[
[
NOVAS FORMAS URBANAS
Ensaios Projetuais
BIANCA C. M. PASCHOAL
[
[
NOVAS FORMAS URBANAS
Ensaios Projetuais
Trabalho final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie orientadora: Profa Dra Lizete Maria Rubano
aluna:
Bianca C. Monteiro Paschoal
Agradecimentos À Deus e meus pais, pelo amor,pela força e liberdade incondicionais. À toda família e amigos, pelo carinho e compreensão. Ao Renato, pelo apoio e por compartilhar comigo tantos sonhos e angústias. À professora Lizete, pela paciência, por acreditar na discussão proposta e, especialmente por me fazer acreditar e pensar em contribuir e sonhar com a melhoria da nossa cidade. Por todos que passaram, mestres e companheiras de faculdade, que em especial nos útimos anos contribuíram para que chegasse ao fim do percurso Muito obrigada!
Resumo
As antigas regiões periféricas do munícipio de São Paulo, hoje consideradas centralidades emergentes, passaram por uma transformação urbana nos últimos 30 anos. Com a chegada de infraestruturas a essas áreas, como a abertura de avenidas, a implantação de equipamentos como estações de metrô, hospitais e universidades, bairros como Moema, Tatuapé, Lapa, entre outros, que compõem o anel que contorna o centro expandido, sofreram e ainda sofrem intensa verticalização, principalmente em usos residenciais. O crescimento impulsionado pelo poder privado dá lugar aos chamados enclaves fortificados e gera alta valorização do solo. As novas formas geram condições de urbanidade questionáneis e indaga sobre quais seriam as possibilidades de atuação dos arquitetos frente à produção das construtoras. O projeto se inicia a partir do olhar sobre o Tatuapé, analisando a relação do processo de adensamento com a direção das construções verticais ao longo do bairro. Notou-se que apesar da verticalização, a densidade populacional não correspondia a densidade construtiva e, além disso, extensas áreas concentram glebas exclusivamente residenciais. O início dos estudos apontaram para a nálise de um elemento relacionado diretamente com a formação da cidade: a quadra.
Bianca Paschoal
Imagem 01: Retrato do do processo de verticalização e paisagem gerada
SUMÁRIO
-Parte I:
Radiografando o bairro
Características
Formação histórica
Transformação
-Parte II:
Estudo e Análise da forma
Concepção e formação da cidade
A quadra como unidade territorial
A quadra na história
10
34
-Parte III: Ensaios
56
Anexo
82
Bibliografia
100
[
PARTE I Radiografando o bairro
Características A região do Tatuapé, localizado a zona leste do município de São Paulo tem seu território e importância consolidados. O bairro é considerado importante centralidade emergente, sendo servido por duas estações de metrô, universidades, shopping centers e grandes hospitais. Passou a ser um ponto de referência para outras zonas da cidade devido sua infraestrutura e investimentos imobiliários significativos que desencadearam transformações territoriais.
MAPA 01: Territorialidades em transição na Zona Leste (2000)
11
tĂŞ
l Tie
M
ina arg
elso Av. C
Leste
lim Av. Sa
Ma Farah
luf
Radial
ia
Garc
Av. Ve
rea d
12
or A bel
Fer re
ira
MAPA 02: Elementos estruturadores do bairro - escala: 1:20000
N
Os limites do bairro coincidem com barreiras viárias de grande fluxo de automóveis, com a Marginal Tietê a norte, a Av. Salim Farah Maluf a oeste, o Viaduto Aricanduva a leste e a Av. Abel Ferreira a sul. O bairro ainda é segmentado pelas avenidas Celso Garcia e Radial Leste (e também pela linha do trêm). Apesar da oferta de transporte público, este é mais utilizado em grande deslocamentos, já que grande parte de sua população economicamente ativa trabalha nas áreas central e sul do município e o deslocamento intra-bairro é feito pelo automóvel e também a pé. Essa forma de deslocamento se dá principalmente próximo a ruas onde o comércio de rua ainda se mantém com força e onde suas passagens e calçadas são mais largas e propícias. Grande parte da região é composta por calçadas estreitas, espaços públicos com manutenção precária e pouco utilizados e áreas com uso estritamente residencial com extensos muros perímetrais. Isso ocasiona trânsito intenso próximo a escolas, eixos de comércio e serviços e nos acessos às grandes avenidas, principalmente nos horários de pico.
LEGENDA MAPA 02 EIXOS VIÁRIOS E LIMITES DO BAIRRO EIXOS VIÁRIOS QUE CORTAM O BAIRRO EIXOS LOCAIS DE GRANDE FLUXO EIXOS PROPOSTOS METRÔ EXISTENTE FUTURA ESTAÇÃO DO METRÔ ÁREA DE APROXIMAÇÃO ÁREA DE PROJETO
13
Bianca Paschoal
Imagem 02: Avenida Radial Leste em horário de pico (vista da passarela de acesso ao metrô Tatuapé).
14
Formação histórica A ocupação e formação do território hoje conhecido como bairro Tatuapé deu-se em quatro fases (ENDRIGUE, 2008). Em suas 3 primeiras partiu-se de eixos que cruzavam a área, que durante longo período serviu apenas como local de passagem, com poucas glebas ocupadas e urbanizadas. A ocupação da região ocorreu, historicamente, a partir das seguintes fases: I - De 1560 a 1870: A região é essencialmente rural e permanece com esse uso por 300 anos. As primeiras ocupações ocorreram ao longo do eixo que ligava o centro da cidade à Serra do Mar, às margens do Rio Tiête e se deram próximas ao Ribeirão Tatuapé II - De 1870 a 1930: Com a ampliação da estrada de ferro Central do Brasil inaugurando, em 1875, o trecho Brás-Penha, acompanhada das transformações socioecônomicas da cidade, o bairro passa a receber população imigrante e as primeiras indústrias ocupam o território. A instalação dos bondes elétricos, no final do século XIX, passou a ligar o centro à Penha pela Av. Celso Garcia. III - De 1930 a 1980: Fase industrial do bairro, quando passa por uma intensa urbanização, principalmente na parte chamada baixo Tatuapé (localizada entre a Marginal Tietê e a Linha Férrea), com a abertura das Avenidas Radial Leste e Salim Farah Maluf e também a inauguração da estação Tatuapé do metrô, em 1981. A partir daí a praça Silvio Romero também se torna uma centralidade (de comércio e serviços). IV - Corresponde aos últimos 30 anos: Vêm sendo marcados pela valorização imobiliária, inserção de atividades e equipamentos, como escolas, universidades e hospitais de grande porte, e construção de shopping centers.
15
R ADIA
LL
ANTI ESTE (
GA ES
TR AD
A
AL D CENTR
O BR A
SIL)
ANTÔ NIO D E BAR ROS
REG
16
EN
TE
FEI
JÓ
Gazeta Virtual Alô Tatuapé
Imagem 03:Praça Silvio Romero,1950
Imagem 04:Inauguração Parque dos Trabalhadores, 1974
MAPA 03: Fase II formação histórica (1930) - Mapa Sara Brasil
17
R ADIA
LL
ANTI ESTE (
GA ES
TR AD
AC
L DO ENTR A
BR ASI
L)
ANTÔ NIO D E BA RROS
REG
18
EN
TE
FEI
JÓ
Panoramio
Gazeta Virtual
Imagem 05:Construção Estação Tatuapé do metrô, 1980
Imagem 06: Parque dos trabalhadores e região atualmente
MAPA 04: Fase III formação histórica (1958) - fonte Geoportal
19
RADIA
L LESTE
ANTÔ NIO D E BAR
SALIM
FARA H
MALU
F
ROS
20
REG
ENT
E FE
IJÓ
Vale ressaltar que a evolução da mancha urbana se deu da parte baixa do bairro para a parte alta, no período correspondente às 3 primeiras fases. Já nos últimos 30 anos, com a mais recente transformação da forma urbana do bairro e sua verticalização, o processo iniciou-se na parte alta, principalmente em áreas ainda vazias.
Bianca Paschoal
O trabalho desenvolvido concentra-se na parte do Alto Tatuapé. Conhecida como Anália Franco. A região, apesar de não pertencer oficialmente ao distrito do Tatuapé, de acordo com os limites da prefeitura, foi anexada a ele e expandiu suas fronteiras, graças à sua proximidade geográfica e padrão de seus edifícios serem mais próximos aos do Tatuapé do que seu distrito oficial, a Vila Formosa.
MAPA 05: Fase atual (2008) - fonte Habisp
21
Transformação: Forma urbana atual
“como podemos falar de cidade, tentando dar a este termo uma valência comunitária, se a cidade é regulada por formas de direito privado?” (CACCIARI,2004 - pág 51)
LEGENDA IMAGEM 07 VERTICALIZAÇÃO NOS ÚLTIMOS 30 ANOS ÁREA DE PROJETO LIMITE DO BAIRRO
22
2
1
10
9 8 PARQUE PÚBLICO
AV. VE
3
7
REA
DO
RA
BEL
6
FER
REIR
5 4
A UNIVERSIDADE
SHOPPING CENTER E HIPERMERCADO
Imagem 07: Recorte do bairro (região do Anália Franco) e suas áreas de verticalização imagem aérea fonte habisp
23
1_
3_
4_
24
2_
7_
Bianca Paschoal
5_ 6_
8_
25
10_
Edifício Josephine Baker*
26
As construtoras, ligadas à dinâmica capitalista do mercado imobiliário, enriqueceram com a verticalização de bairros como o Tatuapé, Moema, Pompéia, entre outros que, a partir da década de 1980, com o aquecimento da economia e com o “boom” imobiliário, passaram a ter sua morfologia urbana transformada. A produção imobiliária, feita pelo mercado é constante alvo de críticas entre arquitetos e urbanistas, que a consideram uma forma de desfigurar bairros inteiros, construindo gabaritos exacerbados, densidades inadequadas às condições de infraestrura existentes e, essencialmente, ocupações de quadra que susbstituem um térreo rico em atividades (serviços e comércio) por muros e guaritas.
Bianca Paschoal
9_
Suas tipologias e acessos favorecem a utilização do automóvel e aumentam a sensação de insegurança. Constrói-se uma estética voltada à mercantilização de um produto arquitetônico cujo valor não estaria mais na qualidade espacial, mas nos itens oferecidos que envolvem, entre outras coisas, interiorização de atividades na área condominial . *Exemplo de tipologia da região
Edifício Josephine Baker
A tipologia apresentada exemplifica a disparidade entre o potencial construtivo e densidade populacional gerada. Neste caso, o edifício gera uma densidade habitacional alta, 400 hab/ha, com 4 habitantes por unidade. Isso ocorre devido ao número de pavimentos do projeto (38 pavimentos tipo + 1 duplex), com uma unidade de 326 m2 cada, o que gera uma verticalidade genérica, pois a densidade construtiva corresponde à 1 habitante a cada 83 m2.
27
Número de Unidades Residenciais Verticais Lançad Município de São Paulo 1992 - 2012
Número de Unidades Residenciais Verticais Lançadas Rod. Bandeirantes
Rod. Anhangüera
Rod. Anhangüera
Município de São Paulo
Rod. Bandeirantes
1992 - 2012
Rod. Anhangüera
Rod. Bandeirantes Rod. Pres. Dutra Rod. Ayrton Senna
Marginal do Tiête
Marginal do Tiête
Rod. Pres. Dutra Rod. Ayrton Senna Marginal do Pinheiros
Rod. Pres. Dutra Rod. Ayrton Senna Marginal do Pinheiros Marginal do Tiête
Av. Brig. Faria Lima
Marginal do Pinheiros
Av. Brig. Faria Lima
Rod. Anchieta Av. do Estado Av. Brig. Faria Lima
Rod. Anchieta Av. do Estado Rod. dos Imigrantes Av. Prof. Abraão de Moraes Av. Ricardo Jafet Av. Dom Pedro I Av. Paulista Av. Eng. Luiz Carlos Berrini
Rod. Anchieta Av. do Estado Rod. dos Imigrantes Av. Prof. Abraão de Moraes Av. Ricardo Jafet Distritos Av. Dom Pedro I Av. Paulista Av. Eng. Luiz Carlos Berrini
Distrito do Tatuapé
Unidades lançadas, por área de ponderação Distritos
Unidades lançadas, por área de ponderação 12.869 11.797 10.724 9.652 8.579 7.507 6.434 5.362 4.290
28
Rod. dos Imigrantes Av. Prof. Abraão de Moraes Av. Ricardo Jafet Av. Dom Pedro I Av. Paulista Av. Eng. Luiz Carlos Berrini
Distritos
12.869 11.797
Unidades lançadas, por área de ponderação
10.724 9.652 8.579
12.869 5.119 2.056 900
7.507 6.434 5.362 4.290 3.218 2.145 1.073 0
0
5
10
15
Quilômetros
Fonte: Empresa Brasileira de Estudos de Mapa 06:Lançamentos imobiliários no mercado formal de habitação Patrimônio - EMBRAESP Elaboração: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Distritos do Município de São paulo 1992/2012
3.218 2.145 1.073 0
Urbano - SMDU / Departamento de Produção e Análise de Informação - DEINFO.
Indaga-se sobre quais seriam as possibilidades de atuação dos arquitetos frente à produção das construtoras, que conduzem o desenvolvimento de projeto de maneira massificada e destituída de qualidade. Os dispositivos legais e as restrições impostas pelo zoneamento de 1972 (uso e ocupação do solo) contribuíram para configuração da forma urbana atual. O isolamento (e cercamento) do edifício no centro do lote, que é implantado a partir dos recuos mínimos estabelecidos , está diretamente relacionado com as interações geradas entre espaço público e privado , com a delimitação precisa de espaços coletivos exclusivos dos moradores de um edifício ou de um conjunto deles (o condomínio) versus o outro lado do muro. Segundo Cacciari “fechamo-nos à noite, assim que os rendimentos o permitem, num lugar-prisão”. Os termos são diversos, sociólogos americanos chamam gated communities (comunidades fechadas), Teresa Caldeira, em sua discussão sobre a dinâmica de São Paulo, denomina esses espaços de “enclaves fortificados”. “Trata-se de espaços privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo, lazer e trabalho. A sua principal justificação é o medo do crime violento.” (Caldeira, 2000 - pág 211) Os empreendimentos imobiliários lançados na região nas últimas décadas têm suas características reconhecidas em toda a cidade de São Paulo. As tipologias produzidas geram grandes áreas exclusivas, com programas congelados e subutilizados pelos próprios moradores. A substituição do padrão tradicional do bairro (os sobrados), por glebas muradas contribuem com o medo e com a desconfiança da cidade, formando um novo padrão de segregação urbana. O atrativo e a visão estratégica do mercado tornam-se a materialização de um
29
“ambiente seguro”. A tecnologia em segurança, muros altos e espaços privados, como é observado em anúncios publicitários da região, assume as rédeas do processo de venda.
Anúncio públicitário divulgado no lançamento do Empreendimento “Josephine Baker”
Os investimentos públicos e privados alimentam a especulação imobiliária e o aumento do valor do m² ultrapassa a valorização da região leste. O preço médio das unidades habitacionais no Tatuapé pode chegar aos R$ 8.300,00 o m² (fonte: O ESTADO DE S. PAULO - abril/2014), enquanto que no bairro vizinho, o Carrão não ultrapassa os R$ 5.100,00 o m². As novas tipologias produzidas a partir da década de 1980 buscavam um “enobrecimento” da população.
30
Dessa forma, as habitações encareceram e, nesse caso, não houve um crescimento populacionalsignificativo e sim a substituição parcial de uma população por outra de maior poder aquisitivo.
Unidades Territoriais Município de São paulo Tatuapé
1970 5.924.615 83.277
População 1980 1991 8.493.226 9.646.185 89.389 81.840
2000 10.434.252 79.418
“O modelo de verticalização adotado em São Paulo, produz muita área construída e pouca densidade demográfica”. (ROLNIK, 2010)
Unidades Territoriais
Área (ha)
Município de São Paulo Tatuapé
dade (pop/ha)
1 3,92 99,8
1960 3.667.899 60.493
2000 69,15 96,81
150.900 820
Densidade (pop/ha) 1980 56,28 109,01
1991 63,92 99,8
2000 69,15 96,81
Taxa de crescimento 2012 74,58 111,80
1980/1990 1,2 -0,8
1990/2000 0,9 -0,34
2000/2012 0,7 1,15
Taxa de crescimento 2012 74,58 111,80
1980/1990 1,2 -0,8
1990/2000 0,9 -0,34
2000/2012 0,7 1,15
A densidade construtiva proposta pelo mercado imobiliário e o aumento da densidade populacional em áreas próximas a corredores de ônibus e outros sistemas de transporte não caminham em um mesmo ritmo e isso é observado no desenvolvimento da região do Tatuapé. Os principais corredores viários do bairro que ligam a zona leste ao centro, como a Av. Celso Garcia e a Radial Leste, por exemplo, foram os mais degradados e sofreram um esvaziamento de moradores e trabalhadores e grande desvalorização nas últimas décadas. A ausência de equipamentos e espaços públicos e a estreita calçada para o fluxo de pedestres foram, ao longo do tempo, enfraquecendo sua vitalidade urbana. A falta de um espaço de transição entre o viário e os edifícios causou a decadência desses eixos e gerou alta emissão de poluentes atmosféricos e sonoros e também o aumento do número de
31
cortiços habitados por imigrantes de baixa renda, que foram ocupando um espaço abandonado pela cidade. O que encontramos por trás da forma urbana produzida atualmente é um zoneamento que não incentiva a relação com o espaço público, mesmo que a proximidade a um parque público ou uma estação de metrô, por exemplo, valorize o empreendimento. Outro aspecto é a alta concentração de um único uso, o residencial, no caso, com inúmeras vagas de estacionamento por unidade, aumentando os congestionamentos dentro do bairro e diminuindo o número de pedestres em circulação. Os usos de comércio e serviços se restringem a algumas vias, normalmente as de maior porte, que concentram também o fluxo intenso de veículos e o itinerário das linhas de ônibus. Também se dá na implantação de grandes shopping centers, como é o caso do Anália Franco, localizado em uma “ilha” cercada pela malha viária em que suas três entradas priorizam o acesso de automóveis. O fenômeno imobiliário ocorrido no Tatuapé, trata-se, segundo Endrigue, 2008, de uma transformação “sócio-espacial”. Transformação do espaço, na medida em que a verticalização alterou não somente a paisagem mas sua relação com a rua. Com o recuo do alinhamento do lote e a repetição desse padrão arquitetônico ao longo da quadra, gerando extensas áreas monofuncionais. E social através das tipologias projetadas para atender a uma determinada fatia da sociedade, focada na população com alta concentração de renda.
32
“ Eu fico triste com o Tatuapé de hoje, há uma ganância muito grande quanto aos prédios, uma especulação brutal do ponto de vista da construção, ‘tá’ todo mundo correndo pra cá... As pessoas não se encontram mais. O pessoal da imprensa vem falar comigo perguntando como é a vida no Tatuapé, tranquila, que as pessoas se encontram... mentira, não tem mais, esse Tatuapé que vocês estão procurando eu também ‘tô’ procurando, ficou lá atrás, acabou.” - depoimento de Pedro Abarca - conhecido historiador do bairro e morador há 72 anos. (ABARCA, 1997)
33
Imagem 08: Recorte do bairro (regiĂŁo do AnĂĄlia Franco) e usos predominantes.
34
LEGENDA RESIDÊNCIAL COMÉRCIO E SERVIÇOS INSTITUCIONAL ÁREAS VERDES/PARQUE PÚBLICO ÁREA DE PROJETO LIMITE DO BAIRRO EIXOS COM FLUXO DE AUTOMÓVEIS
35
36 Bianca Paschoal
[
PARTE II Estudo e anรกlise da forma
Expansão da Área Urbanizada Município de São Paulo 1881-2002
Concepção e formação da cidade
São Paulo é uma das cidades mais antigas do Brasil, com 460 anos, mas a cidade como território consolidado é um fenômeno relativamente novo. Durante o último século São Paulo vivenciou uma explosão de desenvolvimento, que em aspectos econômicos pode ser interpretado como positivo, pelo enriquecimento gerado e ao mesmo tempo encarado como catalisador de problemas antigos e novos, consequências deste processo. Os últimos cinquenta anos, particularmente, foram marcados pelo crescimento populacional . Período em que a cidade viveu seu apogeu de crescimento econômico com suas indústrias , capitaneando o milagre econômico vivido pelo Brasil. Esse processo exigiu enorme quantidade de capital humano (mão de obra), necessidade suprida com imigrantes e principalmente migrantes de outros estados brasileiros. Durante esse período a população da cidade passou de 3,6 mi para 8,5mi de habitantes em apenas 20 anos, durante os anos de 1960 e 1980. Expansão da Área Urbanizada Município de São Paulo 1881-2002
Distrito Parques Referências urbanas Corpos d’água Limite da área de proteção dos mananciais
Períodos Até 1881 De 1882 a 1914
Distrito
De 1915 a 1929
Parques Referências urbanas Corpos d’água Limite da área de proteção dos mananciais
De 1930 a 1949
Períodos
De 1950 a 1962
Até 1881 De 1882 a 1914 De 1915 a 1929
De 1963 a 1974
De 1930 a 1949 De 1950 a 1962
De 1975 a 1985
De 1963 a 1974 De 1975 a 1985 De 1986 a 1992
De 1986 a 1992
De 1993 a 2002 0
6
12 Quilômetros
18
>
Fonte: Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano – Emplasa. Mapa de Expansão da Área Urbanizada da Região Metropolitana de São Paulo, 2002/2003. Elaboração: Secretaria Municipal de Planejamento – Sempla/ Depto. de Estatística e Produção de Informação – Dipro.
De 1993 a 2002 0
6
12
18
>
Mapa 07:Expansão da Área urbanizada do município de São Paulo Quilômetros
Fonte: Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano – Emplasa. Mapa de Expansão da Área Urbanizada da Região
39
Durante a primeira metade do século XX São Paulo tinha sua mancha urbana concentrada e delimitada, bairros tradicionais como Ipiranga, Mooca, Lapa e Bom Retiro formavam as fronteiras da área urbana da cidade, regiões hoje denominadas Centro Expandido. A partir do processo de desenvolvimento da cidade, novas regiões, antes distritos distantes da mancha urbana, passaram a ser ocupadas pela crescente população. Nota-se que, mesmo com o aumento da população a densidade da cidade não tem o mesmo ritmo de crescimento. Tal fenômeno é explicado justamente pelo espraiamento da população que passou a ocupar, inclusive, antigas áreas rurais desses distritos mais afastados. Essa falta de um delimitador ao crescimento da cidade, ou seja, uma relativa abundância de novas áreas a serem exploradas, trouxe como principal consequência uma ocupação desordenada e sem planejamento básico por parte de um plano urbanístico dessas regiões. Até a criação da lei de zoneamento da cidade em 1972 o avanço do tecido urbano era simplesmente norteado pelas necessidades econômicas dos agentes, reflexo da desigualdade social que, com a valorização crescente do solo “expulsou” parte da população para áreas periféricas da cidade. A lei de zoneamento de 1972, como instrumento de ordenação urbana, buscava regular as possibilidades de ocupação do solo, com recuos mínimos frontal e lateral, estabelecendo limite de gabarito. Com isso tentava limitar o adensamento da cidade e sua direção, a partir de um coeficiente máximo a ser seguido. Em princípio, essas condicionantes buscavam uma nova “forma desejável” (NETTO e SABOYA, 2010) para a cidade, em especial para as regiões em transformação.
40
No entanto, após 30 anos de sua vigência, a cidade construída é alvo de críticas e problemas sociais, deixa lacunas, pois o crescimento e a verticalização de São Paulo foram produzidos de forma ainda mais segregacionista, fragilizando a acessibilidade e a interação entre os elementos
arquitetônicos e a morfologia urbana. O resultado da aplicação da Lei de Zoneamento acabou por configurar trechos de cidade monofuncionais. “Apesar das intenções modernizadoras, muitos dos PDs e das legislações de uso do solo contribuíram para restringir o acesso ao mercado imobiliário legal.” (MARICATO: 2001, p. 116) Na prática, as posturas definidas pelo Plano Diretor nem sempre são executadas ou apenas são utilizadas para atender interesses de setores privados. Com uma grande concentração de lançamentos de empreendimentos imobiliários em determinadas áreas de São Paulo, como é o caso do Tatuapé, e instrumentos como a compra de potencial construtivo (nem sempre feitos de forma legal na região), gerou-se maior valorização do solo, priorizando-se apartamentos de maior área. Unidades maiores para uma menor quantidade de pessoas, com mais vagas de automóvel, distantes da discussão da habitação social e, consequentemente, de uma possível democratização do solo urbano que as ZEIS, por exemplo, acabavam por representar.
Tabela 04:Lançamentos residenciais verticais entre 1992 a 2005 e suas tipologias
41
2
3
1
Mapa 05:Revisão do Plano diretor (2012) com áreas destinadas a Zeis. Recorte do Município de SP com bairro do Tatuapé em destaque. Mesmo na revisão do Plano Diretor, com a proposta de adensamento em áreas com maior infraestrutura de transporte e serviços, os corredores da Radial Leste e Celso Garcia não foram contemplados com nenhuma gleba significativa com proposta de adensamento. Dentre as áreas determinadas como ZEIS, poucas têm tido, de fato, esse destino. Não há nenhuma área indicada como Interesse Social na parte ao sul da Av. Radial Leste (maior porção do bairro). Na maior gleba destinada a ZEIS no bairro encontra-se um Batalhão da Polícia Militar (1) e nas demais (2 e 3), as áreas vem sofrendo processo de verticalização, com a construção de condomínios habitacionais fechados
42
Google street view
Google street view
Área 02- mapa 05: Próximo a Av. Celso Garcia
Google street view
Área 01- mapa 05: Batalhão da Polícia Militar
Área 03- mapa 05: Próximo a Marginal Tietê
43
A quadra como unidade territorial A formação da cidade de São Paulo e suas sucessivas transformações demonstram um afastamento entre arquitetura e cidade e uma difícil compreensão da cidade como um “fato arquitetônico” (LAMAS, 1993), como um conjunto de elementos que se relacionam e formam um todo. Segundo Lamas, a solução para a organização desses elementos que constituem a forma urbana dependem do seu contexto e da junção das disciplinas de arquitetura e urbanismo, já que ambas propõem a transformação do espaço. E como sinalizadores na concepção do espaço, diversos aspectos devem ser considerados: “- Aspectos quantitativos - Todos os aspectos da realidade urbana que podem ser quantificáveis e que se referem a uma organização quantitativa: densidades, superfícies, fluxos, coeficientes volumétricos, dimensões perfis, etc. - Aspectos de organização funcional - Relacionam-se com as atividades humanas (habitar, instruir-se, tratar-se, comerciar, trabalhar, etc.) e também com o uso de uma área, espaço ou edifício... - Aspectos qualitativos - Referem-se ao tratamento dos espaços, ao “conforto” e à “comodidade” do utilizador... Aspectos figurativos - Os aspectos figurativos relacionam-se essencialmente com a comunicação estética.” (LAMAS: 1993, p. 44 e 46)
44
A escala da quadra (ou do quarteirão) como unidade territorial de análise da forma urbana e condensador desses aspectos, permite-nos uma síntese da visão parcial de cidade: trata-se de um território delimitado que pode abrigar qualquer tipo de função e que tem em todas as suas bordas uma relação direta com a cidade e com o sistema viário e que, ao
mesmo tempo, não desempenha um papel autônomo no funcionamento da cidade, como observaremos nas análises adiante. A quadra “... é também o modo de agrupar edifícios no espaço delimitado pelo cruzamento de traçados”. (LAMAS: 1993, p. 88), no entanto, o agrupamento concebido pelas diretrizes urbanas e leis de zoneamento em cada cidade gera uma determinada forma, não necessariamente provida de qualidade urbana, o que torna superficial a definição apresentada por Lamas. A quadra, como elemento característico da cidade Européia clássica é estudada e analisada na obra de Philippe Panerai (e outros), 1986, que, por meio de exemplos emblemáticos, demonstra a evolução dessa “unidade urbana de referência” no tempo e afirma que ela não pode ser desvinculada da história da sociedade e das modificações estruturais (políticas e econômicas), influenciando diretamente na vida cotidiana do habitante e nas transformações sociais. O quadro da evolução das formas urbanas ao longo da modernidade apresentados por Panerai desde a quadra de Haussmann até a cidade radiante de Le Corbusier mostra a sua dissolução ao longo do tempo. Um dos principais questionamentos levantados é “como a quadra permite a relação entre o interior e exterior, entre a vida privada e o domínio público.” (PANERAI - p. 163) “É preciso que retomemos esta lição esquecida sobre as cidades antigas e a facilidade que elas fornecem à vida cotidiana.”(PANERAI: 2013, p. 202) A modernidade e suas formas produzidas eram focadas principalmente na habitação, já que a tranformação da sociedade na época necessitava uma nova organização da vida cotidiana e a consolidação de uma identidade de lar e espaço familiar.
45
A redução ao uso habitacional e sua separação da rua, com o edifício solto no lote consolidaram a ruptura à estrutura hierarquizada da cidade tradicional que garantia uma transição de diferentes usos e escalas.
ESPAÇO PEQUENO
MORADA
TRANSIÇÃO
CIRCULAÇÃO - ESPAÇOS COLETIVOS COMÉRCIO - ESPAÇO PÚBLICO
ESPAÇO URBANO GRANDE RUA
A análise morfológica da quadra, a partir de alguns exemplos observados busca criar uma reflexão sobre as questões abordadas em cada uma delas em diferentes níveis identificando a existência (ou não) de características comuns entre elas, as relações entre espaços construídos e livres, públicos e privados.
46
“Uma homenagem a Ernst May” - Imagem do livro “Formas Urbanas: a dissolução da quadra” que ilustra a evolução da quadra na história.
47
A quadra na História
Londres: As cidades-jardins
A cidade radiante de Le Corbusier A Paris de Haussmann
1859 1853
1913 1905
1930
Barcelona:Plano Cerdá
As ampliações de Amsterdam sul - Berlage
48
Berlim: Potsdamer Platz Copenhague: 8 House
SĂŁo Paulo: Concurso Bairro Novo
1960
2005 1992
2004
2010
Madrid: Mirador
BrasĂlia:Superquadras
49
Plano Cerdá, Barcelona (1859) Com a industrialização e acelerado crescimento da população de Barcelona que, de 70.000 habitantes em 1759 passou para 150.000 em 1859, algumas áreas do centro velho chegaram a um extremo de 1.700 hab/ha (a média da cidade era de 850 hab/ha). Esse processo desencadeou uma insalubridade tal que acabou por gerar um dos maiores índices de mortalidade da Europa.(CALABI, p. 24) Apesar da realização de um concurso para a ampliação de Barcelona, o plano foi desenvolvido pelo Engenheiro Ildefonso Cerdá, que 3 anos antes do concurso havia realizado o levantamento topográfico da região. Os conceitos básicos para a elaboração do plano foram: homogeneidade da forma urbana e a marcação do sistema viário. Foi criada uma estrutura rígida, a partir de uma malha ortogonal, formando um módulo de 113m x 113m, incorporando-se as pré existências (o bairro gótico e o bairro antigo) ao plano.
50
Mapa 08: Plano Geral de expansão de Barcelona
A relação de cheios e vazios acabou por se estabelecer na proporção de um terço construído e dois terços destinados a jardim e o gabarito máximo girou em torno de cinco pavimentos, sendo o térreo destinado ao comércio. Suas esquinas foram chanfradas gerando uma melhor visualização e fluxo.
espaço coletivo/público
250 habitantes/ha
A utilização do vazio central da quadra varia de acordo com a ocupação perimetral, ora totalmente preenchida pelos edifícios, gerando um espaço coletivo de uso exclusivo dos moradores da quadra, ora com aberturas produzidas pela não construção de uma ou até duas faces da quadricula, criando praças públicas com vários acessos livres.
Perspectiva aérea (fonte Google earth)
51
A execução deste ensaio urbano deu origem a uma metodologia publicada pelo próprio Cerdá, com preceitos que poderiam ser seguidos e aplicados em cidades distintas, seguindo as seguintes etapas: “ análise (dados e topografia); definição das necessidades e das funções de acordo com as classificações; motivo das escolhas; e definição planimétrica das escolhas...” (CALABI, p. 27) Barcelona passou a ter uma densidade de 250 hab/ha e a relação das quadras e suas proporções de uso funcionam como um sistema em que, por exemplo, seria implantado um mercado a cada quatro quadras, um parque a cada 8 quadras e um hospital a cada 16 quadras.
52
Superquadras, Brasília (1960)
Perspectiva aérea (fonte Google earth) Parte do Plano Piloto, elaborado por Lúcio Costa, as superquadras foram projetadas como seminais e deveriam constituir o setor residencial da nova capital do país. Como uma estrutura rígida, delimitada por um cinturão verde de 20 metros, a superquadra segue uma modulação de 280 m x 280 m, com os edifícios laminares, de seis pavimentos, sobre pilotis, possibilitando a total liberação do térreo. Cada quadra abriga uma população de cerca de 3000 habitantes, gerando uma densidade de 380 hab/ha. Um conjunto de quatro quadras forma um sistema que é abastecido por um centro comercial e uma creche, constituindo uma unidade de vizinhança.
53
Relação cheios e vazios Projeção dos edifícios habitacionais 15% da quadra Áreas verdes: 55%
380 habitantes/ha
54
Potsdamer Platz, Berlim (1992) Diferente dos projetos já citados a Potsdamer Platz tratada como reconfiguração de um território , é reflexo de uma outra situação histórica. Projetada após a queda do muro de Berlim, a proposta possui um programa extenso e bem diversificado com habitação, escritórios, shopping, cinemas, cassino e biblioteca. A praça como elemento inicial do projeto serviu como ponto de irradiação, em que a partir dele o extenso programa foi concebido e setorizado em uma área de quase 7 hectares (cerca de 68.000 m2 ). Dessa maneira, a quadra isolada não funciona como um elemento de análise, mas sim um conjunto de quadras que compõem a forma e o programa solicitado, complexo que exemplifica o funcionamento de uma pequena cidade dentro de outra cidade. A forma urbana produzida busca uma relação com a cidade histórica tradicional, com a predominância do gabarito de até 8 pavimentos e o acesso ao interior da quadra como espaço aberto para a cidade, funcionando como uma rua de comércio, ainda que coberta em alguns trechos.
Perspectiva aérea (fonte Google earth)
55
56
A diversidade programática dos 550 hectares construídos garantem a vitalidade da área, que permanece movimentada o dia todo. Sua forma é composta por blocos perimetrais com uso predominante de escritórios (cerca de 30%), o uso habitacional aparece em proporções bem menores, com tipologias variadas. Estima-se, segundo a administração da área, que cerca de 80.000 passem pelo complexo, todos os dias.
Mirador, Madrid (2005) Acompanhando a demanda habitacional e a valorização do solo de bairros periféricos ao centro histórico de Madrid, o Mirador nasce como uma releitura crítica aos blocos compactos da cidade tradicional. Segundo os autores do projeto, o escritório holandês MVRDV, a quadra ocupada perimetralmente deu as costas da cidade, com seu pátio privado criou uma experiência isoladora e um espaço restrito apenas aos moradores.
Perspectiva aérea (fonte Google earth)
Como resposta à crítica colocada, a área coletiva da habitação (o pátio) é elevada a 40 metros de altura, liberando o térreo para o espaço público e diminuindo a projeção do edifício através da verticalização.
Esquema de concepção do projeto (fonte: mvrdv.nl)
57
255 habitantes/ha
58
Principais aspectos observados:
-
A quadra como espaço público e não privado Passeio e espaços livres generosos Gabarito não exagerado Esquina ampliada para a cidade Quadra aberta versus quadra fechada
Priorizando espaços públicos circulação de pedestres e gabaritos controlados as quadras estudadas possuem uma densidade no mínimo duas vezes maior que a densidade registrada no Tatuapé (111 hab./ha). A concepção da forma urbana parte dos vazios e não da construção genérica do cheio implantado no centro do lote. Com o fim de atingir o máximo dos índices permitidos pelo zoneamento e recuos mal utilizados, a arquitetura produzida pelo mercado imobiliário propõe a criação de barreiras entre a cidade e o espaço privado. Mesmo com o conceito “condomínio clube” com diversos espaços destinados a usos específicos, esses espaços muitas vezes não possuem escala adequada ou servem a um número restrito de pessoas, sendo assim pouco utilizados pelos próprios moradores, os chamados espaços coletivos se tornam congelados e não propiciam integração ou o encontro com o novo ou o inesperado, por serem muitas vezes super controlados. Outro aspecto observado é que apesar do distanciamento formal da aquitetura produzida nas cidades européias e pelo mercado imobiliário, este, na maioria das vezes, faz menção a cidades ou planos urbanísticos europeus na escolha dos nomes de seus empreendimentos (Exemplos da região: “Condomínio Europa”, “Edifício Haussmann”, “Residencial Bauhaus”, “Firenze e Veneza”, entre outros).
59
[
PARTE III Ensaios
62
O local O desenvolvimento do trabalho de experimentação projetual se dá a partir da contextualização do bairro e identificação de suas problemáticas e potencialidades a partir de um lote real, a escala da quadra, no caso. A área de intervenção é de aproximadamante 01 hectare (10.000 m²), um quarteirão com 200,00 m x 50,00 m, com desnível de 5 metros no menor sentido, ocupada em sua grande parte por edificações de até dois pavimentos, alguns lotes vazios, e um edifício habitacional de 10 pavimentos, este último mantido juntamente com outras 3 edifícações localizadas nas extremidades da quadra e incorporadas ao projeto. A escolha dessa área consolidada dentro do bairro se deu a partir de dois aspectos principais: -Sua localização na escala do bairro: Área com predominante uso residencial e possível eixo de ligação com a infraestrutura existente e a proposta (estações Tatuapé e Anália Franco) tornando-se potencial eixo de circulação de transporte público cruzando o bairro.
63
-Sua localização e seu entorno imediato: Suas divisas exemplificam diversas relações entre usos e tipologias. Na atual configuração, apesar da proximidade, a escola de educação infantil (totalmente murada) não utiliza da praça pública com grande extensão para atividades durante as aulas, assim como os moradores das residências unifamiliares também localizadas em frente a mesma.
64
Bianca Paschoal
A verticalização mais recente, próxima a área do projeto tem seus edifícios implantandos cada vez mais distantes do perímetro da quadra, com altos muros que inibem a escala do pedestre, e com edifícios que chegam a atingir até 40 pavimentos mais os níveis de estacionamento.
Verticalização
Habitação unifamiliar
Escola
Espaço Público
65
Pré existências A idéia de ensaio urbano partiu da identificação de uma tendência inerente à uma área servida de equipamentos e ifraestrutura: a verticalização e o adensamento, ou seja, a transformação da paisagem, da quadra loteada com residências unifamiliares para o remembramento de lotes e a implantação de um edifício de habitação. Essa brusca substituição da forma, demolindo quadras inteiras, demonstra a ausência de critérios que elejam memórias e histórias de uma região a serem preservadas e elimina, cada vez mais, uma identidade regional de cada bairro, ou área da cidade. A preservação de algumas construções para a realização dos ensaios busca uma transição e integração de tempos e escalas distintas.
2
1
3 4 5
66 Edifícios mantidos em destaque.
4_
Bianca Paschoal
1_ 2_
3_
5_
67
Ensaios Os experimentos e hipóteses de formas, apresentados a seguir, nascem a partir do questionamento da forma urbana produzida atualmente e são geradas como reflexo dos aspectos apreendidos ao longo da análise das quadras na história. A valorização do espaço público, o aumento da densidade populacional, a proposição de fluxos e deslocamentos no interior da quadra iniciaram a formação do pensamento, como ponto de partida na concepção da forma de diversas maneiras.
68
Ensaio I - “O Moderno na cidade contemporânea” A liberação do térreo, a setorização dos usos e a criação de uma rua corredor de comércio no eixo central da quadra foram alguns dos pontos relevantes na organização deste ensaio. Os edifícios soltos formam no todo um conjunto homogêneo.
Relação cheios e vazios e percursos (implantação térreo)
Implantação geral e número de acessos aos edifícios
69
Usos e gabarito 360 habitantes/ha
As projeções dos edifícios (habitação e comércio) ocupam cerca de 25% da área total. Com o edifício habitacional atingindo o gabarito máximo de 8 pavimentos e o edifício de escritórios 12 pavimentos, a densidade populacional gerada na quadra foi de 360 hab./ha.
Porcentagem de usos sobre área total construída 50% 9% 16% 6%
70
20%
71
72
Ensaio II - “Estrutura Urbana” O edifício como estrutura urbana, responsável pela transposição de cotas e marcação no ritmo da paisagem, foram os aspectos relevantes na elaboração deste ensaio. Nas proximidades com as pré-existências localizam-se usos ligados a serviços e comércio e a circulação se dá em diferentes níveis. No nível térreo, criou-se uma rua de comércio coberta com acessos por diversos pontos ao longo do perímetro da quadra.
Relação cheios e vazios e percursos (implantação térreo)
Implantação geral e número de acessos aos edifícios
73
420 habitantes/ha
Espaços coletivos, circulação, comécio e escritórios localizam-se nos 4 primeiros pavimentos e a habitação chega até a 8 pavimentos. A partir dessa distribuição a densidade alcançada foi de 420 hab./ha.
Porcentagem de usos sobre área total construída 53% 21% 10% 16%
74
75
Ensaio III - “Verticalismo” O bloco vertical como condensador de todas as funções concentra o cheio construído em uma porção da quadra, criando a possibilidade de uma galeria interna com pontos de circulação ao longo do edifício. A verticalização também possibilita a “elevação” de vazios em diferentes níveis como espaços livres de uso coletivo.
Relação cheios e vazios e percursos (implantação térreo)
76
Implantação geral e número de acessos aos edifícios
600 habitantes/ha
A concentração do espaço construído possibilita uma maior verticalização, e assim, uma maior adensamento, chegando a densidade de 600 habitantes/ha.
Porcentagem de usos sobre área total construída 46% 12% 12% 30%
77
78
“A arquitetura urbana se envolve principalmente com a solução de problemas da cidade, com respeito à sua lógica, seja qual for sua tradução formal.” (Panerai - p.211) A tradução formal dos objetos arquitetônicos se dá de forma eficaz quando colocamos as problemáticas da cidade de maneira clara e há um enfrentamento de questões como a falta de segurança e a alta concentração de um determinado uso, com a abertura e flexibilidade de espaços e não com a construção de muros e usos restritos. A multifuncionalidade trás à cidade a vitalidade e a segurança perdidas ao longo das ultimas décadas. A proximidade dos usos defendida pelo modernismo, ainda que em alguns aspectos ultrapassada responde à questão exposta por Cacciari: se pedimos a cidade que seja como seio acolhedor ou como uma máquina (eficaz). A resposta é: as duas cidades. A cidade tornou-se uma metrópole e as relações de vizinhança e suas formas de produção foram profundamente alterasas, com isso, o caráter “interiorano” de bairros como o Tatuapé não pode ser recuperado e nem mesmo é essa a demanda da metrópole contemporânea. No entanto a cidade como uma forma produtiva de capital vem mostrando desprezo pelo espaço público e pela integração entre diferentes escalas. “A existência pós-metropolitana continua “congelada” em espaços fechados” (Cacciari - p. 50)
79
A discussão sobre as formas de adensamento na cidade de São Paulo torna-se cada vez mais abordada no debate público e entre profissionais arquitetos e urbanistas, através de instrumentos como a revisão plano diretor e a abertura de concursos para a elaboração de prospostas que discutam melhores formas de adensamento e direcionamento do crescimento das regiões da cidade, como o concurso divulgado no último ano, “Ensaios urbanos: desenhos para o zoneamento de São Paulo.”
80
[
ANEXO Desenvolvimento do projeto
URA MO E LD DEL N A L PD. RUA
RU AJ OÃ OD EO LIV EIR AT OR RE S
PLANTA NÍVEL 0,00 (RUA NAGIB IZAR)
N
ANA MERIC RUA A
RUA NAG IB IZ AR
RA OU EM D ELL AND L . PD RUA
PLANTA NÍVEL -3,20 (RUAS LATERAIS)
N
ANA MERIC RUA A
URA MO E LD DEL N A L PD. RUA 1 2 3
4
5
R
6
8 7
9 RUA JOÃ O DE OLIV EIRA TOR RES
1_Edifício existente 2_Bicicletário 3_Existente (diretriz para oficina e aluguel de bike) 4_Galeria comercial 5_Estacionamento 6_Praça pública 7_Exposicões(diretriz) 8_Existente 9_Mercado e padaria
PLANTA NÍVEL -5,00 (RUA JOÃO DE OLIVEIRA TORRES)
N
RUA NAG IB IZ AR
8
8
ANA MERIC RUA A
4
CORTE URBANO COTA 0.00 (RUA NAGIB IZAR)
90
91
CORTE URBANO COTA -5,00 (RUA JOÃO DE OLIVEIRA TORRES)
92
93
B
A
94
B
A
N
PLANTA NÍVEL HABITAÇÃO
B B
A
A
TIPOLOGIA 01
N
TIPOLOGIA 02
95
RUA NAGIB IZAR
0.00
-3.20
CORTE A
-5.00 RUA JOÃO DE OLIVEIRA TORRES
PROCESSO CONSTRUTIVO
0.00
-3.20 -5.00
CORTE B
Bibliografia
_CACCIARI, Massimo. A cidade. Barcelona, Gustavo Gili, 2010 _CALABI, Donatella. História do urbanismo europeu: questões, instrumentos, casos exemplares. 2012 _ENDRIGUES, Taisa da Costa. Tatuapé: A valorização imobiliária e a verticalização residencial no processo de diferenciação sócio-espacial. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Universidade de São Paulo. 2008 _FONSECA, Antônio Claudio Pinto da. A promoção imobiliária privada e a construção e a construção da cidade de São Paulo. Tese de doutorado. Faculdade de arquitetura e urbanismo de São Paulo. _LAMAS, José Manuel Ressano Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade. sl: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. _MARICATO, Erminia. Brasil, Cidades - Alternativas para a Crise Urbana _NETTO, Vinicius de Moraes; SABOYA, Renato T. de. A urgência do planejamento. A revisão dos instrumentos normativos de ocupação urbana. Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 125.02, Vitruvius, out. 2010 <http://www. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.125/3624> _PANERAI, Philippe. Formas Urbanas : a dissolução da quadra / Philippe Panerai, Jean Castex, Jean Charles Depaule ; tradução: Alexandre Salvaterra. Porto Alegre : Bookman, 2013.
100
sites visitados http://mdc.arq.br/2009/06/02/os-blocos-de-superquadra-um-tipo-da-modernidade/#_ ftn15 http://www.vitruvius.com.br http://raquelrolnik.wordpress.com mmbb.com.br mvdrv.nl/projects http://lsecities.net/media/objects/articles/urban-age-cities-compared/en-gb/ http://seresurbanos.blogfolha.uol.com.br/2014/03/20/predios-de-oito-andares-podemdeixar-a-cidade-mais-densa-do-que-espigoes/ http://classificados.folha.uol.com.br/imoveis/1210235-tatuape-e-distrito-mais-caro-da-zona-leste.shtml
101