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OCUPAÇÕES NO TEMPO

fragmentos, camadas e sobreposições

A praça Carlos Gomes em Ribeirão Preto

Maria Beatriz Prado Favaretto 2013


MARIA BEATRIZ M PRADO BAPTISTA FAVARETTO

OCUPAÇÕES NO TEMPO: FRAGMENTOS, CAMADAS E SOBREPOSIÇÕES A PRAÇA CARLOS GOMES EM RIBEIRÃO PRETO

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação do Prof. Onésimo Carvalho de Lima

RIBEIRÃO PRETO 2013


MARIA BEATRIZ M PRADO BAPTISTA FAVARETTO OCUPAÇÕES NO TEMPO: FRAGMENTOS, CAMADAS E SOBREPOSIÇÕES A PRAÇA CARLOS GOMES EM RIBEIRÃO PRETO

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Centro Universitário Moura Lacerda para a obtenção do grau de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação do Prof. Onésimo Carvalho de Lima

Orientador: Nome: Prof. Onésimo Carvalho de Lima Instituição: Centro Universitário Moura Lacerda

Examinador(a): Nome: Prof. Instituição: Centro Universitário Moura Lacerda

Examinador(a): Nome: Prof. Instituição:

RIBEIRÃO PRETO 2013


agradecimentos Agradeço ao meu orientador, Onésimo Carvalho de Lima, por ter me auxiliado com tanta atenção e dedicação e, principalmente, por manter o trabalho no caminho certo e me motivar a ir além. À professora Ana Lúcia Ferraz, que dedicou muito de seu tempo a esse trabalho e, com muita delicadeza, instigou a minha criatividade. Ao professor Francisco Gimenes, pela leitura atenta e pelas valiosas contribuições. Aos amigos da turma, pelo convívio durante essa etapa tão importante em minha vida. Agradeço especialmente ao meu marido, José Arnaldo, e às minhas filhas, Luiza e Ligia, pela tolerância, paciência e apoio no decorrer desses cinco anos.


A rua ensurdecedora ao redor de mim agoniza Longa, delgada, em grande luto, dor majestosa, Uma mulher passa, de uma mão faustosa, Soerguendo-se, balançando o festão e a bainha; Ágil e nobre, com sua perna de estátua. Eu, embevecido, inquieto como um extravagante, Em seus olhos, o céu lívido onde se oculta o furacão, A doçura que fascina e o prazer que destrói. Um clarão... depois a noite! - Beleza fugidia Cujo olhar me faz subitamente renascer, Não te verei senão na eternidade? Alhures; bem longe daqui! Muito tarde! Jamais talvez! Pois ignoro onde tu foste, tu não sabes onde vou, Ah se eu a amasse, ah se eu a conhecesse!

Charles Baudelaire


resumo Neste trabalho, apresentamos conceitos de espaço público, teorias sobre o fim da cultura pública e definições de lugar sob o ponto de vista antropológico. Por meio da obra de Zigmunt Bauman, apresentamos as características e os comportamentos da sociedade contemporânea e seus reflexos na vida urbana, como a crise do espaço público. A urgência por espaços públicos promotores de vivência e convivência social motivou o desenvolvimento de um projeto arquitetônico – uma intervenção na praça Carlos Gomes, em Ribeirão Preto – como meio de investigar de que maneira a arquitetura pode promover permeabilidade, inclusão, integração e permanência no espaço público, contrapondo-se à crise ética e moral e à instabilidade da identidade (dos indivíduos e das relações sociais) que promovem a falência do coletivo e do espaço público. Palavras-chave: Espaço Público. Sociedade Contemporânea. Prospecção. Integração Social.


abstract In this work, we present concepts of public spaces, theories about the end of public culture and the definition of places, under the anthropological point of view. We present, through the work of Zygmunt Baumam, the characteristics and behaviors of contemporary society and its effects on urban life and the crisis of public space. The urgency for public spaces, prosecutors of living and social interaction, motivated the development of an architectural design - an intervention in the Carlos Gomes Plaza, in Ribeir達o Preto - as a means to investigate how the architecture can promote permeability, inclusion, integration and permanence in public spaces, in opposition to the moral and ethical crisis and instability of identity (of individuals and social relations) that promote the failure of collective and public space. Keywords: Public Space; Contemporary Society; Prospection; Social Integration


apresentação problemática objetivos justificativas metodologia 14

referencial teórico espaço público declínio do espaço público sociedade contemporânea

28

lugar localização história bairro

42

objeto fluxos comércio e serviços mobiliário insolação e vegetação, implantação, cortes e fachadas possibiliddes construtivas programa de necessidades

conhecimento

introdução

reconhecimento

10


referencial projeto compreensão

referências projetuais

62

mube - Paulo Mendes da Rocha serpentine - Herzog & De Meuron mutant carpet - Marcio kogan

conceito e partido plano de massas representações

76 80 104

implantação plantas cortes perspectivas

conclusão referências bibliográficas

126 132


Manifestação em São Paulo

Imagem: Google


conhecimento

introdução apresentação problemática objetivos justificativas metodologia


apresentação As transformações sociais, culturais, econômicas, tecnológicas e políticas das últimas décadas do século XX e do início do século XXI têm sido destacadas por teóricos e pesquisadores das diversas áreas do conhecimento1, que buscam perceber e identificar características desse período, compreendê-las e traçar suas implicações na sociedade contemporânea. É uma tarefa difícil, pois se trata de um período em curso, no qual os processos se encontram incompletos, e as mudanças ocorrem com grande velocidade. O período que se iniciou nos anos 1970 (com a globalização e o predomínio da economia neoliberal) e avançou na década de 1990 (com a aceleração da tecnologia, o advento dos computadores pessoais e dos processos em rede) constituiu mudanças significativas, em uma sociedade cada vez mais complexa em suas relações interpessoais e familiares, no mercado e na política. A esse período são propostas diversas denominações, tais como pós-modernidade, segunda modernidade (Ulrich Beck), ou hipermodernidade (Gilles Lipovetsky). Se, para alguns, essas mudanças marcam o rompimento com o passado (o fim da modernidade e o início de uma nova era), outros, ao contrário, enfatizam a continuidade da modernidade e mesmo o seu aprofundamento. Neste trabalho, apresentamos definições de espaço público e teorias sobre o fim da cultura pública. Abordaremos características e comportamentos da sociedade contemporânea, suas necessidades e expectativas. Desenvolvemos um projeto arquitetônico – uma intervenção na praça Carlos Gomes, em Ribeirão Preto –, no qual analisamos as possibilidades da arquitetura como promotora de permeabilidade, inclusão, integração e permanência, contrapondo-se ao individualismo característico da contemporaneidade, por meio de um paralelo entre (1) as solicitações características do presente momento, (2) a preexistência (do antigo teatro Carlos Gomes) – de grande valor patrimonial e histórico, tangível e intangível – e (3) um projeto que busca a inclusão e a interação social num espaço público. Como revisão da literatura, no intuito de definir “espaço público” sob a óptica contemporânea e seu declínio, e definir “lugar” sob o ponto de vista antropológico tomaremos como referências as obras Do cheio para o vazio, de Claudia Azevedo de Souza; O lugar da arquitetura depois dos modernos, de Otília Arantes; O declínio do homem público, de Richard Sennett; e Não lugares, de Marc Augé. Para estudarmos as características e o comportamento da sociedade contemporânea, foram referências A modernidade líquida e O mal-estar da pós-modernidade, de Zigmunt Bauman2 .

problemática A problemática do trabalho trata da maneira como a arquitetura pode promover permeabilidade, inclusão, integração e permanência no espaço público, contrapondo-se à crise ética e moral e à instabilidade da identidade (dos indivíduos e das relações sociais e de trabalho) que promovem a falência do coletivo e do espaço público.

1 Como os sociólogos Anthony Giddens, Manuel Castells e Zygmunt Bauman; os filósofos Gilles Lipovetsky e Luc Ferry; o geógrafo David Harvey; o crítico literário e político Fredric Jameson. Entre os brasileiros, os filósofos Marilena Chaui, Luís Carlos Fridman e José Mauricio Domingues; e o psicanalista Jorge Forbes, entre outros. 2 Bauman é possuidor de uma das mais extensas e importantes produções intelectuais da atualidade, essenciais para a compreensão de questões referentes à sociedade ocidental contemporânea, como o distanciamento do ser humano da reflexão moral e da ética, o individualismo e a fragmentação da sociedade, a ambivalência entre segurança e liberdade, o enfraquecimento dos laços humanos e dos conceitos de comunidade, civilidade, espaço público e política.

12 introdução

Arte urbana

O objetivo geral deste trabalho é propor uma intervenção representada por um novo objeto arquitetônico de uso público, de convivência, cultura e lazer, na região central de Ribeirão Preto – a praça Carlos Gomes, caracterizada como área de passagem e de grande capilaridade, com importância patrimonial histórico e cultural. Os objetivos específicos a serem atingidos são: a. definir espaço público, sob a ótica contemporânea e traçar um perfil da sociedade contemporânea; b. caracterizar e diagnosticar a área proposta e seu entorno, por um levantamento de dados; c. desenvolver um projeto arquitetônico de uso público que proponha qualificar a área estudada promovendo a inclusão, convivência e integração.

Imagem: Beatriz Prado Favaretto

objetivos


justificativas A arquitetura e o urbanismo interagem diretamente com a vida cotidiana das pessoas. É nos espaços de trabalho, de lazer e de moradia – privados ou públicos – que os indivíduos se relacionam entre si e buscam satisfazer as necessidades de bem-estar. Não é possível dissociar arquitetura e urbanismo das questões que permeiam a vida humana. “[…] o espaço não é reflexo da sociedade, é sua expressão. […] As formas e processos espaciais são constituídos pela dinâmica de toda a estrutura social.” (CASTELLS, 2011.) As exigências presentes no nosso tempo e a urgência por espaços públicos acolhedores e promotores de vivência e convivência social tornam ainda mais necessários os estudos sobre o comportamento e as relações sociais que resultem em produções, intervenções e melhorias do ambiente construído. Sheila Ornstein3 ressalta a importância dos estudos interdisciplinares envolvendo as áreas de arquitetura e urbanismo, design e as ciências sociais e humanas, como áreas do conhecimento que partem das relações entre ambiente (construído), habitante e comportamento (interfaces conceituais). O trabalho integrado em equipes (inter) ou (trans) disciplinares deveria ser simulado e fomentado nos exercícios de prática profissional e de projeto de modo explícito, nas escolas de Arquitetura e Urbanismo do país, como mecanismo contemporâneo relevante de gestão da qualidade no projeto. (ORNSTEIN, 2005, p.161).

A autora cita universidades de elevado nível no exterior, como a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (em Portugal) e de Delft (na Holanda), que têm disciplinas básicas no campo das ciências sociais. Também no Brasil, escolas de arquitetura e urbanismo dos sistemas público e privado de ensino possuem disciplinas de graduação e pós-graduação voltadas aos fundamentos sociais. A obra Modernidade líquida, de Zigmunt Bauman (anteriormente citada), consta da bibliografia básica do departamento de projetos da FAU-USP. A interdisciplinaridade no curso de Arquitetura e Urbanismo é também bastante valorizada no Centro Universitário Moura Lacerda. Neste projeto de intervenção – representado por um novo objeto arquitetônico de uso público, para a praça Carlos Gomes, na cidade de Ribeirão Preto –, três aspectos devem ser ressaltados: (1) a preexistência – patrimônio histórico e cultural; (2) o espaço público onde será inserido, com suas dinâmicas próprias; (3) o próprio projeto de um novo objeto arquitetônico, que tem a responsabilidade de não se sobrepor ao grande patrimônio existente, e, por meio de sua contemporaneidade física (qualidades espaciais, formais e estéticas) e programática, o desafio de somar-se a esse espaço.

Arte urbana

Imagem: Beatriz Prado Favaretto

metodologia A metodologia é predominantemente exploratória, pois se trata de um novo objeto, cujo projeto – em suas qualidades espaciais, formais e estéticas – procura relacionar-se com um tema específico (a sociedade contemporânea e a crise do espaço público) e dialogar com as questões conceituais apresentadas. Apresenta, contudo, forte ênfase descritiva, pois o objeto de estudo é também uma intervenção em um espaço público urbano. O trabalho estrutura-se em cinco partes. A primeira parte, teórica, é denominada conhecimento: apoiada em autores que refletem sobre os temas e conceitos pertinentes, abrange um estudo sobre espaço público e seu declínio e sobre as características e o comportamento da sociedade contemporânea. A segunda parte é denominada reconhecimento: por meio de observação assistemática e levantamento de dados, procuramos caracterizar e diagnosticar a área e seu entorno, para auxiliar no desenvolvimento projetual. Para isso, foram utilizados dados cadastrais, mapas, registros aerofotogramétricos, pesquisa iconográfica, observação in loco. A terceira parte, denominada referenciais: analisamos projetos de edificações e intervenções que contemplam resoluções sob o ponto de vista conceitual, técnico e espacial, semelhantes às buscadas neste trabalho. A quarta parte, de aplicação pratica, é denominada projeto: desenvolvemos um projeto arquitetônico – uma edificação de uso público – de intervenção na praça Carlos Gomes, em Ribeirão Preto. Os softwares utilizados no desenvolvimento do projeto foram o Autocad e o Archicad. A última parte é denominada compreensão, na qual apresentamos a conclusão.

3

Arquiteta e urbanista, professora e ex-vice-diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

introdução 13


Vale do AnhangabaĂş - SĂŁo Paulo

Imagem: Google


conhecimento

referencial teórico espaço público declínio do espaço público sociedade contemporânea


espaço público

Conceitos O espaço público, por excelência, é um espaço democrático, de uso coletivo, que proporciona o convívio social, a troca de experiências, que apresente diversidade, e possua multifuncionalidade e expressão cultural. Um espaço público é avaliado pela intensidade e pela qualidade das relações sociais que nele se apresentam. Para Sola-Morales, O espaço público representa a cidade, tanto fisicamente como simbolicamente. É o espaço mediador, ou espaço democrático, entre o território, sociedade e política. Projetar o espaço público pressupõe a existência de um coletivo que compartilha a identidade e dignidade, nos seus direitos e deveres. (SOLA-MORALES, 2002, não paginado, apud SOUSA, 2010, p. 25.) Sousa (2010) ressalta o caráter mutante do espaço público que acompanha a dinâmica da sociedade: à medida que a sociedade muda, este também o faz. Ele é reflexo da sociedade que nele vive.

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Praça da Sé - localizada na região central de São Paulo é marcada pelas manifetações sociais

Segundo Borja: O espaço público comporta três desafios: o Urbanístico: como um elemento ordenador do espaço urbano organiza o território para que suporte diversos usos e funções; Político: que se divide em duas dimensões: o das relações sociais (vida comunitária, encontro, intercâmbio) e o do direito do cidadão à afirmação, confrontação e manifestação; por fim, o Cultural: o grau de monumentalidade de um espaço indica os valores urbanos predominantes nesse espaço. (BORJA, 2003, não paginado, apud SOUSA, 2010, p. 28.). Para Carmona: O domínio público tem dimensões físicas e sociais que se traduzem pelo espaço e pelas atividades respectivamente. A sua dimensão física corresponde essencialmente aos espaços públicos ou privados que suportam ou facilitam a vida pública e interação social, enquanto que a sua dimensão social reflete-se nas atividades e eventos que ocorrem nesses espaços. (CARMONA, 2003, não paginado, apud SOUSA, 2010, p. 29.)

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o declínio do espaço público O declínio e o esvaziamento do espaço público vêm sendo motivo de atenção e de estudos ao longo dos últimos dois séculos. Para Sennett (1988), resulta de uma mudança que começou com a queda do Antigo Regime e com a formação de uma nova cultura urbana, secular e capitalista. Camillo Sitte (apud ARANTES, 1995), arquiteto austríaco, denomina agorafobia o movimento que se desloca dos espaços públicos para os interiores e os recintos fechados, iniciado com o modo de vida burguês do século XVIII, na busca pelo íntimo, e se repete no período do movimento moderno, quando as praças são substituídas por vazios residuais, impróprios para o uso coletivo, espaços desérticos sem pontos de referência e incapazes de promoverem o convívio social. Walter Benjamin (apud ARANTES, 1995) também se refere à sociedade burguesa: “O interior das casas converte-se em refúgio, compensando a impessoalidade da grande cidade que surge”.

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Cena do filme Madame Bovary baseado no romance de Gustave Flaubert que questiona a vida burguesa do seculo XIX.

Sennett (1988) explica que a burguesia reservava ao espaço público o local da violação moral e do rompimento das leis da respeitabilidade, no qual as pessoas eram, por opção, estranhas umas às outras; entretanto ressalta que o espaço público burguês possuía diferentes significados para homens e mulheres. Para homens, era um espaço de libertação da autoridade e da respeitabilidade que vestiam no papel de marido e pai, um espaço social distante da família, “o lado de fora”, uma espécie de limbo moral. Para as mulheres, “era onde se corria o risco de se perder a virtude […] uma região de simples desgraça […]” (SENNETT, 1988, p. 39.) Enquanto o comportamento e o modo de vida da sociedade burguesa do século XVIII constituíam a primeira razão do esvaziamento do espaço público, o ambiente e a sua configuração física – que, na hegemonia do movimento moderno, se caracteriza pela racionalidade e pelo funcionalismo – mostram-se como a segunda razão da corrosão desse espaço. Segundo Sennett (1988), a urbanização proposta pelo Movimento Moderno, com seus traçados urbanos racionais, resulta em espaços públicos mortos. As praças transformam-se em simples pontos de passagens; as

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as teorias do Plano (Modernista) por teorias do lugar, procurando conceber de modo menos abstrato, sistêmico, autoritário e instrumental a cidade”. Na concepção dada por Aldo Rossi, o lugar não tem o significado estrito de espaço físico e é sobrecarregado de sentido. Para Gregotti, o lugar é “antropogeográfico”, delimitado e instaurado pela atividade simbolizadora do homem. Contrariamente ao estruturalismo modernista, os teóricos do lugar procuraram reconstruir um vínculo orgânico, o lugar como foco de significações coletivas e reconhecimento, capaz de reunir a história, a continuidade, a memória e a tradição, enfim, de ressignificar a cidade. Para Augé (2013), o lugar antropológico é espacial e social; é indenitário e relacional. É também histórico, e os marcos existentes são reconhecidos pela vivência de cada indivíduo com a história do lugar. O lugar é o meio onde tudo isso ocorre. Tomando como exemplo as cidades francesas, Augé (2013) descreve o lugar antropológico como composto por (1) itinerários, eixos ou caminhos traçados pelo homem, que podem ser, por si só, um centro de atração e possuem uma dimensão temporal, calculada em horas; (2) cruzamentos, onde os indivíduos se misturam e se entrelaçam; (3) e centros ou monumentos: expressam a permanência, como centros ativos de convivência,

Acima , a esplanada dos ministérios em Brasília

ruas, suportes de fluxo de circulação para os conjuntos verticais. Para o autor (1988), a verdadeira natureza da praça pública é mesclar pessoas e diversificar atividades. As praças criadas sob os edifícios do Estilo Internacional não propiciariam a diversidade no espaço físico. Sennett (1988) cita também exemplos de espaços feitos para passagem, e não de uso e permanência, como La Défense (Paris), considerada por ele uma área publica morta, espaço destinado ao movimento – tráfego de automóveis e ônibus, ou de pessoas que circulam em fluxo rápido de chegada e partida do metrô subterrâneo. Cada vez mais destinado ao movimento, o espaço da rua constrange o pedestre. O espaço público perde o sentido de experimentação e cria o isolamento social. Os indivíduos são inibidos a se relacionar com esse ambiente, cujo objetivo principal é constituir um meio de chegar à finalidade da própria locomoção. Para Arantes (1995), não somente a configuração do espaço urbano modernista interfere de maneira negativa no que se propõe ser um espaço público na sua essência, mas também os edifícios representados pela arquitetura de vidro: A moradia tende a tornar-se um espaço indiferenciado, um processo que culmina com a arquitetura de vidro. “Interior e exterior voltam a se entrelaçar, ambos porém exauridos […] a melhor demonstração do esvaziamento recíproco do público e do privado está na arquitetura de vidro que consagra a morte dos dois na abolição ostensiva da fronteira entre ambos.” (ARANTES, 1995, p. 108-114.) Para Sennett (1988), a visibilidade oferecida pelas paredes de vidro dos edifícios da Escola Internacional é um paradoxo, pois nelas se fundem a visibilidade e o isolamento social. Embora permeável, isola a vida das ruas e as atividades desenvolvidas no interior dos edifícios. Segundo Arantes (1995), a partir da década de 1960, arquitetos e urbanistas passaram a debater e “substituir

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onde os indivíduos se encontram, se reúnem e trocam experiências. Esse sistema compõe redes maiores ou menores que, somadas, constituem uma rede mais ampla e, assim, sucessivamente. Diferentemente do que se possa entender, o não lugar, termo cunhado por Augé, não significa a ausência de lugar ou um vazio urbano, mas exprime o oposto do lugar antropológico, um espaço que não se pode definir como indenitário, relacional ou histórico. Augé (2013) acredita que a supermodernidade é produtora de não lugares. Nesse contexto, se entende a supermodernidade como a maneira usada por Augé para definir a sociedade contemporânea, que assume uma nova organização caracterizada pelo excesso: (1) excesso de tempo, devido à superabundância factual; (2) excesso de espaço, expresso pelas mudanças de escala, nas múltiplas opções tecnológicas e de mobilidade; (3) excesso de individualismo, consequência da perda de singularidades e da homogeneização, que conduz à perda da identidade e das referências sociais. Os não lugares são lugares da individualidade solitária, lugares de passagem, efêmeros. Exemplificamnos os aeroportos, as estações, as grandes cadeias de hotéis, os parques de lazer e as autoestradas, entre outros.

Nick Cowie

Para Augé (2013), os não lugares são designados por duas realidades distintas e complementares: espaços constituídos em relação a certos fins (como transporte, trânsito, comércio ou lazer) e a relação que os indivíduos mantêm com esses mesmos espaços. Integrantes do não lugares são palavras, textos e signos usados como forma de comunicação. Criamse mensagens veiculadas em diferentes suportes – painéis eletrônicos, placas, outdoors – componentes da paisagem contemporânea, que informam e conduzem a uma experiência e a uma vivência de solidão. Um aparente paradoxo: geralmente, os não lugares são locais de aglomeração de pessoas, mas que proporcionam o anonimato. Contudo existem regras a seguir, solicitações e códigos de conduta preestabelecidos, a que devem ser obedecidos. Nesse tipo de lugar estranho e desconhecido, um indivíduo solitário facilmente se encontra e se reconhece em um “lugar comum”, graças aos signos que criam uma espécie de “linguagem universal”, comum aos frequentadores dos não lugares, em redes dos hotéis, aeroportos, restaurantes e postos de gasolina, assim como nos produtos de consumo das gôndolas dos supermercados e dos shopping centers, consagrados pelas empresas multinacionais. Dessa maneira, na supermodernidade, o indivíduo se sente acolhido em sua solidão.

Cartaz do filme Terminal A trama se passa num aeroporto e expressa de maneira extrema e fiel o não lugar, pela ausencia do contato e das relações humanas.

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Acima, hotel de rede internacional no México A virtual universalidade dos ícones converte lugares de qualquer lugar do mundo em espaços estranhamente familiares

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a sociedade contemporânea Zigmunt Bauman desenvolveu uma metáfora para se referir ao estágio atual da era moderna – a partir da última década do século XX –, que denomina modernidade líquida. Os líquidos não se fixam no espaço, não mantêm a forma com facilidade e estão sempre prontos e propensos a adquirir a nova forma do espaço que ocupam apenas fugazmente. Pela plasticidade e inconstância dos líquidos, Bauman (2001) apresenta a fluidez ou a liquidez como metáforas adequadas ao tempo presente: “A adequação é característica essencial do indivíduo pós-moderno, para quem é fundamental estar em movimento” . Sua obra trata essencialmente da relação entre a desregulamentação e a privatização das tarefas e deveres do Estado – consequentes da globalização e do neoliberalismo. Aborda a crise ética e moral que afeta as identidades e as relações sociais e promove a falência do coletivo e do espaço público. Segundo esse autor, a desregulamentação trouxe a incerteza, uma poderosa força individualizadora. “A individualização traz a liberdade, mas traz junto a tarefa de enfrentar consequências. […] na ambivalência entre liberdade e segurança, entregamos hoje mais de nossa segurança em prol de mais liberdade.” (BAUMAN, 2001.) […] os mal-estares, aflições e ansiedades típicos do mundo pós-moderno resulta do gênero de sociedade que oferece cada vez mais liberdade individual ao preço de cada vez menos segurança. Os mal-estares pósmodernos nascem da liberdade, em vez da opressão. (BAUMAN, 1998, p. 156.)

Os padrões e as regras que antes regiam a vida cotidiana e comunitária e proporcionavam estabilidade aos indivíduos estão sendo abolidos, e o desafio da pós-modernidade – horizontal e plural – é a falta de referência e de recursos coletivos. “Não há mais grandes líderes para lhe dizer o que fazer e para aliviá-lo da responsabilidade pela consequência de seus atos. ” (BAUMAN, 2001, p.38.) Contudo o autor ressalta que, na sociedade contemporânea, as autoridades estão sendo substituídas por outro modelo de lideranças que não mais ordenam, mas exercem, ainda assim, uma enorme influência sobre o indivíduo. Segundo Bauman (2001), são os conselheiros celebridades que dão seus exemplos de vida e seduzem. Essas celebridades se expõem, tornando público seus problemas e conquistas; dessa forma, ocupam e substituem o espaço público que, tradicionalmente, é o espaço das relações sociais e da vida comunitária. “O que cada vez mais é percebido como questões públicas são os problemas privados de figuras públicas.” (BAUMAN, 2001.) Por sua vez, o esvaziamento do espaço público como lugar de encontro, debate e negociação entre o indivíduo

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Estação da Luz em São Paulo, ponto de encontro entre o “todos” e o “ninguém”.

20 referencial teórico


e o bem comum enfraquece as condições do indivíduo de tornar-se cidadão de fato e de viabilizar a verdadeira liberdade individual. “Multidões de pessoas estão agora preocupadas, mais do que nunca, apenas com as histórias de suas próprias vidas e com suas emoções particulares; esta preocupação tem demonstrado ser mais uma armadilha do que uma libertação.” (SENNETT, 1988, p.17.) Diante disso, Bauman (2001) conclui que a individualização corrói e desintegra a cidadania e que é necessário defender o evanescente domínio público e repovoar o espaço público que se esvazia devido à deserção de ambos os lados: a retirada do cidadão interessado e a fuga e o descompromisso do poder. […] e assim o espaço público está cada vez mais vazio de questões públicas. Ele deixa de desempenhar sua antiga função de lugar de encontro e diálogo sobre problemas privados e questões públicas. Os indivíduos estão sendo despidos da armadura protetora da cidadania e expropriados de suas capacidades e interesses de cidadãos. (BAUMAN, 2001, p. 50.)

Para o autor, a ávida busca por novos exemplos e por receitas de vida é uma variedade do comprar, e a sedução é a grande responsável pelo consumismo desenfreado. “Vamos às compras por aquilo que desejamos ser, pela imagem que queremos construir; não mais pela satisfação de nossas necessidades, mas por desejo – muito mais volátil e efêmero.” (BAUMAN, 2001.) O desejo sempre crescente – ditado pela grande variedade de opções e seduções – provoca nos indivíduos uma ansiedade contínua e uma insatisfação permanente. Na verdade, essa compulsão de comprar transformada em vício (tentativa de adquirir a identidade na prateleira) esconde a insegurança, o medo do erro e da incompetência e o grande desejo de estar seguro e confiante. A busca da identidade é a busca pela harmonia e consistência, pela coesão do disforme – que sentimos ser nossa existência – que acreditamos existir na vida do outro, uma vida perfeita e ideal. “(Os loucos representavam) uma obscura desordem, um caos movediço (…) que se opõe à estabilidade adulta e luminosa da mente. ” (Foucault, apud BAUMAN, 1998, p.13.) No livro O mal-estar da pós-modernidade, Bauman aborda a questão da ordem como um mecanismo que desenvolvemos para a organização do ambiente. Para isso, o autor (1998) trata de temas como pureza, sujeira,

Markus Biehal

Nos manequins dos grandes magazines, a procura de uma identidade

referencial teórico 21


desconhecidos, estranhos e estrangeiros; como reagimos e convivemos com tudo isso que nos causa incômodo e nos desestabilizam; quanto é o nosso esforço em manter as coisas como são, conhecidas, previsíveis e sob controle; e o medo dos estranhos, que nos angustia e nos obriga a nos resguardarmos em comunidades. Segundo Bauman (1998), a pureza é uma visão de ordem – que atribui às coisas seus lugares justos e convenientes. O oposto da pureza – as coisas sujas e os agentes poluidores – são as coisas fora do lugar. O interesse pela ordem e a luta contra a sujeira são interesses universais dos seres humanos; entretanto o modelo ideal de pureza ou de “fora de lugar” é relativo e varia conforme a época e a cultura. As coisas consideradas sujas num contexto podem tornar-se puras em outro lugar. O estranho – aquele que vem de fora e não partilha das suposições locais – quebra a estabilidade e a segurança da vida diária. Todavia o que é conhecido hoje pode se tornar estranho amanhã, caso uma nova ordem se estabeleça. Na pós-modernidade, a ordem é definida pelo mercado, e o critério da pureza é a aptidão de participar do jogo consumista. Uma das patologias sociais da contemporaneidade é o medo, que se prolifera e gera angústias na vida cotidiana. Os medos urbanos – como o medo da violência e o medo diante de estranhos – fazem com que as pessoas se afastem umas das outras, criem barreiras físicas e se protejam atrás de muros, criando comunidades artificiais. […] a insegurança mantém as pessoas longe dos espaços públicos e as afasta da busca da arte e das habilidades necessárias para compartilhar a vida pública. A comunidade defendida por suas fronteiras vigiadas de perto […] traduzida como o emprego de guardiões armados para controlar a entrada […] compartimentação das áreas publicas em enclaves defensáveis com acesso seletivo; separação no lugar da vida em comum, são as principais dimensões da evolução corrente da vida urbana. (BAUMAN, 2001, p.110-111.)

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Para Bauman (1998), no entanto, embora na cidade pós-moderna os estranhos sejam odiosos e temidos, são também pessoas pagas por serviços que prestam, fornecedores de prazeres e dispensados quando esses prazeres terminam. “(Os estranhos) estão aqui para ficar. […] Eles são úteis precisamente em sua qualidade de estranhos. ” (BAUMAN, 1998.) O encontro com estranhos é um evento sem

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Moradores de rua na cidade de São Paulo, parte integrante da metrópole.


passado e sem futuro, uma história para não ser continuada, e a vida urbana requer o que se chama de civilidade: “atividade que protege as pessoas umas das outras, permitindo que possam estar juntas”. Senett (apud BAUMAN, 2001, p.112.) A civilidade é uma característica da situação social, e o meio urbano deve ser civil. O autor define meio urbano civil como a disponibilidade de espaços que os indivíduos possam compartilhar como pessoas públicas, nos quais possam expressar pensamentos e sentimentos, e que se apresentem para o bem comum e não a propósitos individuais. Portanto necessitam de engajamento, participação e compromisso. Para o autor, a sociedade contemporânea desenvolveu estratégias de convivência com o espaço público e criou, nas cidades, categorias de espaços que se afastam do modelo ideal do espaço civil: (1) O espaço onde não há hospitalidade e que desencoraja a permanência. Outra vez, o exemplo é a praça de La Défense em Paris: […] os edifícios fantásticos que cercam a praça enorme e vazia são para serem admirados e não visitados, […] são imponentes e inacessíveis, […] nada alivia ou interrompe o uniforme e monótono vazio da praça. Não há bancos para descansar, nem árvores sob cuja sombra esconderse do sol escaldante, […] de tempos em tempos, com a regularidade dos horários do metrô, esses outros – filas de pedestres, como formigas apressadas – emergem de baixo da terra, estiram-se sobre o pavimento de pedras […] e desaparecem rapidamente da vista. A praça fica novamente vazia – até a chegada do próximo trem. (BAUMAN, 2001, p.113.)

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La Défense é o exemplo arquitetônico dos lugares êmicos, caracterizados pela separação espacial, os guetos urbanos, o acesso seletivo a espaços e o impedimento seletivo de seu uso. (2) Os lugares de consumo coletivo, outra categoria de espaço público, mas não civil, apresentada por Bauman (2001), destina-se a servir aos consumidores. De acordo com o autor, esses lugares encorajam a ação e não a interação. “Esses lugares de consumo

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A perda da intimidade em nome da maior sensação de segurança.

referencial teórico 23


coletivo não têm nada de coletivo. Vigiado e guardado, é uma ilha de ordem, livre de mendigos, desocupados e assaltantes.” (Bauman, 2001.) Não é espaço para conversa, socialização ou qualquer outra atividade que disperse o consumidor de seu isolamento. “O templo do consumo não faz parte da cidade […]. Como o barco de Michel Foucault, é um lugar sem lugar, que existe por si mesmo […] oferece o que nenhuma realidade real externa pode dar: o equilíbrio quase perfeito entre liberdade e segurança”. (BAUMAN, 2001.) Outra característica desses templos é a ausência de diferença, que faz com que nos identifiquemos e nos sintamos em uma comunidade. Os espaços de consumo representam os lugares fálicos, que levam à alienação e à suspensão da alteridade, pois neles nos sentimos iguais e não nos distinguimos dos demais.

Google

Em Paris, a monumentalidade do distrito financeiro de La Defense não convida à permanência. O Grande Arco de La Defense, projetado pelo arquiteto dinamarquês Otto von Spreckelsen (1929-1987) e concluído em 1989, pretende ser uma “janela aberta para o mundo”.

(3) Os não lugares, o terceiro tipo de espaço público, desencorajam a ideia de estabelecer-se; porém, ao contrário de La Défense (cujo único propósito é ser atravessada e deixada para trás o mais rapidamente possível), aceitam a passagem às vezes longa de estranhos, diferentes uns dos outros, mas que seguem os mesmos padrões de conduta. Segundo Bauman (2001), um não lugar é um espaço destituído das expressões simbólicas de identidade, relações e história e não requer o domínio da arte da civilidade, uma vez que reduz o comportamento em público a preceitos simples e fáceis de aprender. (4) Finalmente, os espaços vazios, para o autor (2001), são, antes de tudo, vazios de significado. São lugares não colonizados. Os lugares vazios são os espaços que não fazem sentido às pessoas, e essa percepção é individual: o vazio do lugar está no olho de quem vê.

24 referencial teórico


Para Bauman (2001), a principal característica da civilidade é a capacidade de interagir com estranhos e a principal característica dos lugares públicos, mas não civis – as quatro categorias citadas acima é a dispensabilidade dessa interação. Os espaços públicos, mas não civis, permitem estarmos juntos, porém com pouco contato. […] A capacidade de conviver com a diferença […] e beneficiar-se dela […] requer estudo e exercício. A incapacidade de enfrentar a pluralidade […] se autoperpetuam e reforçam: quanto maior a tendência à homogeneidade e o esforço para eliminar a diferença, tanto mais ameaçadora a diferença e tanto mais intensa a ansiedade que ela gera […] o ressentimento em relação à diferença também se autocorrobora, à medida que o impulso à uniformidade se intensifica. (BAUMAN, 2001, p.123-124.)

Kut Ninepu

Quem seria capaz de arriscar de qual cidade é este centro de compras? De qualquer uma e de nenhuma, especificamente. Trata-se de um shopping center em Tallinn, capital da Estônia.

A obsessiva preocupação contemporânea em manter a distância o outro, o diferente, o estranho e o estrangeiro, e em evitar a necessidade de comunicação, negociação e compromisso mútuo são respostas à fragilidade e à fluidez dos laços sociais. A preocupação em identificar corpos estranhos e o desejo de expeli-los do sistema convergem na política da separação étnica e na defesa contra a vinda dos estrangeiros. Fruto da ruptura de laços e do desengajamento, […] essa patologia do espaço público resulta numa patologia da política: o esvaziamento e a decadência da arte do diálogo e da negociação, e a substituição do engajamento e mútuo comprometimento pelas técnicas do desvio e da evasão. (BAUMAN, 2001.)

A

velocidade

dos

sinais

eletrônicos

e

a

referencial teórico 25


instantaneidade denotam a ausência do tempo; por isso não mais conferem valor ao espaço. Se todas as partes do espaço podem ser alcançadas no mesmo período de tempo (isto é, em tempo nenhum) e a qualquer momento, o espaço não tem mais um valor especial. Não é mais necessário tanto esforço e tanto gasto para conquistá-lo e mantê-lo. Para o autor, a instantaneidade – que significa realização imediata – parece ser a tendência última dessa história. O tempo que separa o começo e o fim está diminuindo e desaparecendo. Entretanto, […] mesmo a tecnologia mais avançada, armada de processadores cada vez mais poderosos, ainda tem muito caminho pela frente até atingir a genuína instantaneidade. E, em verdade, a consequência lógica da irrelevância do espaço ainda não se realizou plenamente, como também não se realizou a leveza e a infinita volatilidade e flexibilidade da agência humana. Mas a condição descrita é, de fato, o horizonte do desenvolvimento da modernidade leve. (BAUMAN, 2001, p.138.)

convívio humano, e a satisfação do desejo deve ser imediata. Efêmero, o desejo deve ser atendido de imediato, porém não deve ser satisfeito por completo, para que se mantenha vivo. Fugazes, as modas fazem com que todos os objetos de desejo se tornem obsoletos antes que tenhamos tempo de aproveitá-los. No mundo fluido, a efemeridade estende-se às relações humanas; a precariedade, a instabilidade e a vulnerabilidade tornam-se características difundidas na vida contemporânea. Os compromissos duradouros são substituídos pela duração de uma satisfação: […] temporais e transitórios […], passíveis de ruptura unilateral, sempre que um dos parceiros perceba melhores oportunidades e maior valor fora da parceria, […] laços e parcerias tendem a ser vistos e tratados como coisas destinadas a serem consumidas, […] estão sujeitas aos mesmos critérios de avaliação de todos os outros objetos de consumo. (BAUMAN, 2001, p.185.)

Enquanto o pêndulo entre liberdade e segurança oscila, afastando-se cada vez mais do polo da segurança, aumentam as ansiedades. O comunitarismo se apresenta como uma opção de segurança, e a comunidade ideal oferece tudo o que se pode precisar para a solução de todos os problemas. O mundo comunitário é completo, enquanto todo o resto é hostil. O desejo de comunidade é defensivo, um ato de autoproteção das diferenças. Na tentativa de separação entre “nós” e “eles”, o abrigo da uniformidade é universal. As campanhas publicitárias dos lançamentos imobiliários criam, ao longo de eixos de comunicação, arquipélagos de ilhas, áreas residenciais

Essa evolução do tempo traz consigo uma nova forma de estratificação social, em que as pessoas que se movem e agem com maior rapidez e as que mais se aproximam do momentâneo do movimento são as que agora mandam; ao mesmo tempo, as pessoas que não podem mover-se com a mesma velocidade, que não podem deixar seu lugar quando quiserem, são as que obedecem.

Castells (2011) acrescenta que a elite decorrente da nova estratificação social é formada pelos detentores do conhecimento e das inovações tecnológicas de informação e comunicação. Organizados globalmente em redes de poder que contrasta com uma mão de obra genérica, de baixa qualificação, gera um alto grau de desigualdade social. Unidos em rede ao sistema financeiro global, “conectam seletivamente aos lugares que atraem riqueza, poder, cultura, inovação e pessoas, inovadoras ou não” . O resultado desse processo é a coexistência de dinamismo e marginalidade metropolitana. Na modernidade fluida, a transitoriedade e a obsolescência substituem a perenidade e a durabilidade. Os objetos não são duráveis, são transitórios, destinados a serem usados, desaparecerem e abrirem espaço para outros, igualmente transitórios. Contudo a instantaneidade traz a sensação de que não há limites ao que pode ser extraído de qualquer momento, por mais breve e fugaz que seja. Como afirma Bauman (2001), “é o modo como se vive o momento que faz desse momento uma experiência imortal”. A nova instantaneidade muda radicalmente a modalidade do

26 referencial teórico

Google

A dominação consiste em nossa própria capacidade de escapar, de nos desengajarmos, de estar em outro lugar […] e ao mesmo tempo de destituir os que estão do lado dominado, de sua capacidade de parar ou limitar seus movimentos […] na modernidade líquida mandam os mais escapadiços, os que são livres para se mover de modo imperceptível.(BAUMAN, 2001, p. 139-140.)

No império da obsolescência programada, tudo é feito para não durar. Em poucos meses, os últimos lançamentos tecnológicos irão se converter em “sucata digital”.

cercadas, isoladas, com filtros seletivos. A busca pela comunidade demonstra o desejo por segurança em espaços idealmente protegidos, vigiados, limpos de substâncias estranhas, com entradas controladas. Bauman acredita ser o comunitarismo atual “uma resposta racional à crise genuína do espaço público – e, portanto, da política, essa atividade humana para qual o espaço público é o terreno natural” (BAUMAN, 2001, p.125.)


referencial te贸rico 27


Vista aĂŠrea do centro de RibeirĂŁo Preto Imagem: Tony Miyasaka


reconhecimento lugar

localização história bairro


localização

Dados de Ribeirão Preto Ribeirão Preto possui área de 650,36 km² [IBGE, 2010], dos quais 127,309 km² constituem a zona urbana. Situa-se a 21º10’40” de latitude sul e 47º48’36” de longitude oeste, estando 313 km a noroeste da capital paulista. A altitude média do município é de 544,8 metros, e suas declividades médias variam entre 2% e 10%. Possui clima tropical, com diminuição da pluviosidade no inverno, e temperatura média anual de 23,2°C. Seus invernos são secos e amenos, e, raramente, frios em demasia. Os verões são chuvosos, com temperaturas moderadamente elevadas. Segundo a Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica, predominam os ventos de leste. O relevo é suave e plano. O subsolo possui água em grande quantidade, no maior reservatório subterrâneo de água doce do mundo, o aquífero Guarani. Suas terras são drenadas pelas bacias dos rios Mogi e Pardo. A vegetação original e predominante é a mata atlântica. Fonte: Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo

Organograma de relaçãodepolaridade fonte: Gabriela Cursino

Ribeirão Preto destaca-se por ser um pólo econômico que atrai atividades comerciais, industriais e de prestação de serviços.

Grau de urbanização em % da população total BRASIL

SUDESTE

ESTADO SP

84,36 92,95 95,94 Fonte: IBGE - censo demográfico 2010

RIB. PRETO 99,70

População: 621.038 Densidade demográfica: 954,03 Taxa de urbanização: 99,72% Taxa de crescimento populacional: 1,42 IDH: 0,855 Coleta de Lixo: 99,80% Abastecimento de água: 99,00% Esgoto sanitário: 97,48% Déficit habitacional: 9.094 Fontes: SEADE, IBGE (2010), Fundação João Pinheiro (FJP)

30 localização


Quadrilátero Central

Ribeirão Preto

Localizada no nordeste do estado de São Paulo, a cidade de Ribeirão Preto é polo de uma aglomeração urbana (AU) que se diferencia economicamente pelo grande potencial do agronegócio. Trata-se de uma região historicamente agrícola, graças às condições geográficas de solo, relevo, clima e pluviosidade, bastante favoráveis. A região conta com uma malha viária articulada, que a interliga a outras malhas intraestaduais e interestaduais, excelente rede de comunicações, ampla estrutura bancária e financeira e modernos serviços de apoio à exportação, além de projetos voltados à agroindústria. Por seu dinamismo econômico, Ribeirão Preto tornou-se o principal polo de prestação de serviços e de comércio de todo o nordeste paulista, estendendo sua influência para alguns municípios dos estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Segundo a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, A polarização observada em Ribeirão Preto, na área comercial e de serviços, deve-se às menores dimensões e renda dos municípios circunvizinhos, incapazes de suportarem, por problemas de escala, certo conjunto de atividades produtivas; tal fato acabou por carrear para Ribeirão Preto parcela significativa da demanda das pessoas de maior renda da região, propiciando maior densidade e complexidade ao setor terciário da cidade. (2012) As áreas da educação e saúde foram impulsionadas pela vinda da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital das Clínicas, responsáveis pelo avanço em pesquisas ligadas à biotecnologia. Destacam-se, ainda, as faculdades de Administração e Economia (USP), que trouxeram para região um patamar de excelência em empreendedorismo. O grande número de cursos universitários oferecidos em Ribeirão Preto atrai estudantes de outras regiões e

Objeto praça Carlos Gomes gera um efeito multiplicador na economia. O boom imobiliário contribuiu para a geração de empregos, muitos relacionados diretamente com a construção civil e, indiretamente, com o aumento da demanda em novos postos de trabalho ligados à manutenção dos empreendimentos imobiliários (como zeladores, porteiros e outros cargos). Esses e outros fatores explicam os intensos fluxos migratórios para Ribeirão Preto e o aumento populacional que a cidade vem experimentando, superior à média do estado. Segundo dados da Fundação SEADE, entre os anos de 2000 e 2010, a AU-RP apresentou taxa média anual de migração de 7,6 migrantes por mil habitantes, enquanto a média estadual foi de 1,2 migrantes por mil habitantes. Com o intenso dinamismo econômico e a substituição, nas áreas rurais, da mão de obra permanente pela temporária, com residências nas cidades, a taxa de urbanização de Ribeirão Preto é de 99,7%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010. Entretanto, segundo a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo, Ribeirão Preto, como um polo consolidado, já apresenta características urbanas bastante

semelhantes às da metrópole paulista, em que pese a magnitude dos processos, onde se verifica o crescimento populacional mais acelerado da periferia em relação ao núcleo, com o surgimento de um número elevado de cidades-dormitórios. (2012) O desenvolvimento da malha urbana do município de Ribeirão Preto ocorre em todas as orientações da cidade, entretanto predomina o desenvolvimento das regiões leste e sul. Essa área, até pouco tempo rural, é, atualmente, o foco dos novos empreendimentos imobiliários na construção de novos loteamentos e condomínios para a classe economicamente alta da cidade. Os problemas de infraestrutura urbana e o descompasso entre crescimento econômico e desenvolvimento social repercutem no índice de desenvolvimento humano (IDH), que está em 0,855 (dado de 2000), o sexto maior do estado. Apesar de ser considerado elevado em relação ao país, o valor do IDH aponta para um processo de desigualdade e segregação social, fazendo-se necessária uma gestão urbana voltada à sustentabilidade econômica, física, ambiental e social, em ações integradas em um planejamento de complementaridade funcional intermunicipal.

localização 31


século XIX, a partir de um conglomerado de fazendas, cortado pela estrada que seguia para o Triângulo Mineiro e o Planalto Goiano. Inicialmente, o comércio instalou-se para atender às demandas de produção agrícola e pecuária e da população rural, estabelecendo um profundo vínculo entre os mundos urbano e rural. O atual centro foi o marco inicial do núcleo urbano. Com o aumento populacional, criaram-se os primeiros bairros: Vila Tibério, Barracão de Cima (atual Ipiranga), Barracão de Baixo (atual Campos Elíseos) e Santa Cruz do José Jacques. O Teatro Carlos Gomes foi projetado junto à praça XV de Novembro pelo arquiteto Ramos de Azevedo, e sua construção foi financiada por grandes fazendeiros da época. Ele foi inaugurado em novembro de 1897 com a ópera “O Guarany”, de Carlos Gomes, quando a cidade já era local de manifestações culturais conduzidas pelos imigrantes. Na história cultural brasileira, o teatro ganhou importância por ter sido erguido dez anos antes do

32 história 123

Fonte: Arquivo Patrimônio Histórico Ribeirão Preto

“O CENTRO ERA A CIDADE” A formação do município de Ribeirão Preto data do início do

Municipal de São Paulo, também projetado por Ramos de Azevedo. A construção seguiu o estilo neoclássico de influência italiana. Segundo os jornais da época, as escadarias eram em mármore Carrara; os candelabros, de bronze alemão; e os vitrais tinham cristais de Murano. O espaço interno, inspirado nos modelos europeus, tinha plateia oval com capacidade para 400 pessoas e cadeiras no estilo Luís 15. (2013) A partir dessa data, foram construídos outros edifícios que marcaram a arquitetura do centro da cidade: o Palacete Paschoal Innecchi, o Theatro Pedro II, o antigo prédio da Sociedade Recreativa e de Esportes (no qual está instalado o Museu de Arte de Ribeirão Preto), o Palácio Rio Branco (sede da Prefeitura Municipal), a Catedral Metropolitana (com obras do pintor Benedito Calixto) e o Casarão Camilo de Mattos (que foi prefeito da cidade). Em 1930, foi construído o Edifício Diederichsen, com seis pavimentos e uso misto – cinema, hotel, lojas e apartamentos de moradia. Esse edifício colocou a cidade no início da modernidade, que começava a deixar para trás o império do café e a ingressar no capitalismo industrial. A construção, em

estilo Art Déco, feito em concreto armado, trazendo à cidade as linhas retas e geométricas que substituía a arte artesanal e rebuscada dos palacetes. Em 1944, o Teatro Carlos Gomes foi demolido, não sendo substituído por nenhuma outra edificação. As razões da demolição nunca foram bem explicadas. Segundo estudiosos da cultura e da história da cidade, em 1944, o teatro encontrava-se em péssimo estado de conservação e precisava de uma grande reforma. A prefeitura, sem recursos - com o empobrecimento decorrente da depressão dos anos 30 -, contando com o Teatro Pedro II, optou pela demolição. Na década de 1960, no espaço que ocupava, passou a funcionar um terminal de ônibus urbanos. A partir de 1950, se iniciou a verticalização do centro, que passou a ser ocupado pela elite (particularmente o entorno da praça XV). Nele, se concentravam as atividades comerciais e financeiras, a administração pública e os espaços de lazer. A partir de 1955, com a implantação da Avenida Nove de Julho, novos bairros surgiram como opção para as classes altas, como o Higienópolis e o Jardim Sumaré. O centro, limitado pelas avenidas Francisco Junqueira, Independência, Jerônimo Gonçalves e Nove de Julho, acentuou sua verticalização.


história Evolução do uso da área Antes de 1910 Provável local de Implantação do teatro

Década de 1960 Implantação do terminal de ônibus

Fonte: www.google.com

Década de 2000 Atual paginação da praça

Fonte: Google Earth

O teatro Carlos Gomes

Teartro Carlos Gomes - Projeto do arquiteto Ramos de Azevedo inalgurado em 1897. Fonte: Arquivo Patrimônio Histórico Ribeirão Preto

Fonte: Arquivo Patrimônio Histórico Ribeirão Preto

história 33


1

Quarteirão Paulista: (a) A Praça XV de Novembro (1901), (b) o Palace Hotel (1924), (c) o Theatro Pedro II (1930) e (d) o Edifício Meira Junior (1930), compõem o Quarteirão Paulista, patrimônio tombado pelo CONDEPHAAT. Projetado por Hyppólito Pujol Junior, formam um conjunto de edifícios com características clássicas, do barroco-rococó brasileiro e elementos do art nouveau paulista. Praça XV de Novembro. Antigo largo da Matriz de São Sebastião, “representava a concretização espacial de uma área dedicada às horas de lazer e à sociabilidade […] iria se consolidar como grande símbolo a modernização em processo”. (SILVA, 2012)

2

Biblioteca Altino Arantes. Projetada por Ramos de Azevedo para servir de residência para Francisco Junqueira, é um exemplar de arquitetura em estilo neocolonial. O prédio serviu de modelo para outras residências construídas na cidade, nas décadas de 1930 a 1940.

Patrimônio histórico e cultural

objeto praça Carlos Gomes

34 história

3

Casarão Camilo de Mattos. Construído em estilo eclético, é muito visível por quem está na praça. Possui sistema construtivo em tijolos de barro autoportantes, com rejunte de barro e argamassa. A cobertura contém telhas cerâmicas francesas.

4

Museu de Arte de Ribeirão Preto. Esse edifício foi construído em 1906 como sede da Sociedade Recreativa e de Esportes. Em 1956, sofreu alterações e passou a abrigar a Câmara Municipal. Atualmente é sede do museu. O projeto arquitetônico, de estilo eclético, segue a rigidez clássica da planta baixa, com equilíbrio volumétrico e simetria das fachadas, marcadas pelo ritmo constante das aberturas.

5

Edifício Diederichsen. Construído em estilo art déco em 1934, sua estrutura de concreto armado foi uma inovação para o período. O primeiro edifício elevado da cidade foi considerado audacioso também por possuir um programa multifuncional: comércio e teatro (cinema) no térreo; serviços (dentistas, alfaiates entre outros) no primeiro e no segundo pavimentos; apartamentos residenciais no terceiro e no quarto pavimentos; hotel no quinto pavimento. O sexto pavimento, destinado à residência do proprietário na época, possui vários terraços, de onde se avistava a cidade.


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1d Arquivo Patrimonio Histórico de R. Preto

4 Arquivo Patrimonio Histórico de Ri. Preto

Arquivo Patrimonio Histórico de R. Preto

Arquivo Patrimonio Histórico de R. Preto

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Arquivo Patrimonio Histórico de R. Preto

3 Arquivo Patrimonio Histórico de R. Preto

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Arquivo Patrimonio Histórico de R. Preto

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história 35


bairro

topografia ­­. recursos hídricos . clima

Fonte: Google

Em duas de suas bordas, o chamado quadrilátero central delimita-se por dois córregos: o Retiro Saudoso (na Avenida Francisco Junqueira) e o Ribeirão Preto (na Avenida Jerônimo Gonçalves), que constituem os limites físicos que separam o Centro de bairros vizinhos e onde já ocorreram numerosas enchentes, que causaram e causam consideráveis prejuízos aos comerciantes do local. A presença desses córregos define uma topografia de fundo de vale, que proporciona agradável qualidade visual, pois, de onde se encontra o objeto, podem ser avistados bairros circundantes, o Bosque Municipal Fábio Barreto (nos Campos Elíseos) e a Igreja Nossa Senhora do Rosário (Vila Tibério). Contudo, como se pode ver no mapa ao lado, o objeto encontra-se implantado em local cuja declividade apresenta-se amena e não acidentada. Apesar de central, a área de estudo possui pouca verticalização e adensamento, permitin-

do circulação de ventos intensa e homogênea. A densa vegetação da praça XV de Novembro, adjacente ao objeto, contribui para a manutenção de um microclima favorável.

36 bairro


Campos Elíseos

2

Córrego Retiro Saudoso

córregos declive menor declive maior quadrilátero central vista

Vila Tibério 3

Terminal Rodoviário

1 praça XV e C. Gomes 2 bosque Fábio Barreto 3 igreja N. S. Rosário

1

Mercado Municipal

Centro

Parque Maurilio Biagi Córrego Ribeirão Preto

objeto praça Carlos Gomes

bairro 37


Detalhe da área: Curvas de Níveis Planta

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Topografia A praça Carlos Gomes possui um desnível de três metros que fica entre as cotas 538 e 536

537

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Corte

Detalhe da área: Ventos

Vento predominante: leste Apesar de central, a área de estudo possui pouca verticalização e adensamento, permitindo circulação de ventos intensa e homogênea.

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Vegetação 3

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objeto praça Carlos Gomes O Quadrilátero Central possui seis praças, das quais quatro relacionam-se entre si. Todas se encontram em bom estado de conservação, possuem vegetação de formação antiga, predominantemente de grande porte. A vegetação da praça Camões é composta por árvores de porte grande e bastante densas, proporcionando abrigo do sol. A praça Sete de Setembro, também com vegetação densa, possui um autêntico coreto, bem preservado, ao redor do qual, nos finais de semana, acontece uma feira de arte e desenvolvem-se atividades físicas, como caminhadas. A praça das Bandeiras, situada à frente da Catedral Metropolitana, caracteriza-se pela monumentalidade. Uma alameda de palmeiras imperiais alinhadas marca a entrada da principal igreja da cidade. Essa praça é bastante movimentada, pois se constitui ponto de convergência de numerosas linhas de ônibus que se dirigem para os demais bairros da cidade. Nessa praça, também se instala uma tradicional feira de artesanato. De todas as praças do quadrilátero central, a mais monumental é a praça XV de Novembro, integrante do chamado Quarteirão Paulista, tombado pelo CONDEPHAAT e pelo

CONPPAC. Trata-se de um logradouro bastante movimentado, onde idosos e jovens buscam a sombra das grandes árvores, e pela qual circulam, diariamente, milhares de pessoas, que frequentam o comércio da região central ou servem-se do comércio popular instalado no entorno da própria praça. A praça Carlos Gomes, objeto desse estudo, situa-se junto à praça XV de Novembro. É, virtualmente, uma praça seca, marcada pela aridez do piso implantado no local, antes ocupado por um importante teatro de concertos. Daquela época, restam as centenárias palmeiras, delimitando um espaço virtual que denuncia o vazio deixado pelo prédio demolido. A praça é arborizada com vegetação de médio porte, e somente nas calçadas perimetrais. Tanto o espaço central da praça quanto as calçadas do entorno prestam-se apenas à passagem da população, que não se sente atraída a permanecer por muito tempo no local. Fora do Quadrilátero Central, mas perto dele, está o Parque Maurílio Biagi, bastante frequentado, provido de equipamentos de esportes e lazer. Próximo também se localiza o Bosque Municipal Fábio Barreto, cuja vegetação nativa (remanescente de mata atlântica) beneficia o Quadrilátero Central

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praça Carlos Gomes praça XV de Novembro praça das Bandeiras praça da Catedral praça Luiz de Camões praça Sete de Setembro parque Maurilio Biagi bosque Fábio Barreto

no que se refere tanto à qualidade do microclima quanto pelo efeito paisagístico, proporcionados pela topografia de fundo de vale que separa esses dois espaços.

Fonte:Beatriz Prado Favaretto

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bairro 39


Espaços culturais

Enquanto grandes shoppings centers instalam-se na Zona Sul e atraem cada vez mais pessoas da cidade e da vizinhança (de acordo com um hábito já consolidado em cidades médias e grandes), é no Quadrilátero Central que se encontram mais e melhores atividades culturais. O palco do Theatro Pedro II recebe óperas, concertos, peças de teatro e shows. Após atender aos programas culturais, é hábito estender a noite na tradicional Choperia Pinguim, que preserva características arquitetônicas da época de sua fundação. Na mesma quadra, localiza-se o Centro Cultural Palace, recentemente restaurado, cuja programação inclui oficinas e exposições de arte e de artesanato. Ao redor da praça XV de Novembro e da praça Camões, situam-se a Biblioteca Altino Arantes e o Museu de Arte Ribeirão Preto (MARP), cuja programação envolve exposições de artistas renomados e salões de arte que exibem trabalhos de artistas contemporâneos de todo o país. Também se abre para grupos de estudo e palestras, que ocorrem mensalmente. Um pouco mais distante, localizam-se duas instituições dedicadas ao cinema: o Cine Cauim e os Estúdios Kaiser de Cinema.

40 bairro

Localizado em um edifício que foi ocupado por um cinema de grande importância na memória social da cidade (o Cine Bristol), o Cauim oferece programação noturna e diurna, esta última voltada para estudantes da rede pública. Ocupando uma belíssima edificação que constitui patrimônio histórico industrial, os Estúdios Kaiser de Cinema são a sede de uma companhia de cinema, possuem estúdios de gravação e desenvolvem uma programação que abrange a exibição de filmes não comerciais, seguida de seções de comentários. No espaço da praça XV de Novembro, ocorre a Feira Nacional do Livro, um dos principais eventos literários do país, que estende seus eventos para a praça Carlos Gomes, o Theatro Pedro II, os Estúdios Kaiser de Cinema e o Parque Maurílio Biagi. A feira é anual e possui programação literária de muita qualidade, com palestras e debates com renomados autores e estudiosos. Durante o ano, ocorrem eventos complementares, como cursos com profissionais da educação, cujo objetivo é incentivar o hábito da leitura. Todavia, se é no centro que essas atividades acontecem, o público que as frequenta não é o mesmo que passa pelo local

diariamente, nem o que habita seu entorno, demonstrando haver pouca interação entre os eventos que ocorrem no Theatro Pedro II e no MARP e o público que circula pela região regularmente. Exceção feita à Feira do Livro e aos eventos dedicados a grupos de estudantes, os frequentadores desses espaços culturais pertencem à elite social, que se deslocam da Zona Sul ou das partes residenciais “nobres” do centro.


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Choperia Piguim Teatro Pedro II Estúdios Kaiser de Cinema Centro Cultural Palace SESC Cineclube Caium Biblioteca Altino Arantes Museu de Arte Ribeirão Preto Feira do Livro

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PASSAGE

reposição

s

Fonte: Beatriz Prado Favaretto

sobrep PASSAGEM


reconhecimento objeto

fluxos comércio e serviços mobiliário insolação e vegetação implantação, cortes e fachadas possibiliddes construtivas programa de necessidades


objeto Fluxos

Análise dos fluxos humanos: interrelação entre o espaço urbano e arquitetônico e a população usuária Por se situar em uma praça, o objeto não possui limites, como muros, edificações ou qualquer outro tipo de obstáculo no contorno. Internamente, possui algumas vegetações, inseridas em canteiros delimitados por uma paginação de piso que serve de passagem aos usuários. Caracterizada principalmente como área de passagem marcada fisicamente pela aridez (falta de sombreamento e pouca opção de permanência), seus fluxos devem-se aos aspectos funcionais, como a proximidade das paradas de ônibus (por exemplo, diante do MARP, do prédio do Banco do Brasil e outros). Circulando pelo local em grande quantidade, esses ônibus frequentemente formam longas filas, criando composições momentâneas que alteram a paisagem urbana e arquitetônica, bloqueando a visão de quem está de um lado ou de outro da rua e escondendo a fachada dos edifícios (inclusive do MARP). O diversificado comércio popular do entorno atrai grande número de pessoas e estabelece um intenso fluxo de passagem, que cessa com o fechamento do comércio. Entre o público frequentador, principalmente durante o dia, há um grande número de itinerantes que se dirigem ao centro para trabalhar e que também consomem, contribuindo para manter o dinamismo da área central. Uma das faces do objeto volta-se para o calçadão, o qual acentua essa dinâmica. No período noturno e aos domingos, o fluxo de pessoas pelo entorno é quase nulo, com exceção dos dias em que há espetáculos no Theatro Pedro II. fonte: IBGE, censo demográfico 2010/EMBRAPA

Ao lado, a implantação da praça mostra os canteiros e a paginação para circulação de pedestres, onde também ocorrem eventos esporádicos.

Ponto de taxi Ponto de ônibus Ponto de mototaxi Fluxo de pedestres Calçadão Fluxo de veículos Canteiro cercado

44 objeto


Fonte: Beatriz Prado Favaretto Fonte: Beatriz Prado Favaretto

Fonte: Beatriz Prado Favaretto

Abaixo, o canteiro central que possui vegetação baixa e sem valor quanto à espécie. É cercado por grades impedindo a passagem das pessoas. A imagem mostra uma criança que ultrapassa a barreira para brincar.

objeto 45


Sistema viário e transporte

Sistemas viários Uma característica do transporte público urbano de Ribeirão Preto é que a maioria das linhas de ônibus urbanos originários das diversas regiões da cidade passa pelo centro, de onde se distribui para outros destinos. Ao mesmo tempo que gera um intenso tráfego no Quadrilátero Central, interferindo negativamente na qualidade da região, esse fluxo cria, durante o dia, um intenso movimento populacional flutuante − inclusive intermunicipal, tendo em vista a proximidade com a estação rodoviária. Esse fluxo é fundamental para o dinamismo da região. No mapa abaixo, observa-se que o entorno da área de estudo possui uma ampla rede de transporte público. No detalhe, apresentam-se as ruas com maior e menor concentração de linhas de ônibus. Na região central, são numerosos os estacionamentos para automóveis particulares, que podem ser considerados vazios urbanos que ainda podem ser ocupados.

sistema viário e transporte ponto de onibus urbano calçadão

via arterial

vias coletoras vias locais

estacionamentos

Concentração das linhas dos ônibus urbanos 5 Linhas 9 Linhas 11 Linhas 13 Linhas 23 Linhas 27 Linhas 30 Linhas 49 Linhas Pontos de Ônibus

Objeto praça Carlos Gomes

Mapa de ocupação

até 3 pavimentos de 3 a 6 pavimentos acima de 6 pavimentos

46 objeto

sistema viário e transporte ponto de onibus urbano calçadão

sistema viário e transporte ponto de de onibus urbano ponto ônibus urbano calçadão calçadão arterial viavia arterial

via arterial vias viascoletoras coletoras

viaslocais locais vias

estacionamentos estacionamentos

Objeto praça Carlos Gomes

vias coletoras vias locais

Mapa de uso estacionamentos

Comercial Residencial Institucional Praças

O traçado urbano do Quadrilátero Central da cidade exibe organização espacial ortogonal, caracterizado pela regularidade geométrica. No mapa de gabarito, nota-se que, apesar de ser a região central da cidade, ela não foi tão intensamente adensada. Com verticalização relativamente pouco intensa, apenas 10% da área é ocupada com edifícios altos (como se vê na área mostrada no mapa à esquerda). Quanto ao uso e à ocupação do solo, predomina a destinação comercial do espaço no entorno do objeto. Nas partes sul e sudeste do centro, predominam os imóveis residenciais, com exceção dos arredores da Avenida Nove de Julho. Apesar de predominantemente comercial, a região central exibe diversidade de uso, com moradias, equipamentos de saúde, prestação de serviço, locais de trabalho de profissionais liberais, locais de alimentação, bancos e espaços institucionais. Na região central, estão três grandes hospitais (sendo um público e dois privados), além de unidades de atendimento de saúde, consultórios e clínicas particulares.


Fluxos

Beatriz Prado Favaretto

Fonte: Beatriz Prado Favaretto

Na rua General Osório, o calçadão impede a passagem de carros e proporciona maior conforto para o pedestre. Junto à praça, na rua Duque de Caxias, há um ponto de moto taxi, um ponto de taxi e um ponto de ônibus. A mureta improvisada como banco na espera dos clientes.

objeto 47


O comércio popular é muito movimentado. Vestimentas, brinquedos, lojas de R$1,99, convivem com, lanchonetes, bancos, supermercado, mercadinhos e profissionais liberais

48 objeto

Beatriz Prado Favaretto

Fonte: Beatriz Prado Favaretto

Comércio e serviço


Fonte: Beatriz Prado Favaretto

Beatriz Prado Favaretto

ComĂŠrcio ambulante

objeto 49


Fonte: Beatriz Prado Favaretto

Mobiliรกrio

Hรก quatro bancas de revistas, todas nas extremidades da praรงa e voltadas para a rua. De costas para a praรงa, fazem contato somente com as ruas que a circundam

50 objeto


Mobiliário

Fonte: Beatriz Prado Favaretto

A placa indicativa das linhas de ônibus demonstram a grande quantidade de linhas para o local

O mobiliário composto por bancos de madeira em bom estado de conservação, e os postes de iluminação antigos ainda conservados, nas ruas em frente, postes novos mostram a fiação aérea que será embutida no subsolo. As lixeiras não possuem padronização.

objeto 51


Simulação em perspectiva da insolação em diferentes meses e horários.

Insolação janeiro - 6h

janeiro - 18h

julho - 6h

julho - 18h

A praça contém quatro bancas de jornais, uma em cada esquina, entretanto todas elas ficam posicionadas de costas para a praça, com a frente para a rua.

52 objeto

Fonte: Beatriz Prado Favaretto

Insolação observada em abril as 16:00


Carta solar Estudo feito considerando as coordenadas cartográicas de ribeirão preto: latitude: 21º 10’ 39’’ s longitude: 47º 48’ 37’’ w fonte: www.geografos.com.br

1 orientação 38º

Nessa orientação, o sol incidirá entre 06:00 e 15:30 entre dezembro a junho.

2 orientação 130º

Nessa orientação, o sol incidirá entre 06:00 e 12:00 entre dezembro a junho.

3 orientação 218º

Nessa orientação, o sol incidirá entre 12:00 e 18:00 entre junho a dezembro.

4 orientação 310º

Nessa orientação, o sol incidirá entre 10:00 e 18:00 entre junho a dezembro

objeto . praça carlos gomes

objeto 53


Vegetação

Uma das duas árvore de grande porte

Fonte: Beatriz Prado Favaretto

Periféricamente a praça possui um pouco de sombra, um convite à permanência

As palmeiras originárias da época da inalguração estão dispostas no centro da praça e fazem dois semicírculos

54 objeto


As duas árvores de maior porte são da época da inalguração e estão alocadas na parte periférica da praça.

O canteiro central: cercado, não permite passagem

Fonte: Beatriz Prado Favaretto

Lixo depositado na vegetação

Com exceção das palmeiras e de duas árvores antigas da época da sua fundação, a praça é pouco arborizada. Com árvores apenas nas calçadas e canteiros baixos no interior.

Detalhe da vegetação antiga.

objeto 55


Implantação 2

Área de declividade

maior

3

Rua Duque de Caxias

cota: 536,3

cota: 538,2

Rua General Osório

Calçadão em reforma

56 objeto

Rua Barão do Amazonas

cota: 537,1

Rua Visconde de Inhaúma

1


cortes

Calçada

Casas Bahia Casas Bahia Casas Bahia

Rua Barão do Amazonas

Rua Visconde de Inhaúma

Calçada

Corte 1

537

Calçadão

Corte 2

538

536 Rua Visconde de Inhaúma

Calçadão

Rua General Osório

538

Rua Duque de Caxias

Corte 3

536 Rua Barão do Amazonas

objeto 57


Fachadas Fachadas da Praça Carlos Gomes

Fachada Barão do Amazonas

Beatriz Prado Favaretto

Beatriz Prado Favaretto

Fachada Duque de Caxias

Fachada General Osório

Fachada Visconde de Inhauma Beatriz Prado Favaretto

Beatriz Prado Favaretto

Estudo de elementos do espaço urbano Rua Duque de Caxias

Rua Barão do Amazonas

Rua General Osório

Rodrigo Santos de Faria (adaptada)

Rodrigo Santos de Faria (adaptada)

Rodrigo Santos de Faria (adaptada)

A esquerda banco do Brasil, no centro a cor mostra alteração feita. Hoje é um único edifício que abriga uma grande loja de eletrodomésticos. À direita, um edifício de uso misto: no térreo é comercial e nos demais, residencial.

A esquerda no antigo casarão da Sociedade Recreativa, funciona atualmente o MARP. No centro diversos pontos comerciais de alimentação. À direita, na esquina, o edifício residencial (destaque acima) e no térreo comercial.

A esquerda num casarão antigo pouco conservado, funciona uma farmácia no centro há um supermercado e no vazio ao lado funciona o seu estacionamento. A direita há vários edifícios de uso misto, comércio, prestação de serviços e residências.

58 objeto


Rua General Os처rio

Rua Bar찾o do Amazonas

Rua Bar찾o do Amazonas

Rua Duque de Caxias

Beatriz Prado Favaretto

Rua Duque de Caxias

objeto 59


possibilidades construtivas

Programa de necessidades

Mapa geológico

O programa de necessidades foi definido tento em vista os objetivos do projeto, caracterizado pela flexibilidade tanto na configuração espacial, quanto no programa de ocupação. Portanto, há a possibilidade de redimensionar, substituir ou suprimir alguns ambientes. Estabelecemos as atividades motivadoras e ações que poderão ocorrer no local. Denominamos unidade, cada uma das áreas que poderá atender às diferentes atividades. Por fim, propomos áreas dimensionadas capazes de atender às atividades propostas neste trabalho.

1. Fluxos de passagens Os fluxos de passagens e de acesso à edificação devem propor fluidez e dinamismo, com os caminhos livres, sem interrupções ou bloqueios, tanto interno quanto externa à edificação. Hoje a passagem pelo centro da praça é interrompida pelo canteiro central.

2. Espaços de permanência

Mapa geológico simplificado da área urbana de Ribeirão Preto

Externo: Observamos, durante o estudo da área, que a praça é muito pouco usada como local de permanência. Faz parte do programa de necessidades alterar essa condição. O mobiliário (bancos) deverão ser instalados sob ambientes naturais, que proporcionem sombra para proteger do sol e calor intensos da cidade e favoreça a permanência. A praça possui uma área de 10.000 m2 e queremos evitar obstáculos que interfiram na fluidez dos fluxos de passagens. A área livre deverá acolher também eventos temporários, como teatro, shows, instalações visuais, feiras e manifestações populares.

Praça Carlos Gomes

O solo

Romper a rocha por meio de explosivos causaria grande impacto ambiental. O entorno adensado, as edificações de valor histórico e cultural, o grande número de usuários no entorno, entre outros, dificultariam a execução da obra. Pesquisamos as tecnologias disponíveis atualmente para ruptura, corte e retirada da rocha, sem que fosse necessário dinamitar. Descobrimos uma técnica que utiliza o martelete hidráulico, que perfura e quebra o subsolo, rompendo-o em pequenos pedaços, que, depois, são retirados. Outra técnica disponível e mais recomendada

60 objeto

para o caso, segundo o professor Ronald Savoi de Senna Junior, é o corte da rocha. Trata-se da técnica de desmonte de rocha que utiliza fio diamantado para cortar a rocha, tornando desnecessário dinamitá-la. Utilizada nas pedreiras brasileiras a partir da década de 90, seu uso foi intensificado nos últimos dez anos. É, atualmente, a técnica mais utilizada, mundialmente, para extração de rocha.

Interno: 1. Um anfiteatro com área de 600 m2 2. Uma edificação dividida em dois blocos de 560 m2 cada um, atenderá ao programa:

Martelete hidráulico

• cultural: biblioteca, livraria, exposições de artes visuais e vídeos [anexo ao MARP e ao Theatro Pedro II], e registro histórico do local; • de infraestrutura e apoio ao usuário com banheiros, local de alimentação; • de descanso, entretenimento e lazer; • circulação [rampas e elevadores e escada de segurana] • área de apoio: serviços e manutenção. Fonte: BGoogle

Tendo como decisão a implantação do edifício no subterrâneo, foi necessária uma pesquisa sobre o subsolo da praça. Segundo Farias (1998), “[…] constatou-se que o solo é composto por uma rocha Limosito, que se inicia a dois ou três metros abaixo da cota da rua, alcança um diâmetro que varia de quatro a oito metros, reaparecendo o solo basáltico normal […] o lençol freático passa a 12 metros de profundidade”.

3. Suporte técnico Instalações elétricas e hidráulicas e depósitos de agua subterrâneo.


Fluxos

Permanências

Externo

Interna Serviço e Apoio

Descanso e Entretenimento

Pavimentação na superfície e rampas para níveis diferentes de passagem para as ruas do entorno.

Externa Área técnica de 40m2, reservatórios de agua, instalações elétricas e hidráulicas.

Acessos / Circulação

Atividades Motivadoras Sensibilizar, aprender, informar, reconhecer, refletir. [sugestão: galeria, livraria, discoteca, biblioteca]

Para acesso ao edifício: 2 elevadores para uso do público e serviço Rampas Escada de sergurança Passarelas Circulação interna

Alimentar e higienizar. [sugestão: restaurante, lanchonete, cafeteria]

Descansar, conviver, contemplar, interagir. [sugestão: Ambientes para estar em grupos ou individualmente. com telão, sofás, mesas para jogos, leitura e para computadores pessoais com internet livre]

Área de permanência com ambientação para estar em grupo ou individulmente. Programa aberto. Espaço flexível que poderá atender a eventos temporários; teatro, música e instalações; e expressões populares. Esse programa ocupará a superfície da praça. Com área de 10.000 m2 Comércio informal que há na praça e no seu contorno periférico de forma livre.

Unidades de Ocupação

Unidade 1

Ârea de 60m2

Unidade 2

Área de 80m2

Anfiteatro

Área de 600m2

Unidade 3

Unidade 6

Área de 150m2

Área de 450m2

Unidade 4 e 5

Área de 450m2

Duas áreas de 40m2

Unidade 7

Banheiros

2 banheiros [F/M] com PPNE. Área total para cada banheiro de 40 m2

objeto 61



referenciais

ReferĂŞncias projetuais

Mube - Paulo Mendes da Rocha Serpentine - Herzog & De Meuron Mutant carpet - Marcio kogan


A leitura projetual Por que a leitura projetual é uma metodologia? Segundo Unwin (2013) “podemos desenvolver a capacidade de praticar arquitetura se estudarmos como ela foi praticada por outros”. A arquitetura possui uma linguagem própria e, para que o arquiteto adquira fluência, necessita praticar a leitura projetual. Analisar projetos de outros arquitetos e as maneiras pelas quais eles lidaram com desafios permite-nos entender o funcionamento da arquitetura; assim, percebemos como podemos explorar e desenvolver nossos próprios projetos. A análise estruturada permite sair da intuição, entender seus componentes e funcionamentos de modo consistente; então, podemos nos tornar aptos para projetar. “Até mesmo a subversão depende de entender o que se deseja subverter”. UNWIN (2013)

AEscolhemos estrategia da leitura três referências projetuais com diferenças extremas quanto à forma, à espacialidade e à tecnologia empregadas. O critério de escolha, todavia, buscou valorizar uma característica especialmente importante para nosso trabalho, e que os três têm em comum: como tratar o espaço público. Dada a complexidade de nossos objetivos, essas diferenças foram igualmente importantes, pela riqueza das soluções propostas, visando a lidar com objetivos diversos.

O conjunto dos projetos O conjunto de referencias é formado pelas obras: MUBE, de Paulo Mendes da Rocha, São Paulo; SERPENTINE, de Herzog & De Meuron, Londres; MUTANT CARPET, de Marcio Kogan, Los Angeles. Os três projetos constituem um bom conjunto para análise, pois (1) foram elaborados para edificações de uso público, (2) são espaços integradores, (3) possuem predominância da horizontalidade e (4) utilizam o subsolo como área construída. Suas diferenças também tornam o conjunto rico, pois cada um possui qualidades essenciais ao nosso projeto. (1) O projeto do MUBE usa a topografia do terreno para integrá-lo ao traçado público da cidade, dando a ele caráter de praça pública. A topografia permite o acesso por diferentes níveis. Os desníveis alteram o espaço de público para semipúblico. O programa formal (museu) divide-se entre o exterior e o interior subterrâneo. O plano horizontal é marcado por um grande pórtico que qualifica a praça (térreo), além de oferecer sombra e abrigo. (2) Também de caráter público, o SERPENTINE é um projeto de arqueologia e prospecção (escavações no terreno) que marca os diferentes usos que o lugar já teve. Utiliza o subsolo para o programa, além de dar opções de uso para a cobertura (um espelho d’agua que, quando esvaziado, pode ser ocupada por pessoas). (3) Projeto para uma praça, o MUTANT CARPET diferencia-se pela flexibilidade e, explorando a tecnologia, cria diferentes configurações. Equipamentos de lazer e entretenimento distribuem-se pelo subterrâneo da praça, conformando uma enorme galeria subterrânea ― também utilizada para eventos ― e são erguidos até a superfície por pistões hidráulicos.

64 referências projetuais


referĂŞncias projetuais 65


MUBE

Paulo Mendes da Rocha

A relação com os objetivos do nosso projeto são: É um projeto que se integra ao espaço público; usa a horizontalidade como elemento formal que marca a edificação na superfície da praça e propõe a permanencia sob sua sombra; O subsolo recebe o programa de necessidades; propõe diferentes acessos.

66 referências projetuais


AO museu identificação de lugar implantado entre duas ruas propõe a continuidade do espaço público. Uma praça seca com um marco: uma grande viga horizontal.

AA vigaestrutura é a forma em concreto protendido, apoiada sobre dois apoios

A geometria do plano é organizada numa uma malha hortogonal. A volumetria é predominantemente horizontal marcado por um portico que envolve toda a edificação. No subsolo, volumes retângulares distribuidos em diferentes níveis compõem-se ao plano horizontal. A topografia recortada comporta o programa no subsolo

independentes, pousa sobre o terreno. Com vão livre de sessenta metros de extensão (doze de largura e dois metros de altura) marca a presença do museu. A estrutura do edifício é ao mesmo tempo uma solução formal, essa é uma característica recorretnte em suas obras.

expressividade e funcionaldade ao projeto. A circulação, rampas e escadas “rasgam” o solo e permitem o acesso ao subterrâneo. O arquiteto faz uso da topografia para integrar o projeto ao entorno. Na superfície da praça há um grande portico horizontal que sombreia e abriga o espaço público. É um elemento que apoiado no solo transmite equilíbrio e estabilidade. Com pé direito de 2,70 metros, acompanha a escala humana e das esculturas do museu. Não há hierarquia, não há elevação principal. A transição do exterior para o interior coincide com a transição do público para o semi público. Acontece por meio de rampas e escadas que “rasgam” o solo, e pelo próprio desnível do terreno. A iluminação do pavimento subterrâneo é indireta, o que é bom para um museu. O subterrãneo abriga o programa de necessidades

ao mesmo tempo que acomoda o portico na superfície. A horizontalidade e os recortes do terreno dão

Os pilares são alinhados e encaixados na malha hortogonal. Portico

4

1 2

3

4 5

6

Rampas e escada Acesso principal

7

8

9

1. Administração 2. Café 3. Atelies 4. Banheiros 5. Cozinha 6. Pinacoteca 7. Auditório 8. Loby 9. Grande salão

referências projetuais 67


SERPENTINE

Herzog & De Meuron e Ai Weiwei

A relação com os objetivos do nosso projeto são: A topografia da memória, o uso da arqueologia e prospecção para uma análise da ocupação no tempo; O uso do subsolo como ocupação; A integração com o entorno; A possibilidade de novos usos; A exploração dos sentidos.

68 referências projetuais

O projeto Serpentine Herzog & De Meuron em conjunto com Ai Weiwer foi instalado num espaço de exposição temporária no centro de Londres voltado às artes, arquitetura, educação e programas públicos. O conceito do projeto é a topografia da memória, a sobreposição no tempo, no caso, as onze edições anteriores da Serpentine Gallery Por meio da arqueologia e prospecção, metodologia que analisa o passado do lugar, os arquitetos pesquisaram as diferentes topografias, traçados, as fundações utilizadas anteriormente. Os arquitetos determinaram a circulação e inseriram onze colunas que representam cada pavilhão anterior e mais uma representando a estrutura atual. A ocupação é semi subterranea e a cobertura que fica a apenas 1,5 m do solo é sustentada pelas doze colunas. Essa laje é também um espelho d’agua que reflete a iluminação do espaço externo. Quando esvaziada, pode ser utilizada para outros eventos públicos como shows. A cortiça foi o material escolhido para estruturar a área interna. Suas características técnicas permite versatilidade, pode ser esculpida e modelada facilmente. Além disso sua cor faz referência a terra do subsolo e proporciona uma esperiência visual (textura) e olfativa aos visitantes.


Abaixo, esquemas mostram as sobreposições topográficas, dos traçados, das fundações e os fragmentos encontrados.

Sobreposição da topografia

çirculação

Traçado dos pavilhões anteriores

Fragmentos encontrados da fundação

Fundações escavadas

Topografia e fundações

Doze pilares estruturais

Implantação

Os pilares que estruturam a edificação não estão distribuidos de forma ordenada e alinhados, pois permanecem no mesmo local de onde foram retirados os fragmentos das fundações anteriores. Da mesma forma os volumes de permanência e a circulação foram definidos pela prospecção. A volumetria é constituída por planos horizontais alocados em níveis diferentes, que cria uma topografia e espaço de permanência. A laje (é cobertura e também piso) é um plano horizontal aéreo estruturado pelos doze pilares. Ela marca a edificação e possui a escala das pessoas. Não há hierarquia, e possui acessos múltiplos. Também não há fechamentos, é um espaço aberto e sem restrições de uso.

Plano de massas com as sobreposições das etapas da prospecção

Todos elementos são revestidos em cortiça que proporciona sensação visual e olfativa. A cor se assemelha a da terra

A cobertura é uma laje e espelho d’agua que reflete os condicionantes da iluminação exterior. A superfície pode ser esvaziada, permitindo o uso para eventos públicos.

referências projetuais 69


MUTANT CARPET

Marcio Kogan AMutant identificação de lugar Carpet é um projeto de um parque desenvolvido para a cidade de Los Angeles. O arquiteto usa a tecnologia para inovar o conceito de praça pública e consegue oferecer diferentes possibilidades de ocupação à praça. Desta maneira, a praça pode ser utilizada em diferentes configurações conforme a conveniência. Além de proporcionar diferentes usos, os cenários variados geram diferentes espacialidades dando uma diversidade ambiental e visual, criam surpresas para os que passam por lá e podem ve-la a cada tempo de uma nova forma. www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/108/parquemultitematico-23507-1.asp

A relação com os objetivos do nosso projeto são: O uso da tecnologia para o fechamento do equipamento proporcionando a possibilidade de multiplos usos na superfície da praça.

O solo se abre e elevadores hidraulicos, guinchos e braços mecânicos elevam os equipamentos até a suberfície.

70 referências projetuais


Fonte: www.piniweb.com.br/construcao/noticias/parque-multitematico

Cortes

Acima, as diversas possiblidades de configuração da praça. Os equipamentos quando recolhidos no subsolo permitem um novo uso para a praça.

referências projetuais 71


11 3

1 Fonte: issuu.com/maryfaga/docs/tfgativacoesurbanas

10

2

6 4

13

12 1. tela de cinema 2. palco 3. torres guindastes 4. topografia artificial da pista de skate 5. torres técnicas/projeção 6. basquete 7. parede de escalada 8. área de fontes 9. escada 10. elevadores 11. torres de iluminação 12. bancos móveis 13. boxes e jogos

Acessos ao subsolo Elevadores Escadas

Os pistoes estruturam e movem Equipamentos para atividades esportivas que compõem o projeto como, pista de skate e cestas de basquete, e de lazer como, tela para projeção de filmes, palco para shows e torres de luz são instalados no subsolo. Estruturados por pistões hidraulicos são erguidos à superfície com o auxílio desses elevadores hidráulicos além de guinchos e braços mecânicos. Os equipamentos são organizados no centro da praça e alinhados de forma regular em linhas paralelas. Perpendicularmente e perifericamente a eles ficam os elevadores e as torres de iluminação. No entorno da praça as árvores e os bancos que deslizam sobre trilhos estão também alinhados. A volumetria varia conforme a configuração, tela de cinema, palco de espetáculos, cestas de basquetes, parede de escalada se erguem formatando volume diversos. Os acessos ao subterrâneo são por meio de escadas e elevadores distribuídos simetricamente em quatro pontos da praça. Não há hierarquia nem marco, pois tudo é mutável. Nas extremidades da praça, sobre um piso de pedras, ficariam os bancos que deslizariam sobre trilhos, aproximando ou afastando os assentos conforme a vontade dos frequentadores, optando pelo sol ou pelas sombras das árvores.

72 referências projetuais

5

7

9 8


15 14

Fonte: issuu.com/maryfaga/docs/tfgativacoesurbanas

2

5

12 16

1. tela de cinema 2. apoio / camarins 3. torres guindastes 4. topografia artificial / lounge 5. torres técnicas/projeção 6. basquete 7. parede de escalada 8. recepção 9. escada 10. elevadores 11. torres de iluminação 12. sanitários públicos 13. boxes e jogos 14. bar 15. cozinha 16. área técnica Acessos Elevadores Escadas

O Subsolo No subsolo, volumes de vidro guardam os equipamentos. Esse espaço pode ser utilizado para eventos, exposições de arte, e para apoio ao usuário com sanitários públicos e área técnica.

referências projetuais 73



projeto conceito e partido plano de massas plantas, cortes e perspectivas


conceito 1. Qualificar o espaço público Qualificar o espaço público e promover permeabilidade, inclusão, integração e permanência por meio de qualidades espaciais, formais, estéticas e programáticas. Promover a diversidade por meio de um espaço sem restrições para o cidadão, uma continuação da praça pública. Devem-se evitar, portanto, os fechamentos, que têm a finalidade de controle, característicos dos espaços privados. Relacionar-se com as condicionantes do lugar do qual faz parte e com a população que o frequenta.

Projetar a topografia da memória, sobreposição do tempo – passado e presente (teatro Carlos Gomes, terminal de ônibus e atual paginação).

3. Sobreposição de fluxo e permanência nos espaços: articulações, conexões, entrelaçamentos e interligações entre fluxos (passagens) e permanência.

2. Análise das configurações e usos no tempo: fragmentos, camadas e sobreposições

A sociedade contemporânea se caracteriza pela agilidade, pela rapidez. Fazem-se muitas coisas ao mesmo tempo. Os computadores e celulares possuem interfaces múltiplas, e migramos de uma para outra em frações de segundos. Portanto o espaço físico também precisa ser dinâmico. Propor configurações espaciais dinâmicas por meio de rampas, elevadores e passarelas que interliguem os espaços de permanência em seus diversos níveis e conecte-os aos fluxos de passagens.

Aplicar o método de arqueologia e prospecção para analisar e caracterizar o lugar, desde o passado remoto até o presente, e da projeção, que prevê o lugar como poderá ser, apesar das interferências do uso.

4. Mobilidade e flexibilidade espacial

Fonte: Google

O modo de vida contemporâneo também pede ambientes flexíveis. Portanto a edificação não deverá ser compartimentada por elementos construtivos. Livre de paredes, seu uso poderá ser alterado a qualquer tempo. A ocupação deverá ser delimitada pelo mobiliário.

76 projeto


partido Planos sobrepostos

Linhas entrecruzadas, entrelaçadas

Subterrâneo

Aéreo Superfície

A sobreposição de planos faz referência às diferentes ocupações que já ocorreram na área: O Teatro Carlos Gomes, o terminal de ônibus e a atual ocupação. As camadas do subsolo soman-se a elas, como mostra o esquema abaixo.

As linhas entrecruzadas representam a circulação e os fluxos de passagens.

Esquema de representação das camadas do subsolo e de ocupação no tempo.

Terminal de ônibus

Basalto

Teatro Carlos Gomes

Lençol freático

projeto 77


Partindo dos conceitos de espaço público aqui apresentados, da sua importância como promotor do convívio social, acolhedor da diversidade e mediador da expressão popular; considerando o valor histórico e cultural presente e sua importância para a cidade; a análise feita da área, com as condicionantes do lugar e o perfil da população que a frequenta, desenvolvemos um projeto de intervenção que se propõe acolhedor nas necessidades de bem-estar dessa população.

A Intervenção Projetamos uma intervenção de prospecção e topografia da memória. As diferentes ocupações que ocorreram no local no decorrer do tempo: o Teatro Carlos Gomes; o terminal de ônibus; a ocupação atual com os canteiros e árvores e os fluxos de passagens que essas ocupações proporcionaram no tempo e a topografia. Por fim, a paginação de piso, que indica caminhos aos acessos da edificação e ao entorno. Sobrepondo os mapas das ocupações antes existentes, observamos que todas existiram no mesmo espaço, o centro da praça. A implantação do objeto da intervenção será, portanto, no mesmo local onde já estiveram o teatro e o terminal de ônibus. Pretendemos construir uma intervenção sutil quanto à forma, que, por meio do reconhecimento das origens, arqueológica e histórica, propõe a sensibilização e a aproximação social.

78 projeto

Uma reflexão sobre o espaço público: permeabilidade, inclusão, integração e permanência Durante a elaboração do projeto, pensamos muito a respeito dos fechamentos da edificação. Se teria vidros nas laterais para proteção das chuvas e se teria portas de controle ao interior. Lembramo-nos dos espaços na cidade como os parques públicos Maurílio Biagi, Carlos Raia, Curupira, entre outros, que são cercados e possuem controle de acesso. Concluímos que essa opção administrativa restringe o acesso e constrange os cidadãos. Nesse momento da reflexão, considerando as discussões analisadas no referencial teórico sobre o declínio do espaço público e da crise pública que a sociedade contemporânea vive, assim como o conceito do projeto, optamos por deixá-la aberta, sem restrições, uma extensão da praça no seu subterrâneo, um “abrigo”, se necessário for. O fechamento retrátil no nível da praça será para proporcionar mais uma opção de uso - para grandes eventos - e não como restrição.


Fluxos no tempo: arqueologia da memória - prospecção e projeção

3. O fluxo do terminal de Ônibus

5. O fluxo atual [predominante]

6. A topografia do terreno

S-5

4. A ocupação atual [canteiros] Década de 2000

2. O terminal de Ônibus Década de 1960 a 2000

S-5

1. O teatro Carlos Gomes De 1897 a 1944 Oc

16 x 0,188 = 3,000

16 x 0,188 = 3,000

S-4

S-4

S-4

S-4

16 x 0,188 = 3,000

S-6

S-6

16 x 0,188 = 3,000

S-6

S-5

S-5

S-6

0.

Story

1:184,71

0.

7. A vegetação existente

8. A paginação do piso da praça aponta para os acessos

Story

1:184,71

9. Implantação

projeto 79


plano de massas Implantação

A edificação é subterrânea, e a implantação ocorre no centro da praça.

R. Duque de Caxias 4

7

6

5

4

7

16 x 0,188 = 3,000

9 8

6 1

1. Rampa de acesso 2. Elevadores 3. Escada de segurança 4. Paginação de piso 5. Vegetação conservada 6. Edificação subterrânea 1 7. Edificação subterrânea 2 8. Fluxos de acesso e passagem pelo téreo do edifício para o outro lado da praça 9. Fechamento retrátil

5

4 0.

16 x 0,188 = 3,000

4

R. Visconde de Inhaúma

15

14

13

12

11

10

9

8

16

R. Barão do Amazonas

3

1

2 3

2

5

R. General Osório Story

1:200

Na superfície, os usuários poderão cruzar a praça em direção às ruas circundantes e aos locais de permanência ao ar livre, ou adentrar à edificação. Na tentativa de não obstruir o fluxo de passagem de quem deseja apenas cruzá-la de um lado ao outro e para criar um novo uso na superfície, o projeto tem a opção de um fechamento retrátil no solo da praça. Mantivemos a vegetação mais antiga (duas grandes árvores e as palmeiras imperiais), que ainda está em bom estado. Substituímos a vegetação periférica das calçadas das ruas Duque de Caxias e General Osório. As demais vegetações, arbustos ou árvores em mal estado de conservação, foram retiradas. Sob as árvores periféricas, alocamos os bancos – próximos ou distantes uns dos outros –, que deslizam sobre trilhos, proporcionando diversas configurações. O piso da praça é o ladrilho hidráulico, e tonalidades diferentes definem a paginação que marca os percursos de acessos e convida para o subterrâneo. Na superfície, a edificação possui uma plataforma inclinada que é ao mesmo tempo cobertura do subsolo e área de permanência (um solarium, um mirante). Ela cria uma topografia na praça quase plana e marca a edificação subterrânea.

80 projeto


projeto 81


A identificação do lugar Na superfície, estamos expostos aos estímulos naturais, como sol, chuva, calor, frio, e antrópicos, como o sombreamento dos edifícios, o movimento e o barulho dos carros e das pessoas.

82

projeto


Um “rasgo” no solo guarda a passarela de acesso, uma zona de transição entre o exterior e o interior, que permite de forma lenta e progressiva, um contato com o subterrâneo. Dessa forma, podemos observar gradativamente, as alterações de luminosidade, de som e de temperatura.

Passarela de acesso cria um “rasgo” no chão

A rampa inclinada da edificação cria uma nova topografia, oferece um novo uso e marca a intervenção; a laje plana permite seguir em frente para o outro lado da praça.

A passarela cria uma topografia e indica a edificação

projeto 83


Elementos arquitetônicos

plataforma retrátil: plano inclinado plataforma elevatória: acesso vertical

84 projeto

plataformas sobrepostas: planos horizontais

palco retrátil: o núcleo

o basalto envolve a edificação

300 340

300

255 295

4060 160

40105

340

300

255

300

105

300

A edificação não possui hierarquia – o acesso é múltiplo e não há um principal. Sem luxo estético, possui um vocabulário simples de elementos da arquitetura: plataformas e rampas, pilares e vigas; a geometria é dada por retângulos (representação conceitual do terminal de ônibus) e por um quadrado central que define o núcleo (representação conceitual do teatro demolido), e o plano inclinado sobre a superfície que se contrapõe com a predominância da volumetria horizontal. Os materiais são o metal e o concreto. O basalto – a principal vedação – contém a edificação e define o espaço interno.


O exterior: sem hierarquia e com poucos elementos arquitetônicos

Na superfície, uma das lajes dá passagem para quem deseja cruzar a praça, e a outra, inclinada, permite diversos usos de permanência. Com a opção de ser retrátil verticalmente, libera o piso da praça de obstáculos de passagem. A abertura que há entre os dois volumes de planos possui fechamento retrátil na superfície. Dessa forma, quando fechados, a superfície da praça adquire uma grande extensão novamente. Não há fechamentos laterais (paredes e vidros), pois a caixa de pedra (basalto) já constitui um fechamento

projeto 85


Conforme adentramos à edificação pela passarela, aos poucos, deixamos os sons, os aromas, a luz e o clima exterior para mergulharmos em outros estímulos e sensações. Novos sons ou sua ausência, e novos aromas, brotam do subsolo. No seu interior, estamos acolhidos e abrigados.

arquibancada suspensa estruturada por cabos de aço e mão francesa

86 projeto

elementos de apoio e pérgula


Fluxos e Permanências Neste projeto, os fluxos e permanências se entrelaçam numa convivência comum. Os mesmos lugares que dão passagem e servem à circulação oferecem a permanência, por meio de mobiliários e atividades de entretenimento.

Fluxos Passagens Acessos / Circulação

fluxos e permanência se entrelaçam em extensos e largos planos

Os acessos ao interior se dão por rampa – um acesso mais lento, e por acessos verticais – duas plataformas elevatórias com guarda-corpo que funcionam com um mecanismo de pistão hidráulico e uma escada de segurança. Dentro da edificação, rampas e passarelas ligam as plataformas nos seus diferentes níveis, cruzando-as e entrelaçando-as perifericamente. Essas rampas e passarelas são lajes em balanço com vãos entre a caixa de pedra – basalto – e as plataformas da edificação. A edificação é formada por uma sucessão de plataformas: camadas – planos horizontais – se sobrepõem (umas às outras) e convidam à permanência. O plano mais baixo – representa o teatro Carlos Gomes – possui uma plataforma de madeira (retrátil) sobre o solo do basalto que compõe o subsolo. Acima dele, duas plataformas suspensas (o primeiro e o segundo subsolo), representam o terminal de ônibus. São plataformas para passar ou para permanecer; uma plataforma “dobrada” se torna arquibancada; uma plataforma móvel (se eleva e cria diferentes configurações) se torna anfiteatro. Outra plataforma móvel se torna acesso vertical. Nenhuma das plataformas tocam o chão e parecem flutuar na concreta caixa subterrânea, uma referência às ocupações no tempo, à sua transitoriedade; não se fixa, não é permanente. Enquanto as plataformas protegem do exterior, as aberturas centrais e os vãos laterais mantêm o contato com o exterior. Assim, percebemos as variações do clima, se está chuvoso, nublado ou ensolarado; percebemos também as variações da luz ao longo do dia e vemos a paisagem; temos vistas dos edifícios e da vegetação do entorno e das pessoas que passam na superfície.

Rampas e passarelas em vermelho e as plataformas cinzas

Permanência Descanso e Entretenimento

Dois volumes retangulares compostos de camadas sobrepostas e uma camada localizada no centro do plano inferior. são interligados por passarelas e rampas.

Rampas e passarelas circundam e cruzam a edificação

projeto 87


As edificações suspensas envolvidas pelas passarelas

As imagens abaixo mostram os acessos aos diferentes níveis através das passarelas.

1 2

4

1. Nivel 1 do edifício A 2. Nível 2 do edifício A 3. Nível 2 do edifício B 4. Nível do anfiteatro

88 projeto

3.


As imagens abaixo mostram os acessos aos diferentes níveis através das passarelas.

Os dois edifícios suspensos e o anfiteatro no nível abaixo

Rampa de acesso ao elevador

As imagens acima mostram o recuo da passarela com as laterais - parede de pedra e parede de vidro.

projeto 89


alimentar -

lanchonete cafeteria

galeria

banheiro

ansar - co desc n ambiente viv e com telão

livraria

r-

ambiente de leitura

ambiente com computadores

discoteca

ambiente de jogos

interagir

biblioteca

sensibilizar

-

contem

r - reconhec a m er r o f in

restaurante

ar iz

re

r i t e

rla p

Atividades motivadoras

hig ie n

-a p r e n d e r Unidades de permanência e fluxos

90 projeto

Unidade 1

Unidade 3

Unidade 6

Ârea de 60 m²

Área de 150 m²

Área de 450 m²

Unidade 2

Unidade 4 e 5

Área de 80 m²

Duas áreas de 40 m²

Anfiteatro

Sanitários

Área de 600 m²

2 banheiros [F/M] com PPNE. Área total para cada banheiro de 40 m²


A identificação dos espaços

Organização espacial

A identificação dos espaços ocorreu por ações motivadoras, que são as mesmas que se tem numa moradia: alimentar, higienizar, sentar, descansar, dormir e socializar. A intenção foi criar um programa de “infraestrutura” à população – de alimentação e de higienização; de interação, de convivência, de descanso, de entretenimento e de lazer; e de sensibilização, de aprendizagem e de reflexão por meio de experiências culturais. Na nossa sugestão de organização do programa, propomos a área de alimentação e sanitários no primeiro subsolo, por serem bastante movimentadas. Deixamos para o nível mais baixo as atividades como descanso e as que requerem concentração.

A organização espacial A organização espacial terá mobilidade e permitirá diferentes configurações para atender ao programa de necessidades, caracterizado pela flexibilidade. Sem compartimentos, a ocupação é definida pelo mobiliário. Ele é dobrável e pode ser empilhado, ocupando pouco espaço quando guardado. Os sanitários serão como containers, uma caixa dobrada com fechamento somente nas cabines. A lanchonete, cafeteria, biblioteca, banca de revista e biblioteca serão uma releitura das bancas e dos carrinhos de lanche e garapeiros que existem sobre as praças de Ribeirão Preto. Durante o dia, abrem para o usuário e, à noite, fecham-se como caixas dobradas. Tudo isso garante um lugar despretensioso e despojado.

Acessos 2 elevadores para uso do público e de serviço Rampas Escada de segurança Passarelas de circulação entre os planos

Externo Espaço flexível que poderá atender a eventos temporários; teatro, música e instalações; e expressões populares. Esse programa ocupará a superfície da praça. Com área de 10.000 m²

Manutenção e Serviço Área técnica de 40 m², reservatórios de água subterrâneo, instalações elétricas e hidráulicas e gás encanado

projeto 91


Térreo

Subsolo 1

7

6

5

4

3

2

1

S1

7

6

5

4

3

2

1

S1

9

12

11

10

15

14

13

16

11

10

8

9

15

14

13

12

16

8

16 x 0,188 = 3,000

16 x 0,188 = 3,000

S2

S2

Vão aberto

S2

16 x 0,188 = 3,000

16 x 0,188 = 3,000

S1 -1.

Subsolo 1

S1 1:108,75

-1.

Circulação Alimentar e higienizar Descansar/conviver/contemplar/interagir Sensibilizar/ aprender/informar/reconhecer/refletir Fluxo/permanência

92 projeto

S2

Vão aberto

Subsolo 1

1:108,75


Subsolo 2

Subsolo 3

S1

S1

7

6

5

4

3

2

7

6

5

4

3

2

1

1

área de serviço e apoio

8

11

10

9

14

13

12

16

15

11

10

9

14

13

12

16

15

8

ramapa de acesso

16 x 0,188 = 3,000

16 x

0,188

= 3,000

16 x

S2

S2

0,188

= 3,000

S2

S2

16 x 0,188 = 3,000

S1 -2.

Subsolo 2

1:108,05

-3.

Subsolo 3

S1

1:121,29

Circulação Alimentar e higienizar Descansar/conviver/contemplar/interagir Sensibilizar/ aprender/informar/reconhecer/refletir Fluxo/permanência

projeto 93


Cortes

S-2

Estrutura e Materialidade

Building Section

1:136,69

A edificação está estruturada por vigas metálicas do primeiro subsolo presas ao solo de rocha. Essa laje estrutural suporta o pavimento superior com pilares metálicos contraventados e o pavimento inferior, com cabos de aço. Vigas metálicas diagonais presas na rocha dão estabilidade. Sem tocar no solo, a edificação fica pendurada pelas vigas. Solta, parece flutuar no vazio da caixa subterrânea e se contrapõe à matéria rígida, sólida e concreta da rocha de basalto aparente do subsolo. As peças estruturais serão pré-fabricadas, o que facilitará a obra (rapidez, agilidade e limpeza), localizada no centro da cidade. A edificação estará implantada numa “caixa” subterrânea cortada e deverá expor a matéria do subsolo - o basalto –, assim como as fundações do antigo teatro. Portanto os fechamentos laterais serão a própria rocha. Na superfície, haverá uma laje retrátil [acionada por um mecanismo de pistões que, quando aberta, se recolhe para o interior do subsolo horizontalmente, parcial ou totalmente], criando, assim, um novo solo na superfície, que proporcionará um novo uso, como grandes eventos e aglomerações populares. O sistema estrutural será composto por pilares, vigas metálicas e cabos de aço; o revesti¬mento de piso também será de metal; os condutos hidráulicos e elétricos ficarão aparentes, vedados apenas por um metal treliçado; as passarelas em balanço serão de laje de concreto; o guarda-corpo será em vidro estruturado em ferro; o gás, necessário para a área de alimentação, será encanado. Os vários níveis serão atravessados por elevador - uma plataforma que se move verticalmente, com mecanismo de pistão, sem caixa, somente com guarda-corpo, com capacidade para transportar um grande número de pessoas simultaneamente. Na superfície, contornando a “caixa” da edificação, haverá grelhas por onde escorrerão as águas das chuvas, que serão captadas no subsolo e conduzidas por condutos para a rede da rua. A caixa d’água será subterrânea.

Elevador de pistão hidráulico

S-1

Building Section

1:167,11

Casa em Bordéus do arquiteto Rem Koolhaas

94 projeto


Plataforma elevatória entre as plataformas permite o acesso simultâneo aos dois lados da edificação.

Plataforma elevatória

projeto 95


A qualidade espacial O local apresenta restrições naturais, como o solo de rocha – apesar das recentes técnicas de extração, tentamos retirar o menos possível de rocha – e o nível do lençol freático, que não permite que a edificação seja tão profunda. Contudo procuramos oferecer qualidade espacial. O basalto, em duas de suas laterais, possui cortes diagonais a partir do primeiro subsolo em direção ao centro. Isso cria espacialidades diferentes para quem está na edificação, ora mais próximo da rocha, ora mais distante. A laje inclinada que ultrapassa o nível da superfície cria uma variação de pé direito e permite, além de uma espacialidade agradável, a entrada de luz e de ventilação no interior da edificação pelas laterais. Os vãos existentes entre as rampas e as passarelas e entre as paredes de pedra e a edificação também proporcionam a entrada de luz e de ventilação laterais. No projeto as passarelas estão com cobertura (piso da praça), mas observamos que essas coberturas não precisam ser fixas. Com o fechamento retrátil, quando abertas haverá maior incidência luz e melhor ventilação.

A imagem acima mostra a passarela com cobertura (piso do térreo). Ao lado a passarela retrátil, quando aberta, proporciona maior qualidade ambiental: mais ventilação e maior luminosidade..

96

projeto


40

220

45 45 45 45

300

255

300

255 255 105

100

340

295

45 45 40 220 45 45

300

255

255

300

255

255

105

Incidencia da luz solar

Incidencia dos ventos

projeto 97


galeria

98 projeto

o palco no nível mais baixo

telão suspenso por cabos de aço, presos nos elementos de apoio

arquibancada


Elementos (pérgulas metálicas) que deslizam horizontalmente entre as vigas dos dois blocos podem ser utilizados como suporte – anexar refletores para o anfiteatro, painéis de exposições de artes visuais, telões, instalações artísticas tridimensionais – e criam (com os próprios elementos) diferentes atmosferas. Quando recolhidos, permitem a entrada de sol e de luz; quando expostos, o sombreamento e a penumbra.

painéis suspenso por cabos de aço, presos nos elementos de apoio, expõem artes visuais, informativos, etc.

projeto 99


Suportes metálicos utilizados como intervenção artística e como pérgulas promovem sombreamento.

100 projeto


No centro da edificação um palco (anfiteatro) representa o teatro Carlos Gomes que foi demolido. Uma plataforma retrátil de madeira é subdividida em seis partes que são acionadas por pistões hidráulicos. Essas partes quando levantadas podem atingir até o nível da arquibancada permitindo diversas configurações. Quando abaixadas, estão no nível do solo e servem de coxia (apoio) ou platéia.

O anfiteatro pode ser utilizado para shows, artes cênicas, dança, orquestras, yoga. A coxia pode também dar lugar à platéia.

projeto 101


Anfiteatro

O público na arquibancada assiste ao espetáculo.

102 projeto


Implantação Plantas Cortes

projeto 103


implantação

104

projeto


5

6

4

3

2

1

1. Praça Carlos Gomes 2. Praça XV de Novembro 3. Edifício Meira Júnior 4. Theatro Pedro II 5. Instituto Palace 6. Marp

projeto 105


implantação

Sob as árvores, alocamos os bancos que deslizam sobre trilhos, proporcionando diversas configurações.

107 projeto

Uma plataforma elevatória e uma escada de segurança estão situados fora do “caixa” da edificação. Com acesso pela praça, vai da superfície ao último subsolo e se junta às passarelas e rampas para acessar a edificação interna. O acesso por esse elevador ao último subsolo (nível -3) é restrito a serviço e a apoio.


D

E

-2,00

-2,00

D -1,00 2,00

A

1

A

S

B

B -1,00

C

C

-1,00

0,00

0,00

Cotas em centĂ­metro NĂ­veis em metro

1. Laje inclinada/mirante

D

E

projeto 108


térreo -2,00

-2,00

5 1

D

-1,00

3

1. Praça 2. Laje de cobertura/passagem 3. Laje inclinada/mirante 4. Rampa de acesso 5. Acesso escada/plataforma elevatória 6. Plataforma elevatória

S

6 2

-1,00

4

LEGE

1 PR

-1,00

2 LA

3 LA

4 RA

AC EL 6 PL 5

0,00

0,00

D

E 415

5

1

-1,00

4

4

B

2 -1,00

C

A

1000

S

650

3

A

1000

1. Praça 2. Laje de cobertura/passagem 3. Laje inclinada/mirante 4. Laje de cobertura retrátil 5. Acesso escada/plataforma elevatória

3250

D

B

LEGEN

1 PR C

2 LA

4

4

2820

2820 5640

-1,00

D

110 projeto

E

600

3 LA

4 PA RE 5 AC EL


D

E 415

5

1

-1,00

3

A

2

-1,00

B C

50 500 50

C

1000

3250

B

A

650

6

S

1000

D

4 5640

-1,00

Cotas em centímetro Níveis em metro

D

E

1. Praça 2. Laje de cobertura/passagem 3. Laje inclinada/mirante 4. Rampa de acesso 5. Acesso escada/plataforma elevatória 6. Plataforma elevatória

projeto 111


subsolo 1Perspectiva do primeiro subsolo

Dentro da edificação ainda podemos ver a superfície da praça, a vegetação, os edifícios do entorno e as pessoas que passam por ela. Messmo dentro, ainda temos contato com a luz natural e com as alterações do clima.

Detalhe dos sanitários do primeiro subsolo

SANITÁRIO FEMININO -4,00

245

D

90

415

240

E

240

245

4

620

113 projeto

150

-4,00

1

3 2

5 2

5 F

F

1

-4,00

3

-4,00

C

2

3 2

-4,00

B

1

250

3

DETALHE SANITÁRIOS SUBSOLO 01

Panta com layout

1. Área de alimentação 2. Descanso/Leitura/ Banca de revistas 3. Convivência

SANIT. PCD MASCULINO -4,00

SANITÁRIO MASCULINO -4,00

D

A

SANIT. PCD FEMININO -4,00

LAVATÓRIOS

Cotas em centímetro Níveis em metro

150

620

S


D

E

415

4 D

1

50

1

650 3750

-4,00

-4,00

5

-4,00

A

B C

3 600

5640

S

500

50

C

2

-4,00

5

B

1000

2

1000

A

500

3

500

6740

Cotas em centímetro Níveis em metro

D

E

1. Passarela de ligação 2. Plataforma permanência/circulação 3. Rampa de acesso 4. Hall escada de acesso/plataforma elevatória 5. Sanitários

projeto 114


subsolo 2 Detalhe dos sanitários do segundo subsolo

150

Perspectiva do segundo subsolo

150

Cotas em centímetro Níveis em metro

PCD

250

DEPÓSITO

275 535

E

D

215

90

780

LAVATÓRIOS

SANITÁRIO FEMININO -7,00

215

500

415

SANITÁRIO MASCULINO -7,00

535

-7,00 Ao fundo, a biblioteca fica numa área mais silenciosa. Detalhe também para a galeria e arquibncada suspensa.

275

PCD

150

3

150

4

250

DEPÓSITO

250

D

DETALHE SANITÁRIOS SUBSOLO 02

500

3

S

4 1

23

1000

50

1 Panta com layout

6

-7,00 2

650 3750

1 7

2

3 2 1

-7,00

1

116 projeto

3

S

500

50

1

1000

5

1. Biblioteca/jogos 2. Galeria 3. Bar/Café 4. Convivência


E

D 415

500

-7,00

4

3 D 500

3

S

-7,00

5

B

650 3750

6

1 7

B

L

-7,00

C

50

C

2

3 2 1

A

1 1000

2

A

1000

50

1

4320

500

3

500

S

3

2

4

820

5

5640

6

7 Cotas em centímetro Níveis em metro

D

E

1. Passarela de ligação 2. Plataforma permanência/circulação 3. Rampa de acesso 4. Hall escada de acesso/plataforma elevatória 5. Plataforma elevatória 6. Sanitários 7. Arquibancada

projeto 117


245

subsolo 3

105 255

Ao lado o palco, plataformas elevatórias permitem diferentes configurações.

255

255

255

40

255

45 45 45 45 220

Detalhe do palco

Ao lado podemos observar a estrutura com pistões hidrálicos para o funcionamento retrátil da rampa inclinada.

119 projeto


D

E

415

-10,00

3

5

S

2

6

-10,20

S

A

-10,20

680

B

6

-8,80 -10,60

4

C 1000

1000

500

Cotas em centímetro Níveis em metro

D

2000

1

650

670

A

B C

1000

3000

E

1. Palco placa móveis 2. Rampa de acesso 3. Hall escada de acesso/plataforma elevatória 4. Plataforma elevatória 5. Apoio/serviços 6. Laje basalto

projeto 120


corte AA

Envolvida pela caixa de basalto a edificação “flutua”.

122 projeto


300 340

255 255 295

245 40 60 160

300

105

300 300 300 300

Cotas em centĂ­metro NĂ­veis em metro

projeto 123


corte BB

Passarela de acesso horizontal entre as plataformas.

125 projeto

A localizados dos sanitårios no centro da plataforma permite a circulação nas suas laterais.


Cotas em centĂ­metro NĂ­veis em metro

projeto 126

255 300

340

300

295

4060 160

40105

340

300

255

300

105

300


corte CC

O espaço Ê definido por plataformas e rampas, numa geometria retangular. As plataformas são piso e cobertura simultaneamente

128 projeto


105 300 300 340

255 255 295

40

45 45 220 45 45

245

Cotas em centĂ­metro NĂ­veis em metro

projeto 129


corte DD

Uma plataforma “dobrada” torna-se arquibancada. Ao fundo observamos uma passarela que interliga as plataformas. Presa à rocha por vigas no nível do primeiro subsolo, a edificação parece flutuar. Cabos de aço estruturam o terceiro subsolo

131 projeto


Cotas em centĂ­metro NĂ­veis em metro

projeto 132

100

340

295

45 45 40 220 45 45

300

255

255

300

255

255

105


corte EE

A rampa de acesso é a opção para um contato, de forma lenta e progressiva, com o subterrâneo. Dessa forma, pode-se observar gradativamente as alterações de luminosidade, de som e de temperatura do interior da edificação.

134 projeto

O elevador localizado no centro da edificação é a opção de acesso mais direta e rápida para o interior. É um elemento vertical que oferece um contraponto à geometria horizontal da edificação.


Cotas em centĂ­metro NĂ­veis em metro

projeto 135

40

220

300

300

255 255

45 45 45 45

280

280

280

300

300

300

255

105

105



compreensão Conclusão Bibliografia

O sentimento da cidade, a comunhão dos seus homens, nos ajuda a desprezar tudo o que separa e divide os humanos; a cidade é nosso exercício e nossa compreensão do mundo. Rubem Braga


conclusãopúblico

139 conclusão


Iniciei meu curso de arquitetura e urbanismo com um exercício de reconhecimento do centro da cidade – nas praças XV de Novembro e Carlos Gomes e no seu entorno imediato. O monumental Theatro Pedro II, os palacetes conservados e os degradados, as ruínas e a ausência compõem com a modernidade do edifício Diederichsen. As sombras das grandiosas árvores são tão antigas quanto a própria praça; as raízes expostas, transparecendo sua idade, e as texturas de seus troncos com as suas ranhuras são como a pele do idoso. Assim como os machucados, as fendas nos troncos guardam o lixo e demonstram o descaso, mas as pessoas me atraem mais. Os homens velhos que ainda têm saúde para o convívio com os amigos no banco da praça: ler um jornal e ainda estar atento à câmera fotográfica curiosa, ao jogo de dominó. Um homem dorme no banco da praça com a liberdade de quem está em sua própria casa; as crianças caminham com seus pais pelo comércio ao lado, muito ativo. A reforma do edifício demonstra o dinamismo do lugar. Entretanto uma imagem me impressiona: um homem sentado dá as costas para a praça, não quer participar do que acontece à sua volta, preferindo estar só. Retorno, agora, ao mesmo lugar, para a pesquisa do meu Trabalho Final de Graduação – estudar as características e os anseios da sociedade contemporânea e propor, por meio de um projeto arquitetônico, a qualificação do espaço subutilizado da praça Carlos Gomes. E o que é qualificar um lugar? Foram necessárias muitas idas ao local e leituras sobre lugares e não lugares, além dos “sinais” dados pelo meu orientador, para compreender o que seria materializar a qualidade desse lugar. Eu sabia o que queria: promover a inclusão e proporcionar a permanência num lugar marcado pela história da cidade, patrimônio cultural que, como em todas as demais cidades contemporâneas do mesmo porte, tem experimentado o processo de esvaziamento promovido pelo movimento da população do centro em direção aos

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novos bairros incorporados pelo mercado imobiliário, que seduz com opções contemporâneas de moradia e de lazer, condomínios fechados e shoppings centers. Com isso, a praça XV e seu entorno, que já ocuparam o lugar principal na vida da cidade, disputado pela elite econômica e social, dão, agora, espaço a um público popular. A praça, apesar de muito viva durante o dia – o lugar acolhe pessoas que buscam um comércio forte e tradicional –, fica deserta durante a noite. Exceção feita aos dias de espetáculos no Theatro Pedro II, quando o lugar recebe novamente a elite da cidade. Falo, neste trabalho, sobre a fuga do indivíduo contemporâneo para não estabelecer relações duradouras e perenes, assim como para não se relacionar com estranhos – coisas simples, como trocar olhares e se cumprimentarem – e pela atração pelo efêmero, a busca incessante pelo novo e a impaciência com ritmos lentos. Falo também sobre fluxo e permanência. A praça Carlos Gomes, mais utilizada como passagem, não acolhe. Constitui-se um vazio onde tudo acontece no seu entorno. O seu entorno, esse sim, tem muita vida: as quatro bancas de revistas se voltam para o entorno, os pontos de ônibus oferecem muitas opções de destino, pontos de táxi e de mototáxi, lanchonetes, lotéricas para tentar a sorte ou para pagar as contas, os supermercados, que entregam em casa, o calçadão, algodão doce, cocada, sorvete, e as Casas Bahia. O que aqui proponho é expandir essa vida para o interior da praça e somarem-se a isso opções de descanso, convívio e cultura. Este projeto foi elaborado pensando na vocação desse lugar (aspécto fundamental na arquitetura) e no que faria as pessoas se voltarem para o interior dessa praça e ali permanecerem num convívio mútuo; no que as faria se voltarem à origem cultural do antigo teatro que não existe mais, ou do seu entorno, o Theatro Pedro II, o Centro Cultural Palace ou o MARP, lugares onde essas pessoas que circulam por ali não adentram. Não seria redundante, mesmo que o Sesc, ali próximo, consiga, com uma programação diversificada, acolher muita gente. Novamente, é necessário voltar-se para as pessoas; pensar no que fazem, no que procuram, do que precisam, do que gostam. Dessa busca, sugiram, então, as atividades motivadoras, que subdividi em três grupos: o primeiro compreende aquelas relacionadas a alimentar e a higienizar; descansar, conviver, contemplar e interagir são as atividades concentradas no segundo grupo; e, no terceiro, estão voltadas a sensibilizar, a aprender, a informar, a reconhecer e a refletir. Da análise crítica das necessidades, surgiu o projeto: um lugar para acolher o corpo e a “alma”. Descansar, se abrigar do sol quente, tirar um cochilo no meio do dia, ler o jornal, usar a rede (internet), jogar com os amigos, relaxar, assistir a uma peça de teatro ou a um show, estudar numa mesa onde se possam esparramar os livros, fazer um lanche; uma balada à noite; ver as instalações de artes visuais pelo caminho, tomar contato com a história do lugar, observando as fundações remanescentes do antigo teatro, expostas na rocha ou por meio do acervo fotográfico e das plantas do projeto arquitetônico, e degustar, por meio de um telão, as músicas que foram ou serão tocadas pela orquestra no interior do Theatro Pedro II; e as obras do MARP que poderão estar expostas nos painéis pendurados no vão do edifício. Assim, o museu e o teatro saem dos seus interiores fechados e restritos, para o ambiente exterior, para um novo público, que, quem sabe, não passará a frequentá-los. Assim, defini o que queria para o lugar. Partindo de um trabalho de prospecção e topografia da memória, o novo objeto se remete às diferentes ocupações que ocorreram no local e projeta o presente. O objeto não deve sobrepor-se ao patrimônio existente, então, decidimos por ser subterrâneo. Mas não quero um edifício fechado, que crie barreiras a seu acesso, quero permeabilidade1, por isso o edifício não possui fechamentos, é uma extensão da praça. Seu fechamento é a própria rocha, materialidade do solo que permanecerá aparente, para que todos possam ver. O fluxo – caminho, circulação, passagem – possui ritmo e interliga “pontos focais”. Se utilizamos um elevador, nosso trajeto para chegarmos a um determinado ponto é direto e rápido. Entretanto podemos chegar ao nosso destino escolhendo as rampas que passam por diferentes lugares. Assim, enquanto circulamos, podemos observar e sentir, de maneira mais completa, o lugar; vivemos o que acontece ao redor e somos “convidados” a participar e a interagir. É o que se chama de inclusão2. No projeto, ao adentrar a edificação, continua-se no fluxo, que se relaciona com os espaços destinados à permanência. No seu interior, o espaço ganha qualidades diversas que permitem experiências sensoriais: penumbras e luminosidades proporcionam ambientações diferentes; a temperatura muda, tornando-se mais fria conforme se aprofunda em direção ao interior da rocha; da mesma forma, o som vai modificando sua intensidade ao nos distanciarmos do ambiente exterior. Essa diversidade ambiental proporciona a permanência3, enquanto as atividades desenvolvidas proporcionam a integração4. 1 Aqui, permeabilidade é a condição física, material e espacial que permite a sua integração com o meio e com as pessoas. 2 A expressão “arquitetura inclusiva” é, geralmente, aplicada para se referir à acessibilidade. Entretanto a referência ao termo é no sentido sociológico: a configuração formal, espacial e estética de um lugar desperta o desejo e o prazer dos indivíduos de fazer parte dele. 3 Assim como a diversidade espacial, o aconchego e o conforto são essenciais na qualidade de um lugar e proporcionam a vontade de se continuar nele. 4

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A arquitetura integra quando promove a relação do indivíduo com o espaço e com a sociedade que dele participa.


A configuração espacial acolhe um programa flexível e mutante. Asseme¬lh¬a-se ao que já existe na superfície da praça nas bancas, na livraria e nos carrinhos de lanche que encontramos pelas praças da cidade, com fechamentos que dobram sobre si mesmos, como uma caixa de embalagem. Condutores de energia, gás, água e esgoto ficam dispostos, estrategicamente, ao longo do pavilhão. Na organização do programa, o primeiro pavimento privilegia os que querem um contato rápido: alimentação, sanitários, bancas de revistas, entre outros serviços, permitindo aos demais pavimentos ambientes mais silenciosos para os que desejam descanso ou concentração. Com isso, o projeto de intervenção, simples na sua forma, prospectando as camadas, revela-se, aos poucos, nos detalhes, dá significado, enriquece e qualifica a vida sociocultural desse lugar.

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referências


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