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1. Imagem e dispositivo

1. Imagem e dispositivo

A concepção de dispositivo proposta por Michel Foucault (1982/1994), um dispositivo é "um conjunto de estratégias de relações de força" que condiciona e é condicionado por saberes e poderes. Dispositivos sustentam e são sustentados por instituições como mecanismos de governo ou de dominação. O dispositivo reúne estratégias que operam em diferentes dimensões, seja de natureza material ou psíquica, visando e obtendo resultados efetivos na realidade. Gilles Deleuze (1993) destaca duas primeiras dimensões de um dispositivo, a da visibilidade e a da enunciação. O dispositivo implica regimes que se definem em função do visível e do enunciável. Para além da origem etimológica do conceito de dispositivo proposto por Foucault, o termo latim dispositio, tradução do grego oikonomia, Giorgio Agamben (2009) investiga a genealogia teológica do conceito de oikonomia, que teria sido estabelecido pela igreja bizantina nos séculos VIII e IX. A "oikonomia divina"seria o dispositivo pelo qual o poder divino administra, governa os gestos humanos. Segundo Marie-José Mondzain (2015), o conceito de oikonomia visava a defesa da imagem-ícone, durante o período iconoclasta do Império Bizantino. A fim de defender o status teológico da imagem religiosa contra a suspeita de idolatria, a Igreja usa o conceito de oikonomia para sustentar a doutrina dual da imagem e do ícone. A doutrina estabelece que a imagem é invisível, portanto, não pode ser idolatrada, enquanto o ícone, que é visível, apenas semelha a imagem, para fazê-la presente, sensível. A ambiguidade dessa doutrina baseia-se na ideia da encarnação do Cristo, que é histórico e divino, como uma estratégia da oikonomia divina. Cristo encarna para que Deus possa administrar a humanidade - e por meio da salvação, promover o reequilíbrio das contas, no balanço dos pecados humanos. O Novo Testamento seria a prova de que a necessidade histórica que Deus tinha do Filho, a necessidade que o Filho tinha da igreja e a necessidade que a igreja tinha do poder temporal terreno, são a mesma necessidade, tem o mesmo princípio lógico: a oikonomia. A encarnação é o devir visível do invisível, de um modo tal que o invisível mantém a invisibilidade, como assinala Rodrigo Silva (2011). A fim de operar no mundo real, Deus envia um filho humano, o Cristo, que só é capaz de representar pai invisível, de encarnar

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