O REPÓRTER Florianópolis, 11 de junho de 2014 - Edição 1 Ano 1
O REPÓRTER Curso de Jornalismo da UFSC. Atividade da disciplina Edição. Professor: Ricardo Barreto. Edição, textos, planejamento e editoração eletrônica: Beatriz Fonseca Santini. Serviços editoriais: As duas vidas de Vlado Herzog, Folha de São Paulo, Portal dos Jornalistas. Impressão: Postmix. Junho de 2014.
“Fiz café. Avisei às crianças que não tinha pão. Que tomassem café simples e comessem carne com farinha” Carolina Maria de Jesus
Audálio e Carolina Maria de Jesus na Favela do Canindé em Sâo Paulo
Audálio Dantas conta sobre as experiências e os bastidores das melhores matérias que fez na sua carreira
U
m jornalismo de pesquisa, olho no olho, emoção e personagens reais. Esse é o jornalismo encontrado em Tempo de reportagem: Histórias que marcaram época no jornalismo brasileiro. O livro reúne 13 incríveis reportagens de Audálio Dantas, acompanhadas do relato do próprio autor, que comenta desde a concepção da pauta, passando pelo processo de apuração, até a diagramação da matéria. Além de ser mais do que 13 aulas de jornalismo, o livro agrada também os que não fazem parte do mundo da comunicação, mas gostam de ouvir boas e bem contadas histórias. São 13 aventuras com perso-
nagens encontrados pelo Brasil, Canadá e Chile, que prendem o fôlego, e fazem o leitor querer seguir cada vez mais rápido para as próximas páginas. A qualidade da escrita é um grande diferencial. Audálio fazia uso de intertextualidades, como na reportagem O circo do desespero, que ele compara a trajetória dos dançarinos de um concurso de dança com a via sacra de Jesus Cristo. Fazia uso também de diferentes narradores. Quem melhor do que o próprio caranguejo para contar sobre a caça da espécie no mangue de João Pessoa? Sim, Audálio deu voz até aos bichos. O livro já começa com a reportagem de maior repercussão da carreira do jornalista. Audálio revela como encontrou Carolina Maria de Jesus, moradora de uma favela em SP, que escrevia, sem ter avançado seus dias na escola, sobre a vida no lugar nos anos 50. O repórter havia proposto a pauta na redação das Folhas, e foi muito bem recebida pelo diretor Hideo Onega. A ideia era
no nordeste do país. passar o tempo que fosse preciso na Em meio há tantas reportagens favela do Canindé, para captar o que acontecia por lá. Audálio voltou para marcantes não está no livro a que garantiu o primeiro prêmio da a redação três dias depois, com os textos de Carolina em mãos, dizendo carreira de Audálio, um prêmio interno da Editora Abril. Foi nela que tinha a matéria pronta. E a que, assim como os grandes jornalmatéria era justamente os textos esistas Gay Talese, na não-entrevista critos por ela. Mais tarde, os diários de Carolina viraram o primeiro livro com Elvis Presley, e Joel Silveira, na com Getúlio Vargas, um Dantas de uma favelada no Brasil. ainda foca fez uma não- entrevista A reportagem mais emocionate é com Guimarães Rosa na ocasião do a já citada O circo do desespero. Inclusive Audálio conta nos bastidores lançamento do livro Grande sertão: Veredas. dessa matéria, que quando entregou Ao terminar de ler Tempo de reo texto na redação fez Odylo Costa, portagem, o leitor fica com diretor da revista O crua sensação de que não se zeiro, e famoso por ser faz mais jornalismo como durão, chorar. E essa é a antigamente. E realmente reação de qualquer um não se faz. que, 51 anos depois, lê Nos relatos do autor fica o sofrimento e humilnítido como o ritmo de hação de dançarinos trabalho era outro, as que esgotavam suas condições, e até os salários. forças físicas em um A sensação de melancolia concurso de carnaval Lançado em 2012 invade o coração dos amanpor 30 mil cruzeiros, o tes de uma boa reportagem. que hoje seria cerca de 10 reais. Não E a melancolia é ainda mais forte se chora só pela desumana história para os jornalistas ou estudantes contada. Chora-se também pela de jornalismo. A certeza de que, escolha de palavras, pelos detalhes e comparado àquilo, você realmente sensibilidade com que foi escrita. não sabe escrever nada. Mas vem Destaco também Joaquim também a vontade de pegar uma salário-mínimo, que conta sobre um trabalhador que sustenta sua família mochila e sair pelo Brasil, sujando os sapatos, como diria Gay Talese, e com um salário mínimo. Matéria escrevendo todas as histórias, vidas, que podia ser apenas mais uma tristezas e alegrias encontradas no mostrando a inviabilidade de sobreviver com a quantia num caderno de caminho. Que a vontade de contar boas economia, evolui para outro patamar com os relatos do cotidiano colhidos histórias prevaleça, porque Tempo de reportagem tem o poder de inpor Audálio. E Doença de menino, spirar os aspirantes à repórter nesse onde o autor teve um trabalho caminho. Mas infelizmente é preciso notadamente exaustivo de reportadizer aos novatos, Audálio Dantas, gem e conseguiu várias histórias de famílias que perderam os seus bebês esse, realmente será um só. Gabriel Calou - Editora Leya
Divulgação - Acervo IMS
Histórias sentidas direto na pele
Crueldade vista no cinema e vida real Philip H. Lathrop - Cinerama
acabam surgindo. No Brasil, além do relatado Os concursos de resitência de dança, como por Audálio Dantas, logo depois do confisco do o de carnaval que chocou e inspirou Audálio Plano Collor, houve várias dessas competições, Dantas para a reportagem O circo do despero, principalmente em São Paulo. Uma delas ocorjá aconteciam também nos EUA pós-guerra e reu dentro de um shopping. As pessoas que inspiraram o diretor Sydney Pollack a montar passassem mais tempo dentro de um carro poo roteiro de Horace McCoy. O filme They shoot deriam levá-lo para casa. O desafio durou meses. horses, don’t they?, na versão brasileira A noite Enquanto os participantes viviam no carro, os dos desesperados, lançado em 1969, se passa no freqüentadores do shopping iam lá vê-los. A cenário da Grande Depressão dos anos 30 no humilhação e sofrimento dos participantes se país, e conta a história de participanetes que tornou mais uma atração entre as vitrines. veem no concurso de dança uma esperança de Mais recentemente, em 2008, Paulo de conseguir comida, roupa ou dinheiro. Entre eles Oliveira, de Ji-Paraná, Rondônia faleceu durante Gloria, interpretada por Jane Fonda. um concurso desse tipo. Ele ficou sabendo que Rocky, interpretado por Gig Young, é o mestre uma revendedora de motos da cidade estava de cerimônia que consegue ser cruel e humano Jane Fonda e Michael Sarrazin em cena do filme realizando uma promoção: Quem ficasse mais ao mesmo tempo. O filme rendeu à ele o oscar tempo em cima de uma moto Pop 100 iria ganhá-la. O concurso começou de melhor ator coadjuvante em 1970. A noite dos desesperados também foi numa quinta-feira de noite com 20 participantes, entre eles, Paulo de indiciado ao oscar nas categorias de melhor atriz (Jane Fonda), melhor atriz Oliveira. Durante o dia seguinte muitas pessoas foram desistindo de desafio, coadjuvante (Susannah York), melhor direção de arte, melhor figurino, mele na noite de sexta só restavam seis concorrentes. Mas Paulo de Oliveira teve hor diretor, melhor edição, melhor trilha sonora e melhor roteiro adaptado. um enfarte, não resistiu e faleceu. Ele deixou a mulher e três fi lhos ao levar o O roteiro, que mesmo no ano do seu lançamento já se tratava de algo mais seu corpo ao limite por uma moto de 4 mil reais. antigo, não deixou de ser atual. Em tempos de crise esses concursos sempre
Audálio Dantas ganha Prêmio Jabuti de 2013 Não só de grandes reportagens para revistas e jornais viveu o grande repórter. Audálio Dantas também coleciona prêmios com seus livros. O mais recente, o “Livro do Ano” do Prêmio Jabuti do ano passado, foi em reconhecimento ao trabalho de um ano e meio de escrita no livro As duas guerras de Vlado Herzog. Audálio Dantas chegou a ficar em dúvida se realmente deveria escrever esse livro, pois na época não havia anotado nada. E para ele, não existe reportagem sem anotações do jornalista. No entanto, ao começar a escrever, ele percebeu que sua memória estava melhor do que imaginava. O livro conta a vida do jornalista Vladimir Herzog, assassinado no período militar, desde a sua infância na Iugoslávia até a militância no partido comunista no Brasil. Pela publicação, Audálio também foi ganhador do prêmio Juca Pato e o Prêmio Brasília de Literatura. O gosto do autor por biografias também o levou a escrever o livro O menino Lula, após uma longa conversa com o ex-presidente. Boa parte da história do seu protagonista Audálio já conhecia. Afinal participaram das mesmas lutas sindicais e políticas contra a ditadura militar, nos anos de 1970 e 1980, e compartilham a experiência de terem migrado, ainda meninos, do sertão nordestino. Audálio Dantas também co-escreveu dois livros em parceria com o fotógrafo Tiago Santana. O primeiro deles, O Chão de Graciliano, ganhou o Prêmio APCA e o Prêmio Conrado Wessel em 2007. O livro de arte-reportagem conta o passado e o presente da região de nascimento e criação literária de Graciliano Ramos. Passado e presente que muitas vezes se confundem, pois as condições do homem que nela vive permanecem praticamente as mesmas. O segundo, lançado ano passado, Céu de Luiz, conta a história de Luiz Gonzaga através da memória do povo do sertão. Audálio Dantas fez questão de ir à região onde viveu o sanfonista e conversou com a população do local para escrever a sua reportagem baseando-se no que o povo lhe falou.
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O REPÓRTER
O REPÓRTER Curso de Jornalismo da UFSC. Atividade da disciplina Edição. Professor: Ricardo Barreto. Edição, textos, planejamento e editoração eletrônica: Beatriz Fonseca Santini. Serviços editoriais: As duas vidas de Vlado Herzog, Folha de São
Florianópolis, 11 de junho de 2014 - Edição 1 Ano 1
Paulo, Portal dos Jornalistas. Impressão: Postmix. Junho de 2014.
11 de junho de 2014 - Edição 1 Ano 1 “A mãe botava os olhos de sua piedade sobre o seu Florianópolis, filho morto e sobre o filho vivo. A mãe chorava pelo dois” Audálio Dantas
Vlado foi assassinado com 38 anos O jornalista Vladimir Herzog foi encontrado morto nas dependências do 2ª Exército, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975. No dia seguinte, o Regime divulgou uma nota oficial afirmando que Vlado tinha cometido suicídio na cela em que estava preso. Agentes do II Exército haviam convocado Vladimir para prestar depoimento sobre as ligações que ele mantinha com o Partido Comunista Brasileiro. Herzog compareceu ao DOI-CODI, onde ficou preso com mais dois jornalistas, e depois disso não foi mais visto com vida. A versão oficial da morte divulgada pelos militares não foi aceita pelo Sindicato dos Jornalistas, presidido por Audálio Dantas. Eles denunciaram a morte como assassinato e organizaram uma celebração ecumênica para o seu sepultamento. Vlado era judeu. Na sua religião, quem comete suicídio é enterrado fora do cemitério, mas após ver o corpo, o Rabino Sobel fez questão de fazer o sepultamento dentro do Cemitério Israelita do Butantã, desmentindo publicamente a versão
oficial dos generais. No dia do sepultamento de Vlado, cerca de oito mil brasileiros se reuniram para acompanhar a cerimônia na Igreja da Sé, no Centro de São Paulo. Oito mil cidadãos que sabiam que ele havia sido assassinado pelos militares e que já estavam fartos de se calar diante da ditadura. O acontecimento foi tão marcante que Rabino Sobel declarou que “O assassinato de Herzog foi o catalisador da volta da democracia”. Três anos depois, no dia 27 de outubro de 1978, a União foi responsabilizada pelas torturas e pela morte do jornalista. Foi o primeiro processo vitorioso movido por familiares de uma vítima do regime militar contra o Estado. E somente 37 anos depois da sua morte, em 2012, através de um pedido encaminhado pela Comissão Nacional da Verdade, o Tribunal de Justiça de São Paulo retificou o atestado de óbito do jornalista, para constar que sua morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos no II Exército de SP. Vlado Herzog nasceu na Iugoslávia, e tornou-se Vladimir quando veio para o Brasil com a família para fugir do antissemitismo pregado pela Alemanha nazista. Formado em filosofia pela USP, Vlado preferiu o caminho do jornalismo. Trabalhou no O Estado de Sâo Paulo, na BBC de Londres e foi diretor de telejornalismo da TV Cultura de São Paulo.
Realidade inaugura tendência Oito das reportagens selecionadas para Tempo de reportagem foram originalmente publicadas na revista Realidade. Lançada pela Editora Abril em 1966, a revista logo se diferenciou graficamente da que tinha uma intenção semelhante, mas já falida, O Cruzeiro, que Millôr Fernandes classificou como “impressa em cocô”. A Realidade chegou nas bancas com todo o design das revistas européias. Mensal, a publicação tinha o compromisso de apresentar grandes reportagens sem perder a atualidade. Foi nos seus primeiros anos transgressora, contestadora, libertária, e fez com que a informação se tornasse categoria de análise do cotidiano. Capas como a do parto humano em ovo, a que comparava uma Miss à boneca Barbie, e a do Pelé em estilo londrino, marcaram uma geração e ajudaram a mostrar o universo simbólico da classe média conservadora da época. O texto, inusitado, muito literário, escrito em primeira pessoa, era reflexo do New jounalism (Novo jornalismo) de Gay Talese e Tom Wolfe, tendência que surgia nos Estados Unidos naquele momento. A revista investia em bons jornalistas e dava tempo, as vezes até meses, para eles realmente vivenciarem as histórias que seriam contadas nas páginas. No seu auge chegou a ter 500 mil exemplares vendidos em banca. Com o Ai-5 de 1968, a revista passou a ter censura prévia e deixou de ser a mesma. Algumas de suas edições foram até retiradas das bancas. O estilo de texto e reportagem permaneceu, mas o tom de denúncia já não era como antes. Aos poucos, Realidade perdeu o seu brilho inicial e virou apenas mais uma revista de informação. A Realidade durou apenas dez anos, mas marcou a história do jornalismo tornando-se símbolo de grandes reportagens e jornalismo literário do Brasil.
Audálio Dantas não acredita que a ditadura terminou de verdade Para ele ainda não vencemos os resquícios deixados pelo período
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onhecido pela luta sindical como presidente do Sindicato dos Jornalistas de SP na época mais severa da repressão, e mais tarde da Federação Nacional dos Jornalistas, o alagoano de Tanque D’Arca, Audálio Dantas foi um dos maiores repórteres do último século. Começou sua carreira na Folha da Manhã, e trabalhou na O Cruzeiro, Realidade, Quatro Rodas e VejaSP. Em 1981 recebeu o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da ONU pela sua série de reportagens sobre a vida no nordeste brasileiro. Hoje, aos 81 anos de idade, com fala doce e bom humor, ainda tem pique para escrever novos livros-reportagem e peitar a ditadura que acredita não ter acabado. Que critério você usou para escolher as 13 reportagens de Tempo de Reportagem? Eu quis dar um sentido de coerência entre elas, tentando reunir as que tinham um fundo social. Qual delas é a sua preferida? Pela subversão dos cânones, e pelo trabalho de texto eu tenho um carinho especial por Povo Caranguejo. O tema já era muito explorado, aí decidi ter outro olhar que escapava das recomendações do jornalismo tradicional. Aquela coisa das perguntas do lide, tudo está ali, mas contado de outro jeito.
veio num contexto de repressão E a ditadura no Brasil, acabou de política que culminou com o assasverdade? sinato dele. O fato é que antes do Não, não acabou não. Identidades Vlado morreram centenas de outras estão sendo aos poucos revelados pessoas, e dentre elas esses 21 jorna- pela Comissão Nacional da Verdade. listas. Uma denúncia forte como foi Mas muitos desses ainda estão denfeita nunca tinha havitro do governo, “O assassinato do do. Aquele momento quase 30 anos foi a gota d’água, daí depois. Setores Herzog foi a gota transbordou e mudou o d’água. Transbordou predominantes rumo do regime militar. das Forças Armadas continuam se e mudou o rumo Mas você não teve medo negando a revelar do regime militar” de também ser morto? documentos relaMedo sim. Esse medo vinha de lontivos ao período da ditadura. Ainda ga data. Eu tomei posse da presidên- não conseguimos vencer os resquícia do sindicato em maio, e em julho cios da ditadura militar. eu estava sendo convocado ao quartel do II Exército, porque o sindicato Você é conhecido por ser defensor do tinha como objetivo na diretoria jornalismo literário. Você acredita denunciar a censura e a violência. que possa estar aí a saída para os jornais impressos? Acho que é uma das únicas saídas. Mas não só isso. É a grande reportagem, texto de profundidade e analítico, que resulta de apuração bem cuidada e atenta. As novas tecnologias permitem a informação instantânea, mas impedem que aprofundem-se as questões. Acho que esse é o caminho, e os que não entederem isso irão desaparecer. André Guimarães - Infiltrados
Acervo - IVH
37 anos de injustiça com Herzog
Audálio já foi premiado pela ONU
Essa pressão era diária na minha vida, as ameaças que eram feitas, as evidências de que eu estava na mira. Mas acontece que há um momento que você percebe: ou você foge, e naquela circustância não havia pra onde fugir, ou você enfrenta. E então você tem que vencer o medo. É vencer ou vencer.
A história da favelada “Carolina Maria de Jesus” virou livro de repercussão internacional. Como foi seu primeiro contato com o diário? Como você avalia a importância da Eu não imaginei que chegasse tão participação do Henry Sobel na populonge, mas imediatamente, desde a larização do acontecimento? leitura das primeiras páginas do diá- O papel do Rabino foi fundamental. rio, eu tive a consciência de que esta- Ele enfrentou resistências poderosas va diante de algo muito importante, dentro da comunidade judaica ao que tocou a minha sensibilidade. participar do culto contrariando Não por se tratar de uma negra poas determinações da cúpula da bre, mas pelo que ela contava. O que congregação israelista paulista. Ele veio depois, e me faz acreditar que não aceitou a versão do regime do essa é a reportagem mais importante suicídio, que foi aceita pela maioria da minha carreira, foi a repercussão por covardia ou acomodação. Foi nas revistas mais importantes do relevante por que constitui como um mundo, como a fator de denúncia à Time e a Life. versão dos militares. “Há um momento
que você percebe, ou
Você escreveu reO Rabino Sobel já centemente o livro você foge, ou você declarou que “O assasAs duas guerras de sinato de Herzog foi o enfrenta. Você tem Vlado Herzog. Socatalisador da volta da que vencer o medo” democracia”. Você conbre a sua ação no caso, o corda com ele? que fez vocês do sindicato Não só concordo como tenho plena decidirem denunciar esse asconsciência. A denúncia detonou sassinato e não das vinte e uma um processo de organização da mortes de jornalistas anteriores? sociedade que culminou com um Eu escrevi o livro justamente para movimento inédito na história do mostrar que não foi um aconteciBrasil: a campanhas para as eleições mento por acaso. O caso do Herzog diretas.
Esse gênero era muito presente na Revista Realidade, na qual você trabalhou. Você acha que hoje seria viável uma revista com aquele conceito? No caso da Revista Realidade havia um investimento significativo financeiro na apuração, eu mesmo fiz algumas que levaram quase dois meses. O resultado era ter todas as informações e com credibilidade. E a credibilidade é o maior valor da imprensa. Hoje ainda não apareceu ninguém disposto em investir. As empresas acham que devem continuar fazendo como que um repórter faça 3 ou 4 matérias por telefone ao invés de ir pra rua. Acham que ninguém leria textos mais longos. Eu não acredito nisso. Que conselho você daria para os jornalistas que estão começando agora na profissão? Fazer a apuração correta, para que a informação tenha credibilidade. Não adianta você querer ser rapidinho, e correr o risco de passar a informação incorreta ou incompleta. Isso dá trabalho, se faz com reflexão dos fatos. Que jornais e revistas você acredita que fazem bom trabalho hoje em dia? É difícil porque a maioria não está fazendo. Acho que um excelente trabalho está sendo feito pela Piauí, que investe na apuração e na qualidade da informação. Já jornal eu não ouso citar nenhum.
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