ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES
B OL E T I M E SC OL A R
Confluências
Confluências
(2ª Série) março / abril 2018
ABRIL! Entre a celebração e a reivindicação de obras sempre adiadas...
Fotos - Com a cortesia de Artur Luís Antunes
“A voz dos poetas procura o encontro entre os artífices da palavra e a poesia, mas, acima de tudo, o encontro entre os jovens e a poesia porque lá fora existe o mundo e ele se fez com as palavras.” Com a participação de: Pedro Mexia, Sam The Kid, Luís Represas, Paulo Tavares, António Souto, Elsa de Noronha, Escola de Dança do Conservatório Nacional, Jazzy Dance Studios e alunos da escola.
Nesta edição: Scriptomanias …………………... Em primeira pessoa ……….…... In English ………………………… Dia Aberto ……...………………… Visita de estudo ISCTE ………. Ex-alunos - e o Camões ……….. Impressões …………………….…. Recensão crítica ……………..…. Cidadania Ambiental e ……….. Artes ……………………………….. Semana da Leitura ………..…… Estas nuvens …………………….. Instantâneos ……………………... António Gedeão ……………….... Semana das Profissões ……….. Desafio Matem. (Soluç.) ………. Visita de estudo ANTT ……...… Semana de Clássicas …………... Núcleo Ambiente Camões ……. Sociologia camoniana ………… Breves …………………...…………
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Confluências SCRIPTOMANIAS Sensações longínquas do último verão Quantas vezes ali me sentava, naquela relva aquecida pelo sol quente do Sul, naquela cidade onde o tempo passava mais devagar. Inigualável ao passar do tempo no dia a dia na capital. Ali as palavras deslizavam no papel mais facilmente, saíam delicadas e dispostas a serem ouvidas. A Natureza rodeava-me e cantava docemente através das suas brisas de verão nas horas finais do dia, quando o sol se despedia de mim por detrás de uma colina lá ao longe. E as noites, calmas e quentes, abraçavam-me do jeito delas e atraíamme para a rua onde observava as infinitas estrelas não ofuscadas por qualquer poluição luminosa. Elas sorriam e eu sorria de volta. Sorria-me também a lua, cada dia com uma diferente forma, mas sempre igualmente reluzente. Ela ensinava-me a completar, tal como ela, um ciclo, o meu próprio ciclo.
Para ti, obrigada Se eu te pudesse voltar a abraçar, se eu pudesse voltar a ver o teu sorriso, se eu pudesse voltar a sentir o calor das tuas mãos e dizer o quão especial és para mim e o quanto eu preciso de ti, diria que era surreal, mas, ao mesmo tempo, a melhor sensação do mundo. O que te aconteceu foi tão repentino como um abrir e fechar de olhos. Sinto
Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81
Tudo o que ali ocorrera antes da minha chegada tinha ficado em pausa e à espera de ser recomeçado poucos dias depois, talvez mais calmamente, de forma tranquila e de mente renovada. Sentia-me em casa longe de casa. As horas prolongavam-se pela relva dos pequenos jardins, elevavam-se sobre as casas brancas com vida, subiam montes e percorriam vales até encontrarem o seu caminho por entre as pessoas nas ruas pouco movimentadas. E assim passava o tempo, calmo e subtil, simplesmente deixando-se passar. Todos aqueles dias harmoniosos que me ofereciam espaço para pensar e refletir sobre tudo deixaram uma sensação de nostalgia e saudade. Uma boa saudade que não chora despedida, apenas anseia pelo regresso àquele lugar. O silêncio e a calmaria e a quietude e a serenidade, vieram todos em meu auxílio deixando-me, hoje, com estas sensações longínquas do último verão.
que não te contei tudo, não aproveitei todos os momentos. Num dia estavas são e alegre, e no outro estavas perdido entre as nuvens do céu. Nunca pensei viver ocasião tão injusta e cruel. Um homem tão puro e livre como tu não merecia ter sido recebido por um ‘momento’ destes. Tínhamos tanto para contar um ao outro. Tantas viagens que poderíamos ter feito, tantos pratos que me podias ter ensinado a cozinhar. Não restou nada, e agora sinto-me perdida, vazia e culpada, já não vejo o mundo com os mesmos olhos. Os gostos mudaram, as palavras têm outros sentidos, os cheiros são mais intensos. Sei que não era isto que querias, e a culpa não é tua, mas minha, por culpar a tua morte. Não consigo encarar esta onda pesada que me derrubou de outra forma, como se houvesse uma barreira a bloquear o caminho do meu pensamento. Sinto que te devo um pedido de desculpas por não ter estado sempre ao teu lado e por vezes me ter esquecido de ti. Achei que teria mais tempo e que aquele lanche e aquela tarde não seriam os últimos. Desculpa também por te ter mentido e, por vezes, não ter acreditado em ti. Sei que as palavras no papel não te vão fazer perdoar-me, não te vão trazer de volta e que, agora, não valem de nada, mas sinto-me, de certa forma, mais aliviada ao escreverte esta carta. Sei que nunca a receberás, mas espero que a ouças.
Carolina Touré, 10º L Eu sei que disse que tinhas tanto para me ensinar, e eu sei que tens, mas sinto-me sortuda porque, enquanto estiveste presente, conseguiste ensinar-me uma lição. Nunca criar inimigos e nunca deixar de aproveitar todos os segundos com as pessoas que me rodeiam. Não importa se são colegas, amigos, família. Nada. Posso até não gostar de um ou outro, mas hei de sempre aprender alguma coisa com eles. Aproveitar todos os momentos para que estes sejam recheados de alegria e emoção. Repudiar os maus pensamentos para que mais tarde não me culpe e pergunte “E se eu…” ou “Porque é que eu não…”. Constrói boas memórias. Admito que nunca me disseste estas palavras em vida, mas eu sei que me ensinaste esta lição, porque foi o que eu senti quando tu disseste “Até já!”. Sempre me apoiaste e ajudaste quando eu mais precisei. Viste-me crescer ao teu lado, viste-me dar os primeiros passos. As primeiras gargalhadas e as primeiras lágrimas. Estiveste sempre lá quando algo novo acontecia. Nunca me deixaste para trás, nunca deixaste que eu desistisse. Foi contigo que nasceu a minha paixão por fotografia, pois tu vias nela algo diferente. Sei que nunca te mostrei nem disse o quão especial és para mim, mas és, muito, acredita. Por isso, obrigada.
Filipa Machado, 10º L
Source: https://www.pinterest.pt/pin/408138784952817334/
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Confluências SCRIPTOMANIAS MIRAI
There is a city made of glass. In the middle of a bustling world, it stands cramped against the scalding borders of other nations, squeezed in with the fear of being consumed by the heat. Slowly melting, yet never molten. There is a mist that makes its people forgetful; forgetful of where they are, of who they want to be. It would be miserable if they hadn't forgotten what miserable feels like. Glass people wander through glass streets. So fragile they shatter under the weight of constantly being watched. So conscious of their every move they just copy everyone else’s. There is a city made of glass and its inhabitants are echoes. Sound travels far, replays time and time again, fainter and fainter, never quite disappearing. Words are spoken carefully because of that, treated like precious jewels that shouldn't be given away lightly. When they are, though, they're like tiny whispers that fade into oblivion. However, sometimes, those rare times in which the melodies of its neighbors flow into the city, the sound stays. Like a broken record, it keeps spinning and spinning and spinning The glass cracks. Some say that deep into the heart of this lonely city, words from a thousand years can still be heard, can still trickle into your mind like a stream, making your senses hazy. Others say that if you stay too long, you'll slowly go insane with the voice of the others, the ones who don't belong. In a constant state of confusion, glassy-eyed ghosts imitate and masquerade as each other. Their lives sipped
through a straw, slowly, slowly, until they're hollow packages left to recycle and reuse and start over. Mirai spins on its axis; everything is so clear and bright, it hurts the eyes, the soul … It hurts everywhere. There is a city surrounded by a million others, but it's alone. Even though it's melting, it doesn't accept the help of others. So they keep away, disheartened by the freezing temperatures. They just want to help. A frail bridge separates this transparent nation from the others − as fragile as everything else here. As time passes, the bridge tries to collapse but, by sheer willpower, it doesn't. Its purpose hasn't been fulfilled yet. No one has ever crossed this measly bridge. It can only fall after someone does. Not a place for indulgence; quite the opposite, actually. Insecurities outweigh curiosity. If Mirai could talk, it would say it was sad. It was meant to be shared, to be colored in. Its people have distorted the image it wanted to set out for itself. Alas, it cannot speak for it is nothing but glass. Sight is all it has. So Mirai sees it all: the dwellers as they cave into themselves, the adventurers that lose their sense of wonder in the maze of what ifs. They care too much about what's on the surface of benches and pavements and buildings. They forget that glasses are also mirrors. There is no one in this city but you. Look around. Look at all these people you've been too scared of to be yourself. They are your reflection.
Tamára Pinto, 11º K Note: This text was inspired in Italo Calvino’s The Invisible Cities (1972), whose reading led to ‘The [In]visible Cities Project’ developed, this year, in the English Class.
Another highlight of the session was to hear about the Richard Zimler: the youngsters from “the land that differences not only of language but also of thought. How both are intertwined. Language wires our brains to think in time forgot”
a certain way; and in order to dive into another language,we must shape our brainsaccordingly. Zimler mentioned that his proudest moment was when he could finally stop apologizing for that slight difference, when he could allow himself some leeway in maneuvering around “the land that time forgot”.
On Wednesday, April 18, our school welcomed Richard Zimler, a renowned writer, author of The Night Watchman, The Last Kabbalist of Lisbon and Ilha Teresa, to namebut a few. In the end, Richard Zimler said goodbye with a As we learnt more about this writer and most important, about this person, we got a sneak peak at smile. He left a room full of inspired younghis recent work, Ilha Teresa (2011). This book was, in Zim- sters,applauding,on his way out. ler’s own words, “his life in reverse”. There,he discloses how it was like to start anew in a strange, faraway place without Tamára Pinto, 11º K any knowledge of its culture – all in reverse and through the eyes of a teenage girl. This experience was enlightening to me and I am sure it was to others as well. I think we could all relate to Zimler’s narrative in the sense of feeling alienated, estranged, out of place. Most of us have shared that persistent itch of discomfort. His speech was uplifting when he told us that one day, that itch would disappear and we would grow comfortable into who we are.
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Confluências EM PRIMEIRA PESSOA
Os disléxicos também conseguem A dislexia é uma dificuldade de aprendizagem da leitura e da escrita e tem ainda mais dificuldades associadas. Por exemplo, a memória pode ser mais fraca, tal como a atenção, a interpretação e a motricidade fina. Mas isto não faz com que um disléxico não tenha capacidades para a vida escolar e que não tenha nela sucesso. Eu própria sou disléxica e conheço muito bem o mundo de um disléxico. Também sei que existem vários graus de dislexia e que uns têm mais dificuldades do que os outros. Numa família há quase sempre mais do que uma pessoa disléxica. Eu sou a irmã mais velha (17 anos) de dois rapazes com dislexia (com 15 e 11 anos) e, ainda, filha de um disléxico. Muitos dos nossos problemas relacionados com a aprendizagem são comuns. O trabalho da família é primordial para a “superação” das dificuldades. É graças à minha família que sou capaz de perceber os problemas de cada um de nós. A minha mãe divide o seu tempo no acompanhamento da vida escolar dos três filhos. Tive desde sempre dificuldades nas aulas – precisava de mais tempo para, designadamente, copiar as matérias para os cadernos. Tal não acontecia por ser lenta a escrever, mas isso só percebei mais tarde. Outros problemas foram surgindo, como na interpretação de enunciados ou no estudo para os testes, que era sempre uma tarefa árdua. Ultrapassar muitas dificuldades significou ter de estudar com a minha mãe e o meu pai. O estudo acompanhado manteve-se até ao 9º ano de escolaridade, momento em que comecei a ter mais confiança. Agora, no secundário, já estudo sozinha e tenho
bons resultados, estando entre as melhores alunas da minha turma, apesar de ainda precisar da “ajuda” dos professores na interpretação de enunciados. Para obter bons resultados, trabalho imenso, de tal forma que quase não tenho tempo para realizar outras atividades ( de lazer) fora do âmbito das exigências escolares. Muitas vezes vou dormir depois da meia-noite, pois se não fizer este esforço não consigo chegar ao mesmo patamar dos outros colegas, que o alcançam com muita mais facilidade. Em 2008, foi criado um decreto-lei que diz que todos os alunos com necessidades educativas especiais têm direito a um conjunto de medidas que devem ser aplicadas pelos professores, de acordo com as dificuldades que o aluno apresenta, nomeadamente a leitura de enunciados, testes adaptados, mais tempo para a realização das provas, a não penalização de imprecisões disléxicas na escrita, entre outras. Em minha opinião, é importante que estas medidas sejam efetivamente aplicadas, caso contrário a vida escolar do aluno disléxico é afetada. “Porque é que te esforças, és disléxico.” Este pensamento está preso nas cabeças de muita gente que não percebe bem esta perturbação, ou, mesmo, em nós próprios, por insegurança, por medo de errar, por medo de ser notado pelo outro. A insegurança gera ansiedade, e esta inibe a progressão no desenvolvimento da leitura e da escrita quando o processo de aprendizagem se inicia. Os disléxicos necessitam de ajuda para combaterem a ansiedade. O esforço do disléxico é fundamental para conseguir o sucesso. Eu esforço-me, porque tenho o sonho de entrar na Universidade e quero realizá-lo, e por isso vou fazer tudo para o alcançar, provando a todos, especialmente a mim própria, que consigo! – até porque tenho vindo a conseguir sempre, e, este ano, já alcancei o que considerava impossível (como as minhas boas “notas”). Para concluir, gostava apenas de vos passar uma mensagem: não desistam! Esforcem-se! É difícil, mas vão conseguir. Não deixem que a ideia do “ Não consigo porque tenho dislexia” vos condicione, até porque há vários exemplos de pessoas brilhantes com dislexia, como Albert Einstein, Agatha Christie, Tommy Hilfiger, ou até o meu pai que é arquiteto.
Maria Helena Ledo Rito, 11º F
Foto de Matias Pickett (Viena)
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Confluências IN ENGLISH New beginnings
It happened on the first day of harvest. The man in the white suit had already left by the time I got there, I thought they had called it a draw but he must have felt greedy at the time. Old man Warner was like a father to me, and although I never did approve of his gambling I had to admit that he was good at it. He used to keep all his winnings in a black wooden box by the porch, which was gone too. Later that day I buried him under a pile of rocks since I wasn’t strong enough to fight back the tears and dig a grave at the same time, I started to think how his last moments before death were, and I just hoped they were peaceful. As it started getting dark I made a fire with the chips of wood laying around the sawmill and though of convincing the town people to write nice words on some slips of paper for him, yea that would be good. Before I realized, the sun was already blossoming over the horizon and I got up to go to school, it was almost like a regular day again. Matias Pickett, 11º A
Vietnam, 1968. Clouds opened, thin strings of light reached earth’s eyed-shut darkness, blossoming heads turned towards the sky’s forgotten face, looking for fragments of the future, slips of paper carried by the wind: monsoon’s over. Emerging from the fog that covered the land, general Dead-End headed for Old Man Warner’s. He sat on a chair, picked out one cigar from his black wooden box, reached last night’s cooking fire and gently lit it with some still warm chips of wood. A gramophone at the corner scratching some ‘Ruby, My Dear’s faded strips onto the atmosphere, he took a puff, closed his eyes, remembered his images of the deserted places he had seen flashing during the day: – Happiness flourishes out there. But the flowers are others than those their tired eyes are capturing, they can’t see that the seeds of evil have already been spread through the fields, humanity buried beneath piles of stones, landscapes plunged into death, antagonizing forces in a perpetual, fateful draw. All is germinating underground. As we produce dust, dust gets into our eyes and, in the sudden blindness and lack of perception, we produce more dust. The circle never ends… Not being able to finish these fragments, Dead-End leaned over the door. He saw the flowers blooming by the road and said: – Harvest time is here. Vicente Morais Magalhães, 11º A No âmbito da disciplina de Inglês, sob orientação dos professores Ângela Lopes, José Mota, Nazaré Campos e Teresa Ferreira, e com a participação ativa de vários alunos, foi realizada uma exposição temática sobre a América. Esta iniciativa contou ainda com a participação do escritor americano, residente em Portugal, Richard Zimler. [O Confluências de maio/junho, e para além dos textos insertos na p. 3, dedicará um ‘espaço fotográfico’ ao evento.]
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Confluências DIA ABERTO
3 de maio Como em anos anteriores, a Escola Secundária de Camões vai consagrar esta data ao seu
DIA ABERTO Estão previstas múltiplas atividades, destinadas a toda a comunidade educativa, que incluirão Workshops temáticos, exibição de ‘pequenos filmes’ realizados pelos alunos, exposições e palestras/debates.
[Disto se dará conta no próximo Confluências de maio/junho]
UMA VISITA AO ISCTE NO 1º PERÍODO A visita de estudo aos Laboratórios de Sociogia do ISCTE revelou-se uma interessante oportunidade para ter contacto direto com a atividade sociológica. Divididos em grupos, aprendemos conceitos de estatística, debatemos problemas que na atualidade se apresentam (refiro estes dois exemplos, outros exercícios e temáticas se exploraram) e conversámos com estudantes e profissionais da área, aprofundando a nossa noção do que é este ramo, e das razões pelas quais o podemos escolher. José Lobo Antunes, 12º K
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Confluências EX-ALUNOS — E O CAMÕES AQUI TÃO PERTO Como naturalista e alfacinha incorrigível cursou Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo-se especializado em Biologia Ambiental Terrestre e, mais tarde, em Biologia da Conservação. Para o mestrado enveredou pela botânica, cumprindo-se o vaticínio das professoras e professores de Biologia do Camões: «O João ainda vai para as plantas»! Entre o Museu de História Natural de Paris e as Universidades (no plural por causa da irremediável zanga histórico-linguística) de Bruxelas, completou o programa ERASMUS MUNDUS em Biodiversidade e Ecossistemas Tropicais, com uma dissertação sobre os nomes corretos a dar a umas certas orquídeas africanas. Para o doutoramento, na Université Libre de Bruxelles, que começou há 2 anos, continua de volta das orquídeas e dos seus nomes. Mas, para além de taxonomia, estuda também a polinização destas extraordinárias flores, entre Bruxelas, Londres, Paris, São Tomé, Gabão, Ruanda, e onde mais a paixão o levar. João Farminhão Ainda que atualmente esteja entregue ao Curso de Licenciatura em Enfermagem, outrora o meu sangue pulsava pelo “Camões”. Olho para o meu percurso e sinto em mim uma saudade imensa dos três anos que passei no secundário, quando tudo era mais leviano (mesmo que por vezes não o sentisse). São três anos de autoconhecimento e redescoberta do que queria ser e fazer com a minha vida dali para a frente. Não há melhor sítio para o fazer que a Escola Secundária Camões, onde cada corredor cheira a casa, e cada mosaico partido cheira a história. Quando entrei para a faculdade, há 3 anos, estava apavorada porque me tinham avisado que a transição para o Ensino Superior não era uma tarefa fácil. Tinha que tirar apontamentos das aulas todas, estudar autonomamente, estar sempre atenta e ser mais aplicada. Ainda que tudo isto não seja mentira, é tudo vivido com menor intensidade quando nos confrontamos com a realidade. Tive a sorte de ser muito bem integrada na minha faculdade e de ter criado laços com pessoas mais velhas que me aconselharam ao longo destes anos, sobre como sobreviver na montanha russa que é a faculdade. “Camões” é sinónimo de aprender a ser livre. E a faculdade é o sítio onde lhe juntamos, a esta liberdade, o sentido de responsabilidade e de determinação, essenciais para aprendermos a ser
felizes com as nossas pequenas conquistas. Quer estejas ou não a terminar o secundário, quero dizer-te para aproveitares a liberdade dos intervalos sem campainha, o sol que invade os bancos de pedra fria, os cacifos coloridos, os cafésconcerto, as atividades desportivas, o calor acolhedor do bar, o pó da poltrona da antiga biblioteca, o cheiro dos laboratórios de físico-química e de biologia, a música do piano aberto a todos os estudantes, os momentos no auditório, o camusicando, e as pessoas que partilham tudo isto contigo. Para quem não pensa noutra coisa para além da reta final, o melhor conselho que vos posso dar é que vivam um dia de cada vez, com o “descomplicómetro” ligado, sem nunca se esquecerem de onde vêm. Daniela Campos
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Confluências IMPRESSÕES Impressionismos We went down into the silent garden. Dawn is the time when nothing breathes, the hour of silence. Everything is transfixed, only the light moves. Leonora Carrington
Há dias assim. Quando confrontados com uma maré cheia de obrigações académicas, os célebres essays, group works, PowerPoints e anglicismos sem fim, o mais natural é que a mente suplique por alguma intermission (?!) cultural. Assim foi o dia primeiro do mês que agora corre. Ao pressentir que não tardaria muito até que a minha mão direita se fundisse com o rato do computador (ou seria mouse?), todo ele quasijurássico, desliguei o engenho cansado e abandonei a já conhecida biblioteca. Recuperada, por fim, de algumas horas de oxigénio estagnado, a tendência natural dos pés, máquinas que, como se sabe, se tornam autónomas em caso de ausência de consciência, é a de recolher ao ninho. Contudo, um cartaz descansando humilde sobre um cavalete trouxe-me de volta à Terra. Numa caligrafia que nem aos mais míopes falha, Rimsky-Korsakov & Berwald. Combatendo um vento que se diria ciclónico, alcancei o Auditório do Liceu. Não faltava muito para o início do recital, e nos recônditos da sala, tal eremita em sua caverna, já se ouviam os imprescindíveis aquecimentos e rituais íntimos, ou nem por isso, de qualquer músico. O espanto abate-se sobre mim ao notar a entrada massiva de rapazes e raparigas da minha idade. Tratava-se de uma turma e, secretamente, invejei-os, alheados e barulhentos. Nunca um professor me havia levado a este tipo de espetáculo, tão fiel ao meu agrado! Claro está, foram obrigados, mas como diz a malta, “o que conta é a intenção”, a melhor de todas julgando pelo olhar risonho da professora acompanhante. A luz moribunda determina a hora. Os músicos entram, ordenados, tais meninos de creche em dia de passeio, imagem de cândida obediência, faltavam somente as mãos dadas. Revejo-me nas vestimentas funestas, os cabelos presos num desvario, os negros da roupa que quase combinam, but not quite.
Não dei pelo tempo passar. Com o cair do dia, o Auditório era todo ele uma ilha, não diria a dos Amores, mas talvez algo do agrado de Apolo, num plano imensamente longínquo do da península a que um dia pertencera. Saí da sala estúpida, ainda um pouco cega após tanto tempo imersa em abismal meditação. Rabiscadas num quadro negro as mais estupendas proezas musicais, a união ocuparia, sem dúvida, um lugar de destaque. Recordo os meus próprios ensaios de música de câmara: nós miúdos, ainda que talentosos, não éramos capazes de transcender a egocêntrica condição humana, cada um pelejando as dinâmicas convencionadas de maneira a ser o mais ouvido. Aqui, vi nada mais que um sólido piano, the unsung hero; os fiéis graves, com seus staccato de precisão cirúrgica; na mesma graça de ave, a flauta e o clarinete, numa dança digna que só os Grandes Russos conseguem replicar. Aqui, a massa sonora fora toda ela um rasgo uno, ainda assim gentil, suas partes somente percetíveis se sintonizássemos a telefonia nessas mesmas estações. Existirá estado mais belo do que aquele em que se é, simultaneamente, vários e um só? Não sei onde estive nessa tarde. No Liceu não, certamente me recordaria. Com as retinas áridas, os sulcos do texto gravados na terra ótica, não há como enganar. Decerto fui levada, em gesto de quem carrega uma noiva, até Estocolmo, onde, sem qualquer consciência voluntária – seguramente obra de pés deixados à sua sorte! –, apanhei o ferry vespertino, direção São Petersburgo. Não sei onde estive, mas nada importa se não passamos de meros náufragos à maré do Mundo. Some things are better left unknown. Saí da sala com os pés um pouco menos assentes na terra e, sinceramente, só isso basta. Sara de Sousa, 12º K (março de 2018) Berwald, Rimsky-Korsakov Temporada Música de Câmara Quinta-feira, 1 de março, 17h00, Auditório do Liceu Camões
(Concerto Antena 2) F. Berwald - Quarteto com Piano, Op. 1 N. Rimsky-Korsakov - Quinteto com Piano Nuno Inácio ,flauta Jorge Camacho, clarinete Lurdes Carneiro, fagote Jérôme Arnouf, trompa Anna Tomasik, piano
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Confluências RECENSÃO CRÍTICA O perigo de adaptar o que não se entende – uma apreciação crítica comparativamente comedida de 1936, O Ano da Morte de Ricardo Reis do Teatro da Barraca Não me recordo de muitas ocasiões, de uma sequer, para ser honesto, em que tenha saído do teatro tão indignado, tão irritado como o fiz no dia 9 de março de 2018, há momentos terminada, para a meu ver excessivamente entusiástico aplauso, a adaptação do Teatro da Barraca de O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago. Mas não me devo considerar um espetador normal, nem parte do público-alvo. Tendo lido a obra integralmente duas vezes, e nos últimos três meses em nenhum outro romance tocado, de forma a garantir a imersão total, estado propício à realização do trabalho que presentemente faço sobre a representação de Fernando Pessoa e seus heterónimos no livro em questão, entrei na sala de teatro especialmente crítico. Mas o que vi deitou qualquer expectativa que tinha por terra. E fê-lo de forma verdadeiramente crassa, de mau gosto, dispensável. Resume-se o meu problema com a peça da seguinte maneira: penso que Hélder Mateus da Costa, responsável pela dramaturgia e encenação, não entendeu O Ano da Morte de Ricardo Reis. Ou isso, ou foi sua decisão consciente desprover o seu espetáculo de praticamente todos os temas e qualidades que podia ter tido, criar um quadro que, visto à distância por quem como eu de miopia sofra, se assemelhe ao que é um grande romance da literatura portuguesa. É desde cedo claro que se trata de uma adaptação com uma assistência muito específica em mente: jovens, pelas escolas que frequentam trazidos. Tal explica as piadas de mau gosto referentes a cultura popular atual; a simplificação de diálogos e enredo, também da duração limitada resultante; e a principal falha da peça, exponencialmente maior quando tido em conta o seu título, 1936, O Ano da Morte de Ricardo Reis – a sua francamente incompetente adaptação da discussão da realidade social e histórica, no livro a cargo da leitura que Ricardo Reis faz dos jornais (e de Conspiração, de Tomé Vieira), da sua interação com as pessoas que compõem Portugal de 1935 e 1936, e dos comentários do narrador, voz omnisciente e quase sempre presente. Este aspeto é completamente estropiado, mostrando-se as personagens cientes e críticas do panorama político europeu (diz Salvador, numa das primeiras falas, parafraseando, que "Pois, quanto ao Brasil não sei. Mas aqui pela Europa é mais extremadireita", conceito desconhecido na altura, mormente para quem regimes fascistas e nacionalistas apoiava); denunciando os jornais, pelo menos uma vez, as
"atrocidades e repressão" a que os cidadãos eram sujeitados nestas ditaduras, impensável na época, dada a aliança do Estado Novo com ditos governos. A destruição da teia de propaganda e em que Ricardo Reis se embrenha ao longo do livro torna-se realmente desconcertante quando nos lembramos de que Hélder Mateus da Costa parece ter compreendido que o protagonista da obra de Saramago é o tempo (de outro modo pouco sentido faria a sua escolha de título). Sabia que muito se perderia em qualquer adaptação – O Ano da Morte de Ricardo Reis é, por natureza, difícil de condensar numa hora e meia ou duração que se lhe assemelhe. Ouso afirmar que tal é quase impossível. A meu favor fala este exemplo, em que quase todos os temas notáveis do livro são negligenciados, ou, como sugeri anteriormente – incompreendidos pelo dramaturgo. A gradual desconexão com o mundo, a crescente letargia física e existencial, o desvanecimento mental e identitário, mencionando três apenas, tudo ausente. Há um Ricardo Reis, sim. Há uma Marcenda, sim. Há uma Lídia, sim. Mas não há O Ano da Morte de Ricardo Reis, a sua essência é omitida. E, claro, há que referir a interpretação. Todas as personagens são representadas com excessiva teatralidade, com uma canastrice dificilmente suportável. Terá esta possivelmente sido uma decisão do encenador, visando imprimir as falas e conteúdo nos espetadores, talvez. Mas penso que não foi a mais acertada. A peça fica, assim, indistinguível de milhares de outras, marcadamente antiquada e quase amadora, coincidindo com uma conceção do teatro que tem quem nunca ou pouco o frequentou, e, perdoe-se o snobismo, algo provinciana. Termino, porque o meu coração mo dita (não no sentido figurado, a indignação faz-me crescer o ritmo cardíaco, não há de ser este estado saudável, quanto mais se prolongado), porque as memórias por que passo despertam em mim o mesmo que os acontecimentos. Não sem antes falar de Fernando Pessoa, figura nesta peça reduzida a bobo, arlequim, destituído de eloquência, argúcia, tato, e o domínio da língua portuguesa que se lhe associa. O mais importante poeta português do século XX é aqui uma construção do dramaturgo, praticamente isenta de elos comuns com a de Saramago e do próprio Pessoa, um veículo de embaraçosas tentativas de comédia. Embaraçosas para mim. Porque para a generalidade do público, que, perdoe-se novo snobismo ou cinismo, não deve ter lido a obra, teve notável sucesso. Disto uma conclusão pude tirar: 1936, O Ano da Morte de Ricardo Reis é uma peça que quase só por quem não leu o livro pode ser apreciada. Está dito.
José M. V. de P. Lobo Antunes, 12ºK
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Confluências
CIDADANIA AMB Conceções de Jovens sobre as Praias CoastWatch. Que objetivos? No âmbito do Projeto Coastwatch (PCW), foi realizado o Seminário Deixa a tua Praia Respirar, em 9 de fevereiro de 2018. O PCW foi posto em prática em Portugal, a partir de 1989, e teve a sua origem no país que, ainda hoje, coordena as atividades CoastWatch (CW) a nível europeu, a Irlanda. O projeto desenvolve-se em todos os países europeus aderentes, com litoral. O objeto de estudo é o litoral e os impactos que a atividade humana exerce sobre ele, em que a educação para a cidadania ambiental sempre teve uma tónica vincada (Soares, 2008). Anualmente, a campanha CW conta com milhares de voluntários na monitorização das zonas costeiras: Escolas, Associações e todo o cidadão que deseje dar o seu contributo para o projeto. Todos olham para o litoral com o intuito de obter conhecimento sobre os ecossistemas costeiros, ordenamento do território, riscos e ameaças ambientais, entre outros temas. No Seminário CW 2018, como tem vindo a ser prática em anos anteriores na Escola, participaram especialistas em temas relacionados com o litoral. Os alunos envolvidos na Campanha CoastWatch 2018 apresentaram os resultados do seu trabalho, na área monitorizada, sob a forma de cartaz – Estuário do Rio Tejo na proximidade da Foz do Rio Trancão (Concelho de Loures). O aluno Afonso Ferreira, do 10º D (na foto, em cima à esquerda) proferiu a Comunicação “Conceções de Alunos sobre as Praias”.
Praias. Que perceções por parte dos utilizadores? As ações do homem sobre a natureza causam impactos que, muitas das vezes, são superiores à capacidade de suporte do meio natural. As áreas costeiras são as mais afetadas pela ação antrópica, pois são as mais densamente povoadas e atrativas para o desenvolvimento da atividade económica. A intensa ocupação e uso dos recursos podem causar descaracterização ambiental, poluição das águas costeiras e das praias. A poluição com várias origens e de diversos tipos constitui, hoje, o principal problema. Um estudo de caso sobre a perceção de utentes de praias do concelho de Grândola mostrou que a qualidade das águas e do areal, sem cheiros desagradáveis e sem lixo, é o aspeto mais importante para os seus utilizadores (Sobral, 2011). O mesmo estudo, ainda, revelou que os banhistas percecionam a praia enquanto espaço de contacto com a natureza e de procura de ambientes tranquilos. De facto, a presença de lixo marinho (resíduos de origem antropogénica encontrado em ambiente costeiros e marinho) é um problema emergente e que está a ser bastante estudado em todo o mundo. De facto, para além de poluir as águas e as areias costeiras, ocasiona o risco de contaminação e, em consequência, a possibilidade de doenças de pele e outras enfermidades, cria um desagradável efeito visual na paisagem diminuindo a beleza cénica das praias e desmotivando o turista para o seu uso, e, para além disso, a poluição compromete a qualidade e sobrevivência dos ecossistemas costeiros e marinhos. Segundo Silva (2017), a qualidade das águas e as praias sem resíduos são dois pontos fortes que entram nos critérios de avaliação
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Confluências
BIENTAL E DESENVOLVIMENTO Conceções. Como definir? As conceções correspondem a conteúdo interno do pensamento e constituem formas pessoais, perspetivas sobre o “mundo”, e diferem de individuo para indivíduo. Podem ser definidas como estruturas mentais conscientes ou subconscientes formadas por crenças, conceitos, significados, regras, imagens mentais e preferência inerentes a cada indivíduo. Formam-se a partir do que aprendemos e vivemos na família, na escola, nos grupos sociais de referência e na relação com os media. A importância destas conceções consiste no facto de serem orientadas pelo pensamento individual de cada sujeito, influenciando o seu comportamento e refletindo-se, com efeito, na ação. As conceções formam -se com base no que aprendemos (e nas nossas vivências) na escola, na família, nos grupos de pares, nos media. Portanto, identificar as conceções prévias sobre um tema e enriquecê-las através do ensino poderá levar o aluno a desenvolver atitudes e a empreender comportamentos que não tomaria se tivesse ficado pelas suas ideias prévias.
Metodologia O “trabalho de investigação”, com fins didáticos, consistiu no questionamento de 44 alunos, entre os 15 e 16 anos de idade, que frequentam a Escola. Os alunos responderam à seguinte questão aberta: O que te ocorre quando pensas em praias? As respostas foram submetidas à análise de conteúdo. A partir daqui, foi possível chegar a quatro conceções sobre as praias.
Resultados Uma conceção ética de praia, remetendo para valores de conservação, de proteção, de equilíbrio/harmonia dos ambientes; Uma conceção cénica de praia como lugar de contemplação da natureza, de águas limpas e cristalinas (…); Uma conceção mais abstrata que apela para sensações, valores e vivências hedonistas. A praia como espaço que permite a calma e a liberdade, i.e., sentimentos e sensações que alguns inquiridos associam à praia; Uma conceção que remete para um comportamento humano assente em ações negativas associadas à deterioração dos ambientes, como foi dito: “as pessoas poluem, deixam lixo no areal (…), a contaminação das pessoas, as ameaças à fauna” – trata-se de uma visão que associa as consequências negativas do modo de agir do homem sobre as praias. Em suma, a praia é percecionada em termos hedonistas (o valor cénico/contemplação liberdade e prazer) e de civismo dos utentes da praia (os comportamentos negligentes e seus impactos sobre os ambientes). Referências Bibliográficas Silva, Rodolfo Parreira. Análise da Capacidade de Carga Turística da Praia de Carcavelos [Dissertação de Mestrado], Universidade Europeia, Lisboa, 2017 Soares, L. (2008). Gestão do Litoral e Cidadania Ambiental, Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, Lisboa Sobral, Adriano Miguel Wolf. Avaliação da Perceção da Qualidade das Praias pelos Visitantes: O Caso das Praias do Município de Grândola [Dissertação de Mestrado], Escola Superior de Turismo e Tecnologias do mar – IPL, Leiria, 2015
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Confluências ARTES (ALGUNS TRABALHOS)
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Confluências SEMANA DA LEITURA
Escritor Nuno Camarneiro
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Confluências “ESTAS NUVENS” O reflexo da água Cria uma miragem tua, E eu deixo-me iludir, Sem acreditar na verdade nua e crua. Imagino-me contigo, Num dia radiante, Estas nuvens são a atmosfera do meu coração, Tentam fazer com que eu me esqueça daquele dia, Com as nuvens a aparecer, A minha alegria tenta acabar com esta melanco- E tu seres o meu abrigo. lia, Contigo, a alegria será constante, Pois eu não consigo esquecer esta paixão. Prometo-te que nunca te trocarei, És a minha inspiração, A vida dos meus poemas, És a minha motivação, Para eu continuar a lutar por ti.
Serás sempre o meu amante.
Joana Formiga, 10º C
INSTANTÂNEOS
(Fotos de Joana Formiga, 10º C)
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Confluências ANTÓNIO GEDEÃO Presidente da República homenageou Rómulo de Carvalho “O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa participou, em Lisboa [dia 26 de fevereiro], na homenagem ao professor, historiador, divulgador de ciência e poeta Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, agraciando-o, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública. Na ocasião foi descerrada, na rua Sampaio Bruno, 18, edifício onde viveu e trabalhou, uma placa evocativa a Rómulo de Carvalho, também conhecido pelo pseudónimo António Gedeão, que usava enquanto poeta. Após este momento, e na presença de familiares, amigos e antigos vizinhos, seguiram-se as intervenções do Presidente da Junta de Freguesa de Campo de Ourique, Pedro Cegonho, do representante do "Movimento CampOvivo", do filho do homenageado, Frederico Gama Carvalho, do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, e do Ministro da Cultura, Luís Castro Mendes. O Presidente da República, no final da sua intervenção, entregou as insígnias da Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública à família do homenageado.” In http://www.presidencia.pt/?idc=10&idi=143285
[Professor e pedagogo, lecionou durante 14 anos (de 1934 a 1948) no então designado Liceu de Camões.]
SEMANA DAS PROFISSÕES
De entre as várias participações (nos diferentes painéis), a presença de muitos ex-camonianos.
Aqui, por exemplo, dia 23/02 (da dtª para a esqª), José Horta (historiador), Ricardo Sá Fernandes (advogado) e Rebeca Caalog (antropóloga).
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Confluências DESAFIO MATEMÁTICA (nº anterior) Duas amigas, a Madalena e a Teresa, estavam a conversar: Madalena: Ó Teresa, achas que existe na superfície da terra um ponto onde se andares 100 metros para sul, a seguir 100 metros para este e, finalmente, 100 metros para norte acabas no ponto de partida? Teresa: Essa é velha, já o meu bisavô me punha essa questão. Mas já que te estás a armar em esperta, responde lá a isto: um ponto nessas condições é único? Madalena: Claro que o Polo Norte é o único ponto. Quando ando 100 metros para sul e depois 100 para este, mudo de meridiano, e, por isso, quando volto para norte só chego ao ponto de partida se este for comum aos dois meridianos: o de descida e o de subida. E claro que o único ponto nessas condições é o Polo Norte. Teresa: Estás enganada, há infinitos pontos nas condições que indicaste, e digo-te mesmo mais: se pensares nos percursos associados a algum desses pontos, podes encontrar pontos arbitrariamente próximos do Polo Sul! Pergunta: És capaz de identificar os infinitos pontos de que fala a Teresa? Ou será que é a Madalena quem tem razão?
DESAFIO “MATEMÁTICA” (SOLUÇÃO) Além do ponto do Polo Norte, os pontos de que fala a Teresa são os que, depois de andarmos 100m para sul, nos fazem chegar a uma circunferência paralela à linha do Equador (isto é, a um paralelo) cujo perímetro, em metros, é igual a 100 ou igual a um divisor de 100. Deste modo, chegados a um destes paralelos, andando 100m para este (que nos faz percorrê-los uma ou mais vezes) e, depois, 100m para norte, é possível voltar ao ponto inicial. Por exemplo, chegando a um paralelo de perímetro 25m, dar-se-iam 4 voltas a esse paralelo, mas voltar-se-ia se ao ponto inicial. Portanto, a Teresa tem razão, já que, na superfície do globo, há infinitos pontos, arbitrariamente próximos do Polo Sul, que nos permitem chegar a um paralelo acima descrito, depois de se andar 10m para sul. Alejandra Travecedo, 12º Q
Nota: O leitor pode consultar o link abaixo, onde encontrará uma aplicação interativa para este problema. http://www.atractor.pt/mat/GeomEsf/saber_urso.html
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Confluências VISITA DE ESTUDO À TORRE DO TOMBO No âmbito das disciplinas de Português, História e Cultura das Artes e História A, os alunos das turmas de 10F (Artes) e 10K (Humanidades) visitaram a Torre do Tombo, no passado mês de janeiro (dias 11 e 12). Todos tiveram oportunidade de conhecer in loco aquele icónico edifício e perceber a sua importância secular. Além disso houve a oportunidade de ver alguns textos referidos e/ou estudados nas aulas de Português, nomeadamente o mais antigo documento régio escrito em galaico-português – o "Testamento de D. Afonso II", a "Crónica de D. João I", de Fernão Lopes, uma edição do teatro de Gil Vicente e uma edição de Os Lusíadas. Foi uma viagem no tempo muito interessante e importante para todos! Prof. Mário Martins
SEMANA DE ‘CLÁSSICAS’ Alunos de Latim presentes na Semana das Clássicas Os alunos de Latim A (turmas 10J e 11 K) marcaram presença na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no dia 14 de março, no âmbito da Semana das Clássicas. Juntamente com os alunos latinistas da Esc. Sec. Leal da Câmara (Rio de Mouro, Sintra), fizeram uma visita guiada à Faculdade, ao Centro de Estudos Clássicos, ao Centro de Arqueologia, realizaram jogos de cultura clássica e assistiram a uma interessante palestra sobre "Magia na Antiguidade". Sic itur ad astra. Prof. Mário Martins
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Confluências NÚCLEO AMBIENTE DO CAMÕES O futuro do planeta: uma mudança de paradigma? Em Dezembro de 2017, fomos convidados pelo Movimento GRAAL para participar num ciclo de diálogos intitulado "Ainda há futuro para o nosso planeta?", conduzido por Francisco Cardoso Ferreira, atual presidente da associação ambientalista ZERO. Num grupo de seis representantes do Núcleo, no passado dia 18 de janeiro encontrámo-nos no terraço do GRAAL, onde tivemos a oportunidade de apresentar os nossos projetos e debater sobre a situação em que nos encontramos no que toca às questões ambientais e às alterações climáticas. Daqui levámos, não só o sentimento de termos contribuído com a nossa experiência, mas também uma vontade reforçada de atuar contra os problemas que nos afetam atualmente. O cenário que encontramos quando se fala em alterações climáticas revela-se-nos negro. A temperatura do Planeta tem subido acentuadamente desde a década de 1880. O ano de 2016 foi classificado como o ano mais quente desde que há registos climatológicos, tendo 2017 sido indicado como o segundo mais quente. Daí que sejamos constantemente informados de catástrofes a acontecer, tanto na outra ponta do mundo, como em lugares que se encontram à distância de uma viagem de comboio. Os
furacões do Atlântico Norte têm vindo a crescer em frequência, intensidade e duração desde os anos 80. Enfrentámos uma das maiores tragédias de que há memória com os incêndios do ano passado. O Tejo está a desaparecer, não só devido à seca, mas também fruto de transvases e descargas por parte de entidades industriais corruptas que sobrepõem o seu interesse económico às necessidades dos ecossistemas e da população. E isto referindo apenas alguns dos muitos problemas que estão a por em causa o equilíbrio de todo o sistema terrestre. Mas nem tudo são más notícias. A União Europeia aprovou uma estratégia para lidar com os plásticos - um dos maiores desafios ambientais -, que visa torná-los totalmente recicláveis até 2030. A indústria de carros elétricos está a crescer e prevê-se que domine o setor dos transportes nos próximos 20 anos. O papel ativo de associações nacionais e internacionais que concentram esforços na resolução destes e de mais problemas está a mostrar resultados positivos. Assim, também nós temos o dever de ser parte da obtenção destes resultados. Temos a responsabilidade de pôr em prática ações que remedeiem a cada vez maior pegada ecológica que estamos a deixar num mundo que é tudo menos descartável. É fundamental percebermos que tornar os plásticos
totalmente recicláveis é essencial. Mais ainda, é crucial assimilarmos a importância da reciclagem. Mas, antes de tudo isso, e tendo em conta a situação a que chegámos, é impreterível que haja uma alteração de paradigma. O Planeta urge uma mudança de hábitos, não apenas uma emenda do que fizemos até agora. Está a sernos exigida a transição para uma vivência menos consumista, mais frugal, parcimoniosa e, consequentemente, mais sustentável. A economia circular é um conceito que pede cada vez mais para alicerçar a base da nossa educação. Só desta forma, e, acima de tudo, quando aprendermos a ser felizes assim, conseguiremos progredir verdadeiramente na efetivação de soluções. E por isto entenda-se práticas como a renúncia ao plástico e ao descartável, a reutilização de objetos, a compra em segunda mão, a partilha em substituição da compra, a redução do consumo de carne e peixe e o investimento em produtos locais. Ainda há futuro para o nosso planeta? Acreditamos que sim, na medida em que confiamos no nosso desejo e capacidade de mudança em prol de um imperativo que se nos mostra inerente à sobrevivência de todo um sistema que não temos o direito de aniquilar. Matilde Almeida, 12º B
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Confluências SOCIOLOGIA CAMONIANA A denominada “Biblioteca Velha”, num dia de novembro, encheu-se de Camonianos das Turmas de Sociologia. Esteve presente Raquel Barbosa Ribeiro [foto no corpo do texto], socióloga e investigadora no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), convidada para proferir a Conferência “Métodos e Técnicas de Investigação Social”. Esta conferência foi realizada para ajudar os alunos, investigadores principiantes, a empreenderem o esboço de um projeto de investigação, cujo objetivo seja compreender e interpretar, com maior rigor, fenómenos da vida coletiva. Pois, o que importa é que o “alunoinvestigador” consiga pôr em prática um dispositivo para a aclaração do real. Quando um investigador principiante sente dificuldades na realização de um trabalho, disse Raquel Ribeiro, elas são sempre relacionadas com questões metodológicas: “tenho este tema na cabeça, mas não sei como iniciar”, “tenho tanta informação sobre o tema e estou confuso”, já não sei em que ponto estou”, “tenho muitos dados o que fazer com eles”. São muitas as angústias do investigador pouco experimentado. É aqui, continuou a investigadora, na Escola secundária, com a aplicação dos procedimentos de investigação ao trabalho que terão que realizar em Sociologia, que terão a oportunidade de sentir (e desfazer) essas angústias. A Socióloga, também, questionou os alunos sobre as suas ambições quanto à investigação. Concluiu: “como investigadores sociais a vossa preocupação deverá ser de comprometimento com autenticidade, com a compreensão e o rigor metodológico no estudo dos fenómenos sociais”. A sessão continuou com uma abordagem aos procedimentos de investigação, como seja: a pergunta de partida, os objetivos de investigação, a construção da problemática do estudo, a Diogo Rodrigues
exploração do tema de estudo através de leituras de textos escritos, a recolha de dados (entrevistas, observação participante …), a construção do modelo de análise, a discussão dos dados, entre outo aspetos. Os alunos foram, então, convidados a juntarem-se em grupos de quatro elementos sentados em círculo. O que até ao momento parecia uma conferência dentro do comum, depressa se transformou numa conferência dada pelos alunos. Os grupos de alunos assumiram o papel de “aluno- investigador” e foram desafiados a pensar e a aplicar, com os seus parceiros de trabalho, os procedimentos de investigação a potenciais temas de estudo na disciplina de sociologia. Raquel Ribeiro propôs a investigação de fenómenos sociais, como: as hortas comunitárias, o turismo em Lisboa, animais de estimação, entre outros. A reflexão dos grupos iniciou-se com a verbalização dos conhecimentos dos participantes sobre os temas, passando-se para a aplicação das etapas do método de investigação social. Os grupos propuseram questões de partida e optaram pela questão que melhor a investigação do fenómeno em causa, formularam os objetivos da investigação e decidiram sobre as técnicas de recolha de dados mais adequadas. Questões, essas, que – viriam os participantes mais tarde a saber – são consideradas o ponto de partida, para qualquer investigação sociológica. Todo este processo de “treino”, para aplicação do método de investigação em ciências sociais, foi intercalado com momentos de explicação, de excertos e recepção de informação. Com tudo isto, entretanto, já soava a célebre campainha das onze horas e trinta, para que os alunos se retirassem para o intervalo. À disposição dos alunos para receber qualquer dúvida, Raquel Ribeiro despediu-se, então, dos Camonianos.
Diogo Rodrigues, 12º G
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt BE/CRE
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http://esccamoes.blogspot.com/
O grupo Im Aufbau da Escola Secundária de Camões apresenta a peça "Die Aufführung / O espetáculo" na oitava edição do festival #alemaoemcena. Página institucional da Escola Secundária de Camões Novo Visual! https://liceucamoes.wixsite.com/camoes
A todos quantos colaboraram com a cedência de textos, fotos e cartazes para este Boletim, uma palavra de agradecimento.
Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal