Horizontes da Memória Homenagem a João Aguiar — EXPOSIÇÃO 14 A 18 DE NOVEMBRO —
João Aguiar – Horizontes de Memória
João Aguiar nasceu a 28 de Outubro de 1943 e faleceu a 3 de Junho de 2010. Viveu a infância entre Lisboa – a sua cidade-natal – e a Beira, em Moçambique, tendo frequentado os cursos superiores de Direito e Filosofia na Universidade de Lisboa. Seria, porém, em Bruxelas que se licenciou em Jornalismo, profissão que veio a exercer ao longo da sua vida. Nem o serviço militar, que cumpriu em Angola, lhe interrompeu a vocação, tendo também nessa altura colaborado na imprensa e na rádio. De regresso a Portugal, trabalhou em jornais como Diário de Notícias, A Luta, O País. Também colaborou em revistas como a Tempo Livre e a Super Interessante. Dos textos publicados neste último periódico viria a resultar, mais tarde, a vinda a prelo de Super Portugueses. Biografias Históricas (2009), onde compilou textos sobre personalidades que ajudaram a construir Portugal, como se afirma em subtítulo.
À sua carreira jornalística juntar-se-ia, mais tarde a de escritor, tendo publicado cerca de duas dezenas de romances, dois livros de contos, uma obra de não-ficcional, LapedoUma Criança no Vale, e três séries juvenis: O Bando dos Quatro, Pedro & Companhia e Sebastião e Os Mundos Secretos. Escreveu também guiões e argumentos para televisão e cinema, entre outros, A Marquesa de Vila Rica, Os Melhores Anos, Rua Sésamo e Inês de Portugal. Fez parte do grupo de escritores responsável pelos livros O Código D´Avintes, Os Novos Mistérios da Estrada de Sintra e Eça Agora. Foi ainda autor do libreto para a ópera A Orquídea Branca de Jorge Salgueiro, estreada em 2008. Parte da sua obra encontra-se traduzida e publicada em vários países, como a Alemanha, a Bulgária, a Espanha e a Itália.
O seu legado literário reflecte o seu profundo interesse pela História de Portugal, quer nos seus primórdios, quer na contemporaneidade. Um dos seus romances mais emblemáticos, A Voz dos Deuses, centra-se na figura de Viriato, tendo continuado a explorar temas e figuras da medievalidade em O Trono do Altíssimo (1988), A Hora de Sertório (1994). Ao relato histórico associa-se indelevelmente a patina da lenda e da fantasia, como é o caso de Inês de Portugal (1997) ou Uma Deusa na Bruma (2003). Em contraste, em Lapedo. Uma Criança no Vale (2006), o registo do achado arqueológico dos restos mortais infantis mantém-se distante das especulações suscitadas. 1
O interesse pela História mais recente, sobretudo em torno de Macau e do período da transferência dos poderes soberanos para a República Popular da China, está na génese das obras Os Comedores de Pérolas (1992), Dragão de Fumo (1998), O Tigre Sentado (2005), ou da colectânea de contos Rio de Pérolas (2000).
A fantasia, presente em todas as suas obras, toma, porém, um lugar hegemónico, em romances como O Sétimo Herói (2004), em que o traço medievo combina com a realidade dos finais do século XX numa ironia risonha e esperançosa. A criação de mundos alternativos encontrara-se já, em tom mais sério, em O Homem sem Nome (1994), demanda identitária de poeta/trovador anónimo. Ou ainda no olhar provindo de um futuro longínquo sobre o mundo século XXI em Diálogo das Compensadas (2001). A travessia, no tempo e no espaço, entre universos imaginários e o presente em terras portuguesas é tema dominante de A Encomendação das Almas (1995) e A Catedral Verde (2000), abordando neste último, a par da denúncia das intolerâncias sociais, o questionamento do acto da escrita.
Observador atento da sociedade portuguesa que conheceu, denuncia-lhe os erros e as prevaricações em O Navegador Solitário, sem, todavia, abandonar a dimensão fantasiosa, seja para acentuar a crítica dos costumes, seja para suavizar a dureza vivencial quotidiana retratada. Já O Priorado do Cifrão (2008), uma clara paródia à obra de Dan Brown, O Código da Vinci (2003), se destaca pela sátira mordaz à hegemonia especulativa e da finança virtual.
A crítica social associa-se à dúvida política em O Jardim das Delícias (2005), em que o mundo alternativo está a escassas décadas da realidade actual, numa fantasia a um tempo irónica e desencantada sobre a evolução da União Europeia. Escrever é sempre uma aventura, tanto para João Aguiar, como para os leitores que buscam desvendar os múltiplos sentidos das palavras e das tramas que o autor construiu ao longo da sua obra. Fantasia e realidade surgem nela entretecidas pelos fios da imaginação e de uma lucidez nunca desprovida de um sorriso pleno de compreensão pela condição humana. Que testemunhou e connosco partilhou.
Adelaide Meira Serras 2
1. AGUIAR, João - A voz dos deuses: romance. [Lisboa]: Perspectivas & Realidades, [1984]. [COTA B. FLUL: 821.134.3 AGU,J]
2. AGUIAR, João - O trono do altíssimo. [Porto]: Asa, [1995]. [COTA B. FLUL: 821.134.3 AGU,J]
3. AGUIAR, João - A hora de Sertório. Porto: Asa, 1994. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
4. AGUIAR, João - Inês de Portugal: romance. [Alfragide: Leya, 2008]. [COTA B. FLUL: 821.134.3 AGU,J]
5. AGUIAR, João - Uma deusa na bruma. [Porto]: Asa, [2004]. [COTA B. FLUL: 821.134.3 AGU,J]
6. AGUIAR, João - Os super portugueses. Lisboa: Bertrand Editora, 2009. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
7. AGUIAR, João - O canto dos fantasmas. Lisboa: Dom Quixote, 1990. [COTA B. FLUL: 821.134.3 AGU,J]
8. AGUIAR, João - A Encomendação das Almas. Porto: Asa, 2005. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
9. AGUIAR, João - O homem sem nome. Porto: Asa, 1994. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
10. AGUIAR, João - Diálogo das compensadas. Porto: Asa, 2001. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
11. AGUIAR, João - O sétimo herói. Porto: Asa, 2004. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
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12. AGUIAR, João - Autobiografia: Momentos de Não Glória. JL, 2005. [COTA B. FLUL: PP 732]
13. AGUIAR, João - Navegador solitário. Porto: Asa, 1996. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
14. AGUIAR, João - O jardim das delícias. Porto: Asa, 2005. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
15. AGUIAR, João - O Priorado do Cifrão. Porto: Porto Editora, 2008. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
16. AGUIAR, João - A catedral verde. Porto: Asa, 2000. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras 17. AGUIAR, João - Lapedo – uma criança no vale. Porto: Asa, 2006. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
18. AGUIAR, João - Os comedores de pérolas. [Porto]: Asa, cop. 1992. [COTA B. FLUL: 821.134.3 AGU,J]
19. AGUIAR, João - O dragão de fumo: romance. [Macau]: Livros do Oriente, [1998]. [COTA B. FLUL: 821.134.3 AGU,J]
20. AGUIAR, João - O tigre sentado. Macau: Livros do Oriente, 2005. [A.S.] - Empréstimo pessoal: Adelaide Serras
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Janelas da Memória Exposição de Fotografia
O mundo que nos rodeia, esse pequeno mundo que é específico a cada um de nós, está recheado de motivos de encanto...Mas quantos de nós damos por isso? Para Fernando Sousa Carvalho, natural do Entroncamento, lisboeta por adopção durante toda uma vida de trabalho e, finalmente, “Barquinhense” por opção, nos anos tranquilos da reforma, chegou o tempo de olhar, de forma mais atenta, para os lugares que o rodeiam. A máquina fotográfica passou a ser uma companheira constante, tanto em viagem como a partir do terraço da sua casa em Vila Nova da Barquinha. Primeiro foram as pequenas decepções com a sua concepção: “tinha ficado melhor se...”, “se eu tivesse apanhado aquele ângulo dali...”, enfim toda a autocrítica que faz um apreciador. Com o passar dos anos e muitos “cliques” da sua Leica, um dia reparou que tinha um vasto e diverso conjunto documental desse mundo em que cada um de nós evolui. E, sobretudo, como é bela a zona do país que escolheu para passar os anos da reforma, com o privilégio do tempo livre. São olhares de apreço e também de gratidão. Porque, para o citadino que regressa às suas origens, há um encanto especial nessas imagens, simples na forma mas profundamente significativas, de uma Natureza que sabe acolher forasteiros e chamá-los a si. E a melhor forma, acessível a qualquer amador empenhado, é a Fotografia, essa arte misto de técnica e de imaginação, que nos permite guardar para sempre um momento de encantamento. Fernando de Sousa Carvalho, agora residente por opção em Vila Nova da Barquinha, mostra aqui instantâneos de um Amador no melhor sentido da palavra: aquele que verdadeiramente Ama os lugares que seduzem o seu olhar e os torna companheiros para toda a sua existência, fixados pela magia da Arte do nosso tempo que é a Fotografia. Lisboa, 16 de Novembro de 2016
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Aveiro – Fernando de Sousa Carvalho
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Ficha Técnica Organização “Horizontes da Memória – Homenagem a João Aguiar”: Adelaide Meira Serras e Ana Daniela Coelho (CEAUL/Projecto Mensageiros das Estrelas) em parceria com a Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Montagem e concepção: Ana Daniela Coelho, David Klein Martins, Diogo Almeida, Igor Furão, José Duarte e Pedro Coelho. Design da Capa/Cartaz: Sara Paiva Henriques. Exposição Fotográfica “Janelas da Memória”: Fernando de Sousa Carvalho.
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