Marco Aurélio Sobreiro
JORNAL
Escolar
CRIATIVIDADE NA SALA DE AULA
Marco Aurélio Sobreiro Jornalista, Especialista e Mestre em Comunicação e Mercado (Cásper Líbero)
JORNAL
Escolar
CRIATIVIDADE NA SALA DE AULA
Visão histórica sobre a presença dos jornais no ambiente escolar, a partir das experiências pioneiras de educadores como Célestin Freinet e Janusz Korczak. Panorama teórico sobre a Educomunicação (campo de estudos que abrange a inter-relação entre Comunicação e Educação) e as práticas educomunicativas. Guia prático para a produção de jornais escolares, com informações sobre como fazer reportagens, fotografias e montagem das páginas no computador.
1a Edição
Setembro de 2006
Sumário 5
Apresentação
7
Pesquisa
12
O que é jornal escolar?
16
Tradição histórica
17
Célestin Freinet
22
Janusz Korczak
27
No Brasil
28
Um pouco de teoria: a Educomunicação
35
Como fazer na prática
36
Elementos gráficos
41
Elementos editoriais
48
A imprensa na era da Internet
55
Responsabilidade social e política pública
61
Bibliografia
63
Sobre o autor
64
Créditos e agradecimentos
Apresentação Quem de nós nunca participou, na infância ou na adolescência, da produção de um jornal escolar? Mesmo quem não teve esta oportunidade certamente já ouviu falar de algum amigo ou familiar que exercitou a veia jornalística ou mesmo poética em jornaizinhos feitos com mimeógrafo (para os mais antigos), montados com xerocópias ou então com técnicas de impressão mais modernas, como as gráficas rápidas. Não há como negar: o jornal escolar é um instrumento de expressão que mexe com os estudantes, sejam eles de que idade forem. Entre as crianças, permite mostrar desenhos, pequenas redações, cartas e bilhetes. Já entre os adolescentes, a possibilidade de escrever em um jornal feito pela classe ou mesmo pela escola desperta curiosidade, interesse e a vontade de expressar pensamentos e ideais, sejam eles individuais ou do grupo ao qual os participantes estão integrados. Mas, afinal, o que se entende por jornal escolar e como ele deve ser feito? Este livreto foi idealizado e escrito justamente para oferecer respostas para esta e outras perguntas do tipo. Ele é um resumo didático de uma pesquisa de Mestrado realizada entre 2001 e 2004, na Faculdade Cásper Líbero, e que sintetizou 10 anos de trabalho do autor nesta área. As conclusões da pesquisa foram claras: O jornal escolar é um instrumento que oferece liberdade de expressão aos alunos e motiva-os a trabalhar em grupo. A produção do jornal escolar estimula o espírito de cidadania entre alunos, professores e jornalistas envolvidos. O processo motiva os jovens a interagirem com a realidade interna e externa da escola. Ao confeccionarem seu próprio jornal, os alunos exercitam, na prática, conhecimentos teóricos recebidos dentro da sala de aula. O jornal escolar precisa de orientação especializada para atingir boa qualidade e cumprir todos estes objetivos. Antes de tudo, uma certeza: esta experiência não pode ser confundida com uma tarefa chata, maçante, cheia de regras difíceis. Nada disso. A produção do jornal precisa ser um ato de aprendizado agradável. A liberdade de expressão, a qualidade gráfica, a orientação e o companheirismo devem ser fundamentos incorporados pelo grupo — e não impostos de cima para baixo. Quando estes pilares são respeitados, as páginas são feitas naturalmente pelos estudantes e o jornal torna-se uma produção com identidade própria,ou seja,que leva a marca de cada aluno participante e, por extensão, do grupo que o executou. 5
Outra consideração importante: o uso do jornal na sala de aula é reconhecido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) como uma ponte que ajuda a ligar a teoria à prática.Trata-se de uma espécie de janela através da qual os estudantes utilizam os conhecimentos recebidos em sala de aula em situações reais do cotidiano. Também é uma contribuição valiosa para a formação de futuros cidadãos conscientes de suas liberdades democráticas. Isso sem falar na experiência marcante — ao mesmo tempo divertida e responsável — de fazer um jornal ao lado dos colegas de classe e professores. Quando isso acontece, os alunos constroem seu conhecimento com o apoio de conceitos que levarão pela vida afora. E o jornalzinho impresso, que anos mais tarde será revisto por todos, já adultos, ficará como um registro permanente daquele aprendizado. Para funcionar como um manual de produção para estudantes e professores interessados nesta experiência, este livreto procura oferecer mais do que simples orientações práticas. O objetivo é mostrar, a partir de um contexto histórico, um conjunto de normas técnicas bem elaboradas e aplicáveis para a montagem de bons jornais estudantis. O termo contexto histórico foi empregado porque a presença dos meios de comunicação na sala de aula — e o jornal impresso é um deles — possui uma rica tradição. Se olharmos para trás, veremos que no início do século XX já havia jornais escolares feitos inteiramente por alunos, em experiências bemsucedidas conduzidas por pedagogos como o francês Célestin Freinet e o polonês Janusz Korczak (pronuncia-se Djánus Córtchac). Por outro lado, ao analisarmos o presente e projetarmos o futuro, veremos que a revolução digital (com a internet, os sites, os blogs...) também está e continuará presente no ambiente escolar. Podemos afirmar que a revolução digital foi deflagrada pelos próprios meios de comunicação, que aceleraram espantosamente sua velocidade de transmissão de dados e, ao mesmo tempo, massificaram-se de tal forma que deram origem a uma rede da qual hoje todos nós fazemos parte — mesmo que não queiramos. Esta apresentação procura condensar a essência deste livreto. O objetivo é levar a diretores, professores, alunos e pais a riqueza existente nos jornais escolares e,de forma mais ampla,propor uma reflexão teórica e prática sobre a presença dos meios de comunicação na sala de aula. Vivemos um momento histórico em que a comunicação é parte vital da sociedade: não podemos ignorar os efeitos que ela traz para nós e para as gerações futuras. O segredo consiste em compreender a natureza da novidade e tirar dela o melhor proveito possível para os estudantes. Eles merecem.
O autor 6
Pesquisa Fazer um jornal escolar é uma tarefa estimulante, divertida e que enriquece a formação cultural dos participantes. Além disso,o processo de montagem das páginas, com a produção de textos e fotos, faz com que os estudantes tenham sua percepção do mundo aumentada e sejam desafiados a utilizar, na prática, os conhecimentos teóricos recebidos na sala de aula. Finalmente,o informativo estudantil aprimora o senso de cidadania, motivando a leitura de textos e um outro tipo de leitura — a da sociedade em que vivemos, sob um ângulo mais crítico e consciente. Isso resume,de forma bem suscinta,os benefícios que a implantação de um jornal escolar pode trazer. Para que isso aconteça,porém,é preciso que ele seja bem feito, seguindo uma série de outras regras, bem mais técnicas. Também há que se obedecer conceitos teóricos baseados em uma tradição que mescla a Pedagogia e a Comunicação. O resultado é compensador e costuma marcar a vida dos participantes. Para sempre. Identificar as vantagens,as exigências e o embasamento teórico que cercam a produção de um jornal escolar, como mostram os dois parágrafos anteriores, foi o objetivo de uma pesquisa de Mestrado realizada entre agosto de 2001 e abril de 2004, na Faculdade Cásper Líbero — da qual este livreto é um resumo. O trabalho, orientado pela professora doutora Liana Gottlieb, sintetizou uma longa experiência do autor com a produção de jornais escolares. A pesquisa foi realizada a partir de um estudo de caso: o programa DS Escola (rebatizado em 2006 como Projeto Cultural Ler e Aprender),mantido pelo jornal Diário de Suzano, na Grande São Paulo. Desde 1996, o projeto estimula o hábito da leitura entre os estudantes da cidade e de municípios vizinhos, através da presença do jornal na sala de aula. Programas deste tipo existem em todo o País. Eles são coordenados pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), entidade de classe que reúne as empresas jornalísticas brasileiras. Integram, juntos, o Programa Jornal e Educação, que prevê basicamente o uso de jornais locais como ferramenta pedagógica.Na prática,os estudantes recebem o jornal de sua cidade em classe e, através da leitura, tomam contato com a realidade exterior à sala de aula. Há outras atividades, que variam conforme o programa. Uma pesquisa de Mestrado,porém,não pode se resumir à simples descrição de um projeto.Ela precisa ser muito mais ampla do que isso. Tem de apresentar um campo teórico de referência, executar um levantamento minucioso do que já foi pesquisado sobre o assunto,possuir uma seqüência lógica e propor, ainda que de forma embrionária,uma contribuição nova,que pode vir a ser,no futuro, o tema de um possível trabalho de Doutorado. 7
Para melhor compreender a produção dos jornais escolares, a pesquisa valeu-se do referencial teórico da Educomunicação e do importante trabalho desenvolvido pelo Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da ECA-USP — pilar de referência sobre o assunto, para onde iniciativas do gênero em todo o país convergem de forma natural. Além disso, foram garimpados e localizados, em todo o País, trabalhos do gênero já realizados por jornalistas ou pedagogos. Estas pesquisas ajudam a mostrar em que estágio de amadurecimento encontram-se os estudos sobre a presença dos jornais na sala de aula. Elas mostram as vantagens destas experiências no ambiente escolar e oferecem, cada qual de uma forma peculiar, importantes contribuições para a compreensão do tema. A partir daí, o trabalho ganhou uma estrutura teórica mais encorpada. E ofereceu uma contribuição para este campo de estudos. Mais do que o uso do jornal como instrumento de apoio na sala de aula, a produção de jornais escolares pelos estudantes era uma tarefa que merecia ser analisada, pois existe e é realizada na prática por vários programas do gênero,entre eles o de Suzano. Nestes projetos, os alunos participam de capacitações que os ensinam a planejar, fazer e editar suas próprias reportagens. Estas capacitações integram a principal realização do projeto de Suzano, que é a confecção de um tablóide feito inteiramente pelos estudantes e publicado anualmente no Dia da Criança (12 de outubro). Os jovens elaboram as pautas,os textos,fazem as fotos,as legendas e os títulos das matérias,além de acompanharem a montagem das páginas. Tudo isso a partir de orientações dadas por jornalistas profissionais diplomados, ao longo de quatro meses. A hipótese de que a produção de jornais feitos pelos estudantes constitui o ponto alto da presença da página impressa na sala de aula também estimulou a busca,através de um mergulho na história,dos precursores desta experiência. Eles foram identificados, assim como seus valiosos legados. Para se ter uma idéia, no início do século passado já existiam jornais escolares feitos com esmero gráfico e notável respaldo teórico. A confirmação da hipótese inicial — de que a produção de jornais escolares motiva os estudantes — exigiu uma minuciosa pesquisa de campo. Foram entrevistados os 192 estudantes que participaram do tablóide de 2003,os 5 jornalistas que os orientaram, 4 professores que também acompanharam o processo, além de 4 pais cujos filhos escreveram em tablóides, tanto em 2003 como nas edições anteriores. A sugestão de ouvir estes pais foi dada por Liana Gottlieb e revelou-se de extrema importância, pois ofereceu um parâmetro confiável do grau de motivação dos alunos. Por conviverem com os jovens antes e depois da iniciativa, os pais tinham uma noção exata dos efeitos do projeto. E afirmaram, em entrevistas, ter observado motivação incomum entre os filhos no período. 8
Professores e jornalistas também destacaram a ação como um momento em que os jovens conseguiam, democraticamente, colocar em prática toda a criatividade demonstrada desde o primeiro instante em que passaram a ter contato com o jornal. Fazer as reportagens e fotos não era uma obrigação, mas sim um prazer. A conclusão foi de que a produção do jornal dos estudantes empolga os jovens, os professores, os jornalistas e os pais por um motivo elementar: permite que os alunos se apoderem dos meios de comunicação, dando livre vazão à criatividade.Para todos,a experiência foi considerada agregadora,estimulante e capaz de proporcionar novos conhecimentos. Além da orientação de Liana Gottlieb, a participação do professor doutor Ismar de Oliveira Soares, coordenador-geral do NCE, também foi valiosa para que a pesquisa atingisse seus objetivos. Sua presença na banca de qualificação (em agosto em 2003) e na defesa pública (em abril de 2004) contribuiu para que o trabalho ganhasse um maior arcabouço teórico e, numa visão geral, ampliasse seus horizontes. Na primeira ocasião, ele deu sugestões pontuais para a pesquisa e frisou a importância da Educomunicação como referencial teórico para um trabalho daquela natureza. Também apontou a necessidade de criação de políticas públicas a partir de ações como aquelas: “Algo fica importante quando se torna política pública. Transformar esta iniciativa em política pública permite que a proposta seja avaliada coletivamente, que se socialize e que deixe de ser uma ação isolada”, disse Soares na ocasião. Já na defesa da dissertação, ele sugeriu o prosseguimento dos estudos e sua ampliação.
NÚMEROS O que disseram os estudantes ouvidos pela pesquisa? Afinal, são eles os protagonistas do jornal escolar. A seguir,serão apresentadas as principais perguntas aplicadas e as respostas. Antes do início da atividade, todos VOCÊ ACHA QUE A PRODUÇÃO foram informados dos objetivos da DE JORNAIS PELOS ALUNOS É: pesquisa e tiveram a liberdade de escolher se queriam ou não participar. Todos se dispuseram a colaborar. Além disso,não foi preciso se identificar para MUITO IMPORTANTE responder às questões. O objetivo foi IMPORTANTE estimular a franqueza das respostas. Uma das perguntas pretendeu avaliar se os alunos consideram importante a POUCO IMPORTANTE produção de jornais.Como mostram os SEM IMPORTÂNCIA números ao lado, a maioria dos entrevistados apóia a iniciativa.
66%
2%
31%
1%
9
Outra pergunta buscou identificar os signos gráficos da página impressa DE QUE VOCÊ MAIS GOSTA NO JORNAL? que mais atraem os alunos. As fotos aparecem em primeiro lugar, pouco à frente dos textos. As respostas dadas pelos estudantes são importantes para FOTOGRAFIAS que se constate de que forma os jovens vêem o jornal. Basicamente, as TEXTOS respostas confirmam a seqüência TÍTULOS lógica de leitura da página impressa, segundo a qual as fotos são o ponto 1a PÁGINA inicial de atenção do leitor. Um elemento com boa citação e GRÁFICOS que exige cuidado no momento de ser elaborado é o título da matéria. CORES Fotos e títulos formam um conjunto cujo objetivo é atrair o leitor para o OUTROS (FORAM CITADOS texto. Devem, por isso, ter ligação HORÓSCOPO E ESPORTES) imediata, seqüencial e coerente. A pesquisa também mostrou que os estudantes valorizam a liberdade de escrever o que quiserem (respostas abaixo, à esquerda). A imposição de temas desmotiva os jovens e, ainda que aconteça em pequena escala nos jornais escolares, deve ser identificada e eliminada o mais rápido possível. A importância da liberdade de expressão pode ser medida em outra resposta, dada pelos entrevistados quando perguntados se acreditam que a reportagem produzida para o jornal escolar pode ajudar de alguma maneira a região NA SUA OPINIÃO, A LIBERDADE onde vivem. As respostas (abaixo) PARA ESCREVER O TEXTO QUE QUISER NO JORNAL DOS ALUNOS É: mostram que os alunos crêem nesta capacidade.
38%
37%
11%
8%
3%
2%
1%
66%
MUITO IMPORTANTE
2% POUCO IMPORTANTE
32% IMPORTANTE NENHUM ALUNO ESCOLHEU O ITEM ‘SEM IMPORTÂNCIA’
AO CRIAR E FAZER SUA PRÓPRIA REPORTAGEM (TEXTO E FOTO), VOCÊ ACREDITA QUE PODE AUXILIAR DE ALGUMA FORMA A COMUNIDADE ONDE VIVE?
94% SIM
10
6% NÃO
Outras duas questões que merecem destaque procuraram estimular uma reflexão entre os estudantes sobre os efeitos da produção de jornais escolares. A primeira (respostas abaixo,à esquerda) buscou saber se os jovens pretendiam ler mais publicações depois de terem produzido seus próprios informativos.As respostas positivas, dadas em esmagadora maioria, mostram que este tipo de atividade estimula os participantes a pensar criticamente o mundo em que vivem e reforça o valor da leitura como elemento vital na formação cultural. Observemos os números:
DEPOIS DE TER PARTICIPADO DESTA ATIVIDADE, VOCÊ PRETENDE LER MAIS PUBLICAÇÕES, COMO JORNAIS, REVISTAS OU LIVROS?
98% SIM
2% NÃO
VOCÊ ACHA QUE PROGRAMAS DESTE TIPO DEVERIAM FAZER PARTE DAS ATIVIDADES DE TODAS AS ESCOLAS?
100% SIM
NENHUM ALUNO ESCOLHEU A ALTERNATIVA ‘NÃO’
Outro ponto abordado pela pesquisa procurou identificar se existia,entre os alunos, o interesse de que a produção de jornais escolares se transformasse em uma atividade cotidiana. A pergunta teve um objetivo: constatar se os jovens encaravam a atividade como uma iniciativa agradável o suficiente para se tornar contínua ou se era vista somente como uma novidade curiosa, um passatempo que deveria ser realizado apenas uma vez. As respostas (acima, à direita) não deixaram dúvidas. Foi a única pergunta que contou com 100% de aprovação,ou seja,todos os 192 estudantes afirmaram que gostariam de ter jornais escolares permanentes em suas escolas. É possível apontar um fator que estimula estas respostas. Fazer um jornal escolar — assim como acontece nas redações profissionais — é uma tarefa nova a cada dia, sem repetições e com desafios constantes.Tanto os temas das matérias como a forma com que os elementos gráficos (títulos, fotos, textos) são manuseados mudam a cada edição. Este dinamismo é motivador. Além disso, a aprovação maciça também mostra que há a possibilidade concreta de se transformar esta atividade,com sucesso,em uma política pública. No campo das projeções, seria possível imaginar todas as escolas públicas e privadas produzindo seus próprios jornais.As edições seriam trocadas entre as instituições de ensino e lidas por familiares e amigos. Seria a materialização,em pleno século XXI, dos ideais de Célestin Freinet, que sempre estimulou a correspondência escolar através dos jornais. 11
O que é jornal escolar? A resposta para a pergunta que abre este capítulo deve ser clara: o jornal escolar é um meio de comunicação produzido por um grupo de estudantes, sob a orientação de professores e jornalistas (ou, mais especificamente, educomunicadores). O objetivo é fazer com que os alunos desempenhem todas as funções necessárias à produção de um jornal,como a definição dos assuntos que serão abordados (pauta), a divisão de tarefas, a coleta do material (reportagens constituídas de textos de fotos), a montagem das páginas e a distribuição dos exemplares para amigos e familiares. Evidentemente, o jornal escolar não será profissional, nem terá objetivos de mercado. Além disso, não se espera que os jovens executem estas tarefas sozinhos, sem orientações técnicas específicas. O segredo de um bom jornal escolar é unir a criatividade das crianças e adolescentes em torno de uma novidade atraente (fazer um jornal), a partir de conceitos sólidos que permitirão chegar a bons resultados técnicos. Com espírito coletivo e vontade de todos, isso é plenamente possível. Vivemos em um país democrático, em que as liberdades de expressão, de pensamento, de religião e de informação são garantidas pela Constituição. Ou seja, todos podem se expressar livremente — mas com responsabilidade e respeito às leis, frise-se. No Brasil, além disso, a produção de jornais impressos independe de autorização ou concessão do governo, o que acontece, por exemplo, com rádios e emissoras de televisão. Dessa forma, qualquer entidade, sindicato, associação, clube ou mesmo uma escola pode ter o seu jornal, de distribuição interna e com o objetivo de informar seu público. Quando um jornal escolar é produzido, ele contribui para o aprendizado dos jovens em vários sentidos. Primeiro, ajuda a mostrar, na prática, como funciona um regime democrático e de liberdade de pensamento — deixando claro também que existem regras a serem cumpridas. Em segundo lugar, estimula nos estudantes a noção de registro histórico impresso, ou seja, faz com que os alunos entendam a importância de se gravar, nas páginas do jornal, acontecimentos que estão ocorrendo naquele momento e que podem se perder no tempo. Cria-se, ainda, um ambiente agradável de trabalho coletivo e culturalmente rico. Mas existe um ponto específico que merece destaque. Os jovens que participam desta iniciativa não estão realizando, por exemplo, uma tarefa à parte da estrutura curricular da escola. Pelo contrário. O objetivo da proposta é criar justamente uma atividade extracurricular que sirva como pólo aglutinador das várias disciplinas ministradas em sala de aula. Ao montarem seu próprio jornalzinho, os estudantes poderão colocar em prática conhecimentos de 12
praticamente todas as matérias vistas em classe. Professores que participam de trabalhos como este afirmam, com freqüência, que os jovens acabam sendo levados a relembrar ou mesmo a buscar novos conhecimentos para a produção de suas reportagens. O jornal escolar consegue, assim, canalizar aquela energia típica da adolescência para a reflexão teórica e a prática. Utilizando uma terminologia mais técnica, o jornal escolar é uma atividade que proporciona a discussão dos chamados Temas Transversais, um conjunto de assuntos relacionados à cidadania que devem ser abordados em sala de aula e que,além disso,figuram entre as determinações previstas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). É interessante observar a definição do que são Temas Transversais.Acompanhemos: O compromisso com a construção da cidadania pede necessariamente uma prática educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental. Nessa perspectiva é que foram incorporadas como Temas Transversais as questões de Ética, Pluralidade Cultural,Meio Ambiente, Saúde e Orientação Sexual.Isso não significa que tenham sido criadas novas áreas ou disciplinas (...).Os objetivos e conteúdos dos Temas Transversais devem ser incorporados nas áreas já existentes e no trabalho educativo da escola.1
A escola deve promover e desenvolver o debate destes temas sem que, para isso, os assuntos sejam entendidos, cada um, como uma disciplina específica. O objetivo é despertar um conceito geral de cidadania, incorporando os Temas Transversais ao cotidiano. Segundo os PCNs (Ibid., p.31), os temas “devem possibilitar uma visão ampla e consistente da realidade brasileira e sua inserção no mundo,além de desenvolver um trabalho educativo que possibilite uma participação social dos alunos”. Assim, por exemplo, uma reportagem sobre meio ambiente pode ser utilizada por professores de Ciências e Geografia como ponto inicial de um debate que enfoque temas locais, presentes no cotidiano da própria comunidade, dando à aula um caráter mais dinâmico e agradável. Da mesma forma,uma reportagem que mostre o funcionamento da Câmara Municipal servirá como aprendizado prático sobre o que é e como atua o Poder Legislativo. Uma entrevista com o presidente da Câmara ou com qualquer vereador fará os alunos percorrerem esta ponte que une a teoria à prática, indo desde o conhecimento dos livros até a realidade das ruas.Tudo isso com prazer e entusiasmo, uma vez que eles estarão coletando dados e fazendo fotos para uma reportagem que será lida por toda a escola e levará o crédito dos autores. 1 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Apresentação dos Temas Transversais: Ética. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. p.15.
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Ainda no exemplo da visita à Câmara ou da entrevista com um vereador, o processo de aprendizagem prática inclui outras etapas. Depois da observação prática sobre o que é e como funciona o Poder Legislativo, o jovem se depara com um novo desafio: como escrever de forma correta e didática para que os colegas entendam a mensagem que se quer passar? Neste momento, a imprensa escrita entra em ação e desempenha seu papel. Ainda que o adolescente não tenha de redigir uma matéria com exigências profissionais, como numa redação de verdade, ele receberá algumas instruções básicas de como elaborar textos com início, meio e fim, além de precisar ficar atento a questões como ortografia e concordância, entre outras. Neste momento, os professores de Língua Portuguesa e Redação podem atuar como apoiadores, relembrando ensinamentos que serão úteis para a reportagem e para o próprio desempenho do estudante no ano letivo. A grande vantagem está no fato de que, como se trata de uma novidade atraente e que prevê o trabalho em grupo, todos os estudantes acabam enfrentando um desafio saudável — que é o de produzir uma edição de qualidade para o público da escola. Quem,numa situação dessas,gostaria de ter um texto assinado com um erro de ortografia ou de concordância? Ninguém, com certeza. Por isso, a produção de um jornal entre os alunos acaba sendo mais do que uma tarefa grupal: tornase uma atividade em que todos, juntos, unem forças para que o resultado final seja o melhor possível, pois ele refletirá o que fez todo o grupo. É importante frisar, porém, que a implantação de um jornal escolar no ambiente de ensino não tem como objetivo despertar nos participantes o interesse de seguir a carreira jornalística. Ainda que durante a montagem das edições seja comum muitos adolescentes acreditarem que estão diante de sua vocação profissional, esta é uma situação que precisa ser conduzida com uma boa dose de cautela. Nada que uma boa orientação não resolva. Na verdade, o fascínio que acaba acontecendo não é exatamente pela profissão de jornalista ou fotógrafo, mas sim pela sensação de liberdade de expressão que a imprensa transmite. Por um instante, podemos observar criticamente a realidade, analisá-la com os colegas, expor pontos de vista e até mesmo interferir nela através das reportagens. Esse sentimento de cidadania, de pertencer ao mundo, de identificar seus problemas e de poder dialogar com as soluções possíveis é o grande objetivo do projeto como um todo. Quando isso acontece durante a produção do jornal escolar,chega-se à conclusão de que os pilares que conduzem o processo foram seguidos corretamente. Como resultado, os alunos passam a conhecer melhor suas liberdades democráticas, exercidas a partir de conceitos sólidos de responsabilidade, e certamente se tornarão cidadãos mais conscientes de seus direitos e deveres 14
perante a sociedade. Quando se experimenta este gosto ou a sensação de liberdade — se é que podemos caracterizá-los assim — , dificilmente se admite voltar atrás.Qualquer tentativa de coerção passa a ser encarada como a retirada de um direito elementar. Alguns exemplos ajudam a ilustrar o quadro: em vários países do mundo, a liberdade de expressão é controlada pelo Estado ou simplesmente inexistente. No próprio Brasil, o golpe militar de 1964 foi o marco inicial de um período em que os cidadãos e a imprensa foram vigiados de perto,ficando impedidos de se expressar da forma que quisessem. A volta da liberdade da imprensa é uma conquista recente e que precisa, por isso, ser compreendida e consolidada a cada dia entre os brasileiros. Como se pode perceber, a presença do jornal na sala de aula desperta uma série de assuntos importantes e estimula uma discussão saudável sobre seus diferentes aspectos. Esta é outra atribuição dos meios de comunicação: funcionar como um espaço democrático de debate de idéias, dando espaço para opiniões contrárias, sempre respeitando o princípio de que todos têm o direito de se manifestar. Para que isso aconteça, é natural que os estudantes acabem lendo e pensando mais.A própria natureza do jornal impresso estimula a leitura, mas o universo que se cria em volta de uma publicação escolar, com os estudantes apresentando idéias e refletindo sobre elas, faz com que seja preciso ler e pesquisar sobre os assuntos que irão para as páginas. E como são os próprios estudantes que sugerem os assuntos que irão para o jornal,a pesquisa e a leitura acabam se tornando tarefas naturais, realizadas sem o esforço de uma lição determinada a contragosto. Assim, uma reportagem que aborde a gravidez na adolescência, por exemplo, exigirá dos alunos uma pesquisa detalhada sobre o tema e sobretudo uma compreensão mais minuciosa do assunto. Num passo seguinte, os alunosrepórteres poderão entrevistar um médico ou um psicólogo e, com isso, acabarão conhecendo ainda mais sobre uma realidade que diz respeito a todos os colegas da mesma faixa etária. Numa redação escolar que englobe 60 jovens e que produza cinco jornais por ano, por exemplo, é possível fazer uma projeção de que serão abordados pelo menos 150 assuntos diferentes durante o período. Criatividade para escolher os temas os adolescentes têm de sobra. O fator positivo é que todas estas propostas de reportagens — que se referem a fatos reais — serão pesquisadas e ampliadas a partir de entrevistas e fotografias. Como resultado, estas 150 idéias se transformarão em matérias didáticas que serão lidas por toda a coletividade da escola, além de pais e amigos dos jovens. Cria-se, assim, uma invejável cadeia de informação e de formação cultural. 15
Tradição histórica O uso do jornal na sala de aula vem ganhando espaço no Brasil.De um lado, existem as iniciativas mantidas por empresas jornalísticas; de outro, uma rede independente de ações realizadas em escolas a partir do trabalho pioneiro de professores, jornalistas e estudantes. Em todos os casos, porém, percebe-se nitidamente a existência de um movimento cujo objetivo é utilizar cada vez mais o potencial dos meios de comunicação, democratizando-os e oferecendo oportunidade de expressão a crianças, jovens e adultos. A produção de jornais escolares feitos inteiramente pelos estudantes não é uma tarefa nova. No Brasil, o pedagogo francês Célestin Freinet (1896-1966) é bastante conhecido — nas pesquisas acadêmicas que abordam o tema, a citação do nome de Freinet é unânime, e com total justiça. No entanto, outros educadores também apostaram na imprensa escrita como meio de expressão dos jovens, obtendo resultados excelentes. Um deles foi o polonês Janusz Korczak (1878-1942), médico de formação, educador e responsável por um trabalho comovente com as crianças pobres da periferia de Varsóvia, capital da Polônia. Tanto Freinet quanto Korczak apostaram no jornal impresso como aliado indispensável no processo educacional,aplicando seus métodos de trabalho na Europa do início do século XX. Eles percebiam que as crianças e os adolescentes tinham necessidade de expressar suas idéias e, quando o faziam, apresentavam considerável melhora no rendimento escolar. A introdução do jornal impresso no âmbito das salas de aula foi a solução encontrada para dar vazão a essa criatividade dos alunos. Há, porém, mais coisas em comum entre estes dois educomunicadores. Korczak e Freinet, assim como os estudantes que os cercavam, foram afetados diretamente pelas duas grandes guerras que sacudiram o continente e o mundo na primeira metade do século passado. Ambos sentiram na pele os efeitos da 1a Guerra Mundial — estiveram nos campos de batalha, embora provavelmente não tenham se conhecido. Já a 2a Guerra marcou a execução trágica de Korczak. Polonês de origem judaica, foi assassinado nas câmaras de gás do campo de concentração de Treblinka pelos nazistas, ao lado de cerca de 200 crianças de que cuidava, muitas delas certamente autoras de reportagens de seus jornais escolares. Freinet morreu 21 anos após o fim da 2a Guerra, em 1966. A obra dos dois educadores, porém, é imortal. Chama a atenção o fato de que, no início do século passado, o processo de produção de jornais era consideravelmente mais complexo e trabalhoso do que nos dias atuais. Uma missão para verdadeiros abnegados. 16
O adjetivo abnegado ilustra bem o espírito de Célestin Baptistin Freinet (foto), natural de Gars, vilarejo localizado no sudoeste da França. Filho de uma família simples de agricultores, viveu até os 13 anos em sua terra natal, em contato direto com a natureza. Na adolescência, aos 16 anos, ingressou na Escola de Formação de Professores, em Nice. Permaneceu lá dois anos, até que, em 1914, com o início da 1a Guerra Mundial, foi convocado para o serviço militar e enviado para combate. Freinet lutou no front e, numa das batalhas, acabou atingido por gases tóxicos, o que lhe provocou uma séria lesão pulmonar.As seqüelas deste episódio comprometeriam sua saúde pelo resto da vida. Sua história na educação começou assim que retornou da guerra. Em 1920, foi nomeado professor-adjunto de uma classe rural na cidade de Bar-sur-Loup, no sul da França. Mesmo sem experiência no magistério, Freinet começou a fazer os primeiros experimentos de seu futuro modelo pedagógico. O contato com o campo e a liberdade de atuação dos estudantes eram,já naquela época, pilares de seu incipiente método de ensino. Ele notava que eram grandes as dificuldades de enquadrar os alunos ao rigor dos programas, dos horários e do confinamento dentro das salas. A rebeldia dos estudantes tornava-se flagrante principalmente nas atividades que envolviam imobilidade física. Segundo a professora Maria del Cioppo Elias, o pensamento de Freinet ganha força e nova consistência a partir da implantação da chamada Escola do Trabalho. O educador e seus alunos procuravam se integrar com os pais e artesãos locais, além de participarem ativamente de uma cooperativa encarregada de vender os produtos feitos na aldeia — tanto para o público interno como para o externo. Freinet também introduziu a imprensa na escola, que chamou a atenção da sociedade. A produção de jornais pelos estudantes tornaria-se um dos símbolos de sua pedagogia. Diz a autora: Em fins de 1924, introduz a imprensa na escola, a qual viria a trazer uma mudança de comportamento de professores e alunos, sendo considerada um novo instrumento (grifos da autora) pedagógico, de grande rendimento humano e escolar, despertando o interesse de eminentes pedagogos da época. Rompia-se, assim, o círculo do individualismo em que vivia o professor, o que lhe gerava insegurança; lançam-se as bases de um movimento pedagógico fortalecido,integrado e espontâneo,no qual todos participam de alguma forma, contribuindo para a produção de um conhecimento gerado a partir da experiência.2
2 ELIAS, Maria del Cioppo. Célestin Freinet: uma pedagogia de atividade e cooperação. Petrópolis, RJ:Vozes, 1997. p.26-27.
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A Pedagogia Freinet passou então, a ser comentada e conhecida, tendo como um de seus elementos não apenas o jornal impresso, mas também a confecção de revistas. Nas escolas que utilizam o método Freinet, até hoje os alunos produzem este tipo de material e promovem trocas de exemplares, num processo de correspondência estudantil que fortalece e incrementa a livre expressão. Há iniciativas deste tipo no Brasil, inclusive. Data de 1927 a criação da revista La Gerbe (ramalhete de flores), um dos principais símbolos da imprensa escolar. Dois anos depois, em 1929, nada menos do que 100 escolas contavam com jornais próprios e exercitavam o texto livre como mecanismo de aprendizado. Mas a situação de Freinet não era tão fácil como se pode imaginar. No final da década de 20, as dificuldades para se montar uma publicação escolar eram enormes e, além disso, o governo francês não entendia muito bem suas idéias. Freinet foi várias vezes questionado sobre a liberdade que queria proporcionar aos estudantes, mas jamais ficou desanimado. Pelo contrário: sempre buscava aprimorar seu método de ensino. Em 1939, o início da 2a Guerra Mundial trouxe sérias conseqüências para a vida de Freinet. O Partido Comunista foi proibido na França e ele, que sempre teve ligações com os ideais marxistas, acabou sendo perseguido e preso, acusado de ser um líder terrorista. Levado para o campo de concentração de Saint-Vichy-Maximim, permaneceu sob custódia até 1941. Durante este período,
Acima, capa do 1o exemplar de La Gerbe, publicado em abril de 1927 pelos alunos de Célestin Freinet 18
Página interna de outra edição de La Gerbe, esta de março de 1950. Estudantes faziam textos e gravuras
escreveu dois de seus livros — A Educação do Trabalho e Ensaio da Psicologia Sensível Aplicada à Educação. Com o fim da guerra, Freinet voltou a reivindicar a criação de um novo modelo de escola, voltado para o povo e marcado por uma nova arquitetura pedagógica. Em 1947, o educador criou o Instituto Cooperativo da Escola Moderna (ICEM),uma entidade pedagógica voltada à pesquisa,e dedicou-se a consolidar seu modelo de pedagogia infantil. Durante a década de 50, Freinet trabalhou para divulgar este modelo,ao mesmo tempo em que sua saúde começava a dar sinais de fraqueza — uma conseqüência dos ataques com gases sofridos ainda durante a 1a Guerra Mundial. Freinet morreu em 8 de outubro de 1966, deixando como legado um movimento pedagógico formado por 20 mil adeptos e uma cadeia de jornais com uma tiragem de 500 mil exemplares,distribuídos em mais de 20 países.Nos anos seguintes,seu método ganhou o nome de Pedagogia Freinet e se espalhou por todo o mundo, definindo como pilares o trabalho coletivo, realizado no meio em que se vive, e a livre expressão. Hoje, no Brasil, muitas escolas adotam a Pedagogia Freinet e milhares de professores dedicam-se a estudar seu método de ensino, seja em grupos ou em pesquisas acadêmicas. Especificamente sobre a produção de jornais dentro da escola, Freinet escreveu um pequeno livro, O Jornal Escolar, que pode ser considerado um verdadeiro manual sobre como a imprensa escrita deve fazer parte do cotidiano dos estudantes. Em um trecho da obra, traduzida e editada em Portugal,o pedagogo destaca a importância da livre expressão e conta como os alunos produzem seus textos. Vejamos o que escreveu Freinet: Nas nossas classes,a criança conta primeiro e,mais tarde,escreve livremente aquilo que sente necessidade de exprimir,de exteriorizar,de comunicar aos que com ela convivem ou aos seus correspondentes.Não escreve uma coisa qualquer. A ‘espontaneidade’ que tem sido tão discutida não deve ser para nós uma fórmula pedagógica. A criança exprime-se inserida num contexto que nos cabe tornar o mais educativo possível, com objectivos (sic) que devemos englobar nas nossas técnicas de vida.3
O pedagogo sempre sustentou que o texto livre seria o substituto natural da tradicional redação produzida dentro da sala de aula. Ele entendia que o texto livre tem como base intelectual o convívio dos alunos com o ambiente em que vivem, sendo, portanto, mais agradável de ser produzido do que as redações — cujos temas são normalmente definidos pelos professores. Esta liberdade de expressão assegurada pelo texto livre é também,na visão de Freinet,o elemento que motiva a produção do jornal escolar. Segundo ele, os tradicionais jornais 3
FREINET, Célestin. O Jornal Escolar. Lisboa: Editorial Estampa, 1974. p.21. 19
escolares não podem sequer ser chamados desta forma justamente por não oferecerem liberdade aos estudantes. Neste ponto, Freinet faz um comentário precioso e que deve ser levado em conta por todos aqueles que se interessam pelo tema: “Poderá dizer-se que, apesar de tudo, sempre houve jornais escolares, mais ou menos clandestinos, nos quais os alunos davam livre curso, se não à sua expressão espontânea, pelo menos aos seus ressentimentos contra as limitações e a autoridade da escola. Estes jornais não tinham evidentemente nada de escolares; eram mais precisamente antiescolares".4 Para Freinet, o jornal escolar deve ser produzido inteiramente pelas crianças, desde a confecção dos textos até o processo de montagem das páginas e a impressão. Na época em que concebeu seu método, Freinet implantou os equipamentos gráficos necessários para a execução desta tarefa. Vale ressaltar que, no início do século passado, o jornal era feito com tipos móveis (as letras que formavam as frases) e impresso em máquinas de manuseio complexo, para se dizer o mínimo. Os alunos das classes Freinet, porém, tinham acesso a todos estes equipamentos como parte do projeto de educação do trabalho proposto pelo pedagogo. Ao adotar o jornal com o principal elemento aglutinador de seu método de ensino, Freinet dedicou especial atenção à forma como ele seria produzido. Cada etapa de elaboração recebeu orientações detalhadas, que iam desde o melhor modo de montar as páginas até o uso das tintas para impressão. Sobre o formato das páginas, Freinet faz várias recomendações: Um texto é como um quadro. É preciso que o conjunto seja agradável e repousante. Para isso: — Os caracteres não devem ser excessivamente pequenos (o corpo 12 é o mais legível); um corpo 10 pode ser pequeno demais, difícil tanto para a leitura como para a composição; — Os títulos devem vir em maiúsculas; — O texto deve ser entrelinhado, deixando além disso um bom espaço em branco ao alto e embaixo da página; — Sendo possível, deve ter algumas ilustrações e desenhos, a preto ou a cores. Esta preocupação com a composição da página necessita, como se vê, de aplicação e prática. Mas é uma tarefa muito educativa. Dá às crianças o gosto artesanal pelo trabalho bem feito.5
4 5
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Ibid., p.18. Ibid., p.46.
Os mesmos detalhes eram definidos para o processo de impressão, que também deveria ser coordenado e realizado pelas crianças. Freinet orienta: O jornal deve ser bem impresso.A perfeição da tiragem é uma condição ‘sine qua non’ do êxito de um jornal, seja qual for, mesmo de um jornal escolar. O material que está actualmente (sic) ao alcance das escolas permite resultados muito satisfatórios que devemos exigir dos pequenos tipógrafos. Deve estabelecer-se como princípio e como regra que só se imprime um texto normalmente composto e sem erros; que a equipa (sic) deve funcionar com a maior aplicação, com uma boa tintagem e uma pressão uniforme.As máquinas automáticas param quando um incidente anormal compromete a tiragem.As crianças deverão parar quando o resultado não está a ser satisfatório.6
Como se pode ver,o pedagogo francês já demonstrava preocupação com os elementos gráficos do jornal impresso. Desde a forma da página até os signos que a compunham (títulos, texto, imagens), tudo deveria ser montado para proporcionar um resultado final visualmente agradável. Freinet compreendia que a produção do jornal era atraente justamente porque permitia aos jovens manusearem estes elementos livremente, exercitando a criatividade. Quem já teve a oportunidade de ver de perto algum exemplar da revista La Gerbe, principalmente os mais antigos, percebe claramente a preocupação com o resultado visual. Fica a pergunta: imagine o que faria Freinet hoje, se fosse vivo, tendo como ferramentas a informática, a internet e os modernos métodos de impressão? Além de Freinet, outro pedagogo que apostou com sucesso nos jornais escolares foi o polonês Janusz Korczak. Ambos tinham pontos em comum — apostavam na liberdade e no potencial das crianças — e enfrentaram sérias dificuldades para implantar as ações nas quais acreditavam.
Os alunos de Freinet participavam de todas as etapas de produção do jornal escolar. Na foto ao lado, estudantes manipulam tipos móveis. Esta técnica de montagem consistia na escolha de cada letra para a montagem das páginas – um trabalho artesanal e que exigia muita concentração e paciência 6
Ibid., p.45. 21
Nascido em Varsóvia, capital da Polônia, Janusz Korczak (foto) era filho de um conceituado advogado, Józef Goldszmit, e cresceu em uma família rica. Seu nome verdadeiro era Henryk Goldszmit (o pseudônimo Janusz Korczak foi retirado de um romance polonês lido durante a juventude).Avesso à disciplina escolar, passou a infância e a adolescência resistindo às normas da escola russa onde estudou. Foi também neste período que cultivou o hábito de ler as primeiras obras da literatura universal. O jovem Henryk sonhava ser escritor, mas, por insistência de seu pai, acabaria cursando medicina. Durante a adolescência, no entanto, a figura paterna de Józef Goldszmit tornou-se um marco para toda a sua vida. Uma doença mental levou o pai de Henryk a sucessivas internações, que consumiram todos os recursos financeiros da família. O filho teve de dar aulas particulares durante a juventude para garantir o sustento da casa. Isso o aproximou das dificuldades sociais, fazendo amadurecer seu senso de responsabilidade e sua preocupação com o bem-estar do próximo. Ao mesmo tempo em que lecionava, Henryk acalentava o desejo de se tornar escritor. Para isso, participou de vários concursos literários. Os primeiros trabalhos literários foram escritos ainda na escola, como Samóbojstwo (Suicídio),em 1895,e uma série de crônicas de humor em 1886.Em 1898,aos 20 anos, participou de uma competição literária com uma peça em quatro atos intitulada Któredy? (De que Modo?), a primeira assinada com o pseudônimo Janusz Korczak. Ainda em 1898, no mesmo ano em que iniciou os estudos universitários, Korczak perdeu o pai. Naquela época, acreditava-se piamente que as doenças mentais tinham motivação genética. Atento a isso, Korczak optou por não se casar, evitando constituir uma família e gerar filhos. A Faculdade de Medicina, cursada na Universidade de Varsóvia, foi concluída em 1905,mesmo ano em que Korczak foi mobilizado e seguiu para a Guerra Russo-Japonesa. Trabalhou em unidades de apoio aos combatentes feridos e enviou correspondência jornalística do front. Retornou da guerra e fez cursos de especialização em Berlim (1907) e Paris (1909), considerados os dois principais centros médicos da época na Europa. Paralelamente ao trabalho como médico, Korczak nutria profunda preocupação com a educação. Sempre teve grande interesse pela história do pensamento pedagógico. Ao mesmo tempo, preocupava-se com as injustiças sociais, com a falta de oportunidades aos mais pobres, com o abandono das crianças e com os métodos pouco democráticos de ensino vigentes. Estes métodos, aliás, eram freqüentemente questionados e até ridicularizados por Korczak em seus artigos. 22
Durante a especialização médica em Berlim, na qual cursou Pediatria, Korczak aumentou seu interesse pelo universo da criança.Em 1908,fez estágios na área em Paris, Londres e em cidades da Suíça, ao mesmo tempo em que publicava textos criticando a escola tradicional. Observava com atenção o funcionamento dos orfanatos europeus, que considerava arcaicos e semelhantes a prisões. Começava a amadurecer nele a idéia de criar uma estrutura completamente nova e revolucionária para o público infantil. Em 1910, de volta à Polônia, Korczak auxiliou na montagem de um orfanato em Varsóvia, em um prédio localizado na rua Krochmalna — habitada por judeus pobres da cidade. Os recursos para a compra do imóvel e a reforma foram obtidos junto aos membros mais ricos da comunidade judaica. Em 15 de abril de 1912,o orfanato Lar das Crianças foi oficialmente inaugurado.Em 1914, porém, a eclosão da 1a Guerra Mundial novamente o levou compulsoriamente aos campos de combate, onde chefiou um hospital de campo na Ucrânia. Ali, a presença de crianças com ferimentos provocados pela guerra exerceu sobre ele uma impressão marcante. Ao reassumir suas funções no Lar das Crianças, quatro anos depois, Korczak colocaria em prática todas as suas idéias para tornar-se nacionalmente conhecido. As crianças, naquele espaço, viviam em uma verdadeira república, organizada sob os princípios da justiça, da fraternidade, da igualdade de direitos e também de obrigações. Estes princípios deveriam estar conjugados com um método de ensino que agradasse aos alunos. E o jornal seria um dos instrumentos mais importantes para atingir esta finalidade. No livro Janusz Korczak, os autores Tadeusz Lewowicki, Helena Singer e Jayme Murahovschi mostram que o educador polonês, a exemplo de Célestin Freinet, não gostava dos métodos tradicionais de ensino da época: (Korczak) Criticava o ensino por meio de aulas expositivas, o divórcio entre os currículos escolares e a vida, bem como o excesso de relacionamentos formais entre professores e alunos. Ele reclamava a organização de escolas de que as crianças realmente gostassem, que oferecessem matérias interessantes e úteis e que promovessem relações educacionais harmoniosas. Destacou a necessidade de se criar um sistema de educação holístico, que promovesse a cooperação entre a escola, a família e as várias instituições sociais.7
Korczak fez mais. Ousou montar sua própria escola, que na verdade servia também como abrigo para as crianças — todas elas oriundas da periferia de Varsóvia. Com a ajuda financeira dos judeus ricos, Korczak promoveu uma 7 LEWOWICKI, Tadeusz; SINGER, Helena; MURAHOVSCHI, Jayme. Janusz Korczak. Perfil, Lições, O Bom Doutor. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), 1998. p.28.
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verdadeira revolução educacional, impressionante e ao mesmo tempo comovente. Batizado de Lar das Crianças, este espaço colocava em prática todos os ideais do educador. E eles não eram simples. O Lar das Crianças contava com um conjunto de instrumentos democráticos: o Parlamento (formado por 20 deputados eleitos entre as crianças); o Tribunal (em que todos, inclusive o próprio Korczak, estavam sujeitos à aplicação das leis); o Código Moral (caracterizado pela tolerância e que preconizava o perdão como estímulo para a criança se corrigir); o Conselho Jurídico (também formado pelas crianças e encarregado de formular as leis); o Plebiscito (através do qual todos se manifestavam sobre qualquer assunto); a Caixa de Poupança (que incluía uma caixa de empréstimos); a Cooperativa (que fornecia material escolar e de higiene); a Biblioteca (para empréstimo de livros); e finalmente o Jornal (o órgão oficial de informação da república infantil, no qual trabalhavam educadores e as crianças). Sobre os jornais, os autores comentam: A república ainda contava com dois jornais. O primeiro, chamado A Pequena Supervisão, era patrocinado por Korczak, que pagava às crianças por sua colaboração, sendo que além da participação dos membros do Lar, o jornal recebia ainda cartas de crianças de toda a Polônia. O jornal oficial, no entanto, era O Semanário, que trazia todos os acontecimentos importantes ocorridos durante a semana na república e colaborações de professores e alunos, sendo lido em uma sessão pública todos os sábados.8
A respeito do trabalho jornalístico desenvolvido ao lado das crianças, a pedagoga e professora universitária Liana Gottlieb9 detalha a iniciativa desenvolvida por Korczak. Liana conta que o jornal popular polonês Nasz Przeglad (Nossa Revista) possuía tiragem de 25 mil exemplares em 1920 e convidou Korczak para preparar uma edição infantil. Ele, então, criou o jornalzinho Maly Przeglad (Pequena Revista)10, ao qual se referem os autores no parágrafo anterior. A publicação tinha quatro páginas — nela só crianças escreviam para crianças. Os resultados foram positivos e repercutiram em todo o País. Como forma de estímulo, o próprio Korczak garantia uma remuneração aos jovens escritores cujos artigos eram publicados. Sobre esta experiência, a autora
Ibid., p.75. GOTTLIEB, Liana. O educomunicador Janusz Korczak. Artigo publicado na Revista IMES de Comunicação, São Caetano do Sul, n.3, p. 36-45, jul./dez., 2001. 10 Foram encontradas duas traduções para o jornal Maly Przeglad: a primeira, que nos parece mais adequada, é Pequena Revista, de Liana Gottlieb. Já no livro Janusz Korczak. Perfil, Lições, O Bom Doutor, o periódico é traduzido como Pequena Supervisão (p.75). 8 9
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comenta que chegavam trabalhos aos milhares, vindos de toda a Polônia. Korczak escolhia os melhores artigos e pagava os autores com seus próprios honorários. Seu programa de rádio, intitulado O velho doutor conversa com vocês, também despertava o interesse do público. Nele, eram contadas histórias com muito humor — uma característica da personalidade de Korczak. Liana Gottlieb destaca que esta inter-relação entre Comunicação e Educação, presente no modelo pedagógico de Korczak, faz dele um educomunicador pioneiro. Para Korczak, a comunicação sempre foi vista como parte integrante do processo educacional, na medida em que estabelece uma relação direta entre a escola e sua realidade exterior. Na visão do pedagogo polonês, a existência de um periódico produzido pelos próprios estudantes proporcionava um registro histórico da própria instituição, além de ser um veículo através do qual os alunos podiam se expressar sobre seus problemas internos ou eventuais novidades que considerassem interessantes.Vejamos o que o próprio Korczak escreveu: O jornal, cuja leitura é feita em voz alta, é o elemento de ligação entre uma semana e outra, como os elos de uma mesma corrente, que estreita os liames da solidariedade entre as crianças, os funcionários e os empregados. Cada nova iniciativa, cada reforma, cada problema que aparece, cada reclamação, encontra imediatamente o seu eco sob a forma de uma nota curta, de um pequeno artigo ou de um editorial.11
Levando-se em consideração que o modelo pedagógico de Korczak se encaixa dentro da proposta libertária — marcada pelo anti-autoritarismo e pela auto-gestão dos alunos — , a liberdade de expressão torna-se uma garantia inalienável oferecida às crianças no ato de escrever. E, através do jornal, o próprio educador tem diante de si um parâmetro para analisar sua conduta no processo educacional. Sobre isso, Korczak sustenta: O educador que deseja realmente compreender a criança precisa controlar sua própria conduta, e o jornal se torna um perfeito regulador de palavras e atos, porque é uma crônica viva dos erros que comete e dos esforços que faz para se corrigir. O jornal pode ajudá-lo também a se defender contra eventuais detratores, porque é tanto uma prova de suas capacidades quanto testemunho de suas atividades. Tudo isso faz dele um documento científico de grande valor. Os cursos de jornalismo pedagógico poderão talvez, num futuro próximo, ser inseridos no programa de ensino nas escolas para professores.12
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KORCZAK, Janusz. Como amar uma criança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p.331. Ibid., p.332. 25
O autor sempre reconheceu o jornal como um meio de comunicação capaz de proporcionar o registro histórico da realidade. Por isso, as páginas seriam o melhor refúgio para a descrição de todas as suas inovadoras experiências pedagógicas. E foi isso o que aconteceu. Ao mesmo tempo em que o Lar das Crianças contava com instituições democráticas como um Parlamento Infantil, um Tribunal encarregado de fazer julgamentos e um Conselho Jurídico no qual os internos elaboravam as leis da instituição, o jornal funcionava como o documento histórico encarregado de registrar todas as decisões tomadas por estas instâncias — mesmo quando o alvo era o próprio Korczak. O Lar das Crianças também contava com um jornal específico para o registro de todas as decisões jurídicas internas, a Gazeta do Tribunal. Nela, os julgamentos e sentenças eram publicados para o conhecimento de todos. Korczak, por exemplo, foi levado a julgamento várias vezes, e os motivos foram devidamente registrados. Na primeira vez, o pedagogo foi sentenciado por ter puxado as orelhas de um garoto. Na segunda vez, expulsou outro menino de um dormitório. Na terceira, ordenou que um interno se recolhesse a um canto do orfanato para refletir sobre atos supostamente errados. Um insulto a um juiz rendeu-lhe o quarto julgamento. Finalmente, Korczak retornou ao Tribunal como réu por ter suspeitado que uma menina tivesse roubado. Com a 2a Guerra Mundial e a perseguição dos judeus pelos nazistas,Korczak e seus órfãos tornaram-se vítimas do autoritarismo.Em 1942,a Gestapo ordenou a transferência do orfanato para uma casa pequena e suja,no gueto de Varsóvia. No dia 10 de agosto de 1942, Korczak ouviu a ordem de conduzir as crianças aos “trens da morte”, que levavam seus passageiros ao extermínio. Ele chegou a receber a proposta de um salvo-conduto caso executasse a tarefa. Disse não e caminhou com seus 200 órfãos até a composição, que conduziu o grupo para as câmaras de gás de Treblinka, onde todos morreram.
Na foto, o prédio que abrigou o Lar das Crianças, em Varsóvia. Escultura no jardim homenageia Janusz Korczak. Por causa de seu fim trágico, muito do material produzido pelo educador polonês e seus alunos — como os jornais — perdeu-se ou é de difícil localização 26
NO BRASIL Freinet e Korczak deixaram um rico legado no uso dos meios de comunicação dentro da sala de aula. Por isso, ambos são considerados educomunicadores pioneiros. No Brasil, o método idealizado por Freinet é mais conhecido do que as ações desenvolvidas por Korczak, mas nem por isso mais importante. Isso se deve, em grande parte, ao fato de a Pedagogia Freinet ser aplicada em várias escolas — e com ela as práticas rotineiras de produção de jornais e de trocas de exemplares entre as classes. Estas unidades de ensino e os professores que utilizam a Pedagogia Freinet executam um ciclo interessante. Os ideais de ação coletiva e educação para o trabalho são aplicados como base para a integração dos alunos e dão origem aos textos livres — que,por sua vez,alimentarão as páginas dos informativos.No caso de Janusz Korczak, prevalecem os estudos acadêmicos sobre sua atuação revolucionária no campo da Pedagogia. O material deixado pelos dois educomunicadores, porém, é de consulta obrigatória para quem pensa em trabalhar com a imprensa escolar. No caso de Freinet, as orientações podem ser analisadas como um verdadeiro manual, tamanha a riqueza de detalhes e de orientações. Korczak também oferece noções muito importantes para as práticas educomunicativas. Entre elas, está principalmente a forma de lidar com as crianças e a convicção de que elas são plenamente capazes de executar tarefas complexas e em grupo, desde que tratadas com atenção, respeito e garantia de liberdade. O Brasil conta com diversas iniciativas de produção de jornais escolares. Elas estão dispersas por todo o território e não há uma rede interligada que una as publicações, mas nem por isso deixam de ser originais — a ausência desta unificação, por outro lado, certamente é uma garantia de diversidade e criatividade. Há empresas privadas, ONGs, escolas, além de jornalistas e professores que atuam de maneira individual na criação destes informativos estudantis. Os resultados costumam ser bons e ajudam a consolidar a idéia de que a imprensa juvenil é um elemento que pode fazer parte da escola. Em muitas unidades de ensino brasileiras, o jornal escolar é uma conquista antiga e já tradicional, que faz parte da história da instituição.Casos como estes não são tão comuns, mas configuram uma espécie de modelo ideal de como a proposta poderia ser consolidada. Afinal, a existência de um informativo na escola cria um ambiente propício para as práticas educomunicativas: alunos, professores e pais sabem que a publicação existe e que continuará existindo mesmo após a passagem dos estudantes pelos ciclos tradicionais de ensino. O jornal, assim, passa a funcionar como um instrumento de comunicação e de liberdade de expressão permanente, inserido no contexto estudantil e que, gradativamente,ganha em autonomia,qualidade e tradição.É um companheiro que participa do desenvolvimento da escola e de seus alunos, proporcionando o registro de acontecimentos através das gerações. 27
Um pouco de teoria: a Educomunicação O breve relato das histórias de Célestin Freinet e Janusz Korczak certamente causa admiração.Afinal, poucas pessoas imaginam que na primeira metade do século XX,marcada por duas guerras que mudaram o mundo,já existiam jornais escolares feitos com tamanha abrangência, requinte e cercados de conceitos teóricos tão avançados.Apesar de todas as dificuldades enfrentadas — falta de tecnologia, de dinheiro e a descrença das autoridades — , um novo espaço de atuação estava sendo gestado. Uma análise mais aprofundada desta realidade desperta uma constatação e algumas perguntas. A constatação é de que estamos tratando de uma área de atuação que, se não é nova,como mostraram Freinet e Korczak,pelo menos não tem um nome conhecido que a conceitue ou sintetize. Poucas páginas atrás, vimos que Korczak chegou a utilizar a expressão jornalismo pedagógico para tentar definir este campo de estudos. Freinet, se não criou um nome específico, deixou textos que mostram claramente a existência e a importância desta zona de reflexão e de ações práticas. E ela existe. É a Educomunicação, citada várias vezes nas páginas anteriores e materializada cotidianamente através do trabalho dos educomunicadores, os profissionais — professores, jornalistas, pedagogos — que atuam nesta área. A terminologia é didática, fácil de ser compreendida e dotada de uma ligação natural e lógica com o espaço teórico que indica.A Educomunicação pode ser visualizada, grosso modo, através da imagem abaixo:
COMUNICAÇÃO Jornalistas, Publicitários
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EDUCOMUNICAÇÃO Educomunicadores
EDUCAÇÃO Professores, Pedagogos
A ilustração mostra um espaço de estudos localizado entre dois amplos campos de conhecimento — a Educação e a Comunicação. Esta inter-relação, porém, exige um recorte próprio e uma definição conceitual que a caracterize. Esta especificidade está amparada na tradição de práticas educomunicativas como as que foram mostradas no capítulo anterior e na capacidade de reflexão de pesquisadores que na maioria dos casos já atuam neste segmento, fazendo com que ele exista e pense a si mesmo. Hoje os estudos sobre Educomunicação são realizados principalmente pelo Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da ECA-USP — centro de pesquisa sobre o tema que reúne trabalhos de profissionais de todas as regiões do Brasil. O coordenador-geral do NCE,o professor doutor Ismar de Oliveira Soares,é uma referência no assunto tanto no Brasil como no exterior, além de um entusiasta dos estudos educomunicativos. A tese de que este novo campo vem ganhando espaço na sociedade foi defendida pelo NCE a partir de pesquisas realizadas desde sua fundação, em 1996. O mais importante destes trabalhos ocorreu entre 1997 e 1998, com a colaboração de pesquisadores brasileiros e sul-americanos. O objetivo do levantamento foi investigar a existência desta área e identificar as pessoas que nela atuavam. A pesquisa constituiu-se inicialmente de uma coleta de dados da qual participaram 1,2 mil especialistas inscritos no Diretório Latino-Americano de Pesquisadores e Especialistas em Comunicação e Educação, entre eles profissionais de educação, de comunicação, pesquisadores, arte-educadores e tecnólogos. Posteriormente, a amostragem final da pesquisa incluiu 178 especialistas que efetivamente responderam ao questionário que lhes foi
O Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da ECA-USP (www.usp.br/nce) é uma espécie de pólo aglutinador dos estudos sobre Educomunicação no Brasil. Coordenado pelo prof. Ismar de Oliveira Soares, oferece textos e indicações de leitura para os interessados em saber mais sobre o assunto 29
enviado. Deste total, 67,61% eram brasileiros e 32,29%, latino-americanos e espanhóis. O resultado da pesquisa foi apresentado pelo professor Ismar Soares em 1999, durante um congresso de pesquisadores da área de Comunicação, a INTERCOM,realizado no Rio de Janeiro. A argumentação apresenta a síntese do levantamento e constata a existência deste novo espaço teórico e prático de estudos. Leiamos: A pesquisa partiu da evidência de que transformações profundas vêm ocorrendo no campo da constituição das ciências, em especial as humanas, levando a uma derrubada de fronteiras, de limites, de autonomias e de especificações. Ao seu final, a investigação concluiu que efetivamente um novo campo do saber mostra indícios de sua existência, e que já pensa a si mesmo, produzindo uma meta-linguagem, elemento essencial para sua identificação como objeto autônomo de conhecimento: o campo da inter-relação Comunicação/Educação.13
Com isso, Soares define Educomunicação como: O conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais, tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádio educativos, centros produtores de materiais educativos analógicos e digitais,centros coordenadores de educação a distância ou “elearning”, e outros...14
Além de identificar a existência deste campo de estudos,a investigação feita pelo NCE também comprovou a presença de um natural espaço de trabalho que vinha sendo ocupado, em toda a América Latina, pela figura de um novo profissional, que passou a ser denominado educomunicador. Ismar Soares afirma que este profissional “atuará como assessor e coordenador de projetos em áreas como a gestão da comunicação e da informação em espaços educativos, no uso educativo das tecnologias e em atividades voltadas para a ‘educação para a comunicação’”.15 A pesquisa também traçou o perfil deste profissional emergente e atuante, classificando-o de maneira geral como maduro (entre 40 e 50 anos de idade), com formação universitária (predominando os pós-graduados) e dedicado preferencialmente (e às vezes simultaneamente) a seis grandes sub-áreas:
13 SOARES,Ismar de Oliveira.Comunicação/Educação: emergência de um novo campo e o perfil de seus profissionais. Contato. Revista Brasileira de Comunicação,Arte e Educação, no 2. Brasília, Senado Federal, 1999. 14 Idem. Metodologias da educação para comunicação e gestão comunicativa no Brasil e na América Latina. in Baccega, Maria Aparecida (org.), Gestão de Processos Comunicacionais. São Paulo: Atlas, 2002. p.115. 15 Ibid., p.115.
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pesquisa, educação para a comunicação, mediação tecnológica na educação, gestão da comunicação no espaço educativo, produção cultural e uso dos meios na educação para a cidadania. Apesar desta definição atual, a pesquisa também voltou suas atenções para os educadores que atuaram como precursores desta nova área de conhecimento. O já citado Célestin Freinet foi um deles. Janusz Korczak não teve seu nome lembrado pelos entrevistados,mas nem por isso deixa de ser um educomunicador pioneiro. Outras menções foram para o brasileiro Paulo Freire (1925-1997) e para o argentino Mário Kaplún (1923-1998),colega de Freire e que trabalhou com o rádio e a televisão numa perspectiva educomunicativa,ao lado de comunidades operárias e camponesas na América Latina. A obra de Paulo Freire, por sinal, oferece respostas dignas de registro para quem busca informações sobre a presença dos meios de comunicação na sala de aula. Embora não tenha sido um educomunicador prático, Freire fez reflexões valiosas sobre a necessidade do diálogo e do estímulo à criatividade do estudante — pilares sobre os quais se sustentam as ações educomunicativas. Esta relação horizontal no ensino é defendida por Freire em oposição à chamada educação “bancária” ou “autoritária”, em que os estudantes se transformam em meros depósitos de “comunicados” e reduzem seu potencial criativo, inviabilizando a troca de experiências construtivas. A concepção bancária nega o caráter dialógico — e vital — do processo comunicativo. Observemos o que afirma Freire: (...) o pensar do educador somente ganha autenticidade na autenticidade do pensar dos educandos,mediatizados ambos pela realidade,portanto,na intercomunicação.Por isto, o pensar daquele não pode ser um pensar para estes nem a estes imposto. Daí que não deva ser um pensar no isolamento,na torre de marfim,mas na e pela comunicação, em torno, repitamos, de uma realidade. E, se o pensar só assim tem sentido, se tem sua fonte geradora na ação sobre o mundo, o qual mediatiza as consciências em comunicação, não será possível a superposição dos homens aos homens.16
Poderíamos apresentar várias outras citações de Paulo Freire, de Célestin Freinet, de Janusz Korczak e de educadores que enxergaram o valor dos meios de comunicação no âmbito escolar. Elas existem em grande número e nos convidam a pensar cada vez mais sobre o assunto. No entanto, este livreto não tem a pretensão de oferecer um referencial teórico completo sobre Educomunicação, muito menos sintetizar o trabalho magnífico e extenso dos principais educomunicadores. O objetivo é apenas mostrar que a presença da comunicação na sala de aula possui um referencial 16
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. p.64. 31
teórico importante e que aumenta a cada dia, na medida em que novas pesquisas e ações são realizadas. Fica a pergunta, que pode estar sendo feita pelo leitor neste momento: fazer um jornal escolar é uma ação educomunicativa? Claro que sim,desde que sejam respeitados alguns parâmetros. Freinet e Korczak mostram que a liberdade de expressão dos alunos é um fator fundamental na produção de um jornal escolar — assim como deve ser na montagem de uma estação de rádio ou de uma emissora de TV na escola, por exemplo. Esta liberdade de expressão, no entanto, não deve ser confundida com uma permissão para se fazer o que quiser.É preciso estar atento às leis e às regras do regime democrático,bem como às normas que guiam a produção e divulgação da informação. O estudo destes temas, ainda que em um estágio básico, auxilia os estudantes a compreenderem melhor a noção de cidadania. Da mesma maneira, um jornal escolar (ou uma rádio, ou ainda uma TV dos alunos) não deve ter caráter comercial, religioso, ideológico ou político — o que desvirtuaria de forma deprimente a essência da iniciativa. Todas as ações realizadas nesta área mostram que a liberdade dos estudantes é o ponto a partir do qual o projeto ganha em qualidade. Por outro lado, qualquer tentativa de imposição ou cerceamento tornam a ação vazia, estéril. Recorrendo mais uma vez ao valioso referencial teórico que baliza a Educomunicação, existe uma definição para a formação deste ambiente saudável, que permite aos jovens despertarem toda a sua criatividade — são os chamados ecossistemas comunicativos. Quando se implanta um ecossistema comunicativo, os meios de comunicação se democratizam de forma plena, irradiando um sentimento coletivo de cidadania, capaz de atingir também professores, pais e jornalistas que cercam o processo. Segundo Ismar Soares, os ecossistemas comunicativos designam: A organização do ambiente, a disponibilização dos recursos, o modus faciendi dos sujeitos envolvidos e o conjunto das ações que caracterizam determinado tipo de ação comunicacional. No caso, a família, a comunidade educativa, um centro cultural, ou mesmo uma emissora de rádio ou TV podem criar, respectivamente, diferentes tipos de ecossistemas comunicacionais, envolvendo seus participantes e suas audiências, convertendo-se em objeto de planejamento e acompanhamento.17
Em outras palavras, criar um ecossistema comunicativo significa assegurar um ambiente em que os jovens se apoderem dos recursos comunicacionais do jornal, do rádio ou da televisão, tendo todo o apoio — técnico, financeiro e de infra-estrutura — para produzir seus próprios informativos. 17
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SOARES, Ismar de Oliveira, 2002, p.254.
A compreensão teórica do conceito de ecossistema comunicativo é importante para que se tenha noção dos desafios que cercam as produções desta natureza. Trata-se,sem dúvida,de uma meta cuja concretização demanda organização e trabalho. No entanto, os resultados práticos invariavelmente acabam sendo compensadores. Os ecossistemas comunicativos se estabelecem, por exemplo, a partir do momento em que os alunos envolvidos em programas desta natureza ultrapassam o patamar da análise crítica dos meios de comunicação e passam, eles próprios, a criar seus próprios projetos (jornais impressos, programas de rádio,de televisão ou internet),relacionando-se de forma democrática e cidadã com a comunidade onde vivem. Sobre o desenvolvimento de ações educomunicativas, o professor Adilson Citelli faz comentários pertinentes. Segundo ele, a parceria entre os meios de comunicação e a educação é uma conseqüência quase inevitável do progresso científico18. O desenvolvimento dos meios de informação, com as tecnologias digitais, reduziu distâncias e integrou diferentes segmentos da sociedade, passando a exercer influência decisiva em cada um deles. E a educação não poderia escapar deste processo. Segundo Citelli,é preciso reconhecer que os fluxos comunicativos presentes no século XXI e as práticas pedagógicas escolares passaram a ter, neste momento histórico, uma enorme aproximação. “Não perdemos a perspectiva segundo a qual as instituições comunicacionais e escolares tornaram-se lugares interdiscursivos que operam diálogos entre si,independentemente das possíveis assimetrias e desigualdades em suas condições de força”.19 Esta aproximação entre a escola e os meios de comunicação tem como um de seus pilares a capacidade motivadora das práticas educomunicativas. O manuseio dos meios de comunicação pelos estudantes é uma experiência atraente a ponto de superar as assimetrias a que se refere Citelli. As cores, o formato, o som e a relação próxima que os jovens estabelecem com o mundo exterior através dos meios de comunicação são elementos que tornam as ações educomunicativas muito bem-vindas e agradáveis. No caso específico do jornal impresso, trabalhar com os elementos visuais que o integram (fotografias, títulos, legendas e texto) é uma tarefa instigante. Um dos estudiosos que se dedicou a analisar a importância dos meios de comunicação a partir de seu formato foi Marshall McLuhan.Ele sustenta que os meios de comunicação estimulam os sentidos e prendem a atenção das pessoas através destes mesmos sentidos,chegando a modificar a capacidade de apreensão do todo. 18 19
CITELLI,Adilson Odair. Comunicação e educação. São Paulo: Editora Senac, 2000. p.136-137. Ibid., p.143. 33
A célebre frase segundo a qual “o meio é a mensagem” sintetiza bem o pensamento de McLuhan: para ele,o poder sedutor dos meios de comunicação é forte o suficiente para determinar a própria compreensão da mensagem. A respeito disso e principalmente sobre a página impressa, McLuhan nos oferece uma reflexão extremamente pertinente: A página impressa constitui em si mesma uma forma altamente especializada (e espacializada) de comunicação. Em 1.500 d.C. era revolucionária. E Erasmo foi talvez o primeiro a compreender o fato de que a revolução iria ocorrer sobretudo na sala de aula (...). Hoje em dia, quando o compêndio deu lugar ao projeto de aula e à sala de aula como oficina de trabalho social e discussão em grupo,torna-se mais fácil para nós examinarmos o que sucedia em 1500. Sabemos hoje que a mudança para o visual de um lado,isto é,para a fotografia,e para os meios auditivos de rádio e de alto-falantes de outro, criou uma ambiência totalmente nova para o processo educacional.20
Atualmente, os meios de comunicação continuam fascinando as pessoas por este formato, mas ganharam um aliado poderoso — a modernização tecnológica. A globalização conferiu ao jornal, ao rádio, à televisão e à internet um papel ainda mais importante na sociedade do que aquele que vinha sendo desempenhado até então. É uma constatação: os meios de comunicação se inseriram de forma irreversível no cotidiano das pessoas. E esta revolução também acontece na escola. Como imaginar que, em pleno século XXI, uma criança e um adolescente consigam ficar presos apenas ao tradicional livro escolar, sobretudo diante da internet e de todas as facilidades de pesquisa proporcionadas por ela? Até meados dos anos 90, a escola tradicional vivia em uma espécie de redoma de informações, em que o professor e a biblioteca concentravam o conhecimento existente. Os computadores eram praticamente inexistentes. Atualmente, este quadro sofreu uma transformação completa. O aluno não é mais um espectador passivo dentro da sala de aula. Ele, assim como qualquer internauta, possui a capacidade de escolher os assuntos sobre os quais vai ler e pesquisar. Isso não significa, evidentemente, que o papel secular do professor e do livro impresso chegou ao fim. Pelo contrário. Cabe ao professor apenas reciclar-se e aprender mais sobre este fascinante processo de interatividade. O uso destas novas ferramentas é uma tarefa prazerosa, produtiva e que facilita a construção do conhecimento.
20 McLUHAN, Marshall. Visão, Som e Fúria. in Luiz Costa Lima (org.),Teoria da Cultura de Massa. São Paulo: Paz e Terra,2000.Nesta afirmação,McLuhan comenta a criação da imprensa por Gutemberg,em 1500,e mostra seu entusiasmo com o formato da página impressa. O Erasmo a que McLuhan se refere é o filósofo holandês Erasmus Desiderius (1466-1536), o Erasmo de Roterdã. Considerado um dos maiores intelectuais europeus de sua época, Erasmo escreveu obras que ajudaram a modernizar a educação no continente.
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Como fazer na prática Depois de vermos que a presença do jornal na escola possui uma rica tradição histórica e de estudarmos um pouco do referencial teórico que cerca esta iniciativa, chegou a hora de partir para a prática. Afinal, de nada adianta saber que Freinet e Korczak produziram jornaizinhos com seus alunos, ou que a Educomunicação estuda atualmente a inter-relação entre Comunicação e Educação, sem que alguma ação prática saia do papel. E ela precisa sair, no formato de um jornal tecnicamente muito bem feito. Neste ponto,contamos com uma vantagem histórica: vivemos no século XXI, marcado por uma série de inovações tecnológicas que facilitam a vida das pessoas em todos os sentidos — inclusive na tarefa de montar jornais. Só como comparação, no livro O Jornal Escolar o autor Célestin Freinet dedica boa parte das páginas aos ensinamentos de como montar e imprimir os informativos estudantis. Naquela época, a tecnologia empregada era bem mais arcaica e, portanto,mais difícil de ser colocada em prática.Hoje as coisas estão bem mais fáceis, e isso acaba sendo também uma responsabilidade a mais para quem abraça este tipo de projeto. Nos dias atuais, os computadores e os softwares (programas) de montagem de páginas agilizam o trabalho de quem lida com comunicação. Na época de Freinet e Korczak, por exemplo, a ausência de equipamentos desta natureza exigia mais tempo e esforço para a realização das duas primeiras fases do processo. Tanto a preparação dos textos e fotos (1a fase) como a montagem das páginas (2a fase) tinham de ser feitas manualmente. As letras que compunham as páginas do jornal eram de chumbo e precisavam ser escolhidas e montadas uma a uma, num procedimento muito difícil e demorado. Hoje a presença da informática permite que essas mesmas duas fases do processo sejam realizadas praticamente de forma simultânea, com o apoio do computador. A presença do educomunicador e a existência de um ambiente propício tornam as tarefas altamente interessantes e didáticas,uma vez que boa parte das crianças e adolescentes tem acesso a computadores nas escolas ou mesmo em casa. A informática pode ser analisada como uma ferramenta que facilita e dinamiza o processo. Um comentário,porém,tem de ser feito neste momento. Não se deve dar aos computadores, por mais modernos que sejam ou que venham a ser, um status que eles não possuem. A informática é apenas uma ferramenta que facilita ações e processos, permitindo que o talento humano possa ser expressado e potencializado. Sem a inteligência,a criatividade,a sensibilidade e a riquíssima herança cultural da natureza humana, os computadores nada podem fazer. Essas duas fases de trabalho (a terceira e última é a impressão do jornal) são 35
importantíssimas e, integradas pelo computador, ganham em precisão. Isso permite que se poupe tempo e, ao mesmo tempo, que o jornal escolar tenha um aspecto estético mais agradável, bem próximo da qualidade dos jornais profissionais. Para executar essas duas fases, é preciso conhecer os diversos elementos gráficos que fazem parte de um jornal, seus nomes e funções. Eles são descritos a seguir em uma ordem encadeada de produção,em alguns casos com exemplos visuais ao lado. Vejamos:
PÁGINA É cada uma das folhas do jornal. Elas devem ser numeradas em seqüência a partir da número 2, seguindo assim até o final. O tamanho da página determina o formato do jornal. FORMATO DO JORNAL É definido pelo tamanho da página.Há vários formatos de jornais pelo mundo afora. No Brasil, basicamente existem três — standard, germânico e tablóide. STANDARD Tradicional e bem conhecido no Brasil, utilizado pelos maiores jornais do País, como O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e O Globo. Sua medida padrão é de 54 centímetros de altura por 31 centímetros de largura,com 1 centímetro de margem em cada um dos quatro lados. Estas medidas têm pequenas variações conforme os equipamentos de impressão utilizados. A página é dividida em 6 colunas verticais. Este formato não é recomendado para a produção de jornais escolares, por ser de manuseio difícil. Em âmbito profissional e comercial, porém, é consagrado no Brasil. TABLÓIDE É um jornal standard dobrado ao meio no eixo vertical — 27 centímetros de largura por 31 centímetros de altura, com 1 centímetro em cada uma das margens. As medidas, como no caso anterior, podem ter variações. É usado comumente em suplementos de jornais tradicionais. A página é dividida em 4 colunas verticais. Ótimo para o uso no âmbito escolar. É fácil de ser folheado. 36
GERMÂNICO Assim como o formato tablóide, é recomendado para o uso escolar. Tem 27,5 centímetros de largura por 41,5 centímetros de altura, com 1 centímetro de margens. É um pouco mais comprido que o tablóide e, por esse motivo, proporciona mais espaço para as reportagens e fotografias.Costuma ser dividido em 5 colunas verticais. É bastante utilizado por jornais profissionais na região Sul do Brasil, assim como em vários países europeus. Também é fácil de manusear. MANCHA É o espaço útil da página (representado pela área cinza nos exemplos anteriores). A definição das medidas da página, das margens e da mancha deve ser obtida na gráfica que fará a impressão,antes de se projetar o jornal. Cada equipamento de impressão possui características próprias e um ajuste específico. Por isso, apesar de os formatos das páginas serem pré-definidos, existem sempre variações de alguns centímetros a mais ou a menos — que devem ser respeitadas com rigor, para que se evitem problemas na impressão. FIO-DATA É uma espécie de cabeçalho colocado no alto de todas as páginas, a partir da número 2. Deve trazer informações básicas, como o nome do jornal,o número da página e a data da publicação.No exemplo abaixo, note que o fio-data é inserido dentro da mancha da página, ou seja, já faz parte de seu espaço útil. Março/2006
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TÍTULO Um dos principais elementos gráficos da página impressa. Tem como objetivo resumir o conteúdo da reportagem de forma atraente e chamativa. Precisa fisgar o leitor rapidamente para ser útil. Deve ser curto, escrito na ordem direta, com poucas palavras e causar impacto. O uso do verbo é importante — sempre no tempo presente. Março/2006
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LINHA-FINA Apesar de ser usado mais em publicações profissionais, este é um recurso relativamente simples de ser executado e que dá sofisticação à página. Numa frase direta (uma linha de texto), é preciso aproveitar o impacto do título, complementá-lo e oferecer ao leitor informações atraentes que estejam no texto. O conjunto (título e linha-fina, no modelo abaixo) deve desenvolver uma idéia. Março/2006
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Jovens aprendem a fazer jornal Em oficina com educomunicador, estudantes aprendem todas as técnicas e exercitam a criatividade
CRÉDITO É o nome do autor da reportagem ou da fotografia. Nas matérias, vem logo no começo do texto (Eduardo Nascimento, no exemplo ao lado).Geralmente aparece sublinhado.Nos boxes (ver página 39),é feito apenas com as iniciais. Já nas Março/2006 FO fotografias, o crédito deve ser colocado no canto alto da foto, à direita. Os nomes dos autores de textos e imagens devem sempre ser completos. Em oficina com educomunicador, estudante Evite apelidos.
Jovens aprend EDUARDO NASCIMENTO
CAPITULAR Recurso usado em revistas e jornais. Consiste em destacar, em tamanho maior, a primeira letra da matéria (exemplo ao lado). COLUNAS Dividem a página na escala vertical (ver formato, página 36) e servem como guia para a montagem dos elementos gráficos. Todas as figuras usadas neste livreto conservam a marcação das colunas para que se observe sua importância (também no exemplo ao lado). 38
s alunos da escola Miguel de Cervantes participaram de uma experiência diferente ontem de manhã.Uma oficina comandada pelo jornalista e educomunicador Marco Aurélio Sobreiro ensinou os jovens a montarem seu próprio jornal. A publicação já tem data para sair — será no dia 20 de março. Os estudantes foram divididos em duplas: um repórter e um fotógrafo.Eles aprenderam o que é uma pauta, como elaborar um roteiro de entrevista e deram suas próprias sugestões de reportagens. Cada dupla conversou por cerca de 5 minutos com Sobreiro,que tirou dúvidas e deu orientações sobre como fazer uma boa matéria. “Os alunos têm muita criatividade e uma disposição incrível para produzir reportagens que ajudem a comunidade onde vivem”, comentou Sobreiro. O jornal da escola Miguel de Cervantes se chamará Dom Quixote, em homenagem ao famoso personagem criado pelo autor espanhol. Uma das reportagens propostas pelos estudantes aliás diz
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Alunos conversaram com o educomunicador fazer uma matéria que mostre toda a importância do livro. “Vamos entrevistar uma professora de Literatura e também iremos às ruas perguntar para as pessoas se elas sabem quem foi
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a fazer jornal as as técnicas e exercitam a criatividade JOSÉ DA SILVA
Trabalho estimula a criatividade
am as dúvidas sobre as reportagens uma menina. Por isso, queremos mostrar a todos, através da nossa reportagem, como isso pode ser evitado”, afirmou Carolina. Para fazer o texto, elas ouvirão médicos ginecologistas e relatos de garotas que tiveram filhos antes de completar 18 anos de idade.
A produção de jornais escolares estimula a criatividade dos alunos e ajuda os jovens a compreenderem melhor as noções de democracia e liberdade de expressão. Afinal, estes são dois pilares da produção de textos jornalísticos e acabam sendo exercitados na prática pelos adolescentes. Quando são estimulados a elaborar as pautas (ou sugestões de reportagem),os estudantes recebem as orientações sobre o que é liberdade de expressão e podem apontar o que querem fazer. As idéias são as mais variadas possíveis — muitas delas interessantes a ponto de fazerem parte até mesmo de publicações profissionais. “Sempre que participo de oficinas deste tipo, fico impressionado com a criatividade dos estudantes”, comentou Marco Aurélio Sobreiro. (E.N.)
BOX É uma matéria que complementa o texto principal. Na página, é montado com um fundo cinza (chamado de grisê) ou cercado por um fio. No exemplo ao lado, observe que o texto do box é um pouco mais estreito que a coluna. Ainda na imagem à esquerda, é possível notar a presença de dois créditos: o da fotografia (José da Silva) e do próprio box, este último apenas com as iniciais do autor (no caso, E.N.). NEGRITO/CLARO Um recurso utilizado para diferenciar os títulos é o negrito (ou bold), em oposição ao claro. O itálico (letra inclinada para direita) também é utilizado nos jornais. Seu uso é comum em legendas e linhas-finas. Nos textos, é usado para grafar apelidos ou termos curiosos — explicados em seguida.
FOTOGRAFIA E LEGENDA As fotos são um elemento vital em qualquer publicação. Funcionam como uma janela através da qual o leitor entra na matéria. Ainda que necessite de técnica para ser feita, a fotografia é, na essência,produto da sensibilidade da pessoa.Vale lembrar que a foto é uma c mensagem contínua, ou seja, não precisa de códigos para ser compreendida. Até por isso, a legenda não deve repetir o que a imagem já mostra. A legenda Alunos conversaram com o educomunicador Marco Aurélio Sobreiro e tiraram as dúvidas sobre as reportagens deve contextualizar a foto e, no aspecto gráfico, preencher todo o seu tamanho (em colunas). JOSÉ DA SILVA
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fazer uma matéria que mostre toda a importância do livro. “Vamos entrevistar uma professora de Literatura e também iremos às ruas perguntar para as pessoas se elas sabem quem foi Cervantes, que dá nome à nossa escola”,comentaram os dois alunos após a oficina.
Outra proposta de reportagem, elaborada pelas colegas Marisa e Carolina, visa alertar as garotas sobre a questão da gravidez na adolescência.Ambas têm 16 anos e conhecem amigas que já tiveram problemas por causa disso.“Uma gravidez fora de hora muda completamente a vida de
uma menina. Por isso, queremos mostrar a todos, através da nossa reportagem, como isso pode ser evitado”, afirmou Carolina. Para fazer o texto, elas ouvirão médicos ginecologistas e relatos de garotas que tiveram filhos antes de completar 18 anos de idade.
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Jovens aprendem a fazer jornal Em oficina com educomunicador, estudantes aprendem todas as técnicas e exercitam a criatividade JOSÉ DA SILVA
EDUARDO NASCIMENTO s alunos da escola Miguel de Cervantes participaram de uma experiência diferente ontem de manhã.Uma oficina comandada pelo jornalista e educomunicador Marco Aurélio Sobreiro ensinou os jovens a montarem seu próprio jornal. A publicação já tem data para sair — será no dia 20 de março. Os estudantes foram divididos em duplas: um repórter e um fotógrafo.Eles aprenderam o que é uma pauta, como elaborar um roteiro de entrevista e deram suas próprias sugestões de reportagens. Cada dupla conversou por cerca de 5 minutos com Sobreiro,que tirou dúvidas e deu orientações sobre como fazer uma boa matéria. “Os alunos têm muita criatividade e uma disposição incrível para produzir reportagens que ajudem a comunidade onde vivem”, comentou Sobreiro. O jornal da escola Miguel de Cervantes se chamará Dom Quixote, em homenagem ao famoso personagem criado pelo autor espanhol. Uma das reportagens propostas pelos estudantes, aliás, diz respeito justamente à clássica obra de Cervantes. Os alunos Daniel e Carlos Eduardo querem
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Alunos conversaram com o educomunicador Marco Aurélio Sobreiro e tiraram as dúvidas sobre as reportagens fazer uma matéria que mostre toda a importância do livro. “Vamos entrevistar uma professora de Literatura e também iremos às ruas perguntar para as pessoas se elas sabem quem foi Cervantes, que dá nome à nossa escola”,comentaram os dois alunos após a oficina.
Outra proposta de reportagem, elaborada pelas colegas Marisa e Carolina, visa alertar as garotas sobre a questão da gravidez na adolescência.Ambas têm 16 anos e conhecem amigas que já tiveram problemas por causa disso.“Uma gravidez fora de hora muda completamente a vida de
Leitura de notícias esportivas atrai mais a atenção do jovem ROSANA FERREIRA eis alunos da escola Miguel de Cervantes participaram de uma experiência diferente ontem de manhã.Uma oficina comandada pelo jornalista e educomunicador Marco Aurélio Sobreiro ensinou os jovens a montarem seu próprio jornal. A publicação já tem data para sair — será no dia 20 de março. Os estudantes foram divididos em duplas: um repórter e um fotógrafo.Eles aprenderam o que é uma pauta, como elaborar um roteiro de entrevista e deram suas próprias sugestões de reportagens. Cada dupla conversou por cerca de 5 minutos com Sobreiro,que tirou dúvidas e deu orientações sobre como fazer uma boa matéria. “Os alunos têm muita criatividade e uma disposição incrível para produzir reportagens que ajudem a comunidade onde vivem”, comentou Sobreiro. O jornal da escola Miguel de Cervantes se chamará Dom Quixote, em homenagem ao famoso personagem criado pelo
uma menina. Por isso, queremos mostrar a todos, através da nossa reportagem, como isso pode ser evitado”, afirmou Carolina. Para fazer o texto, elas ouvirão médicos ginecologistas e relatos de garotas que tiveram filhos antes de completar 18 anos de idade.
Páginas são elaboradas e montadas no computador ANTONIO FEITOSA s alunos da escola Miguel de Cervantes participaram de uma experiência diferente ontem. Uma oficina comandada pelo jornalista e educomunicador Marco Aurélio Sobreiro ensinou os jovens a montarem seu próprio jornal. A publicação já tem data para sair — será no dia 20 de março. Os estudantes foram divididos em duplas: um repórter e um fotógrafo. Eles aprenderam o que é uma pauta, como elaborar um roteiro de entrevista e deram suas próprias sugestões de reportagens. Cada dupla conversou por cerca de 5 minutos com Sobreiro,que tirou dúvidas e deu orientações sobre como fazer uma boa reportagem. “Os alunos têm muita criatividade e uma disposição incrível de produzi reportagens que ajudem a comunidade onde vivem”,comentou Sobreiro.O jornal da escola Miguel de Cervantes se chamada “Dom Quixote”, em homenagem ao famoso personagem criado por Cervantes. Uma das reportagens propos-
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Com o jornal em mãos, jovens dão preferência às notícias de esporte autor espanhol. Uma das reportagens propostas pelos estudantes,aliás,diz respeito justamente à clássica obra de Cervantes. Os alunos Daniel e Carlos Eduardo querem fazer uma matéria que mostre toda a importância do livro. “Vamos entrevistar uma professora de Literatura e também iremos às ruas perguntar para as pessoas se elas sabem quem foi
Cervantes, que dá nome à nossa escola”, comentaram os dois alunos após a oficina. Outra proposta de reportagem, elaborada pelas colegas Marisa e Carolina, visa alertar as garotas sobre a questão da gravidez na adolescência.Ambas têm 16 anos e conhecem amigas que já tiveram problemas por causa disso.O tema será abordado com a ajuda de um médico.
A produção de jornais escolares estimula a criatividade dos alunos e ajuda os jovens a compreenderem melhor as noções de democracia e liberdade de expressão. Afinal, estes são dois pilares da produção de textos jornalísticos e acabam sendo exercitados na prática pelos adolescentes. Quando são estimulados a elaborar as pautas (ou sugestões de reportagem),os estudantes recebem as orientações sobre o que é liberdade de expressão e podem apontar o que querem fazer. As idéias são as mais variadas possíveis — muitas delas interessantes a ponto de fazerem parte até mesmo de publicações profissionais. “Sempre que participo de oficinas deste tipo, fico impressionado com a criatividade dos estudantes”, comentou Marco Aurélio Sobreiro. (E.N.)
tas pelos estudantes,aliás,diz respeito justamente à clássica obra de Cervantes. Os alunos Daniel e Carlos Eduardo querem fazer uma matéria que mostre toda a importância do livro Dom Quixote.“Vamos entrevistar uma professora de Literatura e também iremos às ruas perguntar para as pessoas se elas sabem quem foi Cervantes, que dá nome à nossa escola”, comentaram os dois alunos. Outra proposta de reportagem, elaborada pelas colegas Marisa e Carolina, visa alertar as garotas sobre a questão da gravidez na adolescências. Ambas têm 16 anos e conhecem amigas que já tiveram problemas por causa disso. “Uma gravidez fora de hora muda completamente a vida de uma menina. Por isso, queremos mostrar a todos como isso pode ser evitado”, afirmou Carolina. Para fazer o texto, elas ouvirão médicos ginecologistas e relatos de garotas que tiveram filhos antes de completar 18 anos de idade. Para fazer o texto, elas ouvirão médicos ginecologistas e relatos de garotas que tiveram filhos antes de completar 18 anos de idade.
DIAGRAMAÇÃO É a disposição dos elementos na página de maneira harmoniosa. Não se pretende abordar um tema tão amplo e complexo em poucas palavras,mas apenas oferecer noções básicas do assunto. O ato de diagramar significa determinar uma seqüência de leitura, ou seja,ordenar as matérias que têm mais relevância. Isso não quer dizer que esta ou aquela reportagem é melhor ou pior do que outra,ou que este ou aquele jornalista ou autor de texto é mais ou menos capaz. O objetivo é apenas dar às páginas do jornal um encadeamento lógico de leitura.
PRÉ-DIAGRAMAÇÃO Para que um jornal escolar tenha um resultado gráfico agradável, ele deve ser pré-diagramado, ou seja, as páginas devem ser previamente desenhadas — com espaços para títulos, fotos e textos calculados de antemão. Isso facilita e agiliza o trabalho dos estudantes e deve ser feito pelo educomunicador responsável a partir de um processo democrático de diálogo com os jovens. A pré-diagramação tem ligação direta com as pautas do jornal (ver página 41). PROJETO GRÁFICO Todo jornal, seja ele profissional ou amador, possui um projeto gráfico — que é um conjunto de informações visuais que o caracteriza e que deve ser seguido como parâmetro permanente. Na prática, ele impõe uma série de regras que visam dar identidade visual ao jornal, tornando-o familiar aos olhos dos leitores. Os tipos de letras usadas, os diferentes tamanhos de títulos, a utilização ou não de elementos gráficos como capitulares, fundos ou cores são alguns itens de um projeto gráfico. O importante é que, após a definição, as normas sejam seguidas com disciplina. Isso faz com que os leitores habituem-se ao jornal apenas observando-o. Já mudanças constantes impedem a fixação de um padrão gráfico. 40
Após a definição dos principais elementos gráficos da página impressa, é necessário conhecer também os elementos editoriais do jornal escolar. Eles são praticamente os mesmos de uma publicação profissional. Vejamos:
PAUTA É o tema de uma reportagem, o assunto que será transformado em matéria. Para a produção do jornal escolar, os estudantes e o educomunicador devem, juntos, realizar uma grande reunião de pauta, em que serão definidos os assuntos das reportagens e a tarefa que caberá a cada aluno (fazer o texto ou a foto). É importante lembrar que a pauta deve, obrigatoriamente, funcionar como um ponto de partida para a reportagem, oferecendo informações que ajudarão o jovem a elaborar seu texto. É um guia que será seguido pelo estudante, com dados já checados que podem, inclusive, ser usados na própria matéria. Cada pauta deve ser escrita em 10 ou 15 linhas, no máximo, trazendo indicações de entrevistados,possíveis endereços ou mesmo telefones de contato. No ambiente escolar, os jovens costumam ser muito criativos na elaboração das pautas. INTERESSE COLETIVO A pauta deve atender a um interesse coletivo, difuso,do maior número possível de pessoas. Se ela cumprir esta missão, será lida por cidadãos de todas as idades, classes sociais e níveis de instrução. Mesmo um assunto localizado pode ser abordado de forma mais ampla. Por exemplo: a história de uma jovem que enfrentou dificuldades com a gravidez na adolescência deve ser tratada em uma esfera global, para que todos — pais, colegas, professores — também se interessem pelo assunto. Antes de fazer uma pauta, imagine a matéria pronta e pergunte a si mesmo: “Quem leria isso?”. Se a resposta apontar um número grande de pessoas, siga em frente. Do contrário, reformule a idéia ou esqueça-a. O JORNAL E A HISTÓRIA O jornal é um veículo de comunicação que auxilia de forma decisiva na construção da história de uma cidade, de um país e do mundo. Isso porque os acontecimentos transcritos nas páginas impressas constituem um registro precioso e às vezes único daquele momento.Com o jornal escolar não é diferente.Ele ajudará a preservar a história da própria escola, dos estudantes que dele participaram e da realidade que os cercava naquele instante. Lembre-se disso sempre que estiver escrevendo um texto ou elaborando uma pauta: você está dando uma importante contribuição para a preservação da história. DISTRIBUIÇÃO DA PAUTA Assim que as pautas estiverem prontas, devem ser distribuídas aos alunos.O momento da entrega é também o de uma nova 41
reunião geral, parecida com aquela em que as pautas foram criadas. Neste encontro, os repórteres e fotógrafos conversam, trocam idéias, ouvem e são ouvidos pelos colegas e também pelo educomunicador, que comanda o processo. Todas as dúvidas que restarem precisam ser tiradas antes de se partir para a etapa seguinte,que é a coleta do material para a reportagem.
EQUIPE DE REPORTAGEM Para a produção de um jornal escolar, recomendase a formação de duplas constituídas de um repórter e um fotógrafo.Esta é a equipe de reportagem encarregada de cumprir a pauta. Os dois devem andar sempre juntos, principalmente no momento de colher os dados para a matéria — quanto maior for este entrosamento,melhor será o resultado final. MATÉRIA É o texto jornalístico que será produzido pelos estudantes. Tem como base a pauta elaborada anteriormente e deve,a princípio,cumprir o que ela sugere. Nada impede, porém, que a matéria seja desenvolvida com novos elementos — afinal, trata-se de um trabalho de campo em que a dupla vai observar a realidade, podendo relatar dados novos e interessantes. COLETA DE MATERIAL É a busca de informações para o cumprimento da pauta. Na coleta de material, o repórter entrevistará pessoas, levantará fatos interessantes e visitará lugares, anotando o máximo de detalhes que puder. O fotógrafo também participa deste trabalho, captando imagens que ajudarão a contar a história. O entrosamento da dupla é importante neste sentido, para que as informações obtidas (dados e fotos) tenham coerência. Não se importe se o material coletado for muito maior do que o texto a ser produzido. É sempre melhor haver informações de sobra do que faltando. ROTEIRO Com o material em mãos, é chegada a hora de transmitir o que se viu para o papel, através do texto e da imagem. Antes de escrever o texto, elabore um roteiro. Divida-o por parágrafos. Cada um deles deve ter entre 4 e 6 linhas de texto digitado. Em cada parágrafo, desenvolva uma idéia, de forma que a seqüência de parágrafos (e idéias) seja também um encadeamento lógico de pensamento. Faça este roteiro por escrito e não se preocupe em perder algum tempo com isso. Só comece a escrever após elaborar um plano bem detalhado, onde cada parágrafo tenha sua função definida. O resultado será um texto mais fácil de ser escrito e agradável de ser lido. Vale a pena. 42
LEAD OU ABERTURA É o primeiro parágrafo da matéria jornalística. Deve ter entre 4 ou 6 linhas digitadas e precisa responder a um conjunto de perguntas: O quê? Quem? Quando? Onde? Como? e Por quê? Além disso, o lead tem como função atrair a atenção do leitor, mostrando o motivo daquela reportagem, ou seja, um gancho que estimule a pessoa a ler o restante do texto. Para conseguir este objetivo, tente elaborar frases curtas, atraentes, que se encaixem de maneira espontânea. Não repita palavras ou idéias — desenvolva-as. O objetivo é fazer com que o leitor chegue ao final do lead com vontade de ler o restante da reportagem. É uma tarefa difícil, não resta dúvida, mas compensadora. Exemplo: Os estudantes da escola Antônio Passos (quem) descobriram esta semana (quando) um antigo museu (o que), localizado no sótão do prédio (onde), que guarda fotografias do século passado. O achado aconteceu a partir de um trabalho de História (como) feito pelos alunos e é importante por reunir imagens antigas (por que), como por exemplo dos primeiros lampiões a gás da cidade.
ENTREVISTA Trata-se de uma importante ferramenta de apoio. Através da entrevista, o aluno-repórter obtém a opinião de um especialista sobre determinado tema, fortalecendo a matéria. Existem dois tipos de entrevista: a primeira, mais curta, é esta em que o estudante procura determinada pessoa para comentar um aspecto da reportagem — por exemplo, um especialista em trânsito que comente as infrações mais cometidas pelos motoristas. O outro tipo de entrevista é chamado pingue-pongue: é aquela em que as perguntas e respostas são gravadas e transcritas. Deve ser utilizada para ocasiões em que o entrevistado for realmente importante. Tem de ser gravada. EDITORIAL É um texto opinativo, em que o jornal expressa seu ponto de vista sobre um determinado assunto atual e de interesse geral. Deve ser sóbrio, pertinente e desenvolver uma seqüência lógica de raciocínio, com começo,meio e fim.Não deve utilizar gírias ou palavras chulas,pois mostra a capacidade de argumentação e percepção do jornal. ARTIGO Para escrever um artigo, é preciso conhecer razoavelmente bem o assunto de que se vai tratar. Na prática, o artigo é um texto opinativo em que o autor — que o assina,obrigatoriamente — manifesta seu ponto de vista sobre determinado tema. Assim como o editorial, deve ter uma linha coerente de raciocínio. As opiniões emitidas, apesar de livres, devem ser baseadas no bom senso, sempre. 43
FOTOGRAFIA A fotografia é o primeiro elemento gráfico visto pelo leitor quando folheia um jornal ou revista. Por isso, deve ser atraente. Não é preciso ser um fotógrafo profissional para fazer boas fotos. Quem de nós nunca tirou uma foto bonita, que chamou a atenção da família ou dos amigos por captar um momento marcante numa festa ou numa viagem? É isso que se espera de um aluno-fotógrafo. A partir da definição da pauta, o fotógrafo deve conversar com o repórter para que a dupla, junta, produza um material que tenha conexão. As fotos podem mostrar lugares descritos no texto, entrevistados ou então legitimar afirmações feitas no texto — numa matéria em que uma grande fila é citada, por exemplo, uma foto ajuda a mostrar ao leitor a dimensão do problema. MENSAGEM CONTÍNUA Em um texto chamado A Mensagem Fotográfica21, o autor francês Roland Barthes faz uma análise aprofundada sobre a fotografia e sua capacidade de transmitir mensagens. Barthes observa, entre outras coisas,que a foto é uma mensagem que dispensa um código (uma linguagem específica) para ser compreendida.Em outras palavras, o entendimento de uma imagem fotográfica não exige conhecimento de um idioma ou de uma cultura em especial — qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, consegue assimilar o conteúdo expresso em uma fotografia, principalmente se ela for atraente e registrar um instante de maneira peculiar. O mesmo já não acontece com um texto, cuja compreensão exige o domínio razoável da língua e uma leitura atenta por parte do leitor. Sabendo disso, o trabalho de produção de um jornal escolar deve dedicar especial atenção às fotografias, que, aliás, são um elemento gráfico primordial para qualquer publicação. Se elas forem bonitas, nítidas e mostrarem ângulos diferentes da realidade, certamente serão vistas com atenção e prenderão o leitor às páginas. DICAS PARA UMA BOA FOTOGRAFIA Para uma matéria de jornal, é recomendável que o fotográfo faça pelo menos 10 fotos — 5 horizontais e 5 verticais. As máquinas digitais modernas facilitaram muito o processo de captação de imagens. Com elas, os fotógrafos podem ver e escolher as fotos no momento em que são feitas, apagando aquelas que ficaram ruins e conservando as melhores. Recomenda-se o uso de máquinas digitais com resolução de 4 megapixels ou mais. Uma dica importante sobre o conteúdo da fotografia é entender inicialmente que as pessoas enxergam o mundo a partir de um ângulo de visão padronizado — a 21 BARTHES, Roland. A mensagem fotográfica. in Luiz Costa Lima (org.),Teoria da Cultura de Massa. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p.325-338.
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altura dos olhos,de forma geral.Para ser mais atraente,uma fotografia de jornal deve mostrar um ângulo inusitado, diferente do convencional, o que fará com que os leitores parem e pensem ao olhá-la. Outra dica interessante é captar enquadramentos em que apareçam objetos ou pessoas que possuem relação direta com o assunto central abordado na reportagem. Fazer isso é relativamente fácil e exige apenas um pouco de observação por parte do fotógrafo. Observemos os exemplos abaixo:
Estas duas fotografias são bons exemplos de como o fotógrafo pode obter resultados satisfatórios em um evento corriqueiro, como uma celebração religiosa. Na foto à esquerda, o fotógrafo optou pela imagem vertical e reservou praticamente a metade de cima da imagem para a cruz, proporcionando à foto uma identificação imediata. Já na foto abaixo, horizontal, o fotógrafo posicionou-se atrás de uma imagem, obtendo um ângulo de visão diferenciado
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REPÓRTER-FOTOGRÁFICO Se a fotografia possui a capacidade de transmitir mensagens para pessoas de uma forma imediata e contínua, como foi mostrado nos exemplos anteriores, cabe ao repórter-fotógrafico ter uma boa dose de criatividade. Para atingir este objetivo, é preciso estar atento à pauta e ao caminho que a apuração dos dados aponta.Busque ângulos diferentes para as fotos, tente captar imagens que sejam interessantes e, principalmente, nunca se esqueça de um ponto fundamental: na grande maioria das vezes, pode não haver a chance de fazer a foto novamente. Portanto, encare cada momento como único. TRABALHO EM CONJUNTO Encerrada a etapa de coleta de dados,tem início um passo importantíssimo da produção de um jornal escolar — a sua montagem. Nesta fase, entra em cena a importância do trabalho em conjunto, que reúne o educomunicador e os próprios estudantes. Da competência do educomunicador depende a qualidade gráfica e editorial do projeto. É ele que ajudará a transformar o material colhido pelos alunos em páginas bem diagramadas e com padrão aceitável de leitura. Este trabalho, porém, deve ser feito em conjunto com os alunos. A montagem é um momento valioso de aprendizado em que os jovens reforçam os conceitos de interesse coletivo, pluralidade, preocupação com leitor — enfim, com o próprio conceito de cidadania. Recomendase que o processo de montagem das páginas do jornal seja feito com todos os estudantes presentes.
A montagem do jornal escolar é um momento de troca de experiências e aprendizagem. Ao diagramarem as páginas, os estudantes exercitam o conceito de interesse coletivo da informação e também tomam contato com programas gráficos 46
REVISÃO Montadas as páginas, o jornal escolar deve ser impresso em formato A4 (21 cm por 29,7 cm) para ser minuciosamente revisado. Todos os alunos, sejam eles repórteres ou fotógrafos,devem participar da revisão,assim como o educomunicador.É muito importante que o jornal, depois de impresso, tenha o mínimo possível de erros — de preferência nenhum. Para isso, é necessária uma releitura detalhada. CHECAGEM CRUZADA Uma dica interessante para uma boa revisão é fazer a chamada checagem cruzada,ou seja,os alunos devem ler textos que não fizeram.Isso é importante porque,quando se escreve sobre determinado assunto, modificando trechos e relendo o texto várias vezes, é comum haver uma saturação.A releitura acaba ocorrendo de forma automática, e os erros também. Na leitura de textos novos, a atenção está aguçada e, com isso, os problemas são vistos mais facilmente. ESPÍRITO COLETIVO Entre os estudantes, é comum existir uma certa timidez no momento em que os textos são lidos — e corrigidos — por colegas. Trata-se de um sentimento até certo ponto compreensível, mas que deve ser colocado de lado em nome da qualidade do jornal escolar. Cabe ao educomunicador dar esta orientação aos estudantes: a correção de erros é uma tarefa que visa melhorar o produto, e não menosprezar quem escreveu o texto. Além disso,é bom frisar que este trabalho deve ser feito de forma construtiva, para que as páginas sejam lidas com prazer e atenção pelo leitor. O resultado final será o reconhecimento de toda a equipe que participou do processo. TIPOS DE ERROS Há basicamente dois tipos de erros cometidos quando se produz um jornal escolar ou qualquer outra publicação — o erro de informação e o erro de estilo.O erro de informação é mais grave: o nome de uma pessoa ou um endereço escritos de forma errada, por exemplo. Este tipo de problema deve ser eliminado a qualquer custo das páginas. Para evitar isso, o repórter deve anotar com muito cuidado todas as informações coletadas para que, se necessário, haja uma checagem posterior. Já o erro de estilo é aquele que torna o texto difícil de ser lido — por exemplo, uma frase muito longa ou então cheia de palavras complicadas. Nestes casos, é recomendável que os trechos mais críticos sejam refeitos. No entanto, há que se entender também que cada pessoa possui um estilo próprio de contar determinada história. E, como não se trata de uma publicação profissional, é aceitável que cada estudante mostre uma característica individual de redação,mas desde que isso não interfira na compreensão do assunto. 47
A imprensa na era da Internet O jornal impresso é sem dúvida um meio de comunicação atraente. Seu formato característico, a textura e a cor do papel, as fotografias, os títulos e o texto constituem um conjunto de signos consagrado na sociedade. Ao se deparar com um jornal, poucas pessoas deixam de folheá-lo, nem que seja apenas para ler os títulos, uma ou outra reportagem e olhar as fotos. A página de jornal reúne dois elementos importantes que ajudam a torná-la atraente perante o leitor. Primeiro, ela é o canal através do qual um grupo de cidadãos se expressa — e a liberdade de expressão é algo que naturalmente atrai as pessoas, por fazer parte da natureza humana. Em segundo lugar, o formato da imprensa escrita confere uma inegável dose de credibilidade aos textos e imagens nela presentes. Evidentemente, nem todas as páginas de jornal são sinônimo de liberdade de expressão e credibilidade. Muitas delas foram criadas com objetivos até mesmo contrários, é verdade. Mas a imprensa, em tese, pressupõe estas duas características e traz estes dois pilares em sua essência. Um exemplo simples ilustra bem este pensamento: nos semáforos das grandes cidades,é grande o número de folhetos que os motoristas recebem,dos mais variados tipos.Imagine uma mesma informação (verdadeira) contida num destes folhetos e num jornal convencional. Em qual delas você acreditaria mais? Certamente na que está impressa no jornal. A página de jornal, desta forma, reúne um conjunto de elementos sígnicos que ganhou status de credibilidade ao longo de cinco séculos, desde o surgimento da imprensa. Se houve e ainda há publicações jornalísticas de pouco ou nenhum crédito, elas foram superadas em grande quantidade pelas iniciativas que,de uma maneira ou de outra,acabaram oferecendo informações e serviços sérios ao público. O formato jornal (em sua essência elementar, anterior a qualquer tipo de ligação com empresas, grupos ou ideologias) está consagrado em todo o planeta. A constatação de que a página impressa é uma forma de comunicação crível e que pressupõe a liberdade de expressão de quem a produz estimula alguns questionamentos. Um deles: esta herança de credibilidade possui algum proprietário,algum dono? Outro: o formato jornal — assim como os formatos de comunicação do rádio e da televisão, igualmente portadores de enorme credibilidade — é um produto exclusivo dos grupos empresariais que atuam no segmento editorial? A resposta a estas perguntas é não. E, junto com ela, surge a reflexão natural de que os formatos dos meios de comunicação,como produtos coletivos,frutos da liberdade de expressão e do trabalho árduo de homens e mulheres ao longo 48
de anos,são uma conquista do conjunto da sociedade,da própria humanidade. É possível, portanto, utilizar o formato jornal para dar vazão a informações, sentimentos e análises através de jornais sindicais, de associações — e, é claro, jornais escolares. Isso significa democratizar o acesso aos meios de informação. Esta constatação também deve ser vista em toda a sua gravidade. Afinal, trata-se de uma responsabilidade enorme produzir um jornal e carregar nas páginas séculos de dedicação de outras pessoas. Cada palavra, cada título, o tipo da diagramação, tudo faz parte de um processo que está se desenrolando e do qual nós, hoje, somos os agentes. Temos uma herança a preservar, um trabalho a desenvolver e a transmitir para as futuras gerações. É preciso cuidar disso com extrema responsabilidade. Deixar uma marca negativa seria imperdoável. Por outro lado, colaborar para que todo este legado seja ainda mais confiável é uma atitude digna de orgulho. Fiquemos sempre com a segunda opção.
A INTERNET Vimos que o jornal impresso tem tradição histórica,credibilidade e que seu formato é uma conquista da humanidade que deve ser usada com cuidado e responsabilidade. Mas, em pleno século XXI, também é preciso reconhecer que o jornal impresso é um meio de comunicação com alguns séculos de vida e que, para muita gente, parece estar com os dias contados quando comparado com a rapidez e a interatividade proporcionadas pela internet. Será mesmo? Os jovens do século XXI formam seguramente a primeira geração multimídia da história. Hoje tudo está interligado — música, informação, filmes, lazer. Nada mais é analógico. Vivemos no mundo digital, em que tudo pode ser copiado, multiplicado e divulgado em questão de segundos, para ser visto no mundo inteiro. Diante desta situação, olhar para o tradicional jornal impresso pode soar como um mergulho no passado. É comum pensar que a internet está de um lado, enquanto a TV, o rádio e o jornal ficam de outro. As coisas não são bem assim. A internet não veio para competir com os meios comunicação convencionais,mas para potencializá-los e estimular discussões interessantes sobre processos, alcance, interação. A revolução digital que vivemos hoje ocorre, em grande parte, por causa de um gigantesco aumento da capacidade de comunicação da humanidade. Esse aumento está relacionado à velocidade com que as informações passaram a ser trocadas. Ingressamos numa era da história em que a comunicação assume uma predominância jamais vista na vida humana. Mas nem sempre foi assim. Até meados da década de 90, os meios de comunicação tradicionais cumpriam suas funções com linguagens próprias e uma velocidade padrão de informação. Com o advento da internet, porém, esta velocidade aumentou espantosamente — as mensagens agora chegam até seus 49
destinos de modo instantâneo e os próprios órgãos de comunicação passaram a se interligar mais facilmente. Dentro deste processo,os veículos tradicionais acabaram sendo obrigados a se renovar e a atualizar conceitos. Os dinossauros comunicativos — e o jornal impresso é o mais antigo deles — vêm passando desde então por um processo de oxigenação de suas velhas estruturas. O dinamismo da internet é o fio condutor deste processo. Alguns exemplos ajudam a dar uma dimensão mais exata do que estamos falando. Quando o presidente norte-americano Abraham Lincoln morreu, em 1865,a notícia de seu falecimento levou 13 dias para chegar até a Europa. Hoje, no século XXI, qualquer informação cruza o planeta em questão de segundos, assim como as reações que ela provoca. O mau desempenho de uma empresa, por exemplo,pode ser acompanhado pelos investidores ao redor do mundo em tempo real, o que significa uma morte financeira mais rápida, uma vez que os acionistas se livrarão de seus papéis o mais depressa que puderem. Basicamente, é possível dizer que a comunicação instantânea potencializou as capacidades do ser humano — sejam elas de criação, de decisão ou de aquisição de conhecimento.22 As distâncias foram encurtadas até o ponto de estarmos, todos, numa espécie de vida on-line.
O ESPECTADOR ATIVO A revolução digital é basicamente um acontecimento ligado ao aumento da velocidade da comunicação. Mas esta é apenas uma pequena parte de sua complexa estrutura. Para enriquecer nossa discussão, é interessante observar também as novas funções que cabem aos espectadores. Uma questão primordial é observar que a internet proporciona uma inversão histórica de atribuições. Nela, a pessoa assume o comando do processo, deixando para trás a condição de agente passivo — como acontece com o rádio, a televisão e o jornal impresso. No livro Televisão: a vida pelo vídeo, publicado em 1988 (numa época em que a internet não existia), o autor e professor Ciro Marcondes Filho faz uma análise interessante sobre este assunto. Segundo ele, a televisão é um meio de comunicação totalizante, ou seja, que não abre espaço para a participação do espectador. A sucessão de imagens, cores, sons, as vinhetas e a presença de apresentadores integram um conjunto que chega pronto à pessoa,a quem cabe apenas decodificar esse conjunto de mensagens. Já o rádio, segundo Marcondes, “executava esta função de forma menos marcante, pois, sendo um meio parcial, a imaginação do ouvinte completava o quadro, imaginando a cena”.23 O autor não faz menção ao jornal, mas nem por 22 23
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A este respeito, ver LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. FILHO, Ciro Marcondes. Televisão: a vida pelo vídeo. São Paulo: Moderna, 1988. p. 36-37.
isso a página impressa é diferente. Ela também traz um modelo pronto (títulos fotos, textos) feito por outras pessoas, com pouco espaço para que o leitor participe do processo, mesmo que de maneira imaginária. Enquanto nestes meios o leitor tem acesso a um conjunto de informações selecionado e editado por outras pessoas, na internet a pessoa define, ela mesma, o que quer ver e quanto tempo vai dedicar a isso. E mais: também é possível interagir, participar, sendo lido ou visto por todo o planeta. Esta foi, é e continuará sendo uma revolução sem precedentes na democratização dos meios de comunicação. Atingir este objetivo não foi fácil,ainda que ele tenha sido perseguido desde o início. A internet teve seu embrião a partir de estudos feitos pelo Exército norte-americano no final da década de 60. O objetivo era criar um sistema de comunicação em que as informações não ficassem concentradas em um único lugar — elas deveriam ser acessíveis em qualquer ponto, mas não poderiam permanecer fixas em nenhum deles. Além disso, a velocidade de transmissão precisava ser elevada. Pretendia-se, com isso, evitar que ataques destruíssem grandes centrais de dados. Na teoria, tudo estava bem. Mas como criar isso na prática? Era difícil concretizar algo tão complexo assim. O desafio era imenso, mas a resposta veio e sua materialização até hoje impressiona as pessoas, com uma sucessão constante de novidades e complementos que nos surpreendem. Os próprios estudos sobre a internet, mesmo em âmbito acadêmico, ainda são incipientes e desafiam aos poucos os limites deste novo campo de análise. As pessoas que viveram a adolescência e a fase adulta antes do advento da internet têm uma noção mais precisa de como isso é revolucionário. Nos anos 80, por exemplo, os meios de comunicação ocupavam cada um o seu papel no campo da comunicação: as informações eram transmitidas no modo clássico da cadeia comunicativa — que vai do emissor ao receptor, apenas. O leitor de jornal, o ouvinte de rádio e o telespectador eram receptores passivos dos dados recebidos. A única forma de interação eram as cartas ou telefonemas, que não garantiam, evidentemente, a participação popular no processo comunicativo. Com a internet, tudo mudou radicalmente. As pessoas agora recebem e emitem dados ou informações. Aquele sujeito passivo, acostumado a apenas receber as notícias sentado na poltrona da sala,deu lugar a um internauta que busca, ele próprio, as notícias que lhe interessam. Basta um computador conectado a uma linha telefônica para que qualquer cidadão tenha acesso a um volume impressionante de informações, além de poder exprimir pensamentos sobre o que quiser, através de e-mails, salas de bate-papo ou páginas pessoais.E o mais espantoso: tudo instantaneamente,para todo o mundo e sem que os destinatários tenham grande custo para receber a informação. 51
INFORMAÇÃO, PRECISÃO, CONFIANÇA A palavra informação foi escolhida de forma proposital para encerrar o parágrafo anterior e abrir um novo leque de análise. Já constatamos que com a internet a transmissão de dados ocorre em uma velocidade espantosa — na verdade, vivemos praticamente em um mundo online. Além disso, esta rapidez veio acompanhada de um vento democrático, ou seja, qualquer pessoa pode se expressar através da internet. Diante desta velocidade e do volume colossal de dados que circulam diariamente pela internet, é possível afirmar que estamos melhor informados? Qual é a garantia da qualidade da informação, de sua precisão, de seu interesse coletivo? Esta pergunta nos leva a aprofundar a análise sobre a internet e sua relação com os meios de comunicação tradicionais. A internet transforma todos em emissores potenciais.Como tudo na vida,há o lado positivo e o negativo.Mais pessoas (milhões delas,na verdade) ganharam a oportunidade de se expressar, mas, ao mesmo tempo, o enorme conjunto de mensagens produzido por esta avalanche de internautas nem sempre possui qualidade de informação precisa e confiável. É evidente que os internautas não têm a preocupação de atuar como jornalistas nem possuem esta responsabilidade — a internet é um meio barato e eficiente de expressar pontos de vista e sentimentos. Até aí, nada de errado. Mas, a partir do momento em que analisamos a internet como uma ferramenta de comunicação, é preciso entendê-la a partir de seu conteúdo global. E, de forma geral, ele não inspira muita confiança. Façamos uma experiência com um internauta: você, caro leitor ou leitora. Ao ligar o computador,você checa o e-mail.Duas ou três mensagens de amigos. As outras dez oferecem promoções para assinar revistas, abrem links para sites de empregos e informam sobre supostos problemas com o SPC ou a Receita Federal (estes últimos são vírus). Com exceção das mensagens dos amigos, todos os demais e-mail são deletados antes mesmo de serem abertos. Em seguida, você observa os principais sites de notícias. Lê sobre mais um escândalo na política nacional e resolve clicar no ícone Ver Comentários. Uma enxurrada de opiniões mal-educadas, xingamentos, desabafos e críticas de todas as espécies toma conta da tela de seu micro. Nos sites em que se criam comunidades virtuais, as pessoas dão vazão desenfreada a amores, ódios (principalmente), sentimentos mal resolvidos, frustrações e toda sorte de emoções represadas durante anos. Neste exemplo,notamos que a capacidade de expressão proporcionada aos internautas é, por um lado, uma conquista valiosa e irreversível, mas, por outro, também o canal por onde escoa um amontoado de dados que só interessa aos próprios indivíduos que os produzem — no máximo a seus familiares e amigos próximos. Isso torna a internet, sob este ponto de vista, um espaço onde a quantidade de informação é inversamente proporcional à sua qualidade. 52
CASAMENTO IDEAL Onde estão as informações confiáveis na internet? Para responder a esta pergunta, voltamos ao início deste capítulo, fechando o raciocínio, quando abordamos o formato dos meios de comunicação e a credibilidade que acompanha não apenas o jornal impresso, mas também o rádio e a televisão. No universo virtual que nos rodeia, encontrar informações confiáveis significa acessar os sites que trazem consigo a herança dos meios de comunicação tradicionais, como jornais, revistas e emissoras de rádio. Eles emprestam sua credibilidade à internet e recebem, em troca, a espantosa velocidade e interatividade proporcionadas pela rede mundial de computadores. Trata-se de uma união interessante, quase perfeita, que afasta o chavão segundo o qual a internet e os meios de comunicação tradicionais seriam concorrentes. Eles, na verdade, se complementam. Esta análise é feita quando se observa o funcionamento dos meios de comunicação de massa em âmbito profissional. Mas também há um paralelo que deve ser traçado para o ambiente do jornal escolar e,de uma maneira mais ampla, para a própria interação entre os jovens e a informação. Hoje em dia — e com certeza no futuro — não será mais possível atrair a atenção dos jovens apenas com um jornal impresso, tradicional, como acontecia com as gerações passadas. É preciso mais. Pesquisas que tratam do uso do jornal na sala de aula indicam uma linha de pensamento bastante conhecida: os jovens que têm contato com o jornal impresso na infância e adolescência transformam-se em leitores potenciais na idade adulta.A pesquisa de Mestrado realizada pelo autor com 192 estudantes de Suzano,descrita no início deste livreto,confirmou plenamente esta hipótese. No entanto, ainda faltam algumas lacunas a serem preenchidas caso se pretenda formar novos leitores para o produto jornal no século XXI. A questão ganha novos contornos diante do advento do mundo virtual. Se os jovens formam seus hábitos de leitura na infância e adolescência,a partir do contato com o jornal, eles também são motivados — e de uma maneira muito mais intensa — a se tornarem internautas. Afinal, a internet é uma ferramenta ligada naturalmente ao cotidiano do jovem. Para que os jornais consigam se manter competitivos e atraentes, portanto, é preciso que se aprenda com as novidades da internet. Novos elementos precisam ser incorporados à tradição consagrada da página impressa. Garantir mais interatividade com o leitor é um deles. Outra medida necessária consiste em investir em um design cada vez mais atraente e bem planejado, com cores e imagens bem elaboradas.Abordar assuntos que realmente digam respeito ao leitor é um terceiro ponto primordial neste processo de amadurecimento. A produção de jornais no ambiente escolar acaba sendo propícia para a adoção destas medidas. Primeiro, porque os alunos participantes integram uma geração multimídia que não oferece resistências — pelo contrário — a idéias 53
como estas. Em segundo lugar, é necessário reconhecer que o jornal escolar não possui compromissos de mercado como as publicações profissionais, o que torna a realização de experiências desta natureza uma tarefa bem mais fácil de ser conduzida. Assim,os jornais produzidos por estudantes sob a supervisão de um ou mais educomunicadores tornam-se espaços de vanguarda na experimentação de novidades, em contraposição aos padrões já consagrados. Ao formato secular do jornal impresso, que lhe dá sua reconhecida credibilidade, é interessante acrescentar a sedutora agilidade da internet, em doses generosas, além de uma programação visual arrojada. Identificar e extrair os pontos positivos de cada meio de comunicação e saber uni-los de forma a melhorar o conteúdo informativo, sem descaracterizar a natureza original do jornal ou da internet,é uma tarefa difícil,mas certamente compensadora. Alcançar o equilíbrio desta fórmula é um grande desafio, mas o resultado será uma leitura prazerosa e atraente. Na verdade, estamos falando de uma busca contínua, que pede ajustes constantes, na velocidade do mundo virtual. Do educomunicador, exige-se conhecimento teórico e prático, atenção às novidades e valores éticos bem definidos. Dos alunos, espera-se dedicação e entusiasmo, o que, diga-se de passagem, raramente falta. Dedicar-se a este desafio no ambiente escolar tem grandes vantagens: uma, a aceitação natural por parte dos jovens,que se sentem estimulados não apenas a montar o jornal, como também a debater meios de torná-lo mais atraente a partir da própria vivência com a internet. O segundo ponto positivo está no resultado — páginas que trazem mensagens ágeis,como pede a era da internet, e ao mesmo tempo com a credibilidade do formato jornal. O jornal impresso é, como foi visto no início deste livreto, um instrumento reconhecido por sua capacidade de auxiliar no processo educacional. Traz como liguagem o texto escrito, permanente, histórico, que exige do leitor o conhecimento do código para sua compreensão,fazendo com que este mesmo código (no caso a língua portuguesa) seja exercitado cotidianamente. Além disso, ler estimula uma análise crítica do mundo, oferecendo diversidade de parâmetros aos leitores. Esta capacidade de influir positivamente no ensino, comprovada desde o início do século passado por pioneiros como Célestin Freinet e Janusz Korczak, evidentemente também precisa ganhar novos conceitos, guiados pela revolução digital. A presença da internet encurtou distâncias, agilizou o tempo de pesquisas e tem sua utilidade também no campo da educação. No Brasil, especificamente,experiências desta natureza assumem maior importância,pois motivam o ato da leitura e, através dela, permitem que amplas parcelas de jovens aumentem sua capacidade de reflexão. 54
Responsabilidade social e política pública Lendo os textos sobre Educomunicação e refletindo sobre as experiências existentes na área, nota-se claramente que é necessário assegurar um ambiente propício para o desenvolvimento de iniciativas como o jornal escolar ou mesmo outras ações desta natureza, como programas de rádio ou de televisão estudantis. Em outras palavras, há que se encontrar financiamento para garantir a liberdade de expressão dos jovens, a independência editorial do projeto e a sua qualidade geral. Como conseguir isso? Há duas respostas.A primeira é caminhar para a área da responsabilidade social, ou seja, conseguir apoio de empresas privadas que compreendam a importância destas realizações. A segunda resposta aponta para a presença do Estado — propostas deste tipo devem ser objeto de políticas públicas bem elaboradas e contínuas. As duas possibilidades não são antagônicas ou conflitantes.Devem ser vistas como meios de se alcançar o principal objetivo, que é integrar os meios de comunicação ao cotidiano dos alunos. Cada alternativa possui vários aspectos positivos. Mas também é preciso ficar atento para potenciais conseqüências negativas que podem surgir de uma condução equivocada do processo de parceria, uma vez que ambos os modelos ainda carecem de amadurecimento. Evitar efeitos indesejados é uma meta da qual não se pode abrir mão, para que não se perca toda a importância que cerca a proposta.
RESPONSABILIDADE SOCIAL O apoio de empresas privadas que reconheçam a importância de ações na área de educação é um caminho a ser seguido.Nestas iniciativas,são firmadas parcerias com indústrias ou empresas,normalmente de médio e grande portes, que garantem suporte financeiro aos projetos. Acordos desta natureza são concretizados com relativa facilidade e devem ter como meta buscar grupos que valorizem o conceito de responsabilidade social ou que pelo menos invistam em ações sociais isoladas. O conceito de responsabilidade social é mais amplo: pode ser definido basicamente como “uma permanente preocupação com a qualidade ética das relações de uma empresa com seus colaboradores, clientes e fornecedores, com a comunidade, com o poder público e com o meio ambiente”. Esta é a definição utilizada pelo Instituto Ethos24 para conceituar o modo de agir de empresas compromissadas com este ideal.
24 O Instituto Ethos (www.ethos.org.br) foi fundado no Brasil em 1998, através da iniciativa de um grupo de empresários,e reúne atualmente empresas associadas de todos os segmentos de atividade.O instituto se interessa por ferramentas de gestão que auxiliem na revisão e no aprimoramento das práticas administrativas.
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Outra conceituação interessante é dada por Fernanda Borger25 em sua Tese de Doutorado. A autora traça um panorama histórico sobre o tema, mostrando que a noção de responsabilidade social desenvolveu-se a partir do momento em que a sociedade observou a evolução do capitalismo e todo o seu caráter destrutivo. Vejamos os argumentos da pesquisadora: O público começou a expressar suas preocupações com o comportamento social das empresas em relação aos problemas sociais e ambientais,exigindo maior envolvimento delas na solução destes.Mais do que isso,passou a questionar o papel das empresas na sociedade. Inicialmente, este questionamento manifestou-se na preocupação com as relações de trabalho,como a obtenção e garantia de benefícios e encargos trabalhistas, as questões relacionadas às condições de ambiente de trabalho, ou seja, aspectos restritos ao universo interno da empresa. Posteriormente, as questões ultrapassaram os limites internos das organizações, trazendo novas questões como o meio-ambiente, eqüidade para grupos em desvantagem (mulheres, minorias visíveis, deficientes físicos), segurança e estabilidade no emprego, tratamento justo entre administradores, proprietários e força de trabalho.26
Estas reflexões ajudam a compreender o novo tipo de relacionamento que as empresas mantêm com a sociedade. Cientes da concorrência acirrada e do alto grau de exigência dos consumidores,os grupos privados foram obrigados a rever posturas e a adotar práticas que prevêem um convívio mais harmonioso com a comunidade, em todos os sentidos. É preciso diferenciar, porém, uma postura de responsabilidade social das ações sociais. Por responsabilidade social, entende-se um conjunto permanente de iniciativas de determinado grupo empresarial, que incluem todo o processo produtivo,a relação com fornecedores,com funcionários,com a comunidade e o meio ambiente. Atingir este ponto é uma tarefa complexa e contínua. Já as ações sociais são as realizações pontuais feitas pelas empresas no convívio com a comunidade externa onde estão inseridas. No caso específico da produção de jornais escolares, a busca de apoio em empresas comprometidas com o conceito de responsabilidade social ou dispostas a realizar ações sociais é uma tarefa possível e salutar. Normalmente, ao conhecerem o funcionamento de propostas do tipo, as empresas mais conscientes de seus direitos e deveres mostram interesse em colaborar. Neste ponto, um alerta: é fundamental contar com o apoio de grupos privados, mas desde que eles compreendam a real importância da iniciativa, 25 BORGER, Fernanda Gabriela. Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. São Paulo, 2001, 254p.Tese (Doutorado). Faculdade de Economia,Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo (USP), 2001. p.15. 26 Ibid., p.17.
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para que a parceria não seja confundida com uma mera ferramenta de marketing. O conceito do projeto, sua tradição histórica e sua importância na formação de cidadãos mais conscientes devem ser apresentados de forma minuciosa aos candidatos a parceiros, para que os acordos firmados tenham como pano de fundo uma noção real de compromisso, e não uma chance de fazer anúncios em uma mídia impressa diferente. Na prática, é possível afirmar que os grandes grupos empresariais são os mais indicados para a formulação de parcerias frutíferas deste tipo. Normalmente, estas empresas já contam com diretrizes internas bem definidas para o trabalho de responsabilidade ou ação social: muitas atuam através de fundações criadas especificamente para este fim ou por meio de estratégias permanentes de contato com a comunidade. O amadurecimento de conceitos e de procedimentos, nestes casos, geralmente conduz a bons resultados. Com a identificação de colaboradores que entendam o caráter da proposta, normalmente o apoio privado se materializa sob a forma de apoio institucional, inserido nas páginas do jornal escolar. Neste espaço, é interessante que a empresa se apresente e informe que está patrocinando a iniciativa, quase sempre emitindo uma mensagem que mostre a importância que dá ao tema. Quando este ciclo se completa, o financiamento pela ação privada torna-se um caminho interessante a ser seguido. Analisemos: por um lado, a presença de um grupo privado assegura a independência da publicação e a sua qualidade. Por outro, o jornal escolar possui componentes muito agradáveis aos olhos da opinião pública, como a liberdade de expressão proporcionada aos alunos, o estímulo à prática da redação e da reflexão,além do próprio investimento em educação — uma área vital e ao mesmo tempo tão carente de bons indicadores no País. O ato de patrocinar uma ação do tipo é reconhecido como um atestado público de que a empresa compartilha destes valores, o que, naturalmente, lapida sua imagem perante a comunidade onde está inserida. Além disso, a leitura dos exemplares do jornal escolar,a análise da sociedade sobre a riqueza da iniciativa e o seu prosseguimento, com novas edições, são conseqüências naturais que proporcionam reconhecimento a curto, médio e longo prazo aos participantes, sejam empresas ou escolas.
POLÍTICA PÚBLICA O debate sobre os mecanismos de financiamento de projetos educomunicativos passa, de forma natural, pela exigência de políticas públicas bem elaboradas. Esta discussão ocorre principalmente no meio acadêmico. É o que defendem docentes e alunos que se dedicam à pesquisa sobre este tema, em várias áreas de atuação.A argumentação é legítima, louvável e aponta uma solução ideal para a questão, mas que ainda precisa de amadurecimento para que seja concretizada em sua plenitude. 57
De forma geral, política pública pode ser entendida como um conjunto de políticas econômicas, sociais e ambientais implementadas pelo governo (seja ele em âmbito federal, estadual ou municipal) com o objetivo de atender a demandas específicas.A formulação de políticas públicas permite que projetos de interesse coletivo se transformem em iniciativas do Estado, contando com destinação orçamentária fixa e capaz de garantir sua execução, continuidade e evolução. O debate de temas estratégicos como educação,cidadania,democratização dos meios de comunicação e produção de conhecimento pede,de maneira até natural,a presença do Estado como elemento integrante.Afinal,estes são temas fundamentais e têm ligação direta com a formação educacional das novas gerações,com o seu contato com os meios de comunicação e sua conseqüente capacitação para um exercício mais profundo da cidadania. Por contemplarem todos estes pontos, as ações educomunicativas devem ser socializadas, praticadas por todos, numa garantia inalienável de que sua riqueza cultural será compartilhada pelo conjunto da população, e não apenas por grupos restritos. O Núcleo de Comunicação e Educação da USP (NCE-USP) é um centro de estudos gabaritado e que tem trabalhado de forma notável para formular e manter parcerias com o Estado, criando agentes multiplicadores e assegurando sustentação conceitual e técnica para o desenvolvimento do trabalho. Várias ações práticas já foram realizadas com sucesso, como o projeto Educom.rádio, através do qual o rádio passa a fazer parte do cotidiano das escolas. Fora do âmbito do NCE-USP, porém, as conquistas nesta área resumem-se a iniciativas pontuais colocadas em prática,mas que na verdade funcionam mais como indícios de que esta possibilidade um dia pode ser tornar realidade. De concreto, é possível dizer, por exemplo, que atualmente o jornal escolar é visto com simpatia pelos órgãos governamentais ligados à educação, como as Diretorias de Ensino e as Secretarias Municipais de Educação. Isso assegura que as oficinas relacionadas ao assunto (das quais muitos professores participam) sejam reconhecidas como eventos de aprimoramento profissional. Com isso, os educadores têm o dia abonado e ganham pontos em seus currículos.Mas isso ainda é muito pouco,principalmente diante do desafio de estimular os alunos a produzirem seus próprios jornais de modo continuado e com apoio formal do poder público. É necessária a conceituação, a oficialização e a colocação em prática de uma política pública ampla, profunda e permanente que trate do tema em todas as suas nuances e recortes. A elaboração de uma proposta executável desta amplitude, que incorpore as práticas educomunicativas ao cotidiano dos alunos de forma definitiva, é um grande desafio para os educomunicadores, entre os quais o autor se inclui. 58
Enquanto isso não ocorre, assistimos a parcerias fechadas de forma isolada com Prefeituras Municipais e Governos Estaduais,que,apesar de positivas,ainda não configuram ações incorporadas aos programas oficiais de ensino. Não são ainda ações de Estado, e sim de governo, materializadas por administrações públicas dispostas a inovar. Se por um lado é gratificante saber que há espaço para parcerias desta natureza no Brasil, por outro fica a incerteza quanto à sua continuidade, uma vez que as naturais mudanças de gestão podem significar a interrupção de projetos em pleno curso. Na realidade, a idealização de uma política pública única e contínua poderia regulamentar diversos aspectos das práticas educomunicativas, como seu financiamento público, a formação de profissionais, a definição clara de objetivos e até mesmo a implementação de regras bem delineadas para a participação do capital privado como fonte de financiamento. No centro da questão, está uma certeza: ações nobres como a produção de jornais, rádios ou TVs escolares, com todo o arcabouço teórico e a capacidade de democratização que as cercam, certamente proporcionariam efeitos positivos a longo prazo na formação dos jovens cidadãos brasileiros, desde que executadas a partir de ações públicas bem elaboradas. Construir políticas públicas que assegurem o caráter histórico, cidadão e de interesse coletivo das ações educomunicativas, estimulando a formação de homens e mulheres conscientes do poder dos meios de comunicação e de que estes meios (o jornal, o rádio e a TV) são conquistas da humanidade, portanto passíveis de serem usufruídos por todos, é um desafio motivador e que precisa ser levado a cabo. Há que se reconhecer, no entanto, que as permanentes dificuldades enfrentadas pelos governos brasileiros, aliadas à crônica falta de investimentos na educação, tornam o desafio muito mais difícil do que já é. Olhando para trás, podemos ver que Célestin Freinet e Janusz Korczak só conseguiram montar e manter seus jornais escolares enquanto tiveram suporte financeiro, seja ele direto ou indireto. Estes ecossistemas comunicativos eram baseados na força de vontade, no conhecimento teórico e no apoio que cada pedagogo, a seu modo, conseguia angariar. Freinet, como professor da rede pública francesa, estava em certa medida amparado pelo Estado — ainda que fosse perseguido pelo governo justamente por causa de seus métodos inovadores, que incluíam a imprensa escolar. Korczak, por sua vez, tinha o apoio da comunidade judaica, conhecida historicamente pela importância que sempre dedicou à educação. Em ambos os casos, havia garantias provisórias e muita força de vontade (o que bastava para a obtenção dos resultados), mas nenhuma política pública formal. No Brasil, as escolas poderiam instituir, por exemplo, a produção de jornais escolares como uma atividade extra-curricular,realizada a partir de um trabalho interdisciplinar. Professores de todas as áreas conseguiriam abordar temas 59
específicos a partir do processo de confecção do jornal escolar, conduzido por um educomunicador. Todas as etapas de montagem do informativo estudantil seriam realizadas na escola, desde o debate e a criação das pautas, passando pela elaboração das reportagem até a editoração eletrônicas das páginas (o que ocorreria no laboratório de informática). Caso o sistema público de ensino adotasse este tipo de atividade, através de regulamentação legal, a abrangência social da escola seria ampliada de forma sensível e produtiva. Afinal, a discussão sobre os meios de comunicação, sobre a cidadania e a democracia passaria a integrar o cotidiano dos jovens de modo inovador — intensificando-se cada vez mais. Trata-se, evidentemente, de um exercício de imaginação ainda muito longe de se tornar realidade, mas que certamente asseguraria a criação de um ambiente estudantil rico, em que os jovens teriam contato direto com os meios de comunicação e, através deles, com os conceitos de pluralidade, respeito ao próximo e liberdade de expressão. Ainda é muito comum, principalmente nos jornais do interior do Brasil, as pessoas desconhecerem as reais funções dos meios de comunicação e temas correlatos, como garantia de liberdade de expressão, direito à crítica, interesse coletivo e fiscalização do poder público pela imprensa, somente para apontar os pontos que costumam apresentar mais problemas. Os cidadãos que mostram dificuldades em compreender o papel da imprensa não têm culpa disso. Afinal, cresceram em um país que não possui a tradição de um regime democrático forte, consolidado e estável. As ditaduras militares são responsáveis por capítulos tristes ao longo da história do Brasil,em que os direitos básicos foram suprimidos e, com eles, também o entendimento mais amplo de como funciona uma sociedade livre, em que a imprensa exerce seu papel de forma plena. A criação de políticas públicas que estimulem o contato das crianças com os meios de comunicação seria salutar para que a sociedade tivesse uma visão mais ampla sobre estas questões — até mesmo para observar criticamente situações reais e ainda mais profundas ligadas ao segmento,como por exemplo a concentração desregrada de veículos de informação nas mãos de poucos grupos empresariais brasileiros e a conseqüente necessidade de uma maior democratização no setor. Entender pontos como estes exige conhecimento. Mas não é preciso ser um jornalista ou um professor para decifrar esta realidade e conseguir intervir nela de forma crítica e pertinente. Há que se ter apenas uma boa formação cidadã, com consciência de direitos e deveres. Talvez, sem que percebamos, alguns passos já tenham sido dados. De nossa parte — pelo menos no caso do autor — fica a certeza de que a caminhada não será interrompida.Pelo contrário: será cada vez mais intensa e produtiva. 60
Bibliografia BARTHES, Roland. A mensagem fotográfica. in Luiz Costa Lima (org.),Teoria da Cultura de Massa. São Paulo: Paz e Terra, 2000. BORGER, Fernanda Gabriela. Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. São Paulo, 2001, 254p.Tese (Doutorado). Faculdade de Economia,Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo (USP), 2001. CITELLI,Adilson Odair. Comunicação e educação. São Paulo: Editora Senac, 2000. ELIAS, Maria del Cioppo. Célestin Freinet: uma pedagogia de atividade e cooperação. Petrópolis, RJ:Vozes, 1997. FILHO, Ciro Marcondes. Televisão: a vida pelo vídeo. São Paulo: Editora Moderna, 1988. FREINET, Célestin. O Jornal Escolar. Lisboa: Editorial Estampa, 1974. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. GOTTLIEB, Liana. O educomunicador Janusz Korczak. Artigo publicado na Revista IMES de Comunicação, São Caetano do Sul, no 3, p. 36-45, julho/dezembro, 2001. JAGENESKI, Cristiane. O jornal local como material didático contribuindo na construção da cidadania. São Bernardo do Campo, 2002. 104p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Comunicação Social, Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), São Bernardo do Campo, 2002. KORCZAK, Janusz. Como amar uma criança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. LEWOWICKI,Tadeusz; SINGER, Helena; MURAHOVSCHI, Jayme. Janusz Korczak. Perfil, Lições, O Bom Doutor. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), 1998.
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Outras fontes - Associação Nacional de Jornais (www.anj.org.br). - Fédération Internationale des Mouvements d’Ecole Moderne — Pédagogie Freinet (www.freinet.org). - Instituto Ethos de Responsabilidade Social (www. ethos.org.br). - Janusz Korczak Communication Center (www.korczak.com). - Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (www.usp.br/nce). 62
Sobre o autor Marco Aurélio Sobreiro é jornalista, formado em Comunicação Social pela Universidade de Mogi das Cruzes (1989-1992). Fez Especialização em Comunicação Jornalística (2001-2002) e Mestrado em Comunicação e Mercado na Faculdade Cásper Líbero (2002-2004). Em 1991, começou a trabalhar na redação do jornal Diário de Suzano, na Grande São Paulo. Lá, em 1996, participou do processo de implantação do projeto DS Escola, ligado ao Programa Jornal e Educação, da Associação Nacional de Jornais (ANJ). No DS Escola, participou de oficinas, cursos e capacitações ao lado de professores, orientando, anualmente, a produção do jornal dos estudantes.As imagens ilustrativas do capítulo Como fazer na prática mostram o autor nestas reuniões com os alunos. A experiência com o projeto desenvolvido em Suzano deu origem à sua Dissertação de Mestrado, que ganhou corpo e referencial teórico a partir dos estudos sobre Educomunicação, por indicação da orientadora Liana Gottlieb. Com a defesa pública do trabalho, em abril de 2004, tornou-se pesquisador dos temas relacionados à Educomunicação e, mais especificamente, da produção de jornais escolares. Este livreto une, de forma resumida, a visão prática de 10 anos ao lado dos alunos e os conhecimentos teóricos obtidos na pesquisa sobre o tema.
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Créditos e Agradecimentos Fotos de Célestin Freinet
Fonte: Fédération Internationale des Mouvements d’Ecole Moderne — Pédagogie Freinet (www.freinet.org) Imagens: Foto de rosto (p.17), reproduções de páginas de La Gerbe (p.18) e alunos trabalhando na montagem do jornal escolar (p.21)
Fotos de Janusz Korczak
Fonte: Janusz Korczak Communication Center (www.korczak.com) Imagens: Foto de rosto (p.22), fachada do Lar das Crianças (p.26)
Fotos de orientação aos estudantes
Fotógrafo: André Rodrigues Imagens: Fotos de celebração religiosa (p.45)
Foto de estudantes montando jornal escolar
Fotógrafo: Diego Barbieri Estudantes: Aline Nascimento, Elisiane Ferreira e Rafael Medeiros (p.46)
Núcleo de Comunicação e Educação da USP
Texto, produção gráfica e capa Colaboração editorial Tiragem Contato com o autor
Fonte: www.usp.br/nce Imagem: Reprodução da página de apresentação do site (p.29)
Marco Aurélio Sobreiro
Paulo Martins
500 exemplares E-mail: marcosobre@bol.com.br ou pelo telefone (11) 98494-7114
Citações ou reproduções de trechos, imagens ou capítulos deste livro podem ser feitos, desde que dado o devido crédito da obra e do autor. 64
Os jornais escolares são parte do ambiente escolar e instrumento de expressão daquela rebeldia característica da adolescência. Isso não é novidade. O que poucas pessoas sabem é que estas publicações juvenis têm uma longa tradição — no início do século passado, já eram utilizadas por pedagogos europeus como um importante aliado do processo educacional. Este livreto é o resumo de uma pesquisa de Mestrado que estudou a produção de jornais escolares no Brasil e no mundo, além de um moderno guia prático para quem quer produzir informativos desta natureza com qualidade, compromisso e ética.