FRANCIS CO DAS NEVES ALVES
Com tais apresentações, Oscar Leal refletia sobre sua longa jornada na realização de uma literatura de viagem, demarcando os alcances e limites, as idas e vindas e os obstáculos e prazeres, em sua interação com o público leitor. Do mesmo modo que “a regularidade e a repetição suscitam o desejo do imprevisível, a monotonia gera a esperança do extraordinário e do admirável”, no sentido de proporcionar a participação “da ilusão dos contrários”, diante da qual “o leitor transfere a experiência pessoal do viajante para seus próprios desejos de aventura”. Ocorre assim uma tendência de “se colocar à margem da mediocridade de sua própria sociedade, a apagar sua realidade imediata”, para “tornar exequível o inalcançável e compensar suas frustrações cotidianas”. Nessa linha, tanto o escritor quanto o leitor poderiam sentir-se “fantasiando o ser um outro diferente”, emocionando-se como protagonistas “de uma expedição incomum”, com a sensação de um “desterro ficcional”17. Nessas falas de Leal aos seus leitores, observa-se que “a escrita e a relação comunicativa, além de inverter paradoxalmente a relação de implicação e dependência entre a viagem e a sua escrita”, podem intensificar “a cumplicidade entre os sujeitos de escrita e leitura, com um efeito de redução da distância espaço-temporal e da diferença experimental entre ambos”18.
GIUCCI, Guillermo. Viajantes do maravilhoso: o Novo Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 87-88. 18 RITA, Annabela. No fundo dos espelhos [II] – em visita. Porto: Caixotim Edições, 2007. p. 275. 17
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