, que a música infunde a tonalidade correta” tudo isso para “privilegiar a ideia da fil-
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magem como transplante de efeitos e sentidos” Algumas vezes os fãs das adaptações adoram, mas a crítica especializada discorda. Isso ocorreu no filme recém lançado Batman vs Superman, que apesar de ter recebido a baixa média de 27% entre os críticos, segundo o site Rotten Tomatoes, e a média 62% dos fãs. Apesar de tudo, é sempre muito bom ler o filme e assistir ao livro, ter a mesma história contada de várias formas por vários pontos de vista. No ano de 2016 tivemos várias adaptações literais e inspiradas. Algumas que vale a pena você ver: O Regresso, Orgulho e Preconceito e Zumbis, O Quarto de Jack, Alice Através do Espelho, Tarzan, O Bom Gigante Amigo, Inferno e Animais Fantásticos e Onde Habitam. _ ¹ No artigo “Narrativa Verbal e Narrativa Visual: Possíveis Aproximações” ² No artigo “Do texto ao filme: A trama, a cena e a construção do olhar no cinema.”
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livro destaque
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oi em julho de 2011 que toda uma geração foi para os cinemas acreditando encerrar o que seria uma das maiores sagas juvenis já criada. Depois de 7 livros e 8 filmes, a saga do jovem com uma cicatriz na testa e seu incrível mundo bruxo teria um ponto final. Um ponto final, que planejadamente ou não, se tornou reticências, o mundo bruxo em constante expansão, se tornou livro, filme, jogos eletrônicos, jogos de tabuleiro, parque de diversões, um portal na internet e um jogo virtual com Pottermore, uma peça de teatro e
finalmente novos filmes. J.K. Rowling em entrevistas já foi muito direta em dizer que jamais haveria continuações. Entretanto, algumas coisas parecem ser incontroláveis e novamente os ávidos e órfãos fãs do mundo bruxo vão aos cinemas, logo depois de comprarem o oitavo livro oficial da saga Harry Potter. Animais Fantásticos e Onde Habitam, primeiramente publicado como um livro do mundo bruxo, escrito pelo personagem Newt Scamander tornou-se a inspiração para a nova saga de filmes bruxo. A história gira em torno de Newt
e sua maleta especial, cheia de criaturas fantásticas. No longa, podemos ver esse outro lado da magia, agora em um país novo, Estados Unidos, precisamente na cidade de Nova Iorque nos anos 20. Com toda a temática única, acolhedora e incrível que J.K. consegue criar. Nos fazendo mergulhar de forma mais profunda e confirmando que mesmo depois de mais de 10 livros e 9 filmes relacionados ao mundo bruxo, e textos complementares no Pottermore, ainda existe muito a ser descoberto sobre os bruxos, seu mundo e seus animais.
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Trailer de Animais Fantásticos e Onde Habitam Literárias, verão. 11
resenha
-o livro mais lido do ano -
Como eu era antes de voce
^ de Jojo Moyers
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Como eu era antes de você” da escritora Jojo Moyes, foi o livro mais vendido no Brasil no ano de 2016, segundo o site PublishNews. No mês de junho, tivemos a estreia do filme baseado na obra, protagonizado por Emilia Clarke e Sam Clafin. O livro é um romance, que conta a história de Louisa, moça responsável e com poucas metas na vida. Lou era responsável pelo sustento de sua família, até ficar desempregada. Desesperada para achar um emprego, acaba sendo contratada pela família de Will para ser sua cuidadora. Will Traynor era um jovem rico e aventureiro que gostava de praticar esportes radicais e viajar pelo mundo. Ele acaba sofrendo um acidente que o torna tetraplégico. E é nesse momento que a personagem Lou aparece em sua vida. Ela fica responsável por fazer companhia a Will, e atender algumas de suas necessidades. No início, Lou enfrenta desafios em relação ao seu paciente, que era, muitas vezes, taciturno e grosseiro. Aos poucos eles começam a criar uma relação de companheirismo e amizade, e ambos aprendem a ver a vida com outros olhos e aproveitam cada momento que tem juntos. Os personagens passam a viver uma história de amor emocionante e que exige vários lencinhos de seus leitores.
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Palestra “ A morte é um dia que vale a pena viver” de Ana Claudia Quintana Arantes
Jojo Moyes tem a coragem de abordar assuntos complexos e difíceis de lidar, tudo com uma boa dose de sensibilidade. Ela nos mostra as dificuldades que os cadeirantes enfrentam, e sentimos na pele os desafios e a indiferença sofrida por aqueles que precisam de cuidados especiais. Nós entramos na rotina de Will e Lou, vivenciamos suas dores, suas expectativas e suas conquistas. A autora é capaz de apresentar personagens incrivelmente reais e humanos, que possuem falhas, dias ruins e inseguranças. A obra de Jojo ressalta a importância do cuidador na vida de um paciente, que dependem da ajuda de outros para realizar atividades de vida diária, como é o caso de Lou, que acaba representando uma nova faze na vida de Will. Ela busca formas de animá-lo e atividades que eles pudessem fazer. Apesar de ser meio atrapalhada no começo, Lou leva a sério seu papel, principalmente quando descobre o
destino que Will quer para si. Seu entusiasmo e jeitinho peculiar logo transformam a vida de seu paciente, que volta a assistir filmes, a querer passear, e até mesmo a ajeitar o cabelo. Jojo nos apresenta então a decisão final entre o amor, a morte e a esperança que o nosso casal irá ter de enfrentar. “Como eu era antes de você” é um livro emocionante e sincero, que mostra a realidade enfrentada pelas pessoas que necessitam de cuidados especiais para viver. A obra não esconde o sofrimento e a dor que os pacientes sentem, trazendo um retrato verídico das limitações e da intolerância que eles precisam enfrentar. O romance vai além, e nos mostra que o próprio paciente ensina a cuidadora a aproveitar a vida, que antes passava em branco pela personagem Lou. Will tira Clark de sua zona de conforto e a orienta a não se acomodar, a ter ambição e a ser destemida. “Apenas viva bem. Apenas viva”. _
´ ~ ´ “Voce so vive uma vez. E sua obrigacao , ´ aproveitar a vida da melhor forma possivel.” ^
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eventos
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im, nós sabemos que você prefere ser deixado em silêncio, de preferência em um cantinho confortável para ler o seu livro. Mas tem um momento do ano, aquele tão esperado dia, em que você tira o seu pijama e põe o pé para fora de casa e vai para um lugar lotado, com filas, banquinhos desconfortáveis e pessoas aglomeradas. Sim caro leitor, estamos indo para um evento literário. Se você é um leitor de primeira viajem vai estar se perguntando porque vai sair do seu conforto e passar por tudo isso. A Literárias responde! Apesar da afirmação popular de que brasileiro não lê, as bienais, os festivais literários e as feiras de livro estão aí para dizer o contrário. A realização desses eventos estão aumentando por todo o país, cada vez mais incentivando a leitura e dando espaço para os escritores brasileiros, além de dar uma forcinha para o turismo. 14. verão, Literárias
Nesses eventos, os leitores podem ter a chance de entrar em contato com obras que geralmente não conseguem espaço em grandes redes de livrarias, conhecer os escritores de suas obras favoritas, participar de palestras e sessões de autógrafo, interagir com outras pessoas bibliófilas, e claro, comprar livros. Os eventos também estão investindo em programações culturais ricas, já que a literatura abrange o teatro, cinema, gastronomia e outras artes. Por isso, vale a pena ficar de olho nos eventos que estão programados perto de você. É pensando nisso, que a Literárias conversou com alguns leitores que já participaram de feiras e festivais, e selecionou algumas dicas valiosas para que você possa aproveitar tudo que as feiras e festivais tem a oferecer. O leitor Willian Santos aconselha a ir em pelo menos dois dias do evento. “Vou em um só para pesquisar e anotar aonde estão os livros que quero e no outro para
Foto:Reprodução
comprá-los e ir em algum mini evento se tiver”. Vestir roupas confortáveis também é importante, segundo a leitora Yasmin Costa, “Eu sempre vou de tênis e roupa leve, e eu levo também uma garrafa de água e comida, pois normalmente acho caro a comida nesses eventos”, essa é outra dica importante. Se você planeja passar o dia nesses festivais, lembre-se de levar um biscoito, e algo salgado para comer. A gente sabe que os livros são prioridades nas compras, então sempre leve algo para você beliscar. Porém, não pule refeições importantes, se você desmaiar de fome não vai conseguir aproveitar nada. Outra dica importante dada pela leitora Milena Schiestl é de sempre estar com a programação do eventos em mãos, para não esquecer de nada que queira participar. O leitor Rael Urias lembra que é sempre bom estar preparado para as adversidades do tempo, como a chuva ou o frio, “porque nesses eventos perdemos a noção do tempo”, por isso, leve uma sombrinha na mochila e uma blusa que possa
Isabela Vieira, Carla Giovana (Bienal 2016 SP)
Agatha e Beatriz (Bienal 2016 SP)
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amarrar na cintura. As leitoras Isabela Vieira e Carla Giovana são amigas, e foram pela primeira vez na Bienal Internacional de São Paulo deste ano. Elas compartilharam um pouco da experiência que tiveram, para a Literárias: Isa aconselhou a investirem em uma bagagem de rodinhas, “Leve uma mala de carrinho, mochila de carrinho, qualquer coisa com rodinha é válido. Caso contrário, parecerá um burrinho de carga e terá dores nas costas por uma semana”. Ela também orienta a prestar atenção na localização dos estandes, “Estude o mapa do lugar como se aquilo fosse o mapa do tesouro perdido. Só assim terá a certeza de encontrar tudo e todas os autores que deseja”. Já Carla aler-
tou que os eventos são exaustivos e exigem muita atividade física e mental dos leitores: “Prepare-se para participar de uma maratona, pois é isso que você irá enfrentar. Corrida por senhas, levantamento de livros e localização em labirintos, além de testar seus conhecimentos em exatas fazendo continhas para descobrir aonde seus livros, tão desejados, estão mais baratos”. As meninas ainda deram um último conselho para quem planeja ir a esses eventos: “Vá com alguém que não tenha frescura de andar e te acompanhar em tudo que deseja. Desde enfrentar filas para tirar uma simples foto à enfrentar filas quilométricas para conhecer um autor.” completa Vieira._
Marque na Agenda! Bienal Internacional do Livro Quando: 31 de agosto a 10 de setembro de 2017 Onde: Rio de Janeiro, RJ
Flipoços 2017 – Feira Nacional do Livro Quando:29 de Abril de 2017 Onde: Poços de Caldas, MG
Bienal Internacional do Livro Quando: 06 a 15 de outubro de 2017 Onde: Pernambuco, PE
Londrix 2017 - Festival Literário Quando: 21 de Novembro 2017 Onde: Londrina, PR
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esse quente verão nada melhor, independente de onde estiver, de estar acompanhado de um bom livro. Por isso bolamos um desafio de férias para você se inspirar. Basta escolher um livro para cada um dos 15 itens e ler nos meses de Dezembro-Janeiro-Fevereiro, as escolhas dos livros são a critério de cada um, mas logo avisamos que será muito mais legal se tiver alguma ligação com o tema férias de verão. Então vamos lá! Neste desafio você terá de ler:
1- Um livro que se passe nas férias, 2- Um livro sobre sereias, 3- Um livro de mais de 500 páginas, 4- Um livro que se passa em um verão quente, 5- Um lançamento, 6- Um livro nacional, 7- Um livro sobre um lugar desconhecido, 8- Um livro infantojuvenil, 9- Um livro romântico, 10- Um livro sobre uma cultura nova, 11- Um livro sobre uma viagem, 12- Um livro de aventura, 13- Um livro que se passa no mar, 14- Um livro com uma grande cidade turística, 15- Um livro sobre amizade.
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Poste seu desempenho no desafio com a hashtag #Literárias!
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literatura de autoria feminina é considerada minoria no país. A maior parte dos ganhadores de prêmios literários são homens. Isso significa que eles escrevem melhor que as mulheres? É verdade que as mulheres escrevem menos que os homens? A literatura considerada de “minorias” é assim chamada por ter menos gente, ou por ter tido sua voz silenciada por aquilo que se formou como “cânone”? São questionamentos fundamentais que devemos nos fazer e ter muito cuidado com as nossas respostas. Aqui no Brasil temos grandes escritoras, que enfrentaram o julgamento de todos e fizeram registro de sua época, seus costumes e valores, mesmo quando a literatura não era uma atividade vista com bons olhos quando exercida por uma mulher. No século XIX, temos o exemplo da escritora e abolicionista Julia Lopes de Almeida, que escreveu con-
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tos como “Os porcos” e o romance “A Falência”, onde denuncia a violência doméstica sofrida pelas mulheres e a moralidade cobrada em sua época. Ela utiliza um grau de violência exacerbado em seus escritos, justamente para chocar o público e para chamar atenção da mulher naquele contexto. Aquela violência não está lá à toa. Almeida ainda escreve personagens polêmicas, adúlteras por escolha e que seguem o pensamento “se o homem pode, porque eu não posso”. Já no séc. XX, temos outra escritora muito importante: Clarice Lispector. Ela possui uma prosa mais intimista e traz reflexões sobre e das mulheres. É com Clarice que temos o grande boom das escritoras brasileiras. Ela abre as portas para escritoras como Nélida Piñon, que é membro e já presidiu a Academia Brasileira de Letras, autora da obra “A República dos Sonhos”, e a escritora Maria Valéria Rezende, ganhadora do prêmio Jabuti de 2015 com o livro “Quarenta Dias”.
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Todas essas escritoras são um reflexo da luta feminista na literatura. Nenhuma chega a abordar o tema do feminino, mas criam histórias e personagens que vivem situações próprias deste universo. Suas personagens ora se comportam como questionadoras dessas situações, ora rompem com ela, diferente de como as mulheres eram retratadas antigamente. Com a maior parte dos escritores sendo homens, e escrevendo sobre personagens masculinos, o papel da mulher se encaixava de duas formas nas histórias: ou a mulher é Eva, que corrompe a moral do homem, prejudicando sua vida social e moral, ou ela é Maria, uma santa que obedece ao pai e ao marido, cumprindo seu papel dentro de casa. Por isso que é tão importante termos, dentro da literatura de autoria feminina, escritoras que falem sobre as mulheres, das mulheres e pelas mulheres. Elas trazem uma representação muito mais pluralizada da mulher, do que a velha dualidade
de sempre. Como a professora Suely Leite, doutora na área de Letras e em pesquisas sobre literatura feminina, afirma, “A experiência de vida da mulher, como ela é moldada e sua visão de mundo é diferente da do homem. Ser mulher é uma coisa. Ser mulher é diferente de ser mulher em Londrina, ser mulher lá no Piauí, na Amazônia, ou em Nova York”. Leite cita o exemplo do conto I love my husband de Nélida Piñon, onde a escritora retrata as expectativas que se tem para uma mulher desde o momento que ela nasce, a preparação para o casamento, como ela deve se portar depois de casada, e a crise que que ela enfrenta quando não consegue enxergar essa mulher que a sociedade quer que ela assuma. “Não que os homens não possam escrever com o olhar feminino, mas a vivência é outra. O grau de propriedade que temos quando a mulher fala sobre si é notável. É essencial que tenhamos mulheres falando sobre mulheres”, conclui Leite. _
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Conto I love my husband de Nélida Piñon
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stamos cansados de ouvir as histórias de como determinado autor estrangeiro, hoje famoso, foi negado por editoras. Mas aqui, no seu país, você sabe como funciona o mercado editorial? Os números não mentem. Na lista dos livros mais vendidos do Brasil na categoria ficção, segundo o Publishnews, dos 20 livros citados apenas três pertencem a brasileiros e um deles é uma nova publicação de contos de Clarice Lispector. Mas em contrapartida a essa preferência pelos gringos, são muito os engajados que, num sonho de ter um livro publicado, tentam lutar contra essa maré de preferência estrangeira e de inúmeras formas tentam publicar o seu material. A escritora conhecida como JFB Bauer diz que o grande público leitor só foca sua atenção para cânones, livros que viram no colégio, livros mais densos, “Então isso que é a visão da literatura nacional, algo difícil, arcaico, muita gente não consegue ler.
Procura então filmes e novelas, linguagem mais acessível”, diz ela. Segundo uma pesquisa feita pela quarta edição da Retratos da Leitura no Brasil, dos 56% dos brasileiros que leem, seus principais motivos para fazê-lo são respectivamente por gosto, atualização cultural ou conhecimento geral e distração. Sua média de leitura é de 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por vontade própria. Os principais livros e autores estão na esfera religiosa seguido por jovem adulto e infanto juvenil, como A Culpa é das Estrelas e Cinquenta Tons de Cinza. Alguns escritores escrevem por puro hobbie, com histórias originais na segurança e privacidade do word. Outros escrevem fanfics e as publicam em sites e plataformas. Esse é o caso da JFB Bauer, que começou escrevendo fanfics da saga Crepúsculo. Seu intuito era somente de escrever, mas quando descobriu que tinha algo im-
“o livro também é um produto”
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portante em mãos, e um público que gostava do que ela fazia, decidiu publicá-lo, como original. Ou como Franco Poltroniere que teve a sorte de ser encontrado por uma editora, “A editora veio até mim por meio de um contato em comum. Foi um processo fácil, por sorte”, declara o autor. Entretanto, algumas vezes ser escritor não é tão fácil como aparenta. Quando vemos um livro nacional bem diagramado e impresso em lugar de destaque nas prateleiras de uma livraria, talvez não seja mero acaso ou sorte. Não vamos nos enganar, amor por leitura e livro é bom, mas não paga contas. Um livro também é um produto, que custa para ser fabricado e vendido. Como todo bom produto, precisa de um incentivo do bom e velho marketing para ser bem sucedido. Poltroniere aponta que apesar do apoio da editora, mas 80% foi por conta própria- no sentido de ir atrás de parcerias, sites, blogs, canais. Às vezes lugares em destaques nas livrarias custam mais do que um escritor iniciante pode pagar, e sem a divulgação necessária, o risco do sonho virar prejuízo é real.
Então caminhos alternativos estão sendo feitos como o Projeto de Lei 49/2016, que já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e aguarda relator na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado, exige que os livreiros reservem 30% da vitrine para livros nacionais, incentivando a visibilidade das obras brasileiras. Uma outra saida são publicação somente por ebooks pela Amazon, que garantem
melhor retorno financeiro para os autores. Em um livro físico, o escritor recebe somente 10% do valor, já num livro ebook o valor sobe para 70%. Temos também editoras voltadas inteiramente para livros nacionais, como a Ler Editorial. Mas é importante frisar que não basta ter um bom livro, é preciso que o autor esteja disposto a trabalhar junto com a editora para que seu livro se torne comercial. _
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Dicas para uma escritora de primeira viagem
Você escreveu algo muito bom, sonha em publicar, mas não sabe como começar? Conversamos com os escritores brasileiros para saber tudo o que é necessário para ser publicado aqui no Brasil
REVISE a
Acontece com as melhores obras. Quando a gente começa a ler muitas vezes o mesmo arquivo, começamos a pular partes, seguir a leitura sem realmente estar lendo. Pode ser um errinho básico, mas que depois de tanto ler, começamos a não enxergar mais esses “detalhes”. Nessa hora, vale a pena pedir pra alguém dar uma lidinha, ou até mesmo pagar um revisor. A autora conhecida como JFB Bauer começou escrevendo fanfics, então não tinha uma preocupação muito grande com esses possíveis errinhos. Quando quis publicar, ela reestruturou e reorganizou a história antes de mandar para as editoras. “Cheguei a pagar duas ou três revisões” afirma a autora.
PESQUISE SUA EDITORA a
Procure editoras que sigam a temática de sua obra, e que trabalhem com o seu público leitor. Comece com as editoras pequenas, que estejam no mesmo seguimento que a sua história. A autora Bia Braz usou desse critério. “Escolhi editoras que publicavam histórias semelhantes”, conta. Além disso, converse e analise todas as propostas que receber. E fique de olho, nem tudo que é de graça é de qualidade. “Não entendia nada desse meio literário, então não me prendi a critérios. Ledo engano. Hoje procuro me informar sobre a editora para saber se ela terá o que procuro e me oferece o que preciso” declara Halice. E ela ainda dá a dica: “Não aceite a primeira proposta, não acredite em ofertas generosas e nunca pense que só porque não terá de pagar que estará na melhor editora do mundo. Cada caso é um caso e nada vem tão fácil”, completa.
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CONQUISTE UM PÚBLICO a
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Antes de mandar seu original para as editoras, procure postar alguns de seus escritos em plataformas como o wattpad ou até em grupos nas mídias sociais. As chances de ser publicado aumentam bastante se a editora vê que já tem um público interessado em sua história. A autora Halice Frs usou do encorajamento dado pelas suas leitoras para correr atrás de publicações. “Nunca tinha pensado em publicar, mas as leitoras das histórias que eu postava online me incentivaram a seguir por esse caminho”. Além disso, a escritora viu sua chance quando as editoras procuraram livros com a temática de sua história. Por isso, converse com outros leitores e escritores e troque informações. Além de receber dicas valiosas, você também vai ter o incentivo necessário para continuar escrevendo. Mas fique atento! Algumas editoras só aceitam material inédito, ou seja, que não tenha sido publicado em nenhum lugar.
a NÃO DESISTA
Não é todo autor que recebe milhares de ofertas, e nem toda editora que vai querer o seu livro e, principalmente, não é todo mundo que vai te apoiar nessa empreitada. “Minha família não apoiou no início, pelo contrário, ficavam chateados com o tempo que eu dedicava à escrita e leitura”, desabafa Braz, que ao fim de sua terceira história publicada começou a sonhar em ver sua obra impressa. Este ano, ela esteve na Bienal de São Paulo para uma sessão de autógrafos de seu livro. O autor Franco Poltroniere aconselha: “Faça seu melhor e você vai certamente receber de volta o melhor que o mundo pode te oferecer naquele momento!”, declara.
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Horóscopo Literário Áries a
Para as destemidas arianas, um livro que deve acompanhá-las em suas aventuras e combinar com o seu espírito livre. As crônicas de Martha Medeiros no livro Um lugar na Janela são essenciais em qualquer viagem e inspira até as mais preguiçosas a colocar uma mochila no ombro e sair mundo afora. O livro traz relatos e recordações de viagens da cronista que passou por apertos, imprevistos e situações que fazem o leitor refletir sobre suas próprias experiências.
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Para aquelas leitoras que estão sempre com os pés no chão, uma mudança de cenário. Indicamos as taurinas o livro Outlander-A viajante do Tempo de Diana Gabaldon. A série conta a trajetória de Claire Randall, uma enfermeira da Segunda Guerra Mundial que acaba viajando no tempo para a Escócia durante o levante dos jacobitas. Uma fantasia com toque de realidade para fazer qualquer leitora ver suas férias com outros olhos.
Para a curiosa e impulsiva geminiana, o livro que indicamos para essas férias é a saga de Lucinda Riley, As Sete Irmãs. Os livros trazem mistérios envolvendo as origens e os destinos das irmãs adotadas por Pa Salt. O primeiro livro da saga conta a história de Maia, que vem ao Rio de Janeiro atrás de pistas sobre seu passado. Os pontos de vista do passado e do presente vão construindo uma narrativa emocionante e que conquistam a atenção do leitor.
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A intuitiva e sensível canceriana vai aproveitar suas férias com o romance Eleanor & Park, da Rainbow Rowell. Com uma maturidade encontrada em poucos livros, a obra conta a história do relacionamento de um casal ainda em fase adolescente, mas que já enfrenta dificuldades de adultos. Com momentos tristes, engraçados e profundos, Rainbow faz com que as leitoras se apaixonem pelo geek Park e pela forte e independente Eleanor.
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Com forte poder de liderança, a criativa leonina vai apreciar a obra Luxo, de Anna Godbersen. O livro conta a história de famílias poderosas e influentes da sociedade nova-iorquina no século 20. As irmãs Elizabeth e Diana Holland são as rainhas da vida social de Manhattan, mas vão ter que decidir o destino de sua famílias escolhendo as obrigações de uma dama ou arriscando tudo que tem e ouvir seus corações.
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Sim, nós sabemos que você gosta de todos os pingos nos “is” e que tudo esteja em seu respectivo lugar. É por isso que nós recomendamos às virginianas as investigações do detetive Poirot, no livro O Misterioso Caso de Styles de Agatha Christie. Poirot não vai decepcionar as leitoras em suas observações e conclusões dos crimes cometidos. Quem sabe você não descobre o assassino antes dele?
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Literárias, verão. 27
Peixes l Aquário k Capricórnio Para as piscianas, não poderia passar nessas férias a incrível jornada pelo descobrimento interno e o cultivo do carinho com pessoas queridas. O romance de Sally Nicholls, Como Viver Eternamente, traz as aventuras de Samuel, um menino de 11 anos que, enquanto tenta lutar contra um câncer, tem muitos desejos na vida. Um tocante romance que fala sobre as conquistas da vida, o amor, a companhia nas horas tristes e também nas horas de realizar os desejos do coração.
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28. verão, Literárias
Nessas férias o livro que mais se encaixa com o espírito livre e diferente de aquário é a ficção clássica e aventureira de Júlio Verne. Em Viagem ao Centro da Terra o leitor pode mergulhar nesse antigo livro pensando a frente de seu tempo. Nele, conhecemos o inteligente professor Otto Lidenbrock e Axel, seu sobrinho. Juntos, eles participam de um percurso ao centro da terra, realizado graças a um manuscrito decifrado pelos dois.É uma viagem ao passado e a ficção, além de muito conhecimento sobre ciência geográficas no centro da terra.
Uma ótima dica para as confiantes capricornianas é Golem e o Gênio da escritora Helene Wecker. Nessa fábula épica ambientada em uma Nova Iorque do séc XX, o livro vai te transportar para a cultura judaica e árabe, trazendo personagens humanos e lugares pouco explorados pelos livros da atualidade. Nessa história acompanhamos uma jovem Golem e um sábio Gênio se adaptando ao mundo humano e descobrindo suas características culturais e pessoais.
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Sagitário Escorpião Li bra Para ajudar as destemidas sagitarianas a se inspirarem nesse verão, indicamos o livro jovem adulto, Feita de Fumaça e Ossos. No livro de Laini Taylor, entramos na vida de Karou, uma jovem artista plástica que entre suas aulas de pinturas da companhia de Belas Artes de praga tem o dever de correr pelo mundo em missões pedidas por seus tutores, que estranhamente são quimeras. Um livro com aventura, imaginação e romance que se destaca pela sua atmosfera e enredo, pode trazer para você de sagitário uma aventura a mais.
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Para o intenso escorpião a misteriosa jornada de Círculo pode animar as férias desse ano. O romance jovem adulto sueco de Mats Strandberg é uma história de bruxas e mistérios, com uma ambientação muito diferente dos livros americanos e europeus. Além de mergulhar em uma pacata cidade da Suécia, iremos conhecer um grupo de meninas muito diferentes entre si, com diferentes conflitos internos, que juntas precisam derrotar algo que mal compreendem.
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Um livro ideal que vai ajudar a doce e sonhadora libriana a se divertir nessas férias é Stardust, O Mistério da Estrela de Neil Gaiman. O livro que se passa na bela época vitoriana e vai contar a jornada do jovem Tristan, que como prova de amor, vai atrás de uma estrela cadente que caiu nas proximidades de seu vilarejo. O romance de Gaiman é ideal para transportar o libriano a belos lugares mágicos com aquele toque de contos de fadas. Esse incrível livro já foi adaptado para as telonas, com um elenco incrível. Mas não se engane, leia o livro.
Literárias, verão. 29
crônica e contos
Parque de diversoes ~
Nesta edição o conto que apresentamos é da Natália Cristina Martins de Sá. Atualmente cursa Letras na UEL (Universidade Estadual de Londrina) Já publicou um livro de contos infantis pelo SESC.
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lhou abismado para aquele local. Muitas luzes, muitos brinquedos, gigantes, que poderiam tocar o céu, ele jurava que poderiam. Brinquedos que brilhavam e se mexiam sozinhos, e onde estavam pessoas com expressões assustadas. Andava puxando impacientemente a mão de seu pai, que não parecia encantada com tamanha beleza. Por que ele também não achava tudo aquilo lindo? Por que ele também não sentia vontade de sair correndo entre tudo aquilo? O que as pessoas perdem quando ficam adultas, para não encantarem-se com tudo aquilo? Passou em frente a uma barraquinha onde as pessoas atiravam em alvos e recebiam prêmios por isso. Passou em frente a brinquedos onde crianças muito pequenas giravam em cavalinhos, carrinhos e aviõezinhos e seus pais a fotografavam. Parou assustado em frente ao brinquedo que girava as pessoas de ponta-cabeça, pessoas que gritavam com expressão apavorada e mesmo assim pareciam gostar. Seu pai falava com ele e segurava firme sua mão, com medo de perdê-lo, mas ele não ouvia nem sentia nada. Apenas olhava para todos os lados, era muita coisa, muita gente, muita cor, muita luz, muito movimento. Era tudo tão lindo, e as pessoas riam, gritavam e conversavam alto. E o menino se perguntava como vivera 09 bons anos sem nunca ter visto tudo aquilo! E por que seu pai também não achava tudo aquilo lindo? Por que ele também não sentia vontade de sair correndo entre tudo aquilo? O que as pessoas perdem quando ficam adultas, para não encantarem-se com tudo aquilo? Passou em frente ao brinquedo que parecia uma casinha maluca; e também àquele túnel, onde, na entrada, contornos mal feitos de zumbis, monstros e fantasmas davam sentido aos gritos que vinham de lá de dentro. Morreu de vontade de entrar naquele carrinho que andava em trilhos, fazendo subidas e descidas (subidas, devagar; descidas, muito rápido!) e em determinados momentos também andava de ponta-cabeça. Não entendia como as pessoas não caíam de lá. Ficou olhando aquele brinquedo até, ao longe, algo chamar sua atenção. E mesmo que até então estivesse quase arrastando o pai pelo parque, andando rápido, eufórico, ele parou. E o mundo parou! Aquele brinquedo. Era imenso, redondo, com cabines nas quais as pessoas entravam e ficavam girando calmamente. Não tinham a euforia de virar de cabeça para baixo, nem a calmaria exagerada dos cavalinhos que giravam com crianças. Era um brinquedo ao qual iam crianças e adultos, jovens e idosos, famílias
30. verão, Literárias
completas ou casais apaixonados. Parecia... - Uma roda... – ele murmurou, fascinado. – Uma roda gigante! E, sem querer, já sabia o nome do brinquedo. E sabia que precisava estar lá. Quando se acomodou dentro da cabine, fascinado, sorriu como nunca havia feito na vida. Quando a roda gigante começou a se mover, ele tremeu de emoção. E lá de cima era tudo tão lindo, e dava para ver o parque inteiro, todas as luzes e movimentos, e os sons pareciam tão distantes, e o fascínio era completo. O fascínio era tão grande e o encantamento tão doce que ele prometeu que amaria aquele lugar, que sempre voltaria lá. O lugar com luzes, movimento, barulho e cheiro de pipoca. O parque de diversões que naquele momento era simplesmente o local mais perfeito do mundo. Por que seu pai também não achava tudo aquilo lindo? Por que ele também não sentia vontade de sair correndo entre tudo aquilo? O que as pessoas perdem quando ficam adultas, para não encantarem-se com tudo aquilo? 26 anos depois, ele estava novamente no mesmo parque de diversões. Dessa vez trazia pela mão seu filho, um menino de 07 anos, que estava praticamente correndo pelo parque. O filho andava puxando impacientemente sua mão. E o pai se perguntava: por que o menino achava tudo aquilo lindo? Por que ele sentia vontade de sair correndo entre tudo aquilo? O que as pessoas têm, quando são crianças, para encantarem-se com tudo aquilo?!
quadrinho
Cerulean,
nasceu das paixões de Catharina Baltar, sereias e tecnologia. O quadrinho, que foi sucesso de patrocínio no Catarse fala sobre uma sereia, uma criatura que depende da água para viver, e que acaba se tornando uma geek viciada em eletrônicos, coisas modernas e que não funcionam debaixo d’água. Página Facebook de Catharina Baltar
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Literárias, verão. 31
“As histórias nunca têm fim, embora os livros gostem de nos enganar a esse respeito. As histórias sempre continuam, não terminam com a última frase, assim como não começam com a primeira” Coração de Tinta, Cornelia Funke.