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importante. Mas um medo que atrai, que é capaz de conviver lado a lado com alguém que pode lhe matar por simples desejo ou por uma informação desencontrada. Um sentimento, que ao ser racionalizado pelo sujeito, poderia ser invertido, pois aquele que o apavora também pode ter medo de perder seus serviços. O medo não pode ser apenas repulsivo, mas construtor de redes interessadas. De tal modo que se a reciprocidade não for rompida, o medo pode ser convertido em consideração e respeito, para enfim gozar da proteção de Lampião, desfrutando com ele e compartilhando do seu poder diante dos adversários. Após esse esforço de elaborar respostas para as perguntas lançadas no início do capítulo, penso que já posso partir para outras questões: como Lampião fez e desfez redes na Paraíba, no Cariri cearense e nos sertões de Pernambuco? Quais os envolvidos? Quais os interesses? Antes de começar, deixo claro que não tenho pretensões de englobar todas as ações do cangaceiro e seus protetores, mas, apenas, os fatos mais destacados e disponibilizados pelas fontes.
3.1.1 Fazendo e desfazendo redes na Paraíba
Nos capítulos passados foi destacado a importância de Sinhô Pereira frente a Lampião, no que diz respeito a introdução deste dentro de uma rede de chefes influentes e que estavam ligados ao mestre tecelão. Naquele momento, o aprendiz de cangaceiro começava a se familiarizar com essas redes:
Não foi só experiência no campo de batalha que Lampião aprendeu com Sebastião Pereira. Aprendeu também como se comporta um bandido profissional, principalmente em seu relacionamento com as comunidades maiores. Foi apresentado a todos os parentes, amigos e protetores de Pereira, alguns dos quais lhe prestariam muitos favores no futuro. Deve-se levar em conta que a família de Sebastião Pereira era uma das que tinha mais prestígio nos sertões de Pernambuco; valia a pena conhecê-la, e também, seus amigos. É bem provável que o imaturo bandido tenha também aprendido que as autoridades, incluindo a polícia, nem sempre devem ser consideradas como inimigos implacáveis. Podiam, também, em certas ocasiões, ser subornadas (CHANDLER, 1981, p. 51).
Na Paraíba, sob o comando de Sinhô Pereira, Lampião conheceu o chefe político Jaime Ramalho, em julho de 1921. Mas foi com a família Pereira Diniz que as relações foram mais estreitas e levadas adiante mesmo após Sinhô Pereira ter deixado o cangaço. Ao acompanhar as notícias jornalísticas sobre Lampião durante o ano de 1923, é possível percebê-lo transitando sempre pela divisa entre Pernambuco e Paraíba. Ou melhor, atuando no primeiro estado e