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CAPÍTULO 1 POR UMA HISTORIOGRAFIA DOS ESPAÇOS NO CANGAÇO LAMPIÔNICO
A partir da história dos espaços busco problematizar a associação naturalizada cangaço/sertão, bem como o binarismo arcaico/moderno, pensando como foram construídos historicamente através da escrita de intelectuais que se interessaram pelo tema ao longo dos anos. Promovo este movimento narrativo para apontar outras possibilidades de leitura que visa desterritorializar interpretações naturalizadas e binárias sobre o cangaço, almejando não só me inserir no debate já existente, mas reterritorializar o tema em outras perspectivas. No primeiro subtítulo do capítulo apresento uma breve definição sobre o cangaço e a emersão do conceito para, posteriormente, refletir sobre a relação entre cangaço/sertão e arcaico/moderno. Penso que se o cangaço esteve, ao longo dos anos, atrelado ao espaço do antimoderno e de uma temporalidade que remete a passados mais remotos foi porque significados foram produzidos nessa direção pela historiografia. Sendo assim, lanço mão da análise historiográfica no segundo subtítulo, tendo como fonte os seguintes escritos: Heróis e bandidos: os cangaceiros de Nordeste (1917) 23 , de Gustavo Barroso, e Cangaceiros e Fanáticos (1963), de Rui Facó. Os dois autores foram escolhidos porque entendo que o livro de Gustavo Barroso emprega uma forma explicativa para o cangaço a partir do determinismo geográfico, ou seja, o solo – sinônimo de espaço nesta concepção – aparece como fator determinante para as causas e efeitos do cangaceirismo. A escrita de Gustavo Barroso é atravessada pelas teorias deterministas que marcaram sua época, e as que mais me interessam são as que dizem respeito ao espaço. Já Rui Facó foi selecionado pois compreendo que este autor marca uma descontinuidade na escrita sobre o cangaço, ou seja, um momento de corte com as teorias do determinismo geográfico até então dominantes. No último subtítulo, trago à tona uma discussão de aproximações e distanciamentos com Luiz Jorge Villela, no trabalho acadêmico O cangaço sob a chefia de Lampião, ou como produzir território em movimento (1995), uma vez que este autor foi o primeiro a direcionar reflexões sobre o cangaço lampiônico à luz da problemática do espaço/território.
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Não tive acesso a edição de 1917, com isso, utilizei a segunda edição, publicada em 2012, pela Editora ABC.