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OM SHANTI
* MATÉRIA DE CAPA * por Patrícia Schmidt Carvalho
PAZ
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NA LINGUAGEM DO SILÊNCIO
Ao contrário do que muitos pensam, o silêncio fala. É uma linguagem poderosa, repleta de energia e vibração. A pausa também comunica. Os olhos se expressam em silêncio e muitas vezes, dizem coisas que as palavras não alcançam. A ausência de comunicação dá recados que para um bom entendedor são suficientes para entender a mensagem. Silêncio é, porque não dizer, a linguagem universal da alma.
De acordo com a perspectiva espiritual, que nos abre novas dimensões da realidade, a origem da alma é silêncio. Uma dimensão além desse mundo físico, do mundo das formas, das palavras, dos conceitos. Um mundo de silêncio, onde a alma habita em seu estado de plenitude absoluta. Como Deus. Uma pequena semente, que contém em si a gravação de toda a existência, mas de forma latente. E neste estado de preenchimento absoluto, a única experiência que poderíamos descrever é a experiência de paz total. Um estado de quie-
* MATÉRIA DE CAPA * por Patrícia Schmidt Carvalho
tude, além de qualquer expressão. A alma simplesmente é. E esta experiência do “lar” deixa gravada no ser, o registro desse estado de paz, que buscamos pela vida toda. Quando cultivamos momentos de silêncio durante o dia e experimentamos essa doce paz interior, somos capazes de encontrar a fórmula interna correta para enfrentarmos as diversas situações do dia a dia, e assim permanecemos crescendo, alargando nossa capacidade humana. Pois cada dia nos traz novos desafios, que servem tanto para nos mobilizar a encontrarmos nosso eu melhor, como para nos afundar num turbilhão de questionamentos internos e dúvidas sobre o nosso próprio valor. É tudo uma questão de perspectiva. E a paz definitivamente é o ingrediente que nos permite surfarmos por estas ondas, e alcançarmos esse estado de fluxo, onde a mágica acontece, o impossível torna-se possível e o ser é capaz de alcançar alta performance em tudo o que se predispõe a vivenciar.
Também é a paz que nos capacita a alcançarmos esse estado de quietude interna que nos permite conectarmos com o divino adormecido dentro de nós. Como um arqueólogo que vasculha pacientemente em busca de resquícios de civilizações antigas, a paz nos capacita a fazermos essa arqueologia interior, buscando resquícios de nossa própria divinidade, de
* MATÉRIA DE CAPA * por Patrícia Schmidt Carvalho
uma época em que nossa expressão era à imagem e semelhança de Deus. Desta época restam apenas memórias internas e memoriais externos, na forma de imagens, rituais, devoção. Mas, o ser divino que um dia fomos continua habitando a nossa essência, esperando pelo momento em que seremos capazes de revelá-lo uma vez mais. Não é à toa que um dos mantras mais conhecidos na Índia é o mantra HUM SO, SO HUM – O que eu fui, voltarei a ser.
Mas é também na experiência da paz que somos capazes de perceber e nos conectarmos com Aquele Ser que é conhecido como o Oceano de Paz, o Supremo, completamente estável, imóvel no seu estado. Deus. Porque a paz torna a percepção do ser mais sutil. É na calmaria que podemos escutar sons que no meio do ruído passam imperceptíveis. É na calma que podemos perceber mínimos movimentos. Os sentidos silenciam na paz e somos capazes de perceber uma realidade supra sensorial, que está lá, acontecendo o tempo todo. Apesar de Deus não ser Onipresente, no sentido de que está em mim, ou em você, Ele está disponível para fazer parte da nossa vida a todo do momento. Basta um instante de paz e a comunicação, comunhão, acontece.
E neste momento, nos tornamos nós também, pequenos oceanos de paz, agentes de paz, num mundo em que as diferenças se exacerbam e tornam o mundo
que deveria ser complexo e variado, complicado e desafiador. A complementariedade dá lugar à competição, o amor dá lugar ao medo, a sincronicidade dá lugar à labuta, a unidade dá lugar à polarização, a harmonia às disputas insanas por cargos e posições temporárias, que escondem a verdade. O inverno da humanidade aparentemente parece árido, sem cor, frio, vazio. Mais do que nunca, o mundo clama por agentes de paz, pessoas que saibam ver que depois do inverno sempre virá a primavera, e uma vez mais, as flores vão desabrochar. Basta não perdermos a esperança e a disposição para essa aventura maravilhosa que é a vida humana, com todas as suas nuances, com todas as suas estações. *
Patrícia Schmidt Carvalho é cirurgiãdentista e pratica meditação Raja Yoga há 32 anos.