À GUISA DE FORTUNA CRÍTICA: O RECONHECIMENTO INTELECTUAL DA AUTORA A escrita feminina constitui um avanço significativo na condição da mulher no século XIX e primeiras décadas do seguinte. As resistências às escritoras são significativas, mas, «mesmo assim, muitas mulheres tomaram da pena e escreveram, desobedecendo o recato imposto e transgredindo o padrão cultural». Desta maneira, «nunca será demais enfatizar a força extraordinária destas mulheres, lutando bravamente contra as dificuldades para escrever» (TELLES, 1990, p. 128, 134). Progressivamente, o carrancismo conservador quanto à participação feminina na vida literária passa a ser contestado, uma vez que «a literatura e o feminismo existem, como fenômenos culturais e sociais, dentro da história e modificam-se no tempo e no espaço», surgindo «novas concepções e novos mundos» (LOBO, 2006, p. 25). Aquela época foi caracterizada como um momento de grandes transformações e como uma era de avanços científicos e tecnológicos. Entretanto, no que tange às relações de gênero, os progressos são mais lentos e paulatinos, especialmente no Brasil, atrelado secularmente às tradicionais estruturas de cunho patriarcal e mais ainda no Rio Grande do Sul, uma unidade administrativa profundamente marcada pelo conservadorismo oligárquico. Mas contra tais condições fica estabelecida uma linha de resistência.