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Confluências

Confluências

(2ª Série) março / abril 2014

Camões: uma Escola por Tempos e Marés

No próximo número (maio/junho), daremos nota das várias iniciativas realizadas por ocasião do Dia Aberto (exposições, conferências, cerimónia da entrega dos prémios do Concurso Literário Camões…) e de outras notícias de interesse para a comunidade escolar. 12 de abril de 2014 (instalações da Associação Cais)  O diretor da Escola Secundária de Camões, Dr. João Jaime Pires, recebe das mãos do presidente da Comissão Europeia, Dr. José Manuel Durão Barroso (ex-aluno desta escola), parte do montante do Prémio Europeu Carlos V  donativo que se destina a apoiar as obras de conservação do centenário Liceu Camões.

Nesta edição:

Scriptomanias Movimento Camoniano Conc. Lit. Camões 25 de Abril Vasco Graça Moura Olimpíadas filosofia Semana da Leitura & vários Contrastes Breves

pp. 2-4 p. 5 pp. 6-9 pp. 10,11 p. 12 p. 13 p. 14 p. 15 p. 16


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Confluências SCRIPTOMANIAS Génio da caneta e do papel Génio da caneta e do papel, O melhor dos melhores. A forma apaixonada como escrevia Ultrapassa qualquer outro. Indignado com o mundo da época Sobre a mudança ele escreveu. Sábio, humilde e nostálgico, Assim ele se descreveu. Sabemos hoje como amou e quem, Porém nunca correspondido foi. Desilusões amorosas? Oh, várias dessas ele sofreu!

Vivia repleto de dissabores, Vivia de amores. A mulher, o ser divino, A sua razão de ser, Nos poemas é descrita Como a musa do seu escrever. A contemplação da amada, O amor espiritual, Baseava-se em Petrarca; Era irrelevante o amor carnal. Escondido nos seus pensamentos, Sobre tudo ele escreveu. Um génio da caneta e do papel, Um dos melhores que aqui apareceu…

Humilde foi, Humilde é.

Mariana Mateus, 10º H e nhanhanha

Anti-Camões Abaixo, Camões, Abaixo! Abaixo, Luís de Camões!

Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81

Camões, poeta trovador, Seu amador mal-amado, Arruma as tuas rimas tristes Vai lá pregar para outro lado! És tu cego de um olho E eu é que não te posso ver à frente, Mas vias mais tu por essa pala Do que vê metade desta gente… “Amor é fogo que arde sem se ver”, “fogo frio” e “amor ardente”… Silêncio, seu piromaníaco demente!

e “ai o meu coração” e “ai que eu te amo tanto” e “ai a minha solidão” e “ai este meu pranto” “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, Mas és tu sempre a mesma coisa! Amores, lamúrias e saudades Já não há quem te oiça. Das tuas confusões fartei-me, Mas assumo que és um génio! Não haverá outro como tu Pelo menos no nosso milénio! Abaixo, Camões, Abaixo! Abaixo, Luís de Camões!

“Vai (Leonor) formosa e não segura” Escreves tu seguro e não formoso, Foste tu cativo de uma cativa A qualquer dama tu “batias coro”.

Camões, poeta vagabundo! Vida boémia viveste. Mais cedo ou mais tarde, como todos, Tu, ó Camões, tu morreste.

Às ninfas pedes inspiração Para escrever sobre caravelas. Atira-te ao rio Tejo E inspira-te assim tu nelas.

Por tal não te mando morrer. Mando-te ir para outro lado. Abaixo, Luís de Camões! Abaixo, Camões, Abaixo!

Abaixo, Camões, Abaixo! Abaixo, Luís de Camões!

Na tua escola estou eu. Foi feita em tua homenagem! Mas não vejo no país futuro… Não vejo uma bonita imagem…

Basta, Luís, basta! Seu inspirador de tristezas, de fúrias e penúrias e lamúrias e mágoas e amarguras e pobrezas e depressões e ilusões e sofrimentos e choros e gritos e birras e péti péti e péti petá

Uma escola centenária Com pouco apoio do Estado… E dizem os nossos governantes: “Abaixo, Camões, Abaixo!”

Pedro Castro, 10º J


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Confluências SRIPTOMANIAS

Em Mafra, a ficção na ficção – Desculpe, o que é que a senhora está aqui a fazer? O Convento está fechado. – O quê? Peço desculpa, poderia repetir? – Hoje é segunda-feira, minha senhora. O Convento fecha às segundasfeiras. Como é que entrou aqui? – Do que está o senhor a falar? O que se passa? – Minha senhora, com todo o respeito, gostaria que parasse imediatamente com a brincadeira e que se dirigisse para a saída. O Convento de Mafra, como saberá com certeza, encerra todas as segundas-feiras. – Não sei se estou a perceber! – Durante as segundas-feiras é interdita a entrada a qualquer visitante. Como tal, agradecia que saísse e regressasse apenas amanhã, a partir das 10 horas. – Mas que dia é hoje? Como é que eu entrei aqui? – Dia três de fevereiro. Como é evidente, não lhe sei responder a essa pergunta. A senhora sente-se bem? Precisa de alguma coisa? – Sim, preciso da sua ajuda. O meu nome é Blimunda e não sei o que estou aqui a fazer. Blimunda em Mafra? Seria possível? O segurança do museu, todo ele impaciente e abespinhado, já a caminho do furibundo, confirmava: Blimunda em pleno século XXI, no Convento de Mafra. Nem mais nem menos que Blimunda, estonteada, junto à loja de recordações do museu do palácio. Por indecifrável encanto, a famosa personagem literária havia sofrido uma verdadeira materialização. Mediante a evidência de um mistério cuja explicação se encontra para além de todos os conhecimentos, Blimunda declarava-se, agora, fisicamente viva. Incorpóreas forças sobrenaturais haviam resultado na corporização de um ser. O imaterial originara o material; com cabeça, tronco, membros e olhos dotados de clarividência, eis uma

criatura forçosamente criada. Todo um lado divino e celestial provocara a autenticidade e realização de uma figura tão emblemática. Perante estranha situação, o segurança, incrédulo, decide empregar algum humor: – Blimunda? Blimunda Sete-Luas, não? Eu cá sou o Baltasar Sete-Sóis! – Desculpe? Como sabe o senhor o nome do meu marido? Após cinco minutos de estranho diálogo, Blimunda acabou por sair do Convento quase a empurrão do segurança. Posta na rua, aturdida e desnorteada, olhava em redor à procura de qualquer sinal que lhe pudesse, de algum modo, clarificar as confusas ideias e explicar porque estava ela no concelho de Mafra a três de fevereiro. Encontrava-se no

centro do Terreiro D. João V, e, absolutamente abismada e boquiaberta, perguntava-se pela razão da estranha sensação que sentia em todo o seu corpo. Sem conseguir encontrar sequer palavras na sua cabeça para o exprimir, sabia, pelo menos, que nunca em toda a sua vida sentira os braços, as pernas e o ventre, de modo tão evidente e vivo. Parecia-lhe que a sua pele sentia, pela primeira vez, o frio cortante de fevereiro; sentia, também, que os seus cabelos se despenteavam ao vento de modo como nunca se tinham despenteado; os seus ossos gelavam como nunca tinham gelado; os seus lábios secavam como nunca tinham secado. Tudo à sua volta lhe parecia estranho e diferente, apesar de, ao mesmo tempo, tão familiar. A certa altura, cansada de tanto pensar e nada desvendar, decidiu dar corda aos velhos sapatos e encaminhar-se pela primeira via pública central que encontrou. À sua esquerda, ao entrar na chamada rua Serpa Pinto, reparou numa pequena casa de pasto, envidraçada e vanguardista, denominada Sete-Sóis. Nesse momento, os seus olhos, incrédulos, dilataram bruscamen-

te: Blimunda não acreditava no que via. Apercebendo-se, sim, que se encontrava transportada para uma época distante daquela em que nascera, não compreendia, porém, porque razão tinham ela e o seu marido tanta fama e reconhecimento. «Em que ano estarei eu?!», perguntava-se Blimunda. Andados cerca de 500 metros pela mesma rua, aproximou-se, a dado momento, de uma das bizarras máquinas metálicas com rodas. Fossem estas pretas, cinzentas, ou esbranquiçadas, pareciam-lhe todas absolutamente invulgares e extravagantes. Tão desconcertada e atarantada estava, que resolveu simplesmente ignorá-las e seguir em frente com a máxima convicção possível. À sua direita encontrou o Cartório Nacional, a Beclinique, a Natur House, a Robbialac...; à sua esquerda, o Habi Cast, o Viva Fit, a Pastelaria Doces Tradicionais, a Funerária Mafrense... Cada uma destas edificações mais absurda e ridícula lhe parecia. No entanto, tentava, novamente, desatender a tudo o que a rodeava, impulsionada quase por uma intuição misteriosa de seguir em frente. Quinhentos metros adiante, obrigada a virar à esquerda com o final da Rua do Castelo, deparou-se com uma igreja: «A Igreja de Santo André!», exclamou entusiasmada. De estilo romano-gótico, tendo sido até ao século XVIII o principal templo da vila e o ponto central de toda a estrutura urbana, encontrava-se agora em estado pouco conservado. Ao observar o monumento, Blimunda deixa-se cair sobre os seus joelhos, em lágrimas, levando as mãos à cara. Tinha, então, a certeza de que a sua vida estava enterrada por debaixo de centenas de anos. Toda a sua vida fora apagada pela passagem do tempo e esquecida cruelmente. O seu presente pertencia ao passado, deixando-a anacronicamente vazia. Assim, como uma gota que se evaporara com o calor do sol, Blimunda desvaneceu-se nos ares enregelados de Mafra e desapareceu.

Diana Francês, 12º J


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Confluências SCRIPTOMANIAS A importância da língua portuguesa Eu sou colombiana. Nunca tive o sonho, e ainda bem, nem a necessidade de sair do meu país. Amei desde sempre as paisagens, a natureza, a alegria da gente que fazia parte da minha cultura e, cada vez que estive longe da minha terra, as saudades foram a razão para voltar das minhas viagens. Como artista sul-americana, também tinha a ideia do velho mundo como referência do pensamento ilustrado, do progresso e, mesmo, da "grande arte" universal. A confrontação entre o universo da racionalidade e a minha cosmovisão, cheia de magia, fantasia e conhecimentos antigos, foi a primeira motivação para procurar um encontro, um encontro que já estava marcado pelo destino. Cheguei à Europa pela primeira vez há dois anos. Depois de longas e dispendiosas tramitações de vistos e burocracias, entrei na "Mãe Pátria" (Espanha), no velho continente. Fiz o percurso que a fortuna me tinha destinado: Berlim, Hamburgo, Paris, o sul da Itália e, pela fortuna da vida: Portugal. Já tinha pensado ter suficiente consciência da missão, e o regresso à Colômbia seria o seguinte e lógico movimento nessa deslocação. Cheguei a Lisboa num amanhecer de 30 de abril. Tinha vivi-

Memória A nossa mente é um buraco negro. Nessa profunda escuridão, raios de luz iluminam o nosso ser e fazem-nos lembrar momentos únicos e especiais. Quando fecho os olhos, tu entras dentro da minha mente e pintas de todas as cores o meu mundo a preto e branco. Fazesme viajar no tempo e relembrar o que não pode voltar a acontecer. E a saudade cresce. Cresce lenta e profunda, como uma faca que me abre o coração. As lágrimas deslizam como se fossem a confissão dos meus pecados. A dor que me cresce no peito

do com outros colegas toda uma série de atividades que falavam da Revolução, tinha percebido toda uma condição de paixão pela liberdade conseguida no 25 de abril, mas ainda não tinha visto nada. Depois de muitos aeroportos, comboios e autocarros, o meu corpo tinha de fazer um último esforço: a meio da Calçada do Moinho de Vento, virei à direita, para a estreita travessa que dá acesso à parte inferior do Jardim do Torel, um dos mais belos jardins do mundo. Um grande amigo tinha as chaves do jardim, a esplanada estava logo ali, com a sua fantástica vista sobre a cidade. Nesse preciso momento escutava a minha própria voz a dizer: a minha felicidade resume-se a isto. Alguma coisa aconteceu nessa visão do Tejo, nessas parcerias na Figueira da Foz, Coimbra, Viseu, Montemor e agora a bela Lisboa. Eu, finalmente, tinha encontrado a própria poesia, eu, finalmente, tinha vontade de experimentar a beleza de uma outra linguagem da vida, fatalista, romântica, cheia de paixão, tinha descoberto um novo mundo de agitação poética, tinha chegado à terra de Pessoa, de Saramago, de Boaventura de Sousa Santos, do Fado; tinha encontrado um espaço de onde o mundo convergia todo, mas na calma e no silêncio. Tinha encontrado um novo amor.

aumenta, e adormeço. Mesmo nos meus sonhos tu apareces. Assombras-me! Olho para ti. Olho-te nos olhos e vejo um mundo sem cor, uma alma vazia. Tento fugir! Tenho medo! Não de ti, mas da dor que me podes causar. E de repente agarras-me e abraças-me. O teu abraço forte, único e especial. A tua proteção, o teu carinho, o teu amor fazem sarar a minha ferida ainda aberta. Mas, sem avisar, desapareces. Dou por mim no meu quarto. Só. Procuro-te, quero-te tanto aqui, e tu não apareces! O meu coração sangra. Fazes-me falta! Onde estás?

Andrea Valencia, PPT- B1 Porque te foste embora? Por favor não me deixes sozinha! Não agora, que eu preciso de ti! Volta para mim! Não quero que sejas apenas uma memória.

Madalena Oliveira, 10º I (9 de dezembro de 2013)

A SAUDADE É A MEMÓRIA DO CORAÇÃO (Coelho Neto)


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Confluências MOVIMENTO CAMONIANO É o meu último ano no Camões, o terceiro de três que frequentei na nossa escola e em que, de alguma forma, produzi ou ajudei a produzir cada café concerto, desde o primeiro, em dezembro de 2011, ao último, no dia 4 de abril. São 3 anos, três anos em que todos os períodos acabam com os nossos tão queridos cafés concerto. “Queridos”, falo por mim, está claro, mas certamente que não é opinião única; no entanto, aviso que este será sem dúvida um artigo nada imparcial, mas será tão imparcial quanto verdadeiro. O café concerto, o que é? Bem, o que vos posso dizer? Mais do que apenas um concerto, é… todas as semanas dedicadas à sua organização, todas as horas, todas as pessoas, todas as tardes tardias, às vezes noites e vésperas, os dias, de manhã à noite. É as decorações (as horas a pintar, desenhar, as sempre complicadas horas em que lutamos contra as paredes para que consigamos pendurar a decoração), a preparação do bar (as listas de “quem traz o quê”, as listas rabiscadas de “afinal quais são as quantidades que precisamos”), as mesas e as cadeiras (que forramos,

limpamos e arrumamos), o chão (sempre imundo e a necessitar de ser varrido), o palco (o alinhamento, os artistas, as luzes, o som, a música, os ensaios), tudo isto e muito mais é o café concerto. Mas palavras não as há para que possa explicar-vos o que é um café concerto, apenas poderei dizer-vos que a lista que acabo de enumerar parece chata, e um trabalho realmente ‘trabalhoso’, quase penoso até, mas a verdade é que não é. Como dizia Confúcio, “Escolhe um trabalho que ames e não terás de trabalhar um único dia da tua vida”. Perguntem a quem quiserem, todos os que participaram de alguma maneira num café concerto vos dirão, com certeza, que em momento algum trabalharam mais do que se divertiram. O café concerto é um trabalho de equipa para no próprio dia tudo estar pronto e, como a Inês dizia no artigo que escreveu, “senti-me cansada, mas

Tinha chegado o grande dia, o dia para o qual trabalhámos todos com o mesmo objetivo, o dia do café concerto. Começamos sempre a prepará-lo com alguma antecedência mas quando chega o dia parece que está tudo atrasado e começa toda a gente a entrar em stress. As caves do nosso velho liceu enchem-se de vida e de pessoas durante aquelas semanas de preparação e no dia do espetáculo tudo fica mágico. À hora do espetáculo, assim que entrei nas caves, sorri e ao mesmo tempo senti uma pontinha de saudade que não entendi no início. A animação começava na entrada com os porteiros muito simpáticos e risonhos e continuava pelo corredor fora. Quando chegámos à sala, sentámo-nos e começou o espetáculo. Quando alguém me disse, com os olhos com lágrimas, “estou triste, este é o último café concerto aqui nas caves”, era isso! Agora tinha percebido aquela saudade toda… eu sentia que aqueles momentos maravilhosos estavam a chegar ao fim. Não lhe consegui responder, limitei-me a abraçá-lo com força. O café concerto tinha chegado ao fim e, como é tradição,

feliz”. O café concerto vive o Movimento e o Movimento vive o café concerto, e o mesmo acontece com todos os outros eventos e projetos que desenvolvemos. Dá trabalho? Dá, mas dá um gozo, um sentimento de realização que não consigo igualar. Não se trata de polícias maus, inúteis, mentirosos, ardilosos, ditadores, antidemocráticos e tantas outras coisas, mas o Movimento Camoniano são vocês que o recriam todos os dias, que o reformulam, moldam… Se há algo a mudar, venham, recriem, reformulem, moldem. O Movimento Camoniano recebe todos e cada um de vós, e cada ideia ou projeto, não é obrigatório nem facultativo, está quem quer, sai quem quer; pensa, idealiza e sonha quem quer, nada mais. Se por acaso caí no lapso de parecer estar a fazer publicidade, desculpemme, mas achei por bem que deveria desmistificar algumas questões e clarificar outras. Ciente do risco, corro-o na esperança de ter deixado alguns esclarecidos. Para sempre camoniana, Margarida Botelho

o Movimento subiu todo ao palco para agradecer ao público e a toda a gente que nos ajudou. Foi aí que me senti melhor, no meio de todos eles, estava no meio da minha segunda família. Nesta altura eu devo ser uma das avós dessa família, os meninos do 11º ano são os nossos filhos e todos os que fazem parte do 10º ano os nossos netos, uma família que acolhe cada membro novo com carinho e animação, a minha geração que faz parte daquele círculo e que confia nos novos elementos para darem continuidade àquilo que nós criámos. Somos um grupo de pessoas ativas, um grupo de pessoas sempre pronto para encarar novos desafios, somos aquele grupo de pessoas que no final de cada festa se sente cansado mas feliz. Foi assim que me senti, no fim do café concerto fui para casa cansada mas feliz, com o coração cheio e com vontade de gritar ao mundo a mensagem que o Movimento Camoniano me ensinou e me provou que era verdade, a mensagem que diz “Tenho orgulho de ser Camoniana!” Inês Camacho


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Confluências CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES − PREMIADOS Esta 9ª edição do Concurso Literário Camões vem mais uma vez provar que a escola tem cumprido um dos seus objetivos, o de estimular, juntos dos alunos, as capacidades criativas de leitura e de escrita. Nesta edição, regista-se uma participação assídua e empenhada dos alunos que responderam ao desafio lançado. Acresce o facto de, este ano, o número de textos a concurso ter aumentado em relação a edições anteriores, provando que, como nos diz o poeta, tem valido a pena, porque a “alma” dos alunos tem correspondido. A todos os seus autores, por igual, a nossa gratidão. Sentimento que tornamos extensivo a quantos, formal ou informalmente, colaboraram e tornaram possível esta iniciativa. Lídia Teixeira e Teresa Saborida (organizadoras) (maio, 2014)

1º PRÉMIO porque és vasco Adriana Jorge, 11º E domarás as inquietas ondas Foge grita corre rumo ao mar à praia revolta-te persiste agarra o sonho que te alimenta a alma

faz dos cabos vontade e das marés teu trilho galga todas as vagas persegue o teu destino

porque és descobridor abraçarás o incerto porque és henrique porque és nosso povo seguirás o fogoso vento alcançarás a nova índia 2º PRÉMIO Duarte Bernard da Costa, 10ºL Incineração tem uma ideia ateia um fogo e bombardeia a mata ateia granada explode floresta incendiada corre cinza foge o verde loucura. fuga. pressa foge verde verde verde foge verde foge. cinza sufoco estival uma gota cai mil gotas. céu cinza escorre corre escorre

(cinza) corre um riacho escorre um rio cinza em largo oceano vestígio e memória de fogos passados e verdes passados também som da granada cinza.


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Confluências CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES − PREMIADOS 3º PRÉMIO Guilherme Martins, 12ºL Hoje os ponteiros estão atrasados disformes à minha impaciência. Ordenam-me a passividade – o autoritarismo da existência. Na contradição de sua mediocridade o apaziguamento que lhe é característico o tempo que se impõe os apressados na deontologia da consequência. Hoje os ponteiros estão atrasados mas sou ainda inconsciente. Nas avenidas, o elétrico Alegórica, a liberdade. Carris que são tiranos fregueses na ilusão. Lá se vão abancados na contemplação da loucura inalcançável encaixotados na miragem efemeramente levitando no desejo Menção Honrosa Guilherme Martins, 12ºL Rittornello A vossa voz (ui!) ressoa, Caríssimos lívidos Mas ninguém Particularmente Pressente o seu bafejo (EFETIVAMENTE) Dir-se-ía que talvez O próprio ar, se pérfido, Vos abafa — e pretende estrangular. E como Stravinsky, Mas com desprezíveis afetações E adoráveis maneirismos

de ver sentir ser. Assim a evasão dos autómatos na viagem. E os ponteiros, atrasados enquanto carris houver que me prendam à decência indiferença no Homem recetividade à luzidia escuridão que lhes encadeia a magnificência da destruição constante da questão sobressaltada do ser – sem brandura, nem receio da essência ilimitada. Mas e sempre os ponteiros, tão atrasados indiferentes à ira que emana por entre os edifícios. Infindáveis, cíclicos a tapar o largo oceano da destreza. E o Homem, invariavelmente atrasado curvado no olhar repetitivo da alienação pontual – na larga monotonia da certeza.

INATOOSTINATOSTINATO, Mas muito com todo um rigor E (doentio, doentio...) o sincronismo estudado (punctumcontrapunctum) OSTINATO Sim A vossa voz ressoa, Caríssimos lívidos Assim. E nada pode realmente florescer Na vossa presença; Mas apenas ser um museu vivo a morrer De uma qualquer crença Cega, aristocrata e tateante; E tudo quanto está à vossa volta Fervilha incessante, e com loucura, Contra porventura a vossa face!

Dir-se-ia que talvez O próprio ar, se pérfido Vos abafa e pretende estrangular. Mas o dia virá por fim, sinistro, como tudo quanto é profético, Em que vos será dada a provar, Sem prerrogativas, a terra suja, E o vosso céu cairá numa asfixia Sobre a infame voz que ressoa, E a vossa fúria será abatida, E os estandartes pisados; E o tal "praia lusitana” etc E todas todas as espécies de múmias Semelhantes que foram impostas Vos farão engasgar, E como Jericó, sereis conquistados. Enquanto a vossa voz Ainda ressoa, caríssimos lívidos, Mas ninguém particularmente pressente o seu bafejo.


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Confluências CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES − PREMIADOS 1º Prémio Mariana Gomes, 10º H Partidas De Um Tempo Ainda Camoniano O Tempo é sábio. Toda a gente sabe isso. Quando nós, humanos, estamos demasiado desorientados, deixamo-nos levar pela brisa e vamos viajando, viajando, viajando, até encontrarmos o nosso destino. Toda a gente confia no tempo, porque ele é leal e, mais cedo ou mais tarde, acaba por nos ajudar. Contudo, o tempo também se engana. Às vezes é traído, e anda por aí a vaguear, também desorientado, como um velho senhor que perdeu o chapéu a caminho de casa. E foi num desses raros enganos que Afonso, aluno de Artes da Escola Básica 4º ciclo de Camões, se viu apanhado. A chuva intensa ameaçou destruir as pinturas do rapaz de 18 anos, e ele encontrou refúgio no grande cubo de betão, escondido entre o grande edifício da escola. Era o “Cubo das Memórias”, explicaram os seus padrinhos 3 anos antes, “pois é aí que se encontram registados todos os factos históricos a que este liceu assistiu. Não se deixem enganar pela construção fria deste edifício, porque o que está lá dentro é muito diferente”. Afonso concordava com os colegas. Ultrapassando a porta, entrava-se num mundo completamente diferente. Mesas bicentenárias, de madeira escura, ocupavam a sala, acolhedora, com o chão lustroso e as paredes preenchidas de quadros e documentos. Personagens importantes sorriam para a fotografia, enquanto objetos lutavam por um lugar de destaque. (…) 2º Prémio Anca Ciuntu, 12º E O Artigo Já estava bastante atrasada. A caminhada do arranha-céus em que vivia no 11º andar, até ao arranha-céus em que trabalhava a alguns minutos de distância não era longa, mas a chuva intensa e o chapéu-de-chuva de má qualidade não ajudavam. Atravessou a rua chegando às grades do antigo Liceu Camões, agora em ruinas e com um aspeto extremamente assustador. Costumava ouvir a avó falar sobre quão extraordinária tinha sido essa obra de arquitetura. Contudo, aos seus olhos não passava de um edifício desgastado que apenas contrastava de forma desagradável com os enormes edifícios modernos que se encontravam agora em seu redor. Nunca percebeu o porquê de ainda não ter sido destruído e substituído por algo moderno que pudesse dar rendimento. Simplesmente sabia que a sua avó, juntamente com algumas

dezenas de antigos alunos, tinham comprado o terreno e o edifício, e tinham prometido nunca o vender. A parte que pertencia à sua avó estava agora nas suas mãos. E a promessa continuava com ela. Atravessou mais uma rua e chegou ao majestoso e incrível edifício em que trabalhava como editora. Uma obra arquitetónica de 71 andares, toda espelhada, que refletia a luz do sol apenas alguns minutos durante o dia, quando esta conseguia encontrar uma brecha entre os outros monstruosos edifícios. Deitou o chapéu-de-chuva num contentor de lixo, e com as roupas a pingar entrou. Imediatamente surgiram assistentes com secadores para lhe secarem a roupa. – Obrigada – disse ela atrapalhada – será que me podiam trazer uma chávena de chá por favor? – Claro, menina Alana – respondeu prontamente uma das assistentes – suba que eu já lha trago. (…)


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Confluências CONCURSO LITERÁRIO CAMÕES − PREMIADOS 3º Prémio Inês Faria, 10º B Um amigo como esse que a falar amamos Como ela odiava entrar sozinha na escola e andar a vaguear indecisa pelos pátios, meio desorientada, até encontrar alguém a quem se pudesse juntar. Provavelmente, até nem estaria ninguém a olhar para ela, mas sentia-se prestes a desmaiar de cada vez que entrava no jardim em frente do Liceu Camões e se aproximava gradualmente da entrada cheia de alunos, ou quando cruzava o recreio, de mala ao ombro, até ao pavilhão, com a música de discoteca a acentuar a sua passagem constrangida. Era uma falta de

ar, um aperto no estômago, e, principalmente, um não saber o que fazer às mãos nem para onde dirigir o olhar, que a deixavam num quase ataque de ansiedade. Nessa manhã, por estar a chover literalmente a cântaros, com vento e trovoada, a mãe deixou-a de carro na escola. Era ainda bastante cedo quando chegou – faltavam dez minutos para as oito horas e as aulas só começa-

Menção Honrosa Dinis R. Dias Tomás, 11º A Quimera

Luzes tremeluzentes de cor amarela aterram tranquilamente na plateia: Vazio. Em cada uma das cadeiras um melancólico e silencioso espectro que me fita e consequentemente enlouquece. Todos ante mim, cobertos por uma aura impenetrável imune a qualquer erosão: Um cemitério imutável pejado de lápides com os tormentos deste Liceu gravados. As carcaças sob elas não admitem reanimação. Eu, a alma perpetuada neste auditório, honro, aqui, a memória do infortúnio que ceifou o Liceu e Portugal. Um século e algumas décadas atrás, em consequência do estado decadente dos cofres (e de todos os mecanismos que os enchem… ou esvaziam), todas as fronteiras, as físicas e as morais, foram cruzadas. Apesar de possuírem autorização (devidamente concedida…isso não contesto no plano físico), os “visitantes” pressionaram-nos com múltiplas imposições (também legítimas). Como já era de se esperar, os capitães da nau lusa

vam às oito e um quarto. Olhou de relance para gente dispersa pelo átrio, pelos pátios e pelas varandas, lá em cima. Havia, nas madrugadas chuvosas e pouco movimentadas como aquela, algo que lhe agradava profundamente, sem que soubesse explicar porquê. Se tivesse coragem, ia falar com o rapaz encostado à parede, sozinho, no pátio ocidental. Estava a vê-lo pelo vidro da porta, e apetecia-lhe sinceramente aproximar-se e perguntar-lhe qualquer coisa. Podia simplesmente fazer um comentário («Está imenso frio»), que soaria forçado, ou dizer uma coisa tola que o faria rir ou achá-la ridícula. Não tinha coragem para nenhuma das hipóteses, sabia. E deixou-se estar. (…)

não souberam responder à súbita agitação das marés: Como senhoras em épocas de saldos, arregaçaram as suas longas e sedosas saias ornamentadas e guincharam aos céus e aos infernos por uma salvação. Das instâncias divinas só receberam trovões e labaredas, então, como liderar os homens é tarefa que envolve suor e nervos de aço, as doces “madames” soltaram mais um gritinho ou dois e esconderam-se nas cabines. Atónitos com a carência de coragem nos corações dos (supostamente) bravos líderes lusitanos, os homens, entre as manobras com o leme e o armar dos canhões, pediram cordialmente às assustadas senhoras que se mostrassem ao perigo: Que deitassem ao alto mar os corpetes e as saias rendilhadas e cobrissem o corpo só com a bandeira verde-rubra. Ondas vieram, voltaram, partiram, regressaram. Dos aposentos parlamentares ouvia-se apenas pesadas respirações e discussões superficiais aliadas à ausência de meios ou instrumentos que concretizassem as conclusões (que muitas das vezes não surgiam). (…)


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Confluências 25 de ABRIL 40 Anos do 25 de Abril (23 e 24 de abril, Auditório) - Em sala repleta e em ambiente atento, ouviu-se um longo testemunho vivenciado pela jornalista e escritora Maria Teresa Horta sobre o papel da mulher na luta pela liberdade (“Lutar pela liberdade; morrer se for preciso”); admirou-se o poder da memória e da palavra poética pela voz da Drª Maria Barroso; descobriu-se a Liberdade feita pela coragem dos capitães de Abril através das histórias (que fizeram História) contadas pelos ‘militares da revolução’ Otelo Saraiva de Carvalho e Martins Guerreiro.

De 23 a 30 de abril decorreu ainda no espaço adjacente ao Auditório uma exposição intitulada “25 de Abril, ontem e hoje − evocação, memória e luta”, em colaboração com a União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP).


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Confluências 25 de ABRIL 40 Anos do 25 de Abril (30 de abril, Auditório) - Concerto com alunos da Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa, Alunos e Coro da Esc. Sec. de Camões e Filipa Pais.

Fotos publicadas no Facebook da Escola

Gratidão Uma guerra sem sentido. Torturas sem piedade. Direitos negados. Fome e miséria. Almas e corações feridos de um mundo recusado. Uma esperança que nasce. Homens que deram a vida por um ideal. Homens que correram riscos para confiarem a um povo tudo aquilo que não lhes era permitido. Heróis que lutaram pela liberdade e pela igualdade entre seres humanos.

Aquele dia marcado pela mudança de um mundo negro e obscuro onde a ignorância governava as mentes dos mais desprotegidos. Aquele dia em que os militares saíram à rua e fizeram uma revolução assinalada pelo vermelho, um vermelho belo, o vermelho dos cravos. Quarenta anos passaram. Foi tanto em tão pouco tempo. Tudo o que ganhamos foi graças àqueles que acreditavam que Portugal podia ser mais do aquilo que era. Ainda temos muito por que

lutar, pelo 25 de abril. Mas já temos o mais importante, e isso devemo-lo àqueles grandes Homens. E o amor, o orgulho em ser português, surge graças a este dia, graças aos Capitães de Abril que se ‘deram’ por um amor à pátria, ao povo e aos direitos. É a eles que temos de agradecer. Agradecer pelo que temos hoje, passados 40 anos. Madalena Oliveira, 10º I (20 de abril de 2014)


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Confluências VASCO GRAÇA MOURA − UM ADEUS Por mais de uma vez aceitou o convite para vir à Escola falar com os alunos e os professores. Prometera voltar, mas o estado de saúde, a 27 de abril, atraiçoou-o. A comunidade escolar, porém, fica-lhe grata. “Personagem polifacetada da vida cultural portuguesa, Vasco Graça Moura nasceu no Porto em 1942. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, foi advogado entre 1966 e 1983, década em que envereda definitivamente pela carreira literária. Poeta, romancista, ensaísta, tradutor, foi secretário de Estado de dois governos provisórios, desempenhou funções diretivas na RTP, na Imprensa Nacional-Casa da Moeda e na Comissão para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. Em 1999, foi eleito deputado ao Parlamento Europeu. Em 2012, foi nomeado para a presidência da Fundação Centro Cultural de Belém pelo Secretário de Estado da Cultura. “Na sua poesia, que é para o escritor «uma questão de técnica e de melancolia», reconhece-se a intertextualidade com Camões, Jorge de Sena, Dante, Shakespeare e Rilke, objetos privilegiados do seu estudo. É autor de três ensaios

sobre Camões: Luís de Camões: Alguns Desafios (1980), Camões e a Divina Proporção (1985) e Sobre Camões, Gândavo e Outras Personagens (2000). Em 1996, a sua obra foi reunida em volume. Dos títulos deste autor, podemos salientar Concerto Campestre, os romances Quatro Últimas Canções (1987) e Meu Amor Era de Noite (2001), os livros de poesia Uma Carta no Inverno, que lhe valeu o prémio da Associação Portuguesa de Escritores, e Poemas com Pessoas (ambos de 1997). Recebeu o prémio Pessoa em 1995 e a medalha de ouro da Comuna de Florença em 1998, ambos atribuídos à sua tradução da Divina Comédia de Dante. http://bookoffice.booktailors.com/autores/vasco-graca-moura/

24 de abril de 2013 (Biblioteca) Vasco G. Moura procede à entrega do livro "O olhar dos Jovens sobre o Amor de Perdição - As Cartas de Perdição" a alunos da escola que participaram no desafio lançado pelo CCB.


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Confluências OLIMPÍADAS DE FILOSOFIA 2014 Menção Honrosa Diana Barros Francês (Escola Secundária de Camões)

Nos passados dias 7 e 8 de março, decorreram, na Escola Secundária Paços de Ferreira, as Olimpíadas Nacionais de Filosofia. Em resumo, a competição solicitou, ao conjunto de alunos selecionados por cada escola, a composição de um ensaio filosófico: um texto argumentativo em que se defendesse uma determinada posição filosófica, questionando e respondendo às questões colocadas, oferecendo argumentos e refutando as objeções. Tal ensaio teve, como temática, um dos quatro tópicos elaborados pela Comissão Organizadora, tendo em conta a oportunidade dos temas e dos problemas do mundo atual, as diferentes áreas filosóficas e o programa em vigor na disciplina de Filosofia. Desta forma, encaixotada numa sala de informática, juntamente com outros participantes oriundos das mais variadas zonas do país, produzi, ao longo de três horas, o meu ensaio filosófico. O som quase estridente dos dedos que batiam nos teclados criava uma atmosfera penetrante e intensa. Tratou-se, no fundo, de um confronto individual entre o pensamento e a escrita, entre a filosofia e as palavras. Toda a competição se baseia num elevado caráter pedagógico, onde aparecem, como principais objetivos, a promoção da educação filosófica a nível do ensino secundário, o aumento do interesse dos alunos pela Filosofia, a contribuição para o desenvolvimento do pensamento crítico, questionador e criativo, assim como a promoção da reflexão ética e filosófica no domínio dos temas do mundo contemporâneo. Posto isto, tive oportunidade de observar de perto, envolvida num meio quase campestre como é o da região de Paços de Ferreira, o comportamento dos tão ambiciosos aspirantes a filósofos... O intercâmbio intelectual e a oportunidade de contacto pessoal entre jovens de diferentes zonas do país, convidaria a uma enorme promoção da cultura e do conhecimento. No entanto, por vezes, o espírito ferozmente competitivo falou mais alto. O ambiente antagonista entre alguns concorrentes revelou, infelizmente, uma certa formatação prévia de “ensaios tipo”, pensados de modo a garantir a imediata vitória. O desejo pelo título de Vencedor das Olimpíadas da Filosofia, criou, em parte, a desvalorização da importância da pura meditação, que acabou sendo substituída pela cobiça faminta de ganhar. Afinal de contas, não deveria ser esta a competição, por excelência, que promovesse a liberdade de pensamento e da sua expressão? Considero que esta experiência foi, para mim, na generalidade, e apesar de aspetos menos positivos, muito enriquecedora, porque me permitiu, durante esses dois dias, longas reflexões sobre a homogeneidade do pensamento e o excesso de convicções pouco anárquicas e fechadas... Diana Barros Francês, 12º J VIOLÊNCIA 25 de março de 2014 Auditório Com a plateia praticamente cheia, os alunos das turmas 10º I, 10º C, 10º G e 11º H foram convidados a refletir sobre a questão da Violência, assunto tão presente na vida quotidiana da sociedade hodierna. Para além de uma representante da Associação de Estudantes, intervieram ainda os professores de filosofia Manuel Beirão e Irene Resende, bem como a psicóloga escolar Sónia Ferreira.


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Confluências SEMANA DA LEITURA DE 17 A 21 DE MARÇO Por iniciativa da BE/CRE, decorreu na semana em epígrafe a “Semana da Leitura” - com exposições, exibição de vídeos, projeção de um filme, etc. A exposição – “O tempo da língua” – esteve patente na biblioteca antiga e foi constituída por uma série de cartazes baseados numa exposição virtual do Instituto Camões, com o mesmo título. Dois expositores, juntos às janelas, contiveram algumas preciosidades do espólio da biblioteca antiga. No átrio, esteve uma pequena exposição sobre Camões, com a sua biografia (por Eugénio de Andrade) e bibliografia, textos líricos e dramáticos do poeta, um texto sobre a música na obra de Camões e uma curiosidade – várias traduções de Os Lusíadas (nove línguas) com folha de rosto e as 2 primeiras estâncias desta obra. Nos armários laterais estiveram expostos alguns livros de e sobre Camões. Entretanto, passaram ainda no Átrio vários vídeos. No Auditório, foi possível assistir ao filme “José e Pilar”. De sublinhar, também, a reedição no dia 21 (sexta) da iniciativa para a comunidade escolar de "OUVIR O SILÊNCIO A LER"! Uma Visita 2 de abril – a Escola Secundária de Camões recebeu durante a manhã um grupo de 37 alunos franceses (do Lycée Général Saint-Exupéry, Parentis en Borne) que, por iniciativa da sua professora de português, Maguy Rodrigues, se deslocou a Lisboa em visita cultural durante uma semana. Acompanhados ainda pelas professoras Laure Lajo (HistoriaGeografia) e Anne-Lise Orengo (Letras), os alunos percorreram alguns dos espaços ‘nobres’ da escola (Museu, Caves e Biblioteca, aqui assistindo a uma aula sobre a presença francesa em Os Maias, pelo professor António Souto) e, depois de receberem das mãos do diretor um certificado de presença, almoçaram no Refeitório.

Apresentação de livro 29 de maio de 2014 (Auditório Camões, 18h30) − O escritor António Manuel Venda lançará o seu mais recente livro Contos Municipais. A apresentação estará a cargo do juiz conselheiro jubilado do Tribunal de Contas, Carlos Manuel Moreno, e contará com mais duas intervenções, uma de uma pessoa ligada a uma câmara e outra de uma pessoa ligada a uma junta de freguesia. Natural de Monchique, o autor já esteve na Escola como convidado, estando prometida nova presença no próximo ano letivo, para um encontro com os alunos.

APOSENTAÇÕES − ABRIL de 2014 D. Olinda de Jesus Mendes (iniciou funções em 18/12/1974) Depois de praticamente quarenta anos de serviço e dedicação, mais duas funcionárias que se despedem. A ambas, a Escola Sec. de Camões deseja um bom ‘retiro’ e as maiores felicidades!

D. Maria Manuela Madeira (iniciou funções em 18/11/1975)


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Confluências CONTRASTES “As prioridades do Estado na Praça José Fontana” Por Daniel Oliveira

parque escolar público, e uma sede megalómana e desproporcionada para a Polícia Judiciária. Das escolas que estavam a ser construídas, Passos Coelho disse que eram "luxuosas". A sede da PJ, inaugurou-a. Com a ministra a dizer que este investimento é "bem revelador da elevada importância que atribuímos a esta obra, pela Polícia Judiciária e pela sua função". São duas atitudes distintas. Dirão, com razão, que esta nova sede não foi decidida por este governo. A proposta tem dez anos (tinha um custo projetado de 60 milhões) e foi de Celeste Cardona, noutro governo PSD/CDS. Era para ser em Caxias mas obra acabou embargada, o que levou à indeminização da construtora Teixeira Duarte. Alberto Martins, do PS, repegou na coisa e estimou que viesse a custar 32 milhões. Na adjudicação, foi parar aos 90 milhões (os 107 milhões só ouvi de Paula Teixeira da Cruz, mas concedo que seja verdadeiro). A renegociação feita pela atual ministra só reduziu um pouco, muito pouco, os valores iniciais. Só que também não era deste governo a obra que estava projetada para o Liceu Camões e as que estavam em andamento em muitas escolas públicas. E isso não o impediu de as interromper abruptamente, sem apelo nem agravo, qualquer tentativa de renegociação de valores ou mesmo qualquer solução que minorasse os efeitos desta decisão. Há escolas onde os alunos perderam o edifício que tinham e agora têm aulas em contentores. Há escolas com obras a meio, a degradarem-se. A António Arroio* é um exemplo, com o edifício principal rodeado há mais de dois anos por andaimes e, desde que o governo decidiu suspender as obras, sem refeitório. Tem investimentos de centenas de milhares de euros a degradarem-se de forma irreparável por terem ficado a meio. Um exemplo do que é decidir em cima do joelho e tratar o dinheiro dos contribuintes com os pés. E há escolas como o Camões, em risco de ruína. Todas vivem na mais completa ignorância sobre o futuro, sem que o Ministério da Educação e a Parque Escolar se sintam na obrigação de lhes dizer alguma coisa. A política faz-se de escolhas e de prioridades. Sobretudo quando o dinheiro falta. Na Praça José Fontana estão exibidas as prioridades do Estado e deste governo. Que o pouco que há servisse para todos seria bom. Mas a escolha foi tirar tudo da modernização das escolas o esbanjar sem limites numa sede da Polícia Judiciária. E isto diz-nos qualquer coisa.

O edifício da Polícia Judiciária foi ontem inaugurado. São 80 mil metros quadrados, 95 milhões de euros de investimento (87 na construção), que apetrecharam Portugal com um dos mais "poderosos" (palavra da ministra) centros de investigação criminal da Europa. Os pinos na porta de entrada são contra o embate de viaturas pesadas. Os vidros são à prova de bala. O dispositivo interno de segurança é do mais moderno. A sala de comando fica num bunker, dois pisos abaixo do solo. No topo do edifício há um heliporto para helicópteros pesados. São 80 mil metros quadrados que deixarão muitas salas vazias, porque o projeto foi crescendo sem parar. Houve mesmo um investigador que disse ao "Público" que "são precisas quase duas polícias para ocupar o espaço todo." Até os inspetores da PJ, naturalmente satisfeitos com as novas instalações, têm consciência do exagero. Entretanto, por falta de verbas, o seu material informático mantém-se "obsoleto". Mesmo ao lado, na Praça José Fontana, pode ver-se uma escola histórica quase em ruínas: o Liceu Camões. Estava projetada para ele uma obra, através da Parque Escolar. Nuno Crato mandou parar tudo e assim continua, há três anos. O Camões não precisa de vidros à prova de bala. Apenas teve de organizar uma gala para angariar 20 mil euros e com eles reparar algumas janelas e o escudo que, na sua entrada, estava em risco de queda. Foi a Associação de Pais que conseguiu o dinheiro para pintar as paredes das salas. E comprou telas para tapar janelas sem persiana, para os seus filhos conseguirem ver os quadros quando faz sol. No Inverno, porque muitas janelas estão podres, passa-se frio. As paredes estão rachadas e o ginásio cheio de infiltrações. O LNEC e a Câmara já alertaram para os riscos para a segurança e saúde pública, com perigo real de ruína. Tudo isto num edifício que, desde a sua construção, há 104 anos, nunca teve obras de fundo. Não está em causa a importância do trabalho da Polícia Judiciária. Nenhum Estado o é de direito se não tiver uma boa investigação criminal. É apenas uma questão de razoabilidade. Até porque este elefante branco contrasta com os cortes orçamentais para o funcionamento da PJ, talvez mais importante que um heliporto. E não é razoável que vivam, lado a lado, *Declaração de interesse: sou membro da direção da Assouma das escolas mais emblemáticas do País, em risco ciação de Pais da Escola Artística António Arroio. de ruína porque o governo decidiu que em tempo de (Expresso em linha, quarta-feira, 12 de março de 2014) vacas magras não havia dinheiro para investir no


ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt BE/CRE

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Confluências

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http://esccamoes.blogspot.com/

PELA MÃO DO PROF. LINO DAS NEVES, A ARTE DO CARTAZ VAI FAZENDO JUS ÀS MÚLTIPLAS INICIATIVAS LEVADAS A CABO PELA E NA ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES

www.escamoes.pt

A página da escola, com uma imagem renovada, vai integrando e atualizando a informação que te interessa. Descobre-a e... interage!

A todos quantos colaboraram com a cedência de fotos e trabalhos para este Boletim, uma palavra de agradecimento.

Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal


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