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DERIVA OUTUBRO 2018
Só quem anda a pé descobre e sente a cidade POR:CAMILA ALMEIDA
Design urbano e
Urbanismo tático
prevenção do crime
POR: CARLA PEIXOTO
POR: CAMILO ROCHA
mobilidade urbana e igualdade de gênero Pensar a mobilidade urbana tem tudo a ver com a luta pela igualdade de oportunidades entre homens e mulheres
Becos e esquinas: exposições, artes e muito mais POR: LARA FROTA
DERIVA OUTUBRO 2018
Diretora da Redação: CLARA MACHADO Redatora Chefe: LUISA COSTA Diretora Comercial: CARLA PEIXOTO
Conselho Editorial: LUISA FIRMINO, CARLOS GADELHA, JORGE BEN JOR, GAL COSTA
Editora Chefe: BEATRICE ARRAES
Assinaturas: assinaturas@revistaderiva.com
Ilustrações: CATARINA BESSELL
DERIVA é uma publicação da Editora Abril, Fortaleza, Av. da Universidade, 2853 - Benfica, Fortaleza - CE, 60020-181
QUEM SOMOS A Revista DERIVA vem com a proposta de reconexão com o urbano. Por vezes nos perdemos diante da rotina caótica do ambiente urbano. Deixamos passar todos os dias dezenas de pequenas subjetividades e poesias que nem imaginamos. Refletir sobre o espaço que ocupamos e acerca de tudo que nos circunda também faz parte do nosso papel de cidadãos. Contando histórias da nossa gente, dos nossos parceiros. Do que nós somos e nos orgulhamos cada vez mais de ser.
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SUMÁRIO
SÓ QUEM ANDA A PÉ DESCOBRE E SENTE A CIDADE
p. 8/9
BIFURCAÇÃO VIA SECUNDÁRIA VIA PRINCIPAL BECOS
COMO O DESIGN URBANO PODE AJUDAR NA PREVENÇÃO DO CRIME?
p.10/13
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MOBILIDADE URBANA E IGUALDADE DE GÊNERO
p.14/ 17
BECOS E ESQUINAS: UM APANHADO DAS MELHORES EXPOSIÇÕES DE DESIGN, NOVOS NOMES NA FOTOGRAFIA E ARTISTAS VISUAIS
p. 17/18
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BIFURCAÇÃO
só quem anda a pé descobre e sente a cidade
POR: CAMILA ALMEIDA
O que é? Camila Almeida explica por que andar a pé é a experiência que define as cidades – e como ela descobriu isso caminhando pelo centro de São Paulo. Quando vim retirante do Recife para São Paulo, para tentar a vida nessa megalópole que acolhe tantos migrantes como eu, queria morar no centro. Estrangeira que era (e sou), não tinha repertório ou preconceito algum, nem saberia relacionar cada bairro com sua fama. Pensava apenas em morar perto do metrô, de preferência da linha amarela, para me dar o luxo de não precisar fazer baldeação no caminho de ida e volta para o trabalho. Há um ano e meio, moro pertinho da estação República. Assim que cheguei, fazia todos os programões turísticos de metrô. Saía da estação São Bento para comer sanduíche de mortadela no Mercadão e comprar bugiganga na 25 de março; saltava na Liberdade para me esbaldar no karaokê; descia na Luz para ir à Pinacoteca, ao Museu da Língua Portuguesa ou garimpar roupas novas na José Paulino.
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No metrô, o passatempo é assistir às fofocas requentadas na televisão, enquanto seguimos desconhecendo os caminhos.
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BIFURCAÇÃO
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“Se os contatos interessantes, proveitosos e significativos entre os habitantes das cidades se limitassem à convivência na vida privada, a cidade não teria serventia.”
” Conhecia mesmo era o subsolo, sempre guiada pela moça que gentilmente nos avisa sobre a próxima estação. A cada ir e vir, gastava R$ 7 num transporte que me impedia de ir olhando as ruas pela janela, como acontece quando nos deslocamos de ônibus. Lembro até hoje o que me fez repensar minhas rotas. Num sábado, decidi sair para comprar algumas coisas para a casa. Fui a pé para a Santa Ifigênia, que é perto de casa, mas, de lá, decidi ir à 25 de março.
duas: Luz e São Bento (ambas a menos de 700 metros de distância). Queria ter visto a cara de espanto que eu fiz na hora. Pela primeira vez, em vez de descer as escadas rolantes da cidade para chegar a algum lugar, caminhei de verdade pelo centro. Voltei para casa dando pulinhos de alegria, porque, afinal, agora eu morava perto do meu amado pastel de camarão com requeijão do Mercado Municipal e só minhas pernas nos separavam.
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E ali nasceu o estalo de começar a descobrir a cidade por cima, no mesmo plano por onde circulam os ônibus, os táxis, os carros, os ciclistas e os pedestres. Por muito tempo, fui dependente do Google Maps para conseguir caminhar até os destinos que eu queria, porque não fazia ideia das ruas que deveria pegar. Acabei me descobrindo a menos de dois quilômetros de distância de vários destinos que eu frequentava.
VIA SECUNDÁRIA
COMO O DESIGN URBANO PODE AJUDAR NA PREVENÇÃO DO CRIME POR: CAMILO ROCHA
Criado na década de 1970, o conceito de reduzir a criminalidade por meio do desenho urbano e da arquitetura é adotado por forças policiais e comunidades em vários países
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VIA SECUNDÁRIA
Diante da criminalidade, a resposta do poder público costuma aparecer por meio da força e da repressão. No Rio de Janeiro, isso não raro se traduz em violentas incursões em comunidades com elevado saldo de mortos e feridos. Duas comunidades da cidade estão demonstrando que há uma outra via possível, conforme destacado em uma série de quatro matérias do site Rio on Watch, veículo de informações sobre essas localidades. Essa via inclui ações bem mais prosaicas, que incluem desde a limpeza de praças, o reparo da iluminação pública, até ao fortalecimento dos laços entre vizinhos e da participação coletiva.
Acima de tudo, são atitudes de prevenção, ou seja, não vêm como resposta a crimes, mas procuram se antecipar a eles. “O governo gasta dinheiro para combater o crime e usa ações paliativas para combater traficantes, mas prevenir o crime não é parte importante do trabalho deles”, disse Carlos Alberto Costa, o “Bezerra”, ao RioWatch. Bezerra é ex-líder da associação de moradores da favela Asa Branca, em Curicica, Zona Oeste da cidade, mas que segue atuando em prol dos interesses comuns da área. Na comunidade de Asa Branca, os moradores instalaram iluminação em áreas comuns.
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Ruas mais estreitas são retilíneas, permitindo enxergar a via inteira pela janela. Também não existem paredes grandes sem janela. Plantas ficam em vasos, e nenhuma é grande o bastante para tampar a visão. Já na favela Babilônia, no Leme, Zona Sul, se planeja a limpeza e iluminação de praças para servirem de pontos de encontro da comunidade “A criação de um espaço compartilhado e público está ligada à segurança pública, como no resto da cidade. As luzes prevenirão a violência. Tudo isto é óbvio”, explicou André Constantine, da associação de moradores da comunidade.
VIA SECUNDÁRIA
TERRITORIALIDADE Ao definir com clareza a propriedade do espaço, se público ou privado, por meio de barreiras físicas ou simbólicas, é possível engajar as pessoas em seu cuidado. MONITORAMENTO Certos tipos de projetos arquitetônicos, na maneira como posicionam janelas, entradas e espaços, dão aos moradores a possibilidade de vigiar melhor o que está acontecendo nos locais em que moram.
IMAGEM E MEIO Certos tipos de desenho de prédio podem influenciar a percepção do espaço, promovendo lugares limpos, organizados e com manutenção adequada.
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A criação de um espaço compartilhado e público está ligada à segurança pública, como no resto da cidade. As luzes prevenirão a violência. Tudo isto é óbvio
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VIA PRINCIPAL
MOBILIDADE URBANA E IGUALDADE DE GÊNERO POR: CARLA PEIXOTO
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VIA PRINCIPAL
Pensar a mobilidade urbana tem tudo a ver com a luta pela igualdade de oportunidades entre homens e mulheres
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VIA PRINCIPAL
Todas famílias passam por momentos de organização da logística do dia a dia. Se o casal é solteiro e não tem carros, eles podem combinar de saírem juntos para a estação ou terminal; se têm apenas um carro, os dois eventualmente agendam caronas entre eles; e, se há filhos nessa história, a programação da rotina ganha ares de organização empresarial, com horários pré-definidos e planos para otimizar os deslocamentos pela cidade. É insuficiente analisar a necessidade — e a capacidade — de mobilidade de uma pessoa sem levar em conta esse contexto social, econômico, político e cultural, isto é, os aspectos domésticos, familiares e financeiros. Foi esse o princípio que levou a engenheira Haydée Svab a investigar, em sua tese de mestrado, o impacto do gênero nos padrões de deslocamento na região metropolitana de São Paulo. O quanto o gênero do passageiro influencia a quantidade de horas no trânsito, o número de viagens no transporte público ou os deslocamentos a pé pela cidade?
Transformação do papel da mulher mudou a mobilidade urbana
É evidente que o momento em que as mulheres “ganham a rua”, seguindo as palavras de Svab, é fundamentalmente associado ao aumento da participação feminina no população economicamente ativa e ao crescimento da renda individual. Ao mesmo tempo, evidências sugerem que nas diversas classes sócio-econômicas as mulheres que trabalham ainda continuam sendo as principais responsáveis pelas tarefas domésticas e pelo cuidado com as crianças.
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Ao trabalhar com os dados dos levantamentos de Origem e Destino da Companhia do Metrô, a pesquisadora da Universidade de São Paulo levou em conta os arranjos familiares. Ela analisou variáveis, como: a influência das viagens cujo motivo não seja o trabalho, a distribuição do uso do automóvel entre os membros da família, a presença de crianças de até 14 anos, a faixa de renda familiar, a renda individual e o grau de instrução da pessoa.
VIA PRINCIPAL
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Não basta estar conquistando cada vez mais posições de relevância em todo o mercado de trabalho, muitas mulheres continuam sendo as principais responsáveis pela casa e pelos filhos.
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Ao trabalhar com os dados dos levantamentos de Origem e Destino da Companhia do Metrô, a pesquisadora da Universidade de São Paulo levou em conta os arranjos familiares. Ela analisou variáveis, como: a influência das viagens cujo motivo não seja o trabalho, a distribuição do uso do automóvel entre os membros da família, a presença de crianças de até 14 anos, a faixa de renda familiar, a renda individual e o grau de instrução da pessoa.
BECOS
B E C O S E E S Q U
O Concurso Público Nacional de Ideias para Elementos de Mobiliário Urbano da Cidade de São Paulo, organizado pela SP Urbanismo, teve seus vencedores anunciados em 29 de novembro. O concurso buscou selecionar as melhores propostas para nove elementos ou famílias de elementos mobiliários: quiosques, sanitários públicos, abrigos em ponto de parada de táxi, papeleiras, bebedouros, paraciclos, balizadores e guarda-corpos.
O Prêmio Design MCB é realizado desde 1986 pelo Museu da Casa Brasileira, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. A premiação, mais tradicional do segmento no país, revela talentos e consagra profissionais e empresas. O Prêmio é dividido em dois momentos principais: o Concurso do Cartaz e, em seguida, a premiação dos produtos e trabalhos escritos.
Amanda Monasterio é fotógrafa, nascida no Rio de Janeiro e formada em Jornalismo pela UFRJ. Seup rojeto fotográfico mostra a esperança nas ruas e, por fim, quebra os paradigmas de que vivemos em uma sociedade inconsciente e silenciosa.
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BECOS
I N A S Catarina Bessell é uma artista e ilustradora formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Apesar de ser formada como arquiteta, a artista considera a sua formação que partiu das leituras extracurriculares da biblioteca, das experiências de viagens e das noites de insônia dedicadas à literatura. Num mix de ilustrações e colagens, Catarina expressa sua paixão pela astronomia, trabalha o feminino e contesta a política com elegância.
Como se utilizasse o Photoshop só que com as próprias mãos, o artista inglês Joe Webb usa revistas e jornais antigos para reinventar imagens com colagens, usando edições bem simples e transformando a cena original em algo surreal. Sem esquecer, claro, as críticas ao que considera serem os principais problemas nos dias de hoje.