ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES
B OL E T I M E SC OL A R
Confluências
Confluências
(2ª Série) maio / junho 2018
«10 anos depois, o Confluências permanece inteiro, firme na intenção de dar a conhecer a palavra (redigida) da gente jovem. Uma escrita fresca, límpida, intensa. Cheia de promessas e de vida. Um boletim que é exemplo pela originalidade do seu propósito, pela riqueza de quem o escreve, esses magníficos e atualizados alunos do centenário “Lyceu Camões”». (GDCBP – Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal)
«Há 10 anos que o Confluências proporciona à comunidade educativa um espaço de expres-
são literária, de informação e de divulgação das atividades desenvolvidas na Escola. Desejamos que continue a servir a comunidade, incentivando os alunos a escrever. E que continue a ser o ponto de CONFLUÊNCIA da comunidade CAMONIANA. Parabéns a toda equipa que idealizou e tem concretizado este projeto. Um agradecimento muito especial ao GDCBP, que tornou possível a publicação (em suporte papel) de todos os jornais nestes 10 anos.» João Jaime Pires (Diretor da Esc. Sec. de Camões)
Parece ser a sina de muitos dos projetos que sabemos, a Nesta edição: de nascerem e logo perecerem. Alguns, porém, resistem às agruras do tempo e vingam graças à paciência e à dedicação esperançada de umas Clássicos ……...…….………... - e o Camões …... quantas almas que acreditam na confluência de vontades, Ex-alunos Ler para Viver ……………… Estrangeiros em Lisboa ….. como rios que seguem o seu curso rumo a praias ignotas. Conc. Liter. Camões … Assim se tem cumprido a viagem deste Boletim, regular e XIII Natureza …………………..…. tranquilamente, modestamente contribuindo para a exce- Dia Aberto ………………...…. Encontro com ……….…..….. lência da história do ‘Camões’. Um filme ………….….…..…… Ao fim de um decénio, impõe-se uma palavra de gratidão Cidadania Ambiental e …... GTESC ………………………... para com todos aqueles que, a seu jeito, tornaram possível Maio em grande ….……….... Crónica ……………………….. este propósito, sem esquecer a generosa parceria com o Avulsos …………………….…. Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal (na pes- Breves ……………….………… soa de Jorge Rodrigues).
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Confluências CLÁSSICAS MITOLOGIA CLÁSSICA NO CAMÕES A Associação CLENARDVS – Promoção e Ensino da Cultura e Línguas Clássicas e a Escola Secundária de Camões, em parceria com o Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, promoveram a Acção de Formação "Mitologia Clássica" que teve como principal objetivo dar a conhecer aos formandos as principais figuras e ciclos mitológicos da tradição greco-romana. As cinco sessões desta iniciativa reconhecida e certificada pelo CFPPFS foram ministradas por especialistas na área e decorreram nos dias 21 e 28 de fevereiro e 7, 14 e 21 de março, das 17h às 18h30, na Biblioteca da Escola Secundária de Camões. Participaram docentes da ES Camões (26), docentes de outras escolas (24), estudantes dos ensinos secundário e superior (27) e público em geral (14). Em perspetiva está a realização próxima de novas ações formativas no âmbito da cultura e línguas clássicas organizadas pelas duas instituições.
Prof. Mário Martins
Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81
ALUNOS DE LATIM EM PÉRIPLO ROMANO NO CENTRO DO PAÍS No dia 2 de maio, alunos e professores de Latim da ES Leal da Câmara (Sintra) e da ES Camões (Lisboa) realizaram uma visita de estudo ao Museu Portugal Romano em Sicó (PO.ROS), e ao Museu e Ruínas Romanas de Conímbriga. Foi um dia muito rico em conhecimento da presença romana em Portugal, comprovada in situ, bem como de partilha de saberes e convívio entre duas escolas que têm vindo a trabalhar em conjunto em prol das línguas clássicas.
Prof. Mário Martins
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Confluências EX-ALUNOS — E O CAMÕES AQUI TÃO PERTO Sou Camoniana “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” já dizia o nosso Camões; “nosso” o escritor, “meu” o Liceu. Sou Camoniana de formação, gosto de crer que de origem também, mas que sou Camoniana isso sou-o com certeza. Fui feliz, muito feliz, naquele Lyceu de “y” centenário, orgulho-me de ter passado por aquelas salas onde o tempo reencontra Mário de Sá-Carneiro, Vergílio Ferreira, Mário Dionísio e até mesmo D. Manuel II, que inaugurou aquele edifício em “E”, onde se educa, onde se ensina e onde, essencialmente, se existe, se é. Aquele Lyceu viu os tempos mudar, viu o fim da Monarquia e a Implantação da República, viveu os quarenta anos de ditadura, o 25 de Abril e os quarenta anos que se lhe seguiram. Aquele Lyceu viu um suicídio, um parto e (diz-se) reuniões clandestinas quando “a cada esquina” um PIDE. Aquele Lyceu lutou, eu sei o quanto lutou, para que as vontades mudassem mas nunca se perdessem. Gostava de crer que as vontades não se perderam, que não foram abandonadas, mas o mundo tornou-se um antro de ócio e a vida um tempo que não muda, que passa, que se passa. Quando andei naquelas salas, ensinaram-me a ser, a ser como Descartes era, ensinaram-me a pensar e, logo, a existir.
Não interessava saber, interessava pensar porque o saber vem do pensar e não o contrário; sem bases no saber, nada se sabe, nada se pensa, não se existe. E depois, depois passa-se o tempo, perdem-se as vontades e nem Lavoisier nos vale porque nada se ganha, nada se perde, nada se transforma. Vivemos num enorme vazio, de nada e para nada. George Steiner dizia-nos que abandonámos o discurso interior, João Lobo Antunes, que a imagem venceu a palavra, não por ser melhor, por outra coisa. Mas tudo isto é efémero e não etéreo, vazio, oco, carece de significado, de existência. Dizia Cesário Verde, “E um dia, ó flor do luxo, nas estradas,/ Sob o cetim do azul e as andorinhas,/ Eu hei-de ver errar, alucinadas/ E arrastando farrapos, as rainhas.”. Desejo que o tempo volte a mudar e não a passar, e que se recuperem as vontades, a palavra, o discurso interior. Sem eles não somos, não existimos, sem eles não temos livre-arbítrio porque o que nos rodeia é que nos governa e isso é o nosso desgoverno. Desejo nunca perder as vontades e nunca deixar o tempo passar, desejo tornar àquelas salas, eternos reencontros com os tempos e as vontades que mudaram mas que nunca desapareceram. Desejo que tudo isso me valha.
Margarida Botelho (16-05-2017)
LER PARA VIVER With a skull at hand, and sleeve made of cloth, I proudly announce how short our lifespan is, mocking it in such a delightful way that my ever so naive audience, blissfully unaware, agrees with me, gifting their smiles and thought out compliments. Such is the power of well-crafted manuscripts, such is the power of Shakespeare. Power hunger, however, is not what drove Ler Para Viver to organize and present Shakespeare 101. It was a much nobler and worthy reason, with not a speck of ill-intended manipulation, but a truthful and genuine interest in powerful literature. If we made it justice, that's up to the reader (Or is it? Surely someone may be resistant to such fine craftsmanship). I consider myself to be a bit of a veteran; throughout all of my years in Camões, I've been a part of the club, participating in a ton of activities. Something unusual happened this time around, however; I was asked to grace (or cast down, given my lack of skills)
my experience with a written text. 'How exciting!, I mumbled: 'I can even mask my poor and badly-constructed Portuguese with an English text! It fits the theme! Joyful day.’ And here I am, trying to be witty and enjoyable, to keep the attention of the few that have gotten this far. My earliest memory of the show was picking and choosing the texts we were meant to read; I clearly remember squinting doubtfully at the numerous romantic and heartfelt poems – I adore love, and I can assure anyone I’m not bitter (just ask my cat), but I've had such an overexposure to old romantic babble that even the brilliant shakespearean texts left me uneasy (perhaps I am slightly bitter and my cat lied) – one of the organizers (Frau Paco) caught this and handed me Seven Ages of Man. It's this wonderful excerpt from As You Like It. It compares the world to a stage, and a man's life to a play; it's clever, has superb writing and can be interpreted… As You Like It. It also made an excellent opening piece, as it set the mood perfectly. I had to perfect and master the sev-
eral stages of something I have yet to experience - according to the writer, I've only passed three plays – after that, I faced another adversity; a bit of an obvious obstacle as well. The text, due to its brilliance, is quite popular and there are many readings available online, including celebrities interpreting their own phases. One of these interpretations is by Benedict Cumberbatch, and was wisely chosen, by professor Cristina, to close our little show; it only made sense: I’d start it with Seven Ages he’d finish with it. I immediately felt like I wasn't good enough to face Sherlock Holmes himself. My reading would sound bland when compared to his - except it didn't - with the support of my wonderful Ler Para Viver teachers I managed to be content with my text. My fellow readers also did wonderful and I couldn't be prouder! If you're looking to enrichen your curriculum and challenge yourself while engaging in fine literature, why not give Ler Para Viver a shot? Always yours,
Margarida Lourenço, 12º K
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Confluências ESTRANGEIROS (NO CAMÕES) EM LISBOA Portugal, o nosso amor A nossa chegada a Portugal é uma história de amor. Começou com o amor e a tranquilidade de uma vida feliz que eu queria ganhar e oferecer à minha filha, mas pouco a pouco transformou-se numa história de amor com as pessoas muito ternas e sensíveis deste país. Não cheguei a Portugal como uma princesa… No começo foi muito difícil. A minha mãe, que vivia em Almeirim, recebeu-me e ajudou-me. Estando a meio do período de gravidez e não conhecendo a língua, era impossível encontrar trabalho. Então pedi para entrar como voluntária para ajudar no Restaurante Cocheira Velha, que fica em Almeirim e onde a minha mãe trabalhava. Encontrei pessoas maravilhosas que me guiaram e se envolveram a tratar da minha legalização em Portugal, ajudaram-me a inscrever-me no Sistema Nacional de Saúde, para acompanhar a evolução da gravidez, e ajudaram-me de boa vontade com algumas coisas que eram essenciais ter para a minha filha, nos primeiros meses de vida. Apreciei e guardei no coração tudo isso, essas boas lembranças e esses gestos. Em Santarém encontrei um pouco de alívio para aquela forte saudade de casa e da língua romena que senti nos primeiros dois anos. Ali havia uma das nossas Igrejas Ortodoxas Romenas. (A Igreja Ortodoxa foi nos primeiros mil anos a mesma que a Igreja Católica, até ao momento em que a distância e a dificuldade de participação em conjunto de todos os bispos e do papa nos sínodos deixou marcas em algumas decisões, e pouco a pouco afastaram-se, mas que hoje em dia estão dando passos para unir o que se perdeu.) O padre de Santarém e a sua esposa aceitaram batizar e serem padrinhos da minha filha – uma criança que apareceu de repente, sem eles saberem quase nada sobre nós, e com quem eles estavam a fazer esta ligação espiritual. Também apreciei a coragem deles e fiquei a ajudar na igreja com o pouco que eu podia. Lia e cantava, o padre e a sua esposa tiveram paciência de me ensinarem, mesmo não sendo o meu ponto forte. Daqui nasceu um outro belo trabalho. A minha mãe ajudava-me em tudo durante este período. Senti que precisava de fazer mais do que cuidar da minha recémnascida filha, e comecei a pintar ícones bizantinos durante as horas que ela descansava. (Um ícone bizantino é a tradução do mistério divino na imagem, expressão da verdade da fé, apoio para nos aprofundar em oração e conexão com Deus, com a Mãe do Filho de Deus, os Santos que aparecem pintados e também com todos os que nos são queridos e para quem nós
rezamos e pedimos ajuda). Com o pouco dinheiro que recebia do abono de família comprava tintas para vidro e tentava usá-las de maneira diferente para opacificar as cores, mas manter aquele brilho específico, novo e moderno. O padre de Santarém gostou da ideia e encorajou-me. Fazia ícones e oferecia-os onde eu sentia que ganhava alegria com este gesto, e assim consegui manter o meu sorriso quente e sincero até me adaptar a esta nova vida.
(Santo Estêvão, o primeiro mártir/São Nicolau de Mira/São Demétrio de Tessalónica/São Jorge, o portador da vitória)
Um destes ícones chegou à nossa Igreja Ortodoxa Romena de Lisboa, e o padre ofereceu-me o suporte financeiro para vir a esta cidade extremamente bela e acolhedora. Ajudou-me a desenvolver mais este trabalho de pintura, que eu adoro,e de trabalhar de maneira mais profissional – comecei a usar folhas de ouro verdadeiro e gostei imenso do resultado, mas porque não me sentia bem a vender um trabalho que se faz por amor a Deus, e porque o tempo de acabar um ícone era muito prolongado, tentei encontrar outras soluções profissionais...
(Jesus Cristo)
(Maria e Jesus)
Mesmo que assim fosse, embora com a ajuda do CNAIM, no dia 1 de julho de 2017 participei na Feira da Diversidade Cultural em Almada, para representar a Roménia, com as minhas pinturas, e fiquei muito feliz e grata por esta oportunidade. Para além disso, Petra e eu tivemos também a oportunidade de apresentar no desfile roupas africanas junto com jovens de origem, momento inédito e muito divertido para a toda a gente, considerando que as duas somos bem loiras e com a pele muito branca.
(Cont. pág. ao lado)
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Confluências ESTRANGEIROS (NO CAMÕES) EM LISBOA (Continuação da pág. anterior)
Durante este tempo, as mulheres da nossa igreja recomendaram-me algumas patroas de casas particulares aqui em Lisboa e comecei a trabalhar nas limpezas como trabalhadora independente. Reparei que, apesar do esforço físico e cansaço prolongado que envolve o trabalho, e o crescimento duma criança, senti-me muito mais saudável do que a trabalhar na receção sem me mexer muito, como era quando vivia na Roménia, sobretudo porque as patroas eram pessoas muito sensíveis, boas, protetoras e compreensivas, por quem senti muita amizade, e tudo correu facilmente, nem senti que estava a fazer um trabalho de menor dignidade. Cheguei aqui como uma fugitiva, mas o impossível tornou-se possível e consegui ultrapassar o começo, graças a Deus e às pessoas onde Ele brilhava nos seus corações… pessoas que entraram na minha vida e me ajudaram a construir o meu pequeno Paraíso. Agora tenho a minha princesa com 4 anos que me enche de lembranças felizes e cuja imagem se mistura com esta realidade atrativa do seu país, e é tanto esforço e envolvimento para conseguir ter uma vida independente e satisfatória, de modo que me torno
Vim a Portugal pela primeira vez no dia 2 de novembro de 2015, há dois anos e seis meses, para trabalhar na área do apoio ao cliente, e decidi ficar aqui porque gostei muito de Lisboa. Tudo começou quando estava em Itália sem emprego e não conseguia encontrar trabalho. Um dia vi na internet um anúncio interessante
ligada irrevogavelmente a tudo, a esta gente, paisagem... alegria. Este apego emocional que faz parte do meu mundo interior, onde as energias como a motivação e o poder de ação se encontram encorajadas pela realidade lusitana, faz-me sentir que este é o meu caminho… Descobrir e enriquecer as nossas vidas com toda a esperança e o sol que Lisboa oferece. Estou a olhar para as diferentes hipóteses de desenvolvimento profissional e nada me parece impossível mesmo que não seja fácil. Agradeço a todos os que me ajudaram com uma palavra de encorajamento, com um sorriso ou com o seu sacrifício e guardo todos na minha alma. Fazem parte do meu caminho de amadurecimento, este caminho de amor que eu quero continuar a seguir. Insisto em lembrar um nome que é importante para mim: Oana – a minha ex-colega de serviço da Roménia que, até hoje, superou qualquer expectativa ao ajudarme, e que espero que venha aqui um dia, para desfrutar com a sua família e connosco a beleza de Lisboa e de Sintra. Parabéns Portugal, por nos oferecer um pedaço de si e de adotar duas estrangeiras com tanto amor! Simona Diana Suiu
para um trabalho em Lisboa e decidi enviar o meu curriculum. Passados dois meses, mais ou menos, fui contactada pelos recursos humanos da empresa onde trabalho, fiz alguns testes e disseram-me para preparar os documentos porque começava a trabalhar dali a sete dias. Em pouco tempo organizei a minha partida e cheguei a Portugal. Gostei imenso da cidade de Lisboa e das pessoas que são muito parecidas com os italianos do sul de Itália. Sendo o clima ameno
Chamo-me Maria, há um ano e meio que moro em Lisboa. Estou cá para ajudar o meu marido, ele trabalha na Embaixada de Espanha como adjunto do Adido da Defesa. O meu marido e eu fazemos parte da missão Diplomática da Embaixada, por essa razão, às vezes, temos de assistir a receções oficiais, em representação do nosso país. Colaboro com as famílias espanholas que chegam de Espanha, quando elas estão à procura de habitação,
durante muitos meses do ano. É agradável passear pelas ruas de Lisboa, visitar novos lugares e sair com os amigos. Como estou a trabalhar para o mercado italiano, falo a minha língua através do chat, do telefone e do e-mail com os clientes. De qualquer maneira, nos tempos livres estudo Língua Portuguesa com muito entusiasmo, e o meu objetivo é atingir o mesmo nível que tenho em língua materna. Giovanna Ciriolo
escolas para os seus filhos… Também às quintas-feiras ajudo no catecismo para alunos que estudam no Instituto Español “Giner de los Rios” e vão receber o Sacramento da “Confirmação”. Felizmente, ficarei mais dois anos convosco, neste maravilhoso país, pelo qual estou apaixonada. Maria Del Mar Villaverde Peinador
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Confluências XIII CONC. LITERÁRIO CAMÕES “Ao envolver toda a comunidade escolar pondo à prova a capacidade criativa dos nossos alunos, esta 13º edição do Concurso Literário Camões atinge de forma inequívoca os seus objetivos, o que muito nos apraz registar. Cientes de que o desafio não era fácil – O homem é do tamanho do seu sonho – podemos orgulhar-nos da qualidade dos trabalhos apresentados, cujo resultado final surge materializado em formato analógico e digital. A todos os seus autores, por igual, a nossa gratidão. Sentimento que tornamos extensivo a quantos, formal ou informalmente, colaboraram e tornaram possível esta iniciativa.” (maio 2018) A Organização, Lídia Teixeira Teresa Saborida
POESIA 1º Prémio Helena Fonseca – 12º B “Poema do ser tudo” «Imagina um luar que cresce e aquece e faz da tua carne flor de loiça, orquídea branca que o calor não cresta. Imagina, imagina. Mas, sobretudo, dorme.» (António Gedeão, in “Poema do ser inóspito”)
Enquanto não te chega o sono, deixa que te entre no coração a música inaudível, invisível, intocável. Que entre e prenda A beleza intangível das coisas. Sê uno com elas, sê um só, mas sê em ti muitos, inúmeros, tantos quanto puderes ser. Somos unos, somos quanto podemos e assim deve ser o mundo. Não deixemos que se apodere de nós a igualdade da planície! Que venham as ondas, a rebentação! Entremos na ressaca do sonho e por lá fiquemos a apreciar a espuma. Vejamos passar o rio, mas, num bocejo involuntário de querermos mais,
vivamos a vida sem receio. Que mais pode ela dar-nos que a morte certa? Imagina, imagina… Vê que lindos são os pássaros, as pessoas, os sons, as flores! Deixa que te invadam as cores, o sol, a noite, a madrugada! Permite em ti uma trovoada de pensamentos belos, que o belo, por si, cria outros… Coroa-te a ti próprio de louros e vive: vive e cria vida, não fiques para trás na corrente ainda que belo seja o mar. Ele um dia leva-te, mas por agora preza o amanhecer que para a morte caminha o sol e sempre torna a acordar. Imagina, imagina… Mas, sobretudo, dorme! E, enquanto te faltar o sono (mesmo de olhos abertos!), Sonha! Deixa que vá a noite devolver o dia ao luar! Imagina, imagina… Mas, acima de tudo, sonha! E agarra em ti todos os sonhos do mundo, para que mais tarde, quando regressares, tenhas vidas para partilhar!
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Confluências XIII CONC. LITERÁRIO CAMÕES 2º Prémio Maria Beatriz Lopes da Piedade – 12º A Tenho em mim todos os sonhos do mundo Sinto todos os sonhos Que passam por mim Sinto os sonhos das pessoas Cujos olhos se encontram com os meus E nesse escasso tempo De tão rápido Faz com que não me lembre das caras A quem leio os sonhos Esses sonhos que eu leio São sonhos que desfilam nos olhos Destas personagens da realidade Os sonhos de que mais gosto E que por mim mais são lidos São as lembranças dançantes Nos olhos tristes de velhos
3º Prémio Maria Beatriz Rodrigues – 12º L “És rio” «Entre o sono e o sonho, Entre mim e o que em mim É o quem eu me suponho, Corre um rio sem fim. Passou por outras margens, Diversas mais além, Naquelas várias viagens Que todo o rio tem. (…)» (Fernando Pessoa, Poesias)
vais embora porque é só isso que sabes fazer e é só isso que queres fazer és rio que corre sem fim que passou por mim
Cujo amor foi perdido E como é triste o seu olhar E como é lindo E como é melancólico E como é apaixonado E como todas aquelas memórias lhes dançam No seu olhar pesaroso e cansado Quando jovens apaixonados passam E como se inundam de águas passadas os seus olhos São lindos estes sonhos São lindos todos os sonhos E nós Humanos Estamos cheios de sonhos Sejam estes sonhos recordações Sejam estes sonhos aspirações Somos todos sonhos Somos do tamanho dos nossos sonhos Pois estão em cada um de nós todos os sonhos do mundo
sem parar e que levou consigo tudo o que trouxe para me dar sonhas com o mundo e com o que está lá fora enquanto eu sonho contigo e com o que está dentro de nós sonhar contigo sonhar com uma realidade em que fiquemos inseparavelmente juntos inegavelmente juntos mas o sono espera-me ao adormecer e o sonho transforma-te em pesadelo negro transforma-se na realidade negra de vivermos separados transforma-se no teu desejo de ir e partir sem mim ver tudo sem mim viajar com esse rio que corre sem fim que te leva para longe de mim tens contigo todos os sonhos que poderiam ser sonhos menos o de ficares.
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Confluências XIII CONC. LITERÁRIO CAMÕES CONTO 1º Prémio Ana Catarina Baptista – 12º D José Carrasqueira caminhava o mesmo trilho todos os dias. As suas inexistentes pegadas arrastavam as pequenas pedras para fora do seu caminho, como se de meras partículas de pó se tratassem. Acordava sempre às seis da manhã só para fazer o percurso ao lado da linha de caminho de ferro a passo lento e desorientado. Quem o observasse com prolongado interesse, julgá-lo-ia um homem dedicado a alguma desconhecida promessa, mas José Carrasqueira era tudo menos crente. Não era muito alto, mas toda a sua postura corcunda também não o favorecia. Era um homem do campo sem o ser, gasto pelo esforço do trabalho, já com pouco para dar. A sua testa era enrugada como quem pensa confuso sem encontrar respostas, e os seus olhos negros eram fundos transmitindo uma eterna tristeza inquietante. Já fora um grande trabalhador em tempos passados, um grande homem, capaz de representá-los a todos apenas com um “h” maiúsculo. Hoje em dia, Carrasqueira nem um homem grande era. Sentia-se mais pequeno que a sua altura, pequeno de sentimento, pequeno de alma, pequeno em espírito. Se o homem é do tamanho do seu sonho, então José Carrasqueira nem sonhava de tão pequeno que era. Todo o passeio era uma rotina, um ritual que o preparava para a vagarosa monotonia do dia que já nascera tarde. Caminhava por entre memórias passadas como
quem não tinha objetivos, não tinha fé, não avistava nenhum fim a alcançar. Não havia deus que o fizesse crente e se havia nem nos homens o conseguia fazer acreditar. A linha de caminho de ferro vagueava fielmente junto a Carrasqueira e, lado a lado, comunicavam em silêncio durante meia hora todos os dias. Tal como o vulto do triste peregrino, estava gasta, mas tudo nela indicava que já não era usada há largos anos e que tão cedo não o voltaria a ser. Porém, José Carrasqueira discordaria: não, não acreditava em Deus ou na Humanidade, contudo acreditava piamente na tranquilidade do silêncio e no regresso do comboio que com ele iria trazer a sua Maria Rosa para os seus braços. Nunca tinha escutado o silêncio como no dia em que ela partira, aliás, talvez sempre o escutara, apenas nunca se tinha dado conta da sua triste voz. Conheciam-se desde muito novos. O primo mais velho dela era Faustino Traveira, agora mais conhecido pela taberna que herdara do avô e à qual todos chamavam da “Do Traveira”. Faustino fora, desde sempre, o companheiro de infância de José Carrasqueira. Juntos tinham dado muitas preocupações (e cabelos brancos!) às suas mães: desde pintar as galinhas com a tinta azul que o tio Joaquim tinha mandado vir da capital para pintar o seu carro, até roubar chocolates da mercearia da Dona Hermínia, muito tinham aqueles dois tramado. Mas Maria Rosa não se podia dar a esses luxos de ser criança, era menina e as meninas não
tinham direito a ser crianças, as meninas tor navam-se logo mulherzinhas. A pequena andava demasiado ocupada a aprender a fazer pão, a cozinhar e a cuidar da lida da casa, e com o pouco tempo que lhe sobrava ainda tentava aprender a ler sozinha, pois isso ninguém lhe fazia questão de ensinar. Só no verão é que Maria Rosa podia sair com os rapazes, e mesmo assim, só duas vezes por semana e tinha de chegar a horas para ajudar a fazer o jantar, pois, com tantos primos e afilhados, não era um lar fácil de gerir. Para ela, essas eram as únicas memórias que valiam a pena ser recordadas. Aqueles longos dias que passavam a voar, as idas a pé até ao rio, que os deixavam exaustos, mas com um sorriso nos lábios, os mergulhos na água suja e gélida, e a terra que teimava em se colar aos pés descalços e ainda molhados. E sempre fora assim, até que num desses verões, os cabelos de Maria Rosa pareceram a José Carrasqueira mais brilhantes que o costume e os olhos negros de José Carrasqueira criaram uma quieta inquietação no coração de Maria Rosa. Era amor e mais não há para contar porque, como qualquer outro sentimento, pode-se tentar explicar por meras palavras, mas palavras não são nada mais que palavras. Desta forma, sentimentos não se conseguem explicar, pela única razão que não foram criados para ser explicados, mas sim sentidos. (…)
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Confluências XIII CONC. LITERÁRIO CAMÕES 2º Prémio Helena Fonseca – 12º B Pingando, pingando, pingando, ou Como retornar a ordem à selva Há dias que os pincéis pingam, pingam, pingam para o chão e as tintas secam na palete. A tela mantém-se branca, com apenas uma mancha vermelha que será apelidada de arte quando mais tarde for referida por aí, nos jornais e noticiários, como a última obra. Fingiremos, então, que entendemos, Como é bela a pincelada, única, singela, pura e decadente. Quem diria, pois, que
3º Prémio Noa Brighenti – 10º J Imagem Retiniana Abanou o papel fotográfico com a ponta dos dedos e contou até vinte, suponho que pela força do hábito. Não esperou pelo resultado, na verdade também não valia a pena. Acabou por se irritar, como se uma raiva escondida na tranquilidade dos anos tivesse emergido nesse instante. Pronunciou em dialecto uma série de insultos e lançou tudo ao seu alcance para o ar, até que se acalmou ao ouvir aquelas memórias partirem-se no chão. Seria de estranhar uma pessoa partir todos os seus objetos pessoais e sentir-se bem por isso, mas ele já não considerava que lhe pertenciam. Eram fantasmas do passado e livrar-se
no leito da morte foi pintada, a última risca, traço, linha, borrão, tanto faz a taxonomia empregue e as duas ou três palavras aplicadas, nem se faça sequer uso da maiúscula, porque foi a última, e, propositada ou não, não haverá mais semelhantes. Nem chegou a completar-selhe a forma, ficou ali espremida no branco, vermelho e branco na tela, encarnado e branco no chão, que mais trágica e nefasta conjunção de cores. E que rica cena engloba a pintura, tela ao fundo com as suas conhecidas características, tintas espalhadas pelo chão, os pincéis a pingar, a pingar, a pingar, ainda que não se saiba de onde vem tanta pinga, que está já o
sangue seco no soalho e continuam os pincéis pingando, pingando, pingando, com a morte é assim, quem sabe se não chorarão a do dono que jaz morto no chão. Não se tome por propositada a rima, que nestes casos não há modinha que console, independentemente de viver sozinho e afastado do mundo o pintor, Pobre homem, pensarão, Cada um faz a cama em que se deita, apesar de este, coitado, ter acabado fora dela, provavelmente por a não ter arrumado, capricho daqueles que não têm obrigações, nem a de fazer a cama, imagine-se, ou talvez por não ter tido tempo de a ela chegar, pois é, a morte não espera. (…)
deles, sossegou-o. Porém, não teve coragem suficiente para segurar novamente na máquina fotográfica que permaneceu intacta. Não teve direito a um único arranhão. Mudara-se há já cinco anos para um apartamento no Bairro das Colónias, nos Anjos. Só voltara à cave porque Cármen, a sua empregada, lhe dissera meses antes, “Luca, o que esconde na cave? Aquilo está lá desde que aqui chegou”. Esconder? Era uma palavra demasiado forte, não havia nada escondido, mas sim embrulhado em sacos, coisa que a curiosidade de Cármen não aguentava. Na altura limitara-se a encolher os ombros e a resmungar, com o charuto na mão direita, desenhando no ar círculos de fumo e uma tosse irregular. – Estou cansado de ti, Cármen. Só fazes perguntas. – acabou por lhe responder saboreando as pala-
vras. Ele ouviu-a afastar-se com passos pesados para o corredor e permaneceu descontraído na sua poltrona, como se nem Clarice, nem o seu estado de espírito lhe importunassem a paz. – Não deixes pó nas estantes! – Luca continuou entre bafos, com a sua voz rouca e gasta. – Eu não consigo vê-lo, mas consigo tocarlhe. A mulher praguejou e correu até ele revoltada – Velho teimoso! – gritou numa língua que não era castelhano, e muito menos português, mas antes uma impercetível mistura de idiomas. Imaginava-a a gesticular excessivamente e achava essa imagem engraçada. Não sei se era por mal que a levava aos limites, por bem não era de certeza. (…)
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Confluências NATUREZA
Fotografo porque gosto de guardar memórias, de levar às luzes da ribalta aqueles pormenores ignorados. Fotografar também é uma arte, embora alguns digam que qualquer um o consegue fazer. Mas a verdade é que é preciso sentir. Para além disso, o autor de cada foto é que a irá perceber totalmente. Só ele é que presenciou o momento e só ele é que conhece os cheiros e os ruídos da foto e a sua história.
(Fotos e texto de Joana Formiga, 10º C)
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Confluências DIA ABERTO
Como anunciado no número anterior do Confluências, aqui se registam alguns apontamentos fotográficos relativos ao evento.
Fotos de Lurdes Fernandes
ENCONTRO COM RICHARD ZIMLER
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Confluências UM FILME - REFLEXÃO CRÍTICA Quem esperasse encontrar no Colo uma espécie de documentário quase neorealista e em cima do acontecimento sobre a crise portuguesa, ficará por certo desconcertado ou, provavelmente, desiludido. Mais do que a realidade em directo e imediata, o filme envereda por mostrar os subterrâneos íntimos e as consequências a longo prazo da crise, fazendo um retrato de família onde os seus membros, atropelados, exterior e interiormente, pela desagregação económica, laboral e social da crise, entram num colapso pessoal irremediável e irreversível. Nesse sentido, e que me seja suportada a imagem, Teresa Villaverde, e num sentido diferente dos outros filmes conhecidos sobre a crise, prefere dar-nos o olhar de um médico de família, talvez não tão especializado, mas mais próximo da intimidade e da verdade subjectiva e existencial de cada um.
É isso, na verdade, o que temos no Colo, nessa família onde a crise material entra acompanhada por uma crise muito mais profunda e duradoura que é a das emoções, a da palavra, a da incapacidade dolorosa da partilha, partindo cada um, pai, mãe e filha para um futuro onde todos estão, mas numa solidão que os afasta cada vez mais uns dos outros e de si próprios. Nesse episódio mais que simbólico, da morte do pássaro, o que se sente é que a voz interior de todos emudece e entra num mundo e vida em surdina e que a crise é antes de mais uma destruição dos laços mais humanos, um emparedar as pessoas em si próprias e para os outros. Dessa forma, se a crise exterior é reconhecível e bem palpável, este é um filme mais filmado de dentro para dentro do que fora para dentro. (…) José Esteves (Professor) https://www.facebook.com/escolasecundariacamoes/posts/2181446131870851 [21/05/2018]
CIDADANIA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO Uma visita à Praia das Avencas No dia 18 de abril, o Núcleo de Ambiente Camões (NAC) e o Instituto Espanhol de Lisboa, participaram numa saída de campo à praia das Avencas. Teve como objetivo fazer a monitorização “CoastWatch” no local, prestando especial atenção aos tipos de lixos marinhos, à biodiversidade animal e vegetal, à erosão costeira, entre outros temas. De facto, esta experiência ofereceu-nos a possibilidade de reflexão sobre os vários problemas que afetam aquele litoral, mas também quão magnífica é a biodiversidade ali presente. A praia das Avencas distingue-se, de todas as outras praias do litoral de Cascais, pela sua biodiversidade, pela sua beleza e pela sua grandiosidade. É uma Zona de interesse biofísico para a investigação científica e para a conservação, Zona de Interesse Biofísico das Avencas (ZIBA). Na Ponta da Pedra do Sal, bem junto à praia de São Pedro do Estoril, encontra-se o Centro de Interpretação Ambiental deste ecossistema costeiro. Aconselhamos uma visita, pois a informação disponível e toda a paisagem costeira oferece bons momentos de lazer ao visitante. Quando chegámos, começámos por acompanhar os alunos do Instituto Espanhol na observação e recolha de
dados ambientais. Reparámos nas plantas, nos animais, na paisagem e, também, no lixo marinho, que sem, por vezes, disso termos consciência, constitui uma ameaça à qualidade da paisagem e aos ecossistemas. Ao fim de algum tempo, acabámos por nos afastar um pouco do grupo inicial para aproveitarmos a experiência de uma outra forma, para nós significativa. Seguimos, então, um percurso alternativo no qual tentámos captar um pouco, através do desenho e da fotografia, a beleza desta paisagem tão única e cénica. Com as nossas representações, queremos despertar, nos nossos colegas, o mesmo que nós sentimos na “praia” das Avenca: encanto e inspiração. Porém, achamos que é, ainda, mais importante usá-las para refletirmos sobre a fragilidade deste ecossistema. Lugares como esta praia, que hoje nos parecem tão seguros, estão sob a constante ameaça da poluição humana e, se não formos conscientes nas nossas ações rapidamente podemos destruí-los. Assim, gostaríamos de relembrar a importância da tomada de consciência ambiental e dos nossos comportamentos a favor do ambiente. Por exemplo, no nosso dia a dia, através de pequenas ações como fazer a separação de resíduos domésticos e colocar as beatas dos cigarros nos reservatórios para o lixo existentes nas praias estamos a contribuir para a qualidade do ambiente e, assim, deixamo-lo em boas condições para as gerações futuras.
Filipe Baixinho (NAC), 11º C
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Confluências GTESC À manhã ...num Alentejo onde o trabalho curva e as suas gentes atravessam a vida a ele curvadas. A vida é a cor da terra, a força nos braços, a torreira do sol; fazer a vianda para os animais e as migas com conduto quando o há. E vive-se: entre o comer e o trabalhar. Às vezes é preciso emigrar. E o tempo escorre... E o afeto, o desejo e o amor enterram-no no fundo da terra de uma horta qualquer, no fundo das gentes, pela urgência da sementeira ou da colheita ou na morte de algum ente querido. Estão lá (como não estar!) nas mãos calejadas, nas faces rugosas, nos corpos derreados pela terra crestada e dura. Com o avançar da idade ganha-se a vontade lúcida do que não se viveu, do que não se fez, nem disse. Aí onde o trabalho amaina brota a maciez dos sentimentos, dos afetos e saboreiam-se beijos sonhados e amores antigos. E não, a tia Olga não é uma idosa senil em busca do amor, nem a Macha, a Tia Irininha, Vlademiro ou Estragão. Em todas as personagens transborda a sabedoria do essencial, da natureza humana, o epicentro da vida - o amor. A Loucura, essa é a do Homem que escraviza outro Homem. José Luís Peixoto propõe-nos um texto belíssimo e poético sobre vivências de idosos alentejanos em busca de si próprios, do que não viveram mas sonharam. M. Clara Melo da Silva
GTESC – UM PROJETO COM 9 ANOS ção e crescimento... o reconhecimento da generosidade do que cada um partilha com todos... Não fazemos “happenings fabulosos” fazemos viagens Para nós o teatro escolar é qualquer coisa... que se vão desenrolando no tempo preguiçoso do cresUma ponte entre a expressão e o ensino. cer da rosa, abanadas por maresias diversas, alicerçaUma prática pedagógica, uma aprendizagem global das nas arqueologias dos nossos “existires”. (cognitiva, sensorial, motora, afetiva e estética...). E que gosto enorme dá acompanhar estas travessias! Uma forma de desenvolvimento pessoal, autoconhecimento, capacidade auto-expressiva, autonomia, capaci- O teatro escolar é uma aventura pela improbabidade criativa e auto-estima, capaz de formar pessoas lidade. mais felizes e comunidades educativas mais abertas e Parte do sonho de regar um canteiro em terreno arenoso... mais alegres. Parte de um sonho, de vontades que se unem, e que Para nós o teatro escolar é coisa séria... depois de se unirem vibram o corpo e a melodia da borNão alimentamos habilidades, não procuramos eventos boleta que vive apenas um dia depois de longo período ‘flashantes’, não decoramos o palco à toa, nem tão pou- de ‘enlagartamento’ – um dia apenas de asas coloridas, co usamos microfones. Procuramos textos que nos enri- de odores florais – um dia apenas... tão longo este dia queçam, que transmitam humanidade, e damos-lhes é! voz e corpo, vestidos com dedicação, esforço, algum É isto... ou parte... cansaço, muito respeito e amor. O GTESC completa 9 anos... Quem sabe calha sonharPara nós o teatro escolar é uma longa viagem... Se calhar, é por isso que nos entristecem os comentá- mos mais um...
[PARABÉNS!]
rios do tipo “este ano o grupo é fantástico” ou “Que grandes atores”. Nem fantásticos... nem grandes... Preferimos o reconhecimento pela formação, constru-
M. Clara Melo da Silva [Coordenadora e encenadora]
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Confluências MAIO EM GRANDE Maio’ 68 – Memórias partilhadas, com (ex-)camonianos, nas Caves do Camões “Foi um enorme gosto voltar a ver e a falar com estas excelentes Professoras. E foi também uma tertúlia excelente sobre o Maio de 68 e as suas repercussões em Portugal. E ainda a oportunidade para rever e reencontrar colegas e amigos que não via há muuuuuuuito tempo.” (António Garcia Pereira)
17 de maio de 2018 Evocação do General Humberto Delgado (candidato independente à Presidência da República) e debate comemorativo dos sessenta anos do comício realizado no Ginásio (agora com o seu nome) da Escola Secundária de Camões. Com a participação de: Margarida Tengarrinha, Professor Fernando Rosas, Professor Luís Farinha e General Pedro Pezarat Correia. A moderação ficou a cargo da jornalista da RDP Ana Aranha.
António Souto (foto de Fernando Piçarra para «human»)
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Confluências CRÓNICA Folares a rodos
Já foi a páscoa, como de resto já foi o carnaval, e não tarda será maio, e daqui a nadinha chega o verão e o sol dos engarrafamentos, e do outono ao natal apenas um pulinho, e isto tudo embrulhado não passa de um círculo vicioso em que o tempo se ensaia e a matéria se transforma, e nós com ela, e com ele afinando. Mas antes deste hiato pascoal houve a escola, a escola que há com ou sem interrupções, só que com um pouco mais de tensão e de simulado empenho como geralmente acontece em cada remate de período, porque há que prestar contas de quanto se fez, particularmente de quanto se não fez. E é neste malfadado exercício de deve e haver que as vésperas de pausas se prolongam em papéis ensaiados, considerandos e contendas, e água benta depois, até às suspiradas amêndoas, porque é preciso que haja amêndoas; por capricho, de doce e fina cobertura, e com sabor antecipado. A ninguém interessa esperar, as surpresas são coisa do passado. Isso era antigamente, há muitos anos, quando o ritual das pautas seguia outros cerimoniais mais ortodoxos e os folares eram inversamente proporcionais às negativas, porque dantes importava sobretudo saber se havia ou não números vermelhos a manchar a honra da casa, que a vergonha era de todos e para todos, e muitas vezes
nem folares havia, mas tareia e castigo certo de férias, «para aprenderes», e no final do ano letivo logo se veria a que distância ficaria a praia ou o campo e as obras, embora toda a rapaziada periférica soubesse que o campo e as obras ficavam sempre mais perto, mas muito mais perto do centro das aldeias todas. A escola era a escola, o professor era o professor, e este é que sabia o que estava bem e o que estava mal, que para isso «é que tinha estudado». Isso era antigamente, quando não havia ainda autos e heteros avaliações, quando as notas finais de zero a vinte cabiam todas numa escala que se afigurava perpetuamente mais curta para a maioria dos jovens de então, quando os professores mais severos ditavam com desdém «foguetes» e bicicletas» e estampavam nas folhas brancas e largas por trás das vitrinas um axadrezado de sangue e raiva. Antigamente, a surpresa era a última a morrer, e por essa razão se enchiam, nos dias anunciados, os vestíbulos dos liceus na esperança fantasiada de ali se assistir ao vivo a resultados milagrosos – os alunos, que alguns pais, sabendo das reses que tinham, pouco se surpreendiam. E as notas eram as notas, com mais ou menos salpicos purpúreos, e no final de cada ano havia muitos finais. Antigamente… Hoje, porém (e sem quaisquer saudosismos), não há praticamente surpresas na escola que há, mas muitas amêndoas sortidas e folares a rodos o ano inteiro. António José Souto Marques (in «human», nº 109, Abril 2018)
AVULSOS LISBOA À LETRA Promovido pela Câmara Municipal de Lisboa, o evento (Concurso Literário Municipal, 2013) contou, nesta publicação, com a colaboração (‘leitura plástica’) de alunos da Escola Sec. de Camões (10ºF, 11º F, 12º F – professores Jorge Castanho e Fernanda Lebres). (Ano: 2017)
ALMOÇO LITERÁRIO Por iniciativa da BE/CRE (e com a colaboração da ASE), este “Almoço Renascentista” (30 de maio) vem na sequência do êxito alcançado com o “Almoço Pessoano”. Uma iniciativa a continuar!
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt BE/CRE
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http://esccamoes.blogspot.com/
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O próximo ano letivo começa ‘agora’. A Esc. Sec. de Camões propõe novas ofertas formativas. Informa-te & inscreve-te! Página institucional da Escola Secundária de Camões Novo Visual! https://liceucamoes.wixsite.com/camoes
A todos quantos colaboraram com a cedência de textos, fotos e cartazes para este Boletim, uma palavra de agradecimento.
Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal