O Inimaginável

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- prefácio por nílbio thé

Antes de mais nada é necessário enfatizar: isto não é um prefácio. No máximo, um anti-prefácio. Não existe nada de errado em escrever prefácios, exceto quando a pessoa que o faz, no caso eu, normalmente não os lê - pelo menos com frequência o que me impele a pensar na possibilidade de escrever agora um monte de palavras aéreas e sem sentido já que o que importa mesmo é a obra principal que segue daqui a duas ou três páginas. Além disso, fiquei com um trauma muito grande quando certa vez fui ao lançamento de um livro e o cara que fez o prefácio conseguiu aparecer mais que o autor... Ainda que fosse acometido por tamanha insensatez e desse na telha de fazer isso não conseguiria: a obra que o leitor tem em mãos é avassaladora. Avassaladora porque feita por um artista de sensibilidade ímpar e terrivelmente antenado às entrelinhas malignas de nossa sociedade. Há quem diga, à boca miúda, que Vitor Batista é um gênio... O que para mim não deixa de ser muito engraçado, pois o conheci há uns oito ou nove anos por intermédio de um amigo em comum que temos, mas bastou um encontro para começarmos uma amizade autônoma, com as próprias pernas, sem intermediários e cheia de projetos. Esse nosso amigo nunca mais nos acompanhou em nossas empreitadas diversas, fossem elas quais fossem (mas continua nosso amigo). Nessa época de início de amizade, essa pessoa, esse artista, era um Vitor de voz mansa, cabelo bonito, nariz nobre e aristocrático, corpo grande, elegante e ao mesmo tempo molenga, fã de Michael Jackson como eu mesmo nunca consegui ser, bondoso e atencioso. Um cara que, mesmo em suas crises, nem de longe se parecia com seus personagens, vivendo sempre no extremo de algo, na iminência de seus limites. Esse Vitor sagaz, atento e observador não parecia um gênio de jeito nenhum e isso, por si só, já é genial.

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A observação do mundo faz o artista, talvez até mais que sua técnica. Assim O Inimaginável nasce justamente a partir disso: muita observação, tanto do mundo que o envolve como do outro com quem se divide esse mundo. Mas essa observação não é apenas do outro, pura e simples. Na presente obra fica evidente que, ao olhar para o outro, Vitor, na verdade, olha profundamente para dentro de si mesmo num inimaginável exercício zen que, sem nenhuma explicação lógica possível, é óbvio e direto para seu praticante, ainda que em sua aparente contradição. Seu traço caricatural, que muitas vezes bebe no expressionismo e no movimento punk - esse sim, com mais consciência - casa e contrasta muito bem com a história cheia de cores que nos é apresentada. Aliás, este é outro fato interessante, pois Vitor começou nos fanzines reproduzidos em “xerox” e, além disso, seus primeiros livros são todos em preto e branco, esta é sua primeira novela gráfica em cores e ele já as usa com propriedade de veterano dando peso e leveza nos momentos certos. A narrativa realista, mística, simbolista, fatalista, esperançosa revela-se uma história que só poderia ser contada pelo próprio Vitor. Essas são apenas algumas observações que me atrevo a fazer, na tentativa bizarra de um prefácio clássico em meio a um anti-prefácio, mas não se trata de nenhum tipo de análise estética ou crítica e, sobre isso, gostaria de ilustrar o que digo com uma breve citação - quem sabe com citação isso aqui fica mais “prefácio” - do poeta, esteta e erudito Rainer Maria Rilke sobre a tal da crítica de arte: “Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal-entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizívies quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra jamais pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, — seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.”

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Nada mais iluminado que isso, o que mostra o quão desnecessário é este pequeno prefácio escrito com o coração e tentando passar ao largo das “palavras de crítica”. Apenas ouso, e muito, discordar de sua última frase: nossa vida humana passa ao lado da vida da obra de arte, que permanece, quando também passa por dentro dela. Esta é uma verdade inexorável neste trabalho de Vitor Batista, no qual a vida simplesmente transborda de suas páginas e onde, por mais imaginativa que seja essa história em quadrinhos, a vida cotidiana ainda está ali, escancarada à nossa frente, mostrando muitas vezes o que insistimos em não ver. Repito agora uma analogia que fiz tempos atrás num texto bem pessoal e bem menos público que esse, mas que penso caber com igual exatidão aqui: Conta-se que quando Buda atingiu sua iluminação não proferiu discurso algum aos seus discípulos, mostrou-lhes apenas uma flor e isso bastou para que se fizesse entender. Não sou iluminado, por isso escrevo ao invés de mostrar uma flor a você, caro leitor. Mas o trabalho de Vitor fala mais que um punhado delas.

Boa Leitura!

Fortaleza, 22 de maio de 2012.

Nílbio Thé é pai, professor, produtor, entusiasta em tempo integral e, nas horas vagas, quando dá, tenta ser artista, escritor, dramaturgo, roteirista, dentre outras coisas que gostaria de ser um dia.

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Para minha famĂ­lia, seja onde estiver...

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- prólogo “tudo é falso, deus não existe e está diante dos olhos.”

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P

ouca gente conhecia aquele cara naquela cidade, profundamente quero dizer, confesso que nem mesmo eu tinha certeza se o conhecia de verdade ou se ele era na verdade uma viagem torta da minha cabeça...

o fato é que passei a ver constantemente aquele cara nos lugares onde eu andava naquela época...

era bizarro, quase sempre estava sozinho, muitas vezes, fitando o horizonte com aquela expressão de quem se encontra em profunda reflexão...

seus olhos pareciam enxergar o que a grande maioria das pessoas jamais poderia imaginar que existe e o que tantas outras evitariam encarar!

provavelmente por isso ninguém ousava se aproximar dele!

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na verdade, quem viesse a conhecer aquele cara de perto se assustaria e poderia dizer que ele

por isso, ele preferia manter os outros afastados de seu convívio íntimo...

é um pirado ou qualquer outra desqualificação moral que ainda valha nos dias de hoje!

oh!

para que ninguém soubesse que sua busca incessante por prazeres imediatos fosse, na verdade, uma tentativa de aliviar

a

a a Aaa

AH-

HH!

uma tentativa que, a cada dia, se tornava mais frustrada...

o peso da solidão provocada por ele mesmo...

valeu aí, cara!

valeu!

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- ficha técnica Este livro foi patrocinado pela Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Ceará através do Prêmio Literário para Autores Cearenses de 2010-2011 na Categoria de Histórias em Quadrinhos Luiz Sá. Produção e Design: Vitor Batista Revisão: Telma Parente Editoração e Impressão: Expressão Gráfica Tiragem: 1.000 exemplares Miolo: impressão offset em papel couchê fosco 170g Capa: impressão offset em papel cartão supremo 250g Contato: (88)9609.7109 E-mail: territoriomarginal@gmail.com Site: http://www.blogzdovitor.blogspot.com

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arte, roteiro e texto:

- Vitor Batista -

quando conheci aquele cara ele ainda morava num minúsculo quitinete no centro da cidade, estava desempregado há tempos e começava a se preocupar com as contas para pagar no mês seguinte...

antes de dormir, ele sempre fumava um cigarro...

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sua situação ficou ainda mais desagradável quando descobriu ser portador de hiv...

mas o senhor tem certeza, doutor?

era visto perambulando por lugares sinistros onde quase ninguém ousaria ir...

passou então a frequentar os bares mais imundos daquela cidade...

já fechamos, rapaz, é hora de cair fora daqui!

mas quem OUSARiA PENSAR que, na verdade, ele ESTARia em busca de uma nova morada?

ele andava como se tivesse esquecido o seu próprio endereço...

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num dia, sem saber como, acordou em seu quitinete... não fosse pelas fortes dores de cabeça e pelo gosto amargo do álcool, teria a plena certeza de que apenas tivera mais um pesadelo...

ele tentava decidir se deveria tomar os remédios e manter em segredo o seu estigma ou se procuraria grupos de soropositivos para compartilhar experiências, mas era em vão...

na verdade, a sua maior preocupação agora era saber em quanto tempo aquilo o mataria...

ainda pensou em falar com seus pais, que há anos não mantinha contato, mas antes pensou no que

durante longos dias ele permaneceu trancafiado, era como se sua mente

lhe diriam...

tivesse criado um pernicioso e desconfortável cativeiro...

é o fim de todo viado!

mas eu o avisei tanto!

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até o dia em que fora despejado...

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cheguei a pensar que ele cometeria suicídio, mas não, algo nele estava diferente...

se suas pretensões na sociedade já não eram muitas, agora elas tinham se dissolvido

tempos depois voltei a vê-lo por aí...

por completo...

sozinho, como sempre...

tornara-se indiferente ao cotidiano das pessoas, acreditava que elas apenas se aliavam para criar armadilhas uns aos outros...

e, não importava onde estivesse, se sentia em sua casa...

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logo não demorou a encontrar outros em condições semelhantes...

fala, cumpadi! tem uma moedinha sobrando por aí?

a mulher me colocou no olho da rua e fiquei sabendo que já enfiou outro homem dentro de casa!

tem um real aí? depois te pago!

e assim seguia o seu dia...

arranja pelo menos um cigarro aí, moleque, qual é a tua afinal?

já disse que sou tão fudido sem quanto vocês, irmãos! fiquei minha nada, tô com o nome sujo e a barriga tá começando a me pedir ajuda nesse momento!

he!he!he! é engraçado o jeito que ele fala!

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súbito...

onde estavam, seus merdas? fiquei a noite toda esperando e nada! o que andaram fazendo, hein?

hunf! aposto que estavam comendo o rabo dessa boneca aí, né? vocês são todos viados mesmo, não existe mais homem nessa porra de mundo!

arranja um careta desse aí, doida!

fica tranquila, boneca, hoje em dia tudo é normal! e aproveita que ainda é de graça, toma!

vamo chegar na bocada pra ver o que rola de bom! se liguem, seus merdas, hoje é o último dia que pago! cadê?

podecrer!

e, pela primeira vez, ele estava diante da deliciosa possibilidade de agir naturalmente ao lado de outras pessoas...

glub!

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e assim, não demorou para que ele passasse a ter os mesmos costumes de seus novos companheiros...

como é que vamo comprar mais, moleque?

tudo o que conseguia era empregado em seu único propósito, esquivar-se da árdua realidade que se formava a partir de tantas incertezas...

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com o tempo sobrevivia do lhe davam, mas quando não era suficiente assaltava adolescentes e mulheres que andavam sozinhas à noite...

eu não consigo mais dormir, pelo amor de deus, preciso de mais!

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ele já tinha ouvido falar que o uso do craque poderia viciar na primeira tragada...

ele achava que isso não seria possível e apenas arriscou...

nas primeiras vezes tinha sido bom, conseguira se sentir forte diante para, no final, constatar que era

dos últimos acontecimentos em sua vida...

pura verdade...

ainda conseguia manter as pessoas distantes de seu mundo...

por um breve

mas o próprio mundo também sumia...

momento ele esqueceu até de si mesmo...

dando lugar a outra forma de tempo e espaço...

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suas pequenas certezas haviiam se transformado em terríveis agonias...

e não fazia idéia do que poderia encontrar em seu lugar...

lhe restando apenas fugir do que ainda acreditava...

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foi quando, pela primeira vez em muito tempo, ele realmente quis acordar...

afinal não sabia o quanto tinha se afastado dele...

mas poderia ser tarde demais para voltar ao mundo de onde saíra...

ou o quanto ele, por si, já tinha se modificado...

talvez não pudesse mais reconhecer lugares ou pessoas...

aquela cidade...

então algo lhe pareceu familiar...

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aquele lugar lembrava muito a cidade onde se acostumara a viver desde cedo...

conhecia cada esquina, sabia o nome de todas as ruas, lembrava a sequência das lojas e até mesmo do prédio onde morava quando ainda podia pagar um aluguel...

reconhecia o cheiro do esgoto, as sombras das árvores, os pontos de drogas e até alguns companheiros...

só não conhecia a saída dali...

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mas podia ser domingo, ele pensou...

afinal, era assim que, no feriado semanal bíblico, ficava aquela cidade... a cidade parecia ter sido abandonada por seus moradores...

e, apesar da sensaçáo de reconhecimento com aquele

alô!?

lugar, ele sabia que algo ali estava muito diferente... pois sentia como se nunca tivesse pisado ali antes...

lhe restava, porém, tentar entender o que afinal estava acontecendo com o mundo à sua

quem fala? falar com quem? alô?! ou com o seu mundo interior...

volta...

comigo!? mas como assim?

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quem é você e de onde me conhece, cara? você tem certeza? eu sou apenas um zé ninguém, nem sei há quanto tempo ando por aí perdido, pra falar a verdade não tenho nem certeza se sei onde estou!

não tem ninguém por aqui além de mim, todo mundo sumiu e eu nãi sei o que aconteceu, talvez eu tenha até morrido, sei lá, ou o craque acabou com tudo! só tenho más notícias pra dar, mas deve haver algum engano em tudo isso...

as coisas não podem ser assim, sinto uma culpa enorme como se eu tivesse provocado tudo me isolando das pessoas, não sei, fiquei tanto tempo sem desabafar que agora não posso conter minhas lágrimas...

não, por favor, não desligue, talvez você possa me ajudar... alô? Alô? merda! tú! tú! tú! tú! tú! tú! tú!

tú! tú! tú!

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ele permaneceu sentado por um longo período naquela tarde ansioso à espera de uma nova chamada, enquanto sentia uma profunda tristeza e uma vontade de se redimir...

não sabia ainda que algumas consequências são irreparáveis...

sexo ou

...ou já tinha esquecido!

violência?

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eh... na verdade estou aqui esperando uma amiga... faz muito tempo que a gente não se fala... ela me telefonou agora, mas a ligação estava péssima e caiu... acho que vai tentar telefonar de novo ou vir aqui pessoalmente... não sei... ela é uma pessoa bastante imprevisível, sabe? mas é gente boa, talvez até vocês se conheçam, né? quem sabe...

eh... quer esperar aqui comigo? senta aí!

esse é o meu trabalho, cara, não pense que vim aqui à passeio! como você mesmo sabe a dor e o prazer são as únicas escolhas que existem aqui...

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...mas se não quer decidir eu mesma farei por você, quanto a isso sem problemas!

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perdão, autoridade, não me machuque, eu não tenho a menor condição de decidir sobre qualquer coisa em minha vida agora, na verdade nunca soube direito como lidar com esse mundo maluco!

é engraçado como você se acovarda diante de suas escolhas, primeiro se lança no mundo como quem sabe onde pisa para depois se arrepender do caminho trilhado e querer voltar para onde veio!

a essas alturas do campeonato você já deveria saber que o passado não retorna, rapaz!

me diga! quem faz as leis nesse mundo? quem dita as ordens que você cumpre cegamente, hein? será mesmo que você é capaz de responder a essas perguntas para ter alguma autoridade sobre mim? vamos, responda e poderá fazer o que quiser comigo, vamos, fale!

ah, é? por que tenho que acreditar nisso?

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ha! ha! ha! ha! ha!!! em todo esse tempo de profissão nunca tinha ouvido palavras mais ridículo que essas, cara! você é hilário!

cara, tu deve ter nascido pirado ou então usou drogas demais! de qualquer forma, receberá a sentença que merece, mas não esqueça que a sua insegurança é o maior dos seus perigos nesse mundo!

o que quer dizer com isso?! acho que está me interpretando mal, eu apenas busco entender o que está acontecendo com o mundo, não tenho culpa de não ter as certezas que os outros tem, desculpa, eu não queria parecer...

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inexplicavelmente, aquele cara sobrevivia a tudo...

ele continuava a sua caminhada sem rumo, agora sem esperanças de encontrar respostas que trouxessem a libertação daquele estranho mundo, ao mesmo tempo real e imaginário...

era como se nada mais pudesse surpreendê-lo...

foi quando passou a ouvir uma profunda e extensa gargalhada que o acompanhava em todos os passos...

e aí, filhão! se precisar de qualquer coisa estamos aqui, viu?

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e, sem ter a menor noção de onde ela se originava, seguia na direção do seu destino...

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instintivamente ele decidiu que só pararia quando encontrasse um lugar para se demorar e que fosse bom, estaria disposto a sair do planeta se fosse preciso...

com o tempo, estabeleceu uma relação íntima com a eternidade, uma vez que estava imerso numa atividade constante, quase que automática, mas espiritual como um mantra...

devido ao desenvolvimento de ele aprendeu a reconhecer os lugares por onde passava através das solas dos

sua sensibilidade ao longo desse árduo e solitário trajeto, foi perdendo aquela vontade, que sempre

pés, sabia as distâncias, os tipos de solo, os perigos da natureza...

o tinha acompanhado, de ver o mundo desaparecer...

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ele via um novo lugar se descortinr à sua frente, sentia como se possuísse novos olhos...

então logo soube que sua jornada estava muito perto de chegar ao fim...

sabia, porém, que isso jamais poderia ser explicado para

havia nele a certeza de ter encontrado algo maior que respostas... algo que não se originava a partir de questões exclusivamente humanas...

sozinhas...

outras pessoas...

como ele foi...

para entender aquilo elas precisariam ir até ali...

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depois de tanto tempo sem ver a sua imagem refletida, ele ficou admirado com a sua transformação, tinha a certeza de que aqueles olhos vivos e sinceros não poderiam lhe pertencer... e olhou para ela como se fosse uma outra pessoa...

mas como você não me atendia fui obrigado a me isolar neste lugar em busca de tranquilidade onde eu pudesse existir sem culpa e ninguém mais pudesse me condenar pelo que sou, nem mesmo você!

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não entendo porque demorou tanto para ouvir meu chamado, eu o encontrei tantas vezes lá fora!

não imagina como sofro durante esse tempo em que fico aqui sozinho!

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por favor, eu preciso que me tire daqui!

mas como vou levá-lo embora? para onde? quero ficar por aqui, procuro há tempos um lugar como esse!

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me liberte para que eu possa acompanhá-lo em sua caminhada, por enquanto sou apenas sua essência mais primitiva, sua natureza original vivendo num lugar imaginário onde tudo o que passa em sua mente se materializa!

sinto como se tivesse chegado ao final da minha jornada!

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foi quando ele percebeu que o tempo começou a se fechar modificando

naquela hora sentiu grande medo de não encontrar abrigo durante a tempestade que se aproximava...

rapidamente as condições daquele lindo lugar...

e dessa vez talvez não encontrasse...

e não fazia idéia das mudanças trazidas por aqueles ventos... ninguém sabia...

e, com isso, despencava com o próprio lugar que tanto buscara...

perguntava a si mesmo se ainda teria algo a ser perdido...

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mas afinal, o que aquele cara, que sobreviveu a tantos contratempos na

mas que escolhas teria?

vida, ainda teria para aprender?

muitos que viessem a conhecê-lo jamais agiriam como ele...

mas poucos no mundo se arriscam a perder tudo em busca de novos caminhos...

ainda que soubessem que são os únicos caminhos possíveis...

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pois no mundo não há lugar onde ninguém possa se esconder de si mesmo!

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- EPÍLOGO “você ganha o mundo para entender que ele não te pertence.”

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assim como no início dos tempos, por um longo período, a água

e, aos poucos, quando

cobriu toda a terra...

o mar começou a secar, foram sendo reveladas as formas de um novo lugar...

um lugar sem nome...

mas, afinal, do que é feito um lugar?

sem limites...

sem dono...

como eu já disse, um novo lugar...

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até que ponto somos afetados por ele?

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como saber onde queremos chegar?

se nada no universo é capaz de permanecer...

a não ser a própria mudança...

achamos que conhecemos melhor um lugar quando estamos no topo dele...

tudo depende, na verdade, de onde você se encontra...

não no lugar... mas é apenas um ponto de vista...

afinal, existem várias formas de se conhecer um lugar...

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mas, sobretudo, consigo mesmo...

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- FIM -

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- skecthes -

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“gostaria de agradecer imensamente a todos aqueles que, de alguma forma, tornaram esse livro possível, especialmente raymundo netto, tamyres gouveia, mauro gurgel, nílbio thé, thaís monteiro, telma parente, constance brito, liliana uchôa, paulo emmanuel, davi rômulo, asaías lira e fernanda meireles, além de tantos outros que, como deus, me servem de inspiração para continuar existindo!

vitor batista

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