Paraísos Urbanos: diretrizes para a ativação de córregos ocultos.

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PARAÍSOS URBANOS

DIRETRIZES PARA A ATIVAÇÃO DE CÓRREGOS OCULTOS.



UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO ARQUITETURA E URBANISMO Bianca Oliveira Ferreira

PARAÍSOS URBANOS DIRETRIZES PARA A ATIVAÇÃO DE CÓRREGOS OCULTOS.

Trabalho final de graduação apresentado ao curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco, desenvolvido pela aluna Bianca Oliveira, sob orientação da Professora Andréa Câmara, como requisito parcial para obtenção do grau de arquiteta urbanista.

Recife Junho - -2021 Outubro 2020


Figura 01: barqueiros no evento Há Gosto Pelo Capibaribe. Fonte: acervo pessoal da autora, 2019.


“A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro; uma fruta por uma espada.” O Cão Sem Plumas, João Cabral de Melo Neto (1949).


Figura 02: Reading Broadacre, Frank Lloyd Wright. Fonte: Frank Lloyd Wright Foundation (2018), disponível em https://franklloydwright.org/reading-broadacre/.


AGRADECIMENTOS Ao meu pai, com quem desde cedo aprendi a importância dos estudos e o respeito pelos profissionais da educação. Quem primeiro viu em mim uma arquiteta e urbanista. À minha mãe, minha maior incentivadora, com quem hoje posso compartilhar conquistas acadêmicas. À minha madrasta, pois sem ela nada disso seria possível. À minha orientadora Andrea Câmara, pelos encontros com máscara e distanciamento social, mas cheios de paciência e diálogo. Pela oportunidade de construirmos juntas duas importantes pesquisas e por me proporcionar minha primeira publicação internacional. À professora Clarissa Duarte, por acreditar no meu potencial e me incentivar a quebrar barreiras continentais. À professora Ana Luisa Rolim, pelo incentivo nessa reta final, em especial na aplicação para a Norman Foster Travelling Schoolarship. Aos demais professores do curso, em especial às professoras Andrea Storch, por me ajudar a dar o pontapé inicial nesse trabalho, Paula Maciel, pela coordenação excepcional e Lourdinha Nóbrega, pelo amor incondicional por paisagismo. À parceria Unicap Icam – TECH e às professoras Andrea Câmara e Clarissa Duarte, pelo convite para participar do Workshop Internacional Espace Coworking, no Icam Toulouse, infelizmente suspenso pelas restrições impostas pela pandemia da COVID-19. Ao programa PIBIC Unicap, por fomentar a ciência dentro da universidade e colaborar com a formação de pesquisadores. À Adriana Asfora, Evelyn Schor e Tatiana Oliveira, pela oportunidade de ingressar no mundo profissional e por compartilhar comigo seu conhecimento. À Larissa e Nathalya, pelo companheirismo e paciência de fazer projeto comigo. Às amigas-irmãs que me acompanham há vinte anos e que dividem comigo cada conquista. 05



SUMÁRIO INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................................................09 1. NARRATIVA.....................................................................................................................................................................................13 2. JUSTIFICATIVA.................................................................................................................................................................................17 2.1. Panorama Socioambiental...........................................................................................................................................................18 2.2. Problema Urbanístico..................................................................................................................................................................20 3. OBJETIVOS......................................................................................................................................................................................22 3.1. Objetivo Geral..............................................................................................................................................................................22 3.2. Objetivos Específicos....................................................................................................................................................................22 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................................................................................................................24 5. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA...............................................................................................................................................................27 5.1. Sistema Integrado de Espaços Abertos.........................................................................................................................................28 5.2. A Biofilia à Luz do Urbanismo Sustentável...................................................................................................................................29 5.1.1. Espaços Abertos........................................................................................................................................................31 5.1.2. Produção de Alimentos.............................................................................................................................................32 5.3. Paisagens Urbanas Produtivas e Contínuas..................................................................................................................................34 5.3.1. Conceituação.............................................................................................................................................................34 5.3.2. Benefícios.................................................................................................................................................................34 5.3.3. Implementação.........................................................................................................................................................36 6. TERRITÓRIO.....................................................................................................................................................................................39 6.1. Suporte Natural do Território........................................................................................................................................44 6.2. Diagnóstico..................................................................................................................................................................56 7. PRECEDÊNCIAS PROJETUAIS............................................................................................................................................................60 7.1. Weiliu Wetland Park.....................................................................................................................................................62 7.2. Waterline Square Park..................................................................................................................................................69 7.3. Organopônico La Sazon................................................................................................................................................73 8. A PROPOSTA...................................................................................................................................................................................78 8.1. Diretrizes Projetuais.....................................................................................................................................................79 8.1.1. Aplicação das Diretrizes no Riacho Parnamirim.........................................................................................83 8.2. Estratégias de Desenho................................................................................................................................................88 8.3. Programa e Pré-dimensionamento..............................................................................................................................83 8.4. Visão Espacializada das Diretrizes.................................................................................................................................92 8.5. Aplicação das Estratégias de Desenho..........................................................................................................................98 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................................................................117 10. REFERÊNCIAS..............................................................................................................................................................................125



INTRODUÇÃO


INTRODUÇÃO O trabalho a seguir objetiva estabelecer diretrizes para a ativação de riachos urbanos através da implementação de paisagens urbanas produtivas contínuas (P.U.P.C.) (BOHN, VILJOEN, 2005). Estas diretrizes devem colaborar com o fomento de produção de alimentos não só por meio da agricultura urbana (cultivo de frutas, legumes e hortaliças em centros urbanos), mas também do plantio de árvores frutíferas, bem como com a revitalização de espaços públicos em contextos irrigados. Além disso, devem apresentar caráter metodológico e linguagem universal, podendo ser aplicadas em qualquer situação de córrego e/ou riacho, tornando-o uma paisagem ambiental, econômica e sociologicamente produtiva. Para este estudo, foi escolhido um dos recortes do Rio Capibaribe que ainda encontra-se expressivamente capilarizado, situado na Zona Norte da Cidade de Recife, entre os bairros Casa Forte, Cordeiro, Iputinga e Parnamirim. A aplicação das diretrizes se dá na quadra referente ao Riacho Parnamirim, contida no bairro de mesmo nome, na qual encontra-se um braço remanescente do rio em situação de obsolescência. Esta especulação projetual está atrelada aos conceitos de biofilia (FARR, 2013) e de sistema integrado de espaço aberto (OLMSTED apud MCMAHON, 2000).

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A presente pesquisa está pautada no desenvolvimento de cidades mais sustentáveis, visando diminuir o impacto causado tanto pelo atual modelo agropecuário de produção de alimentos, quanto pela falta de planejamento da expansão urbana desenfreada. Sabe-se que cidades no mundo inteiro estão em crescimento constante, e este aumento no contingente de pessoas tem consequências diretas na densidade de centros urbanos e no abastecimento alimentício destas comunidades. Para atender a essa demanda social, a produção de alimentos vem se

tornando cada vez mais industrializada e afastada do seu local de consumo, acarretando em um maior desprendimento de energia e emissão de CO2 no transporte para distribuição destes alimentos, e no distanciamento dos seres humanos das frutas e legumes que os nutrem, bem como da natureza propriamente dita. Além disso, a ocupação do solo permeável compromete o escoamento superficial das águas das chuvas. Os usos contemporâneos do solo urbano têm alterado radicalmente os padrões históricos e estáveis da hidrologia preexistente e, consequentemente, da qualidade da água (FARR, 2013). A alternativa sustentável para a gestão da água pluvial são os sistemas de biorretenção adequados para contextos urbanos, como valas de drenagem gramada, biodigestores, piso permeável e bacias de retenção naturalizada. Dessa forma, a escolha de riachos remanescentes como objeto de estudo é justificada não só por determinar o caráter de continuidade estabelecido nas diretrizes de implementação da P.U.P.C., mas também por atuarem como pequenas bacias de retenção naturalizadas, colaborando com o escoamento de águas pluviais. Um planejamento urbano alinhado com as demandas da sustentabilidade não prevê apenas a acomodação da população acrescida e alternativas sustentáveis às problemáticas anteriormente apresentadas, mas também o desenvolvimento projetual da infraestrutura verde das cidades, ou seja, a integração de praças, parques, corredores verdes e frentes d’água com a malha urbana existente. Para cidades planejadas, a predição da infraestrutura verde no plano diretor facilita a implementação de espaços verdes em locais estratégicos. Entretanto, entende-se que a implantação destes espaços em situações preexistentes é um desafio muito maior, como é o caso da área de estudo em questão, o que significa que esta


encontra-se ainda mais carente de espaços abertos. A instalação de equipamentos urbanos nesse contexto pode ser alcançada através da apropriação de lotes subutilizados, espaços urbanos obsoletos, ou até mesmo por iniciativas privadas. Estas áreas verdes podem ainda adquirir um caráter produtivo, tanto âmbito econômico, quanto ambiental e sociológico, a partir da implementação de paisagens produtivas. Através da produção local, comunitária e sustentável de alimentos orgânicos, é possível alcançar não só a ativação do espaço público, mas também o fomento de atividades culturais, educacionais e recreativas. A agricultura urbana também incentiva a abertura de mercados agroecológicos destinados ao abastecimento da população, estimulando mudanças no fluxo de caixa e discussões acerca de hábitos de consumo preestabelecidos. A pauta da sustentabilidade possui demandas diversas, todas com a sua devida urgência. Entretanto, é preciso rever de imediato hábitos alimentares e padrões de consumo que comprometem diretamente a preservação de sistemas naturais, visto que o atual modelo de produção de alimentos trata-se da indústria mais destrutiva para o planeta, a agropecuária. Este estudo, além de defender a ativação do espaço urbano, é um convite à reflexão individual do leitor acerca dos alimentos que põe à mesa. Este trabalho inicia-se com a narrativa, que apresenta a problemática da proposta a ser desenvolvida. Em seguida, tem-se a justificativa, a qual demonstra a importância da abordagem do tema, tanto no aspecto socioambiental, quanto no urbanístico. Logo após, tem-se os objetivos, que são divididos entre geral e específicos, e as estratégias para atingi-los serão explicitadas na etapa seguinte, referente aos procedimentos metodológicos. Logo após, tem-se a conceituação temática, que visa expor como a revisão bibliográfica selecionada irá contribuir para o desenvolvimento da proposta do trabalho.

Esta é abordada a partir de três segmentos distintos, porém intrinsecamente relacionados. O primeiro trata-se da infraestrutura verde nas cidades, ou seja, do planejamento urbano integrado aos espaços verdes. Em seguida, aborda-se a relação indissociável entre os seres humanos e a natureza, bem como sua aplicação em projetos urbanísticos. A conceituação temática encerra com a questão da agricultura urbana e de paisagens produtivas. Juntas, estas temáticas atuam como diretrizes para a ativação de riachos urbanos, pautadas no desenvolvimento de cidades mais sustentáveis. Após a conceituação temática, houve a análise do território. Esta foi realizada através das questões abordadas nos objetivos traçados e na conceituação. As precedências projetuais analisadas também seguiram essa linha. Por fim, iniciou-se a parte da proposta, que contemplou as diretrizes projetuais, programa e pré-dimensionamento e as simulações iniciais. As diretrizes projetuais colaboram com o estabelecimento de estratégias de desenho, as quais, por sua vez, estão ilustradas no resultado desta especulação, etapa denominada “visão espacializada das diretrizes”.

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1. NARRATIVA


1. NARRATIVA A concepção de paraíso é advinda de uma construção social e varia de acordo com as crenças de cada culto, comunidade e/ou indivíduo. No Ocidente, desde os hortus conclusus dos monastérios da Idade Média (Figura 03), até os jardins ingleses do século XVIII, o homem tenta aproximar-se do paraíso através de uma busca pela recriação do Jardim do Éden, primeiro lar da humanidade, como descrito no livro de Gênesis (MOZAS e PER, 2019). Esta busca ilustra a relação indissociável do ser humano com a natureza, e é um dos fatores responsáveis pela idealização do que hoje entende-se por paisagismo.

Figura 03: Madonna e Santos no Jardim do Paraíso, Maestro dell’alto Reno. Fonte: Wikipedia (2020), disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Upper_Rhenish_Master.

propõe diferentes estratégias para acomodar o desenvolvimento da cidade em harmonia com o território rural ou presença de vegetação. No caso da Cidade Linear (Figura 04), projeto para um bairro experimental na periferia de Madrid, Sora y Mata propõe hortas e jardins individuais. “A cada família, uma casa. A cada casa, uma horta e um jardim.” (MATA, 1882).

Howard, por sua vez, apresenta na proposta de Cidade Jardim (Figura 05) um sistema radial de bulevares que percorrem toda a extensão dos bairros, além de um parque e jardim centrais que atendem a toda população. Este segundo modelo nunca foi posto em prática sob a justificativa de não levar em consideração as particularidades de cada cidade.

Figura 04: Cidade Linear de Sora y Mata. Fonte: wikiwand, disponível em https://www.wikiwand.com/en /Linear_city.

A partir do século XIX, o paisagismo passa a estruturar-se nas cidades por meio de uma versão preliminar de planejamento urbano, em resposta a má qualidade do ar consequente das atividades desenvolvidas na revolução industrial. Jardins fechados dão lugar a parques e corredores arborizados integrados à malha urbana, configurando “pulmões verdes” em núcleos urbanizados.

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Com isso, surgem também linhas de pensamento a fim de solucionar os problemas relacionados à expansão urbana e desenho da paisagem, como a Cidade Linear de Arturo Sora y Mata e a Cidade Jardim de Ebenezer Howard. Cada um desses modelos

Figura 05: Cidade Jardim de Howard. Fonte: Cornel University Library (2019).


Estes projetos abriram caminhos para discussões acerca da articulação entre espaços abertos e o tecido urbano não só em cidades planejadas, mas também em centros urbanos edificados. Projetos paisagísticos passam a adquirir um caráter urbano, deixando de ser associado apenas a paisagens campestres. Além disso, surgem também novas propostas projetuais com abordagens voltadas à conservação de paisagens existentes e resgate da natureza em sua forma orgânica. Com o passar do tempo, apesar da importantíssima contribuição de parques e áreas verdes no que diz respeito à melhoria da qualidade de vida das pessoas, surge uma demanda advinda da industrialização do cultivo de alimentos, a implementação de hortas urbanas agroecológicas. A partir do século XX, a produção agrícola responsável pelo abastecimento da população passou a se distanciar do seu local de consumo, em decorrência do processo de globalização e avanços tecnológicos, substituindo a agricultura familiar (Figura 06) por latifúndios agropecuários.

Figura 06: crianças cavando na horta da escola, Londres. Fonte: Bohn and Viljoen (2005: 104).

Em outras palavras, as pessoas passaram a “desembalar mais e descascar menos”, ou seja, a consumir mais produtos alimentícios e menos alimentos frescos, como frutas, legumes e hortaliças. O alto consumo de alimentos processados e acrescidos de substâncias químicas comprovadamente prejudiciais à saúde dos seres humanos é responsável pela deficiência nutritiva da

população, bem como por problemas de saúde como câncer, diabetes, hipertensão e obesidade. Essa mudança de hábitos alimentares também fomenta práticas do agronegócio como o uso excessivo de agrotóxicos (Figura 07) e desumanização da prática de abatimento de animais para consumo, uma vez que o único contado das pessoas com a comida é na prateleira de supermercados.

Figura 07: porcentagem de agrotóxico em alimentos. Fonte: Rede Brasil Atual (2017), disponível em https://www.redebrasilatual.com.br/saude-e-ciencia/2017/02/governo -temer-acelera-liberacao-de-novos-agrotoxicos/.

Dessa forma, a discussão acerca da agricultura urbana ganha força, sob a justificativa de ser uma estratégia de articulação entre planejamento urbano e produção agrícola capaz de suprir parte da demanda alimentícia da população de forma nutritiva e sustentável. A implementação da agricultura urbana faz parte da premissa do urbanismo sustentável (FARR, 2013) e é abordada por Bohn e Viljoen no conceito de paisagens urbanas produtivas e contínuas (2009), o qual será desenvolvido no capítulo 6 deste volume. Este estudo busca trabalhar as paisagens urbanas de modo a valorizar seus aspectos naturais em obsolescência, estimulando a produção local e agroecológica de alimentos e o fomento de atividades recreativas, educacionais e culturais. Estes espaços, denominados “paraísos urbanos”, estão pautados sobretudo no resgate da relação entre os seres humanos e a natureza e na ativação produtiva do espaço público, de modo a melhorar a qualidade de vida da população e colaborar no desenvolvimento de cidades sustentáveis.

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2. JUSTIFICATIVA


2. JUSTIFICATIVA 2.1. PANORAMA SOCIOAMBIENTAL Desde o século passado a produção de alimentos vem se tornando industrializada e globalizada. Propriedades rurais familiares vêm sendo substituídas por grandes corporações, urbanização dispersa e monocultura agrícola, graças a um modelo corporativo latifundiário o qual visa apenas o aumento do volume e da eficiência de produção de alimentos (FARR, 2013). Este modelo é responsável pela distribuição e comercialização de frutas, legumes e hortaliças de baixo custo e qualidade questionáveis, com altos níveis de resíduos de pesticidas e baixos valores nutritivos, acarretando em doenças como câncer, diabetes, hipertensão e obesidade. Além de comprometer a saúde da população e contribuir para um modelo econômico de valores invertidos, o agronegócio, da maneira como está estabelecido, também é ecologicamente insustentável. Neste modelo, a agricultura acontece longe dos centros urbanos, em zonas rurais reclusas às periferias das cidades, fazendo com que o gasto de combustível desprendido no transporte de alimentos frescos até o seu local de consumo seja absurdo. Devido às longas distâncias percorridas neste trajeto, os níveis de emissão de CO2 e gasto energético são altíssimos, reiterando a ausência de qualquer caráter sustentável nesse tipo de produção.

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É importante pontuar que, além do cultivo de frutas e legumes para consumo humano, existe também a agricultura animal, a qual consiste no cultivo de produtos agrícolas destinados à alimentação do gado e de aves. Estes produtos são majoritariamente grãos geneticamente modificados (GMO), especialmente grãos de soja e milho, cultivados através da prática da monocultura que, por sua vez, é extremamente prejudicial ao solo. Trata-se da indústria mais destrutiva para o planeta atualmente, sendo responsável por 51% de todas as emissões

mundiais de gases (GOODLAND, 2009).

de

efeito

estufa

A agricultura animal também contribui de várias maneiras para a extinção de espécies. Além da destruição monumental de habitats naturais causada pelo desmatamento de florestas e conversão de terras férteis em campos para cultivo de rações e pastagem de animais, predadores e espécies "concorrentes" são frequentemente visados e caçados ao serem considerados uma ameaça aos lucros do gado. Não obstante, o uso difundido de pesticidas, herbicidas e fertilizantes químicos utilizados na produção de alimentos para o gado frequentemente interfere no sistema reprodutivo de outros animais e envenenam os cursos d’água (Figura 08).

Figura 08: uso de agrotóxicos nas lavouras. Fonte: Carta Capital (2019), disponível em https://www.cartacapital.com.br/sociedade/numero-de-mortes-e-doe ncas-causadas-por-agrotoxicos-esta-subestimado-diz-pesquisadora/.

Ao repensar o consumo de alimentos de origem animal e optar por adquirir frutas e vegetais advindos de uma produção local, é possível fazer uma diferença expressiva tanto nos padrões de consumo da população – e, consequentemente, no modelo econômico agropecuário, quanto na diminuição do impacto ambiental (Figura 09). Entretanto, a indústria alimentícia não consiste apenas em produtos advindos do campo. Ela é responsável por mover bilhões de reais todos os anos, em função do marketing de produtos alimentícios processados que, diferente de


Figura 09: matéria sobre impacto econômico da alimentação saudável. Fonte: Superinteressante (2019), disponível em https://super.abril.com.br/saude/alimentacao-saudavel-poderia-cortar-gastos-bilionarios-com-saude-diz-estudo/.

frutas e legumes orgânicos produzidos localmente, são repletos de ingredientes duvidosos como açúcares, sódio e conservantes comprovadamente nocivos à saúde do ser humano, além de responsáveis pela causa de doenças como câncer, diabetes, Alzheimer e obesidade. Até os anos 90, essas doenças não eram associadas ao consumo de alimentos industrializados, sendo este inclusive incentivado. Com os avanços tecnológicos e a globalização, hoje a busca por “comida de verdade” e alimentação saudável é uma crescente, sendo um dos principais segmentos da sustentabilidade. O Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA)

estabelece o seguinte conceito para o termo “comida de verdade”: “O conceito de comida de verdade se associa diretamente ao de alimentação adequada e saudável, um direito humano básico, que se concretiza na comida que comemos, no campo e na cidade, nas formas como comemos e no valor simbólico dos alimentos. Pressupõe a garantia ao acesso permanente e regular a alimentos saudáveis, produzidos de forma socialmente justa, ambientalmente sustentável e livres de contaminantes físicos, químicos e biológicos, e de organismos geneticamente modificados.” CONSEA (2015).

O surgimento do interesse pela alimentação saudável fez com que as pessoas passassem a questionar a origem dos alimentos que

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consomem, o que acarretou em severas críticas ao modelo agropecuário e intensa adesão a dietas vegetarianas e veganas. Além disso, a discussão também fomentou a busca pela tal “comida de verdade” produzida localmente, cuja resposta foi encontrada na agricultura urbana. A implementação de hortas em áreas urbanizadas tem potencial para alimentar com qualidade boa parte da população. Utilizando-se de terrenos ociosos e transformando-os em terras produtivas, é possível cultivar alimentos orgânicos e melhorar a saúde e bem estar das pessoas (OLIVEIRA, 2016). Tendo em vista as questões dispostas, propõe-se neste trabalho a implementação de hortas urbanas em seus mais diversos formatos, pautadas no conceito de paisagens urbanas produtivas contínuas (P.U.P.C.), estabelecido por Bohn e Viljoen (2005). A P.U.P.C. é aliada na construção de cidades sustentáveis e bairros mais ecológicos, visto que além de promover a agricultura urbana, permitindo que as pessoas cultivem e colham de forma orgânica os alimentos que consomem, também atuam como espaços verdes em núcleos urbanizados, fomentando atividades recreativas, educacionais e culturais, e influenciando na reaproximação do ser humano com a natureza.

2.2. PROBLEMA URBANÍSTICO

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Para atender às demandas de uma sociedade em crescimento constante, cidades no mundo inteiro estão suscetíveis à expansão urbana. Quando esta acontece sem o devido planejamento, acarreta no adensamento desordenado das cidades, com uma expressiva ocupação do território por equipamentos edificados e comprometimento do solo permeável. Esta fragmentação entre paisagem natural e paisagem construída provoca o distanciamento do indivíduo da natureza, aumento da temperatura local, aterro de rios e córregos e falta de escoamento fluvial, além de um considerável impacto ambiental.

Neste processo de expansão é comum acreditar que para o bom aproveitamento do solo, este deve ser ocupado por densas áreas construídas com alto valor de m². Esta lógica de uso e ocupação de terras, além de estar distante de um desenvolvimento urbano sustentável, não prevê um suporte à infraestrutura verde das cidades. Dessa forma, é necessário reconhecer o valor econômico, social e cultural da paisagem. Áreas verdes e paisagens naturais são tão importantes para os seres humanos quanto educação e saúde, visto que proporcionam condições para práticas recreativas, culturais e atividades físicas, além de suprir o instinto básico das pessoas de se afiliarem à outras formas de vida (Figura 10).

Figura 10: parque integrado ao espaço urbano. High Line, NYC. Fonte: Ana Luisa Rolim (2016).

Espaços verdes em geral – parques, praças, corredores arborizados e frentes d’água – melhoram significativamente não só a qualidade de vida dos moradores de um determinado bairro, como também aspectos físicos e ambientais do mesmo. Áreas arborizadas, massas vegetativas e cursos fluviais são responsáveis por melhorias na qualidade do ar, da água e embelezamento da paisagem das cidades. A lógica de uso e ocupação do solo que encara estes espaços como comodites, ou apenas como áreas não desenvolvidas sem delimitação de lotes, acaba por comprometer o desenvolvimento sustentável das cidades, sobretudo no aspecto biofílico da sustentabilidade (FARR, 2013), interferindo na dinâmica de sistemas naturais e privando a população da interação com cenários orgânicos.


Os usos contemporâneos do solo urbano também têm alterado radicalmente os padrões históricos e estáveis da hidrologia preexistente e, consequentemente, da qualidade da água. Períodos de chuva intensa que eram atenuados por paisagens capazes de absorver e utilizar a água como recurso, hoje periodicamente resultam em enchentes repentinas em áreas que não costumavam estar sujeitas a esta situação, muitas vezes desencadeando impactos econômicos, ambientais e culturais catastróficos (FARR, 2013).

gramada, biodigestores, piso permeável e bacias de retenção naturalizada. Diante desta problemática, tem-se a Zona Norte de Recife que, apesar da sua significativa proximidade com o Rio Capibaribe, é marcada pela incidência de enchentes, proveniente do aterro de córregos previamente existentes para dar espaço para novos equipamentos urbanos. A falta de articulação entre o suporte natural do território – nesse caso, entre frentes d’água e áreas construídas, acarreta na fragmentação de sistemas naturais, comprometendo a biodiversidade local, a organicidade das paisagens preexistentes e afastando cada vez mais o ser humano da natureza. Por isso, a proposta de recuperação da paisagem natural referente aos riachos urbanos da área de estudo, aliada à implementação da agricultura urbana, além de contribuir para a composição de um panorama sustentável e trazer os benefícios já conhecidos aos seres humanos pelo convívio com a água, funciona como uma bacia de retenção naturalizada, promovendo o escoamento superficial de águas pluviais de forma ecologicamente adequada.

Figura 11: inundação na Rua das Águas Verdes. Fonte: acervo da autora, 2020.

A água das chuvas muitas vezes é tratada como um resíduo que deve ser eliminado do local aonde precipita, da maneira mais rápida e eficiente permitida pelas leis locais. Nesse contexto, estratégias convencionais de coleta, canalização e escoamento de águas pluviais frequentemente contribuem para alagamentos, degradação da qualidade da água, perda de habitats e destruição de aquíferos (Figura 11). A alternativa sustentável para a gestão da água pluvial são os sistemas de biorretenção adequados para contextos urbanos, como valas de drenagem

Dessa forma, a estratégia de estruturação territorial por meio da “natureza urbanizada” como premissa de um sistema integrado de espaços abertos (OLMSTED, 1896 apud MCMAHON, 2000), aliada aos conceitos de biofilia (FARR, 2013) e paisagens urbanas produtivas contínuas (BOHN; VILJOEN, 2005) que serão abordados ao longo deste trabalho, colabora não só com a reaproximação do homem com a produção dos alimentos que consome, como também com a resiliência da cidade a mudanças climáticas, escoamento de águas pluviais, criação de espaços públicos de uso comum e controle do espraiamento urbano, contribuindo para a construção de cidades sustentáveis.

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3. OBJETIVOS


3. OBJETIVOS 3.1. OBJETIVO GERAL Definir diretrizes para promover a ativação de riachos urbanos através da implementação de Paisagens Urbanas Produtivas Contínnuas (P.U.P.C.).

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Identificar um sistema integrado de espaços abertos (OLMSTED apud MCMAHON, 2000) orientados pela parcela do curso original do Rio Capibaribe. Elaborar diretrizes para a ativação do espaço público livre pautadas na biofilia (FARR, 2013), ou seja, na relação entre os seres humanos e a natureza. Estabelecer, através do desenho urbano, condições favoráveis ao fomento de uma rede sustentável de cultivo e distribuição de alimentos através da implementação de P.U.P.C. na área de estudo.

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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O estudo em desenvolvimento adota as seguintes metodologias para o cumprimento dos objetivos propostos: 1. Revisão Bibliográfica 1.1. Sobre infraestrutura verde e sistemas integrados de espaços abertos, recorre-se ao autor MCMAHON (2000).

3. Análise comparativa de mapas que ilustram a evolução da expansão urbana na Cidade do Recife, disponíveis no Laboratório Topográfico de Pernambuco. 4. Reconhecimento de área, medições esquemáticas, observações em loco, levantamento fotográfico e coleta de amostras de aspectos físicos do local.

1.2. Acerca da biofilia à luz do urbanismo sustentável, são relevantes FARR (2013) e WILSON (1984). 1.3. Quanto às paisagens urbanas produtivas contínuas, são de extrema importância BOHN e VILJOEN (2005). 1.4. Referente à análise territorial, consultado o autor MCHARG (1920).

é

2. Coleta de Dados 2.1. No âmbito da agricultura urbana, consulta-se o Programa Agricultura Urbana – Hortas e Pomares Comunitários, da Prefeitura da Cidade do Recife (PCR), juntamente com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE). 2.2. Sobre o território de intervenção, consulta-se o Portal de Informações Geográficas da Prefeitura da Cidade do Recife (ESIG) e o Plano Diretor de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais da Cidade do Recife (EMLURB). 2.3. Ainda sobre o território, obtêm-se informações através da base de dados da CONDEPE/FIDEM (2018), posteriormente extraídas por meio do software ArcGIS. 2.4. Acerca das atividades de caráter público ou privado em andamento, voltadas à agricultura urbana e/ou ativação de frentes d’água, recorreu-se ao Projeto Parque Capibaribe, à Horta Comunitária Guerreiras da Palha, à iniciativa voluntária “Há Gosto Pelo Capibaribe”, e à Horta Comunitária de Casa Amarela. 25



5. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA


5. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA 5.1. SISTEMA INTEGRADO DE ESPAÇOS ABERTOS O sistema integrado de espaços abertos ou infraestrutura verde consiste no conjunto de parques, corredores verdes e frentes d’agua que estruturam o território e conectam as extensões da cidade a núcleos urbanos (MOZAS, 2019) (Figura 13). Seu principal intuito é evitar o efeito de espraiamento, recorrente em cidades em expansão. Entretanto, este modelo também visa a preservação de paisagens naturais, resgate da biodiversidade descaracterizada e a reconexão das pessoas com a terra. Este sistema configura-se como infraestrutura por estar articulado com o tecido urbano, facilitando o acesso das pessoas a áreas verdes e colaborando com o bem estar da Frederick Law Olmsted, arquiteto-paisagista, jornalista e botânico norte-americano, foi o pioneiro na conceituação da infraestrutura verde com os projetos do Central Park, em Nova Iorque (1857) e o Emerald Necklace, em Boston (1896) (Figura 12). Incentivado pela perda do caráter urbano nos subúrbios, Olsmted acreditava ter encontrado uma maneira de costurar a cidade dispersa e a cidade consolidada através de uma natureza urbanizada, conectando-as a uma trama de

Figura 13: Chesapeake and Ohio Canal. Fonte: Planning Comissioners Journal, number 37 (2000).

corredores verdes, frentes d’água e vias arborizadas, e levando a condição metropolitana até a periferia das cidades. Olmsted defendia que parques deveriam estar conectados e preferencialmente cercados por bairros residenciais (MCMAHON, 2000). “Nenhum parque isolado será capaz de proporcionar às pessoas todos os benefícios da natureza.”

Figura 12: The Emerald Necklace Masterplan, Olmsted. Fonte: Independent Magazine of Architecture and Technology, issue 52 (2019).

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(Olmsted, 1986).


Áreas verdes são uma necessidade básica das cidades. Florestas, parques, reservas naturais e cursos fluviais são responsáveis pela preservação da qualidade do ar, da água e da qualidade de vida da população. Entretanto, apesar do conceito de infraestrutura verde existir há mais de 130 anos, em alguns lugares o uso e ocupação do solo ainda é visto apenas como uma comódite a ser consumida, e espaços abertos sem lotes delimitados são confundidos com terrenos ainda não desenvolvidos. Por isso, é importante que o planejamento e desenvolvimento de sistemas integrados de espaços abertos façam parte das agendas políticas e sociais das comunidades, garantido que a infraestrutura verde tenha a mesma importância que outros tipos de infraestrutura, como eixos viários, educação e saúde pública. Para implementar um sistema integrado de espaços abertos, parte-se da análise da paisagem. A partir da identificação de um ou vários componentes naturais, como clusters vegetativos, conexões verdes, corredores

fluviais e margens litorâneas, tem-se os elementos conectivos que determinarão a orientação da infraestrutura verde (Figura 14). Para este trabalho, o elemento conectivo identificado foram os córregos aterrados do Rio Capibaribe, no intuito de restaurar os recursos hídricos preexistentes, comprometidos devido à expansão urbana desordenada, e promover a ativação destes espaços por meio da valorização da paisagem natural restaurada. A infraestrutura verde pode ser criada em diversas escalas: estatal, regional, metropolitana e local, no caso dos bairros. Este equipamento engloba uma grande variedade de ecossistemas nativos, preservados e/ou restaurados, e características da paisagem que compõem um sistema de eixos (hubs) e conexões (links) (MCMAHON, 2000). Além dos benefícios ambientais e sociais já mencionados, a inclusão da infraestrutura verde no planejamento urbano também permite a acomodação da expansão urbana de maneira ordenada, reduzindo inclusive a oposição a novos empreendimentos ao garantir às comunidades e às organizações de preservação ambiental que este crescimento ocorrerá apenas de maneira integrada a um sistema de espaços abertos. Dessa forma, garante-se que recursos naturais e culturais sejam preservados para esta e para as próximas gerações.

5.2. A BIOFILIA À LUZ DO URBANISMO SUSTENTÁVEL

Figura 14: crianças andando de bicicleta em um corredor verde. Fonte: Planning Comissioners Journal, number 37 (2000).

Para compreender a biofilia na escala projeto urbano, é necessário compreender o conceito de urbanismo sustentável proposto por Douglas Farr (2013). O urbanismo sustentável representa uma mudança de postura nas gerações relativa à maneira como os assentamentos humanos são projetados e empreendidos, promovendo a absorção do crescimento populacional com o menor impacto possível e proporcionando espaços

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privados e públicos que permitam e incentivem o convívio humano e relações interpessoais. No livro “Urbanismo Sustentável: desenho urbano com a natureza” (FARR, 2013), o autor apresenta uma série de parâmetros urbanísticos que têm por objetivo facilitar a adoção generalizada do urbanismo sustentável. Estes parâmetros servem como metas de desenvolvimento projetual e, juntamente com a norma LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), auxiliam na concepção de bairros sustentáveis e no embasamento da elaboração de normas sociais, as quais exigem que todos os envolvidos no processo de planejamento e urbanização do ambiente construído trabalhem como um único organismo para atingir um propósito compartilhado.

De acordo com Edward O. Wilson (1984), pioneiro na sua conceituação, a palavra vem do grego bios, que significa “vida”, e philia, que significa “amor, afeição, ou necessidade de satisfação”. “Biofilia” ETIM bio- + -filia

substantivo feminino amor à vida; instindo de preservação, de conservação. (Oxford Languages).

O autor descreve a biofilia como uma tendência natural dos seres humanos de voltarem sua atenção às coisas vivas e considera essa atração pela natureza como um princípio evolutivo. Trata-se da ligação emocional que as pessoas têm com outros organismos vivos e com a natureza, ou seja, o desejo instintivo de se afiliar a outras formas de vida. Já na escala urbana, a biofilia exerce um papel de resgate da natureza em núcleos urbanos adensados, implementando nas cidades condições naturais antes associadas apenas ao campo e suprindo a necessidade dos seres humanos de estarem em contato com cenários orgânicos (Figura 15).

Figura 15: pessoa correndo no parque. Fonte: Independent Magazine of Architecture and Technology, issue 52 (2019).

30

Segundo Farr, estas normas abrangem cinco áreas gerais do urbanismo sustentável, sendo uma delas a biofilia. O termo “biofilia” possui perspectivas científicas e filosóficas que antecedem o planejamento urbano.

A biofilia é apresentada por Farr como um dos vários parâmetros emergentes do urbanismo sustentável, e sua abordagem acontece através de seis frentes de atuação: espaços abertos, escuridão pública, sistemas de gestão de água pluvial, produção de alimentos, tratamento de esgoto ao ar livre e tratamento de esgoto em ambiente fechado. Juntas, estas frentes permitem um planejamento urbano integrado à natureza, com todos os benefícios sociais, econômicos e ambientais proporcionados pelo desenvolvimento de projetos aliados à biofilia. Neste capítulo serão abordados os temas espaços abertos e produção de alimentos.


5.2.1. ESPAÇOS ABERTOS Parques e praças localizados a uma distância que pode ser percorrida a pé, ou seja, que podem ser acessados por pedestres, melhoram significativamente a qualidade de vida de um bairro. Quando estes mesmos equipamentos apresentam um grande percentual de áreas verdes, infraestrutura para captação de água pluvial ou vistas do céu à noite, passam a desempenhar um papel chave no suporte à biofilia. Estes espaços atuam como uma alternativa aos encontros confinados em apartamentos, incentivando o convívio entre pessoas de diversas idades, etnias, gêneros e orientações, fomentando a construção de capital humano e reestabelecendo a conexão entre as pessoas e a natureza. Além disso, os parques também valorizam economicamente os imóveis situados em suas imediações, resultando em um ótimo retorno sobre o investimento tanto para o governo como para empreendedores privados (Quadro 01).

Figura 16: rotatória com filtragem do escoamento de superficial, Uptown Normal, Illinois. Fonte: Farr (2013). Disponível em https://www.landscapeperformance.org/case-study-briefs/upt own-normal-circle-and-streetscape

Para cidades planejadas, a inclusão de uma rede de parques no plano diretor facilita a implementação pontual e precisa de áreas verdes. Entretanto, apesar de sua importante contribuição para a habitabilidade urbana, o elevado preço do solo em núcleos urbanos é um desafio para a implantação destas áreas verdes em cidades preexistentes, sobretudo de parques que estejam situados até cinco minutos de distância de áreas residenciais. Apesar disso, a instalação de equipamentos urbanos nesse contexto pode ser alcançada através da apropriação de lotes subutilizados, espaços urbanos obsoletos, ou até mesmo por iniciativas privadas.

Outro importante papel desempenhado por estes equipamentos é o resgate da capacidade de filtragem de águas pluviais em localidades de alta densidade. Parques com significativas extensões de áreas verdes apresentam solo permeável e, consequentemente, são capazes de filtrar o escoamento superficial da água das chuvas nas ruas públicas, evitando situações de enchentes e vazamentos tóxicos advindos de automóveis, bem como a proliferação de doenças provenientes destes alagamentos.

DISTÂNCIA APROXIMADA AO PARQUE

Para cada situação do contexto urbano, existe um tipo de parque diferente (Quadro 02). Estes variam de acordo com a escala, com as ruas circundantes, o tipo de vegetação e sua

TEMPO NECESSÁRIO PARA IR E VOLTAR A PÉ (MIN)

VALORIZAÇÃO DOS IMÓVEIS

30

01

24%

90

2,5

15%

180

5

5%

400

10

Insignificante

Quadro 01: valorização de imóveis devido a proximidade de um parque. Fonte: Farr (2013, p.170).

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devida manutenção, e o entorno no qual estão inseridos, e podem ser destinados a uma série de atividades, como prática de esportes, atividades cívicas, prática de exercícios, recreação e lazer, e cultivo de frutas e legumes. Cada um dos formatos descritos abaixo exerce, além do fomento da biofilia em núcleos urbanos, um papel muito importante na paisagem das cidades. Para este trabalho, será adotado o “jardim comunitário” como referência para a intervenção a ser proposta, porém prevendo

REPRESENTAÇÃO

modificações quanto a escala determinada por Farr (Quadro 02), tendo em vista a sua articulação com o conceito de paisagens urbanas produtivas contínuas (Bohn e Viljoen, 2005), o qual será abordado no subcapítulo seguinte.

5.2.2. PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Alimentos de boa qualidade são vitais para a saúde pública da população. Entretanto, para atender às necessidades de uma sociedade em situação de crescimento constante, a

TIPO DE PARQUE CAMPO DE ESPORTES Área aberta especialmente projetada e equipada para a recreação em grande escala. Tais campos devem estar confinados à periferia dos bairros, uma vez que seu tamanho prejudica a fina rede necessária ao deslocamento de pedestres.

ÁREA VERDE COMUNITÁRIA Espaço público de tamanho médio disponível para a recreação em áreas não construídas, circunscrito por fachadas de edificações, cujo tratamento paisagístico consiste em áreas gramadas e arborizadas, distribuído de modo orgânico e que exige manutenção considerável.

PRAÇA Espaço público, raramente maior do que uma quadra, na interseção de ruas importantes. Uma quadra é circunscrita espacialmente por fachadas; sua paisagem urbana consiste em passeios pavimentados, gramados, ruas e prédios cívicos, todos formalmente distribuídos e exigindo manutenção considerável.

PRAÇA CÍVICA Espaço público na interseção de ruas importantes, reservado para propósitos cívicos e atividades comerciais. Uma praça cívica é circunscrita por fachadas de edificações; seu tratamento paisagístico consiste em pisos duradouros adequados ao estacionamento de veículos e árvores que exigem pouca manutenção.

JARDIM COMUNITÁRIO Agrupamento de pequenos jardins para o cultivo em pequena escala, geralmente para os moradores dos apartamentos ou outras unidades de moradia sem jardins privativos. Os jardins comunitários devem acomodar depósitos individuais. Eles são valiosos por seu papel recreativo e comunitário, similar ao de um clube de esportes.

32

Quadro 02: tipos de parque. Fonte: Farr (2013, p.170), quadro trabalhado pela autora (2020).


produção de alimentos tornou-se industrializada e globalizada, além de insustentável do ponto de vista ecológico. Desde o século passado propriedades rurais familiares vêm sendo substituídas por grandes corporações, urbanização dispersa e monocultura agrícola (FARR, 2013). Este modelo de produção e distribuição alimentar pautado em latifúndios corporativos não prioriza a qualidade da comida, apenas o aumento do volume e eficiência da produção, resultando em frutas, verduras e hortaliças de baixo custo e segurança questionáveis, suscetíveis ao acúmulo de resíduos de pesticidas tóxicos tanto para o meio ambiente, quanto para as pessoas, e acarretando em problemas de saúde como câncer, diabetes, hipertensão e obesidade. Diante dessas questões, a agricultura urbana, ou seja, a produção de alimentos dentro do perímetro da cidade habitável, surge como uma alternativa sustentável ao modelo até então estabelecido pela agropecuária (Figura 17). O debate acerca deste tema vem ganhando força e, com isso, alguns arquitetos e urbanistas passaram levar em consideração em seus projetos a integração do sistema de alimentação aos bairros por meio de duas maneiras: a produção de alimentos e o acesso a estes.

Figura 17: Agrofavela Refazenda, horta comunitária em Paraisópolis, SP. Fonte: Folha de São Paulo (2020), disponível em https://agora.folha.uol.com.br/sao-paulo/2020/10/favela-de-p araisopolis-em-sp-inaugura-horta-comunitaria.shtml.

A produção de alimentos está relacionada à como e onde a horta urbana será implementada, bem como por quem ela será

cultivada. Para isso, existem algumas condições relativas ao espaço que irá receber a horta que devem ser levadas em consideração. Este espaço deve ter um solo limpo, acesso à água, boa drenagem e incidência de iluminação natural, garantindo que os alimentos cultivados sejam saudáveis. Além disso, tanto um terreno público quanto privado pode receber este tipo de equipamento. O cultivo pode (e deve) ser realizado por membros da própria comunidade, de forma individual ou coletiva, proporcionando-os uma chance de repensar seus padrões de consumo e se reconectar com a origem da sua comida. Quanto ao acesso aos alimentos, este está diretamente relacionado à sua distribuição. Com a implementação de hortas urbanas, é possível proporcionar à comunidade acesso a frutas e legumes saudáveis e de origem local, através da sua comercialização em minimercados de bairro, feiras orgânicas e/ou consumo imediato. Além disso, a agricultura urbana incentiva o surgimento de mercados agroecológicos em seu entorno, colaborando com a ativação do espaço público e, consequentemente, da economia local. Sistemas de produção agroecológica de alimentos promovem benefícios econômicos, como a criação de empregos e mercados autossustentáveis, benefícios ambientais, como menor desprendimento energético, emissão de CO2, purificação do ar e recuperação do solo, e benefícios comunitários, os quais incluem a segurança dos alimentos, a melhoria da saúde da população, o embelezamento dos bairros e o reforço do vínculo entre as pessoas e a terra (FARR, 2013). Além disso, também oferecem a possibilidade de reciclagem do lixo alimentar e sua reutilização para fertilização. Neste estudo, propõe-se não só a implementação de hortas urbanas, mas de todo e qualquer tipo de vegetação comestível que possa ser cultivado, consumido e comercializado de forma comunitária. Portanto os “paraísos urbanos” poderão ser compostos pelo cultivo

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de árvores frutíferas (pomares), plantações de legumes e hortaliças, estufas e plantas aquíferas, considerando o ordenamento independente ou coletivo destas configurações.

5.3. PAISAGENS URBANAS PRODUTIVAS CONTÍNUAS (P.U.P.C.) 5.3.1. CONCEITO A definição de Paisagens Urbanas Produtivas e Contínuas (P.U.P.C. ou C.P.U.L.) consiste em uma estratégia de integração entre planejamento urbano e agricultura, de modo a atender a três principais questões: diminuição do impacto ambiental relacionado à emissão de CO2 no transporte de alimentos, articulação entre cultivo e infraestrutura urbana e implementação de paisagens produtivas que atuem nas cidades não só como hortas urbanas, mas também como um espaço público livre. Para Bohn e Viljoen (2005) a agricultura urbana é um elemento essencial da infraestrutura sustentável, contribuindo positivamente para a construção de cidades sustentáveis, sem comprometer a compacidade de seus núcleos urbanos. O conceito de P.U.P.C. foi desenvolvido pelos arquitetos Katrin Bohn e Andre Viljoen, em seu livro “Continuous Productive Urban Landscape: Designing Urban Agriculture For Sustainable Cities.”, publicado em 2005. Sobrepõe-se ao conceito de “paisagem urbana produtiva”, fazendo distinção deste por adotar a premissa da continuidade e caminhabilidade na escala urbana, configurando uma trama de espaços abertos que transpassam a cidade, e, promovendo, além do cultivo de frutas e legumes, uma série de atividades culturais, educacionais e recreativas (Figura 18).

34

Nele, os autores defendem que este tipo de paisagem representa a articulação entre campo e cidade, estimulando a criação de espaços urbanos contínuos e integrados que tenham também uma função produtiva.

Figura 18: representação diagramática de uma CPUL. Fonte: Bohn and Viljoen (2005: 14).

A P.U.P.C. possui caráter mutável, adaptando-se às particularidades do contexto no qual está inserida, porém sem comprometer o tecido urbano existente (Figura 19). Sua prática celebra as condições naturais remanescentes nas cidades como espaços verdes e frentes d’água, e sua dimensão varia de acordo com o tamanho da área de implementação. Quanto ao plantio, qualquer tipo de vegetação comestível pode ser adotada, inclusive árvores frutíferas, por isso a P.U.P.C. está suscetível a diversos formatos – plantação linear, em clusters, campos de cultivo e/ou fragmentos de vegetação.

5.3.2. BENEFÍCIOS Apesar de ser um dos argumentos mais fortes ao se falar sobre agricultura urbana, a implementação de P.U.P.C. não atende apenas ao impacto ambiental causado pela emissão de CO2 no transporte e distribuição de alimentos. O caráter produtivo da P.U.P.C. se apresenta em três macro-vertentes: produtividade ambiental, produtividade sociológica e produtividade econômica (Quadro 03). Estas atuam em conjunto na construção de paisagens urbanas produtivas, trazendo benefícios sobretudo à qualidade de vida da população.


TIPOS DE PRODUTIVIDADE AMBIENTAL Redução da emissão de CO2 Melhoria da qualidade do ar Suporte à biodiversidade Retensão de ruídos

ECONÔMICA

SOCIOLÓGICA

Nova estratégia de lógica socioeconômica

Atividades culturais, educacionais e recreativas

Aumento da empregabilidade local

Mudança de hábitos alimentares

Mudança nos padrões de fluxo de caixa

Mudança de hábitos de consumo

Retensão de ruídos

Melhoria da saúde pública

Quadro 03: tipos de produtividade promovidos pela P.U.P.C. Fonte: Bohn and Viljoen (2005), quadro trabalhado pela autora.

Figura 19: London LeisurEscape. Munton Road antes e depois da implementação da CPUL. Fonte: Bohn and Viljoen (2009).

35


Dentre benefícios ambientais advindos da implementação de áreas verdes produtivas em núcleos urbanos, como diminuição da temperatura local, melhoria da qualidade de vida de moradores e transeuntes e aumento de práticas saudáveis por parte da população, tem-se principalmente a diminuição da emissão de dióxido de carbono no trajeto percorrido por frutas e verduras desde a sua colheita até o supermercado e, posteriormente, até o seu consumo, diminuindo os índices de desperdício e redução da quantidade de energia desprendida no cultivo e distribuição de alimentos (RAMOS, 2013). Não obstante, há também a diminuição do uso de fertilizantes, melhorando a qualidade dos alimentos ofertados e, consequentemente, a saúde da população. Além das práticas associadas à agricultura urbana, os espaços nos quais as paisagens urbanas produtivas são implantadas também se comportam como espaços públicos livres, promovendo atividades de realização dificultosa em prédios ou áreas edificadas, porém ideais para este contexto, como práticas recreativas, educacionais e culturais. Estes espaços fomentam discussões acerca dos hábitos de consumo, hábitos alimentares e questões de saúde pública, bem como o estreitamento da relação dos cidadãos com condições naturais antes associadas apenas ao campo, reforçando o caráter indissociável da conexão entre homem e natureza. Esta dinâmica de ocupação e uso promovida pela P.U.P.C. possui um efeito sociológico positivo no comportamento das pessoas.

36

As vantagens econômicas, por sua vez, variam de acordo com o status global da cidade em questão, pois estão diretamente relacionadas ao valor do solo em áreas urbanas. O uso de terrenos no centro das cidades para situações não edificadas pode não parecer lucrativamente atrativo, porém a agricultura urbana pode se apropriar de lotes subutilizados e vazios urbanos para torna-los produtivos. De acordo com a New Economics Foundation UK, estima-se que quantias gastas em hortas urbanas valem 12% a mais

para a economia local do que estes mesmos valores gastos em supermercados (New Economics Foundation, 2001). Além disso, os gastos para a construção de infraestrutura para agricultura urbana é quarenta vezes menor do que para outros tipos de infraestrutura, como rodovias. (Viljoen e Bohn, 2005: 34-36). Esta prática também estimula a abertura de mercados agroecológicos nas imediações da P.U.P.C., contribuindo para a movimentação da economia local e mudanças nos padrões de fluxo de caixa.

5.3.3. IMPLEMENTAÇÃO Assim como qualquer projeto de infraestrutura urbana em larga escala, a implantação da P.U.P.C. demanda planejamento, gestão e manutenção, bem como a contribuição comunitária para a sua realização. Dificuldades como propriedade da terra e necessidade de acordos para acesso ou compra da mesma são barreiras que, de acordo com os autores, devem ser superadas para que a P.U.P.C. se torne viável. A agricultura urbana é comumente implementada de maneira pragmática, determinada apenas pelo cultivo e distribuição da colheita, sem preocupações estéticas ou sensitivas. Porém, apesar da sua riquíssima contribuição na produção de alimentos, para que a adoção da mesma em larga escala seja efetiva, é necessário reconhecer seus benefícios para além do cultivo de frutas e legumes, conscientizando a população acerca dos benefícios proporcionados pela P.U.P.C., sobretudo para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, e fomentando o incentivo ao desenho urbano colaborativo. “Uma plantação de alfaces pode ser tão decorativa quanto um canteiro de flores.” Premat (2005: 168).

Da mesma forma que um parque ou praça interfere (positiva ou negativamente) na vitalidade de um bairro, a implementação de


ATRIBUTO FÍSICO

ESTRATÉGIA CONECTIVIDADE Define a integração da P.U.P.C. com o tecido urbano. O caráter linear das plantações permite que se extendam por curtas, médias e/ou longas dstâncias. Já a topografia, juntamente com a horizontalidade do plantio e perspectiva do observador configuram tridimensionalidade à paisagem.

OCUPACIONAL

CONTEXTO Diz respeito a articulação da horta com a cidade/bairro na qual está inserida. O entorno da P.U.P.C. pode determinar a dinâmica da intervenção e vice versa, portanto devem estar em consonância, sobretudo na forma de ocupação do espaço (fomento de usos alternativos, incentivo à iniciativas de mercados agroecológicos e atividades ao ar livre).

SOCIOCULTURAL

VISIBILIDADE Trata-se da percepção da P.U.P.C. pelos seus usuários, transeuntes e moradores do entorno. As hortas urbanas também devem compor a paisagem com preocupações estéticas, de modo a promover a sensação de espaço aberto em núcleos urbanos adensados.

Quadro 04: atributos e estratégias de implementação da P.U.P.C. Fonte: Bohn and Viljoen (2005), quadro trabalhado pela autora (2020).

uma horta urbana também possui um impacto nas atividades do mesmo. Por isso, existem alguns aspectos determinantes dessa dinâmica entre P.U.P.C. e cidade (Quadro 04), e estes definem desde atributos estéticos até o tipo de vegetação que será cultivada no local. Por exemplo, espera-se que a agricultura em contextos urbanos incentive a abertura de mercados agroecológicos para a comercialização dos alimentos cultivados, porém os tipos de uso preexistentes no local podem encorajar ou desestimular este tipo de prática. Estas características também estão atreladas à percepção da P.U.P.C. pelos seus usuários, transeuntes e moradores do entorno. A paisagem determinada pelas hortas vistas das janelas dos edifícios deve promover a sensação de espaço aberto, de alívio da situação de adensamento no qual se encontram os centros urbanos, e o

estabelecimento da relação entre a paisagem, moradores, consumidores e trabalhadores da plantação.

37



6. TERRITÓRIO


Figura 20: barcos reunidos para evento “Há Gosto Pelo Capibaribe”. Fonte: acervo pessoal da autora, 2020.


6. TERRITÓRIO Neste trabalho a área de estudo atua como um indicador de padrões físicos, ambientais e sociais, os quais possam ser analisados de maneira universal e identificados em contextos urbanos similares. Portanto, apesar de dissertar sobre córregos ocultos em Recife e se debruçar sobre o Riacho Parnamirim, é encorajado um olhar expansivo para demais situações de frentes d’água propícias à implementação de paisagens produtivas e contínuas. Os critérios para a escolha do local estão relacionados ao suporte natural do território, nesse caso, o curso original do Rio Capibaribe. Ao analisar a hidrografia de Recife, é possível perceber que alguns bairros localizados na Zona Norte da cidade não só são cortados pelo rio, como também apresentam córregos, anteriormente denominados “riachos”, remanescentes. A maioria encontra-se em situação de obsolescência e insalubridade, sendo utilizados como depósito de dejetos, REPRESENTAÇÃO

justificando a mudança da nomenclatura e a sua invisibilidade enquanto espaço público. Foi então determinado um raio de 1,7km entre os bairros da Iputinga e Parnamirim (Figura 21), recorte que contém uma maior quantidade de riachos ao longo de uma menor distância. Os córregos situados na área de estudo (Figura 22) foram analisados no intuito de identificar semelhanças e disparidades que auxiliem na definição de diretrizes projetuais, as quais serão posteriormente implementadas no Riacho Parnamirim. Dessa forma, questões como a densidade habitacional/populacional, disponibilidade de solo natural e integração com o tecido urbano foram fatores determinantes para a escolha do Riacho Parnamirim como objeto de estudo, em consonância com a conceituação temática proposta, possibilitando o cumprimento dos objetivos estabelecidos neste trabalho.

OBJETIVO

CONCEITO

INDICATIVO DO LOCAL

Infraestrutura verde

Sistema integrado de espaços abertos

Território integrado ao curso natural do Rio Capibaribe

Ativação do espaço público

Produtividade ambiental, econômica e sociológica

Espaços abertos e produção de alimentos à luz da biofilia

Relação afetiva entre comunidade e sítio; ausência de espaço de lazer e convivência

Paisagens urbanas produtivas contínuas (P.U.P.C.)

Proximidade com a natureza e linearidade do sítio

Quadro 05: diagrama de aspectos do sítio. Fonte: a autora, 2020.

41


01

02

01 BAIRRO DA IPUTINGA

N

0

100

250

02 BAIRRO DE PARNAMIRIM

CIDADE DO RECIFE

42

Figura 21: indicação do raio de estudo na RMR. Fonte: a autora, 2021.

500


EUS AT M

RIM MI A N

RIACH OS AN

RIACH OP AR RIACH OS ÃO

RIACH OD O

O UC VO CA

TA

SA RO

Figura 22: riachos situados na área de estudo. Fonte: a autora, 2020.

43


6.1. SUPORTE NATURAL DO TERRITÓRIO

A Bacia Hidrográfica do Capibaribe nasce entre os municípios de Jataúba e Poção, percorrendo cerca de 280 km até sua foz, em Recife. O rio atravessa 42 cidades e diversos centros urbanos, servindo como retenção de águas pluviais, irrigação e corpo receptor de resíduos industriais e domésticos (APAC, s.d.). Ao total, são mais de 100 riachos que atravessam a capital Pernambucana, todos advindos do Capibaribe. No período da colonização, os riachos serviam como caminhos de exploração, sendo a única alternativa para percorrer a cidade. É possível observar que, ao longo dos anos, houve uma mudança considerável no desenho do seu curso natural, bem como na proporção entre terra e água, sendo a primeira cada vez mais expressiva. O processo de ocupação da cidade é marcado por uma constante luta para conter os afluentes e garantir espaço para a agricultura e construção de moradias. Dessa forma, desde o século XVI até os dias atuais, este processo continua comprometendo a infraestrutura natural do Capibaribe. Em detrimento do crescimento populacional e, consequentemente, da expansão urbana desordenada, as mudanças realizadas no território são marcadas pelo tamponamento de riachos relativos ao rio e até do próprio Capibaribe. Além disso, por volta dos anos 70 a cidade deixou de ser pensada para as pessoas e passou a ser planejada para os automóveis, o que acarretou no aterro de frentes d’água para a construção de novos eixos viários.

44

A falta de planejamento urbano integrado ao suporte natural do território, ou seja, de unidade entre as camadas de infraestrutura natural da cidade, como vegetação e recursos hídricos, estimula um modelo de ocupação desordenado e desconexo, além de comprometer o ciclo orgânico da fauna e flora locais. Outra problemática ocasionada pela falta de planejamento urbano é a

precariedade de saneamento básico. Atualmente mais de 50% da cidade despeja seus dejetos diretamente nos afluentes do Capibaribe, sem o intermédio de estações de tratamento. Para compreender o suporte natural do território foi elaborado um mapa estratificado das camadas de infraestrutura natural e construída da área de estudo (Figura 23). Dentre elas, estão ilustradas a hidrografia, vegetação, eixos viários e massa edificada. Através deste diagrama é possível entender sistematicamente a maneira como cada um dos níveis estão ou não integrados uns aos outros, sobretudo no que diz respeito à interação da hidrografia e vegetação com as demais lâminas. Esta análise morfológica (MCHARG, 1920) revela que não há articulação entre as camadas infraestruturais deste recorte. As edificações ignoram a hidrografia, a vegetação é moldada de acordo com a necessidade de expansão do ser humano e os eixos viários são hostis ao pedestre. A situação dos riachos é igualmente alarmante, uma vez que encontram-se completamente desconexos do desenho urbano e têm seu curso e função originários comprometidos. A falta de planejamento integrado compromete não só o pleno funcionamento do tecido urbano, como também o desenvolvimento sustentável das cidades, uma vez que os sistemas naturais vegetativos e hidrográficos não estão sendo levados em consideração durante o processo projetual. As consequências desse padrão construtivo estão sinalizadas na própria morfologia do território e podem ser observadas nas imediações dos riachos em análise. Situações como o tamponamento dos corpos d’água, ocupação irregular às margens dos córregos e despejo de dejetos sem tratamento são comuns aos quatro casos.


TECIDO URBANO MASSA CONSTRUÍDA EIXOS VIÁRIOS ÁREA VERDE HIDROGRAFIA Figura 23: mapa de estratificação de camadas infraestruturais. Fonte: a autora, 2021.

45


Além da análise morfológica das infraestruturas que compõem o território, foi elaborado um mapeamento dos tipos de uso (Figura 25) e do sistema de espaços abertos contido na área de estudo (Figura 26). Estes mapas foram desenvolvidos no intuito de promover a compreensão de aspectos recorrentes nas imediações dos riachos e são complementares ao diagnóstico infraestrutural citado anteriormente. As informações foram obtidas através da base de dados da CONDEPE/FIDEM (2018) e extraídas do software ArcGIS. No primeiro caso, observou-se que as imediações dos córregos são majoritariamente ocupadas por habitações, o que, de acordo com Farr (2013), colabora com a ativação e apropriação do espaço público por residentes e transeuntes. Entretanto, há também um padrão de ocupações irregulares às margens dos riachos, o que compromete a permeabilidade das frentes d’água e propicia um ambiente insalubre, uma vez que não há o devido tratamento de dejetos.

Já no segundo mapa, foram sinalizados os espaços verdes consolidados, ou seja, parques e praças que fazem parte do tecido urbano e apresentam uma quantidade expressiva de solo natural proporcional à sua área de ocupação. Foi então traçada uma trama entre estes equipamentos, identificando rotas formais e informais para determinar um sistema integrado de espaços abertos (OLMSTED, 1896 apud MCMAHON, 2000). Cada um dos trajetos identificados chega ou parte dos riachos inseridos na área de estudo, sugerindo uma articulação entre as duas principais camadas da infraestrutura natural do território, hidrografia e vegetação. A partir dos dados coletados nesta análise territorial, foram determinados critérios relativos aos padrões de ocupação, presença de vegetação, integração com os eixos viários, permeabilidade física e visual, e integração com a margem (quadro 06). Estes critérios foram avaliados em cada um dos riachos (Figura 24) e serviram de referência para o desenvolvimento das diretrizes projetuais.

OCUPAÇÃO RESIDENCIAL

RIACHO SÃO MATEUS

INTEGRAÇÃO COM EIXOS VIÁRIOS

RIACHO DO CAVOUCO

PERMEABILIDADE

RIACHO SANTA ROSA

PRESENÇA DE VEGETAÇÃO

INTEGRAÇÃO COM A MARGEM

RIACHO PARNAMIRIM Quadro 06: diagrama de critérios morfológicos. Fonte: a autora, 2021.

46


CRITÉRIOS IDENTIFICADOS

RIACHO SÃO MATEUS

RIACHO DO CAVOUCO

RIACHO SANTA ROSA

RIACHO PARNAMIRIM

Figura 24: critérios identificados nos riachos. Fonte: Google Street View, 2018.

47


FRENTE D’ÁGUA HABITACIONAL COMERCIAL

N

USO MISTO INSTITUCIONAL SERVIÇO

ESC.: 1/35.000

OUTRO

Figura 25: mapa de usos. Fonte: a autora, 2021.

N

FRENTE D’ÁGUA ÂREAS VERDES COSOLIDADAS QUADRAS

ESC.: 1/35.000

Figura 26: mapa de sistema integrado de espaços abertos. Fonte: a autora, 2021.

48

SISTEMA INTEGRADO DE ESPAÇOS ABERTOS


Figura 27: foto aérea do Riacho Parnamirim. Fonte: acervo pessoal da autora, 2020.


O CASO DO RIACHO PARNAMIRIM

O Riacho Parnamirim (Figura 27) nascia no sopé de morros do bairro do Monteiro, passava pelo que é hoje a Estrada das Ubaias e desaguava no Rio Capibaribe, como ainda acontece. Apesar de não ter sido tamponado por completo em seus 1.100m de extensão, teve suas margens aterradas em detrimento do aumento da massa edificada no entorno, o que desencadeou em problemas reincidentes na retenção de água pluvial, interferindo diretamente no reabastecimento do lençol freático da região, bem como ocasionando enchentes e proliferação de doenças (Figura 28). “Parnamirim” ETIM paranã- + -mirim Em tupi, “rio pequeno”.

poder público, quanto por parte da própria comunidade. Em janeiro deste ano, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (EMLURB) deu início ao processo de limpeza dos canais da cidade. As ações evitam que resíduos sólidos sigam em direção ao Rio Capibaribe. Além disso, a realocação das famílias da Comunidade Lemos Torres, as quais habitavam em palafitas situadas às margens do Parnamirim, para o Conjunto Habitacional Lemos Torres, foi de extrema importância para o processo de revitalização do canal. Entretanto, apenas a recuperação hidrográfica do riacho não é suficiente para a sua manutenção. É preciso considerar aspectos físicos e biológicos acerca do escoamento de águas pluviais, como a interação do canal com o lençol freático, o tratamento de esgoto, o adensamento construtivo e até a mobilidade urbana, a fim de promover a ativação e recuperação das frentes d’água.

Figura 28: Riacho Parnamirim. Fonte: a autora, 2020.

Moradores da região relatam que antes era possível pescar e até banhar-se no local, e que também recorriam ao rio quando o abastecimento de água falhava em suas casas (OXE RECIFE, 2018). De acordo com o pesquisador Jaime Cabral, apesar de todo esgoto despejado, ainda existe vida, explicitada pela manifestação de algumas espécies vegetativas e animais, como cágados. O Riacho Parnamirim já conta com algumas iniciativas de recuperação tanto por parte do 50

Figura 29: entorno do Riacho Parnamirim. Fonte: a autora, 2020.


R.

AM .S DR

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PERÍMETRO DA QUADRA DE ESTUDO

N

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PERÍMETRO DO BAIRRO PARNAMIRIM

SE ES

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TO

N

CIDADE DO RECIFE

Figura 30: localização da quadra de estudo. Fonte: a autora, 2020.

51


TECIDO URBANO

MASSA CONSTRUÍDA

TECIDO VIÁRIO

ÁREA VERDE

HIDROGRAFIA

Figura 31: camadas infraestruturais do território. Fonte: a autora, 2020.

52


Figura 32: amostras coletadas no sítio. Fonte: a autora, 2020.

53


FiguraFigura 33: Riach 32: Fonte:Fonte a au


ho rnamirim. Parnamirim. utora, 2020.2020.


6.2. DIAGNÓSTICO

Além de uma análise dos aspectos físicos relativos ao suporte natural do território, também foi feita uma leitura sociocultural da quadra, a fim de compreender a dinâmica de vivência da mesma e a relação entre a comunidade e o sítio (Figura 36). A área de estudo está localizada no bairro Parnamirim e é delimitada pelas ruas Flamengo, Lemos Torres, Dr. Samuel Lins e Dona Rita de Souza, e avenidas Dezessete de Agosto e Flôr de Santana (Figura 33). Porém apesar de ter seis vias circundando em seu perímetro, só é possível acessar o riacho através pontos estratégicos nas suas imediações. Um desses pontos é o Largo do Holandês, revitalizado por iniciativa do grupo Casa Forte Mais Segura em parceria com a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) (Figura 34). Este foi batizado com base em uma citação de Gilberto Freire, em seu livro Assombrações de Um Recife Velho, onde relata a lenda de um general holandês que caíra morto na Batalha de Casa Forte (1645).

O trecho do riacho que antes servia como depósito de lixo, hoje já apresenta uma área de permanência, pintura renovada, passeio adequado e vegetação. Porém ainda está distante de alcançar uma recuperação total, especialmente em sua hidrografia. Parte do largo também serve como estacionamento de veículos, comprometendo a otimização do potencial do sítio enquanto espaço público. Apesar de sua extensão, a quadra não apresenta acessos no seu sentido transversal, comprometendo o incentivo à caminhabilidade no local, uma vez que pedestres ficam menos propensos a caminhar longas distâncias. Esta situação também prejudica a vigilância social no perímetro e, consequentemente, a sua segurança.

FIgura 35: vista vôo de pássaro do sítio. Fonte: a autora, 2020.

56

Figura 34: placa da PCR Largo do Holandês. Fonte: a autora, 2020.

Outro aspecto importante foi a construção do Conjunto Habitacional Lemos Torres, também conhecido como Conjunto Habitacional Padre José Edwaldo Gomes, por iniciativa da PCR. O equipamento foi entregue em 2018 aos beneficiários da Comunidade Lemos Torres, uma Zona Especial de Interesse Social (ZEIS) antes ocupada por palafitas que se debruçavam sobre o Riacho Parnamirim. Além de garantir a regularização fundiária na região, o conjunto tem um papel fundamental na recuperação do canal.


02

01

04

03

06

05

07 08

N 0

01

TRECHO DO RIACHO IMEDIATO AO CONJUNTO HABITACIONAL LEMOS TORRES

100

200m

03

02

MARGEM DO RIACHO UTILIZADA COMO ESTACIONAMENTO

05

50

LARGO DO HOLANÊS

ACESSO AO RIACHO ATRAVÉS DA RUA FLAMENGO

07

06

VIELA INTRA-QUADRA

RUA GEN. AGUIAR, TRECHO MAJORITARIAMENTE RESIDENCIAL

Figura 36: diagnóstico urbano. Fonte: a autora, 2020.

04

LIMITE ENTRE O CONJUNTO HABITACIONAL LEMOS TORRES E O RIACHO PARNAMIRIM

08

TRECHO DO RIACHO EM RECUPERAÇÃO

57


Com relação ao caráter morfológico do sítio, foram elaborados mapas relativos aos tipos de uso e densidades apresentadas identificadas na área. Também foram realizados cortes esquemáticos em pontos estratégicos da área de estudo (Figura 39), no intuito de compreender a relação do Riacho Parnamirim com o seu entorno e detectar padrões reincidentes nos tipos de ocupação. De acordo com o mapa de usos desenvolvido pela autora (Figura 37), a quadra apresenta alguns empreendimentos comerciais e institucionais, porém é majoritariamente habitacional, Tem-se que, dos 44 lotes contidos na área, 36 são referentes a habitações, correspondendo a 84% da sua ocupação. Este cenário favorece a implementação da agricultura urbana e ativação do espaço urbano, uma vez que, de acordo com Farr (2013), para que haja a apropriação de áreas públicas de lazer por parte da população, estas devem estar situadas a uma distância caminhável de áreas residenciais.

6%

Por esse motivo, também foram analisadas as densidades habitacional e populacional da quadra (Figura 38), ilustrando a relação entre a quantidade de unidades habitacionais por habitantes e quantidade de habitantes por hectare. De acordo com o Density Atlas (2011), 300 habitantes/hectare é a quantidade ideal em termos de densidade populacional. Na área de estudo o resultado obtido foi de 261, o qual, apesar de não ser ideal, corresponde a um bom adensamento. Já com relação à quantidade de unidades habitacionais, é possível perceber que há um desequilíbrio na sua distribuição no perímetro analisado. Entretanto, a análise reforça o caráter residencial do sítio, reiterando as condições favoráveis à implementação de uma paisagem produtiva.

ÁREA DA QUADRA: 1.485m² DENSIDADE HABITACIONAL: 87 DENSIDADE POPULACIONAL: 261

4%

6%

OUTROS 1-10 UN. HABITACIONAIS 10-20 UN. HABITACIONAIS 20-30 UN. HABITACIONAIS 30-40 UN. HABITACIONAIS

84%

1º Tri

2º Tri

3º Tri

40-50 UN. HABITACIONAIS + 50 UN. HABITACIONAIS

4º Tri

N 0

FRENTE D’ÁGUA

50

100

200m

HABITACIONAL INSTITUCIONAL

FIgura 38: mapa de densidades. Fonte: a autora, 2020.

COMERCIAL SEM USO ÁREA VERDE PÚBLICA ÁREA VERDE PRIVADA

N 0

58

50

100

Figura 37: mapa de usos. Fonte: a autora, 2020.

200m

Entretanto, apesar de apresentar uma quantidade expressiva de células de habitação, fator essencial para o êxito do cenário produtivo proposto neste trabalho, é importante destacar que as edificações não possuem nenhuma relação com o riacho, a não ser para o despejo de dejetos. Boa parte


dos imóveis dão as costas para o canal e/ou estabelecem barreiras físicas com o mesmo, evidenciando a segregação entre a infraestrutura natural e a massa construída do território.

A’

B’

A

B

C’

N

C

CORTE AA’

0

05

10

CORTE BB’

CORTE CC’

Figura 39: cortes esquemáticos. Fonte: a autora, 2020.

15

0

05

10

15

0

05

10

15

59


7.PRECEDÊNCIAS PROJETUAIS


7. PRECEDÊNCIAS PROJETUAIS Para auxiliar no desenvolvimento deste trabalho, foram selecionados três estudos de caso: Weiliu Wetland Park, Waterline Square Park e Organopônico La Sazon. Cada um deles se relaciona com pelo menos um dos conteúdos abordados anteriormente na conceituação temática desse estudo (ver Cap.5). Para ilustrar essa interação, foram estabelecidos critérios relativos à tipologia espacial, morfologia e tipo de produtividade (Quadro07), os quais serão analisados quanto a sua consonância ou dissonância na concepção dos projetos em questão.

TIPOLOGIA ESPACIAL

TIPO DE PRODUTIVIDADE

MORFOLOGIA

Parque

Alimentar

Integrada ao tecido urbano

Frente d’água

Sciológica

Integrada à infraestrutura verde

Horta

Econômica

Integrada à hidrografia

Quadro 07: critérios analisados nos estudos de caso. Fonte: a autora, 2020.

61


Figura 40: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.


7.1. WEILIU WETLAND PARK

local. Valas grosseiramente cavadas direcionavam o escoamento de águas pluviais e dejetos da cidade para o rio, comprometendo a qualidade da água e o habitat fluvial. Em vista disso, a própria população local recuperou uma grande área do sítio para tanques de lótus e cultivo de vegetais, sinalizando uma demanda pela recuperação do espaço público.

Figura 41: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.

O Weiliu Wetland Park foi construído em uma das únicas áreas preservadas de inundação natural do Rio Wei, entre as cidades de Xi’na e Xianyang. Com o processo de expansão urbana, estas cidades foram substituindo suas paisagens naturais por margens concretadas e vegetação decorativa, contribuindo para a degradação da sensação de pertencimento da população ribeirinha.

Para resolver os problemas descritos acima, a restauração e reconstrução abrangente do ecossistema de várzea local era o principal objetivo do projeto. Um plano foi desenvolvido para criar uma infraestrutura verde urbana por meio de uma série de estratégias, incluindo controle adaptativo de enchentes, gestão de águas pluviais, melhoria da qualidade da água, reutilização de águas residuais e restauração da biodiversidade, o que transformaria o local em um parque urbano que fornece múltiplos valores sobre o meio ambiente e as pessoas. FICHA TÉCNICA PROJETO: Yifang Ecoscape LOCALIZAÇÃO: Xianyang, China ÁREA DO PROJETO: 125ha ANO DO PROJETO: 2017 STATUS: obra concluída

Figura 42: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.

A urbanização das áreas à montante e adjacente à jusante do Rio Wei contribuiu para o aumento da inundação. Além disso, o plantio decorativo de espécies não nativas comprometeu a biodiversidade do habitat

A fim de restaurar a resiliência da retenção de inundações e utilizar os espaços da planície, uma paisagem adaptativa foi criada com base na topografia existente: as áreas mais baixas foram projetadas para serem áreas úmidas naturais inundáveis, as áreas de menor risco de inundação foram usadas para áreas úmidas construídas e as mais altas as áreas no local foram destinadas a espaços recreativos e de lazer.

63


Figura 43: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.

64

Figura 44: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.


A espinha dorsal do parque é um caminho informal preexistente o qual atravessava sua área central. Este foi incorporado ao projeto, tornando-se um corredor verde. Em seu local foi desenvolvido um deck arborizado, preservando toda a vegetação preexistente, tornando-se uma das principais características do parque.

Figura 46: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.

Figura 45: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.

Para remover os poluentes e garantir a reutilização de águas residuais, foram utilizadas técnicas como um cinturão de zonas úmidas e lagoas de oxidação, os quais colaboram no processo de proteção contra enchentes, reoxigenação e distribuição da água. Além disso, toda água poluída dos canais de drenagem foi recolhida para um processo de tratamento de efluentes (wastewater treatment plant – WWTP).

Figura 47: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.

65


Figura 48: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.

66

Figura 49: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.


De acordo com a equipe técnica do projeto, a chave para uma restauração de habitat bem-sucedida é utilizar o poder regenerativo da própria natureza. Parque

Usando árvores existentes e lagoas orgânicas como base, o projeto optou por fazer a menor movimentação de terra possível, além do replantio cuidadoso de árvores locais, arbustos e plantas aquáticas, restaurando abrigos para a biodiversidade fluvial.

Frente d’água

Horta

Produtividade Produtividade alimentar sociológica

Integrado à infraestrutura verde

Integrado à hidrografia

CRITÉRIOS ATENDIDOS

Depois de remover a maioria dos distúrbios humanos em curso, como despejo de lixo e dragagem de areia, o projeto estabeleceu seu objetivo de recriar um habitat local diverso.

Figura 50: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.

67


Figura 51: Weiliu Wetland Park. Fonte: Landzine, 2017.


7.2. WATERLINE SQUARE PARK

Waterline Square é a última parcela a ser concluída do empreendimento Riverside Centre. A MNLA está envolvida no projeto e licenciamento do Riverside Center desde 2006, anteriormente trabalhando em colaboração com Christian de Portzamparc e Extell Development. FICHA TÉCNICA PROJETO: MNLA

Figura 52: Waterline Square Park. Fonte: ArchPaper, 2020.

LOCALIZAÇÃO: Nova Iorque, USA ÁREA DO PROJETO: 1.05ha ANO DO PROJETO: 2020 STATUS: obra concluída

O sítio está estrategicamente posicionado para se tornar um novo ponto focal no centro de Manhattan, em um bairro residencial emergente e, embora esteja situado no coração da Waterline Square, ele permanece facilmente acessível a partir de quase todas as principais ruas adjacentes ao empreendimento. O parque de 1,05ha oferece uma ligação recreativa entre o Central Park e os parques ao longo do Rio Hudson. O Waterline Square Park responde à interface do tecido urbano de Manhattan ao passo que encontra a expansiva margem do Rio Hudson. A formalidade da malha urbana circundante dá lugar ao Waterline Square Park à medida que se alarga em direção ao oeste. Esta transição é destacada pelos edifícios residenciais no Riverside Centre, que recuam para enquadrar o espaço público, priorizando a circulação de pedestres, os corredores de contemplação e acessibilidade pedonal.

Figura 53: Waterline Square Park. Fonte: ArchPaper, 2020.

O espaço aberto acontece em uma transição da paisagem urbana para um parque, à medida que a topografia desce em direção ao rio. Um vibrante centro social saúda o público no final da West 60th Street, abrindo caminho para jardins em frente a áreas de recreação para os residentes locais e transeuntes.

Figura 54: Waterline Square Park. Fonte: ArchPaper, 2020.

69


Figura 55: Waterline Square Park. Fonte: ArchPaper, 2020.

Figura 56: Waterline Square Park. Fonte: ArchPaper, 2020.

70


Figura 57: Waterline Square Park. Fonte: ArchPaper, 2020.

Figura 58: Waterline Square Park. Fonte: ArchPaper, 2020.

71


A extremidade oeste do parque abre em direção ao Hudson enquanto esculpe espaços reflexivos imersivos que oferecem uma pausa tranquila da agitação urbana. Parque

Além de uma pequena floresta urbana com cerca de 200 árvores de diferentes espécies, o parque também possui paisagens que incluem um jardim perene, responsável por aumentar a biodiversidade do local, e um amplo gramado, propício para receber eventos públicos.

72

Produtividade sociológica

Integrada ao Integrado à tecido urbano infraestrutura verde

Figura 59: Waterline Square Park. Fonte: ArchPaper, 2020.

Integrado à hidrografia

CRITÉRIOS ATENDIDOS

Outra característica proeminente do projeto são os recursos aquáticos, incluindo um riacho artificial que corta parte do parque e uma fonte interativa.

Frente d’água


Figura 60: Orgaopônico La Sazon. Fonte: McNamara (2016).


7.3. ORGANOPÔNICO LA SAZON

O projeto a seguir é apenas um dos mais de 30 exemplos de organopônicos em Cuba. Tratam-se de fazendas urbanas regulamentadas pelo governo, implementadas no início dos anos 90 para combater a crise alimentar que acontecia no país. Este período é denominado Período Especial de Cuba, o qual surgiu devido ao colapso da União Soviética. Com a perda de importações da USSR, juntamente com a crise econômica do país, a população de Cuba se viu com a perda de 30% de calorias por dia em sua dieta, acarretando em uma desnutrição em massa, sobretudo em sua capital, Havana.

Figura 61: Orgaopônico La Sazon. Fonte: McNamara (2016).

74

Estas fazendas destacam duas tendências do papel da agricultura urbana no sistema alimentar cubano e no ambiente urbano (MCNAMARA, 2016). O primeiro é a correlação entre os empreendimentos habitacionais da era soviética dos anos 1980 e a presença de organopônicos, onde muitos dos terrenos destinados à expansão da cidade nos anos 80 foram convertidos em fazendas urbanas. Isso significa que muitos dos organopônicos estão em torno de prédios altos, áreas de alta densidade populacional, colocando as fazendas a uma curta distância para um grande número de pessoas.

FICHA TÉCNICA PROJETO: Governo Cubano LOCALIZAÇÃO: Havana, Cuba ÁREA DO PROJETO: 1.3ha ANO DO PROJETO: 1991 STATUS: em funcionamento

Outra tendência espacial consistente é a vinculação de pequenos mercados agroecológicos aos organopônicos. Esses mercados ficam dentro do lote da fazenda. De frente para a rua, mas afastadas do passeio público, oferecendo uma alternativa mais barata de produzir e vender os alimentos cultivados diretamente na fazenda. Frequentemente esses mercados são espaços comunitários informais, onde os moradores do entorno vêm para consumir produtos frescos. De acordo com os agricultores, produtos vendidos em mercados maiores, advindos do cultivo no campo, podem custar até 5x mais do que os alimentos produzidos nos organopônicos, sobretudo por conta dos custos desprendidos com o transporte deste produto.

Figura 62: Orgaopônico La Sazon. Fonte: McNamara (2016).


Figura 63: Orgaopônico La Sazon. Fonte: McNamara (2016).


O organopônico La Sazon é uma destas fazendas. Ele possui 1,3ha de área e está situado nas imediações de um dos conjuntos habitacionais soviéticos com maior índice de densidade.

Horta

Acredita-se que a agricultura urbana iniciada durante o Período Especial persiste hoje por meio de uma combinação de apoio governamental, dedicação da comunidade e eficiência energética (MCNAMARA, 2016). Além disso, este tipo de equipamento urbano colabora com a ativação do espaço público e fomenta a economia local, bem como com o envolvimento da comunidade em práticas produtivas.

76

Alimentar

Figura 64: Orgaopônico La Sazon. Fonte: McNamara (2016).

Econômica

Produtividade sociológica

Integrada ao tecido urbano

Integrado à infraestrutura verde

CRITÉRIOS ATENDIDOS

O empreendimento também apresenta um mercado agroecológico em suas proximidades, onde a comunidade e seus visitantes podem adquirir produtos nutritivos a alguns passos de suas casas.


CRITÉRIOS

PROJETOS WEILIU WETLAND PARK

WATERLINE SQUARE PARK

ORGANOPÔNICO LA SAZON

Parque

TIPOLOGIA ESPACIAL

Frente d’água

Horta

TIPO DE PRODUTIVIDADE

Alimentar

Sciológica

Econômica

Integrada ao tecido urbano

MORFOLOGIA

Integrada à infraestrutura verde

Integrada à hidrografia

Quadro 08: diagrama de critérios atendidos pelos estudos de caso. Fonte: a autora, 2020.

77


8. A PROPOSTA


8. A PROPOSTA A partir das análises realizadas nos capítulos anteriores, associadas aos critérios identificados nos estudos de caso, foram estabelecidas diretrizes projetuais e estratégias de desenho. Estas diretrizes foram implementadas de forma esquemática nos quatro riachos, enquanto as estratégias de desenho foram aplicadas apenas ao Riacho Parnamirim, objeto principal deste estudo. Também nesta etapa foram desenvolvidos o programa e pré-dimensionamento da intervenção.

8.1. DIRETRIZES PROJETUAIS As diretrizes para a realização dos Paraísos Urbanos visam integrar os objetivos do estudo, a conceituação temática e as peculiaridades do sítio para transformar riachos urbanos em paisagens urbanas produtivas contínuas. Estas diretrizes levam em consideração a recuperação do corpo d’água por iniciativa do poder público, garantindo sua interação com o lençol freático e o saneamento adequado das unidades habitacionais em seu entorno, bem como colaborando com a criação de um ciclo hidrológico urbano. 01. Promover/ampliar a integração física e visual das bordas do corpo d’água. 02. Reforçar/implementar a conexão do corpo d’água com as principais vias circundantes. 03. Enfatizar os eixos visuais e físicos entre edificações e o corpo d’água.

05. Utilizar espécies vegetativas que colaborem com a recuperação da biodiversidade do corpo d’água. 06. Propor intervenções que dialoguem com a escala do local, evitando equipamentos monumentais. 07. Incorporar espaços que acolham atividades educativas voltadas para a conscientização da necessidade de preservação do rio. 08. Gerar áreas que possam acomodar grupos pequenos de pessoas, em face do distanciamento social. Levando em consideração o caráter global do trabalho, é importante reforçar que as diretrizes podem variar de acordo com o contexto no qual as etapas metodológicas forem aplicadas, eventualmente chegando em resultados distintos dos apresentados nesta pesquisa. Em vista disso, tem-se que as diretrizes projetuais não atuam de forma isolada, portanto é preciso compreender o cenário hidrográfico da situação em questão, sobretudo no que diz respeito ao papel do poder público e projetos e legislações em vigor. No caso de Recife, foram consultados o Plano Diretor de Drenagem, o Projeto Parque Capibaribe, iniciativas voluntárias como o projeto “Há Gosto Pelo Capibaribe” e a EMLURB (Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife), para conhecimento das limpezas periódicas de manutenção dos canais.

04. Criar margens produtivas que possam fomentar o engajamento da população, reforçando o senso de comunidade. 79


R3

R1

R2

R1

R2 R4

R1

R3

R4

R2

R1

02 01

01

07

04

02

03

03 05

05

04

07

R2

06

06

08

02

01 Promover/ampliar a Promover/ampliar a integração física e física e integração visual das bordas visual das do bordas do corpo d’água. corpo d’água.

02

02 Reforçar/implementar Reforçar/implementar a conexão do a conexão do corpo d’água as com as corpo com d’água principais vias principais vias circundantes. circundantes.

05 06

08 03

01

02

03

03 Enfatizar os eixosos eixos Enfatizar visuais evisuais físicoseentre físicos entre edificações e o corpo edificações e o corpo d’água. d’água.

06

05 01

03

04

04 Criar margens produtivas Criar margens produtivas que possam que possam fomentarfomentar o engajamento o engajamento da população, da população, reforçando o senso de reforçando o senso de comunidade. comunidade.


LEGENDA LEGENDA

R1 - RIACHO SÃO MATEUS R1 - RIACHO SÃO MATEUS R2 - RIACHO DO CAVOUCO R2 - RIACHO DO CAVOUCO R3 - RIACHO PARNAMIRIM R3 - RIACHO PARNAMIRIM R3 - RIACHO SANTA ROSA R3 - RIACHO SANTA ROSA

R3

05

R4

R3

03 07 07

07

01

03 05

0701

04

01 04

08

08

08 04 06 08

06 08

05

06

06

02 02

05

Utilizar Utilizar espéciesespécies vegetativas que que vegetativas colaborem com a com a colaborem recuperação da recuperação da biodiversidade do biodiversidade do corpo d’água. corpo d’água.

R4

04

02 07

05

Propor intervenções Propor intervenções que dialoguem com com que dialoguem a escalaado local,do local, escala evitando evitando equipamentos equipamentos monumentais. monumentais.

07

07

0308

01 05 06

06

03

02 04

07

Incorporar espaços espaços Incorporar que acolham que acolham atividades educativas atividades educativas voltadas voltadas para a para a conscientização da conscientização da necessidade de necessidade de preservação do rio. do rio. preservação

08

08

Gerar áreas que Gerar áreas que possampossam acomodar acomodar grupos grupos pequenos de pequenos de pessoas,pessoas, em faceem do face do distanciamento distanciamento social. social.



8.1. 1. APLICAÇÃO DAS DIRETRIZES NO RIACHO PARNAMIRIM

Além de uma primeira proposição esquemática, a implementação das diretrizes projetuais no Riacho Parnamirim também foi realizada de maneira mais detalhada, de modo a proporcionar uma percepção mais assertiva dos objetivos a serem atingidos pela espacialização das mesmas na etapa seguinte. Assim como os estudos de caso, a implementação das diretrizes foram pautadas nos critérios de morfologia, tipo de produtividade e tipologia espacial mencionados anteriormente (Quadro 08). Para comunicá-las, foram elaborados diagramas que ilustram a aplicabilidade das diretrizes no contexto do Riacho Parnamirim (Quadro 09 - 16). Sua viabilidade será reiterada durante a espacialização das estratégias de desenho (Ver item 8.4).

83


01

SITUAÇÃO ATUAL

PROPOSTA

Figura 65: promover/ampliar a integração física e visual das bordas do corpo d’água. Fonte: a autora, 2020.

02

84

Figura 66: reforçar/implementar a conexão do corpo d’água com as principais vias circundantes. Fonte: a autora, 2020.


03

Figura 67: enfatizar os eixos visuais e físicos entre edificações e o corpo d’água. Fonte: a autora, 2020.

04

Figura 68: criar margens produtivas que possam fomentar o engajamento da população, reforçando o senso de comunidade. Fonte: a autora, 2020.

85


05 AGUAPÉ / ALFACE D’ÁGUA TABOA / BARONESA

Figura 69: utilizar espécies vegetativas que colaborem com a recuperação da biodiversidade do corpo d’água. Fonte: a autora, 2020.

06

86

Figura 70: Propor intervenções que dialoguem com a escala do local, evitando equipamentos monumentais. Fonte: a autora, 2020.


07

Figura 71: incorporar espaços que acolham atividades educativas voltadas para a conscientização da necessidade de preservação do rio. Fonte: a autora, 2020.

08

Figura 72: Gerar áreas que possam acomodar grupos pequenos de pessoas, em face do distanciamento social. Fonte: a autora, 2020.

87


8.2. ESTRATÉGIAS DE DESENHO

Para tornar viável a execução das diretrizes estabelecidas, foram elaboradas estratégias de desenho, ou seja, ações projetuais que intervêm diretamente na requalificação da área do riacho. Estas estratégias atuam no zoneamento da quadra, desenho urbano, proposta de mobiliário, implementação de tecnologias e questões de conscientização, resguardando o caráter produtivo e sociológico do projeto (Quadro 09). Assim como as diretrizes, as estratégias de desenho podem variar de acordo com o contexto na qual forem aplicadas, sendo o Riacho Parnamirim um protótipo desta metodologia.

88


DIRETRIZES

ESTRATÉGIAS

Promover/ampliar a integração física e visual das margens do corpo d’água.

• Eliminar barreiras • Criar pontes

• Criar travessias alinhadas às linhas

Reforçar/implementar a conexão do corpo d’água com as principais vias circundantes.

de força das vias circundantes

• Urbanizar pontos de convergência (esquinas)

Enfatizar os eixos visuais e físicos entre edificações e o corpo d’água.

• Criar travessias intra-quadra

Criar margens produtivas que possam fomentar a reintegração da população com a produção de alimentos.

• Determinar áreas para cultivo

Utilizar tecnologias naturais e/ou artificiais que colaborem com a recuperação da biodiversidade do corpo d’água.

• Utilizar plantas aquáticas para despouição do riacho

• Implementar tecnologias

Propor intervenções que dialoguem com a escala do local, evitando equipamentos monumentais.

• Criar espaços de permanência

compatíveis com a escala local

Incorporar espaços que acolham atividades educativas voltadas para a conscientização da necessidade de preservação do rio.

• Propor equipamentos de

Gerar áreas que possam acomodar grupos pequenos de pessoas, em face do distanciamento social.

• Criar decks de tamanhos

caráter educacional

variados

Quadro 09: estratégias de desenho. Fonte: a autora, 2020.

89


8.3. PROGRAMA E PRÉ-DIMENSIONAMENTO

O programa desenvolvido para os Paraísos Urbanos foi elaborado com base nos estudos de caso apresentados anteriormente (Ver Cap. 7), bem como nas dinâmicas sinalizadas pelos temas abordados na conceituação temática deste trabalho. Dessa forma, os seguintes usos foram identificados e devem ser incorporados ao projeto: • Social: espaços de permanência de pequena e média escala, os quais possam atender às recomendações de distanciamento social; pontes como elemento conector das margens do rio e edificações do entorno. • Educacional: equipamento de atividade educativa como estufa ou deck. • Produtivo: áreas para o cultivo de verduras, legumes e hortaliças, bem como de árvores frutíferas. • Paisagístico: plantio de vegetação nativa para sombreamento e espécies que colaborem com a recuperação da biodiversidade do corpo d’água. Quanto ao pré-dimensionamento, este prevê a porcentagem de solo natural que poderá ser ocupada pelas especificações descritas no programa acima. Além disso, leva em consideração os tipos de cultivo que podem ser realizados e suas respectivas áreas mínimas e máximas.

90


71,5%

15%

8%

USO 5,5%

ÁREA (m²)

%

Solo natural disponível

8.435,5m²

15%

Passeio público

3.126m²

5,5%

Área irrigada

4.372m²

8%

Área privativa

12.808m²

71,5%

Figura 73: pré-dimesionamento. Fonte: a autora, 2020.

REPRESENTAÇÃO

TIPO DE CULTIVO

DESCRIÇÃO

ÁREA MÍNIMA

ÁREA MÁXIMA

Horta Tradicional

Cultivo de legumes e hortaliças

6m²

-

Horta Hidropônica

Cultivo de plantas sem solo

-

-

Pomar

Conjunto de árvores frutíferas

12m²

-

Aquicultura

Cultivo de plantas aquáticas

-

-

Estufa

Cultivo de plantas em ambiente controlado

36m²

400m²

Quadro 10: tipos de cultivo. Fonte: a autora, 2020.

91


8.4. VISÃO ESPACIALIZADA DAS DIRETRIZES

No intuito de ilustrar a aplicabilidade das estratégias de desenho, foram desenvolvidas representações de uma visão especializada das diretrizes preestabelecidas, as quais tomam forma no Riacho Parnamirim. Esta espacialização consiste no redesenho dos trechos públicos da quadra de estudo, de modo a reincorporar a frente d’água em questão ao tecido urbano. Para a proposta de intervenção, a quadra foi dividida em 4 quadrantes (Figura 74), mais a frente designados como áreas de “plantar, colher, partilhar”, “frutificar”, “contemplar e

cultivar” e “vivenciar”, de acordo com as atividades estabelecidas para o local, determinadas em consonância com os dados coletados acerca das características morfológicas e socioculturais da área de estudo. Nas imagens a seguir, as diretrizes e estratégias de desenho estarão identificadas de acordo com as informações da tabela abaixo (Quadro 11).

CÓDIGO

DIRETRIZ

ESTRATÉGIA

01

Promover/ampliar a integração física e visual das bordas do corpo d’água.

Eliminar barreiras / Criar pontes

02

Reforçar/implementar a conexão do corpo d’água com as principais vias circundantes.

Criar travessias alinhadas às linhas de força das vias circundantes / Urbanizar pontos de convergência (esquinas)

03

Enfatizar os eixos visuais e físicos entre edificações e o corpo d’água.

Criar travessias intra-quadra

04

Criar margens produtivas que possam fomentar o engajamento da população, reforçando o senso de comunidade.

Determinar áreas para cultivo

05

Utilizar tecnologias naturais e/ou artificiais que colaborem com a recuperação da biodiversidade do corpo d’água.

Utilizar plantas aquáticas para despouição do riacho / Implementar tecnologias de biorrecuperação

06

Propor intervenções que dialoguem com a escala do local, evitando equipamentos monumentais.

Criar espaços de permanência compatíveis com a escala local

07

Incorporar espaços que acolham atividades educativas voltadas para a conscientização da necessidade de preservação do rio.

Propor equipamentos de caráter educacional

08

Gerar áreas que possam acomodar grupos pequenos de pessoas, em face do distanciamento social.

Criar decks de tamanhos variados

Quadro 11: legenda para identificação de diretrizes. Fonte: a autora, 2021.

92

ÍCONE


Figura 74: quadrantes de intervenção da área de estudo. Fonte: a autora, 2020.

93



ÁREAÁREA 01 01

ÁREAÁREA 02 02

ÁREAÁREA 03 03

ÁREAÁREA 04 04


03

ÁREA 01 - PLANTAR, COLHER, PARTILHAR

07 05 01

06 08 02 04

08

03

04 01

96

A área 01 é um dos espaços de chegada do Riacho Parnamirim. Por se tratar de uma área menos adensada, foi possível incorporar as 3 premissas das P.U.P.C., sinalizando o potencial do local para a produtividade alimentar, econômica e sociológica. Da mesma forma, todas as oito diretrizes puderam ser implementadas, reforçando seu caráter receptivo à ativação do espaço público.

ÁREA 02 - FRUTIFICAR

Na área 02 foi designado o plantio de árvores frutíferas, pelas condições de incidência de luz solar e proximidade de da margem produtiva, também foi possível incorporar ao espaço condiçoes para a integração física e visual do riacho e das imediações, bem como a implementação de pontes e decks. Dessa forma, quatro das oito diretrizes foram atendidas na área 02.


01

ÁREA 03 - CONTEMPLAR E CULTIVAR

02

carência de uma travessia intra-quadra, pois trata-se de um miolo de quadra entre avenidas

04

08 06

01

05

Pensando nisso, além dos passeios, sugere-se que áreas de permanência compatíveis com a escala do local sejam implementadas. Pela incidência de luz solar e pela sua proximidade a habitações, a área é propícia para o plantio de hortaliças. Foram então atendidas cinco das oito diretrizes.

ÁREA 04 - VIVENCIAR

Por estar numa condição imediata às vias de circulação de veículos (Rua Lemos Torres e Av. 17 de Agosto), a área 04 é mais receptiva à condição de área de passagem. Seu caráter linear transeuntes uma caminhada segura e confortável. Nesse caso, duas das oito diretrizes foram atendidas.

97


8.5. APLICAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE DESENHO

As estratégias de desenho para a elaboração especulativa do Paraíso Urbano (P.U.) se deu essencialmente a partir de características morfotipológicas do sítio. Dessa forma, o estudo foi desenvolvido no intuito de alcançar três principais frentes de atuação: voltar os olhos ao rio, remover barreias e tornar a área produtiva. Além das análises descritas ao longo da pesquisa, as quais somam um denso conjunto de dados técnicos, houve uma leitura crítica da morfologia da quadra de estudo, a qual resultou na identificação de características predominantes e determinantes para o partido adotado. Foram traçados os eixos de força da quadra, os quais estão relacionados com a permeabilidade visual e física da área. Estes eixos tornaram-se passagens intra-quadra, estimulando a circulação de pedestres no entorno do riacho. Também foram identificados os segmentos predominantes na área de estudo, referentes ao alinhamento dos lotes, de algumas edificações e do próprio riacho. Uma vez determinado o jogo de segmentos mais frequentes no sítio, foi feito um exercício de abstração controlada que, por sua vez, resultou em uma composição de segmentos de diferentes dimensões e angulações. Esta composição determinou os principais passeios do projeto. Hora conectados, hora fragmentados, estes segmentos transitam entre circulação, pontes e decks, de modo a proporcionar uma experiência dinâmica ao usuário do P.U. Por conseguinte, foi traçado um grid de 2m x 2m, dimensão baseada no espaçamento para o plantio de fileiras de cultivo, através do qual foi composta a paginação da quadra e locação de mobiliário. Dessa forma, todos os elementos do projeto seguem modulações 98

múltiplas de dois, variando entre dois, quatro e seis metros. Estes processos de concepção de desenho estão ilustrados nas imagens seguintes (Figura 75 e 76). No que diz respeito ao redesenho da quadra, foram necessárias algumas medidas para garantir o conforto e segurança do pedestre, como a proposta de via compartilhada nas ruas Flamengo e Lemos Torres, no seu cruzamento com a Av. Dezessete de Agosto. Está sendo estudada a proposta de via compartilhada nas ruas Dona Rita de Souza e Dr. Samuel Lins. No âmbito da produção de alimentos, foi possível propor cerca de 2.700m² de área para cultivo, além de 627m² destinados ao plantio de árvores frutíferas, compondo o pomar do P.U. Estes números são consideravelmente altos considerando os padrões da agricultura urbana, sobretudo levando em consideração que se trata de uma área já urbanizada. Também foi sinalizado um espaço a princípio designado para a realização de atividades educativas, mas que também deve acolher eventos como feiras agroecológicas, manifestações artísticas e iniciativas de caráter cultural.


EIXOS DE FORÇA

GRID 2.00 X 2.00

Figura 75: diagramas de eixos de força e grid. Fonte: a autora, 2021.

SEGMENTOS PREDOMINANTES

COMPOSIÇÃO DO PASSEIO

Figura 76: diagramas de segmentos predominantes. Fonte: a autora, 2021.

99


C`

D` 01 02

03

05 04 08 07

C

D

06


A`

B` 09

13

12

10

11

B

14

A

15

N

0 05

10

20

FRENTE D’ÁGUA

01 ACESSO 01

06 POMAR

11 ÁREA DE PERMANÊNCIA 04

SOLO NATURAL

02 ÁREA DE PERNANÊNCIA 01

07 ÁREA DE PERNANÊNCIA 02

12 HORTA 02

PASSEIO

03 EQUIPAMENTO PARA ATIVIDADES 08 ÁREA DE PERMANÊNCIA 03

13 ACESSO 03

PLANTAS AQUÁTICAS

04 HORTA 01

09 ACESSO 02

14 BOULEVARD 02

CIRCULAÇÃO

05 AQUICULTURA

10 BOULEVARD 01

15 ACESSO 04


DET. 01 DET. 01

DET.DET. 01 01

LOTE PRIVADO LOTE PRIVADO

VIA COMPARTILHADA VIA COMPARTILHADA


A`

CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO

02

CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO

0 .05 0 .0501

05

CORTE AA`

CORTE AA`

A

A` A

0 01 0 02 01

05

LOTE PRIVADO LOTE PRIVADO

01

02

02


DET. 02 DET. 02

DET.DET. 02 02

CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO

ÁREA DE PERMANÊNCIA ÁREA DE PERMANÊNCIA


02

05

05

02

02

CULTIVO DE HORTALIÇAS CULTIVO DE HORTALIÇAS

0 .05 0 .0501

01

CORTE BB`

B` B

CORTE BB`

B` B

0 01 0 02 01


DET.DET. 03 03

LOTE PRIVADO LOTE PRIVADO

POMAR POMAR


C` C

C` C

0 01 0 02 01

CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO S/N S/N

SOLO SOLO NATURAL NATURAL

0 .05 0 .0501

02

05

05

LOTE PRIVADO LOTE PRIVADO

01

02

02

CORTE CC`

CORTE CC`

DET. 03 DET. 03


DET. 04DET. 04

DET. DET. 04 04

CULTIVO DE HORTALIÇAS CULTIVO DE HORTALIÇAS

CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO


ÁREA DE PERMANÊNCIA ÁREA DE PERMANÊNCIA

02

05

05

02

02

CIRCULAÇÃO CIRCULAÇÃO

0 .05 0 .05 01

01

CORTE DD`

D` D

CORTE DD`

D` D

0 01 00201


Figura 77: acesso 01 - cruzamento entre Av. Flôr de Santana e Rua Flamengo. Fonte: a autora, 2021.


Figura 78: vista voo de pássaro do quadrante 03 - miolo de quadra. Fonte: a autora, 2021.


Figura 79: área de permanência 02. Fonte: a autora, 2021.


Figura 80: cultivo de hortaliças e circulação de pedestres. Fonte: a autora, 2021.


Figura 81: vista voo de pássaro do quadrante 04 - Av. Dezessete de Agosto. Fonte: a autora, 2021.


Figura 82: cultivo de hortaliças e circulação de pedestres no quadrante 02. Fonte: a autora, 2021.



9. CONSIDERAÇÕES FINAIS


9. CONSIDERAÇÕES FINAIS O principal estímulo para o desenvolvimento deste trabalho trata-se da inquietação com duas vertentes basais da sociedade contemporânea: o atual modelo agropecuário de produção de alimentos e degradação de corpos d’água. Alimentar-se é um ato político e é, por lei, de direito de todos. O empobrecimento nutritivo da dieta dos brasileiros está diretamente relacionado ao valor e dificuldades de acesso a alimentos de qualidade, livres de agrotóxicos e não transgênicos. O alto consumo de produtos alimentícios superprocessados diz mais políticas públicas do que sobre hábitos individuais da população. Além disso, a desumanização de práticas relativas à pecuária, também inserida nesse modelo produtivo, torna-se totalmente justificável, uma vez que a relação das pessoas com os animais se limita às bandejas de carne expostas nas prateleiras dos supermercados. Estes fatores estão intrinsecamente relacionados numa trama de distanciamento de um urbanismo sustentável, uma vez que tanto a indústria agrícola quanto a invisibilização de frentes d’água interferem diretamente no desenho das cidades. Portanto, buscou-se incorporar ao trabalho soluções baseadas na natureza e na recuperação da paisagem natural de contextos urbanizados, de modo a unir a vitalidade das águas com a produção de alimentos orgânicos. Resgatando, dessa forma, uma relação afeto-produtiva com os cursos d'água. Procurou-se gerar nesta pesquisa uma fundamentação teórica consistente no que diz respeito à relação do ser humano com os alimentos que consome, bem como estudar casos que pudessem dar suporte à 118

implementação de paisagens produtivas em situações de córregos ocultos. Com as diretrizes estabelecidas, foi possível mostrar que o desenho desenvolvido para uma área específica da cidade de Recife tem potencial para ser replicado em outros contextos irrigados, em situações com condições semelhantes, adaptando-se às demandas socioculturais e morfológicas de cada lugar. Entende-se que lidar com córregos em centros urbanos é algo que depende de uma escala maior do que uma espacialização pontual, envolvendo uma política de despoluição mais geral, e não apenas de um trecho do tecido hidrográfico de uma cidade, como está proposto no trabalho. Este tipo de solução é denominado “biorrecuperação”, e já vem sendo implementado em diversas localidades, como no Rio Pasig, nas Filipinas, utilizando tecnologias de revitalição aliadas a um sistema de tratamento de superfícies aquáticas. Portanto, o estudo parte da premissa de a recuperação de riachos urbanos é possível e que, quando adotado em escala macro, pode ter um impacto positivo na cidade como um todo. Por fim, tem-se que a expectativa do estudo é proporcionar estratégias de reincorporação de frentes d’água na vida das pessoas de maneira ativa e produtiva, enfatizando o caráter comunitário que deveria ser associado à ao cultivo de alimentos.


Figura 83: colheira de morangos. Fonte: acervo pessoal da autora, 2020..


LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Barqueiros no evento Há Gosto Pelo Capibaribe.........................................................................02 Figura 02 – Reading Broadacre, Frank Lloyd Wright.........................................................................................04 Figura 03 - Madonna e Santos no Jardim do Paraíso, Maestro dell’alto Reno.........................................14 Figura 04 - Cidade Linear de Sora y Mata.............................................................................................................14 Figura 05 - Cidade Jardim de Howard....................................................................................................................14 Figura 06 - Crianças cavando na horta da escola, Londres.............................................................................15 Figura 07 - Porcentagem de agrotóxico em alimentos....................................................................................15 Figura 08 - Uso de agrotóxicos nas lavouras........................................................................................................18 Figura 09 - Matéria sobre impacto econômico da alimentação saudável................................................19 Figura 10 - Parque integrado ao espaço urbano. High Line, NYC................................................................20 Figura 11 - Inundação na Rua das Águas Verdes................................................................................................21 Figura 12 - The Emerald Necklace Masterplan, Olmsted.................................................................................28 Figura 13 - Chesapeake and Ohio Canal................................................................................................................28 Figura 14 - Crianças andando de bicicleta em um corredor verde..............................................................29 Figura 15 - Pessoa correndo no parque.................................................................................................................30 Figura 16 - Rotatória com filtragem do escoamento de superficial, Uptown Normal, Illinois...........31 Figura 17 - Agrofavela Refazenda, horta comunitária em Paraisópolis, SP...............................................33 Figura 18 - Representação diagramática de uma CPUL...................................................................................34 Figura 19 - London LeisurEscape. Munton Road antes e depois da implementação da CPUL.........35 Figura 20 - Barcos reunidos para evento “Há Gosto Pelo Capibaribe”.........................................................40 Figura 21 - Indicação do raio de estudo na RMR................................................................................................42 Figura 22 - Riachos situados na área de estudo..................................................................................................43 Figura 23 - Mapa de estratificação de camadas infraestruturais..................................................................45 120

Figura 24 - Critérios identificados nos riachos....................................................................................................47


Figura 25 – Mapa de usos...........................................................................................................................................48 Figura 26 - Mapa de sistema integrado de espaços abertos.........................................................................48 Figura 27 - Foto aérea do Riacho Parnamirim.....................................................................................................49 Figura 28 – Riacho Parnamirim.................................................................................................................................50 Figura 29 – Entorno do Riacho Parnamirim.........................................................................................................50 Figura 30 – Localização da quadra de estudo......................................................................................................51 Figura 31– Camadas infraestruturais do território.............................................................................................52 Figura 32 – Amostras coletadas no sítio................................................................................................................53 Figura 33 – Riacho Parnamirim.................................................................................................................................54 Figura 34 – Placa da PCR Largo do Holandês......................................................................................................56 Figura 35 – Vista vôo de pássaro do sítio..............................................................................................................56 Figura 36 – Diagnóstico urbano...............................................................................................................................57 Figura 37 – Mapa de usos...........................................................................................................................................58 Figura 38 – Mapa de densidades.............................................................................................................................58 Figura 39 – Cortes esquemáticos.............................................................................................................................59 Figura 40 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................62 Figura 41 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................63 Figura 42 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................63 Figura 43 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................64 Figura 44 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................64 Figura 45 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................65 Figura 46 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................65 Figura 47 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................65 Figura 48 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................66 Figura 49 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................66 Figura 50 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................67

121


Figura 51 – Weiliu Wetland Park...............................................................................................................................68 Figura 52 – Waterline Square Park...........................................................................................................................69 Figura 53 – Waterline Square Park...........................................................................................................................69 Figura 54 – Waterline Square Park...........................................................................................................................69 Figura 55 – Waterline Square Park...........................................................................................................................70 Figura 56 – Waterline Square Park...........................................................................................................................70 Figura 57 – Waterline Square Park...........................................................................................................................71 Figura 58 – Waterline Square Park...........................................................................................................................71 Figura 59 – Waterline Square Park...........................................................................................................................72 Figura 60 – Orgaopônico La Sazon.........................................................................................................................73 Figura 61 – Orgaopônico La Sazon.........................................................................................................................74 Figura 62 – Orgaopônico La Sazon.........................................................................................................................74 Figura 63 – Orgaopônico La Sazon.........................................................................................................................75 Figura 64 – Orgaopônico La Sazon.........................................................................................................................76 Figura 65 – Promover/ampliar a integração física e visual das bordas do corpo d’água....................84 Figura 66 - Reforçar/implementar a conexão do corpo d’água com as principais vias circundantes...................................................................................................................................................................84 Figura 67 - Enfatizar os eixos visuais e físicos entre edificações e o corpo d’água................................85 Figura 68 - Criar margens produtivas que possam fomentar o engajamento da população, reforçando o senso de comunidade......................................................................................................................85 Figura 69 - Utilizar espécies vegetativas que colaborem com a recuperação da biodiversidade do corpo d’água...................................................................................................................................................................86 Figura 70 - Propor intervenções que dialoguem com a escala do local, evitando equipamentos monumentais.................................................................................................................................................................86 Figura 71 - Incorporar espaços que acolham atividades educativas voltadas para a conscientização da necessidade de preservação do rio..................................................................................................................87 Figura 72 - Gerar áreas que possam acomodar grupos pequenos de pessoas, em face do distanciamento social..................................................................................................................................................87 122

Figura 73 - Pré-dimesionamento.............................................................................................................................91


Figura 74 - Quadrantes de intervenção da área de estudo............................................................................93 Figura 75 - Diagramas de eixos de força e grid...................................................................................................99 Figura 76 - Diagramas de segmentos predominantes.....................................................................................99 Figura 77 - Acesso 01 – cruzamento entre a Avenida Flôr de Santana e Rua Flamengo......................................................................................................................................................................110 Figura 78 – Vista voo de pássaro do quadrante 03.........................................................................................111 Figura 79 – Área de permanência 02..................................................................................................................112 Figura 80 – Cultivo de hortaliças e circulação de pedestres........................................................................113 Figura 81 – vista voo de pássaro do quadrante 04 - Av. Dezessete de Agosto............................................................................................................................................................................114 Figura 82 – cultivo de hortaliças e circulação de pedestres no quadrante 02......................................................................................................................................................................................115 Figura 83 – Colheita de morangos..................................................................................................................... ..119

LISTA DE QUADROS Quadro 01 – Valorização de imóveis devido a proximidade de um parque............................................31 Quadro 02 – Tipos de parque....................................................................................................................................32 Quadro 03 - Tipos de produtividade promovidos pela P.U.P.C......................................................................35 Quadro 04 - Atributos e estratégias de implementação da P.U.P.C.............................................................37 Quadro 05 – Diagrama de aspectos do sítio .......................................................................................................41 Quadro 06 - Diagrama de critérios morfológicos..............................................................................................46 Quadro 07 – Critérios analisados nos estudos de caso....................................................................................61 Quadro 08 - Diagrama de critérios atendidos pelos estudos de caso........................................................77 Quadro 09 - Estratégias de desenho......................................................................................................................89 Quadro 10 - Tipos de cultivo......................................................................................................................................91 Quadro 11 - Legenda para identificação de diretrizes.....................................................................................92 123



10. REFERÊNCIAS


6. REFERÊNCIAS BOHN, Katrin; VILJOEN, Andre. CPULs Continuous Productive Urban Landscape. Grã-Bretanha: Architectural Press, 2005. FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável: desenho urbano com a natureza. 1ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. MCMAHON, Edward T. Green Infrastructure. 37ed. Estados Unidos: Planning Comissioners Journal, 2000. BOHN, Katrin; VILJOEN, Andre. Continuous Productive Urban Landscape (CPUL): Essential Infrastructure and Edible Ornment. Vol. 34, N°2. Reino Unido: Open House International, 2009. PREMAT, A. Moving Between The Plan and the Ground. Ed. Agropolis: The Social, Political and Environmental Dimensions of Urban Agriculture. Londres: Earthscan, 2005 PER, Aurora Fernandez; MOZAS, Javier. Paradises: Urban Strategies. Vol. 52. Espanha: Independent Magazine of Architecture + Technology, 2019. Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA). Comida de Verdade. Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/consea/>. Cowspiracy Facts. Agronegócio. 2014. Disponível em: <https://www.cowspiracy.com/facts>. ESIG. Informações Geográficas do Recife. 2008. Disponível em: <https://esigportal.recife.pe.gov.br/arcgis/apps/webappviewer/index.html?id=17a5f2738ff54c6 881efca6cf9fac3d6>. FIGUEIREDO, Maria. Córregos Ocultos: Redescobrindo a Cidade. Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 97. 2009. OLIVEIRA, Kilda. Refazenda: a construção de uma paisagem produtiva em Recife. Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Católica de Pernambuco. Recife, p. 95. 2016. MCNAMARA, Tess. Crises of Urban Agriculture: Case Studies in Cuba. Yale University, Fall, Hixon Center for Urban Ecology, Tropical Resources Institute. NYC, p.70. 2016. APAC. Bacia Hidrográfica do Rio Capibaribe. <http://200.238.107.184/bacias-hidrograficas/40-bacias-hidrograficas/193-bacia-do-rio-capibari be> Acessado em 28 de Setembro de 2020. Folha de Pernambuco. Riachos em Situação Crítica. <https://www.folhape.com.br/noticias/recife-tem-riachos-urbanos-em-situacao-critica/84997/> Acessado em 30 de Outubro de 2020.

126

Oxe Recife. O Riacho Parnamirim Ainda Tem Jeito <http://oxerecife.com.br/2018/06/26/riacho-parnamirim-ainda-tem-jeito/> Acessado em 29 de Outubro de 2020.


Prefeitura da Cidade de Recife. Entrega de Chaves para Beneficiários do Conjunto Habitacional Lemos Torres. <http://www2.recife.pe.gov.br/node/290643> Acessado em 1 de Novembro de 2020. Density Atlas. Densidade Habitacional e Populacional. <http://densityatlas.org/> Acessado em 15 de Outubro de 2020. Sage Magazine. Lessons from Cuba’s Organopônicos. <https://sagemagazine.org/urban-farm-fed-cities-lessons-from-cubas-organoponicos/> Acessado em 2 de Dezembro de 2020. Landzine. Weiliu Park. <http://landezine.com/index.php/2019/01/weiliu-wetland-park-by-yifang-ecoscape/> Acessado em 3 de Dezembro de 2020. MNLA. Waterline Square Park. <https://www.mnlandscape.com/projects/waterline_square> Acessado em 3 de Dezembro de 2020.

127





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