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do novo protetor em relação às áreas atacadas no vizinho estado da Paraíba. E é justamente sobre as redes no Ceará que vou me deter a partir de agora.
3.1.2 Do Ministro da Justiça para Padim Ciço ver: tecendo redes e zonas no Cariri cearense
As primeiras notícias da presença do bandoleiro em solo cearense datam de fins de março de 1925, poucos dias depois do famoso confronto com as volantes de Pernambuco, Alagoas e Paraíba, em fevereiro do mesmo ano, na fazenda Serrote Preto, localizada na cidade de Paulo Afonso, atual Mata Grande, Alagoas: “Chegam alarmantes notícias do bando de Lampeão no estado do Ceará” (JORNAL DO RECIFE, 29 de março de 1925). O impacto dos acontecimentos em Serrote Preto foi grande, pois no evento tombaram, aproximadamente, dez soldados mortos, e outros feridos. Por parte dos cangaceiros, os documentos e a literatura indicam que o próprio Lampião saiu ferido. 119 O deslocamento para o Cariri cearense possibilitou a vivência de um período de calma e a necessária rearticulação de suas redes de proteção, que o cangaceiro precisava para superar mais um momento conturbado. Essa área do estado do Ceará se notabilizava pela proteção de cangaceiros desde o advento deste fenômeno, na segunda metade do século XIX. A maior evidência disso pode ser encontrada no documento que reuniu vários coronéis e chefes políticos da região, na então vila de Juazeiro do Padre Cícero (atual Juazeiro do Norte), no ano de 1911, para um pacto, pelo qual o primeiro artigo decidia: “Nenhum chefe protegerá criminosos do seu município nem dará apoio nem guarida aos dos municípios vizinhos, devendo pelo contrário ajudar a captura destes, de acordo com a moral e o direito”.120 Um dos assinantes da ata foi José Inácio de Sousa, o Zé Inácio do Barro, já citado aqui como um dos maiores protetores e aliados de Sinhô Pereira e classificado pelo próprio Lampião como o maior protetor de cangaceiros que conhecera e, na presença do qual sentia-se feliz, dada a validade e seriedade dos envolvidos naquele acordo. Desde as andanças sob a chefia de Sinhô Pereira que Lampião estabeleceu contatos no Cariri cearense, quando ali usavam a proteção de seus aliados para se esconder e se municiar. Todavia, foi preciso, diante da desterritorialização zonal sofrida em solo paraibano, expandir 119
Em matéria publicada pelo jornal Diário da Noite, de Recife, no sábado do dia 28 de fevereiro de 1925, aponta os seguintes mortos e feridos: da força paraibana, o tenente Oliveira, os soldados Francisco de Oliveira, Ezequiel Custódio, Guilherme de Mello, Artur Dantas e Tito Virgulino Gouvea, ficando feridos o cabo Cipriano Melquiades e Manoel Alves, Ananias Caldeira, Manoel Vicente de Andrade, Paulino Neto, Manoel Severiano, Augusto Lima e Luiz Mello. Consta que a força pernambucana sofreu quatro baixas, ficando três feridos. Por parte dos cangaceiros foram quatro mortos, sendo feridos Lampião e outros. 120 Disponível nos anexos deste trabalho.