Informalidades Urbanas: O caso da Avenida Beira Rio

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Rafaela B. de Melo / 2019





informalidades urbanas:

banca examinadora

o caso da avenida beira rio Rafaela Barbosa de Melo orientação Marcela Dimenstein

Profª. Mª. Marcela Dimenstein (orientadora)

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ, como pré-requisito para a obtenção do Título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Profª. Mª. Maiara Ateciene dos Santos Belo (examinadora interna)

Profª. Mª. Alessandra Soares de Moura (examinadora externa)

João Pessoa 2019


agradeço

À Marcela, pela confiança e prontidão, e por abraçar a minha condição quase que patológica da combinação astral entre gêmeos e duplo peixes. À Letícia e Nevinho, que estiveram comigo durante todo o processo, sempre atenciosos e dispostos a ajudar no que eu precisasse. Vocês foram imprescindíveis. À Danzi e Fernandinha, por todos os conselhos, incentivos diários e assessoria psicológica. Sou muito grata a vocês. Aos meus pais e irmãos pelo amor incondicional.


resumo

Este trabalho consiste na exploração da paisagem urbana contemporânea através de uma perspectiva investigativa, de registro e apreensão das diferentes experiências propiciadas tanto pelo meio, quanto pelos agentes do espaço. Neste sentido, buscamos mapear as práticas informais da população moradora e usuária de trechos da Avenida Beira Rio, localizada no município de João Pessoa/PB, a fim de discutir sobre a ocupação do espaço público diante a postura homogeneizadora das cidades. A principal estratégia metodológica utilizada foi a observação de campo, com o intuito de compreender o espaço integrado a todas as suas vertentes – sendo complementado pelo mapeamento de dados, levantamento fotográfico, trechos do diário de campo e colagens. Esperamos que este estudo desperte novos olhares sobre a relevância do cotidiano nas cidades e agregue sensibilidades na compreensão do mundo. palavras-chaves: paisagem. cotidiano. informalidades. diário de campo. colagem.


abstract

This work consists of the exploration of the contemporary urban landscape through an investigative perspective, of registration and apprehension of the different experiences provided by both the environment and the space agents. In this sense, we seek to map the informal practices of the local population and users of parts of Avenida Beira Rio, located in the city of João Pessoa / PB, in order to discuss the occupation of public space in the homogenizing posture of cities. The main methodological strategy used was field observation, in order to understand the integrated space to all its aspects - complemented by data mapping, photographic survey, sketches from the field journal and collages. We hope this study will bring new insights into the relevance of the daily life in cities and add sensitivities to the understanding of the world. keywords: landscape. daily life. informalities. field journal. collage.


lista de figuras figura 01: Fotomontagem das apropriações informais do espaço público na Av. Beira Rio, 2019..................................................................................................................................24 figuras 02, 03, 04: Ilustrações por Raoul Hausmann, 1919 - 1920...............................26 figuras 05, 06, 07: Ilustrações por Hannah Höch, 1929 - 1965....................................48 figura 08: Colagem “Vitalidade”, 2019..............................................................................69 figura 09: Colagem “Insegurança”, 2019..........................................................................70 figura 10: Colagem “Contraste”, 2019................................................................................71


lista de imagens imagem 01: Projeto Trevo das Mangabeiras, 2015 .........................................................15 imagem 02: Projeto Nova Beira Rio, 2018........................................................................20 imagem 03: Protesto contra alargamento da Avenida Beira Rio, 2013.........................22 imagens 04, 05, 06, 07, 08: Atividades Necessárias encontradas na Avenida Beira Rio.............................................................................................................................................61 imagens 09, 10, 11, 12, 13: Atividades Opcionais encontradas na Avenida Beira Rio..63 imagens 14, 15, 16, 17, 18: Atividades Sociais encontradas na Avenida Beira Rio....65


lista de mapas mapa 01: Localização da Av. Min. José Américo de Almeida (Av. Beira Rio) e seus respectivos marcos referenciais.........................................................................................18 mapa 02: Trechos com maior concentração de atividades informais na Av. Beira Rio ..................................................................................................................................................30 mapa 03: Mapa de Uso e Ocupação do Solo da Av. Beira Rio e representação dos bairros ao longo da via.........................................................................................................48 mapa 04: Mapa de Cheios e Vazios da Av. Beira Rio.......................................................69 mapa 05: Recorte 01 de trecho da Av. Beira Rio e seus pontos de referência.............................................................................................................................................70 mapa 06: Recorte 02 de trecho da Av. Beira Rio e seus pontos de referência..............................................................................................................................................71 mapa 07: Trechos dos sentimentos e sensações despertados pela autora na Av. Beira Rio..................................................................................................................................67


lista de tabelas tabela 01: Pesquisa Bibliográfica........................................................................................29 tabela 02: Cronograma das visitas em campo para pesquisa observacional..........31


sumário sumario sumario

introdução

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etapas do desenvolvimento da pesquisa

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33 capítulo 01 1.1 contribuições teóricas e conceituais . informalidades e percepções na cidade contemporânea . novas ferramentas de apreensão do espaço 51 capítulo 02 2.1 diagnóstico da área . mapa de uso e ocupação do solo . mapa de cheios e vazios . atividades espontâneas e suas relações de uso . atividades encontradas na beira rio capítulo 03 3.1 diário de campo: colagens e relatos . vitalidade . insegurança . contraste

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considerações finais

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referências bibliográficas

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introdução

Este trabalho irá abordar um tema explorado atualmente por diversas áreas do conhecimento como a Sociologia, Arquitetura e Urbanismo e Geografia, e diz respeito, às manifestações informais encontradas na cidade contemporânea. Iremos focar nossos esforços na Av. Min. José Américo de Almeida, a Avenida Beira Rio, localizada no município de João Pessoa/PB, buscando identificar como essas manifestações se revelam diante o contexto. A dicotomia existente no espaço urbano entre áreas favorecidas por uma maior infraestrutura e outras que carecem de todo tipo de suporte são comuns no cenário brasileiro, uma vez que, o Brasil é um país com um histórico marcado por uma eminente dinâmica de desigualdade entre classes sociais. Diante disso, a autora Maria Helena Pinheiro (2019), utilizando dados do IBGE (2016), aponta que o Brasil vem expressando um aumento significativo das disparidades socio territoriais, as quais vem sendo reforçadas pela racionalidade mercantil das grandes cidades contemporâneas, acarretando num uso desproporcional das áreas urbanas e consequentemente provocando um aumento da segregação.

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Ao analisar essas questões segregativas no estado da Paraíba, local do nosso objeto de estudo, Pinheiro (2019) relaciona o número de veículos existentes com o total de habitantes no estado. A autora afirma que “São quase 4 milhões de pessoas e um número de 1.184.259 veículos individuais, ou seja, apenas 30% da população possui e se locomove com esse transporte” (p.10). Também indica que no município de João Pessoa, somente 25% da população não realiza seus percursos a pé, de bicicleta ou em transportes coletivos. Outro ponto que está dentro do debate da segregação em João Pessoa, é a crescente valorização de áreas que são promovidas essencialmente pela especulação imobiliária. Alexandre et al. (2009) cita o bairro do Altiplano Cabo Branco, situado na zona leste da cidade, como uma região altamente propensa a esta lógica de mercado, que promove espaços privatizados e sobretudo para a elite.

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Outra realidade que pode ser observada na cidade pessoense é a atual mudança no bairro dos Bancários, que segundo Oliveira (2018), hoje vive uma intensificação dos fluxos de moradores, o que tem gerado problemas na dinâmica local do bairro. Da mesma forma, os bairros de Miramar e Tambauzinho que devido à sua localização privilegiada, vivem um processo de verticalização que se expande de forma acelerada e estimula uma “[...] produção arquitetônica voltada para classes altas, com padrão construtivo elevado, sempre valorizando a segurança excessiva e as escalas XL, ou seja, proporções distorcidas para escala humana” (DIMENSTEIN, 2014 apud PINHEIRO, 2019, p.11). Ao analisar o atual panorama dos espaços urbanos, Jan Gehl (2015, p.03) afirma que a dimensão humana tem sido um tópico desprezado diante as pautas de planejamento urbano da cidade, à medida que outros aspectos se tornam mais relevantes, como o expressivo aumento do tráfego de automóveis. E ressalta que as vertentes arquitetônicas e de mercado mudaram de foco “[...] saindo das inter-relações e espaços comuns da cidade para os edifícios individuais, os quais, durante o processo, tornaram-se cada vez mais isolados, autossuficientes e indiferentes”. 16


Um exemplo de projeto que reitera essas concepções apresentadas por Gehl (2015), é o Trevo das Mangabeiras (imagem 01), localizado na zona sul de João Pessoa. É denominada como uma obra de mobilidade urbana e foi custeada com recursos do Governo da Paraíba, e que de forma não surpreendente, se adequa aos preceitos da não priorização dos trajetos individuais encontrados nas grandes cidades. Imagem 01: Projeto Trevo das Mangabeiras, 2015.

Fonte: Disponível em: <http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2015/08/trevo-das-mangabeiras-e-inaugurado-em-joao-pessoa-nesta-segunda-feira.html>. Acessado 05 de junho de 2019.

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É nesse âmbito de contraditoriedade e ideais segregacionistas, que podemos encontrar o espaço dividido em dois segmentos: a porção do espetáculo e a porção “marginalizada”. A primeira refere-se à cidade “maquiagem” que se adequa a uma lógica de mercado altamente vinculada ao capital financeiro. Já a outra, faz alusão aos aglomerados urbanos, segregados de forma involuntária e que crescem como “anomalias” dentro dessa cidade formal e de mercado. É desse modo que, “ [...] a segregação de um se reflete na segregação do outro, dialeticamente no mesmo processo e ao mesmo tempo [...]” (VILLAÇA, 2000 apud NEGRI, 2008, p. 132-133). Em consequência desse cenário adverso, surge o conceito de cidade formal e informal. De acordo com Jacques (2005, p.19), a cidade formal inclui-se no fenômeno de desaparecimento da escala humana em meio à urbe e reprodução de espaços cada vez mais privatizados e inapropriados para a ocupação de pessoas na cidade.

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Nesse mesmo contexto também se manifesta a cidade informal, que resiste a um modelo padronizado de planejamento urbano, se apropriando de espaços públicos de formas não convencionais, e até sugerindo novos usos a locais negligenciados ou em desuso. Milton Santos (1994) aponta que são nesses espaços onde as relações entre urbanismo e corpo se fazem relevante. Ressalta que, efetivamente, são os seres sobre o meio que: [...] conhecem o espaço e que reduzem, espontaneamente, impactos da financeirização da vida urbana, mediante uma infinidade de gestos-fio que renovam as trocas banais, e também surpreendentes, no cotidiano e nos lugares. (SANTOS, 1994, apud RIBEIRO, 2005, p. 418).

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Logo, este trabalho se propõe a estudar as informalidades encontradas na Avenida Ministro José Américo de Almeida (Beira Rio), localizada no município de João Pessoa/PB. Esta foi construída na década de 1970 e margeia o curso médio do rio Jaguaribe — o mais extenso rio urbano da cidade. Mapa 01: Localização da Av. Min. José Américo de Almeida (Av. Beira Rio) e seus respectivos marcos referenciais. Espaço cultural José Lins do Rêgo

Parque Sólon de Lucena Lyceu Paraibano Av. Beira Rio

Rio Jaguaribe

Hospital Alberto Urquiza Wanderley - Unimed João Pessoa

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Fonte: PMJP - Prefeitura Municipal de João Pessoa. Editado pela autora. 2019.

Praia do Cabo Branco


A Av. Beira Rio surge como um trajeto de ligação entre o Centro antigo da capital à Praia do Cabo Branco, e possuía um perfil arquitetônico predominantemente horizontal e entorno cercado por chácaras e vegetação ribeirinha. No entanto, essa conjuntura tem se modificado e a verticalização é uma realidade em seu atual contexto, incitando uma problemática, já que a mesma se situa numa Área de Preservação Permanente - APP. O interesse em estudar a Beira Rio está no fato dela se inserir em uma área privilegiada devido a sua localização, o que tem gerado transformações em seu entorno através de uma lógica especulativa que fomenta o interesse majoritário do mercado imobiliário, de modo a estimular o surgimento de um planejamento urbano que custeia investimentos milionários, como a requalificação de vias, concluída em 2018, no projeto “Nova Beira Rio” (imagem 02).

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Imagem 02: Projeto Nova Beira Rio, 2018.

Fonte: Disponível em: <http://www.joaopessoa.pb.gov.br/prefeitura-de-joao-pessoa-inicia-obra-que-vai-acabar-com-alagamentos-na-avenida-beira-rio/>. Acessado em 8 de maio de 2019.

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Tal projeto, propôs a requalificação da Beira Rio pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), a fim de transformá-la em uma Avenida modelo. O intuito era gerar novas alternativas de fluxos, como a ligação por ciclovia entre Praia e Centro, bem como, otimizar as rotas de conexão entre os principais trajetos da cidade, possibilitando o acesso direto à Avenida Epitácio Pessoa, uma das principais da cidade. Outro ponto significativo, foi a proposta de alargamento da Av. Beira Rio, em 2013, promovida pela Prefeitura de João Pessoa. Que a princípio, visto a iniciativa do projeto em erradicar parte da vegetação nativa do canteiro central para o aumento da faixa, tornou-se alvo de protestos articulados por grupos que reivindicavam a não derrubada das árvores (imagem 03).

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Imagem 03: Protesto contra alargamento da Avenida Beira Rio, 2013.

Fonte: Disponível em: <globo.com>. Acessado em 8 de maio de 2019.

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Haja vista o contexto apresentado e considerando as rápidas transformações que a Avenida tem sofrido, é possível identificar uma expressiva relação de vínculo entre os moradores das comunidades residentes da Av. Beira Rio com o seu entorno, e não só devido ao elo geográfico, dado que, são notórias as constantes manifestações públicas se comparado aos trechos mais verticalizados da área. Tal vínculo é representado a partir dessas manifestações públicas, as quais se tornaram mais frequentes após a implantação da ciclovia no canteiro central, aumentando de forma significativa o fluxo de pessoas e despertando o interesse dos que permeiam nas imediações a usufruírem o canteiro de forma a realizarem diversas atividades (imagem 04).

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Figura 01: Apropriações informais do espaço público na Av. Beira Rio.

Fonte: Registrado e editado pela autora. 2019.

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Logo, o foco dos nossos estudos está em desvendar os usos informais existentes na Av. Beira Rio, onde é possível observar uma constância na ocupação do espaço público, tais quais, convivem e se adaptam as mudanças que estão surgindo na região. Sendo assim, configura-se como principal objetivo deste trabalho, mapear as práticas informais da população moradora e usuária de trechos da Av. Beira Rio. Mais especificamente, intencionamos registrar através de colagens e do diário de campo, a dualidade (formal e informal) existente na paisagem contemporânea. Por se tratar de um trabalho de inspiração etnográfica, as narrativas resultantes posteriormente apresentadas está vinculada diretamente ao trabalho de campo, de investigação e percepção espacial. Neste caso, opta-se por uma sistematização de dados inspirados em conceitos do grupo situacionista, da década de 1960, que se utiliza de colagens (figuras 02, 03 e 04) e do diário de campo como forma de registrar e compilar experiências.

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figuras 02, 03 e 04 © Raoul Hausmann, 1919 - 1920.

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Logo, este trabalho é constituído por três capítulos que visam apresentar o método de pesquisa a partir da elaboração do objeto de estudo. No primeiro capítulo, a fundamentação teórica irá abordar dois temas principais: informalidades e percepções na cidade contemporânea e novas ferramentas de captação do espaço. O segundo capítulo, apresentará a caracterização e o contexto atual da área e dos personagens retratados neste trabalho. Sendo expostas as primeiras implicações relativas à observação de campo, correlacionadas a apropriação das áreas ocupadas pela população e usuários da Av. Beira Rio. Por fim, o terceiro capítulo irá analisar como o meio urbano pode intervir no aproveitamento de um espaço e nas práticas cotidianas que existem, externalizando os resultados através de colagens e trechos do diário de campo da autora. As considerações finais apresentará a conclusão geral da pesquisa, da mesma maneira que, certificará se os objetivos denotados na introdução foram atingidos e se a totalidade da conjuntura foi esclarecida. 29


estapas do desenvolvimento da pesquisa 30

Este ponto apresenta as estratégias metodológicas que compõem a elaboração e etapas de desenvolvimento desta pesquisa. A primeira etapa apresenta a construção do referencial teórico conceitual, fornecendo o embasamento necessário aos assuntos tratados — formalidades e informalidades no meio urbano, o contexto atual das cidades e suas problemáticas, usos informais na Avenida Beira Rio e novos modos de apreensão do espaço. Na tabela 01, podemos identificar os três principais autores e suas respectivas publicações, utilizadas como base para a construção do referencial teórico deste trabalho:


TABELA 01: Pesquisa Bibliografica

JACQUES, Paola Berenstein.

Elogio aos errantes. Salvador, EDUFBA, 2012.

RIBEIRO, Ana Clara Torres.

Sociabilidade, hoje: leitura e experiência urbana. 2005.

BRITTO, JACQUES.

Corpocidade: debates, ações e articulações. 2010.

Disserta sobre as práticas da errância urbana nas cidades, e como essas experiências estão cada vez mais raras na contemporaneidade. O artigo analisa o “fazer sociedade” e reflete acerca das sociabilidades desenvolvidas em contextos urbanos. O livro debate sobre diversos temas da cidade contemporêna. Tais quais, a resistência a espetacularização das cidades, pacificação do espaço público e experiências urbanas e corporais. 31


Referente a pesquisa documental deste trabalho, ocorreu em sua maioria através da coleta de materiais como arquivos digitais, acervos fotográficos e dados estatísticos que complementaram a investigação dos conteúdos abordadas na pesquisa. Em relação a definição do local de pesquisa, o estudo ocorreu na Av. Beira Rio, em João Pessoa/PB, entre 2018 e 2019. Optou-se por estudar dois trechos da Avenida (mapa 02), que atuam como palco de manifestações informais, de convivência, movimentação e encontros da vida pública. Mapa 02: Trechos com maior concentração de atividades informais na Av. Beira Rio.

Av. Beira Rio Trechos com maior concentração de atividades informais

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Fonte: PMJP - Prefeitura Municipal de João Pessoa. Editado pela autora. 2019.


A segunda etapa, se atém a pesquisa de campo, onde se obteve as coletas de dados primários. Foram feitas visitas à área (tabela 02), com a finalidade de observar e compreender o entorno. Nesta etapa, o instrumentos de coleta foram essencialmente a observação e diário de campo, com a intenção de captar todos os aspectos existentes no espaço. Na tabela 02 podemos observar as datas e os turnos das idas à campo: TABELA 02: Cronograma das visitas em campo para pesquisa observacional Nº

Data 01 04.06.2019 02 28.06.2019 03 05.08.2019 04 07.08.2019 05 20.09.2019 06 06.10.2019 07 15.10.2019

Turno Manhã Noite Manhã Noite Tarde Tarde Tarde

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Para a sistematização e análise de dados, foram utilizados os materiais coletados com base nas impressões da autora acerca da área de estudo, apresentando narrativas através do diário de campo e de colagens. Esta última, elaboradas a partir do método de sobreposição e mescla de diferentes componentes visuais, como fotografias e múltiplos elementos gráficos.

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capítulo 01


contribuições teóricas e conceituais 36

O tema desta pesquisa refere-se as informalidades urbanas apreendidas no cenário atual das cidades e consiste em retratar as experiências cotidianas e apropriações do espaço público protagonizados pelos moradores e usuários da Av. Beira Rio, localizada na cidade de João Pessoa/PB. Tendo como objetivo contextualizar e compreender as questões vitais deste trabalho, o capítulo 01 apresentará noções de informalidades e percepções na cidade contemporânea e novas ferramentas de apreensão do espaço


informalidades e percepções na cidade contemporânea Na verdade, a globalização faz também redescobrir a corporeidade. O mundo da fluidez, a vertigem da velocidade, a frequência dos deslocamentos e a banalidade do movimento e das alusões a lugares e a coisas distantes, revelam, por contraste, no ser humano, o corpo como uma certeza materialmente sensível, diante de um universo difícil de apreender. (SANTOS, 1996, p. 212)

Ribeiro (2005) reconhece que na atualidade, os modos de apreensão e sociabilidade nas cidades estão cada vez mais fragmentados e superficiais, de modo a estagnar a possibilidade de uma participação efetivamente solidária da sociedade em seu meio. Logo, torna-se possível presenciar a desigualdade manifestada através de escalas da vida coletiva “[...] na medida em que, no micro, é possível reconhecer diferentes manifestações do macro: decisões relativas à aplicação dos recursos públicos, influências institucionais, orientações culturais, interesses econômicos e políticos [...]”. (GONZÁLEZ, 2003 apud RIBEIRO, 2005, p.412).

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A autora alerta que “[...] a monetarização das relações sociais, que caracteriza a vida urbana, adquire novos conteúdos, que reduzem a gratuidade e a espontaneidade indispensáveis à sociabilidade e aos sentidos mais largos da urbanidade [...]” (p. 414). Britto e Jacques (2008) consideram que esse desmembramento que envolve a sociedade contemporânea, faça parte do processo de “espetacularização urbana — cidade espetáculo — cidade cenário”. O qual se relaciona de modo direto ao decréscimo da relação do cidadão e seu habitat, diluindo a experiência cotidiana a cenários hegemonicamente inertes.

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Jacques (2005) em seu artigo intitulado “Errâncias Urbanas: A arte de andar pela cidade”, encara o processo de espetacularização como sendo o propulsor da mercantilização do espaço urbano, da paisagem enquanto objeto de consumo visual. A autora explana que “[...] cada vez mais essas cidades precisam seguir um modelo internacional extremamente homogeneizador, imposto pelos financiadores multinacionais dos grandes projetos de revitalização urbana”. (p. 17). De modo a suscitar a homogeneização das cidades, em busca de um único padrão mundial, tal qual prioriza o turista internacional e descarta os habitantes locais. O processo contemporâneo de espetacularização das cidades é indissociável das estratégias de marketing urbano, ditas de revitalização, que buscam construir uma nova imagem para a cidade que lhe garanta um lugar na nova geopolítica das redes internacionais. O que se vende hoje internacionalmente é, sobretudo, a imagem de marca da cidade. A competição é acirrada e as municipalidades se empenham para melhor vender a imagem de marca, ou logotipo, da sua cidade, privilegiando basicamente o marketing e o turismo, através de seu maior chamariz: o espetáculo. (JACQUES, 2005, p.18).

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Ainda sobre a cidade-espetáculo, torna-se possível observar que grande parte dos projetos urbanos modernos propagam hegemonia por meio da assepsia urbana das cidades. Visam a privatização do espaço público, reprodução da incorporeidade e abandono da alteridade mediados pelo capital financeiro e midiático, de forma a promover o desaparecimento das possibilidades de experiências participativas e disseminação da cultura de espaços públicos pouco coletivos na cidade contemporânea. Dentre esses fenômenos de seletividade e indiferença ao “Outro” presentes nas relações do atual período histórico, surgem as ocupações espontâneas, que atuam como micro-resistências ao processo de homogeneização da cidade. Jacques (2012), em seu artigo “Experiência Errática”, cita o “Outro urbano” e o denomina como praticante das cidades, aqueles que a maior parte “[...] prefere manter na invisibilidade, na opacidade, e que, não por acaso, são os primeiros alvos da assepsia promovida pela maioria dos atuais projetos urbanos pacificadores, ditos revitalizadores”. (p. 195-196).

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Entretanto, é a presença desse “Outro” indesejável, que impulsiona a vitalidade e a pluralidade inerente aos espaços públicos, e que de forma subversiva, resistem às imposições mercadológicas promovidas pelo agente dominante de mercado em seu fascínio excessivo pela espetacularização da cidade. Rocha (2011), autor que também pesquisa o urbano em face aos espaços cotidianos, em seu trabalho “Espaços públicos coletivos e um design para o cotidiano”, ressalta: Gostaria de ressaltar a importância de um olhar mais próximo destas apropriações espontâneas em pequenas escalas como é o caso do cotidiano daquelas pessoas que estão intimamente ligadas aos espaços livres públicos para além de uma contemplação. Para elas, este espaço pode significar oportunidade de trabalho temporário, espaço de manifestação e afirmação, local de moradia, memória, aprendizado, lazer e socialização. (ROCHA, 2011, p. 04).

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O autor estabelece o pensamento de que uma extensa parcela da identidade cultural de um lugar “[...] é revelada em locais que solidificam o jogo concreto das relações sociais, a identidade e os valores impressos pelos distintos grupos que a compõem e que a legitimam” (ROCHA, 2011, p. 05) assim, é constatado que é no dia a dia desses locais, nessa tessitura social composta por múltiplas inclinações, que são criadas as afetividades da vida cotidiana. No livro intitulado Everyday Urbanism, de 2008, os autores Chase, Crawford e Kaliski apresentam um conceito intitulado “Urbanismo Cotidiano”, o qual estipula concepções sobre às despretensiosas apropriações públicas, onde a cidade se torna foco de ressignificações propiciadas pelos usuários do espaço. Britto e Jacques se posicionam em relação a esta concepção norte-americana e declaram que para elas, “O “urbanismo cotidiano” se dá conta da dimensão temporal e temporária do espaço, da relevância e variedade das presenças e especificidades locais”. (p. 123-124). Propondo não só soluções racionalizadas, mas sim, um posicionamento integral perante a cidade, englobando as multiplicidades dos modos de vida contemporâneos. 42


Desta forma, o urbanismo cotidiano exige um novo posicionamento do designer, de modo a favorecer o cidadão ordinário e solidificar a ideia de como o conhecimento transmitido no dia a dia opera como um agente nivelador entre profissionais da área e simples usuários do espaço. Por fim, conclui-se que é no imprevisível proporcionado pelas experiências urbanas, que reside o componente transformador e articulador da relação entre corpo e cidade. É estar aberto a situações que induzam, despertem e impulsionem os fenômenos das experiências urbano-corporais, estas, sustentadas pelo conceito da informalidade.

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novas ferramentas de apreensão do espaço O caminho é importante, além de como chegar a algum lugar. Vida que acontece nos intervalos entre os momentos em que se fixam. A terra é solo ou suporte escolhido segundo sua disponibilidade; é desterritorializada. Instalam-se em lugares vazios, como onde a floresta recua ou o vento se propaga. (BARBOSA, 2012, p.18-19)

Trabalhos que buscam uma nova forma de compreensão da cidade evidenciam a errância urbana como um modo de apreender a mesma, através de narrativas que reforçam a experiência corporal como fio condutor das práticas cotidianas, reiterando a importância do corpo como veículo de vivências, mediante às ações de seus praticantes. Dessa forma, é evidente que o apreender percorra por inúmeras esferas, tornando-se possível transpassar a barreira do que se é tangível e agregar novos significados ao meio, estando, assim, suscetível às imprevisibilidades e ao despertar de novas situações.

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Mediante essas questões de atuação e imersão na vida da cidade, o grupo dos Situacionistas¹, instituído no final dos anos de 1950, operou com uma postura crítica acerca dos impactos da modernização das cidades e da relação dos centros urbanos vinculados à vida cotidiana.

¹ O Movimento da Internacional Situacionista destaca-se devido à sua intensa postura política e artística, com desdobramentos críticos em relação aos modos de vida da época. Os membros desse grupo eram compostos por escritores, músicos, arquitetos e artistas marginais (em relação à ordem vigente), trabalhando o uso deliberado da arte com função estética e política simultânea.

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Paula Carpinetti Aversa (2018), em sua tese intitulada Passagens: encontros em artes, produções de vidas, aponta que Guy Debord, principal atuante do movimento, adotava uma conduta de repreensão, de “contra-cultura”, num período por ele designado como “sociedade do espetáculo”. Aversa (2018, p.23) afirma que o autor se negava a embarcar: [...] no enquadramento rígido, homogeneizante ou pasteurizante da vida cotidiana da situação social, realizando duras análises sobre os efeitos subjetivos de uma estrutura econômica opressora que exclui os usos a esfera afetiva da vida. (AVERSA, 2018, p.23).

Já Dimenstein (2014, p. 26), cita Debord em seu Relatório sobre “a construção de situações e sobre as condições de organização e de ação da tendência situacionista de 1957”. A autora reflete sobre as atribuições do teórico, que discorre sobre a recorrência da dominação racional coordenada pelos modos de produção e a consequente “decomposição ideológica” presente na civilização.

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Dimenstein (2014), ainda menciona que Debord dissemina noções sobre a construção de situações, tais quais funcionam simultaneamente, como “produto e instrumento” na construção de novas ambiências e comportamentos. Para tanto, vindo a utilizar “condutas cotidianas e formas culturais existentes”, mas de forma a questionar suas convicções. Desta forma, “[...] interagindo tanto com o espaço material da vida (a cidade), quanto com os comportamentos que ele provoca, acabavam realizando uma crítica às transformações da cidade em espetáculos urbanos [...]”. (p. 26). Dentre os conceitos elaborados pelos situacionistas, Moreira (2014. p.36) apresenta a “teoria da deriva”, que reportava o “perder-se” como um valor analítico, crítico e poético”. E define que “a deriva seria a apropriação do espaço urbano pelo pedestre através da ação do andar sem rumo”, seguindo os preceitos os quais Guy Debord nomeou de “psicogeografia”.

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Debord define o termo: A psicogeografia seria o estudo das leis exatas e dos efeitos precisos do meio geográfico, planejado conscientemente ou não, que agem diretamente sobre o comportamento afetivo dos indivíduos. O adjetivo psicogeográfico, que guarda uma imprecisão interessante, pode, portanto, ser aplicado aos dados estabelecidos por esse gênero de pesquisa, aos resultados de sua influência sobre os sentimentos humanos e até, de modo mais geral, a qualquer situação ou conduta que pareçam provir do mesmo espírito de descoberta. (DEBORD apud JACQUES, 2003, p. 39).

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Esses relatos de apropriação do espaço entrelaçam-se às novas formas de compreensão e experimentos metodológicos, nos quais as narrativas podem ser representadas por fotos, escritos, cartografias, filmes ou músicas. Um outro exemplo que também se inclui no processo de averiguação espacial é a colagem e a fotomontagem. De cunho situacionista, essas técnicas influenciadas pelo Dadaísmo, “são produto do acaso e do inconsciente, estabeleciam conexões inusitadas e enigmáticas, fora da lógica”. (AVERSA, 2018, p.19). Uma forte representante do movimento Dadaísta e precursora da fotomontagem, foi a artista alemã Hannah Höch, que em suas obras (figuras 05, 06 e 07), refletia a arte como um instrumento de protesto contíguo à técnicas inovadoras, contrapondo as escolas artísticas europeias da época.

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figuras 05, 06 e 07 © Hannah Höch, 1929 - 1965.

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Aversa (2018) também explana que conforme Max Ernst, [...] a técnica da colagem é a exploração sistemática do encontro casual ou artificialmente provocado de duas ou mais realidades estranhas entre si sobre o plano aparentemente inadequado e um cintilar de poesia que resulta da aproximação dessas realidades (ERNST apud PASSETTI, 2007, p.22).

Partindo dessa concepção de subjetividades e em busca de recursos metodológicos que permitam integrar e auxiliar essas narrativas de experiências urbanas, este trabalho, cujo o objetivo é identificar os usos e práticas informais da população de trechos da Av. Beira Rio, pretende mapear os hábitos, vestígios e impressões acerca do espaço estudado e registrar as múltiplas ramificações presentes nos setores sociais, culturais e urbanos da área estudada. Dessa maneira, elegemos trabalhar com uma narrativa em forma de colagens, no intuito de transparecer de modo mais eficaz as inúmeras experiências vividas no local de estudo, nos quais fusionem métodos de diferentes linguagens artísticas. 51


Sobre esses métodos visuais, Aversa (2018), afirma: Os dadaístas inauguraram a possibilidade de se valer da fotografia como novo material para inventar, misturando com estruturas bastante diversas e inusitadas, muitas vezes heteróclitas e antagônicas. Esses procedimentos de mesclagem resultou em uma forma de arte sem maiúsculo. “Assim, exatamente como queria dadá, arte e vida haviam acabado se misturando intimamente numa forma direta, transitória, contingente, na crônica de todos os dias, nos muros das ruas, nas vitrines” (MICHELI, 2004, p. 143).

Portanto, deduz-se que as formas de apreensão que se busca transmitir através da combinação dos recursos adotados, são vitais no que diz respeito a percepção dos setores mais largos do meio, que transpõem os pontos de vista, e submetem o sujeito às possibilidades proporcionadas pelo eventual, de forma a agregar sensibilidades na compreensão do todo.

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capítulo 02


diagnóstico da área 54

O capítulo 02 apresentará o diagnóstico da área estudada, apresentando os mapas de uso e ocupação do solo e cheios e vazios, além de um breve esclarecimento sobre a relevância das atividades espontâneas e suas relações de usos, vinculado aos primeiros resultados das observações realizadas em campo e catalogação das atividades existentes na Beira Rio (mapas 05 e 06), explanando a conexão entre os sujeitos da pesquisa e o espaço ocupado por eles.


mapa de uso e ocupação do solo

Analisando o mapa de uso e ocupação do solo (mapa 03), podemos observar que há uma predominância de uso comercial no Centro, como também nos bairros da Torre e Expedicionários. Mas ao longo da Avenida, em direção ao litoral, o perfil vai se modificando, de modo aumentar a quantidade de residências e demais usos. Contudo, o uso comercial ainda prepondera sobre os outros.

Fonte: Google Maps. Editado pela autora. 2019.

Cabo Branco

Miramar

Tambauzinho

Expedicionários

Torre

Centro

Mapa 03: Mapa de Uso e Ocupação do Solo da Av. Beira Rio e representação dos bairros ao longo da via.

Uso comercial Uso residencial Uso institucional Lotes vazios Outros

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mapa de cheios e vazios

O seguinte mapa (mapa 04) apresenta a incidência de lotes cheios e vazios ao longo da Beira Rio. Constatou-se que a maioria dos lotes ocupam as quadras de forma condensada e existem poucos vazios, estes, dispostos nos pontos mais extremos da Avenida.

Mapa 04: Mapa de Cheios e Vazios da Av. Beira Rio.

Cheios Vazios Fonte: Google Maps. Editado pela autora. 2019.

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atividades espontâneas e suas relações de usos

Em estudos recentes, Jean Paul Thibaud (2012), manifesta-se a respeito das relações referentes ao ambiente urbano como algo heterogênio, que necessita ser praticado, apropriado. Aponta que “Ambientar um espaço convoca uma dimensão social e estético relativa à qualidade de vida e bem-estar dos citadinos”. (p.32). O autor afirma que se torna indispensável “introduzir o plano afetivo na composição dos espaços”, e explica que “Tratasse de reconhecer a diferença entre um meio ambiente e uma ambiência”. (p. 32). Esquematicamente, pode-se dizer que uma ambiência é o que dá vida a um meio ambiente, o que lhe confere um valor afetivo. Ambientar um território supõe não apenas controlar os parâmetros físicos de um meio ambiente construído, mas de dotar esse território de um determinado caráter, de um certo valor emocional e existencial. Toda ambiência mobiliza as experiências vividas e as maneiras de se estar juntos. (THIBAUD, 2012, p. 32).

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Outro autor que evidencia o elo entre os usos e atividades exercidas no espaço público, é Jan Gehl. Em seu livro, La Humanización del espacio urbano, Gehl (2009) indica que o indivíduo necessita realizar sucessivas atividades pela cidade, e que a mesma, deveria propiciar o desenvolvimento dessas práticas. Logo, procedemos da concepção apresentada por esses autores de que existe uma interdependência entre a configuração dos edifícios e a disposição dos espaços urbanos, tais quais afetam diretamente na nossa postura de interventores do espaço e na capacidade de favorecer ou inibir os possíveis usos.

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atividades encontradas na beira rio

Buscando investigar e expor os primeiros objetivos do trabalho - identificar e registrar as experiências cotidianas exercidas pelos moradores e usuários da Avenida – partimos da conformação das múltiplas atividades conceituadas por Jan Gehl (2009). As quais seriam: atividades necessárias, opcionais e sociais. Foi possível catalogar essas atividades a partir das visitas à campo (tabela 02) e da observação atenta do espaço. Para propiciar um maior entendimento e noção espacial ao leitor, além da tabela, serão expostos nos mapas 05 e 06, os dois principais trechos com maior concentração de pessoas atuantes (moradores e usuários) e atividades encontradas (necessárias, opcionais e sociais) no espaço público da Avenida Beira Rio.

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O primeiro recorte está situado entre os bairros da Torre e Expedicionários. Tal trecho, apresenta um elevado fluxo de pessoas, especialmente nas calçadas. A área acaba por ser dinamizada principalmente por uma praça (Praça Pe. Hildon Bandeira) localizada nas imediações, onde, na maior parte do tempo, comporta diversas atividades.

Mapa 05: Recorte 01 de trecho da Av. Beira Rio e seus pontos de referência. Legenda: Av. Beira Rio Ativ. Sociais Ativ. Opcionais Ativ. Necessárias

Ginásio Pe. Hildon Bandeira Praça Pe. Hildon Bandeira Hospital Alberto Urquiza Wanderley Unimed João Pessoa Fonte: PMJP - Prefeitura Municipal de João Pessoa. Editado pela autora. 2019.

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O segundo recorte, localiza-se um pouco mais próximo ao litoral, entre os bairros de Tambauzinho e Cabo Branco. Neste, é possível encontrar inúmeras atividades e práticas cotidianas recorrentes, sobretudo no canteiro e nas calçadas, animando a área.

Mapa 06: Recorte 02 de trecho da Av. Beira Rio e seus pontos de referência. Legenda: Av. Beira Rio Ativ. Sociais Ativ. Opcionais Ativ. Necessárias

Espaço Cultural Chácara José Lins do Rêgo Paraíso TV Master Fonte: PMJP - Prefeitura Municipal de João Pessoa. Editado pela autora. 2019.

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Com base no apresentado, e após a catalogação das atividades presentes nos mapas 05 e 06, serão expostos, de forma mais detalhada, a definição de cada atividade e a descrição das mesmas, identificadas nos dois trechos da Av. Beira Rio. Sendo estas: Atividades necessárias: Essas atividades são aquelas que presenciamos em meio ao cotidiano. Geralmente independem de fatores externos e não sofrem influência do ambiente físico. Portanto, foram identificadas nos trechos da Avenida: pessoas caminhando até o ponto de ônibus, deslocamentos de pedestres, bicicletas, carrinhos móveis de vendedores ambulantes, etc.

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Imagens 04, 05, 06, 07 e 08 Fonte: Registrado pela autora. Agosto de 2019.

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Atividades opcionais: São aquelas realizadas a partir do querer, como também se as condições climáticas e o lugar despertarem o desejo de permanência. Logo, o aspecto físico do espaço possui uma importância fundamental para a ocorrência dessas atividades. Foram identificadas: pessoas conversando, caminhando, descansando em bancos improvisados, praticando esportes, fazendo atividades físicas, etc.

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Imagens 09, 10, 11, 12 e 13 Fonte: Registrado pela autora. Outubro de 2019.

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Atividades sociais: As atividades sociais acontecem de forma espontânea e necessitam da existência de outras pessoas nos espaços públicos. Também conhecidas como atividades resultantes, quando em sintonia com as demais atividades: necessárias e opcionais. Como exemplo: a reunião entre amigos para beber, comer, ouvir música, jogos de tabuleiro, etc.

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Imagens 14, 15, 16, 17 e 18 Fonte: Registrado pela autora. Outubro de 2019.

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capítulo 03


diário de campo: colagens e relatos

Perante o exposto, e após o diagnóstico da área, foi possível compreender e melhor visualizar as atividades e práticas informais desenvolvidas pelos moradores e usuários da Avenida Beira Rio. No capítulo 03, pretendemos dispor um resultado de análises, através do diário de campo e de colagens, acerca das impressões da autora em meio a área de estudo. Para sistematizar o resultado de análises, categorizamos tudo em três eixos, que diz respeito aos principais sentimentos e sensações despertados pela autora. Eles foram: Vitalidade, Insegurança e Contraste. Estes, manifestados nos seguintes pontos: Mapa 07: Trechos dos sentimentos e sensações despertados pela autora na Av. Beira Rio.

Av. Beira Rio Vitalidade Insegurança Contraste Fonte: PMJP - Prefeitura Municipal de João Pessoa. Editado pela autora. 2019.

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A seguir, serão apresentados trechos do diário de campo da autora, a fim de refletir sobre os três principais eixos anteriormente mencionados: Vitalidade, Insegurança e Contraste. Contíguo aos trechos, estarão as colagens (figuras 08, 09, 10), elaboradas a partir da mescla de diferentes componentes visuais, estes, compostos com base na sobreposição de fotografias do espaço estudado associado a desenhos vetoriais que venham a reforçar visualmente as impressões da autora na compreensão integral da área.

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vitalidade

OC U

PE

O CUPE O CU

A cidade viva emite sinais amistosos e acolhedores com a promessa de interação social. Por si só, a simples presença de outras pessoas sinaliza quais lugares valem a pena.

PE

(GEHL, 2015, p. 63)

“É zoada que não tem fim! É tanto movimento, é bicicleta passando, barulho de carro, de ônibus, de conversa, de grito, de música, de vida. Quase sempre tem gente na rua, principalmente à tardinha, quando o sol tá menos quente e a brisa vem pra refrescar e secar todo suor que acompanha o fim do dia. É nessa hora, que a beira da calçada e o canteiro começam a ser ocupados, ou por cadeiras ou por qualquer outro tipo de coisa que venha a servir como assento, já vi até sofá, não tem cerimônia. Já à noite, é uma festança, botam as mesas nas calçadas e o paredão de som pra tocar, quase que um boteco, ali mesmo, como se diz, no meio da rua. Só vejo o pessoal dançando, animado e conversando alto, quase que aos berros. Acho engraçado e fico até com vontade de me juntar aquela farra toda.” figura 08 © Rafaela B. Melo, 2019.

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insegurança

Ser capaz de caminhar com segurança no espaço da cidade é um pré-requisito para criar cidades funcionais e convidativas para as pessoas. Real ou percebida, a segurança é crucial para a vida na cidade. (GEHL, 2015, p. 97)

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E PARE PAR P figura 09

72 © Rafaela B. Melo, 2019.

“Ao caminhar, gosto de me atentar aos perfis, gestos e olhares que esbarram por mim. E muitas vezes, me sinto desconfortável, quase que uma intrusa perante aqueles olhos desconfiados que me fitam, sem saber quem sou ou por que estou ali, transitando por aquelas bandas. Em trechos menos movimentados e mal iluminados, o caminhar me parece perigoso, a sensação de vulnerabilidade aumenta. Além do mais, os carros têm pressa, parece uma corrida, mas do tipo que ninguém ganha. Vejo “quase acidentes” frequentemente, motoristas desatentos e muitas vezes atentos, fingem não ver o pedestre que anseia atravessar. É um caos instalado rodeado por outdoors.”


(GEHL, 2015, p. 63)

“Como pode haver tanta dessemelhança em um mesmo lugar? Quando olho pra cima vejo prédios tão altos que mal consigo enxergar o topo. Parece até um reino, de difícil acesso e para poucos. Ao mesmo tempo, lá no fundo, vejo o que me parece ser um telhado, mas desta vez consigo ver o topo, tem até uma antena de televisão, daquelas bem antigas. Me impressiono ao observar a dualidade presente na paisagem, dois mundos tão diferentes, mas que no fim das contas, habitam o mesmo espaço.”

IN

NFORMAL INFO RMAL I L A RM FO

contraste

FORMAL FO R M AL A L FORM

Por fim, gradativamente, as forças de mercado e as tendências arquitetônicas afins mudaram seu foco, saindo das inter-relações e espaços comuns da cidade para os edifícios individuais, os quais, durante o processo, tornaram-se cada vez mais isolados, autossuficientes e indiferentes.

figura 10 © Rafaela B. Melo, 2019.

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considerações finais

Este trabalho buscou analisar e desvendar as práticas informais encontradas na Avenida Beira Rio por meio de múltiplas ferramentas metodológicas, as quais nortearam todos os processos de desenvolvimento da pesquisa, desde a averiguação até a conclusão da mesma. Desta forma, através da exploração da paisagem urbana, da apreensão dos sentidos através do corpo e da observação meticulosa do espaço, foi possível constatar que a Beira Rio é um local que habita o plural. Um conglomerado de ambiências, pessoas, cores e visuais capazes de despertar uma infinidade de sentimentos e experiências sensoriais. Por fim, esperamos que os resultados expostos neste trabalho incite a reflexão sobre o exercício da alteridade nos atuais espaços urbanos, estimulando experiências genuinamente vitais entre corpo e cidade.

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