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A filmagem

Tivemos alguns ensaios depois, onde os atores refaziam todas as ações do roteiro. Porém não era uma "passagem técnica". Havia um roteiro que conduzia as ações, mas os atores deveriam vivenciar aquela experiência a cada ensaio, sempre propondo novidades. Nos últimos ensaios, delimitamos as ações que seriam filmadas, eliminando o que era desnecessário. O texto criado pelos atores foi um importante elemento na elaboração dos personagens, mas, assim como as muitas situações que ambos criaram ao longo dos ensaios, não entraria na filmagem final, porque o roteiro não possuía falas.

A filmagem

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A filmagem do filme Olho de Peixe ocorreu no Laboratório de Criogenia da Escola de Física, do Instituto de Ciências Exatas da UFMG. O laboratório possuía a ambientação de ficção científica que buscávamos, com muitas máquinas e tubulações. Tivemos dois dias para realizar as gravações. Infelizmente, em um set de filmagem, não é possível dedicar-se integralmente aos atores, porque existe uma série de outras atividades para serem executadas - principalmente com uma equipe reduzida, que era o nosso caso. Desta forma, sugeri que os atores revissem suas ações no espaço – já que agora eles estavam no “espaço real” do filme, muito diferente de uma sala de ensaio – enquanto montávamos a cenografia e iluminação. Tivemos um problema com a iluminação do primeiro dia, de maneira que descartamos praticamente todo o material filmado. No segundo dia, com a iluminação ajustada, refizemos as cenas do dia anterior e as que restavam, em uma “maratona” que durou 26 horas. Foi uma experiência extremamente rica, embora estressante, onde pude aplicar tudo o que havíamos praticado durante os ensaios – fragmentação da atuação, alguns momentos de improvisação e dezenas de repetições das mesmas cenas. Durante a filmagem de cada take, não tínhamos ações muito demarcadas, como “o cientista pega o vidro com a mão direita, depois dá dois passos para o lado esquerdo”. O que tínhamos eram momentos muito delimitados no roteiro de filmagem, especificados com o enquadramento da câmera, que possuíam uma ação específica, mas aberta para ser executada de diferentes maneiras. Por exemplo: “cientista mistura líquidos nos vidros, observa seu experimento, faz anotações e busca livro na

prateleira”. Tínhamos como proposta uma edição não linear, com fragmentações e saltos bruscos de um plano para outro, o que nos deixou mais livres, permitindo uma não continuidade entre um plano e outro. Embora algumas cenas fossem mais livres para atuação e movimentação, em outras tudo era muito bem ensaiado e demarcado, como, por exemplo, em uma cena onde o cientista enfia bruscamente uma injeção no tórax da noiva. Colocamos uma borracha sob o figurino da atriz, onde a agulha seria fincada e ensaiamos muitas vezes a movimentação da cena, para que não houvesse qualquer tipo de acidente. Uma coisa curiosa foi que, como tínhamos orçamento reduzido para a direção de arte, tivemos que usar um peixe morto de verdade ao invés de uma réplica em látex. O peixe, em determinado momento do filme, entrava na boca do cientista. Para lidar com o odor desagradável, envolvemos parte do peixe em plástico-filme e inserimos esta parte protegida na boca do ator. Gravamos o plano e editamos como se o peixe estivesse entrando em sua boca. Uma dificuldade foi manter o nível de energia dos atores, já que entre uma tomada e outra se pode gastar muito tempo ajustando a iluminação e câmera. Além disso, como a filmagem foi prolongada devido às circunstâncias (não teríamos outros dias para filmar), com o passar das horas todos estavam exaustos. Apesar de todas as dificuldades, o resultado das gravações foi satisfatório e tivemos o material necessário para a edição.

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