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Luciana Coutinho Gepiak
1 – Revocata Heloísa de Melo e seu tempo Em um campo quase infértil à escrita feminina, dá-se a existência de algumas mulheres resilientes que, cada qual com seu modo de agir, conseguem se impor a um meio predominantemente masculino, aparecendo como escritoras ocasionais ou como literatas que viriam a conquistar certo reconhecimento intelectual. Dentre estas mulheres esteve Revocata Heloísa de Melo, nascida em Porto Alegre, a 31 de dezembro de 1853 e vindo a residir ainda jovem na cidade portuária do Rio Grande, na época uma das principais localidades gaúchas, onde constrói sua carreira e permanece até a morte em 23 de fevereiro de 1944 (PÓVOAS, 2007, p. 29). Revocata tem uma ligação umbilical com a escrita e com a literatura, em muito por causa de suas relações familiares. Em primeiro lugar, é praticamente indissociável fazer referência à Revocata, sem associá-la à figura de sua irmã, Julieta de Melo Monteiro. Elas acompanham e compartilham uma caminhada conjunta desde a juventude até a morte da caçula. Julieta é um pouco mais jovem, tendo nascido no Rio Grande a 21 de outubro de 1855 e falecido na mesma cidade, a 27 de janeiro de 1928 (PÓVOAS, 2007, p. 29). Elas interagem e criam conjuntamente, numa verdadeira simbiose literária, refletida na ação em periódicos e na parceria na edição e redação de livros, ou mesmo na atuação profissional ligada às atividades do magistério. A presença familiar é ainda mais incisiva no caso das irmãs Melo. São netas pelo lado materno de Ana Passos e Figueiroa e Manuel dos Passos e Figueiroa, latinista, poeta, teatrólogo, autor de obras didáticas e jornalista do período farroupilha. O pai, João Gomes de Melo é ligado aos negócios e às práticas comerciais e a mãe, Revocata Passos Figueiroa e Melo, é escritora, professora e poetisa, conhecida pelo pseudônimo de Americana. Ainda há dois tios, Manuel dos Passos e Figueiroa, engenheiro civil, matemático e escritor, e Deodato dos Passos e Figueiroa, professor e escritor. Também é tia a poetisa Amália Figueiroa, igualmente pertencente à Sociedade Partenon Literário (FLORES, 2011, p. 464; VIEIRA, 1997, p. 91; NEVES, 1987, p. 168).
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