Os poetas e o Natal 12ºH
Professora: Virgínia Brito
Natal Turvou-se de penumbra o dia cedo; Nem o sol apertou no meu beiral! Que longas horas de Jesus! Natal... E o cepo a arder nas cinzas do brasedo... E o lar da casa, os corações aos dobres, É um painel a fogo em seu costume! Que lindos versos bíblicos, ao lume, Plo doce Príncipe cristão dos pobres!
Aluno: Rodrigo Costa
Fulvas figuras pra esculpir em barro: À luz da lenha, em rubro tom bizarro, Sou em Presépio com meus pais e irmãos E junto às brasas, os meus olhos postos Nesta evangélica expressão de rostos, Ergo em graças a Deus as minhas mãos. Afonso Duarte, in 'Antologia Poética'
Último Natal Menino Jesus, que nasces Quando eu morro, E trazes a paz Que não levo, O poema que te devo Desde que te aninhei No entendimento,
E nunca te paguei A contento Da devoção, Mal entoado, Aqui te fica mais uma vez Aos pés, Como um tição Apagado, Sem calor que os aqueça. Como ele me desobrigo e desengano: És divino, e eu sou humano, Não há poesia em mim que te mereça. Miguel Torga, in 'Diários'
Aluno: Cláudio Marques
Natal cada Natal Quando na mais sublime dor, A mulher dá à luz, Há sempre um Anjo Anunciador A murmurar-lhe ao coração — Jesus!
Por sobre o lar presepial , o brilho Da estrela abre o convite dos portais: — Vinde adorar a floração do filho No alvoroço da raiz dos pais.
Cada criança é o Céu que vem Pra nos remir do pecado E as palhas d’oiro de Belém Espalham-se no berço, como um Sol espelhado
António Manuel Couto Viana, in 'Mínimos'
Aluno: Bruno Moreira
Chove. É Dia de Natal Chove. É dia de Natal. Lá para o Norte é melhor: Há a neve que faz mal, E o frio que ainda é pior.
Pois apesar de ser esse O Natal da convenção, Quando o corpo me arrefece Tenho o frio e Natal não.
E toda a gente é contente Porque é dia de o ficar. Chove no Natal presente. Antes isso que nevar.
Deixo sentir a quem quadra E o Natal a quem o fez, Pois se escrevo ainda outra quadra Fico gelado dos pés. Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'
Aluna: Marta Antunes
Natal O sino da minha aldeia, Dolente na tarde calma, Cada tua badalada Soa dentro de minha alma.
Por mais que me tanjas perto Quando passo, sempre errante, És para mim como um sonho. Soas-me na alma distante.
E é tão lento o teu soar, Tão como triste da vida, Que já a primeira pancada Tem o som de repetida.
A cada pancada tua, Vibrante no céu aberto, Sinto mais longe o passado, Sinto a saudade mais perto. Fernando Pessoa
Aluno: Luís Antunes
Natal Que nos trazes a não ser lágrimas cada vez mais, natal eterno a nascer de outros natais... Ligeira esperança que toca os nossos olhos molhados e o sangue da nossa boca, amordaçados...
Ah bruxuleante luz acenando ao longe em vão e que a dor nos reproduz em ilusão... Ternura dum breve instante que o próprio instante desterra, morta no facto constante de tanta guerra... António Salvado, in 'A Mar Arte'
Aluno: Francisco Ferreira
Quando um Homem Quiser Tu que dormes à noite na calçada do relento numa cama de chuva com lençóis feitos de vento tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento és meu irmão, amigo, és meu irmão E tu que dormes só o pesadelo do ciúme numa cama de raiva com lençóis feitos de lume e sofres o Natal da solidão sem um queixume és meu irmão, amigo, és meu irmão
Aluno: Shay Santos
Natal é em Dezembro mas em Maio pode ser Natal é em Setembro é quando um homem quiser Natal é quando nasce uma vida a amanhecer Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher
E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei és meu irmão, amigo, és meu irmão
Tu que inventas ternura e brinquedos para dar tu que inventas bonecas e comboios de luar e mentes ao teu filho por não os poderes comprar és meu irmão, amigo, és meu irmão
Ary dos Santos, in 'As Palavras das Cantigas'
Natal, e não Dezembro Entremos, apressados, friorentos, numa gruta, no bojo de um navio, num presépio, num prédio, num presídio, no prédio que amanhã for demolido... Entremos, inseguros, mas entremos. Entremos, e depressa, em qualquer sítio, porque esta noite chama-se Dezembro, porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos, duzentos mil, doze milhões de nada. Procuremos o rastro de uma casa, a cave, a gruta, o sulco de uma nave... Entremos, despojados, mas entremos. Das mãos dadas talvez o fogo nasça, talvez seja Natal e não Dezembro, talvez universal a consoada. David Mourão-Ferreira
Aluno: Francisco Fernandes
Poema de Natal
Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça
Para isso fomos feitos:
Assim será nossa vida:
E por ela os nossos corações
Para lembrar e ser lembrados
Uma tarde sempre a esquecer
Se deixem, graves e simples.
Para chorar e fazer chorar
Uma estrela a se apagar na treva
Pois para isso fomos feitos:
Para enterrar os nossos mortos —
Um caminho entre dois túmulos —
Para a esperança no milagre
Por isso temos braços longos para os Por isso precisamos velar adeuses Falar baixo, pisar leve, ver Mãos para colher o que foi dado A noite dormir em silêncio. Dedos para cavar a terra. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor
Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente. Vinícius de Moraes
Aluna: Ana Silva
Natal, e não Dezembro É Natal e por esse Mundo,
Ah se eu fosse Poderosa
Quantos Corações sem Esperança
Bem Mais do que um Simples Ser,
Quantas Lágrimas Rolando
Não Haveria no Mundo
Num Rostinho de Criança
Uma Criança a Sofrer
Quanta Criança Descalça,
Por isso meu Bom Jesus
Rotinha, Magra, Faminta,
Quando o Sino Badalar
Apelando para o Mundo
Vou fazer uma Oração
Na Rua Estende a Mãozita…
Tua Imagem Adorar Pedirei Paz para o Mundo
Aluna: Ana Oliveira
Muito Amor para os Pequeninos Alegria para os que Choram E Pão para os Pobrezinhos E Ajudando os que Sofrem A Cada um Dando a Mão Passaremos um Natal Com mais Paz no Coração. Maria da Luz Pedrosa
Ladainha dos Póstumos Natais Há-de vir um Natal e será o primeiro em que se veja à mesa o meu lugar vazio Há-de vir um Natal e será o primeiro em que hão-de me lembrar de modo menos nítido Há-de vir um Natal e será o primeiro em que só uma voz me evoque a sós consigo Há-de vir um Natal e será o primeiro em que não viva já ninguém meu conhecido
Aluno: Daniel Balas
Há-de vir um Natal e será o primeiro em que nem o Natal terá qualquer sentido Há-de vir um Natal e será o primeiro em que o Nada retome a cor do Infinito David Mourão-Ferreira, in 'Cancioneiro de Natal
Votos de bom Natal
Na cidade lavada pela chuva. Em cada curva corpo acontecia. acontecia. E em cada acaso. Como Acontecia. No vento. Na chuva. No teu ritmo nos teus ritos. um pouco de água turva Acontecia. No teu sono nos teus gestos. (Liturgia na cidade agitada pelo vento. Era gente a correr pela música acima. liturgia). Natal Natal (diziam). E acontecia. Nos teus gritos. Nos teus olhos quase Como se fosse na palavra a rosa Uma onda uma festa. Palavras a aflitos. brava saltar. acontecia. E era Dezembro que Eram carpas ou mãos. Um soluço uma E nos silêncios infinitos. Na tua noite e floria. no teu dia. rima. Era um vulcão. E no teu corpo a flor No teu sol acontecia. Guitarras guitarras. Ou talvez mar. e a lava. Era um sopro. Era um salmo. E era na lava a rosa e a palavra. E acontecia. No vento. Na chuva. (Nostalgia nostalgia). Todo o tempo num só tempo: Acontecia. Todo o tempo num só tempo: nascimento de poesia. andamento Na tua boca. No teu rosto. No teu de poesia. Era um susto. Ou sobressalto. E acontecia. Manuel Alegre, in 'Antologia Poética‘ Aluna: Inês Mendes
Natal na Província Natal... Na província neva. Nos lares aconchegados, Um sentimento conserva Os sentimentos passados. Coração oposto ao mundo, Como a família é verdade! Meu pensamento é profundo, Estou só e sonho saudade.
Aluno: João Pimentel
E como é branca de graça A paisagem que não sei, Vista de trás da vidraça Do lar que nunca terei! Fernando Pessoa
Chove. É Dia de Natal Chove. É dia de Natal. Lá para o Norte é melhor: Há a neve que faz mal, E o frio que ainda é pior.
Pois apesar de ser esse O Natal da convenção, Quando o corpo me arrefece Tenho o frio e Natal não.
E toda a gente é contente Porque é dia de o ficar. Chove no Natal presente. Antes isso que nevar.
Deixo sentir a quem quadra E o Natal a quem o fez, Pois se escrevo ainda outra quadra Fico gelado dos pés.
Aluno: Gonçalo Lopes
Fernando Pessoa
Dia de Natal Hoje é dia de ser bom. É dia de passar a mão pelo rosto das crianças, de falar e de ouvir com mavioso tom, de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças. É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem, de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria, de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem, de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.
Aluno: Alexandre Baptista
Comove tanta fraternidade universal. É só abrir o rádio e logo um coro de anjos, como se de anjos fosse, numa toada doce, de violas e banjos, entoa gravemente um hino ao Criador. E mal se extinguem os clamores plangentes, a voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.
Natal Que nos trazes a não ser lágrimas cada vez mais, natal eterno a nascer de outros natais... Ligeira esperança que toca os nossos olhos molhados e o sangue da nossa boca, amordaçados...
Ah bruxuleante luz acenando ao longe em vão e que a dor nos reproduz em ilusão... Ternura dum breve instante que o próprio instante desterra, morta no facto constante de tanta guerra... António Salvado, in 'A Mar Arte'
Aluno: Ana Marques
Trabalho realizado por: Rodrigo Costa Shay Santos