AtravĂŠs do PavilhĂŁo Ciccillo Matarazzo de Oscar Neimeyer 1
Ano Disciplina Professores
2017 Arquitetura do Brasil II Abílio Guerra Felipe Contier
Turma
A
Grupo
Aline Trevisan André Mancinelli Rosas Cauê Abbud Monteir Giulia Fernanda Affonso Silva
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INTRODUÇÃO O presente trabalho faz um panorama geral do arquiteto Oscar Niemeyer e sua obra: O Pavilhão Ciccillo matarazzo, no parque do Ibirapuera. Abordam‐se questões tanto como factuais da obra (materialidade, estrutura, implantação) quanto conceituais (conceitos, linguagem, historicidade), relacionando o projeto com o arquiteto. As análises foram divididas em “análises em grupo” e “análises individuais”, sendo estas ultimas de interpretação da obra e do contexto livre por cada integrante. Este conjunto de análises visa evidenciar a importância de se traduzir contextos históricos através da arquitetura e do processo de projeto de arquitetos, sendo Niemeyer um importante propagador de uma linguagem e de uma ideologia política que define o Brasil do século XX.
4 Foto Pavilhão Cicíllo Matarazzo ‐ Acervo do Grupo, 2017.
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Foto Pavilhão Cicíllo Matarazzo ‐ Acervo do Grupo, 2017.
SUMÁRIO o Introdução, 3. o Sobre Oscar Niemeyer, 7. o O Pavilhão Cecílio Matarazzo, 12. o Contexto, 13.. o Estrutura, 18. o Proporcionalidade, 22. o Comparações, 27.
o Análises individuais. o Niemeyer e a influência modernista, 33. o Expressão e originalidade de Niemeyer, 36. o A história contada através do processo de projeto, 39. o A conveniencia do modernismo, 43.
o Conclusão o Bibliografia o Autores
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Sobre Oscar Neimeyer 7
Foto Oscar Niemeyer. Fonte: Niemeyer.org.
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Oscar Niemeyer Soares Filho (1907 – 2012), arquiteto nascido no Rio de Janeiro (Brasil). Matriculou‐se na Escola Nacional de Belas Artes de Rio de Janeiro em 1929, onde cursou o curso de Arquitetura e formou‐se como engenheiro arquiteto em 1934. Sua carreira profissional, iniciou‐se em 1932 como estagiário no escritório do arquiteto Lucio Costa (1902 ‐ 1998). Onde teve a oportunidade de trabalhar com o arquiteto Le Corbusier (1887 – 1965) para o prédio do Ministério da Educação e Saúde Pública, Rio de Janeiro. Oscar Niemeyer, começou a ganhar reconhecimento a partir de 1936 na arquitetura moderna. Em 1940, convidado por Juscelino Kubitschek (1902 a 1976), projetou o Conjunto da Pampulha em Belo Horizonte, projeto que teve participação do paisagista Burle Marx (1909 – 1994). Em 1951, projeta o Parque Ibirapuera, São Paulo, a convite de Ciccilio Matarazzo onde além do parque projetou o Pavilhão dos Estados, Pavilhão das Industrias, Pavilhão de Artes (Oca) a Marquise e o Auditório, formando um grande complexo e marco da arquitetura moderna brasileira. Convidado por JK, novamente, projeta a capital Brasília através do concurso de Plano Piloto para Brasília em 1956.
Além do Palácio da Alvorada, projetou diversas obras para a capital como a Catedral de Brasília, o Congresso Nacional, Palácio do Itamaraty e Palácio do Planalto. Assim que a cidade foi inaugurada, torna‐se coordenador da Escola de Arquitetura da UnB. Recebeu em 1963, o Prêmio Lênin da Paz e foi nomeado membro honorário do American Institute of Architects , nos Estados Unidos. Em 1965, em virtude do golpe militar, deixa o cargo de coordenador da UnB e viaja em exílio para França, onde abre seu escritório e projeta diversas obras como o Centro Cultural de Le Havre. Onde ganhou ainda mais destaque internacional. Fim da ditadura do Brasil, volta ao país e projeta em 1984 o Sambódromo do Rio de Janeiro. Em 1988, recebe o Prêmio Pritzker de Arquitetura junto a outro arquiteto americano. Niemeyer, seguiu no Brasil durante as próximas décadas, projetando diversos marcos importantes para a arquitetura brasileira como o Museu de Arte Contemporânea de Niterói em 1996. Seu último projeto foi realizado em 2010, em Minas Gerais, a Cidade Administrativa, vindo a falecer em 2012, sendo até hoje um dos arquitetos mais renomados da arquitetura brasileira.
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Foto Edifício Gustavo Capanema. Fonte: Archdaily
1929
Inicio de sua carreira profissional no escritório do arquiteto Lucio Costa
Matricula‐se na Escola Nacional Belas Artes, RJ.
1932
1934 Forma‐se engenheiro‐ arquiteto
1º Projeto Ministério da Educação e Saude (RJ) Edifício Gustavo Capanema
1936
1938 Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque (EUA)
Conjunto Arquitetônico da Pampulha (MG)
1944
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Foto Croqui Niemeyer, Marquise. Fonte: Virtruvis
1951 Projeto Marquise do Parque Ibirapuera, SP.
Foto Edifício Copan. Fonte: ConpanSp.
Edifício Copan (SP) Construído de 1951 ‐ 1966
1956 Plano Piloto de Brasília a convite de Juscelino Kubistchek
1996 1988 Premiado pelo Prêmio Pritzker da Arquitetura
Museu de Arte Contemporânea de Niterói (RJ)
Cidade Administrativa (MG) Ultimo projeto
2010
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O Pavilhão Ciccillo Matarazzo 12
Contexto 13
14 Foto Pavilhão Cicíllo Matarazzo ‐ Acervo do Grupo, 2017.
Entre 1930 e 1940,uma corrente racionalista atingiu o Brasil. Existem contradições a respeito de como isso confrontou com a arquitetura já presente, se foi uma ruptura ou uma continuidade desta. Suas consequências, porém são claras e até hoje percebidas. A expressão da modernidade é definida pelas formas despojadas, a funcionalidade e a estrutura arrojada, tudo isso contribuiu para o desenvolvimento técnico da arquitetura brasileira. A simplificação quando feita em grande escala é perigosa, pois tendem a deixar qualquer assunto superficial. Mas também são interpretadas como forma de frisar as características que mais interessam ao espectador e ao objeto de estudo para melhor leitura e compreensão da obra. Essa clareza é percebida em arquitetos modernos como Mies Van der Rohe, Le Corbusier, Gropius, e no caso da obra em estudo, Osacar Niemeyer. O Pavilhão Ciccillo Matarazzo, antigo Palácio das Indústrias, faz parte do conjunto original do Parque Ibirapuera. Além dele, existe também o Museu Afro Brasil, o Palácio dos Estados, Museu de Arte contemporânea, e a Oca. Também conhecido como Pavilhão da Bienal, projeto pelo Arquiteto Oscar Niemeyer, e inaugurado em 1957, é um verdadeiro ícone da arquitetura modernista brasileira.
Desde então, é palco de grandes exposições artísticas e criativas, além de receber uma das mais importantes exposições de arte do mundo: a Bienal de São Paulo. Atualmente é tombado pelo Patrimônio Histórico. O volume é um paralelepípedo medindo 250m por 50m e abriga 3 andares, sem contar um subsolo. Seus espaços são compostos por um térreo, com um pé direito especialmente valorizado, e fechado por painéis de vidro. O mezanino participa da composição abrigando a cozinha e o bar, e proporcionando uma visão diferenciada do pavimento térreo, através da sinuosidade proposta pelo arquiteto. Os próximos pavimentos são modulares e são espaços para exposição e permanência dos participantes de qualquer evento. Os desenhos dos pavimentos são livres de divisões internas, para maior possibilidade de montagens de ambientes distintos e simultâneos. As rampas de coluna central também marcam os pavimentos pela leveza de suas formas. O Pavilhão também conta com um auditórios com um foyer, uma parte reservada com circulação exclusiva, e localizado no subsolo. O edifício possui 25.000 m² divididos em três pavimentos, sem contar a área do auditório. 15
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Arquitetos: Oscar Niemeyer
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Construção: 1951 a 1954
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Ano: 1954 (inauguração)
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Área construída: 40000 m²
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Endereço: Parque do Ibirapuera São Paulo Brasil, São Paulo, Brasil.
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Status: Construído
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Materialidade: Concreto e Vidro
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Localização: Parque do Ibirapuera, São Paulo, Brasil
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Implantação no terreno: Isolado
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Última Reforma: 2012
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17 Foto Pavilhão Cicíllo Matarazzo ‐ Acervo do Grupo, 2017.
Estrutura 18
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Proporcionalidade 22
Foto Pavilhão Cicíllo Matarazzo ‐ Acervo Bienal, 2017.
Foto Pavilhão Cicíllo Matarazzo ‐ Acervo do Grupo, 2017.
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O Pavilhão Cicillo Matarazzo ao observar de vista, pode‐se parecer em primeira instancia uma grande caixa de vidro, coberto por dezenas de pilotis perfeitamente alinhados. Ao observar com um pouco mais de cuidado, é possível notar facilmente a delicadeza do arquiteto sobre as peles de vidro e a luz natural que transcende o pavilhão. A imagem mais marcante do pavilhão, são as curvas e rampas que parecem percorrer internamente por toda área. Com seus 40.000m², é difícil perceber que essas curvas reconhecidas por todos, fazem parte somente de menos de 1/3 de toda a construção, como podemos observar nas plantas. A questão abordada, vai muito além da proporcionalidade da matéria no projeto de Oscar Niemeyer. Os projetos de Niemeyer são, em geral, desenhados de forma a proporcionar uma maior penetrabilidade. Reduzem‐se os apoios, alteiam‐ se os volumes em relação ao solo, removem‐se obstáculos, telhados ficam ao alcance, tudo contribuindo para a máxima penetrabilidade. (EL‐DAHDAH, 2009, p.122)
Essa relação de cheio de vazios, marcante em sua arquitetura, faz com que a pessoa no interior do pavilhão, perca a noção de proporcionalidade e escala, tendo a sensação que as curvas marcantes do mezanino e dos pavimentos seguintes estão percorrendo todo o edifício, também proporcionando a sensação de movimento.
Vazios
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Foto Pavilhão Cicíllo Matarazzo ‐ Acervo Bienal, 2017.
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Diante desses aspectos, é possível notar a influência de Lucio Costa e Le Corbusier em sua forma de projetar. Niemeyer teve seu próprio jeito de absorver e extrair os “ cinco pontos da arquitetura moderna”. Usou de toda racionalidade projetual adquirida no contato com Le Corbusier no começo de sua carreira, porém abstraindo do discurso modernista uma maneira projetual plasticamente livre, resultando nas famosas curvas, uma outra proposta diante dos padrões formais do estilo europeu. Uma análise mais profunda, no entanto, revela que sua arte é também imensamente espiritual em procura do sentimento poético e uma intima ligação com o infinito. A arquitetura de Niemeyer extrai seu poder precisamente disso: ao refletir a múltipla dicotomia da experiencia brasileira, projeta igualmente uma universalidade emotiva que poucos arquitetos lograram atingir. (UNDERWOOD, 2003, p.18.)
Niemeyer, evidencia a importância poética em sua arquitetura, não somente quando se trata da forma. Quando observamos a obra, percebe‐se que além de todo a relevância conceitual do partido, o arquiteto soluciona o programa de forma simples e eficaz. Reafirmando assim, que é possível criar uma arquitetura de formas livres. Foto Pavilhão Cicíllo Matarazzo ‐ Acervo do Grupo, 2017.
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Comparações 27
Foto Pavilhão Cicíllo Matarazzo ‐ Acervo Bienal, 2017.
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Apesar do Pavilhão possuir características únicas, existem outras obras com partidos semelhantes, seja pela proximidade do período entre os arquitetos modernistas ou pela própria utilização de conceitos e princípios. Começarei citando Le Corbusier e sua obra “Unite d' Habitation”. Charles é um dos precursores da arquitetura moderna e uma das maiores fontes de inspiração para os arquitetos que viriam, que inclusive, em 1955, recebeu a visita de Oscar em seu ateliê, estava se auto‐ criticando e recorreu à experiência, onde “encontra o nexo entre síntese plástica e monumentalidade” (QUEIROZ, Rodrigo, 2007, Catálogo USP). Neste projeto que teve sua construção iniciada em um contexto pós‐ Segunda Guerra em 1947 e finalizado em 1952, logo em sua implantação já é possível notar a semelhança em sua forma e monumentalidade O uso do concreto armado e o método de deixar aparente parte da estrutura, príncipios que já adotava desde os anos 30, são outras semelhanças evidentes. Apesar do momento da construção depender de uma condição diferente, a qual era quase que urgente na cidade de Marseille, França, Corbusier ainda não havia feito uma obra em escala tão grande e para tamanha demanda de pessoas as quais se refugiariam neste conjunto habitacional. 29
Vilanova Artigas, arquiteto da Escola Paulista, moderno e brutalista, se assemelha com Niemeyer no caso específico de pensar obras a partir de sua estrutura, demonstrando isso por exemplo no Prédio da FAU USP, São Paulo. Esta construção de concreto e vidro, estrutura aparente e monumentalidade se aproxima dos já citados pontos próximos ao Pavilhão, mas ainda mais do que isso, possui uma semelhança em seu interior: a maneira de como foram tratados os espaços. “A Fau é um espaço fluido, integrado, somático. A pessoa não sabe se está no primeiro andar, no segundo ou no terceiro”(ARTIGAS, Vilanova). Seu espaço interior é muito explorado com permanências, áreas de transição e abertura, pontos que são presentes e fundamentais na Bienal.
Lucio Costa, pioneiro modernista no Brasil, não pode deixar de ser citado, já que regionalmente, é um dos mais evidentes influenciadores de Oscar. Em Ministério de Educação e Saúde , concluído em 1936, Rio de Janeiro, Lucio apresenta anteriormente métodos inovadores que Niemeyer adota em grande parte de suas obras posteriormente e inclusive presentes no Pavilhão. Começando com o uso dos pilotis e a possibilidade de fruição, brise sobre a fachada de vidro, empenas cegas em outras fachadas, jardim tropical acessivel, monumentalidade e transposição. Nesse caso, a implantação não é parecida a princípio, até por ser um edifício alto contando com o cruzamento de outro menor e longitudinal, mas nem precisaria ser, pois são tamanhas semelhanças conceituais que já evidênciam métodosutilizados. Este projeto é um ícone do modernismo no Brasil não só pela inovação e presença, mas pela possibilidade de unir diversos atores modernistas em suas área distintas, como Burle Marx, Cândido Portinari e até Le Corbusier.
fonte: OWAR Arquitectos
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Fonte Archdaily
fonte: Carlos Eduardo Comas, via revista ArqTexto n.16
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fonte:Carlos Eduardo Comas, via revista ArqTexto n.16
fonte: Marina de Holanda
Muitas outras comparações poderiam ser feitas, com obras de arquitetos como Lina Bo Bardi, Jorge Machado Moreira e Frank Lloyd Wright, o que só demonstra o quanto a arquitetura de Oscar é marcante e o quanto a arquitetura e seu progresso depende da história, do fato, do incentivo, influência e sua inovação a partir do existente.
Lucio Costa junto ao Niemeyer fizeram um trabalho que teve grande importância histórica em 1939, com o Pavilhão de Nova York, onde tiveram a oportunidade de demonstrar, por uma temporada, aos norte americanos e estrangeiros do mundo todo que visitavam um pouco do modernismo brasileiro. Com a diferença da edificação não ser linear, por possuir uma leve curva, o projeto possui as semlehanças dos pilotis, brise, concreto e vidro, situação meio a um parque, pés‐ direitos altos, em seu interior, já se podia prever o que estaria por vir no Pavilhão da Bienal futuramente. 32
Niemeyer e a influência modernista Por Aline Trevisan 33
É notória a influência da arquitetura moderna quando tratamos dos Oscar Niemeyer. Em boa parte de seus projetos, principalmente no início de usa carreia na década de 50, vemos que além da plasticidade de seus projetos, o programa é um fator muito importante para o arquiteto. Niemeyer, como citado já anteriormente, foi “modelado” ainda estudante da Escola Nacional de Belas Artes por Lucio Costa, um dos arquitetos brasileiros mais influentes diante a arquitetura moderna. Ó discurso modernista é evidente quando analisamos a obra em sua linguagem formal, como Underwood (2003) citou, Niemeyer foi capaz de absorver os “cinco pontos da arquitetura moderna” e com sutileza adaptar sua forma plástica a função de suas obras. O discurso de Niemeyer, propunha uma arquitetura muito além de funcional, mas sensorial. Uma das características mais marcantes de suas obras, são a forma com que o edíficio emerge de uma forma natural em suas implantações, ele respeitava as condições naturais do terreno fazendo de sua obra com um ar “natural” mediante ao entorno. Como podemos ver no Edifício Copan, onde o térreo internamente segue a topografia,, uma ideia inovadora ainda nos dias de hoje. No Pavilhão Ciccillo Matarazzo, quando observamos do Parque Ibirapuera, não percebemos como o edifício está inserido e onde estão os desníveis pois o mezanino se torna parte da topografia. 34
Croqui Niemyer, Revista AU.
Niemeyer possuía uma habilidade de transformar a funcionalidade proposta pelo modernismo de uma forma sutil. Esse afrontamento as rigidez das formas modernas europeias, utilizando das curvas uma característica de sua arquitetura, mostra que Niemeyer pensava de forma singular tornando‐se a frente de seu tempo mesmo na década de 50.
Croqui Parque do Ibirapuera, Revista AU.
O racionalismo de Niemeyer, traz em junto a si a importância poética do projeto contrapondo o conceito da “cada de morar” meramente funcional, defendido pelos arquitetos modernos.
A plasticidade artistica de suas obras, tornou‐se assinatura. Sua fragmentação dos pontos da arquitetura moderna, absorvendo aquilo que lhe era cabível para o momento, registrou um tipo de arquitetura abandonado diante o modernismo. Oscar Niemeyer soube fundir forma e função, não somente absorvendo os ideais da época mas também confrontando os mesmos se desprendendo do discurso racional. Fazendo assim, criador de um traço único e maneira projetual singular ainda nos dias atuais. 35
Expressão e originalidade de Niemeyer Por Caue Abbud Monteiro de Almeida 36
A arquitetura moderna, desde seu princípio, quando passou a ser dominante no século XX, sempre evidênciou tendências a serem seguidas, independente de sua origem, seja com os movimentos, seja na Rússia soviética. Teve grande ajuda da Revolução Industrial para definir a materialidade e a busca incansável pelo fim dos ornamentos definiu um padrão seguido a longo prazo pela maioria dos arquitetos. A questão é que quando chega no Brasil, num momento de transição da arquitetura neo‐ colonial, e após as demonstrações de Lucio Costa, acaba surgindo no ramo aquele que se destacaria futuramente pelo seu estilo próprio, marcante e reconhecido mundialmente. Oscar Niemeyer desenvolveu sua arquitetura no modernismo rodeado de pioneiros, Le Corbusier e Lucio Costa foram dois dos quais o arquiteto mais adquiriu repertório, mas desde sempre demonstrava peculiaridades, como a maneira com que trabalhava com curvas. “Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexivel, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein” (CULTURAL, Itaú, 2014, p. 21). O Próprio arquiteto declarava abertamente a sua
essência, de onde tirava sua maior inspiração para que acabasse ousando em suas obras: seu país. O modernismo em sim, não so do âmbito da arquitetura, como no da arte, trata de regionalismo, mas nenhum arquiteto conseguiu mesclar de maneira tao irreverente um estilo tão próprio com base inspiração. Um termo que pode ser usado para falar desse estilo é “liberdade”. No livro Oscar Niemeyer, Classicos e inéditos, o arquiteto Angelo Bucci em depoimento concedido, ressalta esse termo em sua citação: “A liberdade em sua obra é uma característica admirável. São os erros – no sentido do desvio do código consagrado que outro arquiteto dificilmente ousaria fazer – que imprimem um resultado incrível. Refiro‐ me à liberdade de um sujeito que está desenhando edifícios com a coragem de se arriscar na fronteira do que ainda não foi feito. O parâmetro que se estabelece em consequência dessa liberdade passa a ser mais amplo.” Usando de referência, pode‐ se citar o Parque do Ibirapuera, quando ele projeta a marquise que conecta vários ambientes do parque, chegando a obra por nós estudada, o Pavilhão da Bienal. O detalhe mais perceptível da obra não está 37
no seu exterior, que apesar de ser bem estruturado, monumental referência no âmbito da arquitetura, por abordar várias características modernas em uma boa resolução, mas sim presente no interior. Com base em suas insipações e influências, o arquiteto consegue trabalhar com originalidade nos cheios e vazios, começando pela distribuição de fruição no térreo meio aos pilotis e o aproveitamento de um pé direito duplo, devido ao pé direito alto. Esta construção por si só já seria um referêncial, mas o ápice da expressão está quando você finalmente acessa os salões internos e se depara com os mezaninos, em pés direitos duplos e triplos, que estão em completa harmonia, graças as suas curvas.
Pode‐ se até pensar que não é algo fora do comum, que ele só usou curvas, mas a partir do momento que você cria uma marca registrada, vira referência, legado, comprova toda a originalidade do artista e tudo a partir de sua sensibilidade na expressão e na concretização de suas ideias quando postas a prática. Seu traço, seu estilo, suas metáforas, tornam seu trabalho único.
Oscar conseguiu fazer com que o visitante se sinta em completa imersão quando acessa essa ala, faz com que a imagem de uma “grande caixa”, quando vista por fora, se quebre totalmente quando esta a frente de inúmeras curvas e conversões, o visitante se surpreende e se esquece por um momento da rigidez robusta, isso tudo sem deixar de ser um edificio moderno e funcional. Essa é a tal “liberdade”, com essa ousadia, o arquiteto alcança resultados que eram descartados quando cogitados pela sua dificuldade construtiva e “fuga do racional”. 38
Fonte: Andrés Otero
A história contada através do processo de projeto Por André Mancinelli Rosas 39
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A conveniência do modernismo Por Giulia Fernanda Affonso Silva 43
É interessante refletir sobre a influencia do modernismo quando este se torna tão conveniente para a situação em que se insere. Independente do contexto ou do local, o estilo se preserva puro em suas características. É clara a ideia de Oscar Niemeyer quando contrasta o ortogonal com o sinuoso de forma muito harmônica no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, e também em outras de suas obras. Visivelmente, o Pavilhão ainda se preserva como um grande marco da arquitetura modernista, pois preserva o que há de mais verdadeiro no estilo: o racionalismo, as estruturas arrojadas e a funcionalidade. Dito isso, o pavilhão é a expressão da conveniência, eu diria, pois a combinação da personalidade do arquiteto está presente no projeto, e ainda atende exatamente ao que foi designado a ele.
No contexto, é claro que em um edifício a ação do moderno é muito mais pontual e talvez mais perceptível nas formas. Então a partir de agora vou ampliar a análise para uma situação em maior escala, porém não menos perceptível e com repercussão maior no Brasil. Voltando um pouco mais atrás na história e ainda abordando o tema da conveniência do modernismo, quando Lucio Costa vem ao Brasil em 1924 por um convite do mentor do Movimento neo‐colonial, José Mariano Filho, Costa buscava a pureza da arquitetura colonial para um estilo essencialmente brasileiro. Após conhecer a arquitetura despojada de Diamantina, o arquiteto inicia um processo de estudo da limpeza das fachadas, o processo de simplificação. Como comentado inicialmente nesse trabalho, a simplificação ressalta as características mais marcantes da arquitetura. Ao concluir, ele percebe ter chegado a um resultado que mais tarde descobriu ser o estilo moderno. (análise da limpeza das fachadas feita por Lucio Costa na figura à direita)
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Então, continuando a ampliação da análise que estamos fazendo, vamos para a comprovação mais evidente e mais antiga (até dado ponto do estudo) de que conveniência do modernismo atua em escala mundial: A Europa do século XX (pós guerra).
O modernismo tem como principal conceito de organização espacial o cotidiano, ou seja, acontecimentos “banais” poderiam ganhar um reconhecimento artístico. Isso ganha um caráter de preocupação social, ainda mais com a situação recém enfrentada no contexto tratado. Portanto, a vontade de surgiu uma arquitetura essencial na Europa foi respondida com o modernismo, pois o estilo é sobre liberdade, onde o simples vira arte e o cotidiano é a principal preocupação do arquiteto, além de todas as características há discutidas neste trabalho. A fuga do convencionalismo existe antes da guerra, e a aceitação da situação Diferente dos outros dois europeia de valorização e nacionalismo, tornou o modernismo um estilo contextos já tratados, porque o conveniente e aceito. contexto europeu pós guerra é o maior exemplo de porque o modernismo é conveniente? Justamente porque foi por esta razão que o estilo foi escolhido para reconstruir o cenário europeu até então destruído. O ambiente já sugeria o surgimento de novas ideias para o novo conceito de sobrevivência e poder presente na Europa. Além de precisar ser uma construção rápida e efetiva. Então analisaremos agora mais características do modernismo que o tornaram propício para a arquitetura europeia do século XX. 45
Bibliografia 46
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