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Certamente, o mesmo não ocorreria com os outros protetores citados, e, se ocorresse, as ameaças partiriam dos chefes locais para os membros das forças volantes. Fato é que mais uma rede estava perdida, o banco de madeira da fazenda Piçarra não estava mais disponível para Lampião. Este último, até aquela data, já vivenciara diversas rupturas, mas nada podia fazer a não ser acreditar e realimentar até o fim suas redes, pois nelas encontrava tanto a sobrevivência como a logística de sua máquina de guerra. Além do mais, creio que assim como o movimento de tessitura das redes, o seu contrário também foi importante para os processos de desreterritorializações do personagem objeto de estudo deste trabalho. Apesar dos inúmeros riscos de morte, o desfazer do nó através de linhas de fuga foi sempre acompanhado do esforço de se reterritorializar em outras bases.
3.1.3 Inventando um rei: a repressão em sua zona de atuação em Pernambuco e a modificação espacial emergencial “A família Pereira, de Pajeú, é que tem me protegido, mais ou menos”. Este é um trecho da resposta de Lampião ao entrevistador Octacílio Macêdo, quando perguntado sobre seus protetores. Relação que remonta ainda a parceria com Sinhô Pereira, que após largar o cangaço, deixava muitos familiares influentes na zona do Pajeú pernambucano. Talvez o mais importante deles tenha sido Manuel Pereira Lins, o Né da Carnaúba, que havia ocupado o cargo no executivo do município de São José do Belmonte, Pernambuco, nos anos de 1902 a 1904 e, depois, exerceria o posto de vereador em Vila Bela por três legislaturas, de 1922 a 1928. A maior evidência da continuidade do seu apoio ao cangaceiro pode ser encontrada no episódio da carta que convidava o quadrilheiro para se apresentar em Juazeiro:
Lampião ainda teve dúvidas da autenticidade e idoneidade da convocação. Na casa do ‘coronel’ Manuel Pereira Lins (o Né da Carnaúba), chegou a dizer que aquilo era uma armadilha, uma traição, com o objetivo de capturá-lo. Virgulino certamente estava desconfiado. Mas Manuel, que era tio e padrinho de Sinhô Pereira, com toda sua autoridade, apontou para a assinatura do Padre Cícero, que figurava no documento (PERICÁS, 2010, p. 160).
Ao mapear as notícias jornalísticas foi possível perceber que Lampião é constantemente referenciado escondido no município de Vila Bela, Pernambuco, em meados de 1926. Provavelmente sob a proteção de algum membro da família Pereira, tendo em vista que em seguida o bandoleiro pratica assalto na Serra Vermelha, cujo alvo eram seus antigos desafetos,