VIRGULINO CARTOGRAFADO: RELAÇÕES DE PODER E TERRITORIALIZAÇÕES DO CANGACEIRO LAMPIÃO (1920-1928)

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depois de São Raimundo Nonato, nas proximidades de um lugar chamado Caracol, os Pereiras estavam descansando em uma casa quando foram atacados por uma força da polícia piauiense, comandada pelo tenente Zeca Rubens, que ao receber informação das autoridades pernambucanas partiram em busca dos cangaceiros. Na tentativa de escapar, os dois primos perderam o contato, Luís Padre e dois companheiros fugiram e chegaram até o estado de Goiás. Já Sinhô Pereira e outros quatro voltaram para o Pajeú. Resultado, Sinhô Pereira atuou por mais dois anos como cangaceiro naquela região, continuando a luta contra os Carvalhos e servindo aos interesses do Major Zé Inácio. Em junho de 1921, Sinhô Pereira recebia em seu bando os irmãos Ferreiras, um deles era Virgolino Ferreira, o lendário Lampião (LIMA IRMÃO, 2015). As questões de família, e as relações de poder nelas implicadas, produziram os cangaceiros mais conhecidos das primeiras três décadas do século passado. Nenhum deles era pobre, não entraram no cangaço pelos efeitos das calamidades provocadas pela seca e pelas crises econômicas. É possível que esses fatores possam ter contribuído para que Antônio Silvino, Sinhô Pereira e Lampião arregimentassem mais homens para seus bandos. Mas isso fica apenas no universo da suposição, os dados disponíveis sobre os fatos apontam para as disputas entre famílias detentoras da propriedade da terra e de recursos em busca do controle político, econômico e espacial de dados territórios.74 E foi por meio dos conflitos gerados pela espacialização das relações de poder entre as famílias Nogueira Alves de Barros e Ferreira que surgiu o cangaceiro mais conhecido de todos os tempos.

2.2 Espacialização do conflito entre Ferreiras e Nogueiras Alves de Barros

Virgulino Ferreira da Silva75 era o terceiro dos nove filhos76 do casal José Ferreira dos Santos e Maria Lopes. Nasceu no sítio Passagem das Pedras, na beira do Riacho São Domingos,

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Antônio Silvino, de reconhecida família de fazendeiros que chegaram a possuir vários escravos. Tinha vínculos estreitos com os Cavalcanti Ayres, da Serra do Texeira, na Paraíba. Foi amigo íntimo de vários chefes políticos, senhores de engenho, coronéis e autoridades judiciais. Sinhô Pereira, de origem nobre, era neto do Barão do Pajeú. Chico Pereira, famoso cangaceiro paraibano, era filho de uma próspera família da região de Sousa, seu pai era coronel e delegado e tinha a patente de coronel da guarda nacional. Todos esses líderes cangaceiros, portanto, vinham de famílias tradicionais. Até mesmo Lampião, ainda que certamente tivesse uma origem social mais modesta, também apresentava um nível social mais alto que o da maioria dos sertanejos (PERICÁS, 2010, p. 33). 75 Na ocasião da entrevista que concedeu ao médico Octacílio Macêdo, em 1926, Lampião teria assinado como Virgulino Ferreira da Silva, por esse motivo, vou chamá-lo assim ao longo do trabalho. Porém, tanto na certidão de batismo quanto no registro civil aparece Virgolino e não Virgulino. Virgolino com “o” e sem nenhum sobrenome (LIMA IRMÃO, 2015, p. 66). 76 A relação dos filhos na sequência: Antônio Ferreira dos Santos, nascido em 1895; Livino Ferreira da Silva, nascido em 1896; Virgolino Ferreira da Silva, nascido em 1898; Virtuosa Ferreira, data de nascimento não conhecida; João Ferreira dos Santos, nascido em 1902; Angélica Ferreira, data de nascimento não conhecida;


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