PALAVRAS FINAIS Apesar de ser considerada uma época de muitos progressos e transformações sociais, o século XIX ainda guarda em si perspectivas significativamente conservadoras no que tange ao papel social da mulher. Isto é ainda mais evidenciado no Brasil e sua cultura tradicionalmente patriarcal, fenômeno também marcante na mais meridional unidade administrativa brasileira, o Rio Grande do Sul. Este é, portanto, um ambiente pouco favorável a tendências que visam a qualquer avanço quanto ao feminino e à emancipação da mulher em suas relações socioculturais. Ainda assim, algumas mulheres marcam suas existências pela perseverança, resistindo ao conservadorismo, à desconsideração e ao preconceito, atuando na resistência e optando pela ação, ao invés do conformismo. Muitas delas usam como arma de combate a «pena», ou seja, fazem da arte de escrever não apenas uma forma de expressão de novas ideias, mas também uma estratégia de combate em busca da mudança e da revisão dos padrões sociais que as condenavam a condições subalternas na sociedade. Neste sentido, a escrita feminina, apesar de todos os percalços, avança e progressivamente atua decisivamente na criação de um novo lugar social para o feminino. Uma destas escritoras é Revocata Heloísa de Melo, com a sua batalha incessante, que atravessa tantas décadas de sua vida, sempre dedicada à expansão da escrita feminina. Ela é uma digna representante da intelectualidade de sua época e, como era comum então, atua em áreas diferenciadas, numa ação contínua e efetiva como jornalista, contista, cronista, poetisa, teatróloga, professora, oradora, entre tantas outras. Reconhecida em sua época, ela conquista o respeito entre seus pares e obtém certa notoriedade no contexto literário de seu tempo.