ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES
B OL E T I M E SC OL A R
Confluências
Confluências
(2ª Série) Nº 46 Setembro / Nov. 2019
110 ANOS. É OBRA! ...E A OBRA NASCE!
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Confluências SCRIPTOMANIAS O Primo Basílio Como recompensa por ter alcançado a honrosa segunda posição no Concurso Literário Camões 2018/2019, na categoria de ‘conto’, fui premiado com um exemplar de O Primo Basílio, de Eça de Queirós. O que mais me motivou para a sua leitura, foi tê-lo recebido depois de terminada a leitura de Os Maias, do mesmo autor. Na minha opinião, O Primo Basílio é uma obra interessante, em que o autor consegue, através de uma linha de escrita mais próxima da corrente realista-naturalista, sublinhar alguns males que à época atravessavam a sociedade portuguesa, principalmente em espaço urbano (Lisboa), sendo que alguns deles ainda perduram nos nossos dias. A mensagem principal deste livro relaciona-se com o tema do casamento, articulando-se com um subtema específico que cruza toda a narrativa, o adultério. Eça aborda esta questão de forma tão clara que, enquanto leitor, ‘senti’ a sua objetividade. Por outro lado, a ‘tipificação’ das personagens não foi, a meu ver, tão bem conseguida. É certo que podemos perceber que algumas personagens representam determinados ‘seres’ com os mesmos
Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81
vícios e/ou virtudes: Luísa, a personagem principal, é o exemplo da ‘mulher’ romântica do século XIX que age impulsivamente. Para esta ‘personagem-tipo’, ainda assim, o autor tenta apresentar possíveis causas para a sua ‘queda na tentação’, que resultaria no adultério com o seu primo Basílio. Para tal, apresentamse-nos como hipóteses a curiosidade em recordar antigos momentos de namoro que haviam tido; a solidão sentida por esta personagem após a partida do marido em missão de trabalho; a influência da sua amiga Leopoldina, uma mulher popularmente conhecida na cidade pela sua conduta adúltera; ou, simplesmente, a inexistência de um sistema de valores sólidos que regessem a sua conduta – Luísa era alguém pouco devota ao entendimento e ao cumprimento dos valores da Igreja dos finais do século XIX. Fecho este comentário salientando que fui duplamente premiado: primeiro, por me ter sido oferecido este livro; segundo, porque pude desfrutar da sua leitura simples e desinteressada e, ao mesmo tempo, refletir sobre vários assuntos que me permitiram concluir que a diferença entre as sociedades portuguesas dos últimos dois séculos é francamente mínima. Luís M. Silva, 12º H
Nesta edição: Scriptomanias …………...………... Olhares ………………………....…… Discriminação …………………...... E.S.C., um contributo ..………….. Um encontro com……….....…....... Antígona, uma representação ... Entre a ciência e a arte …....…… Cidadania e Desenvolv. ………… Sena & Sophia …………………….. História de uma Exposição ……. Uma história ………………………. Halloween ………………………….. Em aniversário do ……..………… Eleições discentes ........................ Em final de… e em início de ….. Visita de estudo …...……………… Apresentação de antologia ……. Depoimento ………………………... Homenagem ……………………….. Óbitos ………………………………... Breves ……………….........…………
p.p 2-5 p. 5 p. 6 p. 7 p. 7 p. 8 p. 8 pp. 9-11 p. 11 p. 12 p. 13 p. 13 pp. 14-15 p. 16 p. 17 p. 18 p. 18 p. 19 p. 19 p. 19 p. 20
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Confluências SCRIPTOMANIAS
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Confluências SCRIPTOMANIAS Singularidades Descurando arrogâncias, talvez a minha perspetiva da relação humana não seja deste mundo. Nem do outro. O que move o real cessar da minha tarefa em detrimento da descoberta do novo haver? Eu, rotineiro. A novidade, per se, não é claramente suficiente. Esta não é, contudo, apenas uma novidade. Talvez seja a novidade. Nem deste mundo, nem do outro. A singularidade de uma mítica avenida lisboeta, onde outrora despendi interminável energia juvenil, trouxe-me, agora ao saber, a unicidade em pessoa. Com nitidez, a figura. Um ser irremediavelmente elegante, de beleza incontornável. Nem muito alta, nem muito baixa, talvez à minha medida. Lindos cabelos loiros, que percorrem simetricamente a face tão esplendidamente esculpida quanto os giros cerebrais. Uma leveza de organismo, que tão rápido anda quanto fala. Um elóquio com dois prismas em consistência. Primeiramente, a pertinência e o conteúdo. Não perfazendo nem 22 primaveras emana, todavia, avelada lucidez de discurso, conhecedora mais do que a torneia do propriamente de si. Realiza o seu culto com temáticas que, para qualquer homem, são curiosidade, tornando em si a singularidade do mundo. Museu onde se entra e se ambiciona sentar, não para repousar as pernas, mas para nutrir a alma. Possui, para ensinar, sabendo ouvir. No seu olhar, o dom de captar e emitir, entre sorrisos sin-
ceros de olhos estreitados. Depois, a naturalidade do ato. O conforto convida à sua liberdade com sublime transparência dos seus movimentos. Entusiasmante o envolvimento que a sua mímica atrai, entre a pertinência do discurso e a fluidez da sua postura. A novidade conduziu à quebra da rotina e orientou-me a cessar a tarefa. E como o tempo fluiu ainda mais celeremente do que quando me embrenho no que mais aprecio. A nova tarefa, de tão inteligível execução, conjetura-se num sincronismo de processos de dois seres recentemente desconhecidos mas tão absurdamente congruentes, trazendo consigo tanto de entusiasmo como de vício. É o alguém que carrega sempre algo de novo, decerto mais apaixonante. Uma peça cuja primeira vez se observa para se ater de conhecimento, e outras cem vezes sem deveras a conhecer. E não é isto afinal que move um homem uma vida inteira? Uma novidade sendo a novidade repetidamente. Contavame que se intriga pela diferença, mas que quando lhe despe a incerteza, se torna certa da mudança de rumo. E se fizer da incerteza permanência e ocorra que a novidade seja sempre incerteza? Ora, esta novidade vive o risco da incompreensão, neste mundo de precipitação do contacto efémero e desprovido de essência intrigante. E, no fundo, de quanta incerteza me envolveu as singularidades de uma rapariga loira. Agosto, 2019
Pedro Martins do Rêgo Farinha (ex-aluno, já licenciado)
Camões
Em ambiente peripatético
Ao contrário do meu conhecido homónimo, não ando por aí nas bocas do mundo (pelo menos pelas razões mais abonatórias). Ele é grandioso, um náufrago, figura de renome no círculo da literatura portuguesa, admirado até por aqueles que da sua obra nada sabem. As páginas que escreveu estão tão cheias de patriotismo que o sentimento invade as margens, transbordando os seus limites, manchando de amor as mãos do leitor, sujando a capa e a contracapa. Eu, por outro lado, nada escrevo – isto deve-se ao bloqueio criativo que me invadiu na velhice – e mando os outros escrever: lições, a data, nomes e registos de pouca relevância e nenhum interesse. Mas sou útil àqueles que gostam da minha companhia, transmito conhecimento e incentivo o espírito crítico, e por essa razão sou reconhecido. Infeliz é a minha situação atual, o meu desleixo, o meu look fora de moda, desatualizado, o modo como me vão caindo peças, tábuas, tijolos, como me entra uma corrente de ar que tão inconvenientemente constitui uma distração para os meus pupilos. Esta minha decadência é a razão pela qual sou alvo de atenção, causa revolta e denuncia a estupidez dos governos que não me consideram uma prioridade, que não percebem a importância de devolver um símbolo nacional, o berço de artistas e académicos, aos seus tempos de glória.
Uma aula, pela professora Lurdes Fernandes
Beatriz Mendes (Concluiu o 12º no ano transato)
(Foto de Teresa Saborida)
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Confluências SCRIPTOMANIAS Tempo Tempo, quanto de ti nos resta? Tempo, quanto de ti já passou? Tempo, porque é que uns vivem mais e outros, menos? Porque é que uns usufruem mais e outros, menos? Tempo, tu que estás cheio de mistérios e que tentas ser compreendido pelos homens, será possível, um dia, entender-te?
Ontem sonhei
Tempo, tu que reges a leis da biologia, as leis da física e as da química, indica-me o caminho, pois enquanto muitos te veem apenas como um número, eu vejo-te como um livro, um livro em que o leitor tem memória daquilo que leu, mas, tal como tu, não sabe quando acabará de o ler, um livro em que cada nova página é como um novo dia e que, tal como tu, é independente dos homens que o leem. Tempo, quanto de ti nos resta? Guilherme Reis, 12º C
Pois, afinal que diferença existe?
Todos sonhamos, Ontem sonhei, Não serão os sonhos sonhados, Uns mais, outros menos, Sonhei com fontes e jardins, Apenas uma realidade irreal Uns com jardins, outros com fontes, Onde os desejos se misturam com a Mas todos sonhamos. Jardins tão grandes, Com flores de todas as cores, razão, Sonhos tão sonhados Desde o vermelho ao amarelo. Explodindo em mil e uma ideias, Que parecem realidade. Ideias e nada mais Mas, no final acordei, Por isso, olho para trás e digo: E reparei que tudo o que acontecera Ideias que depois de sonhadas, Ontem sonhei, Não passam de um jardim sem floSonhei com fontes e jardins. Não passara de um sonho, res, Um sonho tão sonhado, Uma fonte sem água. Que parecia realidade. Rui Fonseca, 12º C
OLHARES
(Fotos de Joana Formiga, 12º C)
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Confluências DISCRIMINAÇÃO A escola é o local onde deveríamos ser educados civicamente, e isso prevalece perante as datas das Guerras Mundiais, o cálculo de dívidas ou a interpretação de mapas. A ignorância traz estranheza e desconforto perante aquilo que desconhecemos; uma criança que ponha de parte ou até ofenda outra por ela ser “diferente” não tem responsabilidade dos seus atos, mas sim a escola. Estamos num país multicultural que ensina a matéria da época que determinou a minha presença neste país: morte, exploração e violação sabe-se lá de quantas pessoas, sem realismo e, sinceramente, sem respeito por todas as pessoas provenientes de países africanos. Na escola, são encontradas culturas e etnias diferentes com as quais muitas crianças não estão frequentemente em contacto. Usar justificações como “educação é em casa, aprender é na escola” apenas faz isto agravar-se e tornar-se algo muito pior e mais grave: discriminação, preconceito, racismo. Eu gostaria de saber o porquê de até agora a escravatura não ter merecido um capítulo num livro de história, e mesmo neste ano – finalmente merecedor de ter um capítulo –, porque é que é tratado isoladamente dos “Descobrimentos”, como se fossem duas histórias diferentes, porque é que a escravatura não é suficientemente respeitada para ser contada e estudada na sua crua e nua realidade, porque é que somos constantemente bombardeados com datas de quando Colombo chegou à América, intitulando-se de descobridor de um país habitado, mas nunca, por exemplo, com a data do primeiro mercado de escravos na Europa ou da primeira navegação com seres humanos que eram impiedosamente para aqui trazidos em condições desumanas, em que muitos chegavam a morrer antes de chegar ao destino? Porquê, porquê, porquê? Esta história não é suficientemente bonita? Porque é que os livros de história se resumem a coisas ilustres que Portugal fez, coisas que os outros lhe fizeram, mas nunca realisticamente a coisas que Portugal fez aos outros? Algumas pessoas eram postas em zoos e expostas como animais, e isso apenas acabou em 1958; a evolução científica do renascimento também serviu para fazer estudos com o intuito de diminuir os africanos, mas na realidade eram justificações “científicas” para os escravizar; Colombo levou acorrentados indígenas para mostrar ao rei,
como se fosse mercadoria, isto depois de fazer um massacre na América; o Infante D. Henrique foi dos pioneiros no tráfico de escravos, e isto sem falar em todas as consequências que ainda hoje são sentidas na pele por muitas e muitos. E tudo começou por aí. Uma metade do mundo está a morrer, aquela metade do mundo que europeus e norte-americanos insistem em chamar de “terceiro mundo”, porém a realidade é que essa parte do mundo está a morrer por causa da Ocidental, e ninguém genuinamente se preocupa – enquanto um grande atentado acontece na Somália, a SIC e a TVI transmitem futebol, mas se isto acontecesse na Europa seria assunto televisivo por largos dias. Ser preto nos EUA já é motivo para ser morto; tirar o telemóvel do bolso é como se tirasse uma arma, porque ser preto é ser bandido. Há pessoas que acham que discriminação é, por exemplo, bater em alguém por ser preto, quando o simples tratamento diferenciado por causa do tom de pele já o é. “Ah! É preto, é melhor andar mais rápido, ainda me assalta!”… isto é discriminação, como é discriminação todas as vezes que se pensa numa pessoa de forma diferente, ou se fala ou olha para ela de forma diversa devido ao seu tom de pele... Estas ideias ‘impostas’ na nossa cabeça são fruto da discriminação institucionalizada, que apesar de estar escondida continua bem presente em Portugal. Esta discriminação é-nos transmitida desde pequenos através da televisão, de pequenas coisas do quotidiano… E isto acaba por não ser culpa nossa, mas a verdade é que quando temos consciência dela e não fazemos nada quanto a isso, a responsabilidade passa, então, a ser também nossa. Estamos num país multicultural que só educa as pessoas para inclusão quando estas já têm as ideias formadas, fazendo dele um sistema injusto para todos aqueles que são “diferentes”. Nem uma só alma viva tem responsabilidade pelo colonialismo e pela escravatura, mas, vivendo em sociedade, todos nós temos o dever e a obrigação de defender, de um modo universal, a integridade de todos. Quando assim não é, a responsabilidade é NOSSA. Ver e ignorar, é ser cúmplice! Fatumata Djabula, 11º I (Foto canto sup. esq.)
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Confluências ESC. SEC. DE CAMÕES — UM CONTRIBUTO O Conselho Nacional de Educação acabou de lançar o Estado da Educação 2018, onde, como se diz na introdução, “procura dar conta de alguns contributos para a construção de um futuro desejado.” Um dos contributos, “Uma escola que imagina e faz imaginar”, é precisamente da Escola Secundária de Camões (da autoria dos professores Ana do Canto, Ângela Lopes, Cristina Duarte, João Jaime Pires e José Manuel Esteves). “No dobar e dobrar de cento e dez anos de existência, com uma longa história que, por vezes, se mistura com grandes acontecimentos da história do país, a Escola Secundária de Camões tem vindo a construir, na última década, uma ideia de futuro e de escola que, sem renegar o passado e socorrendo-se das suas heranças, pretende rasgar novos horizontes capazes de alicerçar uma escola aberta, viva, ativa e em recriação de uma identidade própria, feita nas e das complexidades que habitam a realidade atual, uma escola que seja um pulmão capaz de respirar os
desafios dos tempos atuais, equacionando-os numa perspetiva de futuro. (…) O Camões e a sua comunidade entenderam que, sendo uma escola secundária que recebe alunos das mais diferentes proveniências e, de alguns anos a esta parte, países e culturas, haveria que ter uma visão e uma prática abertas às novas realidades sociais e culturais, nas suas diversas dimensões, num espírito democrático e de liberdade que deve fundamentar todo o ser humano, no seu aprender, no seu saber e no seu viver. (…) A Escola Secundária de Camões tem sido, e pretende continuar a ser, uma escola onde pessoas encontrem formas diferentes e livres de serem obreiras do seu próprio futuro e considera que uma sociedade só de conhecimentos sem cultura é, definitivamente, uma sociedade que compromete o seu futuro e, por inerência, o de todos nós. Nesse sentido, pretende ser uma escola que imagina e faz imaginar...” No final do artigo, podem ler-se vários testemunhos de ex-alunos (2009-2019). Estado da Educação 2018, pp326-334 Conselho Nacional de Educação (CNE), 2019
UM ENCONTRO AMISTOSO COM FERNANDO PESSOA No Chiado, tentando convencer o Poeta a partilhar o momento.
Alunos do 12º A Cada momento que a um prazer não voto Perco, nem curo se o prazer me é dado; Porque o sonho de um gozo No gozo não é sonho. F. P. / Ricardo Reis
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Confluências ANTÍGONA, UMA REPRESENTAÇÃO No dia 2 de outubro de 2019, as turmas de Latim do 10º J e do 11ºJ, acompanhadas pelo professor Mário Martins, viram Antígona, de Sófocles, no Teatro Nacional D. Maria II, numa tradução de Marta Várzeas e encenação a cargo de Mónica Garnel. A ação é uma tragédia clássica grega, mas com uma encenação contemporânea. Através dos movimentos e da expressão dos atores, Mónica Garnel consegue contar uma história, de mais de 2.400
anos e com personagens arquétipas, de uma forma muito atual e de fácil compreensão para o público. O elenco é extremamente talentoso, dele se destacando os atores Manuel Coelho (no papel de Creonte) e João Grosso (no papel de Tirésias), e ainda o street dancer Maurice (elemento do Coro). Foi um final de dia muito ‘cultural’ e emocionante! Matilde Lopes, 10º J
ENTRE A CIÊNCIA E A ARTE Iraniana, Sana Hashemi nasl fez a sua formação académica em Teerão, no domínio da ciência (em Biologia e em Fisiologia), tendo aí iniciado uma carreira como investigadora em Endocrinologia e Metabolismo, ao mesmo tempo que ia ‘progredindo’ na sua paixão pela arte (cerâmica). Entretanto, veio para Portugal em 2012 e retomou em Lisboa, na Faculdade de Belas-Artes, os seus estudos em escultura, tendo em pouco tempo apresentado a sua dissertação de Mestrado, potenciando nesta área todo o seu conhecimento científico antes adquirido. Com um pequeno estúdio aberto em Lisboa, Sana investe a sua vocação em up-cycled art. Pelo meio, vai melhorando no Camões a sua competência em português. [Sana é aluna da professora Madalena Contente]
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Confluências CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO ambientais,
como
os
MAIS UM SEMINÁRIO trataram e os comuniCOASTWATCH caram à população em 30 ANOS A OLHAR geral. PELO LITORAL Na segunda parte dos Pensar e atuar pela sustentabilidade ambiental No dia 14 de novembro de 2019, no período da manhã, decorreu no Auditório da Escola Secundária Rainha Dona Leonor o seminário 30 anos a olhar pelo Litoral, que contou com a presença de especialistas do IPMA e do GEOTA, bem como com alunos e docentes da Escola Secundária de Camões e Agrupamento de Escolas Rainha Dona Leonor, bem como de um professor do Instituto Espanhol de Lisboa. Após as boas vindas da Senhora Diretora do Agrupamento de Escolas Rainha D. Leonor, a investigadora e bióloga Cátia Bartilotti (Instituto do Mar e da Atmosfera) apresentou o Programa GelAvista, partilhando, desta forma, conhecimento científico sobre as medusas (alforrecas) que surgem na costa de Portugal (continente e ilhas), tendo pedido aos presentes que, sendo também um projeto com uma vertente de ciência cidadã, participassem na monitorização do IPMA, enviando os seus avistamentos de organismos gelatinosos (medusas) nas praias para o email: plâncton@ipma.pt Seguidamente, os alunos João Devesa e Duarte Alexandre, da Turma do 2ºN, comunicadores no seminário, partilharam os resultados da ‘Campanha Coastwatch 2018/19’ desenvolvida na Lagoa de Óbidos, em que esta Turma e outras da Escola Secundária de Camões participaram, no âmbito da Área Curricular de Cidadania e Desenvolvimento. Passaram em revista as atividades que realizaram – por exemplo, como recolheram os dados
trabalhos, Hélder Carreto, um dos elementos do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), depois de ter apelado ao voluntariado nesta Associação nacional de defesa do ambiente, sem fins lucrativos, e de ter enumerado os vários projetos nela desenvolvidos, referiuse, mais em pormenor, à metodologia do Projeto Coastwatch (um projeto europeu de educação ambiental e para a sustentabilidade), exemplificando cada etapa do projeto. Após cada intervenção, houve lugar a debate e a perguntas da assistência, que foi moderado, de forma muito responsável, pelo aluno Nuno Cunha (Turma do 2º N). O encerramento decorreu com a participação de dois alunos da Escola Secundária Rainha Dona Leonor, que na ocasião leram poemas de Sofia de Mello Breyner Andresen alusivos ao tema do Mar. Fernando Riviero, Professor do Instituto Espanhol de Lisboa, também participou no encerramento dos trabalhos, apelando à participação ativa dos jovens nas atividades do projeto. [Participaram neste evento as Turmas: 1º N, 2º N e 2º M]
Duarte, João e Nuno, 2º N
UNESCO aprova Dia Mundial da Língua Portuguesa O Dia Mundial da Língua Portuguesa vai ser comemorado anualmente a 5 de maio, como já acontece na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e António Sampaio da Nóvoa aponta o "momento muito importante" para a língua de Camões. “É a primeira vez que a UNESCO toma uma decisão destas em relação a uma língua que não é uma das línguas oficiais da UNESCO. Por unanimidade, as pessoas reverem-se na ideia de que é importante um dia mundial da língua portuguesa é muito importante”, afirmou António Sampaio da Nóvoa em declarações à agência Lusa.
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Confluências CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO Entrevista a Carla Sofia Pacheco Carla Sofia Pacheco
Professora do Grupo de docência 520 (Biologia e Geologia) Coordenadora Nacional do Projeto Coastwatch Europe
O Projeto tem duas Coordenadoras Nacionais, a Profes- Quais as regiões do litoral com mais participantes? sora Carla Pacheco é uma delas, quais as suas atividaNa última Campanha Coastwatch (2018-2019), as regiões do des relacionadas com o projeto? litoral mais participadas por ordem decrescente foram: AlgarRealizo um conjunto de atividades que passam pela dinamiza- ve, a zona do Pinhal Litoral e a zona Oeste. ção das Campanhas Coastwatch anuais. Este ano o projeto Quais foram as motivações que levaram o GEOTA a Coastwatch comemora 30 anos e o GEOTA lançou a 30ª Camimplementar o Projeto CoastWatch há 30 anos? panha Coastwatch sob o lema 30 Anos a Olhar pelo Litoral. Já iniciei as atividades de divulgação da campanha em escolas e O Coastwatch foi inicialmente desenvolvido na Irlanda por uma equipa, liderada por Karin Dubsky do Triniti College de em eventos socioambientais. Dinamizo ações de formação/informação Coastwatch para Dublin, no final dos anos 80 do século XX. Surgiu como projeto docentes, técnicos e público em geral no país. Algumas destas de monitorização científica das condições ambientais do litoral, ações de formação, como por exemplo o ‘Seminário Nacional mas rapidamente foram evidenciadas valências pedagógicas e Coastwatch’, estão acreditadas como formação contínua de de sensibilização ambiental do público. Desde então, tem-se assumido como um projeto de ciência cidadã. Na altura, uma professores. Entre outras tarefas, acompanho saídas de campo com alunos associada do GEOTA, a Dra. Margarida Marcelino, que tomou das escolas participantes e com outros grupos de pessoas, pro- contacto com este projeto, verificou a sua pertinência e utilidaduzo materiais de apoio (questionários, fichas informativas, de, como projeto de educação ambiental e ciência cidadã. Desta formulários de introdução de dados necessários à monitoriza- forma, passou a ser coordenado pelo GEOTA, que o tem desenção coastwatch), promovo o ‘Projeto Coastwatch’ nas redes volvido a nível nacional há 30 anos. sociais e participo na organização de eventos, como seja o Semi- Os dados recolhidos através do questionário têm servinário Nacional anual para divulgação dos resultados nacionais do para que iniciativas? do projeto. Os dados recolhidos, depois de tratados, têm valor científico. Quais os apoios públicos e privados de que o projeto Têm sido usados em trabalhos de investigação, como: teses de beneficia? licenciatura, mestrado e outras. Ao nível europeu chegaram a O projeto é apoiado pelo Ministério da Educação, Ministério constar dos relatórios sobre o estado do ambiente litoral. do Ambiente e Transição Energética. O Ministério da Educação Quais são os principais problemas do litoral identificaapoia mediante o destacamento de um professor para o acomdos pela leitura dos dados recolhidos através do Quespanhamento do projeto. Ainda, contamos com o Alto Patrocínio tionário CoastWatch? do Presidente da República, subsídios de Câmaras Municipais e outras entidades públicas. A RTP, em tempo de antena, apoia Os principais problemas identificados pela leitura dos dados recolhidos, através do Questionário CoastWatch, tem sido a com a divulgação do vídeo promocional Coastwatch. Os apoios privados ao projeto são os Fundos próprios do GEO- poluição através de resíduos e/ou contaminações, a erosão cosTA, receitas com a inscrição dos participantes no seminário teira e a enorme pressão sobre os ecossistemas costeiros, com consequente perda de biodiversidade. Os participantes nas nacional e patrocínios de empresas. últimas campanhas registaram um aumento de espécies invaComo é reconhecido o projeto CoastWatch pelo Ministé- soras ou exóticas no litoral. rio da Educação? Em 30 anos de CoastWatch, o que mudou no litoral? O Projeto é reconhecido como uma referência em educação ambiental e para a cidadania, encontrando-se referido em Nos últimos 30 anos, a costa portuguesa sofreu uma acentuadocumentos curriculares. Anualmente o ME concede o destaca- da erosão, com perda de costa e grandes recuos dos areais das mento de um professor para a dinamização do projeto, pela praias. A intervenção humana também contribui para a situação. Para além de acelerar a fragilização de arribas e do cordão entidade promotora – o GEOTA. dunar, o homem também tem impedido a normal circulação de Todos podem participar no projeto (pessoas individuais, sedimentos. Para mitigar estas situações foram realizadas e Escolas, Associações) e como evoluiu a participação? continuar-se-ão a realizar obras de intervenção na faixa litoral. Todas as pessoas podem participar no ‘Projeto Coastwatch’, é Destaca-se também o aumento de ocupação no litoral gratuito e a monitorização ambiental coastwatch pode ser rea- com elevadas pressões urbanísticas. lizada em Portugal Continental e Regiões Autónomas da Contudo, as figuras jurídicas de proteção do litoral e em muitos concelhos a atitudes e os investimentos sobre a requalificaMadeira e Açores. Nas últimas campanhas participaram cerca de 3500 pessoas, ção da faixa litoral (mesmo que tenha por vezes implicado algumaioritariamente a comunidade educativa, mas também parti- ma artificialização) tem evoluído de forma relativamente posiciparam ONGs, pessoas particulares, famílias, empresas, asso- tiva. (A entrevista foi concedida na forma escrita.) ciações, Corpo Nacional de Escutas e outras entidades. O guião de entrevista foi elaborado a partir de questões surgidas em atividade de brainstorming (chuva de ideias) realizada no 10ºN. A entrevista é uma das atividades do seu ‘projeto de cidadania e desenvolvimento’, Coastwatch.
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Confluências CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO Afonso Ferreira
A minha participação no ‘Projeto Coastwatch Portugal’ O ‘Projeto CoastWatch’ (PCW) é dinamizado em Portugal, desde 1989, pelo GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente. É o projeto de educação ambiental e de ciência cidadã mais antigo, em Portugal, visando o desenvolvimento de competências de cidadania socioambiental participativa para as zonas costeiras. O PCW teve a sua origem na Irlanda, precisamente no mesmo ano que se iniciou no nosso país, estendendo-se progressivamente a outros países ribeirinhos europeus. Chegou a alguns Estados brasileiros, em 2007, através de parceria entre o GEOTA e ONGs brasileiras – CoastWatch Expressão Lusófona. As atividades iniciam-se com uma saída de campo a um setor do litoral, para inquirição direta no local, registando-se os dados ambientais observados (quantitativos e qualitativos) no questionário tipo CoastWatch. O questionário foi construído numa perspetiva interdisciplinar e contempla várias categorias para registo: seres vivos, entradas de água no meio líquido (condutas de águas residuais, escorrência, embocaduras de linhas de água e outras), resíduos e poluição, tipo de costa, riscos e ameaças nas zonas costeiras, natureza do substrato rochoso, entre outros elementos. O Coordenador Nacional (GEOTA) apoia o desenvolvimento das atividades com os materiais necessários para as saídas de campo, nomeadamente com um Kit para determinação do pH e dos nitratos presentes nas entradas liquidas no meio marinho (ribeiras, águas residuais). Participo no Projeto CoastWatch desde o 10º ano, quando a minha Turma realizou as atividades do projeto. Tenho vindo a participar com comunicações no Seminário Nacional Coastwatch e, em maio de 2019, apresentei também a comunicação Conceções de Jovens sobre as Praias no Seminário Educação e desafios do futuro: ambiente e desenvolvimento sustentável (Conselho Nacional de Educação) [Foto junto]. Considero muito motivante a participação no ‘Projeto CoastWatch’, uma vez que, através da experiência, aprendem-se conceitos específicos Afonso Ferreira (à esqª) de várias disciplinas, por exemplo no âmbito da geologia, biologia e ordenamento do território, contribuindo, igualmente, para a minha formação enquanto cidadão. De um modo geral, este Projeto ajuda os alunos a desenvolverem uma maior consciência ambiental e a terem, futuramente, um papel mais “verde” na sociedade. A participação neste Projeto, como acontece em qualquer outra atividade, exige algum trabalho, mas recompensa ver o produto final.
SENA & SOPHIA, UM DIÁLOGO Dia 21 de novembro, no Auditório, em celebração do centenário dos seus nascimentos, uma ‘conversa imaginária’ (com excelente guião de Hélder Costa) entre dois vultos da Poesia, da Literatura e da Cultura portuguesas.
Deram-lhes voz os atores Maria do Céu Guerra e José Manuel Mendes, numa espécie de entrevista conduzida pelo diretor da Esc. Sec. de Camões, João Jaime Pires.
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Confluências HISTÓRIA DE UMA EXPOSIÇÃO À Isabel de Sena, com gratidão
Ao longo do ano de 2019, a Escola Secundária de Camões comemorou o centenário do nascimento de Jorge de Sena com um ciclo de iniciativas cujo objetivo consistia em dar visibilidade à obra dessa figura ímpar da literatura e da cultura portuguesas. Nesse âmbito, o clube Ler para Viver, em estreita colaboração com a direção da escola, apresentou ao Departamento de Estudos Portugueses o projeto Sena em Cena, em que se previa a leitura, em aula, de dois contos de Jorge de Sena, «Homenagem ao Papagaio Verde» e «Super Flumina Babylonis» ou de outras obras do autor. Associada a essa leitura, foi sugerida a escrita de uma apreciação crítica, de um breve comentário ou de um texto criativo inspirado na obra analisada. Aderiram de imediato a esta iniciativa os professores Ana Enes, António Souto, Manuel Gomes, Margarida Azedo, Paula Lopes e Paula Mota. O trabalho que desenvolveram com os alunos tornou o projeto delineado exequível, juntando-se a estes alunos os que pertenciam às turmas das professoras que integram esta equipa (Alice Xavier e Cristina Duarte). Os textos expostos mostram o vibrante entusiasmo que as obras despertaram nesses jovens leitores e é justo referir que outros textos, de igual mérito, poderiam integrar a exposição. Na impossibilidade de tal acontecer, por razões de ordem logística, foi feita uma seleção pela equipa do clu-
be de leitura, que procedeu ao planeamento, à execução e à montagem da exposição, assim como à formatação e à revisão final dos textos, de acordo com critérios de edição previamente fixados. Será, em breve, publicada uma antologia dos textos em suporte digital, porque uma das missões da escola é divulgar os exemplos de boas práticas pedagógicas que nela se concretizam, antologia que será organizada pela professora Teresa Saborida, a quem expressamos o nosso agradecimento. Como o prazer da leitura se pode expressar de outros modos que não o da escrita, os alunos da Oficina dirigida pela professora Ana do Canto realizaram experiências visuais em torno de poemas de Jorge de Sena, que podem ser apreciadas no móvel colocado junto à porta da biblioteca. Esta exposição não teria sido possível sem o trabalho de impressão de imagens e textos que esteve a cargo das incansáveis Dora Peninha (SPGL) e Maria Lourenço (reprografia). As atividades realizadas no âmbito de Sena em Cena constam do projeto Movimento 14/20 A LER financiado pelo Plano Nacional de Leitura. Por último, é imperioso dizer que esta exposição muito deve ao professor João Jaime, diretor da nossa escola, por ter sido constante no apoio, caloroso no incentivo e entusiasta do início até ao fim do nosso projeto. Alice Xavier / Cristina Duarte / Emília Paco / Lino das Neves / Madalena Contente / Mário Rita
Isabel de Sena (filha do Escritor)
António Carlos Cortez, Cristina Duarte e Nuno Júdice Fotos de Mário Martins
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Confluências UMA HISTÓRIA “DEIXAMOS DE BRINCAR PORQUE ENVELHECEMOS? NÃO! ENVELHECEMOS PORQUE DEIXAMOS DE BRINCAR.” Liceu Camões, no pátio o aluno Júlio Isidro posa com casaco e gravata, obrigatórios na época. Um contínuo acocorado, parece o emplastro para também ficar na história. Era simpático e o termo contínuo foi felizmente descontinuado pela democracia. Na foto, está o primeiro modelo que desenhei na pequena secretária do meu quarto, em papel de cenário. Era um trainer de acrobacia. Como o orçamento era quase nulo, a fuselagem foi feita com uma tábua de um caixote de fruta muito bem lixada. Forrado a papel modelspan e pintado com esmalte a pincel. O motor era e é um Webra 2.5cc diesel, alemão que me custou duzentos e cinquenta escudos, agora um euro e vinte e cinco cêntimos. Para arranjar esta verba estive um ano a escrever à máquina, relatórios de acidentes de automóveis a vinte e cinco tostões cada = 100 relatórios. Ainda hoje escrevo apenas com dois dedos e o teclado nacional HCESAR da Remington do meu pai já desapareceu. A máquina não, meu pai que cedo me ensinou a dar valor ao trabalho. Passaram 60 anos e decidi nestas férias, desenhar de memória aquele modelo. Assim fiz, melhorei alguns aspectos e só utilizei restos (madeira, cola, arames, rodas, depósito) que tinha em casa. Gorado tudo porque um dia pode ser preciso, e foi. Custo zero, só a minha mão de obra. O motor é o mesmo de há seis décadas, material alemão como se costumava dizer, um milhão de quilómetros. Está pronto, não sei qual a cor original, desconfio que era vermelho, mas as latas de restos de tinta na minha oficina só deram para a presente decoração. Era este o projecto, do velho fazer novo. Chamei-lhe Memories / 1959. Vai voar um dia destes porque o centro de gravidade está no ponto certo, o perfil da asa é sustentador e o plano de profundidade vai-lhe permitir muitos loopings. Porquê esta viagem de sessenta anos ao pátio do Camões? Porque o meu Liceu entrou em reconstrução, eu também... Amigos, voem até às vossas memórias e partilhem esta sensação que não é de saudade porque apenas a memória do coração. Dedico também esta história a todos os alunos do Liceu Camões, quer se tenham ou não abrigado à sombra dos plátanos dos pátios. Júlio Isidro (Ex-camoniano) [Com a devida vénia. FB, 02/09/2019]
HALLOWEEN, COM EMENTA PRÓPRIA
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Confluências EM ANIVERSÁRIO DO EDIFÍCIO CAMÕES
E enquanto isto, as obras avançam...
Estas duas fotos são da autoria de José Alvega
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Confluências EM ANIVERSÁRIO DO EDIFÍCIO CAMÕES O SECRETÁRIO-GERAL DA ONU MENSAGEM POR OCASIÃO DO
110º ANIVERSÁRIO DA ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES Lisboa, 16 de outubro 2019 É com muito gosto que me dirijo avós, unindo-me com júbilo às comemorações do 110º aniversário da Escola Secundária de Camões em Lisboa. São muitas e saudosas as recordações que tenho do meu tempo de estudante neste liceu. Sinto-me privilegiado por ter feito parte de tão distinta instituição que, entre outras lições, me ensinou a importância do rigor, da dedicação aos estudos e da partilha dos talentos. Sabemos que a educação é um direito humano que tem um papel fundamental para a construção da paz e para o desenvolvimento sustentável das sociedades. Sabemos ainda que, lamentavelmente, este direito não é uma realidade para todos. Por esta razão, o acesso universal à educação de qualidade é uma das minhas prioridades como secretário-geral das Nações Unidas, sendo também um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Vivemos hoje uma crise na educação a nível mundial. É frequente que os jovens não adquiram os conhecimentos de que precisam para navegar nos mares da revolução digital. Para os dias de hoje e para o futuro, é preciso que os estudantes não apenas aprendam, é também necessário aprender a aprender. Uma educação de qualidade deve combinar conhecimento com desenvolvimento de competências e pensamento crítico. Deve também informar sobre sustentabilidade e emergência climática, e promover a igualdade de género, os direitos humanos e uma cultura de paz. De facto, a educação é uma das ferramentas mais poderosas que temos para realizar todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e construir o futuro que queremos, com sociedades inclusivas, prósperas e pacíficas num planeta saudável. Nesta trajetória, conto com a vossa participação e o vosso apoio. Nesse espírito de parceria, desejo-vos uma excelente celebração. Obrigado.
Engº António Guterres (ex-camoniano)
os meus silêncios, fui capaz de recordar alguns dos melhores anos da minha vida quando deambulei por memórias que me emocionam, mas que transformei em humor O meu Liceu (agora chae gargalhadas de antigos e atuais alunos, mam-lhe Escola Secundáprofessores, pessoal auxiliar e, até, de um ria) fez hoje 110 anos. Quando lá entrei para o curso liceal, ainda secretário de Estado que entrevistei há anos quando ele era escuteiro. não tinha cinquenta. O Liceu Camões há anos que apodrecia O Júlio, o 27 do 1º E, sou eu, exatamente na mesma, a lembrar-me de cada passo que nas paredes de azulejos a cair, nas janelas e soalhos de madeiras comidas pelo caruncho, ali dei, os degraus que subi para entrar na nas telhas partidas de tanto sol e chuva. aula, as corridas que não dei naquele pátio Sobreviviam os plátanos cujas raízes ajuonde era proibido correr(?!), a gravata obrigatória (?!) que me apertava a garganta e a davam a minar os alicerces desta obra nascida em 1909 e considerada património liberdade de expressão, o ginásio onde fiz nacional. saltos mortais, felizmente só no nome, a A luta pela reabilitação do edifício foi um farda da Mocidade, os aviões que ainda voo, ato de persistência convicta. o orfeão onde cantei sob a batuta do padre Estivemos todos juntos mais de dez anos Ávila, o refeitório onde só comi uma vez porque não havia verbas para fantasias (se em torno do atual diretor (se fosse no meu tempo, reitor) João Jaime Pires, um daquepodes vir comer a casa, mesmo que chova, les docentes que quer o melhor para o futuvens), os professores que me ensinaram bem, mesmo que num clima de austeridade, ro dos jovens. Jovens camonianos que um dia tiveram autoridade/autoritarismo (se era assim o um futuro, por exemplo: Mário de Sá Carregime, o liceu só tinha que ser igual) e sobretudo os colegas, os amigos que o tempo neiro, Aquilino Ribeiro, Vergílio Ferreira, Fernando Namora, José Gomes Ferreira, afastou e que, dia a dia, ano a ano, a inevitável foice vai separando (por enquanto...), e Eduardo Prado Coelho, Mário Dionísio, António, Nuno e João Lobo Antunes, Antóaqueles plátanos que eu olhava pela janela nio Guterres, Luís Miguel Cintra, Jorge da aula e me diziam das estações do ano. Silva Melo, Nicolau Breyner, Rui Mendes, Hoje, sem as nostalgias que guardo para
CAMÕES SEMPRE
António Montez, Francisco Nicholson, Jorge Palma, Moniz Pereira, o meu pai e o Júlio, o 27 do 1º E. E os meus contemporâneos que o Artur Luís Antunes, presidente da Associação dos Antigos Alunos, vai reunindo para abraços, sorrisos, por vezes de olhos molhados, e um almoço para alegrar o estômago e as almas. O Nuno Júdice que falou de Sophia de Mello Breyner e de Jorge de Sena, o José Nuno Martins, o Manuel Morais Leunam Siarom, o João David Nunes, o Rui Horta, o Adelino Gomes, a Maria Teresa Silva, o Basílio Horta, o Miguel Louro, o Nunes dos Santos, o Brederote, o José Ribeiro, o Hélder Santos, a Esbela da Fonseca Miyake e ainda tantos outros sobreviventes de um tempo nunca perdido. Foi bonita a festa desta tarde em que falei na qualidade de ex-aluno. Em frente da sempre professora Élia Pereira de Almeida, brilhante nos seus 96 anos, de literatura e latim – confesso que me senti sempre o aluno. Amigos: Quem cedo e bem aprende, quase nunca esquece, William Shakespeare dixit. Daqui a dois anos, quero estar na festa do velho e já renovado Liceu Camões.
Júlio Isidro (ex-camoniano)
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Confluências ELEIÇÕES — NOVOS MANDATOS DISCENTES ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES “Tiago
Alves, que encabeçou a Lista I, é o novo Presidente da Associação de Estudantes da Escola Secundária de Camões. “Aos 19 anos, já passou por Economia e Humanidades até voltar àquilo do qual nunca devia ter fugido: a sua paixão pelas artes. Pinta, faz teatro e no futuro quer seguir design de moda ou arquitetura. “Sabe que assumiu o cargo num ano especialmente difícil. “Dois terços da escola estão fechados para obras e sabemos que será assim por pelo menos dois anos”, salienta. Ainda assim, quer aproveitar o pouco espaço circulável para promover a atividade física, com a criação de equipas de futsal e de basquetebol femininos e ainda de uma mascote que represente o liceu nos jogos com outras escolas.” https://magg.pt/2019/11/28/estes-sao-os-miudos-que-lideram-as-associacoes-de-estudantes/
Neste ano letivo de 2019/2020, realizadas as eleições para a Associação de Estudantes – depois de dias de campanha e debates (com as quatro listas concorrentes, e sempre de forma solidária e em ambiente de salutar confraternidade) – saiu vitoriosa a Lista I. Encontramo-nos, enquanto grupo de jovens que decidiu participar nesta lista, num misto de orgulho e de grande sentido de responsabilidade. Sabíamos desde o início que, se viéssemos a ganhar, todo o trabalho a que nos tínhamos dedicado seria apenas o começo, e isso não mudou. Não propusemos nada que não fôssemos capazes de cumprir, apenas com o intuito de sairmos vitoriosos; se assim fosse, não seria uma verdadeira vitória.
Semana após semana, período após período, iremos cumprir tudo quanto nos propusemos fazer por esta ‘nossa’ escola. Dito isto, agradecemos o vosso voto de confiança, e faremos tudo para vos não desiludir. Por favor, sintam-se livres de nos contactar: através da nossa página de Instagram @aelista_i_camoes ou, pessoalmente, batendo à porta da sala da Associação,( junto aos matraquilhos). Somos ‘gente de confiança’, embora falíveis, como todos. Agradecemos todos os pedidos e ideias que tenham fazer ou para partilhar connosco. Até mesmo queixas. Obrigado por não terem sido indiferentes, obrigado por terem sido ‘inteligentes’, obrigado por terem votado LISTA I.
CONSELHO GERAL Foram eleitos, para este órgão de escola, como representantes efetivos dos alunos dos cursos diurnos: JOÃO SIMÕES e CAROLINA PIRES, ambos do 12º H (foto). [Suplentes: João Esperança, 11º A, e Constança Carvalheira, 11º E]. Como representante efetivo dos cursos noturnos: MARIA CRISTINA CARDOSO, EFA A, 2019. [Suplente: Telma Campos, EFA A, 2019].
Paulo Silva, 12º I
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Confluências EM FINAL DE ANO LETIVO 2018-2019...
TORNEIO
SARAU
[Fotos de Manuel Brito, ex-camoniano]
E EM INÍCIO DE ANO LETIVO 2019-2020 VISITA GUIADA POR LUGARES LISBONENSES DE TERTÚLIA E BOÉMIA
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Confluências VISITA DE ESTUDO A LONDRES Maio 2019. No âmbito da disciplina de inglês, e em estreita articulação com a disciplina de história, a turma H do 10º ano realizou uma deslocação à capital inglesa. Uma oportunidade para, reforçando a sua competência linguística, os alunos descobrirem uma outra realidade cultural, visitando museus e espaços públicos, incluindo património histórico monumental. Uma visita deveras enriquecedora! (Com organização a cargo das professoras Alexandra Belo e Paula Loureiro – e com a prestimosa colaboração da professora Mónica Oliveira, da disciplina de matemática A.)
APRESENTAÇÃO DE ANTOLOGIA 17 de outubro
O Milagre do Entardecer (António Souto)
Antologia poética apresentada por Luísa Mellid-Franco (crítica literária). A sessão, que decorreu ao fim da tarde na Sala da Biblioteca, contou com a presença do editor (e escritor, António Manuel Venda) e com a graciosa intervenção das alunas Mariana Metelo (na leitura de alguns poemas), Filipa Machado e Madalena Xavier (com apontamentos musicais ao piano e à flauta, respetivamente), as três da Turma L do 12º ano. quem pudera Um dia algo acontece por instantes abandonamos a cidade como quem vai dar uma volta pela vida e assim nos estafamos tudo já tão de apartado não nos revemos nas pequenas coisas nos gastos sinais da infância uma figueira um tanque um beiral uma casa um arranhão sequer as ruelas são agora mais estreitas e as paredes dissolvem-se com tinha e a noite abrindo-se mais noite e mais próxima quem pudera manter acesa a esperança ou cruzar o tempo com um amarelo intermitente mas nem isso A. Souto, in O Milagre do Entardecer, 2019
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Confluências DEPOIMENTO “Dona Celeste” – era assim que quase todos nós, camonianos de hoje e de ontem, carinhosamente, a nomeávamos. Para a cumprimentar – “Olá, dona Celeste, como está?” –, para lhe pedir que nos servisse uma sopa, uma sandes de qualquer coisa, ou apenas um café. E tudo isto nos sabia pela vida quando era servido pelas mãos de fada da Dona Celeste, que era capaz de transformar qualquer coisinha simples num manjar dos deuses. Ao longo destes anos a fio, em que esteve ao serviço da escola, destacou-se sempre pela simpatia (que bonito sorriso!), pela camaradagem e pelo profissionalismo. Não sabia dizer que não, mesmo quando lhe pediam para fazer tarefas que excediam as suas funções. A “Dona Celeste” foi e é claramente o exemplo perfeito do ditado popular: “velhos são os trapos”. Um grande obrigado por ser a pessoa que é, e que vai certamente continuar a ser agora na sua vida de aposentada. Longa e boa vida para a Dona Celeste! Prof. José Madureira [Nota: a D. Celeste, uma das funcionárias que mais anos ’serviu a Esc. Sec. de Camões, aposentou-se em junho passado]
HOMENAGEM Com os dedos ainda em chama Os amigos caem, um após outro, sem ombros que os amparem. Depois navegam deitados, com a neve nos cabelos, o rosto quebrado no olhar e as mãos numa câmara-escura a comporem novas cenas, uma a seguir à outra, onda a onda, num oceano de outras luas. Foram difíceis os mares que sulcaram, carregados de escritos, ampulhetas e perfis de aves, com cheiros a éter, etanol e formol, sobre vagas de indiferença, para atracarem na ferrugem dos horizontes desenhados. Um após outro, deixam-nos com os dedos ainda em chama dentro das mãos. Ficam-lhes apenas os sorrisos, que se esmaltaram com fogo de nova lava, encaminhando para outros sonhos as fórmulas que inventaram.
outono Tombam as folhas das encolhas do salgueiro no lameiro e um vago acento de vento silvando e arando no ar no abandono do sono sem tino outono
António Souto In O Milagre do Entardecer, On y va, 2019
Jorge Castanho, desenho e texto (6/11/2019)
Óbitos Infelizmente, e num espaço de tempo relativamente curto, deixaram-nos dois professores de Biologia que, de forma empenhada, viveram e sentiram a profissão, vestindo com brio a ‘camisola’ do Camões. A gratidão e o Abraço fraterno de toda a comunidade escolar. Prof. Eduardo Pinheiro Profª Carla Almeida
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt BE/CRE
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http://esccamoes.blogspot.com/
Profª. Maria Nazaré Campos (Ing) Prof. Manuel Beirão dos Reis (Filos.)
Felicidades! Página institucional da Escola Secundária de Camões https://liceucamoes.wixsite.com/camoes
A todos quantos colaboraram com a cedência de textos, fotos e cartazes para este Boletim, uma palavra de agradecimento.
Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal