Chaya, Faces de Clarice Lispector Biatriz Hollanda Barbosa DSG 1032 Projeto Final de Comunicação Visual 2013.2 Evelyn Grumach Suzana Valladares Washington Lessa PUC-Rio Departamento de Artes e Design Graduação em Comunicação Visual
sumário
agradecimentos_4 introdução_6 proposta_8 Clarice (Chaya) Lispector_9 escrita feminina_10 barroco_12 seleção e ordenação_13 escolha do formato_14 layout_15 espelho_16 falas de Clarice Lispector_20 falas de terceiros_31 abertura_32 capa_33 papel e encadernação_34 conclusão_35 bibliografia_36
agradecimentos Família e amigos ao meu pai, Paulo, por ter me con-
foi uma figura indispensável nessa formação,
vencido a fazer minha pré-inscrição sem com-
obrigada por ser assim tão guerreira e por estar
à futura médica Bruna e à farmacêutica Marlede, por serem minhas que-
promissos neste curso pois eu já estava quase
sempre ao meu lado para enfrentar o que vier.
ridinhas sempre. Sei que vocês me perdoam ter
decidida a tentar vestibular novamente para a
Agradeço à minha avó, Marilena, por inspirar
mudado de lado na última hora e decidido fazer
ESDI. Não sei o que teria sido de mim se tivesse
esse trabalho, um dia ainda vou editar seu livro!
design e não biologia. Nossas vidas profissionais
Agradeço
tomado outra decisão, mas com certeza fico feliz por estar aqui e você sabe o quanto! Agradeço também pelo carinho de todos os dias, saber que tenho o apoio de alguém que vai ver todos os meus trabalhos, achar lindos, e ainda procurar
Agradeço ao meu irmão, Raphael, por todo o apoio e por estar sempre disposto a avaliar meus trabalhos antes da entrega e comentar sinceramente sobre os resultados.
alguma coisa para comentar, é o que me mantém
Agradeço ao Henrique, por ter sobrevivido por
forte para continuar. Pai, te admiro de verdade,
4 anos e meio de faculdade a todo o meu stress
obrigada pelo exemplo que você é!
causado pelos trabalhos, especialmente nessa
Agradeço
à minha mãe, Cynthia, pela dedi-
cação em me fazer sobreviver nessa faculdade, entendendo que às vezes eu não podia ajudar muito em casa porque precisava dar conta de mil trabalhos. Agradeço todos os mimos e todas as vezes que não só se ofereceu para me ajudar nos trabalhos, como também sentou no chão
reta final, e por estar sempre ao meu lado, pronto para falar algo que me fizesse rir ou insistir para fazer outra coisa quando percebia que eu não estava mais aguentando. Agradeço também por me ouvir tagarelando diariamente sobre cada detalhe do que enfentrei no dia, isso mostra o quanto você realmente me ama!
Agradeço
se distanciaram, mas nossos corações não!
às queridinhas Ana Carolina Cupello, Ana Melo, Fernanda Cintra, Eduarda Martins, Letícia Guimarães, Luiza Rodrigues, Priscila Costa e Vanessa Bernardes por me mostrarem como tem gente
Agradeço
linda, dedicada e perfeccionista nessa faculdade; vocês são piores que eu!
Faculdade Agradeço ao meu orientador, Washington
Lessa, pelo trabalho em conjunto para fazer com que essa ideia desse certo. Agradeço por toda a confiança depositada em mim e por sempre estar disposto a me encontrar para
do quarto junto comigo e brincou de desenhar
Agradeço à Pri pela amizade sincera. Se a facul-
tirar dúvidas extras. Sem sua persistência em
com massinha, colorir com cera de vela, etc. Você
dade me deu um presentinho, este foi você! : )
encontrar junto comigo o ritmo das páginas e o
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agradecimentos estranhamento de Clarice, esta experiência não
para o conteúdo. Assim, nas primeiras semanas
teria sido tão incrível. Agradeço também por ter
de aula já estava com tudo pronto para a edição
me dito já no primeiro dia de orientação que iria
e as experimentações.
ler a obra do Benjamin Moser, não por mim, mas porque era uma boa desculpa para fazer algo que ele já estava com vontade a muito tempo. Desde aquele momento eu agradeci algumas (muitas) vezes pelo orientador que escolhi.
Agradeço
à Vera Bernardes por me indicar a
leitura da biografia do Benjamin Moser ainda no anteprojeto. Sem ela, tudo teria sido diferente. Agradeço também por aceitar o convite para a minha banca e se interessar por ouvir sobre
à Evelyn Grumach por seus
meu projeto quando nos encontramos nos
comentários pertinentes durante o processo e
corredores, além de oferecer ajuda. Infelizmente
por fornecer sempre seu olhar criterioso quando
o semestre foi tão corrido que não tive tempo de
precisei. Agradeço também por me alertar sobre
mostrar processo ou resultado antes da banca,
a qualidade da tipografia que eu estava usando
mas sua importância na minha formação não
nas falas de terceiros. Eu não estava me sentindo
me deixou dúvidas sobre quem deveria chamar
segura com a escolha e acho que o trabalho deu
para esse momento.
Agradeço
um salto quando eu encontrei uma substituta.
Agradeço
à Ana Branco por sempre dizer
à Suzana Valladares, por ter
coisas que desafiam a forma como acho que
ajudado a encontrar uma solução para minhas
todos pensam, gerando em mim querer entender
angústias de anteprojeto quando pediu que eu
mais as pessoas e os diferentes pontos de vista.
escolhesse uma autora para trabalhar. Agradeço
Agradeço também pela nossa conversa sobre
também por ter sido tão enfática sobre a
mestrado que me levou a ter mais vontade ainda
necessidade de ter um conteúdo organizado
de explorar as possibilidades dessa escolha.
para dar início à segunda etapa do projeto,
Agredeço aos queridos, Ana Melo, Dora
o que me fez correr atrás durante as férias e
Reis, Henrique Moraes, Bruno Cordeiro,
Agradeço
eleger a biografia de Benjamin Moser como guia
Aline Quarti, Fernanda Leão, Ana Balderramas, Anna Marzocchi, Bruna Alfo e Victória Galvão. Considero todos a outra metade da minha dupla esse período, sem vocês o projeto teria sido pura solidão.
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1 introdução
Este projeto surgiu com uma ideia que, ao longo deste ano, sofreu transformações radicais. Permancem, no entanto, sua essência e propósito. A primeira proposta apresentada começava assim: O projeto que pretendo desenvolver como conclusão consiste na edição de uma peça gráfica que reúna as poesias/textos escritos pela minha avó, Marilena Moreira, poetisa amadora contemporânea. Tratando de temas que estão sobretudo ligados ao fim da vida associado ao medo do futuro desconhecido e às boas e más lembranças do passado, os poemas me levaram a uma reflexão que gostaria de propor nesse momento: como transmitir visualmente sensações como medo, angústia e nostalgia?
Desde lá, muitas definições de projeto foram repensadas, e a principal delas foi a mudança na escolha da autora: de minha avó, Marilena Moreira, à Clarice Lispector. Esta decisão partiu de uma série de pesquisas feitas acerca da escrita feminina, um campo de estudo na literatura brasileira e mundial que me levou a definir uma representante deste movimento como tema, por motivos expostos no tópico “a escrita feminina”. De modo geral, em relação ao design, a particularidade desse projeto é pensar como a composição gráfica da página pode contribuir para a transmissão visual de sensações intangíveis. Este projeto é, portanto, um exercício de transmissão de conceitos subjetivos e da busca pela relação entre a linguagem gráfica e as sensações que pode transmitir, seja pelas formas, tamanhos, espaçamentos, cores, etc.
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O que estou fazendo ao te escrever? Estou tentando fotografar o perfume. - Clarice Lispector
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proposta
A proposta deste projeto é interpretar graficamente trechos da obra de Clarice Lispector, de modo a traduzir sua linguagem subjetiva e os nuances de sua intensa personalidade. Com este fim, 43 trechos foram selecionados, utilizando como referência o livro Clarice, uma biografia de Benjamin Moser. Entre eles, encontram-se partes retiradas de cartas escritas pela autora, trechos de livros, contos, crônicas e transcrições de entrevistas, além de alguns depoimentos de pessoas que a conheceram. Partindo deste conteúdo, experimentou-se diversos graus de expressão visual, de forma a perceber a ocorrência de intensificação de sentido provocada pela composição gráfica. É importante ressaltar que as interpretações propostas não tinham como objetivo uma abordagem neutra sobre a obra da autora, uma vez que os trechos interpretados tratam de temas muito pessoais. De certa forma, houve um processo de transcriação dos mesmos nas composições, e isso significa que minha visão pessoal foi inevitavelmente e propositalmente contemplada.
O que estou fazendo ao te escrever? Estou tentando fotografar o perfume.
- Clarice Lispector
Este livro foi composto pensando no momento quando o leitor, na livraria, permite a si mesmo o tempo de vagar e folhear uma diversidade de obras. A intenção é que ele abra uma página qualquer, se interesse pela composição, leia seu conteúdo, passe para a próxima, seja surpreendido, e assim por diante. Até que seja fisgado pelo conteúdo intenso e particular da obra de Clarice Lispector.
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Clarice (Chaya) Lispector
Chaya_do hebraico, significa “vida, viver” Clarice Lispector nasceu na Ucrânia, em 1925. Ainda muito nova, veio morar no Brasil, tendo passado a infância em Recife. Em 1937 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em direito. Estreou na literatura muito jovem com o romance Perto do Coração Selvagem (1943). Entre suas obras mais importantes estão as reuniões de contos A Legião Estrangeira (1964) e Laços de Família (1972) e os romances A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977). Características reconhecidas da obra clariceana serviram como norteadoras das decisões de projeto. Olga de Sá, em A escritura de Clarice Lispector (1979), faz um apanhado dessas características, destacando as seguintes: _quebra de linearidade discursiva _metáforas estranhas como oposição ao lugar comum _comparações _paradoxos _pontuação particular _repetições _frase fragmentada _predominância da terceira pessoa narrativa _metalinguagem _linguagem visual e plástica “Além dos recursos visuais e plásticos, muitos críticos consideram sua linguagem barroca, pelo excesso de figuras de linguagem, principalmente os oxímoros e paradoxos, comparações e metáforas, tornando-a marcada pelos contrastes e analogias. A presença dessas figuras torna seu estilo carregado de “estranhamentos”, construindo, dessa forma, imagens insólitas e aparentemente contraditórias.” (ARAUJO, 2010, p. 2).
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escrita feminina
Para alguém nascido após as revoluções de cunho social acontecidas ao longo dos anos 1960 e 70, é difícil imaginar como o mundo mudou radicalmente em tão pouco tempo. Até começar a pesquisar para este projeto, jamais teria imaginado que o reconhecimento da literatura de autoria feminina é algo tão recente. Avaliando o período que abrange 1975-85, Luiza Lobo (1993) constata que é nesse momento da história que “as mulheres buscam se libertar dos papéis tradicionais, tanto no plano social quanto no literário”. Assim, por mérito de revoluções feministas e seus reflexos nos anos que se sucederam, a expressão escrita femina não é mais utilizada para denominar uma sensibilidade contemplativa e exacerbada de um sentimentalismo fantosioso, tal qual ocorria àquelas obras assim identificadas no século XIX, mas sim um termo que designa a produção literária caracteristicamente feminina. Vários investigadores e teóricos, majoritariamente mulheres, debruçaram-se nessa investigação na tentativa de encontrar algo que singularize a escrita feminina, tanto a nível temático como a nível formal. A escrita feminina, estudada por esses teóricos, se deu em resposta à tradição patriarcal da cultura ocidental, onde a literatura, basicamente produzida por homens, apresenta uma visão do mundo a partir de um ponto de vista masculino. Tais textos célebres normalmente apresentam a mulher como objeto ou como “o outro”. Segundo a teórica Ina Schabert, este esquema conceitual no qual o homem correspondia ao sujeito e a mulher ao objeto da escrita mutilou a atividade literária das autoras e tornou masculina a história da literatura, discriminando a escrita das mulheres.
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escrita feminina
Em meio a essas considerações, Hélène Cixous (1995) afirma que “écriture féminine é aquela que excede ao discurso falocêntrico, cuja rigidez impede o livre jogo dos significantes”. O processo da escrita feminina é, portanto, de certo modo especulativo e subversivo, uma vez que o eu que escreve é um eu que experimenta falar diferente, de modo particularizado, com uma voz que se caracterize como voz de mulher. “Elas não devem fingir rivalizá-los através da construção de uma lógica do feminino que novamente tomaria como seu modelo o onto-teórico. Elas devem em vez disso tentar liberar essa questão da economia do logos. Elas devem, portanto, colocar a questão na forma ‘O que é a mulher?’. Elas devem, por meio da repetição- interpretação da maneira em que o feminino se encontra determinado no discurso – como falta, defeito, ou como reprodução mimética e invertida do sujeito – mostrar que do lado feminino é possível exceder e perturbar essa lógica.” - (Luce Irigaray, filósofa e feminista belga).
Foi considerando o caráter transgressor e experimental dessa forma de escrever que resolvi escolher para este projeto Clarice Lispector, uma vez que Hélène Cixous, cunhadora do termo écriture féminine, apresenta a autora como representante desse contexto.
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barroco
Em face do que foi exposto a respeito da obra clariceana (pag. 7), utilizou-se como referência o estilo barroco para dar início às interpretações. Arnold Hauser, em sua publicação História Social da Arte e da Cultura, expõe algumas tendências do Barroco que foram consideradas nas composições: _intenção de transmitir efeito de ilimitado, imensurável, infinito, dinâmico, subjetivo e inapreensível _preferência pelo profundo sobre o raso _estruturas dinâmicas, menos estáveis, sem fronteiras rígidas
1_Rubens_The Consequences of War 2_Giambologna_Rapto de Sabina
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2 seleção e ordenação A seleção dos trechos foi feita a partir do livro Clarice, uma13 biografia, de Benjamin Moser. O principal critério adotado foi privilegiar textos que apontassem algo sobre a personalidade da autora, ainda que em forma de metáfora. Total_ 43 trechos Com os trechos selecionados, partiu-se para uma ordenação lógica dos mesmos. Logo no princípio, foi descartada a organização cronológica, já que não correspondia aos anseios do projeto. Assim, a solução adotada foi ordená-los de modo que os trechos ora se auto-alimentassem, ora se contrastassem absolutamente, tanto semântica como graficamente.
Resultado do processo de seleção: o livro Clarice, uma biografia, marcado com post-its.
3 escolha do formato Em relação ao formato, o primeiro impulso foi buscar um tamanho pocket, uma vez que se pretendia estabelecer uma relação íntima com o livro. Porém, pensando melhor sobre o assunto, este formato parecia padrão demais para atender a uma publicação sobre alguém tão incomum quanto Clarice Lispector. O formato adotado foi 22cm x 19,2cm.
22cm
aproveitamento de papel em folha BB (66cmx96cm)
19,2cm
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4 layout Adotou-se como partido separar os layouts em duas principais 15 categorias: falas de Clarice Lispector e falas de terceiros. Deste modo fica claro para o leitor quem está falando. Por outro lado, as diferentes origens dos trechos de Clarice (romance, crônica, carta, entrevista, etc) não possuem distinção, de modo que se mesclem para que juntos comuniquem algo sobre a personalidade da autora. Este capítulo expõe as escolhas tomadas para cada categoria, bem como as exceções que foram contempladas.
1_Fala de Clarice Lispector 2_Fala de terceiros (com representação da grid)
espelho (falas de Clarice Lispector) 16
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espelho (falas de terceiros)
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espelho (processo)
A edição do material foi bastante estudada para dar ritmo à relação entre as páginas, de modo que, uma após outra, haja uma nova surpresa para o leitor. As posições das falas de terceiros, por exemplo, não respeitam uma ordem matemática, mas sim um ritmo de composição que se deseja obter. 18
espelho (96 pรกginas)
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falas de Clarice Lispector (tipografia)
Os trechos de Clarice Lispector são apresentados sob duas formas tipográficas que se alternam livremente, tendo sido escolhidas para cada trecho em função do sentido que se desejava transmitir. Em alguns casos há também interação entre elas.
1. Trixie Text Regular
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz Esta tipografia courier foi escolhida por fazer referência a máquina de escrever, instrumento utilizado pela autora para compor e organizar seus escritos. Nos casos onde a Trixie Text foi utilizada, o cuidado com a forma que a massa de texto criava na página foi o principal meio de transmitir sentido através da tipografia.
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exemplo de aplicação da Trixie Text
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exemplo de aplicação da Trixie Text
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exemplo de aplicação da Trixie Text
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exemplo de aplicação da Trixie Text
falas de Clarice Lispector (tipografia)
2. Caligrafias As caligrafias foram introduzidas como forma de trazer maior flexibilidade e expressão às composições. No início, a ideia era usar tipografias diferentes para expressar diferentes sensações. Contudo, ao longo das experimentações, percebeu-se que o uso da caligrafia conferia à composição maior impacto. Assim, quando o trecho trata de um momento de dor, a caligrafia é trabalhada com formas irregulares e pontudas, representando uma espécie de tortura. No entanto, quando a ideia é transmitir a sensação de leveza, as formas da caligrafia são arredondadas e fluídas, e assim por diante. Esse mesmo pensamento acontece para a escolha do material utilizado. É importante ressaltar que em nenhum momento pretendeu-se reproduzir uma caligrafia que soasse como a da autora, mas sim que se relacionasse com o trecho em questão. Além disso, a escolha pelas caligrafias de minha autoria ressalta a subjetivdade da obra e, de certo modo, explicita que sou eu quem está dizendo em conjunto com Clarice.
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exemplo de pรกginas com caligrafias
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exemplo de pรกginas com caligrafias
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exemplo de pรกginas com caligrafias
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exemplo de pรกginas com caligrafias
falas de Clarice Lispector (composição)
As composições feitas com as falas de Clarice Lispector tem como principal objetivo transmitir características subjetivas e intangíveis, presentes nos trechos. Sendo assim, além das composições tipográficas, utilizou-se diversos recursos para criar fundos que, por meio de cores, formas ou materiais, buscam significar algo. Definu-se também que essas composições não deveriam ser figurativas, “permitindo ao leitor imprimir seu próprio significado acerca do que está vendo, e que não respeitariam nenhuma grid, mas priorizariam ocupações poucos convencionais da página.
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1
2
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4
Exemplos de composições criadas a partir de diferentes recursos: 1_fotografia tratada digitalmente, 2_textura tipográfica, 3_experimentações com scanner e 4_costura sobre papel digitalizada.
falas de terceiros
Vista Sans Regular 9/13 ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz Vista Sans Italic 7/13 ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ abcdefghijklmnopqrstuvwxyz
1 cm
6,2 cm
As falas de terceiros tem uma configuração especial e mais tradicional em relação às falas de Clarice. Em primeiro lugar, o que as distingue é a ocorrência de fotografias da autora, sempre em P&B, que podem aparecer sangradas ou em um tamanho próximo ao seu original físico. Além disso, a página que recebe o texto também é padronizada pela cor cinza (C65 M60 Y65 K60). A tipografia utilizada nesta categoria é a Vista Sans Regular (corpo 9/13) por ser neutra, embora não seja padrão, e por propiciar uma boa leitura. O texto está sempre localizado em uma coluna de 6,2 cm de largura à esquerda e alinhado por baixo à margem. A indicação do autor da citação vem logo em seguida em Vista Sans Italic (7/13), acompanhada de um número que leva às referências dos autores das citações no fim do livro.
12cm
3 cm
demostração da grid, foto sangrada.
foto de tamanho próximo ao original físico
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abertura
Manuscrito de Clarice A seção de páginas que abre o livro contém exeções em relação ao que foi apontado como regra. Sendo assim, a única ocorrência de caligrafia de outra pessoa é no manuscrito da própria autora, que se encontra na primeira dupla de páginas. Para que não houvesse confusão, este foi destacado pela distância das demais caligrafias e uma nota indicando ser um original de Clarice Lispector foi colocada em Autores das citações, nas últimas páginas do livro. Treze (ou sete) títulos A página que acompanha esse manuscrito faz referência ao romance A Hora da Estrela, cuja abertura recebe uma página com treze possíveis títulos para a obra, também diagramados em uma coluna centralizada. Neste caso, reduziu-se o número de títulos para sete, número com signifcado presente na obra de Clarice. Esses sete títulos buscam estruturar uma introdução do livro para o leitor. Fala de Clarice + foto
1_Manuscrito de Clarice e Treze (ou sete) títulos 2_Fala de Clarice + foto
A página que segue esta dupla é composta por uma foto que ocupa ambas as páginas em conjunto com uma citação da própria autora. Esta também é uma situação de exceção.
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capa
A ideia da capa é que seja neutra e, ao mesmo tempo, indique o que o leitor vai encontrar ao folhear as páginas. Assim, decidiu-se por utilizar uma imagem com textura para resgatar a materialidade e uma tonalidade quente que remete à cor da pele. As orelhas foram substituídas pela própria parte interna da capa. No verso da primeira capa, há uma foto de Clarice acompanhada de um pequeno texto que justifica o título e fala um pouco sobre a origem da autora, além de introduzir brevemente sobre do que o livro ( o mesmo ) trata. Já no verso da quarta capa, encontra-se uma breve descrição sobre a autora do livro e suas expectativas sobre ele.
verso da capa
quarta capa
capa
verso da quarta capa
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5 papel e encadernação
O papel definido para o miolo é o pólen soft 90g e para a capa, cartão 250g com laminaçã fosca. A encadernação é costurada, porém sem utilizar cola no miolo, de modo que as páginas se abram por completo, o que possibilitou algumas composições com trechos que ultrapassavam o limite da margem interna das páginas.
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6 conclusão
Este projeto foi um verdadeiro desafio. Muitas vezes me perguntei: “Será que não poderia ter escolhido uma coisa mais simples? Será que vou dar conta do que estou propondo? Será que no final não vai ser muito conceito para pouco resultado?”. Hoje sinto que é exatamente isso que se deve fazer em um projeto acadêmico: experimentar até não poder mais e propor as coisas mais arriscadas, porque não é sempre que se tem essa oportunidade. Aprendi muitas coisas com esse projeto, mas se tem uma lição que tiro é perceber quando estou sendo arrogante. Aprendi que uma crítica inesperada é muito pior que aquela que você sabe por que veio. E que uma sugestão inadequada incomoda muito pra quem está imerso no processo, mas é exatamente nesse momento que é importante parar, dar um passo atrás, e entender o que está havendo. Aprendi que não funciona simplesmente pensar “mas essa pessoa não entende nada sobre o meu projeto”. Funciona, sim, entender o que está por trás do que foi dito. No meu caso, esta situação levou a uma revolução na ordenação e composição das páginas, o que fez com que o livro ganhasse muito em qualidade e eu me sentisse desafiada a fazer algo que todos compreendessem. O curso de design me ensinou que nada de realmente bom se materializa sem trabalho. Em meio a um período turbulento, com muito (muito) trabalho e pouco descanso, atingi um resultado que me fez feliz, e isso já considero uma vitória.
7 bibliografia
MOSER, Benjamin. Clarice, uma biografia. São Paulo: Cosac Naify, 2011. 752 p. Sá, Olga de. A escritura de Clarice Lispector. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1979. LIVINGSTON, A.; LIVINGSTON, I. Dictionary of design and designers. Londres: Thaemes & Hudson, 2003. 239 p. Barroco. Enciclopédia itaú cultural. Disponível em: <http:// www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/ index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=64&lst_ palavras=&cd_idioma=28555&cd_item=8>. Acesso em: 14 set. 2013. FARIA, Patrícia Souza. O Barroco. Rede da memória visual brasileira. Disponível em: <http://bndigital.bn.br/ redememoria/barroco.html>. Acesso em: 15 set. 2013. BARBOSA, Vânia Maria Castelo; MORAES, Vera Lúcia Albuquerque. A linguagem de Clarice Lispector como desautomatização da vida. Rev. de Letras - N. 29 - Vol. 1/2 2007/2008. Disponível em: < http://www.revistadeletras.ufc.br/ rl29Art09.pdf>. Acesso em: 15 set. 2013.
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