Antologia de Poemas-Sebastião da Gama

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SEBASTIÃO DA GAMA Antologia Poética Trilhos de leitur@s com Sebastião da Gama


INDICE Pelo sonho são que vamos              

Sinal Cantiga de Amor O Sonho Madrigal a uma Estrela Esse Tempo Janelas de Estremoz Viesses tu Poesia Nunca o Amor foi breve A uma Rapariga Nupcial Regresso à montanha Tempestade Zambujeiro

O Segredo é Amar:  

O Segredo é Amar Textos em prosa:  A Serra da Arrábida  A Região dos Três Castelos

Itinerário Paralelo         

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Confidência Desabrochar Ícaro Paraíso Perdido Expressão Meta Arte de Fazer Sonetos Batam com força… Lírica Taverna, Melodia, Poesia, Alegria, Andorinha

Campo Aberto  

Mãe Noite Balada das Quatro Meninas Página 2 de 74


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Maribel Conto em Verso da Princesa Roubada A Verdade era Bela Natal Quatro Mil Soldados É o Sol e mais nada Cabo da Boa Esperança Canção Matinal Noturno Aceitação

Estevas:          

Não se perdeu a Poesia É uma flor… O Folhado Arte Poética A Poesia morreu toda nos Lagos Poema do Cardo Espelho O Menino Poeta Magala Romancinho

A Minha Arca de Noé         

Cachapim Pedrinho, D.Canguru a e i o u Fonte Seca Melodia da Manhã Nossa Irmã Cigarra Rouxinol quando Canta Paraíso Perdido Poesia

Serra – Mãe 

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Sem Título Céu Nevoeiro Astronomia Verso a Quase Tristes Pequeno Poema Excesso Poesia Alegria Claridade Versos ao mar Harpa Crepuscular Oração da Tarde Página 3 de 74


PROJETO

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Esta antologia de poemas de Sebastião da Gama nasce da necessidade de dar resposta às actividades no âmbito do projecto: Trilhos de Leitura(s) com Sebastião da Gama Este projeto visa: Descobrir e divulgar Sebastião da Gama como Poeta, Ambientalista, Pedagogo a partir da obra publicada e disponível, no fundo documental das bibliotecas do agrupamento, nomeadamente, os títulos:          

Pelo sonho é que vamos O Segredo é Amar Itinerário Paralelo Campo Aberto Cabo da Boa Esperança Estevas A Minha Arca de Noé Serra – Mãe Diário Cartas

Razões que fundamentem a importância do projecto, no contexto do Agrupamento 1ª Valorizar e divulgar SG junto da comunidade escolar e educativa, através da leitura, da escrita e da arte, construindo e cimentando a identidade do agrupamento em torno do Poeta/Ambientalista/Pedagogo, alicerçado na articulação inter e transdisciplinar. 2.ª Promover o sucesso educativo dos alunos, tornando-os consumidores, produtores e distribuidores do conhecimento, indo ao encontro do “Perfil do aluno no séc. XXI”, respeitando o lema do Projeto Educativo do Agrupamento. 3.ª Valorizar a educação patrimonial a partir da Educação Literária como um caminho para elevar a identidade e a cidadania, colmatando lacunas existentes. 4ªImplementar a comemoração da “Semana de Sebastião da Gama” assinalando a data do seu nascimento -10 de abril. As actividades a desenvolver inspiram-se em três aspetos: 1. A Poesia da Serra Atividade 1 Para explorar o poeta ambientalista em articulação com o currículo e integrados nos projetos curriculares de turma trabalhar-se-ão os seguintes títulos: Serra – Mãe (Alegria, Versos ao mar, Harpa, Crepuscular, Oração da Tarde) Pelo sonho é que vamos (Regresso à montanha, Tempestade e Zambujeiro), Itinerário Paralelo (Confidência, Desabrochar, Ícaro e Paraíso Perdido), Campo Aberto (Água), Cabo da Boa Esperança (Canção Matinal, Noturno, Aceitação e Crepuscular), Estevas (Folhado, Poema do Cardo e Menino Poeta) , A Minha Arca de Noé (Paraíso Perdido, Nossa Irmã Cigarra, Poesia, Fonte Seca, Melodia da Manhã, Rouxinol quando Canta,) O Segredo é Amar: Textos em prosa-A Serra da Arrábida, pág.52; A Região dos Três Castelos Página 5 de 74


2. Pelo sonho é que vamos Atividade 2 Para explorar o poeta em articulação com o currículo e integrados nos projetos curriculares de turma trabalhar-se-ão os seguintes títulos: Pelo sonho são que vamos (Janelas de Estremoz, Viesses tu, poesia, Nunca o Amor foi breve, A uma Rapariga, Nupcial, Sinal, Cantiga de Amor, O Sonho, Madrigal a uma Estrela e Esse Tempo; O Segredo é Amar: O Segredo é Amar, Itinerário Paralelo (Expressão, Meta, Lírica, Arte de Fazer Sonetos, Batam com força…, Taverna, Melodia, Poesia, Alegria, Andorinha), Campo Aberto (Água, Mãe Noite, Balada das Quatro Meninas, Maribel, Conto em Verso da Princesa Roubada, A Verdade era Bela, Natal, Quatro Mil Soldados, É o Sol e mais nada), Estevas: Não se perdeu a Poesia, É uma flor…, Arte Poética, A Poesia morreu toda nos Lagos, Poema do Cardo, Espelho, O Menino Poeta, Magala e Romancinho, A Minha Arca de Noé: Cachapim Pedrinho, D.Canguru, e Serra – Mãe: Céu, Nevoeiro, Astromania, Verso a Quase Tristes, Sem Título, Pequeno Poema, Excesso, Poesia, Alegria e Claridade 3. A aula é nossa Atividade 3: Para explorar o pedagogo em articulação com o currículo e integrados nos projetos curriculares de turma trabalhar-se-á o Diário

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SINAL (SG- Pelo sonho é que vamos) Quanto amor me tens, com amor te pago Trago-te no dedo, num anel que trago. Num anel redondo, todo de oiro fino, que é o teu sinal, que é o teu destino. Este anel me basta para bater-te à porta. Truz! truz! truz! – na rua como o frio corta! Como a chuva cai, como o vento mia! Mas abriste logo, que eu é que batia. (Que outro anel tivera som que te chamasse?) Já teu vinho bebo, para que o frio me passe; já na tua cama me aconchego e deito; já te chamo esposa, peito contra peito. como tudo é simples, como é tudo imenso! Página 8 de 74


É“ mistério enorme, de um anel suspenso! E eis, na tua mão, num anel igual, brilha o teu destino, luz o meu sinal.

CANTIGA DE AMOR (SG- Pelo sonho é que vamos) De onde estou, tão longe, vejo-te à janela. (Não te vejo, não: vejo-te somente na imaginação.) Onde estou, tão longe, chega a tua voz. Oiço um longo brado que é por mim que chama. Oh que lindo som! -- e é imaginado... Onde vou te levo, minha doce Amiga. Tenho-te onde estou. A cabeça dói-me porque o Sonho a cansa? -- Onde a descansara, se te não trouxera mesmo na lembrança?

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O SONHO (SG- Pelo sonho é que vamos) Pelo Sonho é que vamos, comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não haja frutos, pelo sonho é que vamos. Basta a fé no que temos, Basta a esperança naquilo que talvez não teremos. Basta que a alma demos, com a mesma alegria, ao que desconhecemos e do que é do dia-a-dia. Chegamos? Não chegamos? – Partimos. Vamos. Somos.

MADRIGAL A UMA ESTRELA (SG- Pelo sonho é que vamos) De histórias de estrelas ninguém quer saber. Não conto, não conto... Quem é que te quer, história da estrela que fica por cima da minha janela? Tão bela! Tão bela! Comigo te guardo na vida e na morte. Serás um segredo... Será uma estrela que eu leve a meu lado na vida que leve... Escura que seja - que vida tão clara!

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Que noite tão branca a noite que eu durma (debaixo da terra) debaixo da estrela! Não conto. Não digo. Comigo te guardo. Assim tu, ó estrela, me guardes contigo...

ESSE TEMPO Esse tempo era bom.. Há tanto, coração! Mas é lembrá-lo e tê-lo Mais uma vez à mão. Ah! Que o Mundo e o Tempo Não me levaram tudo… Tempo , azeda o meu vinho! Goteja sombra, Mundo! Sede o que sois…que importa? _deixais-me, Mundo e Tempo, Um fio de Sonho ainda… De Sonho me sustento.

JANELAS DE ESTREMOZ Janela fechada, cortina corrida... Nem flor a perfuma, nem moça a enfeita. --: Ninguém se lhe assoma. Janela tão triste, nem ao Sol aberta... Página 11 de 74

(SG- Pelo sonho é que vamos)


Em toda a cidade se repete a história mil vezes; mil vezes, se olhares a janela ou desta ou daquela casinha caiada, a vês divorciada do Sol e de tudo que graça lhe dera. Há vinte janelas na casa da esquina? -- Na rua de cá dez estão fechadas; outras dez, fechadas na rua de lá. Ah! tão retraídas! Ah! tão agressivas! Que pessoas vivas foi que as condenaram? Ó janelas mudas, pobres prisioneiras!, que pessoas vivas, por que expiação, vivem na prisão em que vos meteram? -- sem sol que as aquente... sem flor que as alegre... Janela cerrada, cortina descida... Mocinha escondida por trás da janela -- quanto mais não vale a rosa encarnada que a rosa amarela!...

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VIESSES TU POESIA

(SG- Pelo sonho é que vamos)

Viesses tu, Poesia e o mais estava certo. Viesses no deserto, viesses na tristeza, viesses com a Morte... Que alegria mereço, ou que pomar, se os não justificar, Poesia, a tua vara mágica Bem sei: antes de ti foi a Mulher, foi a Flor, foi o Fruto, foi a Água... Mas tu é que disseste e os apontaste: - Eis a Mulher, a Água, a Flor, o Fruto. E logo froam graça, aparição, presença, sinal... (Sem ti, sem ti que fora das rosas? Mortas, mortas pra sempre na primeira, mortas à primeira hora.) Ó Poesia!, viesses na hora desolada e regressara tudo à graça do princípio...

NUNCA O AMOR FOI BREVE… (SG- Pelo sonho é que vamos)

Nunca o Amor foi breve, quando deu fruto. (Cantai, aves do ar, em volta de seu berço!) Sagre-o a Dor, nenhum Amor é vão. Exulta, voz das ondas! – O seu Amor floriu, deu fruto, como as árvores. Página 13 de 74


Cantai, aves do ar, em volta do seu berço. Cintilantes do Sol, saltai ao Sol, peixes do Mar. Nunca o Amor foi triste. Nem a Vida foi menos bela. Baila contente, lágrima!, baila nos olhos dela.

A UMA RAPARIGA (SG- Pelo sonho é que vamos) Somos assim aos dezassete. Sabemos lá que a Vida é ruim!... A tudo amamos, tudo cremos. Aos dezassete eu fui assim. Depois, Acilda, os livros dizem, dizem os velhos, dizem todos: "A Vida é triste. a Vida leva, a um e um, todos os sonhos." Deixá-los lá falar os velhos, deixá-los lá... A Vida é ruim? Aos vinte e seis eu amo, eu creio. Aos vinte e seis eu sou assim.

NUPCIAL (SG- Pelo sonho é que vamos) Vieram todos os poetas, trouxeram versos, trouxeram rosas. Repicam sinos, finamente… , Cantam as Coisas. Página 14 de 74


Ó meu Amor, cheia da graça Que sobre os dois a um tempo desce, Nas horas pagas a desgosto Ganhámos esta que não passa. Já o teu seio em flor emerge Na minha vida como um barco. Vamos partir de nós pra nós. Cada manhã será mais perto. Ó estrela à mão qual uma flor, Ó terra à espera da semente,` Ó singular, clara nascente, Meu par na Dor e no Amor. Ó puro altar onde vou pôr Em sacrifício a vida inteira, Deus te bendiga pla perfeita Aceitação com que me esperas.

REGRESSO À MONTANHA (SG- Pelo sonho é que vamos) Regresso -- nem triste nem alegre: receoso... E o marulhar das ondas é o mesmo... A mesma, a cor do Mar... A maresia tem sobre mim o mesmo sortilégio... E o mato cheira como dantes...Fala comigo como dantes, reza, escuta... E o perfil da Montanha, como dantes. adoça-se no escuro... E a canto da Noite, recolhido, mudo de tão feliz, o Adolescente...

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TEMPESTADE (SG- Pelo sonho é que vamos)

O Vento enchia o Mundo. Mal deixava Lugar para a tremenda voz das ondas. Mas era o Mar apenas que se ouvia.

O ZAMBUJEIRO (SG- Pelo sonho é que vamos) Deus disse: "O Zambujeiro nasça". Viril, rompeu da terra o Zambujeiro. O tronco é o dum homem das montanhas. São mãos de cavador seus ramos. Só as folhas, Delicadas, suaves... Pela noite, Quando tudo se cala, mesmo os pássaros, O Zambujeiro canta...

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O SEGREDO É AMAR

(SG- O Segredo é amar))

O Segredo é amar O segredo é amar. Amar a Vida com tudo o que há de bom e mau em nós. Amar a hora breve e apetecida, ouvir os sons em cada voz e ver todos os céus em cada olhar. Amar por mil razões e sem razão. Amar, só por amar, com os nervos, o sangue, o coração. Viver em cada instante a eternidade e ver, na própria sombra, claridade. O segredo é amar, mas amar com prazer, sem limites, fronteiras, horizonte. Beber em cada fonte, florir em cada flor, nascer em cada ninho, sorver a terra inteira como o vinho. Amar o ramo em flor que há-de nascer, de cada obscura, tímida raiz. Amar em cada pedra, em cada ser, S. Francisco de Assis. Amar o tronco, a folha verde, amar cada alegria, cada mágoa, pois um beijo de amor jamais se perde e cedo refloresce em pão, em água!

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A SERRA DA ARRÁBIDA

(SG- O Segredo é amar)

(a Frei Diogo Crespo) O mais difícil não é ir à Arrábida, porque no Verão há carreiras de camionetas, no Inverno há em Azeitão táxis ou carroças ou jeriquinhos tão prestáveis como os de Cacilhas de antigamente ,e de Janeiro a Dezembro, para muita e boa gente, há duas pernas vigorosas e de boa vontade que fazem transpor a Serra pelo Vale do Picheleiro. Difícil, difícil, é entendê-la: porque boas praias, boas sombras e boas vistas há-as em toda a parte para os bons banhistas, os bons amigos de bem –comer, os bons turistas; o que não há em toda a parte é a religiosidade que dá à Serra da Arrábida elevação e sentido. Sabe-se lá se o alor místico lhe vem da origem, se lho deixaram __inefável herança! __os franciscanos do seu Convento?... Mas é fora de dúvida que o visitante, se o não apreendeu, saiu da Arrábida sem sequer ter entrado nela verdadeiramente! Vá sozinho, suba ao Convento, que é onde o espírito da Serra converge e como que ganha forma, leve, se quiser, os versos de Agostinho(bem –aventurado, que no-lo editou, o Professor Mendes dos Remédios!) e experimente como afinal é fácil estar a sós com Deus. Quando, de rosado, começa a arroxear-se o horizontem a Serra é um vulto de sombra parado a meio do silêncio. Pios de ave com goteiras, piguelingam de quando em quando e de onde a onde__ e damos então mais consciente notícia do grande silêncio. Dizemos: Assim com cousas mudas conversando, Com mais quietação delas aprendo Que outras que há, ensinar querem falando. Se a Lua surgir, o mato começa a desenhar no chão arabescos que já sabemos ler; empalidece mais o Convento e nós, compenetrados da beleza divina ( ou franciscana?) das coisas, somos a grande porta que se fecha sobre a Serra para a Serra dormir, pela noite longa e azulada de Estrelas, na sua meditação que já dura séculos. O Céu fica-lhe perto : Bastaria acordar a meio da noite… Bastaria, para que Deus a ouvisse, sonhar alto um verso de Frei Agostinho, dos muitos que ele rezou e ela sabe de cor…

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A REGIÃO DOS TRÊS CASTELOS (SG- O Segredo é amar) A Região dos Três Castelos – circuito turístico [castelo de Sesimbra, de Palmela, de São Filipe (Setúbal)] (texto integral) (este trabalho foi publicado, em português e francês, num opúsculo ilustrado, pela Transportadora Setubalense, Azeitão, em Agosto de 1949) [Mapa da viagem] Não é aqui nem ali, nomeadamente, é onde quer que começa a ser visto, que Portugal começa a ser maravilhoso; atravessem o Tejo, metam-se numa confortável camioneta e venham connosco verificar esta verdade; os que vierem connosco verão que Portugal começa na Península de Setúbal a ser a maravilha de que falam os livros. Lisboa acena, do lado de lá do rio, o seu adeus alegre aos que partem. já o barco nos deixou na Outra Banda, já a camioneta arranca, já, depois de atravessadas as vilas de Cacilhas e Cova da Piedade, centros comerciais e industriais, se oferece a nossos olhos a mancha verde dos campos. Ulmos e acácias que vieram até à beirinha da estrada ver-nos passar; pinheirais extensos e orgulhosos da sua raça - são os filhos, são os netos dos que foram à Índia; a vinha a sonhar: «Quando serei vinho?»; o trigo a sonhar: «Quando serei pão?»; e as árvores de fruto, algumas carregadinhas como ouriços, a prometerem doçura e frescura... A camioneta vai contente, porque é ela que mostra tudo isto, porque vão contentes os que espreitam pelas suas janelas. E já volta à direita, na encruzilhada do Fogueteiro, onde uma novíssima fábrica de têxteis artificiais abre os seus portões; por aquele ramo de estrada se encaminha, também entre pinhais, até à Aldeia de Santana, burgozinho de camponeses, lugar bom para quem gosta de guloseimas: n'A Camponesa, uma casinha discreta, há bolos deliciosos, dignos de um convento. E agora o macadame nos lembrará as antigas estradas: de Santana ao Cabo Espichel leva-nos um macadame simpático e bem cuidado, orlado de malmequeres brancos. Companheiros da estrada, uma ou outra carroça, um ou outro burriquito - toque toque toque - a caminho da vila. E assim chegamos à Igreja de Santa Maria da Pedra de Mua, do tempo de D. Pedro II, mais conhecida por Senhora do Cabo; é ali que mora a padroeira dos pescadores de Sesimbra. «Senhora do Cabo», com a ortografia errada se Deus Página 20 de 74


quiser, tem sido o nome de muitos barcos de aquela vila. Desçamos até à beira-oceano, junto da ermida levantada sobre a Pedra de Mua (século XV), onde quer a tradição que a imagem de Nossa Senhora, hoje na igreja, tenha aparecido; de aí enchamos os olhos de Mar e Abismo. Uma baía minúscula de águas de cor de azebre acaba em mansidão uma cavalgada de rochedos cortados em perpendicular; depois, mar que não acaba, pespontado de velas e gaivotas; para a esquerda, o Farol, de 1790, dá sinais de terra aos que não tiverem medo das ondas. Vem do Oceano, quase sempre, um ventinho agreste mas belo: fala de Portugal e do seu destino. Mas apressemo-nos, porque o passeio é longo, desçamos ao Castelo de Sesimbra, que os mouros ergueram. Hoje é uma relíquia de tempos heróicos: evoca D. Afonso Henriques, que em 1165 o tomou; no tempo do Conquistador, era dentro dos seus muros que a povoação, elevada a vila em 1323, ia crescendo casa a casa. Dentro do Castelo, a Igreja de Santa Maria ou de Nossa Senhora do Castelo, da segunda metade do século XII; a imagem da Senhora, em pedra, é do século XIII. Olhemos, das ameias, a vila de Sesimbra e o mar salgado, pão de cada dia de aquela terra. A praia, que visitaremos deixado o Castelo, chega para pescadores e para banhistas: de um lado se enfeita de aiolas e traineiras, do outro de barracas de lona. Aos pescadores protege-os, como se não bastassem a Senhora do Cabo e a Senhora do Castelo, o Senhor das Chagas, a Quem o povo todos os anos agradece, numa romaria típica. 0 Senhor das Chagas arrasta a Sua Cruz na Igreja da Misericórdia, que merece a pena ver por Ele e por um painel em tábua, talvez de Garcia Fernandes. Com mais uns minutos para a visita à Igreja Matriz (do século XVI) e à sua bela escultura barroca da Virgem, teremos feito uma ideia de Sesimbra, «a piscosa», anfiteatro de onde se sofre ou se goza o espectáculo sempre grande do mar. Dez quilómetros de boa estrada e tomamos novamente a direita de uma encruzilhada (à Ponte de Cambas); vamos entrar na Serra da Arrábida. Nos primeiros lanços fica-nos ela em frente, azul e majestosa; pouco a pouco começam o alecrim, o rosmaninho, a esteva, a anunciá-la na sua voz de perfume. E ao longo da cobra de alcatrão não se cansa o mato de encantar os que passam: agora é o medronheiro, mais adiante a aroeira e o zimbro. Casalinhos de pequenos lavradores, os Casais da Serra, entremeiam de branco o verde do mato e o vermelho do barro. De repente, menina curiosa a espreitar da sua varanda, a Capela de Nossa Senhora de El Carmen; diz-nos adeus de longe e fica. E já nos esquecemos dela, porque a Serra do Risco, à direita, sobe para o Céu na sua escalada titânica. É ali o ponto mais alto da costa de Portugal, por isso lhe chamam «cabo de ares» os pesPágina 21 de 74


cadores que de baixo, dos seus barcos minúsculos ante aquela grandeza, a medem com o terror ou a admiração da sua pequenez de homens. A Serra tem o ar de uma onda que avança impetuosa e subitamente estaca e se esculpe no ar; é uma onda de pedra e mato, é o fóssil de uma onda. Ri-se do mar de agora, gaivota mansinha, profundamente azul, que faz avultar, com a planície que lhe fica à esquerda, o seu dorso gigantesco. E seguimos; e à maravilha segue a maravilha: agora começa-se a descer a Estrada do Professor Gentil, três quilómetros que nos levam ao Portinho. Aconselha o bom gosto a fazer uma paragem de minutos. Estamos no Alto da Mata, assim chamado porque ali termina a Mata do Solitário, floresta cerrada onde se misturam de há séculos o carvalho com o medronheiro, o folhado com o zimbro. Toda a mata de que, donde estamos, vemos apenas a cúpula verde, é uma catedral de sombra. Lá terá vivido o asceta que lhe deu o nome e ao poçozinho que a refresca; e o Casal da Boavida, hoje meia dúzia de pedras perdidas numa clareira, lá está para indicar onde dormia o solitário. Que pena não poder durar mais tempo esta nossa paragem! É que aqui é o ponto mais belo que até agora encontrámos: em nossa frente ergue-se, piramidal, o Monte do Guincho, onde a Mata do Solitário nasceu e vingou; de cada lado o mar, que vemos moldado por dois vales; tudo simétrico, tudo regular, espantosamente regular nesta Serra caprichosa e romântica. Os pássaros cantam a liberdade dos bosques. E nós baixamos até ao Portinho, onde havemos de almoçar. Uma baía que abraça amorosissimamente um mar estático... Uma fortaleza mandada construir por D. Pedro II para defesa da costa (piratas que gostariam de passar aqui o seu fim-de-semana) e que é hoje a Estalagem de Santa Maria... Mato a nascer ao rés das ondas dir-se-ia que tem a raiz na água salgada... Uma luz que fere a vista, mas de que a vista se enamora, a vestir as coisas todas de um brilho que não é deste mundo... Gaivotas que não são sinal de temporal - são antes as pombas de uma paz única e primitiva... Todo o Portinho (que poeta lhe pôs este nome?) a ser um cais sobre a Poesia, uma janela que dá para a Beleza... Sabe-nos bem estarmos vivos. Mas não deixemos de ver a Lapa de Santa Margarida - uma gruta enorme que o mar enche com a sua voz sagrada. Humildemente escondida na sombra, uma capelinha tosca onde por vezes se reza missa (e o mar acolita e a missa ganha um sentido mais grandioso, mais preciso que noutro lugar qualquer; a gruta transcende-se e tem ogivas e tem vitrais e tem rosáceas a ada canto; Deus veio). Depois Alportuche, uma pequenina praia a que nos conduz uma alameda de eucaliptos. E se tomarmos um bote poderemos ainda Página 22 de 74


visitar a Praia dos Coelhos e a de Galapos. De passagem, vemos de perto a Pedra da Anicha, ilhota curiosa que em tempos deve ter ligado com a terra; camaleão da paisagem, se não muda de cor muda de forma e durante o nosso passeio já tivemos ocasião de lhe ver aspectos vários; outros vos esperam ainda - para cada lugar de que a vemos guarda a Pedra da Anicha uma cara diferente. Chegou a hora da partida. De novo cortamos a Mata do Solitário - a estrada verte sangue. No Alto da Mata tomamos o ramal da direita e vai começar o novo filme; agora as cores são mais vivas, a luz mais álacre. Tornamos a ver a Mata, Alportuche, o Portinho, o Mar... Passamos a dois passos da Mata Coberta, que foi, antes de o ciclone a ter amputado, a mais numerosa da Serra; o Sol ficava-lhe à porta, contentava-se com doirar o cume do Monte Abraão, que a protege dos ventos do mar. Um minuto mais e aparece o Convento. Ali se concentra a religiosidade esparsa pela Serra; parece que é ali a fonte mística, quando o contrário é o que afinal acontece; ali desemboca, vindo de todos os cantos, trazido por todos os ventos, o espírito que dá à Serra da Arrábida elevação e sentido. Ali é que se apercebe com nitidez a Arrábida mais verdadeira, que não é a Arrábida dos banhos, nem a Arrábida das caldeiradas, nem a Arrábida das romarias encantadoramente pagãs, nem sequer a Arrábida do turismo; é o que aquelas paredes contam. Eis Frei Martinho, que em 1542 fundou o Convento, posto à entrada a impor silêncio, recolhimento e fé; e a capelinha-mor, onde um Cristo em madeira, uma Nossa Senhora da Romã e dois óleos de autores desconhecidos nos não chamaram em vão (e que bonitos e sinceros os barcos de pesca que os pescadores, devotos de Nossa Senhora da Arrábida, lá foram pôr); e o jardinzinho de S. Pedro de Alcântara, onde o buxo reza há trezentos anos uma oração que já deve ter chegado lá acima; e a Fonte da Samaritana, a escorrer frescura pela bica (santa, três vezes santa, das sedes que matou ... ); e a capelinha-brinquedo da Senhora da Piedade, que a paciência dos frades ornamentou de conchas e de cacos; e a maior graça do Convento que é a desordem harmoniosa das suas celas, a simplicidade das suas ruazinhas estreitas. Por tudo isto perpassa a memória dos fradinhos que descobriram a Arrábida lugar de oração, ante-câmara do Céu. Frei Agostinho da Cruz, que morava numa celazinha perdida no mato, junto do Convento Velho (duas ermidas, a da Memória e a de Santa Catarina, e mais uma série de sete que representam os Sete Passos, sendo o da Crucificação- Senhor dos Aflitos - única que escapou ao tempo, uma escultura de primeira ordem) encontrou a expressão poética desta descoberta. «Nesta Serra do Céu, vossa vizinha» - dizia ele a Nossa Senhora. Página 23 de 74


Mas Frei Agostinho não é só no Convento que nos vem à lembrança. Estamos agora na estrada que corta a Serra longitudinalmente, pelos píncaros, e de novo ele fala: Alta Serra deserta, de onde vejo As águas do Oceano de uma banda, Da outra, já salgadas, as do Tejo. Até onde o Poeta foi a pé, quando rasgava o hábito na aspereza dos carrasqueiros, na ânsia de subir tão alto que visse o Céu de mais perto, pode hoje toda a gente ir de automóvel ou de camioneta. Os homens magoaram as pedras amadas de Agostinho e passaram. 0 mato por aqui é rasteiro - acabou a Arrábida luxuriante para começar a Arrábida desolada e severa. Mas que encantamento de paisagem! - Para trás as matas, iluminadas de um Sol que as enriquece a esta hora da tarde; em baixo a fortaleza, meigamente poisada na orla verde do mar; cabrinhas agitam, os seus guizos e olham espantadas (ou indignadas?) os que perturbam a grande paz da Montanha. É um presépio autêntico, em que o Menino Jesus gostaria de ter nascido. Mirantes nos convidam a parar - varandins de onde Frei Agostinho veria, de uma banda, as águas do Oceano (e também as do Sado), da outra as do Tejo. E veria Setúbal garridamente disposta à beiracais; e veria Lisboa, veria, no flanco norte da Serra (Os Picheleiros). as vinhas onde dorme o famoso Moscatel de Setúbal. Depois a paisagem muda. Avistamos o Sanatório do Outão, estabelecido numa antiga fortaleza, e a fábrica de cimento Secil, e caminhamos para Setúbal por uma estrada rente ao rio; a palmeira, o eucalipto e o pinheiro são as árvores que dão cor e sombra ao longo destes sete quilómetros. Ranchos de rapazes e raparigas, de famílias inteiras que saíram a gozar o seu domingo, saúdam os turistas. A Comenda e o seu palacete, a Praia de Albarquel com a sua fortaleza são ultrapassados. E Setúbal surge finalmente, com fábricas de conservas logo à entrada. 0 segundo castelo do triângulo está à vista: é o Castelo de S. Filipe, único castelo barroco de Portugal, mandado construir em 1590 por Filipe II. 0 panorama. que dali se abrange é magnífico. Apetece ficar lá, mas não pode ser: precisamos de uns minutos para admirar a jóia manuelina da Igreja de Jesus, que Boitaca, o mestre dos Jerónimos, concebeu e construiu em 1594. 0 manuelino deixou em Setúbal ainda outro documento: é o portal norte da Igreja de S. Julião, dos melhores do País. Desse portal olhemos para a estátua do Poeta Bocage, em mármore branco. Ainda na praça em que estamos e a que dá nome o grande Poeta setubalense, merecem ser vistos o esplêndido edifício da Câmara Municipal e os pequenos museus, nele instalados, D. Olga Moraes Sarmento e Dos Primitivos da Igreja de Jesus. Página 24 de 74


Para que façamos uma ideia do movimento piscatório da cidade, demos então, seguindo pela Avenida Todi, um salto à doca das Fontainhas. Em cima, em anfiteatro, fica-nos o velho e curioso bairro do mesmo nome; voltemos por aí, para não perdermos o panorama lindíssimo que se avista do miradouro de S. Sebastião. Uma caixa de doce de laranja, para tornar a viagem mais agradável ainda, comprada em qualquer pastelaria, e teremos saído de Setúbal, Rainha do Sado, sabendo dela que é bonita e doce do princípio ao fim. E depois de um ameno passeio entre laranjais e de uma subidazinha que há-de ter cansado muito homem de armas de outrora, aparece, a fechar o triângulo, o Castelo de Palmela. Quem primeiro lhe mediu a força foi, em 1147, D. Afonso Henriques. «Da construção primitiva», escreve Pina de Morais, «pouco resta: serão romanas as torres circulares, árabes as quadradas, do Mestre de Avis a Torre de Menagem, de D. Pedro II as fortificações mais modernas para uso do canhão.» Mas o que não terá mudado muito é a paisagem deslumbrante e sem fim, prémio valiosíssimo para quem não hesitou em subir à Torre de Menagem. E mais uma vez (a outra foi na Arrábida) se mostra à evidência que onde a paisagem portuguesa for pitoresca ou for grandiosa os primeiros turistas a chegar são os frades: aqui gozaram, de 1194 a 1218, o mesmo espectáculo que nós estamos gozando, os freires de Sant'lago, que em 1482, lançada a primeira pedra do seu templo, hoje em ruínas, tornaram à casa, como bons filhos, e nela se estabeleceram definitivamente. A vila fica em baixo, aninhada entre vinhas e confiante na protecção do seu castelo. Dos montes à volta chega-nos a música estranha dos moinhos - quem sabe, D. Quixote!, se não serão barbudas sentinelas que D. Afonso ali deixou de guarda ao castelo... Palmela é terra de bons frutos e bons vinhos. Baco não se importaria de vir connosco e muito menos se lhe segredássemos que a dois passos, deixadas para trás Quinta do Anjo e Cabanas, começa a região de Azeitão, onde o vinho, como diz o Povo que só diz verdades, não é vinho é vinhão. É em Azeitão a nascente, que dá de beber a todos os mercados do mundo, do excelente Moscatel de Setúbal. E como um bom vinho pede um bom petisco, inventou a gente da terra um queijo de ovelha divino e uns bolinhos de manteiga que obrigam o turista a parar, a provar, a gostar. Mas Azeitão, que ficou no sopé da Serra da Arrábida como quem não teve coragem de a subir, não se recomenda apenas ao nosso paladar. Azeitão é terra de palácios, é «a fidalga Azeitão», como oliveira Martins lhe chamava. Atravessada a Aldeia das Vendas, estamos dentro em pouco no Palácio da Bacalhoa, monumento nacional, «um misto de arte florentina e de reminiscênPágina 25 de 74


cias mouriscas nas cúpulas de gomos e que, como museu de azulejos, só tem um rival em Sintra» (Joaquim Rasteiro). Construído no último quartel do século XV, sofreu no século seguinte, sendo seu proprietário Afonso de Albuquerque filho, grandes modificações. Já pertenceu a EI-Rei D. Carlos e é hoje de uma senhora americana, Mrs. Scoville. Um dos seus quadros de azulejos representa Susana no banho e está datado de 1565. Afonso de Albuquerque e outros fidalgos da região mandaram, em 1570, edificar a Igreja de S. Simão, em Vila Fresca, que é o ponto seguinte da nossa escala. E já perdemos de vista esta vilazinha e entramos na alameda que dá acesso ao Palácio da Quinta das Torres, um retiro romântico onde apetece esquecer o tempo, deixar-se embalar na poesia puríssima que se desprende de aquele palácio enfeitado a heras, do lago lamartiniano, dos cedros que lembram Narciso. O palácio é notável pela sua traça arquitectónica (do século XVI) e pelos painéis de azulejos, do mesmo século, que figuram, um, o incêndio de Tróia, outro, a morte de Dido, e outro ainda, num rodapé, pormenores de caçadas, ora realistas, ora de inspiração mitológica. Abriu-se a porta do palácio e nós entrámos. Doçura de estar em casa (home, sweet home... ), prazer de tomar uma chávena de chá junto dos nossos... Alegria de uma coisa imaginada que acontece precisamente como a imaginámos... Nem sequer foi uma surpresa tudo isto que fomos encontrar depois de a porta aberta: o ambiente cá de fora anunciara aquela Casa de Chá, o nosso espírito exigia-a e achava tão natural que ela aparecesse como a inteligência e o bom gosto das pessoas que a criaram acharam natural que nós a esperássemos. Era preciso que o fio da Poesia se não quebrasse - que o encantamento não ficasse à entrada da porta. Quem inventou a partida decerto que nunca amou...» Partimos da Quinta das Torres a cantar este verso. Vila Nogueira aparece, tem pena (e é sincera porque é hospitaleira) de que não haja tempo para dar uma volta pelas suas ruas, de ver de perto o Palácio dos Duques de Aveiro, que albergou tantos reis, o do Salinas, que pertenceu a D. Constança, mulher de D. Pedro I, e a Igreja de S. Lourenço, de 1344. É que a tarde começa a descer. Dois quilómetros mais, acabada nos Brejos a região de que vimos uma pequenina parte, e o Sol morre por detrás dos pinhais. Depois do orgulho da sua agonia teatral, as sombras não se demoram e tomam conta de tudo: a cor definha, a forma esbate-se. Coina, e o seu riozinho que ao lusco-fusco é um segredo, Paio Pires, Torre da Marinha., Corroios, já respiram noite... Cacilhas dá um ponto final na viagem e aponta para Lisboa, que parece ter sido invadida pelos pirilampos: tremeluz na noite azul, chama por nós como quem nos quer bem. Não tem ciúmes das terras bonitas que fomos ver, porque Página 26 de 74


as «boas-noites» que lhe damos não são menos alegres nem menos do coração do que os «bons-dias» desta manhã. Para Lisboa há sempre um lugarzinho no coração e um galanteio à flor dos lábios. Arrábida, de 28 a 31 de Maio - 1949.

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CONFIDÊNCIA (SG-Itinerário paralelo ) Na minha praia, os grãos de areia Passam a vida numa confidência Que a não entende a gente. Talvez a murmurar Daquela onda que corre devagar, Por medo de magoar A outra que vem à frente. Os grãos de areia confidenciavam… A onda desenrolou-se, Depôs o búzio que trouxe E foi buscar outros mais; O búzio então imitou Não sei bem se as ondas ou Se os ecos longos dos meus longos ais. A Lua, ao alto, escorria Uma luz húmida e fria Que molhava todo Mar. Mas a luz fria aquecia… Meu coração, sem respeito, Saltou-me as grades do peito, Foi aquecer-se ao Luar. Os grãos de areia confidenciavam, E murmuravam da Lua, Como as vizinhas na minha rua… Lá do Céu , houve uma Estrela que foi descendo: Agostinho , O frade-poeta santo, Tinha descido ao Portinho A relembrar o seu Canto. O Poeta disse aos seus versos E o vento fez, aos esparsos Cabelos dos pinheirais, Soltar uns «chius» que pediam, Às coisas que se moviam, Que se não movessem mais. Os versos, Estrela de Alva, Caíam nas ondas, que os recebiam Com um jeito de embalar. E eu tive pena, oh minh’ alma, De não seres um desses versos, Caindo , lento, no Mar. Presos da sua cadência, Os grãos de areia, dispersos, Calaram a confidência. Página 29 de 74


E o búzio não falou mais Das ondas nem dos meus ais: Anda a cantar, com saudade, Os versos de Amor Divino Que ouviu da boca do Frade.

DESABROCHAR (SG-Itinerário paralelo) Tudo se passa, Quando a Manhã nasce na Serra, Como se uma flor abrisse E pelo ar O seu perfume subisse…

ICARO (SG-Itinerário paralelo) Cá estou eu na Serra, ao ar... (Fugi do quarto, aonde esbarrava nas paredes.) Cá estou eu na Serra, ao ar... Cá estou eu de novo a esbarrar e desta vez é contra o Céu que esbarro e me atrapalho. Cá estou eu a esbarrar, já falto da mais pequena força... Cá estou eu caindo de mais alto...

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PARAÍSO PERDIDO (SG-Itinerário paralelo) Não sabem mais que brincar. Balir uns balidos leves. Sugar as tetas da Mãe. Dar marradinhas sem mal, por não terem outro modo de contar que são alegres. E o Tempo finge que dorme, enquanto saltam na relva... Têm presos ao pescoço chocalhos que são brinquedos. Ai que lindos os cabritos! Que naturais e perfeitos! Vejam lá de que se serve nossa Madre Natureza pra mostrar como era tudo se não fosse a macieira!

EXPRESSÃO (SG-Itinerário paralelo) Passei a tarde nisto; A procurar cá dentro, Um verso que me exprimisse. Mas nunca o disse… ( E tão ceguinho sou, tão pouco afeito A conhecer o que faço, Que só agora vejo que esse esboço De Som que me abortou antes dos lábios, É um verso já feito…)

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META (SG-Itinerário paralelo) Apaguei as Estrelas e deitei-me. Quando acordei, o Sol era nascido E não mais me ocorreu que tinha sido noite, Nem que eu tinha dormido…

ARTE DE FAZER SONETOS (SG-Itinerário paralelo) Ah! Soneto, Que não sei porque me custas!... Se é por seres muito pequeno Para as grandezas que eu sinto, Ou se por seres infinito E o meu espírito acanhado Se encontrar, dentro de ti, Como num fato emprestado, Muito largo… Só sei que gosto de ti, Sei que me fazes medo, E que, quando há meia hora te medi, Me foste, em cada sílaba medida, Uma chaga doendo em cada dedo.

BATAM COM FORÇA… (SG-Itinerário paralelo) Batam com força aqui nos meus sentidos… Batam nos meus sentidos com um pau, Como quem bate um polvo,a amolecê-lo. Batam sem dó té conseguir chegar A que eu só veja, oiça, goste,apalpe, cheire O que , se fosse filho de um banqueiro,poderia comprar Página 32 de 74


LÍRICA (SG-Itinerário paralelo) Lá vem nascendo a Manhã... ( Lá estou eu no berço sonhando e sorrindo, lindo, e a minha mãe a beijar-me e o seu beijo a não ser mais que o acidente mais lindo do sonho lindo que eu sonho...)

TAVERNA (SG-Itinerário paralelo) Eu não sou loiro, nem sou moreno, nem sou rico nem pobre: sou Poeta... O que ficou ao canto da taverna. O que entrou e se sentou, à espera não do pão ou do vinho ( ah! ... o Poeta hoje não tem fome! ) mas de que alguém viesse, alguém que precisasse de Amor e lho pedisse. Mas ninguém vem... tenho pena do Poeta, ao fundo da taverna, mudo, à espera... De que serve o tanto Amor que tem se ninguém aparece? Ai alegria tinta de tristeza, ai suave Amor descido, porque não vem ninguém pedir-te, ansioso, pra que saibas depois a merecido e tenhas o teu gosto verdadeiro? Ah suave Amor, sombra do Céu, Página 33 de 74


por que não vem com quem eu te reparta, para ser convencido e pleno de direito que vá chamar-te meu? Tenham dó do Poeta! venham, pobres ou ricos, os pobrezinhos de Amor, venham ser a moeda com que o Poeta pague o seu Amor. O Poeta do fundo da taverna...

MELODIA (SG-Itinerário paralelo) Há uma música qualquer, nos meus sentidos, que eu não digo. quero escutá-la só comigo. De que me serve se a disser? Não mais a música persiste se eu a tiver contado a alguém; de o não-ouvir que sobrevém, silêncio triste, fico triste. Ai não te cales , melodia! quero que sejas o meu bafo; dos gestos todos que aqui faço, a alma oculta que mos guia.

POESIA (SG-Itinerário paralelo) Lá fora canta um rouxinol. Canta de alegre... Com se o Sol não se pusesse. Como se tantas das nossas horas não fossem tristes. O rouxinol Página 34 de 74


canta lá fora... Rouxinolzinho!, canta. Eu fico ouvindo. E que eu me esqueça de reparar que hoje não canto nem pra chorar...

ALEGRIA (SG-Itinerário paralelo) Fazer um verso... Confiante e calmo, ficar depois à espera que floresça... ( Ah! é preciso é que floresça: seja no coração de uma criança ou no da mais impura prostituta) E quando, enfim, florir, não trocar poe nenhuma essa alegria. Maior nem a Deus, criando da mesma escuridão as Aves e o Dia.

ANDORINHA (SG-Itinerário paralelo) Tonta de Poesia, caiu a Manhã. É uma andorinha morta de cansaço. Deixem-na ficar caída no chão. Não façam barulho: podem acordá-la. Se ela se levanta, mesmo assim cansada, suas asas negras encobrem o Sol. Página 35 de 74


Deixem-nas paradas, suas asas meigas. Sereninhas, dormem o seu vĂ´o morto...

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MÃE NOITE (SG- Campo Aberto) Noite que não pedi, que não sonhei, noite impossível De pedir, de sonhar, Noite que num momento resgataste O Mondego sem água e sem poesia. Rasgavam-te os vestidos os relâmpagos. Laivavam de amarelo a tua carne escura. Noite pura, Com sete chagas vivas sobre os flancos. Só falavam as rãs. Os poetas não. Esses, ciosos de perceberem teu sentido, Tinham o coração fechado e comovido Na tua mão. Tinham os lábios plenos de segredo E os olhos deslumbrados De acolher inteirinha a tua imagem, Mas serenos. Tinham , nas mãos abertas, Silêncio vivo, grávido De oração, humildade. A tua graça austera Nas suas mãos abertas recebiam. E o Mondego eriçava-se de espanto… E as suas águas doentes Vibravam de saúde e poesia… Noite, Mãe dos poetas, Virgem depois do parto, Senhora da Piedade, Quem te disse das dores que me acometem? Por que vieste, se eu não te chamava, Se eu me esquecera De que a tua balsâmica presença Era o único bem que me faltava? Página 38 de 74


Noite, Mãe dos poetas e dos pobres, Que vieste sem astros nos vestidos, Encheram-se de ti os meus sentidos, Nada me dói… Noite, cheia de graça, Bendita entre as mulheres, Pelo bem que nos queres Obrigado, obrigado…

BALADA DAS QUATRO MENINAS (SG- Campo Aberto)

As quatro meninas têm quinze anos. Têm nas gavetas cadernos de escola Fechados à chave…Têm nas gavetas (que ninguém o sonhe!) as tranças cortadas Há dois ou três dias…Têm quinze anos. As quatro meninas têm namorados. (como gostam delas!...) As quatro meninas Sabem que são belas, que o juram aquelas Cartas escondidas entre os seios tímidos. As quatro meninas sabem-se miradas. Sabem da inveja que têm na praia Os outros rapazes dos quatro rapazes Que à tarde lhes dizem…as coisas que dizem. E as quatro meninas sentem-se felizes. Chove…,chove…,chove… Esbeltas , à janela, Por detrás dos vidros, cismam as meninas. _Que palavras meigas estarão escrevendo, Por detrás dos vidros, escutando a chuva, Os quatro rapazes, os quatro mais belos, Mais fortes , mais ágeis, que existem no Mundo? As quatro meninas sorriem :bem sabem. Página 39 de 74


MARIBEL

(SG- Campo Aberto)

Era tão triste o conto Que não valia a pena. Mas a menina insiste: - Avó, o conto triste. - Era uma vez… - contava. Ao fim soube a menina Que o Príncipe morrera Numa batalha inglória. - Não contes mais a história! Avó, não conte mais A história, que é tão triste. Viuvinha tão bela De um Príncipe tão jovem, Adormeceu chorando. Já as lágrimas secam. Já um sorriso aflora Seus lábios de Princesa. Feliz Príncipe morto!

CONTO EM VERSO DA PRINCESA ROUBADA (SG- Campo Aberto) Não sei outra história Senão a que sei: Os ladrões levaram A filha do Rei. - Sela o teu cavalo, Que hoje há montaria. -Roubaram-me a filha, Não tenho alegria. Página 40 de 74


A ricos e pobres Faz El-Rei saber: -Casará com ela O que ma trouxer. - Mas se for um monstro Feio e cabeludo? Mas se for um cego? Mas se for um mudo? - Ao melhor serviço Cabe a melhor paga: Será o meu genro Quem quer que ma traga. Oh que lindo moço Deu com a donzela! Como vem contente Pelo braço dela! Nunca o Paço viu Par tão delicado: Rosa de jardim Com seu cravo ao lado. Que Que Que Que

feliz o Rei, já tem a filha, já tem um genro é uma maravilha!

Como lhe sorri, Lhe agradece tudo!... - Mas se fosse um monstro? Mas se fosse um mudo?

A VERDADE ERA BELA A verdade era bela, Como vinha nos livros. À beirinha das águas A verdade era bela. Página 41 de 74

(SG- Campo Aberto)


Os que deram por ela Abriram-se e contaram Que a verdade era bela. Quase todos se riram. Os que punham nos livros Que a verdade era bela, Muito mais do que os outros. A verdade era bela Mas doía nos olhos Mas doía nos lábios Mas doía no peito Dos que davam por ela.

NATAL (SG- Campo Aberto) Fadas é nas histórias E reis é nos presépios. ---: Pariste sem mistério, Como os bichos. Mas a menina veio Graciosa e delicada. Sua única fada, A graça do teu seio. Ganhaste-a com arranques, E gritos, e suor, Com sangue, com ternura, E Amor e Amor e Amor. Por tudo isto é que é bela. Feliz ou infeliz? Se as fadas não existem Quem sabe a sua estrela? Concha rolada à praia, Fechada, fechadinha, Nem o Mar adivinha Que segredo ela guarda.

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QUATRO MIL SOLDADOS Ra ta plã ta plã Quatro mil soldados Vão mecanizados Pela estrada fora.+ Sereninha a hora, Manhã linda, linda, Mas os quatro mil Marcham indiferentes. Ra ta plã ta plã Que bonito é! Mas à volta há flores E nenhum as vê. Passam andorinhas, Dizem-lhes recados. De olhos encantados, Passam raparigas. Ondas lhe acenam. Melros e pardais Fazem-lhes sinais Pela estrada fora. Mas os quatro mil Vão mecanizados. Passos acertados Pelo rataplã; Os ouvidos dados Só ao rataplã; Olhos cegos, cegos, Coração entregue Só ao rataplã ( Ra ta plã ta plã Ra ta plã ta plã Ra ta plã ta plã) Que monotonia! Que enfadonha letra! Entretanto os melros Trinam de alegria. Página 43 de 74

(SG- Campo Aberto)


Trinam , trinam, troçam. --- Quatro mil soldados, Todos combinados Negam a manhã Ra ta plã ta Ra ta plã ta Ra ta plã ta Ra ta plã ta

plã plã plã plã

É O SOL E MAIS NADA É o Sol e mais nada Neste momento importa. Brinquem os raros felizes No seu jardim em flor. Dancem danças de roda, Digam versos de Amor, E o sumo das laranjas Lhes adoce a garganta. É o Sol no pomar E no jardim dos tristes. Tristíssimos os tristes Que não venham bailar! Estavam três meninas Sentadas no pomar. Estavam três rapazes. E as meninas pensaram Que o Sol não acabava. E os rapazes fingiram Acreditar também Que o Sol não acabava. E moços e meninas Bailaram no pomar. Era o Sol, era o Sol, E tanto lhes bastava. Tristíssimos os tristes Que por desconfiança Não quiseram bailar!, E àquela mesma hora Choravam no jardim, Choravam no pomar Página 44 de 74

(livro Campo Aberto)


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NÃO SE PERDEU A POESIA

(SG-Estevas)

Não se perdeu a poesia Dos mais secretos dos instantes. (Em volta, indiferença Pelo que eu não dizia…) Não murchou nunca a rosa murcha Daquela hora do jardim. (O Vento, irreverente, Esfarrapou as pétalas…) Murmura ainda o fio de água Do ribeirinho que já foi. (Ovelhinhas e trigos Sucumbiram de sede…) A vela rota do naufrágio Floresce altiva sobre as águas. (Dos marinheiros mortos, Nem um só que não cante…) Em mim se alonga o claro voo De uma gaivota sem destino. (Quando deixei de vê-la Comecei a senti-la…) Numa confiança voluntária, Todas as coisas se condenam À vida que eu levar, À morte que eu tiver, Ludibriadas da fugaz Eternidade que apercebem No instante em que as fecunda Minha lealdade atenta…

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É UMA FLOR… (SG-Estevas) É uma flor e quem não sabe que é uma flor não merece a Vida. Veste de azul mansinho e simples. O seu enfeite é só a cor. Há versos na sua maneira de sorrir, que é a sua maneira de olhar. O seu perfume ninguém o sente, de tão puro: respira-se, existe na maravilha de pensarmos nele. É uma flor. Uma flor que havia de vir. Mas o pobre do Mundo não daria pela sua falta, se Ela não tivesse vindo. É uma flor que não dá por si porque ninguém dá por ela. Uma flor que eu não digo onde está.

O FOLHADO (SG-Estevas) (Lição de botânica) Toda a candura da nossa vida se resumia naquela flor. Teria pétalas? Teria talvez. Mas não havia naquela flor p’ra nossos olhos senão a cor. Vinha do mato Vinha da colhida por mãos de Poeta. Vinha beijada pelos meus lábios de Namorado

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ARTE POÉTICA (SG-Estevas) Quando em meus versos nada houver que lembre um ninho, Então sim! __ Chorem a minha morte E ponham fitas pretas no cabelo As que foram, ao menos no minuto em que me leram, Minhas irmãs ou minhas namoradas…

A POESIA MORREU TODA NOS LAGOS

(SG-Estevas)

A Poesia morreu toda nos lagos, Por isso agora os lagos são calmos e azuis. Os pássaros não cantam já como cantavam. Onde tudo era alegre, é tudo exausto. E os Poetas estiolam de inacção e de angustia, Porque sabem de cor onde a Poesia está Mas também sabem de cor que ela está morta.

POEMA DO CARDO

(SG-Estevas)

Foi o cardo nascer Onde as crianças e os Poetas O não pudessem ver. O cardo é bom: Foi nascer junto ao Mar, Para que nem Poetas nem crianças Se pudessem picar. Mas o Poeta passou, deu pelo cardo. Que lindas, estampadas no azul das ondas, suas flores amarelas! E as crianças passaram, Deram também por elas. Os teus espinhos, cardo, nosso Irmão? --- : Passaram os Poetas e os meninos… Acariciaram tuas flores E não deram notícias dos espinhos…

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Cardo bom, Cardo que tem, decerto, coração, Se os teus espinhos doem É só lá que eles doem , cardo Irmão. Só no teu coraçãoé que eles doem (no dos meninos, não) e no dos Poetas. Olha as mãos dos meninos Como se alegram de flores amarelas! Cardo que te recusas por Amor, Olha um Poeta a rezar, Olha um verso a nascer-lhe Da pura comoção de te encontrar…

ESPELHO

(SG-Estevas)

Folha amarela, esguia. Seca. Quem recorda O tempo em que foi bela? Em que foi verde? E o esforço da raiz? E a seiva jovem Que lhe deu ser e vida e forma e cor? Folha amarela, seca, esguia. Folha assim mesmo. Folha nem mesmo assim Já lembrada amanhã…

O MENINO POETA

(SG-Estevas)

Se estiver no Mar, Chamem-me da Serra. Se estiver na Serra, Chamem-me do Mar. Podem-me chamar De qualquer dos sítios Que em qualquer dos sítios Eu me hei-de encontrar. Página 49 de 74


Brincando com algas, Se estiver na praia, Se estiver no mato Brincando com flores; Cordeirinhos meigos Acariciando, Dando aos peixes migas Se estiver no Mar --- em qualquer dos sítios Me podem achar. Sou pastor na Serra Pescador no Mar. Não tenho saudades, Só tenho alegria: Se estiver na Serra, Porque estou na Serra; Se estiver no Mar, Porque estou no Mar. Não tenho saudades: Só onde estiver --- em qualquer dos sítios--Me apetece estar.

MAGALA

(SG-Estevas)

Longe a terrinha, Longe a namorada. Toques de corneta Por tudo e por nada. Dois tostões no bolso. Berros no ouvido P’ra servir a Pátria Com todo o sentido. Já não há Jaquins. Já não há Manéis. Há o 22 E o 46. Página 50 de 74


Lágrimas às vezes, Como de criança, Quando lá da terra Vem uma lembrança. Mas tudo se esquece Nessa triste viela Onde o amor custa Uma bagatela.

ROMANCINHO

(SG-Estevas)

Vinha a Menina Com uma rosa De encontro ao peito. Vinha cantando, Cheia de sonho. Passaram homens De olhos cruéis. Rosa tão fresca, Quem lhe diria Que passariam Homens soturnos De olhos cruéis? Vai a Menina, Cheia de sonho. Cana a cantiga Que antes cantava. De encontro ao peito, Pétalas soltas E magoadas, Folhas de rosa, Restos de rosa… Deixem-na ir --- Menina ingénua Quase feliz, Rosa esfolhada Pela manhã, Em puro sonho Ressuscitada. Página 51 de 74


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CACHAPIM

(SG-A Minha Arca de Noé)

Cachapim, cachapim, Estás a rir ou choras? “ca-cha-pim ca-cha-pim ca-cha-pim” ( Se não vem a chuva, Que será de nós?). Já os trigos secam, Já as fontes mingam. Que será de nós Se a chuva não vem? Cachapim, cachapim, Verdes são as folhas Em que te debruças. Mas a Primavera Não foi que as pintou: Foi o sonho delas. ---Se não vem a chuva, Que será das folhas? Entre a erva crescem Botõezinhos de oiro. Se tivessem boca, Riam como gente. Como gente dançavam, Se tivessem pernas. Mas a chuva tarda… Pobres botõezinhos Que não sabem nada! Cachapim não chora, Cachapim não ri. Cachapim não percebe Que é de sede pura Que ele vai morrendo, Que ele vai cantando. Canta por cantar… Canta cachapim! ( se não vem a chuva, Que será dos homens? Que será do gado?) Página 53 de 74


Cachapim morreu. Cachapim julgou, Julgou toda a gente, Que foi de cansado. (“ Ca-cha-pim… Ca- cha-pim… Ca-cha-pim…”)

PEDRINHO, 1, 2,3 (SG-A Minha Arca de Noé) (tentativa de poesia infantil) 1 O chapéu do Toneco Tem um buraco aberto. Entra-lhe a chuva Pelo buraco. Tingue lingue lingue Tingue lingue longue. Lá fica o Toneco Todo encharcadinho Como um pintainho Debaixo dum caneco! 2 Dança dentro de um balde, Ao som de um realejo, Uma pulga zarolha Como um caranguejo. Que trangalhadanças Que é o caranguejo! Torto de uma perna, De outra perna coxo. Mas dança e redança Sua contradança. Não se paga nada P’ra ver a festança. Que grande paródia! --- : Geme o realejo, Saltarica a pulga, Coxeia, coxeia Página 54 de 74


Coxeia o caranguejo. 3 Ladra o gato, Mia o cão. Oh que grande Trapalhada: Faz o cão Re nhá nhá nhau, Vai o gato Faz ão ão. Andam os bichos malucos Sem nenhuma afinação. Ladra o gato Ladra o gato Ladra o gato Mia o cão.

DOM CANGURU AEIOU (SG-A Minha Arca de Noé)

Anda o Canguru A aprender a ler. Mas Dom Canguru P’ra nada tem jeito! --- : Com o pé direito Tropeça no A. Dá uma cabeçada Na perna do E. Pica o fura-bolos No bico do I. Entala uma unha Debaixo do O. Atira-se ao poço P’ra dentro do U. Oh que triste fim Tem o Canguru: Só por ser liru Morre analfabeto AEIOU. Página 55 de 74


A FONTE SECA

(SG-A Minha Arca de Noé)

A fonte está sequinha e a gente chora de vê-la… É melhor o rebanho não passar, que trilhe matos e matos à procura de fonte onde beba. É melhor o rebanho não passar, pela fonte sequinha… morra p´raí ao pé de qualquer moita, sem ter encontrado água mas ainda com fé de a encontrar.

MELODIA DA MANHÃ

(SG-A Minha Arca de Noé)

1 Em toda a noite o rouxinol cantou… 2 Ah! Com certeza Que a frescura da Manhã, que me faz doce e menino e não pode vir do Sol, não pode vir de mais nada senão do sono do rouxinol que ao romper da madrugada (à hora a que eu me levanto) adormeceu, embalado no eco do próprio canto! … 3 E se eu fosse o rouxinol e esta frescura que eu sinto Página 56 de 74


na Manhã límpida e fresca, que se me pega e refresca como dois lençóis de linho, fosse eu estar a sonhar aconchegado em meu ninho, que procurei, cansadinho de em toda a noite cantar?

NOSSA IRMÃ CIGARRA

(SG-A Minha Arca de Noé)

Nossa Irmã Cigarra Na tarde quente, as cigarras só falam é do calor, que nada mais lhes importa. Na tarde quente, a mais grulha das cigarras caiu morta. Foi do calor que fazia ou foi a alma, cansada de cantar a tarde inteira?

O ROUXINOL QUANDO CANTA (SG-A Minha Arca de Noé) O rouxinol, quando canta, Parece estar a dizer: “Quem canta, seus males espanta E eu canto para esquecer”. O rouxinol, quando canta, Chego-me ao pé dele e digo: “Ai quem me dera a garganta, Que tu tens, tê-la comigo”. O rouxinol, quando canta, Página 57 de 74


No pino do alecrim, Não tem mais saudade quanta Tenho eu dentro de mim. O rouxinol, quando canta, Se a noite vem a cair, As mais aves alevanta Do ninho, para o ouvir. O rouxinol, quando canta, É p’ra espantar seu mal, Mas o seu mal não se espanta, É como o meu, tal e qual. O rouxinol, quando canta, Canta, às vezes, versos meus Feitos à luz mais que santa Da lua que escala os céus. O rouxinol, quando canta, Lembra Inês, a soluçar — Inês de Castro, essa santa Que morreu por tanto amar. O rouxinol, quando canta, Dá-me gosto de o ouvir, Não só eu, que o Luar se encanta E as estrelas a luzir. O rouxinol, quando canta, Se o oiço fico a cantar. Quem canta seus males espanta E meu mal quero espantar.

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PARAÍSO PERDIDO(SG-A Minha Arca de Noé) Não sabem mais que brincar. Balir uns balidos leves. Sugar as tetas da mãe. Dar marradinhas sem mal, por não terem outro modo de contar que são alegres. E o Tempo finge que dorme, enquanto saltam na relva… Têm presos ao pescoço chocalhos que são brinquedos. Ai que lindos cabritos! Que naturais e perfeitos! Vejam lá de que se serve nossa Madre Natureza p’ra mostrar como era tudo se não fosse a macieira!

POESIA

(SG-A Minha Arca de Noé)

lá fora canta um rouxinol. canta de alegre… como se o sol não pusesse. Como se tantas Das nossas horas Não fossem tristes. Página 59 de 74


O rouxinol Canta lá fora… Rouxinolzinho!, canta. Eu fico ouvindo. E que eu me esqueça de reparar que hoje não canto Nem p’ra chorar…

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SEM TÍTULO (SG- Serra-Mãe) A cada verso nasço… É cada verso o meu primeiro grito À Vida… Depois, Se caminho apalpando e aos tombos, e se, aflito, Não atino e me perco até de mim _é que os raios de Sol cegaram, despiedados, Meus olhos mal abertos, costumados À escuridão do ventre de onde vim.

CÉU

(SG- Serra-Mãe)

Tenho uma sede imensa, Mas não é de água… Mas não é de água… Tenho uma sede imensa de beber Os soluços do Sol quando declina, As carícias azuis do Luar de Agosto, Os tons rosa da Tarde que se fina… É que eu seria Poeta, se os bebesse… Não mais seria o cego de olhos limpos; Esse que viu a água e não a tocou, Pelo estranho pudor da sua boca Que um dia blasfemou. E , se eu pudesse beber Esses longe de mim que vejo e quero, Em espasmos havia de os mudar E , num desejo nunca satisfeito, Iria possuir-te, ó Mar! Havia de cair, num beijo, sobre ti; Despir as minhas vestes de serrano, Tirar de mim aquilo que é humano, E confundir-me em ti. Gritem depois, embora, que eu morri; Alegre o Mundo o alívio do meu peso; --- Que um dia o Sol há-de surgir mais cedo E o bom menino de olhos azuis, Página 62 de 74


De quem sou fraco arremedo, Há-de nascer, ó Mar, da nossa noite de Amor! E tu, Menina que eu chamava, Menina que eu chamava e encontrei Mas abrasada no amor divino --- Tu hás-de ver então que o Céu que idealizas É o olhar azul desse menino.

NEVOEIRO

(SG- Serra-Mãe)

Há nevoeiro nos pinhais… Perfidamente, sorrateiro, Cresce,recresce o nevoeiro… Mas os pinheiros não sabem mais Se aquela branca longa mão fina É p’ra afogá-los, se é uma carícia. Subtil, manhoso, todo malícia, Sobe o nevoeiro… São quase imersos os pinheirais. Mas os pinheiros não sabem mais Se hão-de gritar, se hão-de beijar Aquela fina branca mão longa Que os estrangula…

ASTRONOMIA (SG- Serra-Mãe) Contei os Astros a dedo… Agora, que estou no fim, Tenho medo De ter errado na conta. … De enganar-me em 1, por ter Contado também a mim.

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VERSOS QUASE TRISTES (SG- Serra-Mãe) Trago no sangue o mistério Daquele resto de estrada Que não andei… E era talvez ali Que eu ia ser feliz; Ali Que viriam as Fadas pra contar-me Os contos lindos de Princesas E de Palácios E de Florestas Que ficaram por contar; Ali que havia de abrir-se O tal jardim Com flores que nunca morrem Ou , se morrem, há-de ser Na pujança da frescura, Por medo de envelhecer… Mas não passei além daquela curva… O meu alento Já dobrou o joelho e desistiu. E eu sei tão bem que há Glória que me chama E que tudo que digo aqui, ou faço, É só arremedar, adivinhar, O que, pra lá da curva que não passo, Havia de fazer ou de dizer! E eu sei tão bem Que sem tomar nas mãos a Glória apetecida Me não contento!... --- Porque é que tu és só pressentimento, Minha vida?

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PEQUENO POEMA (SG- Serra-Mãe) Quando eu nasci, Ficou tudo como estava. Nem homens cortaram veias, Nem o Sol escureceu, Nem houve Estrelas a mais… Somente, Esquecida das dores A minha Mãe sorriu e agradeceu. Quando eu nasci, Não houve nada de novo Senão eu. As nuvens não se espantaram, Não enlouqueceu ninguém… Pra que o dia fosse enorme, Bastava Toda a ternura que olhava Nos olhos de minha Mãe…

EXCESSO (SG- Serra-Mãe) Agora, que estou De Poesia todo embriagado, Agora, que todo doido e em convulsões Como se envenenado, Não quero mais que o teu sono… Compreendes ,Amor?... Quero deitar-me a teu lado, E que o meu corpo fique ali como um penedo, E que a minh’alma se me ausente e, unida à tua, Não sendo já senão a tua, Durma teu sono de pomba, O teu sono de pomba,cor-de-rosa, E não os meus pesadelos… Página 65 de 74


Compreendes, Amor?... Dormir, não meus, mas teus soninhos mansos Em que há meiguices de fadas E sorrisos de criança Que são como se Deus nos perdoasse… Porque eu não posso, Amor, Suportar O veneno que Deus (ou o Diabo) Misturou no meu vinho… Que bom Que me seria agora ser Não eu, o Lua, o pelo Raio atravessado, Mas tu, ou qualquer outra virgem no seu quarto Sonhando com o Príncipe Encantado!...

POESIA (SG- Serra-Mãe) Ai deixa, deixa lá que a Poesia No perfume das flores, no quebrar Das ondas pela praia, Na alegria Das crianças que riem sem porquê ---deixa-a lá que se exprima, a Poesia. Fica sentado aí aonde estás, Poeta, E não mexas os lábios nem os braços: Deixa-a viver em si; Não tentes segurá-la nos teus braços, Não pretendas vesti-la com palavras… Se a queres ter, Se a queres sempre ver pairando à flor das coisas, fica aí No teu cantinho, e nem respires, Poeta, e não te bulas, Pra que ela não dê por ti. Não a faças fugir, toda assustada Com a tua presença… Deixa-a, nua, pairando à flor das coisas, Que ela não sabe que a viste, Nem sabe que está nua, Nem sequer sabe que existe… Página 66 de 74


ALEGRIA

(SG- Serra-Mãe)

Nas capelas todas, Os sinos todos Toquem… Que digam minha Alegria. ( Eu não preciso dizê-la: Ai! A mim , sinos, Basta-me vivê-la.) Os sinos todos Toquem… E rosas silvestres nasçam Onde ninguém as sonhasse… E o rouxinol se esqueça, Cantando minha Alegria, Do que o levou a cantar… E os sinos todos Toquem… E que eu por fim, Ao som dos sinos, Cante, Mas não percebo q1ue o faço Mandando Por minha clara Alegria. Que julgue que vou cantando As rosas bravas nascidas E os rouxinóis enlevados E os sinos tocando…

CLARIDADE (SG- Serra-Mãe) De minha vida não sei Senão que sou feliz. Lá o que fui ou fiz Antes de ser o que sou, Ai! , Tudo me passou: Só sei que sou feliz. E que me importa a cor Das águas que passaram? Estas águas me bastam Página 67 de 74


Que vão correndo agora. Fosse o que fosse, a minha Passada vida incerta ( Feliz ou desgraçada), Foi uma porta aberta Pra esta vida clara. Por isso eu a bendigo, A minha vida ida. Talvez as rosas nela Tivessem bem mais cor, O Sol mais Luz e Amor, E música mais bela A viração, então; Mais verde fosse o Mar… --- Mas que vale o que foi, Se , quanto vejo ou provo, Tem tudo um gosto novo?... Se nada cansa ou dói?... Se as rosas, para mim, Nasceram mesmo agora, E as aves e o Mar?... Se o Sol aconteceu Ao mesmo tempo que eu Olhei à minha roda E vi o meu presente A ser-me a vida toda?...

VERSOS AO MAR (SG- Serra-Mãe) Ai !, o berço da tua voz,... e esse jeito de mão que tens nas ondas, Mar! Quando eu cair exausto sobre as conchas da praia e fique ali doente e sem ninguém, hás-de ser tu quem me trate, quero que sejas tu a minha Mãe. Há-de embalar-me a tua voz de berço, pra que a febre me deixe sossegar, e hás-de passar, ó Mar! pelo meu corpo em chaga, as tuas mãos piedosas comovidas, Página 68 de 74


pra que sintas por mim as minhas dores e eu sinta só o bálsamo nas feridas. Como se fosses tu a minha Mãe… Como se fosses tu a minha Noiva… E hás-de contar-me histórias velhas de Marinheiros… Histórias de Sereias e de Luas que se perderam por ti… E se a Morte vier há-de quedar, toda encantada, a ouvir-te, e, sem ânimo já me há-de quedar, Toda encantada, a ouvir-te, E, sem ânimo já de me levar, sorrindo, voltará por seu caminho (não na sentimos vir, nem ir, tão de mansinho se passou tudo, Mar!), voltará de mansinho, pé ante pé, pra não nos perturbar, mas saudosa da tua voz de berço…

HARPA

(SG- Serra-Mãe)

Olha, Senhor!, o indigno cantor que Tu fadaste... e se não pode erguer à sua própria altura!... - Virgem das minhas mãos, a Harpa acende novos brilhos no Sol, traduz em cor a saudade dos sons que não desprende... Tu a fizeste, Deus!, para os meus dedos; a glória do Teu gesto criador Tu a quiseste partilhar na glória quase igual de o entender. E foi com Teu amor que retesaste as cordas, com Teu amor as afinaste e me chamaste à tarefa sublime de tangê-las. Página 69 de 74


E eu sinto o Frémito, Senhor! Sinto o sopro que Tu me inoculaste ao dar-me a Tua bênção. Dentro de mim é Som: o eco longo de uma nota sem fim e sem começo. Mas só cá dentro o Frémito ressoa... Que não consegue minha mão, que o lodo fez e o lodo maculou, passar à Harpa a Grande Vibração. - Vem lavar-me, Senhor!, no azul do Mar. Filtra a minha impureza na limpidez do Teu olhar, a luz clara que entornas pelos montes da minha Serra verde. Deixa outro cantar meu próprio Canto, e seja eu somente, assim purificado e liberto do corpo, enfim, mais uma corda na Harpa que me tinhas destinado. Ai o cantor indigno que fadaste!... Ai que a Grande Vibração, se o não redimes, estéril morrerá... - Que eu seja apenas Som que um outro cante e, na renúncia de mim, igual a mim um dia me alevante!...

CREPUSCULAR

(SG- Serra-Mãe)

Já não são horas, meu Amor... A hora... passou em que era grato a gente amar. É um querer de Irmão este de agora. Nem a Tarde é já o cravo rubro de inda há pouco: é um murmúrio quase... um lírio inexistente dulcificando as coisas, perfumando-as de carinhos... Página 70 de 74


Não é a hora, Amor. Agora deixa sorrir em nós a peregrina ternura da Paisagem. Não desprendas as mãos das minhas... Abandona-as, mas castas como berços... E beija-me na testa... Quando a Noite mansa vier vindo, Amor, beija de manso a minha testa... De manso, meu Amor... Como se o lírio da Tarde se fechasse

ORAÇÃO DA TARDE

(SG- Serra-Mãe)

Ao crepúsculo, a Serra é catedral onde o Órgão-Silêncio salmodia.... A própria Luz ergueu « Ave-Maria» e o Mar tomou as cores de um vitral. To sente o Senhor e se extasia ... O Sol queimou os matos pelo Vale e desprendeu incenso, Espiritual é mãos-postas a rude penedia. E eu também quero ser da Oração ... - Com folhados na alma, pus a mão na minha harpa e a música ascendeu Ai a minha alegria-de-menino, quando, por só, então, se ouvir no Céu, ajoelhado, deixei de ouvir meu hino ! ...

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BIBLIOGRAFIA Foto da Capa: Professor João Nunes Obras completas de Sebastião da Gama-Coleção da Biblioteca. Imagens: Disponíveis na Internet: https://www.google.pt/search?q=sebasti%C3%A3o+da+gama&source=lnms&tbm=is ch&sa=X&ved=0ahUKEwi43diRhpvgAhU4AGMBHQU6C3UQ_AUIDigB&biw=1904&bih= 877- Acesso em janeiro 2019

As professoras Bibliotecárias Helena Ferreira Mª João Trindade Teresa Fragoso Colaboração preciosa da A.O. Cristina Leal 31 de janeiro2019

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