GALILEU E NEWTON DOIS MESTRES DAS CIÊNCIAS EM HOMENAGEM
GALILEU GALILEI “DEUS REVELA-SE A TODO O MOMENTO NA MAJESTADE DAS LEIS DA NATUREZA.”
UM GÉNIO PIONEIRO Há mais de 400 anos, a vida na Europa era muito diferente da atual. A maioria das pessoas trabalhava na agricultura. Eram poucas as crianças que iam à escola. Os livros eram raros e muito caros, geralmente escritos em latim, a língua dos sábios e da Igreja. Foi nesse mundo que Galileu nasceu, mais exatamente, a 15 de Fevereiro de 1564, em Pisa, no noroeste da Itália, filho de Vicenzo Galilei e de Giulia Ammannati. Do seu pai, aristocrata arruinado que se dedicava ao comércio numa loja de panos, herdou um grande
gosto pela música e uma enorme aptidão para a matemática; da sua mãe, um carácter colérico que lhe trouxe alguns dissabores quando adulto. Em 1574, a sua família mudou-se para Florença e Galileu foi estudar para o Mosteiro de Camaldolese, na cidade vizinha de Vallombrosa, ingressando depois, com dezassete anos, na Universidade de Pisa, para estudar Medicina, tendo lá permanecido quatro anos. Cedo, porém, abandonou a carreira médica para se dedicar ao estudo da física, da astronomia e da matemática. Aos 25 anos foi nomeado professor de Matemática da Universidade de Pisa, tendo-se mudado mais tarde para a Universidade de Pádua.
As suas descobertas científicas foram-se sucedendo, sem parar.
De
entre
elas
queremos
salientar,
pela
sua
importância, as leis do pêndulo, a lei da queda dos corpos e as invenções do termoscópio e do telescópio. Com este último instrumento, Galileu observou as crateras da Lua, as manchas solares, as fases de Vénus e descobriu quatro satélites
de
Júpiter.
Foram
as
suas
observações
astronómicas que o levaram à demonstração da teoria de Folio desenhado por Galileu ilustrando as fases da lua
Copérnico que afirmava que a Terra girava em torno do Sol.
Mas esta posição trouxe-lhe as primeiras divergências com a Igreja que defendia a teoria de que a Terra era o centro do mundo, girando o Sol em seu
redor. Galileu era, nesta altura, por volta de 1616, o primeiro matemático da corte e foi obrigado a não divulgar as suas convicções sobre este assunto. No entanto, Galileu não resistiu muito tempo a esta pressão e, em 1632, apresentou aquela que se tornou a sua obra mais famosa, o
Diálogo sobre os dois sistemas do mundo, onde defendia
a
teoria
do
heliocentrismo.
Esta
tomada de posição custou-lhe um processo que lhe foi movido pela Inquisição e que o obrigou a desdizer-se publicamente, com 70 anos de idade,
Pintura de Cristiano Banti: Galileupena enfrentando da Inquisição de Roma sob deo Tribunal morrer queimado
na fogueira como herege. Segundo a lenda, no momento da negação, Galileu terá murmurado: "E, no entanto, ela move-se".
Na sequência destes acontecimentos, a sua obra foi proibida e Galileu foi obrigado a retirar-se para uma herdade de que era proprietário. Apesar de estar proibido de contactar com o exterior, ali continuou os seus trabalhos e escreveu uma das suas obras mais importantes, Discurso sobre
duas novas ciências que, só por si, faz com que Galileu seja considerado o fundador da física experimental. Morreu cego com setenta e oito anos, em 1642, ano em que nasce um seu grande sucessor, Isaac Newton. Túmulo de Galileu, na Basílica de Santa Cruz, em Florença
CRONOLOGIA DA VIDA DE GALILEU GALILEI 1564:
Nasce em Pisa, a 15 de Fevereiro.
1575 a 1577:
Estuda em Florença.
1581:
Estuda medicina na Universidade de Pisa, sem concluir o curso. Em 1584 inicia seus estudos de Matemática. Em 1585, abandona a universidade sem obter grau.
1586:
Inventa a balança hidrostática para a determinação do peso específico dos corpos, e escreve um trabalho La bilancetta, que só foi publicado após a sua morte.
1592:
Torna-se professor de Matemática na Universidade de Pisa onde permanece por 18 anos.
1597:
Inventa uma régua de cálculo (sector), o “compasso geométricomilitar”, um instrumento Matemático com várias escalas. Realiza vários estudos e experiências sobre o problema da queda dos corpos.
1606:
Publica
um
pequeno
trabalho,
Le
operazioni de compasso
geometrico militare, e inventa o termoscópio. 1609:
Aperfeiçoa o telescópio.
1610:
Publica o Sidereus Nuncius (Mensageiro das Estrelas), obra que obteve grande repercussão na Europa. Retorna a Florença.
1612:
Prossegue
com
suas
observações
astronómicas,
discutindo
intensamente com seus opositores. Critica abertamente a física aristotélica e o sistema cosmológico de Ptolomeu. Publica
Discorso intorno alle cose che stanno in su l'acqua o che in quella si muovono . A Academia del Lincei publica Istoria e dimonstrazione
1613:
intorno alle macchie solari (História sobre as manchas solares) de
Galileu
argumentando
que
a
existência
das
manchas
demonstrava a rotação do Sol. 1616:
A
25
de
Fevereiro
recebe
uma
advertência
formal
da
Inquisição, que condena as teorias sobre o movimento da Terra e proíbe o ensino do sistema heliocêntrico de Copérnico. 1623:
Inicia o seu Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo (Diálogo sobre os dois sistemas do Mundo).
1624:
É convocado para depor perante o cardeal Belarmino que lhe
permitiu escrever sobre a teoria de Copérnico, desde que fosse tratada como uma hipótese Matemática. Inventa o microscópio, chamado por ele de occhialini. 1632:
Em Fevereiro, publica o Dialogo sopra i due massimi sistemi
del mondo (Diálogo sobre os dois sistemas do Mundo), criticando de novo o sistema aristotélico e defendendo Copérnico. Cinco meses depois, o livro é proibido pela igreja católica. Em Outubro, recebe ordem para se apresentar em Roma. 1633:
Inicia-se em 12 de Abril o processo contra Galileu. Em 22 de Junho, o cientista é obrigado a abjurar as suas convicções. Condenado a cárcere privado, vai para Arcetri e retoma seus estudos de mecânica.
1638:
Após algumas tentativas frustradas, publicam-se Discorsi e
dimonstrazioni
matematiche
intorno
a
due
nuove
scienze,
attinenti alla meccanica e I movimenti locali (Discurso das Duas Novas Ciências, Mecânica e Dinâmica) na Holanda, redigidos na prisão. Galileu já está completamente cego, mas prossegue as suas investigações. 1642:
Em 8 de janeiro, Galileu morre em Arcetri, com 78 anos.
INVENTOS DE GALILEU GALILEI Compasso geométrico-militar Este é um dos instrumentos feito por Galileu em 1597 e vem descrito no Inventario do degli
de Galleria Uffizi, n.82 (degli de Archivio Uffizi, Florença)
onde
é
chamado
de
compasso
proporcional de Galileo Galilei. Este instrumento que não deveria ser confundido com o compasso de redução, é um dispositivo sofisticado e versátil para uso de cálculo. É possível através
dele
fazer
cálculos
geométricos
comparar os lados de triângulos semelhantes.
e
operações
aritméticas
para
Termoscópio No campo da Termodinâmica deve ser citado o termoscópio (do grego skopeo que significa "vejo"). Provavelmente, Galileu tê-lo-á inventado em 1592. Era composto por uma esfera oca de vidro à qual estava conectado um tubo também de vidro. Aquecia-se a esfera com as mãos e submergia-se a extremidade do tubo num recipiente contendo água. Depois, uma vez arrefecida a esfera, a água subia pelo tubo, ficando o seu nível final acima do nível da água no recipiente. A fim de que a observação fosse facilitada, fixava-se ao tubo uma escala com graduações, efetuadas de modo arbitrário.
O termoscópio permitia avaliar qualitativamente o aumento ou diminuição da temperatura, por meio do deslocamento do nível no interior do tubo. A pressão atmosférica afetava também as indicações, já que o recipiente era aberto. O instrumento era simples e inexato, e no entanto, pode-se dizer, sem exagero, que a termometria científica, e, por conseguinte, a Termodinâmica, tem seu início quando Galileu inventou o seu primeiro termoscópio. A criação do termoscópio está articulada com a ideia genial de Galileu de avaliar as variações da
temperatura
por meio
da
variação
de
outras
propriedades mensuráveis dos corpos. Esta ideia foi conservada quando se começou a passar do termoscópio ao termómetro (das palavras gregas termon que significa “temperatura” e metron que significa “medida”).
Telescópio Numa carta de 1610, Galileu conta como
construiu
astronómica:
chumbo,
nas
a
"Preparei
sua
um
extremidades
luneta
tubo do
de qual
encaixei duas lentes de vidro, ambas planas de um lado, mas do outro lado uma esfericamente convexa e outra côncava. Aplicando o olho às lentes vi os objetos bastante mais próximos. Pouco depois construi outro telescópio mais perfeito, que aumentava os objetos cerca de sessenta vezes. Por fim, não me poupando a trabalhos nem despesas consegui construir para meu uso pessoal um instrumento tão perfeito
que os objetos observados com ele pareciam aumentados cerca de cem vezes." As observações do céu que Galileu levou a cabo com o seu telescópio, conduziram à descoberta dos satélites de Júpiter e também a uma maior adesão ao Sistema de Copérnico. Foram descritos fenómenos que foram revelados pouco a pouco devido ao aumento gradual das lentes e que foram ilustrados por Galileu em Sidereus Nuncius. Os períodos e as frequências de aparecimento dos satélites de Júpiter foram estudados por Galileu de modo a desenvolver um método para determinar longitudes no mar.
Microscópio Galileu
adaptou um telescópio para poder ver objetos
extremamente pequenos. Entre 1619 e 1624, começou, através do telescópio, a produzir microscópios ou "occhialini" como os designou. O microscópio de Galileu é composto por um tubo de um telescópio, de tamanho reduzido, fornecido com duas lentes.
O PENSAMENTO DE GALILEU GALILEI Galileu (1564-1642) é em geral considerado o fundador da ciência moderna. Pelo menos, é indiscutivelmente o seu símbolo. Tendo vivido em pleno Renascimento, Galileu
vai
rebelar-se contra
o
aristotelismo escolástico. A importância dada por Galileu à Matemática provém de uma forte influência platónica, que se tinha já feito sentir na Antiguidade em Arquimedes.
Contestando os dogmas da Igreja acerca da filosofia natural,
fundamentalmente Galileu
assentes
na
autoridade
indiscutível
de
Aristóteles,
pretendia investigar a Natureza diretamente, com base nos dados
fornecidos empírica.
pelos
sentidos,
isto
é,
na
observação
e
na
experiência
Por outro lado, considerava que, para observar a Natureza era
necessário conhecer a língua em que estava escrito o "Grande Livro do Mundo": a Matemática. É justamente a conjugação destes dois fatores, ou seja, a valorização da experiência e da matemática, que faz de Galileu o fundador do método experimental e, portanto, de uma nova atitude em relação à ciência. Na verdade,
Galileu considerava a matemática como um instrumento de
obtenção de certeza superior à própria lógica. Assim sendo, defendia que se deve medir tudo o que pode ser medido e tornar mensurável o que não pode ser medido. Quando uma relação matemática podia ser encontrada na Natureza, aceitava-a como correta e tratava de desmentir todas as declarações que com ela conflituassem. As discrepâncias entre as relações matemáticas e os eventos físicos eram sempre atribuídas a causas subjetivas, decorrentes de erros praticados pelos investigadores. Em momento algum Galileu aceitava que
o equilíbrio entre a Natureza e a matemática pudesse ser posto em causa. O que significa que Galileu não adotou a perspetiva platónica segundo a qual o nosso mundo é uma cópia distorcida do mundo "ideal". Pelo contrário, a matemática
era
a
expressão
correta
da
Natureza.
O
trabalho
matematização do real podia começar.
Páginas do Sidereus Nuncius
Capa de Discursos e Demonstrações Matemáticas
de
GALILEU: UM INVESTIGADOR INCANSÁVEL Galileu é indiscutivelmente um grande matemático. As suas ideias sobre as questões da matemática pura eram bastante originais, como transparece da sua observação «nem o número de quadrados é menor do que o da totalidade dos números, nem o último é maior que o primeiro». Esta defesa do infinito atual (sustentada por Salviati nos Discorsi) foi conscienciosamente dirigida contra as posições aristotélica e escolástica (representadas por Simplício). Não se pense porém que Galileu era um matemático puro. Muitos dos seus textos, Galileu
correspondência,
notas
e
livros
dão-nos
a
imagem
de
um
investigador, mudando de opinião, usando a experimentação para
criticar e rever a teoria, usando a teoria para criticar e rever a experimentação,
decidindo-se, flutuando, metendo-se em becos sem saída, precisamente o que seria de esperar de uma pessoa com a sua inteligência penetrante trabalhando ativamente durante mais de 50 anos, inclusive depois de cego.
Ilustração de Galileu Galilei e o seu incansável trabalho de estudo e observação, munido da luneta telescópica que ele mesmo concebeu e construiu (autor não identificado)
AS OBRAS Em Março de 1610, num livreto de apenas 24 páginas, que tinha o título latino de Sidereus Nuncius (Mensageiro
Sidereus Nuncius
das Estrelas), Galileu comunicou ao mundo a maior parte das suas descobertas astronómicas. Poucas vezes um relatório científico causou tanto impacto nos seus contemporâneos.
Johannes
Kepler,
talvez
o
maior
astrónomo de todos os tempos, chorou de emoção ao lêlo, tendo escrito, em apenas 11 dias, um entusiasmado panfleto em sua defesa. O pronto acolhimento de Kepler prenunciou o apoio que a obra iria conquistar nos meios cultos da Europa. Galileu dedicou o livro a Cosimo II, grão-duque da Toscana e chefe da poderosa família Medici, batizando as luas de Júpiter com o nome de "astros mediceus".
Istoria e dimostrazione
Com o sucesso do Sidereus Nuncius, Galileu julgou que
intorno alle macchie solari
chegara a hora de se pronunciar a favor de Copérnico. Num texto publicado em 1613, Istoria e dimostrazione
intorno alle macchie solari (História e demonstração sobre as manchas solares) fez o seu discretíssimo elogio do sistema coperniano, não ocupando mais do que três linhas no final da obra. Foi o suficiente, porém, para assanhar
os
académicos
aristotélicos.
Um
deles,
Lodovico delle Colombe, escreveu um tratado no qual, com base em citações da Bíblia, negava o movimento da Terra, facto tanto mais grave quanto, em plena Idade Média, e trabalhando com ideias que vinham desde a antiguidade,
o grande
filósofo
cristão
João
Escoto
Erígena (séc. IX) sustentara já que cada passagem das
Sagradas Escrituras admitia inúmeras interpretações.
Dialogo sopre i due
Em 1616, Galileu é informado pelo cardeal Belarmino de
massimi sistemi
que teria que manter longe do público a sua teoria sobre
del mondo
o heliocentrismo. Durante 16 anos, Galileu obedeceu a esta imposição, mas, em 1932, publica a sua obra
Diálogo sobre os dois maiores sistemas do mundo - o de Ptolomeu e o de Copérnico, onde coloca em cena três personagens:
Salviati,
que
defende
as
teses
de
Copérnico, Sagredo, um observador neutro, mas culto e esclarecido e Simplicius, defensor limitado de Aristóteles e Ptolomeu. Salviati é sempre brilhante, Sagredo logo abandona a
imparcialidade e passa a apoiá-lo com
entusiasmo e Simplicius é pouco mais que um idiota,
ridicularizado do princípio ao fim. Os inimigos de Galileu facilmente persuadiram o Papa Urbano VIII de que Simplício era a sua própria caricatura, pelo que a proibição da venda do livro foi rápida, mas não tanto que o impedisse de já ter sido espalhado e divulgado por vários países da Europa. Galileu foi, diversas vezes, chamado a Roma para ser interrogado pelas
autoridades
eclesiásticas,
tendo,
depois,
comparecido perante uma comissão de cardeais, que ao examinarem as acusações que lhe tinham sido feitas, o ameaçaram de tortura, e mesmo de ser queimado na fogueira, caso não negasse as suas teorias, o que fez, após quatro meses de prisão.
Discorsi e dimonstrazioni
O título do seu trabalho final, Discorsi e dimonstrazioni
matematiche intorno duo
matematiche intorno duo nuove scienze, (Discursos e
nuove scienze
demonstrações matemáticas acerca de duas ciências novas), geralmente conhecido apenas pelas suas três últimas palavras - Duo nuove scienze, continha uma clara ideia do seu conteúdo e organização. As duas novas ciências às quais o livro se refere são a ciência da engenharia da resistência dos materiais e a ciência matemática da cinemática. Dos quatro diálogos contidos neste livro, os dois últimos são dedicados ao tratamento dos movimentos uniforme e acelerado e à discussão das trajetórias parabólicas, enquanto os dois primeiros se referem a problemas
relativos
à
constituição
da
matéria,
à
natureza da matemática, ao papel da experimentação e à razão da ciência, ao peso do ar, à natureza do som, à velocidade da luz e a outros comentários fragmentados sobre a física como um todo. Neste livro, Galileu faz uma análise profunda dos fenómenos
da
flutuação
dos
corpos
e
enuncia
os
princípios científicos da acústica, dando aos músicos a base matemática dos tons e das harmonias e aos engenheiros os seus conhecimentos sobre tensões e resistências de materiais.
Para além das obras descritas acima, podemos referir ainda, De Motu (Do movimento), escrita mas não publicada enquanto Galileu foi professor em Pisa, entre 1589 e 1591, e Il
Saggiatore (O Experimentador), escrito em 1623.
INFOGRAFIA CONSULTADA: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/galileu/
ISAAC NEWTON "Se eu vi mais longe que outros ĂŠ porque estive aos ombros de
gigantes."
(Newton, cit. in Bell, Men of Mathematics, 1986: p.93)
VIDA E OBRA DE UM GÉNIO Isaac Newton nasceu prematuramente no dia de Natal de 1642, no mesmo ano em que faleceu Galileu. O pai tinha morrido pouco antes do seu nascimento e a mãe voltou a casar-se quando ele tinha três anos. Foi educado
pela
avó
e
frequentou
a
escola
em
Woolsthorpe. A Inglaterra vivia um período política e intelectualmente tempestuoso. A guerra civil começara alguns
meses
começara
com
antes. a
A
revolução
publicação
da
científica, ilustre
obra
que de Retrato de Newton por Godfrey Kneller
Copérnico De revolutionibus orbium celestium, em 1543, havia sido (1689) bastante desenvolvida pelas obras de outros astrónomos como Kepler e Galileu.
Nicolau Copérnico, Johann Kepler e Galileu Galilei, os mestres que influenciaram Isaac Newton
Quando completou catorze anos, a mãe, viúva pela segunda vez, regressa a Woolsthorpe com os três filhos do segundo casamento. Enquanto frequenta a
Grantham Grammar School, Newton é encarregue de a ajudar na gestão dos negócios da família, o que não lhe agrada. Por isso divide o seu tempo entre os
livros e a construção de engenhosos entretenimentos como, por exemplo, um moinho de vento em miniatura ou, um relógio de água. Um tio materno, ao aperceber-se do seu talento extraordinário, convenceu a mãe de Newton a matriculá-lo em Cambridge. Enquanto se preparava para ingressar em Cambridge, Newton instalou-se na casa do farmacêutico da vila. Aí conheceu a menina Storey por quem se apaixonou e de quem ficou noivo antes de deixar Woolsthorpe para ingressar no Trinity College, em Junho de 1661. Tinha então dezanove anos. Apesar de ter muito afeto por este primeiro e único amor da sua vida, a absorção crescente com o trabalho levou-o a relegar a sua vida afetiva para segundo plano. Newton nunca se casou.
OS PRIMEIROS ESTUDOS E INFLUÊNCIAS Vários fatores influenciaram o desenvolvimento intelectual e a direção das pesquisas de Newton, em especial
as ideias que
encontrou nos seus
primeiros anos de estudo, os problemas que descobriu através da leitura e o contacto com outros que trabalhavam no mesmo campo. No início do seu primeiro ano estudou um exemplar dos Elementos de Euclides (séc. IV-III A.C.), a Clavis de Oughtred (1574-1660), a Geometria de Descartes (1596-1650), a
Óptica de Kepler (1571-1630), as obras de Viète (1540-1603) e também Arithmetica infinitorum de Wallis. Depois de 1663, assistiu a aulas dadas por Barrow e conheceu obras de Galileu (1564-1642), Fermat (1601-1665), Huygens (1629-1695) e outros.
Quer isto dizer que, em grande parte, Newton foi um autodidata. Nos finais de 1664, tendo atingido
as
matemático, suas
fronteiras
do
conhecimento
estava pronto para realizar as
próprias
contribuições.
Nos
primeiros
meses de 1665 exprimiu funções em termos de séries infinitas. De igual modo começou a pensar na taxa de variação e, ligando estes dois problemas,
considerou-os
como
"o
meu
método". Durante 1665/1666, após ter obtido o seu grau de Bacharel, o Trinity College foi encerrado devido à peste. Este foi para Newton o período mais produtivo pois,
nesses meses, na sua casa de Lincolnshire, realizou quatro das suas principais descobertas: 1. O teorema binomial 2. O cálculo 3. A lei da gravitação
Lei da Gravitação, de Newton
4. A natureza das cores Esse ano foi considerado extremamente frutuoso para a história das Ciências e, em consequência, foi denominado por "Annus mirabilis" por muitos historiadores.
UM HOMEM DE VASTOS INTERESSES Newton não se concentrou numa só área de estudos. Os seus esforços e o seu génio estavam voltados para muitos interesses. Para além da Matemática e da Filosofia Natural, as suas duas grandes paixões foram a Teologia e a Alquimia. Homem de espírito científico nato, Newton propôs-se encontrar por meios experimentais a que é que correspondiam exatamente as afirmações dos alquimistas. Enquanto teólogo, Newton acreditava, sem questionar, no criador todo-poderoso do Universo fazendo contudo questão de entender por ele próprio o que a generalidade dos seus
contemporâneos acreditava sem discussão: o relato da criação. Nesse sentido, desenvolveu esforços para provar que as profecias de Daniel e o "Apocalipse" faziam
sentido,
e
realizou
pesquisas
cronológicas
com
o
objetivo
de
harmonizar historicamente as datas do Antigo Testamento.
Quando regressou a Cambridge em 1667 Newton foi eleito Fellow do Trinity
College e, em 1669, com vinte seis anos, sucedeu a Barrow como Professor of Mathematics por recomendação do próprio Barrow. As suas primeiras lições foram sob ótica e nelas expôs as suas próprias descobertas. Já em 1668 tinha construído com as suas próprias mãos um telescópio de espelho muito eficaz e de pequeno tamanho. Utilizou-o para observar os satélites de Júpiter e,
possivelmente, para comprovar a universalidade da sua lei da gravitação universal. Na sua eleição para a
Royal Society em 1672
Newton
seu
comunica
telescópios luz,
o
muitas
que
e
o
trabalho
a
sua
teoria
vai
dar
origem
controvérsias
seus trabalhos.
que Réplica do telescópio construído por Newton
sobre
corpuscular à
da
primeira
de
acompanharam
os
A GRANDE OBRA DE NEWTON Os esforços de Newton no campo da matemática e das ciências foram grandiosos, mas a sua maior obra foi sobre a exposição do sistema do
mundo,
dada
na
sua
obra
denominada Principia. Durante a escrita do Principia, Newton não teve
qualquer
saúde,
cuidado
esquecendo-se
com
a
das
refeições diárias e até de dormir. Primeira edição dos Principia, de 1687
Os dois primeiros volumes dos Principia contêm toda a sua teoria, incluindo a da gravitação e as leis gerais que estabeleceu para descrever os movimentos e os pôr em relação
com
as
forças
que
os
determinam,
leis
denominadas por "leis de Newton". No terceiro volume, Newton trata as aplicações da sua teoria dos movimentos de As primeiras duas Leis de Newton
todos
os
corpos
celestes,
incluindo
também
os
cometas.
Os vários ensaios de Newton sobre o cálculo ficaram desconhecidos durante muito
tempo
devido
às
suas
próprias
reservas
em
publicar
esses
trabalhos. Durante muito tempo os únicos ensaios que tornaram conhecido o cálculo de Newton foram os seguintes:
De analysi per aequationes numero terminorum infinitas Tratado enviado em 1669 por Barrow Ă Royal Society em nome de "um amigo meu daqui que tem uma certa qualidade para tratar este assunto." O tratado circulou em forma de manuscrito por diversos membros
da
Royal
Society.
Planos de uma breve publicação foram 1711.
apenas
realizados
em De analysi per aequationes numero terminorum infinitas, 1669
Methodus fluxionum et serium infinitarum Tratado
sobre
fluxões,
escrito
em
1671
que
não
foi
publicado durante a vida de Newton. Só em 1736/7 surgiu uma tradução em inglês.
Manuscrito do Methodus
Tractatus de quadratura curvarum Tratado sobre quadratura de curvas escrito em 1693 mas publicado em 1704 como apêndice à Ótica de Newton.
Newton, que guardava para si as suas extraordinárias descobertas, foi convencido por Halley (1656-1742) a dá-las a conhecer. Halley responsabilizouse por tudo o que estava relacionado com a publicação dos trabalhos do seu amigo, nomeadamente, pelas despesas de tal processo. A publicação do livro III do Principia deu-se apenas pelo facto de Newton ter sido alertado por Halley que, se tal não acontecesse, os anteriores volumes não eram vendidos e, como tal, ele ficaria arruinado financeiramente. Os contemporâneos de Newton reconheceram a magnitude dos Principia, ainda que, apenas alguns conseguissem acompanhar os raciocínios ali expostos. Rapidamente, o sistema newtoniano foi ensinado em Cambridge (1699) e Oxford (1704).
Em França, a penetração das ideias de Newton não foi tão rápida. Mas é em França, passado meio século, que Newton encontra o seu maior sucessor, Laplace (1749-1827) que vai atribuir a si próprio a tarefa de continuar e aperfeiçoar os Principia. Após ter escrito os Principia, Newton parece sentir-se saturado com a "Philophia naturalis" e vai ocupar-se de outros assuntos. Em Janeiro de 1689, é eleito para representar a universidade na convenção parlamentar onde se mantém até à sua dissolução em Fevereiro de 1690. Durante esses dois anos, viveu em Londres onde fez novas amizades com pessoas influentes incluindo John Locke (1632-1704).
No Outono de 1692 Newton adoece seriamente. A aversão à comida e as insónias
persistentes
que
lhe
tinham
permitido
escrever
os
Principia
conduzem-no para perto do colapso total. Newton recupera a saúde em finais de 1693 para regozijo dos seus amigos, incluindo aquele que mais tarde se tornaria o seu maior inimigo, Leibniz (16461716).
Gottfried Leibniz
NEWTON VS LEIBNIZ Com efeito, no ano da sua recuperação, Newton toma conhecimento que o cálculo se estava a tornar conhecido no Continente e que era atribuído a Leibniz. A princípio, as relações entre Newton e Leibniz eram cordiais como mostra
a
correspondência
entre
estes
dois
grandes
homens.
Newton
reconhecia os méritos de Leibniz e Leibniz os de Newton e em nenhum momento algum deles teria tido a mínima suspeita que algum tivesse roubado ao outro qualquer ideia do cálculo. Mais tarde, por volta de 1712, quando até o comum cidadão inglês tinha já a vaga ideia de que Newton tinha construído algo de monumental, a questão de quem tinha inventado o cálculo torna-se uma questão de orgulho nacional. A
Inglaterra vai cerrar hostes em torno de Newton e acusar Leibniz de ser um ladrão e um mentiroso. Leibniz e os seus apoiantes modo.
vão
Assim
controvérsia
responder
do
mesmo
se
a
célebre
inicia
Newton-Leibniz
sobre
a
invenção do cálculo, controvérsia que vai desgostar Newton e que vai ter como grave consequência a estagnação das matemáticas
na
Inglaterra
durante
cerca de um século. Em França e na Suíça os seguidores de Leibniz, munidos de uma melhor notação para o cálculo, vão desenvolvê-lo e simplicá-lo.
Em 1699, Newton é nomeado Master of the Mint com a tarefa de reformar e supervisionar a cunhagem da moeda. Em 1701/2 é novamente representante da universidade de Cambridge no parlamento e em 1703 vai ser eleito presidente da Royal Society, cargo honorário para o qual é sucessivamente reeleito até à sua morte. Em 1705 é investido cavaleiro pela rainha Anna. É de lamentar que após 1693, Newton não se tenha dedicado mais à matemática. Ele teria facilmente criado uma das mais importantes aplicações do cálculo: o cálculo das variações, que será desenvolvido pelos Bernoulli (1623-1759) por Euler (1707-1783) e por Lagrange (1765-1843).
Já nos Principia, Newton tinha sugerido este assunto quando calcula a forma de uma superfície de revolução que atravessa uma massa de
líquido
oferecendo resistência mínima. Também em 1696, resolve - em poucas horas diz-se - o clássico problema da brachistochrona: determinar a forma da trajetória que uma massa em queda, sob a ação da gravidade, descreve entre dois pontos dados num tempo mínimo. Este problema tinha sido colocado por Johann
Bernoulli
e
Leibniz
tinha
proposto
uma
solução que desafiava os matemáticos europeus da altura. Cautelosamente, Newton vai comunicar a sua solução à Royal Society de maneira anónima. Bernoulli ao ver a solução terá exclamado: "Ah! Reconheço o leão pela sua pata." (cit in Bell, Men of Mathematics,1986: p.115)
Poucas
semanas
antes
da
sua
morte,
Newton presidiu a uma secção da Royal Society. Foi eleito sócio estrangeiro da Academia das Ciências Francesa em 1699. Faleceu a vinte de Março de 1727, durante o sono, com oitenta e cinco anos. Teve direito ao elogio fúnebre oficial pronunciado
pelo
secretário
da
Academia,
Bernard le Bovier de Fontenelle. Foi sepultado no Panteão de Londres, junto aos reis de Inglaterra, na Abadia de Westminster. Sepultura de Isaac Newton, na Abadia de Westminster, em Londres
INFOGRAFIA: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/newton/biografia.htm