Catálogo-Guia da Exposição Bibliográfica Narrative and Medicine Illness and dialogue

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9 a 17 de Setembro


Catálogo Iconográfico Narrative and Medicine: Illness and Dialogue Narrativa e Medicina: Doença e Diálogo

NOTAS 1. As referências bibliográficas constantes neste catálogo estão ordenadas pela respectiva ordem alfabética. 2. Referências Bibliográficas de acordo com a Norma Portuguesa 405.


Catálogo Iconográfico Narrative and Medicine: Illness and Dialogue Narrativa e Medicina: Doença e Diálogo Agradecimentos extensivos a Personalidades, Instituições, Colegas e Amigos: Suas Exªs Rev.mas D. António Montes Moreira, Bispo de Bragança D. António Ribeiro †, Bispo de Viseu D.António Vitalino Fernandes Dantas, Bispo de Beja D. Manuel Felício, Bispo da Guarda Museu Antropológico da Universidade de Coimbra Museu da Misericórdia do Bom Jesus de Matosinhos Museu de Arte Sacra – Sé Nova - Coimbra Museu do Santuário de S. Torcato, Guimarães Museu do Santuário de Nª.Sª. da Abadia -Amares Museu Municipal de Pinhel Museu Municipal de Ponte de Lima Museu Nacional de Arte Antiga Museu Nacional de Etnologia Museu de Vila Alva -Vila Alva (Cuba) Agostinho Ribeiro, Dr. Director do Museu de Lamego Alberto Correia, Dr. – ex. Director do Museu Grão Vasco Alberto Seabra, Dr. -Museu Nacional de Arte Antiga Alcina Silva, Dr.ª - Museu Grão Vasco Alfredo Rasteiro, Prof. Faculdade de Medicina Universidade de Coimbra Alves de Amorim, Cónego Reitor do Santuário de Nª. Sª da Lapa, Sernancelhe Amândio Azevedo, Padre -Mação Ana Maria Afonso, Dr.ª – Arquivo Distrital de Bragança da Torre do Tombo Ana Nunes, Dr.ª ª- Santuário de Nª. Sª. da Lapa, Sernancelhe Ana Paula Dantas, Dr.ª Ana Santiago Faria, Dr.ª Aniceto, Padre – Igreja de Nª Sª das Necessidades ,Vila da Ponte António Carlos Estevinho Pires, Padre – Bragança António Silvério Cabrita, Prof. Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Basileu, Padre – Santuário Mariano Balsemão Belarmino Afonso, Padre – Bragança Cândido de Azevedo, Monsenhor- Igreja Matriz e Capela de Nª Sª. Ao Pé da Cruz – Sernancelhe Capela de Nª. Sª. das Necessidades, Soalheira (Fundão) Capela de Nª. Sª. do Carmo, Monte do Carmo (Hotel Rural) –Azaruja Capela de Nª. Sª. de Almodena, Vila Real Capela de Nª. Sª. das Dores -Vinhais Carlos Augusto Noronha Lopes, Padre -Buarcos Casa dos Milagres, Perafita, Alijó Catarina Patrício Alves, Eng.ª Clara Patrício Tavares, Eng.ª Dagoberto Markl, Dr. – Museu Nacional de Arte Antiga Donzília Maria Cágado – Zeladora da Ermida Nª Sr.ª da Visitação, Montemor – o – Novo Dulce Helena, Dr.ª Directora do Museu da Guarda Francisco Afonso, Dr. -Museu Municipal de Pinhel Igreja de S. Lourenço -Portalegre Igreja da Paróquia de Santa Maria – Castelo de Vide Igreja da Paróquia de Buarcos – Buarcos (Figueira da Foz)

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Igreja de Parada - Bragança João Maria Lourenço, Padre Portalegre João Paulo Quelhas Domingos, Padre – Beja João Pedro Tavares, Eng.º José Dantas, Dr. – Director do Museu dos Terceiros (Museu Municipal) -Ponte de Lima José Joaquim S. Baptista, Dr. – Prés. Conf. Nª Sª Abadia – Amares José Manuel Ferreira Bagorro – Vereador Pelouro Turismo – Elvas Laurindo Monteiro, Dr. Presidente da Câmara Municipal de Pinhel Manuel Graça, Padre – Reitor Irmand. Nª Sª do Alívio – Vila Verde Manuel Rodrigues de Sousa, Dr. – Director do Museu da Misericórdia do Bom Jesus de Matosinhos Maria A . Pereira Miranda, Dr.ª – Museu Antropológico da Univ. Coimbra Maria Cacilda Patrício Gomes, Dr.ª. Maria Eugénia Cunha, Prof. Doutora – Directora do Instituto de Antropologia da U. C. Morais Paulos, Padre – Mont. – o - Novo – Ermida Nª Sr.ª da Visitação Novais de Carvalho, Dr. -Juiz da Irmandade de São Torcato, São Torcato, Guimarães Nuno Porto, Prof. Doutor Museu de Antropologia U. C. Olinda Sardinha, Dr.ª - Museu Nacional de Arqueologia Joaquim Pais de Brito, Prof. Doutor – Director do Museu Nacional de Etnologia Paulo Jorge Costa Alves, Eng.º Paulo Maximino Dr. – Museu Nacional de Etnologia Rafael Cândido – Juiz Confraria Senhor Jesus da Piedade – Elvas Rodrigo Morais Soares Patrício, Arquitecto, Porto Santa Casa da Misericórdia – Álvaro, Oleiros Salvador Massano Cardoso, Prof. Faculdade Medicina U. C. Santuário do Senhor Jesus da Piedade – Elvas Santuário de Nª. Sª. das Necessidades, Vila da Ponte, Sernancelhe Santuário de Nª.Sª. de Balsamão, Chacim, Macedo de Cavaleiros Santuário de Nª. Sª. da Serra, Rebordães Santuário de Nª. Sª. do Alívio, Vila Verde Seminário Diocesano de Portalegre Sertório Baptista, Cónego – Sé Nova, Coimbra Tarcisio Alves, Dr. Padre – Castelo de Vide

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Catálogo Iconográfico Narrative and Medicine: Illness and Dialogue Narrativa e Medicina: Doença e Diálogo Introdução

Os quadros que integram a colecção não são reproduções fiéis, antes apontamentos, esquissos de originais, pertenças de museus, santuários, igrejas e colecções privadas. Procurou-se elaborá-los numa aproximação à componente figurativa mas com fidelidade à textual. Desde os tempos em que a Medicina era função de deuses, o imaginário do homem anseia o alívio e a cura das doenças físicas e psíquicas, o adiamento ou mesmo a eliminação da morte. Anseios que atingem a contemporaneidade, em que os avanços científicos não erradicam o sentimento da fragilidade humana e o conforto que ela busca em algo que lhe conceda o regaço. A medicina científica não conduz ao esquecimento ou à destruição dos métodos ancestrais a que o Homem recorreu quando confrontado com a doença. Aceita-os e integra-os na sua história tanto mais que assentam na existência de um ser superior mágico ou religioso, regulador do universo. Não será a actual ciência médica todapoderosa a metamorfose das crenças de antanho? O ex-voto pictural em regra integra-se na arte popular. Elaborado com parcos meios e sem “técnica de escola”, revela não lhe ser estranho o sentido estético e criador, pleno de autenticidade, devocional e gratulatória, e envolto em ingenuidade. Apreciá-lo é penetrá-lo, entender o que comunica, compreendê-lo no distanciamento do tempo, integrá-lo nos conhecimentos e cultura da época. Interpretar é um exercício de pesquisa pessoal em que o observador se introduz nos desejos, no imaginário, nos anseios que o peticionário, seja o “miraculado” ou outrem, seja o pintor, desejaram transmitir. O conteúdo do quadro desperta no observador compreensão e sensibilidades distintas, animadas pela interpretação ou vivência teocrática ou antropocêntrica, de acordo com os fundamentos do acreditar religioso, agnóstico ou ateu. A leitura dos textos transcritos de tratados médicos da época, e também expostos, ajudará à interpretação. Os ex-votos são marcos que definem veredas de vidas calcorreadas por peregrinos carregados de dores, tragédias, ansiedades, misturadas com ternura e gratidão. São relatos materializados em pinturas e legendas, muitas vezes envoltas em fantasias que criaram as raízes de tradições e lendas que integram a cultura e o culto da nossa gente; são quadros de infantilidade catequética mas que traduzem o essencial: a religiosidade, a fé, o valor do divino no humano. Acentuam os sentimentos de solidariedade familiar e social e os princípios da cultura judaico-cristã identificadora do povo que somos, e um sentido estético que convida a decifrar o mais profundo do seu conteúdo, ou seja, o que está para além do que se vê. Exprimem-se numa linguagem simples e simbólica que mergulha no plano da intimidade dos intervenientes.

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Catálogo Iconográfico Narrative and Medicine: Illness and Dialogue Narrativa e Medicina: Doença e Diálogo O ex-voto testemunha o “acontecimento extraordinário” no tempo e nas circunstâncias culturais e sociológicas em que ocorreu, graças à acção do sobrenatural. Através dele o “miraculado” revela que comunicou e continua a comunicar com a divindade ao publicitar e enaltecer a sua capacidade salvífica. É ainda um processo de comunicação e diálogo com as sociedades coeva e vindouras, para que comunguem das mensagens, saibam quem é e onde reside o porto de abrigo e dêem graças ao divino. Que se poderá entender pela deposição do ex-voto no templo? Terá função recordatória permanente para que a protecção persista? Será voto gratulatório, mensagem proclamatória de pura gratidão (quadros 53 e 54), prenda que identifica a presença do doador em permanente resposta ao favor gratuito recebido? Será a proclamação do cumprimento do contrato-promessa (quadro 55) – voto propiciatório – instituído num “diálogo-monólogo”, em que o implorante estabeleceu unilateralmente as condições contratuais e que cumpriu quando a outra parte, a divindade, mitigou o sofrimento? A pedagogia do ex-voto é outra que não médica, o que não impede que frequentemente forneça elementos relativos à saúde e à doença, narrativas suficientes para se entender a tragédia humana, o tipo de sofrimento, a região anatómica atingida, a causa da doença, o diagnóstico, a terapêutica instituída, a graça concedida. Neste texto não há lugar para tecer considerações individualizadas à mensagem de cada quadro, mas o espírito do Congresso requer que não sejam omitidas algumas referências às narrativas, mesmo que breves. Nos quadros nº 2, 3 e 4 os detentores do saber médico comunicam ‘urbi et orbi’ que a capacidade da ciência está esgotada e que o auxílio só pode provir do Céu. No quadro 9, a figura da esquerda segura o frasco com éter ou clorofórmio cuja acção anestésica era de conhecimento recente; a figura seguinte, com uma mão sustenta o braço e aprecia o pulso e com a outra conforta o doente; notar o pano sobre a boca onde o anestésico era lançado. O conjunto mostra a intervenção cirúrgica no domicílio, prática que se manteve até à terceira década do século passado e sugere um ambiente de solenidade religiosa presidida pelo cirurgião. O corpo dos doentes é representado de forma estática ou em posições ou expressões que, com ajuda da legenda, contribuem para basear hipóteses de patologia e diagnóstico. A narrativa da legenda, seja da autoria do beneficiado, do pintor ou de outrem, pode beneficiar se lhe juntarem relatos escritos ou transmitidos oralmente. Exemplifica-o a história referente ao doente João Ribeiro Santo Sisto do quadro 11, que corresponderá, segundo amável informação do Senhor Dr. Alberto Correia, à contada por Aquilino Ribeiro em Terras do Demo.

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Catálogo Iconográfico Narrative and Medicine: Illness and Dialogue Narrativa e Medicina: Doença e Diálogo Um tal que o escritor designa por Brás, pretendia ir à festa, mas porque lhe era atribuída a gravidez da mulher dum conterrâneo emigrado no Brasil, pendiam sobre ele ameaças de morte: - “Oh Brás! Não vás que te matam! Por alma de quem lá tens!” Mas o Brás não atendeu ao conselho e foi. “ O Brás aparou a pancada……” “O Espadão vinha com uma enxada para lhe britar a cabeça, mas o Cláudio vendeiro deitou-lhe o gadanho e o golpe foi quebrar-se nas costelas…” Ia o Zé Narciso, irmão da grávida e agressor do Brás na procissão, e o Brás pulou para ele e cravou-lhe a faca dos porcos. “Muito pálido pela grande sangria, valeu-lhe estar ali um médico muito entendido, o Sr. Dr. Hermínio de Barrelas que lhe acudiu ao sangue e lhe lavou a facada….” As narrativas pictural e textual sugerem poder tratar-se de rotura de veia varicosa (quadro 17), de hemorragia ocasional em úlcera péptica, (quadros 28 e 29), de cálculo encravado no ureter (quadro35), de ciatálgia (quadro 40), …. Os quadros 12, 18 e 52 registam a “ressurreição”. O quadro 52, por exemplo, regista a “ressurreição” após a mãe ofertar o seu próprio filho, o “seu mais do mais”, à divindade que não o aceitou e o restituiu à vida. A relação de cada um com a dor depende do significado que o sofredor lhe atribui e das circunstâncias em que ocorre, e pode surgir sem que corresponda a alguma alteração anatómica. São os doentes “funcionais”. É incontestável a eficácia do placebo, que constitui o que resta de não científico na medicina e cujo poder varia conforme o “médico”. Esta eficácia do placebo, a importância da relação estabelecida entre o doente e o médico, a divindade médica, fazem milagres. De igual modo, o culto da água baseiase em razões espirituais quando a água sem propriedades particulares (placebo) cura, cura essa associada a um determinado orago ao qual quem padece se entrega (quadro 44). Tradicionalmente diferencia-se a dor que atinge a matéria, a carne, e o sofrimento que atinge o psíquico. É uma distinção ambígua. No contexto religioso e na experiência espiritual, expressos nos quadros 46, 47 e 48, as angústias são soluços que ninguém pode “ouvir” a não ser o próprio crente. Por fim um brevíssimo apontamento sobre a finitude. Ao contrário da cultura contemporânea, que afasta a morte da desumanizada realidade familiar, o ex-voto lembra que a religiosidade torna o momento da morte menos doloroso e integra o luto na esperança dum reencontro para todo o sempre. O quadro 52 apresenta a particularidade da antevisão do cemitério e da campa com flores que receberia a criança não fora a mercê concedida pela divindade.

João Patrício

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Catálogo Iconográfico Narrative and Medicine: Illness and Dialogue Narrativa e Medicina: Doença e Diálogo Introduction

The paintings in this collection are not faithful reproductions but rather sketches of originals belonging to museums, sanctuaries, churches and private collections. There was an attempt to approach the figurative component in their elaboration while maintaining textual fidelity. From the time when Medicine was a function of the gods, man’s imagination has longed for the relief and cure of physical and psychical diseases, and the postponement or even elimination of death. These longings have reached contemporaneity where scientific advancement has not eradicated the feeling of human vulnerability, or the comfort the comfort that is still sought after in something that can provide solace. Scientific medicine does not lead to the oblivion or destruction of ancient methods that Man has resorted to when confronted with disease. It accepts and integrates those methods into its own history all the more since it is based on the existence of a magical or religious superior being, a regulator of the universe. But isn’t the current all-powerful medical science quite often the metamorphosis of bygone beliefs? As a general rule, the pictorial ex-voto is a part of popular art. It is elaborated with scanty means and has no “scholarly technique”. Yet, it has an aesthetic and creative sense that is full of authenticity; it is devotional and gratulatory and wrapped up in naiveté. To appreciate it, one has to penetrate it and understand what it communicates, understand it in the distance of time, integrate it in the knowledge and culture of that period. Interpretation is an exercise of personal research where the observer introduces him or herself in the desires, imagination and yearnings that the petitioner, be it the “subject of a miracle” or someone else, or the painter wish to transmit. The content in the painting awakens a distinct understanding and sensibility in the observer which is stimulated by an interpretation or life experience that is theocratic or anthropocentric, in line with the foundations of a religious, agnostic or atheist belief. The reading of the transcriptions of medical papers from the period, which are also exhibited, will help in their interpretation. The ex-votos are marks that define the paths of lives rambled by peregrinators full of pain, tragedy, and anxiety mixed with gentleness and gratitude. They are accounts that have been materialized in paintings and legends, often times immersed in fantasies that created the roots of traditions and folktales that integrate the culture and cult of our people; they are paintings on catechetical childishness that express the essential: religiousness, faith, and the value of the divine in humans. They emphasize the sentiment of family and social solidarity and the principles of the Judeo-Christian culture that identifies the people we are. There is also an aesthetic sense that invites us to decipher the deepest of its content, that is, to look beyond that which can be seen. They are expressed in a simple and symbolic language that probes into the intimacy of its participants. The ex-voto testifies an “extraordinary event” in the cultural and sociological period and circumstances in which it occurred, thanks to the action of the supernatural. Through it, he who has been the “subject of a miracle” reveals that he communicated 6


Catálogo Iconográfico Narrative and Medicine: Illness and Dialogue Narrativa e Medicina: Doença e Diálogo and continues to communicate with a divinity by disseminating and exalting his capacity for salvation. It is also a process of communication and dialogue with the coeval and future societies, so that they commune from the messages, know where the safe haven lies, who the divinity is, and give grace to him. What can be understood from depositing the ex-voto in the temple? Will it hold a permanent reminiscent function for the protection to persist? Will it be a gratulatory vow, a proclaimed message of pure gratitude (paintings 53 and 54), or a gift that identifies the presence of the donor as a permanent response to the freely bestowed grace? Or is it a proclamation of the fulfillment of the promissory contract (painting 55) – propitiatory vow – instituted in a “dialogue-monologue”, where the petitioner unilaterally established the contractual conditions and fulfilled them when the other party, the divinity, mitigated his suffering? The fact that the pedagogy of the ex-voto is not medically-based does not impede it from frequently supplying elements related to health and disease, narratives that suffice for an understanding of the human tragedy: the type of suffering, the afflicted anatomical region, the cause of disease, the diagnosis, the therapy undertaken, and the bestowed blessing. There isn’t enough space here to write individual considerations on the message of each painting, but the spirit of the Conference requires a brief reference to the narratives. In paintings 2, 3 and 4 the holders of medical knowledge communicate urbi et orbi that the capacity of science is exhausted and that help can only come from Heaven. In painting 9, the figure on the left holds a bottle with ether or chloroform whose anesthetic effect was recent knowledge; the next figure holds up an arm and takes the pulse with one hand while comforting the patient with the other; note the cloth over the mouth where the anesthetic was placed. This set shows a surgical intervention at home, a practice maintained until the third decade of the last century. It also suggests an environment of religious solemnity presided by the surgeon. The body of the patients is represented in a static form or in positions or expressions that, with the help of the caption, contribute to the establishment of hypotheses on the pathology and diagnosis. The narrative in the caption, which may be of the benefactor’s, painter’s or someone else’s authorship, can benefit from the addition of written or orally transmitted accounts. An example of this is the story regarding the patient João Ribeiro Santo Sisto in painting 11, which corresponds to the story told by Aquilino Ribeiro in Terras do Demo, according to Dr. Alberto Correia’s kind information. Someone that the writer calls Brás intended to go to a party, but because he was accused of impregnating the wife of a fellow countryman who had emigrated to Brazil, he had death threats hanging over him: - “Oh Brás! Don’t go or they’ll kill you! For the soul of those dear to you!” But Brás did not give heed to the advice and went. “Brás dodged the blow…” “Espadão had a hoe to crush Brás’ head, but Cláudio, the innkeeper, threw the pitchfork at him and caused a gash across the ribs…”

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Catálogo Iconográfico Narrative and Medicine: Illness and Dialogue Narrativa e Medicina: Doença e Diálogo As Zé Narciso, the pregnant woman’s brother and Brás’ aggressor in the procession, was leaving, Brás jumped on him and shoved the pig knife. “He was quite pale from the heavy bleeding, but luckily a very skilled doctor was there. It was Dr. Hermínio de Barrelas who assisted with the blood and washed his stab for him…” The pictorial and textual narratives suggest that we may be dealing with the rupture of the varicose vein (painting 17), an occasional hemorrhage from a peptic ulcer (paintings 28 and 29), ureteral calculi (painting 35), sciatica (painting 40), … Paintings 12, 18 and 52 chronicle the “resurrection”. Painting 52, for example, chronicles the “resurrection” after the mother has offered her own son, “her greatest gift”, to the divinity that did not accept him and restored him to life. The relation between each person and pain depends on the meaning that the sufferer attributes to it and the circumstances in which they occur, and can surge without corresponding to any anatomic alteration. These are the “functional” patients. The efficacy of the placebo which constitutes what remains non-scientific in medicine is incontestable and its power varies according to the “doctor”. This efficacy of the placebo, the importance of the relationship established between the patient and the doctor, the medical divinity, makes miracles happen. In the same manner, the cult of water is based on spiritual reasons when water, without any particular properties (placebo), cures – a cure that is associated to a specific patron to whom the suffering devote themselves to (painting 44). There has been a traditional differentiation between the pain concerning matter or flesh, and the suffering attained in the psyche. In a religious context and in the spiritual experience expressed in paintings 46, 47 and 48, the anguish turns into sobs that nobody can “hear” except for the believers themselves. Finally, here is a very brief note on finitude. Contrary to contemporary culture, which severs death from the unhumanized family reality, the ex-voto reminds us that religiosity makes the moment of death less painful and transforms mourning into a hope of everlasting reunion. Painting 52 presents a peculiar foresight of the cemetery and the gravestone with flowers that would receive the child had mercy not been conceded by divinity.

João Patrício

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1 Origem: Museu Nacional de Arte Antiga

2 M.Q. FEZ N SR DA ENCARNAÇÃO .A ANGELA DOS SANTOS JUIZA DA MESMA SRA Q. TENDO UM PRORIS MALIGNO E DESCONFIADA DOS MEDICOS S APEGOU COM MUITA FÉ COM A DITA SRª E LOGO TEVE MUITAS MELHORAS EM O ANO DE 1748 A SRª E DALIVAEIRA E A JUIZA É DA OLIVELAS Origem: Museu Nacional de Etnografia 3 MILAGRE Q. FEZ N. S. DO ALIVIO A MEL CORR. DO STOS ESTANDO Pª.MORRER DEZINGANADO DE MEDICO E SIRURGIÃO RECORRº. A Mma. Sª. Q. LOGO LHE DEU SAUDE UM DIA EUMA NOITE TENDO O LIVRO DA AGONIA ESPERANDO QUANDO ELE MORRª . LOGO TEVE SAUDE Origem: Santuário de Nª Sª do Alívio, Vila Verde

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4 ACHANDO-SE GRAVISSIMAMENTE ENFERMO O RBDº ABBADE DE MARIALVA BERNARDO JOSE CARDOSO E MENEZES , COM SEIS MEDICOS Á CABECEIRA, E TUDO PREPARADO PARA NO OUTRO DIA SE DAR À SEPULTURA; POR MILAGRE DE NOSSA SENHORA DOS REMEDIOS TEVE MELHORAS. EM JANEIRO DO ANO DE 1764. Origem: Museu de Marialva, Meda

5 FAVOR QUE RECEBEO DO Sr. JEZUS DA PIEDADE ESTEVÃO JOZE BORGES, CAPITÃO DA COMP.ª DVETRANOS DESTA PRAÇA D’ ELVAS D’ OMELHORAR DA SUA VISTA D’ POIS D’ LHE TIRAREM AS CATARATAS NO ANNO DE 1821. Origem: Museu Antropológico Universidade de Coimbra

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6 SUCCEDEO ESTE PRODIGIO E LAMENTAVEL CASO AO CONEGO JOAO DIAS DE ANDRADA DA SE E DE ELVAS EM OS 9 DE JANEIRO DE 1685 Origem: Capela da Senhora Necessidades, Soalheira, Fundão

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7 M. Q. FES STO TROQUATO A CAETANO DA COSTA DO LUGAR DA ESTANDO DOENTE DE HUM BRACO MTO MAL AVENDO MISTER LANSETALO CHAMANDOSE AO D.º S.to LOGUO TEVE SAUDE E NÃO FOI PRECIZO LANSETADO E TENDO O MEDICO E O SORGUIAO A CABECEIRA ANN. D 1773 Origem: In catálogo “Do Gesto à Memória” pg, 151

8 O SNR. JEZUS DOSPASSOS, LIVROU, AO D.OR AFONÇO DE MIRA CABO DESTA VILLA ALVA DA MORTE E DE LHE CORTAREM OBRAÇO ESQUERDO EM OUTUBRO DESTE PREZENTE ANNO DE 1786. Origem: Museu de Vila Alva, Cuba 9 MERCE QUE FEZ Nª. Sª. DO PÉ DA CRUZ A JOZE DE SOUZA CADILHO DESTA VILA QUE SENDO-LHE CORTADA UMA PERNA E SOBREVINDO-LHE UMA GANGRENA , VI-SE EM PERIGO DE VIDA. SUA MULHER DOIDA NO MESMO HOSPITAL AGRAVOU-LHE A AFLIÇÃO. NESTE TRISTE LANCE RECORREU À MAE DOS AFLITOS E FOI SALVO EM 21 DE NOVEMBRO DO ANO DE 1858 EM EVORA Origem: Colecção da Diocese de Évora

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10 FAVOR QUE RECEBEO HUM DE VOTO DO SNR. JESUS DA PIEDADE, OQUAL ESTANDO HYDRÓPICO E SUJEITANDO-SE A OPERAÇÃO, SAHIO DELLA PERFEITAMENTE BEM, PELLAS FERVOROSAS PRECES, QUE DIRIGIU AO MESMO SENHOR EM 1840 Origem: Santuário do Senhor Jesus da Piedade, Elvas

11 MILAGRE Q FES N. S. DA LAPA A JOAO RIBEIRO SANTO SISTO JUNIOR Q LUBOU UMA FACADA E A SINHORA LHE DEU SAUDE Origem: Santuário Nª Sª da Lapa, Sernancelhe

12 MILAGRE Q. FES NOSA SNRA DA CONSOLAÇÃO A MARIA DO CARMO Q ESPETANDO UM FUZO DE FERRO PELO PEITO DENTRO E FICANDO SEM SINAIS ALGUNS DE VIDA OMº. SNR A RESSUSCITOU POR VOTO Q. LHE FES O CAPam MOR DESTA VILA ANO DE 1804. Origem: Sta Casa da Misericórdia de Álvaro, Oleiros

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13 MILAGRE Q FES O SENHOR JEZUS DAPIEDADE A JOAO DA COSTA FERRO DEOLIVARLO DA MORTE SENDO AFAQIADO POR HUM CAMARADA CEU NO ANO DE 1843 Origem: Santuário do Senhor Jesus da Piedade, Elvas 14 MILAGUER Q. FES N.S. DO CARMO, A MEL FRIZ. MOR NA ILHA COUTOS DA VILLA DE ARRAYOLLOS Q ESTANDO HUMA NOITE NO CAMPO COM HUMA MULLA SAÍA PASTANDO COM ELA O ACOMETEU UM LADRÃO E LHE DEU UMA FACADA NA BARRIGA: Q FICOU COM AS TRIPAS NA MAÕ; E FOI A Snª SERVIDA PRENDESSE O LADRÃO COM A MULLA ELE COBROU SAUDE PERFEITA E FICOU LIVRE DA MORTE ANNO DE 1754 Origem: Capela de Nª Srª Carmo,Monte do Carmo, Azaruja

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15 MERCE Q FFEZ N. Sra. DAS DORES A HUA SUA DEVOTA NA ENFERMIDADE Q PADECEU DE HUA PERNA Q ESTEVE COM UMA CHAGA E O PÉ POR TER ESPETADO HUM ANSINHO NA DITA PERNA E PE E A Da Sa A LIVROU FICANDO SEM LEZAM ALGUMA DEPOIS DE TANTO SOFRIMENTO. ANNO 1809 Origem: Colecção privada

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16 MARIA FRCA MER DE JOAM FERREIRA DA POVOA DA ATALAIA SEMEANDO-LHE UM LINHAR LHE DEU UMA VACA UMA CORNADA E ROMPENDO-LHE O VENTRE ESTEVE À MORTE E CHAMANDO POR ESSA SRA DAS NECESSIDADES TEVE SAÚDE NO ANO DE 1712 Origem: Capela de Nª Srª Necessidades, Soalheira, Fundão

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17 MA QUE FES N. S. DO CARMO AO PA PREGADOR Fe FRANCISCO DA CONCEIÇÃO CUJO GRAVEMENTE ENFERMO DE UMA VEIA CORTADA IMPLOROU A DIVINA PROTECÇÃO DA SA O RESTITUIU A SUA ANTIGA SAÚDE. ANO DE 1767

Origem: Capela de Nª Srª do Carmo, Monte do Carmo, Azaruja

18 MILAGRE QUE FES O SNRO DOS AFELITOS A JOZE JOAQUIM RIBEIRO Ó FAVOR DE SEU FILHO FRANCICO DE ASIS FICANDO MORTO POR MUITO TEMPO DE UMA GRANDE FERIDA EM QUE FICOU COM OS CASCOS TODOS QUEBRADOS E POR MILAGAGRE DO SENHOR SAROU. 1812 Origem: Seminário Portalegre

Diocesano

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19 PROMESSA QUE FEZ THEREZA ROSA A N.S.DO CARMO, POR A SEU FILHO JOSE LHE TER CAHIDO NA CABEÇA UM FRAGMENTO DE PEDRA FRACTURANDO-LHE. CRANEO, NA CONSTRUCÇÃO DO CAMINHO DE FERRO A VILLAVIÇOSA:EM 10 DE SETEMBRO DE 1904 CORANDO-SE MILAGROSAMENTE Origem: Capela de Nª Srª do Carmo, Monte do Carmo, Azaruja

20 MILAGRE QUE FES O SENHOR DOS AFELITOS A ROZA MARIA MORDIDA DE UM BICHO DERAMADO NO ANNO DE 1730 Origem: Seminário Portalegre

Diocesano

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21 M. QUE FES O MILAGROSO S.Xpto DE PARAFITA, A CECILIA CAETANA Fª DE MEL. MARZ DO LUGAR DO NABO, Q. ESTANDO A LAVAR NO RIBEIRO FORA DO POVO UM GATO DANADO A MORDEU EM UM BRAÇO E POR M,e DO SR. ESCAPOU DE MORRER DANADA COMO MORRERÃO DUAS VIZINHAS MORDIDAS DO Mº Gº. NO Mº LUGAR TRº. DE Vª FLOR ANNO D. 1774 Origem: Casa dos Milagres, Perafita, Alijó

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22 MILAGRE Q FES N.S DALMODENA NO ANNO DE 1821 Origem: Capela de Nª Srª de Almodena, Vila Real

23 Me QUE FES Sta EUFEMIA DE FUNDOIS A JOSE FRANCISCO DO LUGAR DE PINHEIRO QUE TENDO HUM CANGARO NAS PARTES BAIXAS A Sta FOI SERVIDA DARLHE SAUDE E LLIVRALO DE TAM GRANDE EMFERMIDADE Origem: In catálogo “Do Gesto à Memória” pg, 142 24 MILAGRE Q FEZ O SENHOR DA PIEDADE A HUMA SENHORA EM A CORTE D MADRID DE A MILHORAR DE HUM CANCRO Q TINHA DENTRO DO NARIZ Q JÁ LHE PRIVAVA O USO DO OLHO ESQUERDO, SOFRENDO AGUDISSIMAS DORES: À MAY COM FE VIVA E ARDENTE DEVOÇAÕ ROGOU AO SENHOR, E EM POUCOS DIAS SE ACHOU INTEIRAMENTE SAÃ, E SEM IMPERFEIÇÃO ALGUMA. ANNO DE 1828 Origem: Santuário do Senhor Jesus da Piedade, Elvas

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25 MILAGRE QUE FES NOSSA SENHORA DA LAPA A DIOGO PRA CHAVES MERCADOR DESTA VILA PA LIVRAR DE UMA MENTECA PERA QUE IA PREPENESENDO (PERECENDO) Origem :Museu Municipal de Ponte de Lima

26 ANTONIO CASTOR CAZADO COM EUFRAZIA MARIA MORADORES NA FREGUESIA DA MATRIZ DE ARRAIOLOS, TENDO ESTES UM FILHO DE IDADE DE 3 MEZES E SENDO COBRADO DA VIRILHA ESQUERDA, SOFRENDO BASTANTE E ESTANDO EM GRANDE ENFERMIDADE EM FEVEREIRO DE 1886 SEU PAI E MAIS FAMÍLIA INPELOURARAM A V. N. S. DA VIZITAÇÃO PARA QUE FOSSE SERVIDA SALVAR O MENINO, E EM SIGNAL DE QUE JÁ ESTÁ BOM E SEM DEFEITO, OUFERECEM ESTE RETÁBULO A MESMA V. N. S. DA VIZITAÇÃO DE MONTE-MÔR EM SETEMBRO DE 1886 Origem: Santuário de Nª Visitação, Montemor-o-Novo

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27 MILAGRE Q FEZ N. S. DO CARMO A JOSE PINTO, MORADOR NO MONTE DO PASSO O QUAL, ESTANDO PERIGOSO COM UM VOLVO, PELAS PRECES Q SUA MULHER ANTONIA MARIA FEZ A VIRGEM, FOI DIGNO DE MILHORAS EM 22 DE JUNHO DE 1892 Origem: Capela de Nª Srª do Carmo, Monte do Carmo, Azaruja 28 MILAGRE Q FES N. Sª DO CARMO, A BONIFACIO JOZE MARQUES DA VILLA DE ESTREMÔS, AREBENTANDO-LHE UMA POSTEMA, EM O DIA 10 D’SETEMBRO DE 1830, AS 10 HORAS DA NOITE, O QUAL NO DIA 11 MARCHOU PARA AS FESTAS DA MESMA Sª COMO QUE NÃO TIVESSE NADA, E POR ISSO MANDEI FAZER DE MEMÓRIA ESTE RETÁBULO DO IVIDENTE. MILAGRE QUE FOI FEITO. Origem: Capela de Nª Srª do Carmo, Monte do Carmo, Azaruja

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FICHA TÉCNICA Organização Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa (CEAUL) Execução e Montagem Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa


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