Borboletim nr. 2

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BORBOLETIM Boletim Informativo Mensal

Abril 2021 - N.º2

Nesta edição:

COMPARANDO DUAS ESPÉCIES FAMÍLIA GEOMETRIDAE REGISTOS DO MÊS ESTAÇÕES EM DESTAQUE NOTÍCIA DO MÊS


Comparando duas espécies

Dysgonia algira vs torrida

Autor: Jorge Rosete Professor e lepidopterólogo amador, interessado pela ecologia e conservação dos invertebrados. Tem vindo a contribuir para a monitorização e inventariação dos lepidópteros de Portugal Continental.

Em Portugal Continental, o género Dysgonia, um dos mais restritos da família Erebidae, conta com duas espécies. Dysgonia algira é a espécie residente e está distribuída por todo o território. Pouco exigente na sua dieta e com um período de voo relativamente amplo (de abril a agosto) esta é uma das espécies estivais mais frequentes e também uma das mais reconhecíveis. Ora, na extremidade sul do território, particularmente ao longo da orla costeira algarvia, não é improvável que encontremos a sua análoga, a Dysgonia torrida. Esta migradora africana é uma visitante ocasional, conhecendo-se alguns registos dispersos e limitados a um período de voo bem mais restrito (de junho a setembro). No lençol, entre a imensidade de espécies que vêm à luz da lâmpada nas noites mais quentes, a sua ocorrência furtiva é porventura muito fácil de passar despercebida. Nesse sentido, fornecemos aqui alguns elementos que poderão facilitar a sua deteção.

Critérios de distinção:

Dysgonia algira

Dysgonia torrida

Envergadura

comparativamente menor.

comparativamente maior.

Faixa mediana da asa anterior

delimitada por uma linha interna irregular ou angulosa; tendencialmente mais estreita e acinzentada.

delimitada por uma linha interna uniforme; tendencialmente mais larga e clara.

Nota: A confirmação de uma espécie requer, por vezes, a confirmação por dissecação, quando os caracteres se sobrepõem ou são pouco claros.


A Família Geometridae

Autora: Paula Banza

O nome científico, Geometridae, vem do grego geo que significa terra e metron que significa medida e tem a ver com a forma como as lagartas se deslocam, como se estivessem a “medir a terra aos palmos”. É a segunda família mais numerosa e compreende mais de 21 mil espécies descritas, que se distribuem geograficamente por todo o mundo. Em Portugal, existem pelo menos 333 espécies. Os adultos, desta família, possuem um corpo esguio e leve que Dyscia distinctaria Foto: Ana Valadares favorece um voo de baixa energia. A envergadura das asas pode variar entre os 12 e os 120 mm. No entanto, nalgumas espécies, as fêmeas não possuem asas ou então estas são vestigiais. As asas superiores são largas e com formato triangular e as asas inferiores são quase tão largas como as primeiras. Normalmente, apresentam-se em posições bem características, como: a) as asas superiores ficam estendidas e planas em relação à superfície onde a borboleta está pousada;

Opisthograptis luteolata Estação do Parque Biológico de Gaia Responsável: Jorge Gomes

b) ou inclinadas formando um ângulo de 45º acima da horizontal;

Aspitates ochrearia Foto: Ana Valadares

c) verticalmente sobre a parte dorsal, posição muito semelhante à das borboletas diurnas.

Isturgia famula Foto: Ana Valadares

O corpo é estreito e esguio, mais parecido com o de uma borboleta diurna. Na maioria das espécies, as asas encontram-se abertas e conseguem-se ver bem as asas superiores (que geralmente têm forma triangular) e as asas inferiores. Distinguem-se facilmente das borboletas diurnas porque apresentam antenas pectinadas nos machos e filiformes nas fêmeas, mas nunca em forma de clava (como nas borboletas diurnas). Dyscia distinctaria Estação Ferrarias Responsável: Mário A. Roque

Cyclophora puppillaria Estação Carcavelos Responsável: Pedro Gomes


Registos

Autor: Helder Cardoso

Março O mês de Março caracterizou-se por ser quente e muito seco, registando um valor médio de temperatura média mensal de 12.57 °C, ligeiramente superior ao normal. O início do mês foi marcado por alguma instabilidade, onde foram registados aguaceiros acompanhados de trovoadas, em particular na região Sul (dias 4 a 7). Durante o período de amostragem (9 a 18), foi registado algum arrefecimento nocturno acentuado, em particular nas noites de 10 a 13, apresentando valores de temperatura mínima abaixo dos 5°C. O final do mês foi marcado por ventos do quadrante Leste e Sul que trouxeram nuvens de poeira vindas do Norte de África. As temperaturas mínimas e máximas subiram de forma generalizada a partir do dia 25 (fonte: IPMA). Foram analisados dados de 39 Estações, que realizaram sessões dentro do período protocolado de amostragem (9 a 18), resultando num total de 1.100 indivíduos amostrados, pertencentes a 137 espécies (macros). Foram também realizadas 77 sessões adicionais, submetidas por 17 Estações. Nestas sessões, foram registados 1.943 indivíduos, pertencentes a 173 espécies (macros). Combinando as sessões dentro do período de amostragem (Protocolo) com as sessões adicionais, foram registadas, durante o mês de Março, 215 espécies (macros), num total de 3.043 indivíduos.

As 10 espécies mais abundantes de 9 a 18 de Março Agrotis puta Eupithecia dodoneata/abbreviata Ochropleura leucogaster Agrotis catalaunensis Chrysodeixis chalcites Ochropleura plecta Mythimna sicula Caradrina clavipalpis Mythimna albipuncta Chemerina caliginearia 0

50

100

N.º de indivíduos

Para participar no projecto contacte o coordenador, Helder Cardoso: redeborboletas@gmail.com

150

200


Borboleta do mês de Março Agrotis puta

Autor: Pedro Pires

Nome Científico - Agrotis puta (Hüber, 1803) Família - Noctuidae Período de Voo - Fevereiro a Maio e de Agosto a Novembro Distribuição - Por todo Portugal Continental Planta-hospedeira - Polífaga Primeiro registo em Portugal - São Fiel, Beira Baixa, C. Mendes (Mendes, 1903) Espécies semelhantes - Agrotis catalaunensis (Millière, 1873) Link https://lepidopterapt.wixsite.com/lusobor boletas2/noctuidae-noctuinaeFoto: Ana Valadares

agrotini/Agrotis-puta

Novas Estações (inscritas em Março) Estação

Concelho

Responsável

Público

Monte da Virgem

Vila Nova de Gaia

Rui Ferreira

Não

Mata N. dos Sete Montes

Tomar

Filipa Coelho

Sim

Projeto Criana

Torres Vedras

Ana Santos

Sim

Anjos-Lisboa

Lisboa

Tatiana Moreira

Não

Guarda do Seis

Marinha Grande

Carlos Franquinho

Não

Portas Verdes

Marinha Grande

Carlos Franquinho

Não

Isabel Mateus

Lourinhã

Simão Mateus

Não

Dino Parque Lourinhã

Lourinhã

Simão Mateus

Não

Rego Travesso

Óbidos

Helder Cardoso

Não

Vale do Figueiredo

Bombarral

Helder Cardoso

Não

Oficina da Abelha

Tomar

Pedro Borges

Sim

Barracão

Leiria

André Lameirinas

Não

Parque das Serras do Porto Valongo

João Nunes

Não

AllgaBox - Patais

Maria Soares

Não

Alcobaça


Estações em destaque no mês de Março Estação Casal de Santa Joana O Aves da Batalha, um grupo criado em 2018, é formado por batalhenses que, de forma muito proactiva e apaixonada, têm vindo a conhecer, monitorizar e divulgar os valores naturais do concelho. Entre saídas de campo, actividades com escolas, sessões de recolha de lixo, várias têm sido as iniciativas realizadas ao longo dos três anos de existência. O início desta Rede de Estações de Borboletas Nocturnas veio no momento certo, uma vez que aborda um grupo de seres vivos ainda muito desconhecido para o grupo e para o concelho, sendo com enorme entusiasmo que entramos neste projecto. Adoptando o modelo de armadilha do tipo Skinner, o grupo criou a estação no Casal de Santa Joana na freguesia de Batalha. Encontra-se numa zona rural que reúne uma heterogeneidade de habitats, sendo de destacar as áreas agrícolas (olival e vinha) e de pousio, pequenas manchas de cercais e ainda uma encosta com matos baixos. De algumas espécies já registadas, destacamos a Selenia dentaria. Responsáveis: Frederico da Conceição e Samuel Conceição

Estação da Quinta de Marim A Vita Nativa, fundada em 2018, é uma associação que trabalha na área da conservação do ambiente. Tendo como ponto de partida o coração da Ria Formosa, mais concretamente a cidade de Olhão, desenvolve atualmente vários projetos, parcerias e atividades de acordo com a sua missão. A curiosidade pelas borboletas noturnas nasceu em finais de 2020, com a construção de uma armadilha do modelo tipo Skinner e uma amostragem semanal. Com o início da Rede de Estações de Borboletas nocturnas, oficializou-se a Estação da Quinta de Marim. Encontra-se inserida em pleno Parque Natural da Ria Formosa e está rodeada por uma enorme diversidade de habitats, entre os quais se destacam as áreas agrícolas, de sapal, de montado e de pinhal manso. Futuramente, pretende-se também realizar sessões abertas ao público. Leucania zeae

Responsáveis: João Tomás e Thijs Valkenburg


Nuvem de poeiras vinda do Norte de África

Autor: Helder Cardoso

Durante os dias 29 a 31 de Março, Portugal esteve sob a influência de um núcleo depressionário, reforçado por um vale em altitude que esteve centrado entre o arquipélago da Madeira e Gibraltar. Esta situação gerou um fluxo de vento moderado e persistente do quadrante Sul, trazendo uma massa de ar quente e seco para o território continental. Esta massa de ar foi também caracterizada por uma nuvem de poeiras oriunda do Norte de África, que se precipitou sobre Portugal Continental, com maior incidência na região sul. Estas condições climatéricas são muito favoráveis à movimentação de populações migradoras oriundas do Norte de África, nesse sentido, foi lançado o apelo às Estações para fazerem algumas sessões adicionais durante esta última semana de Março. Este movimento migratório é particularmente evidente, por exemplo, na espécie Hyles livornica, que pode emergir em números consideráveis e rumar a Norte. Durante o período de 29 a 31 de Março, oito Estações realizaram um total de 13 sessões adicionais de amostragem. A espécie Hyles livornica foi detectada em quatro Estações: Estação do Sargaço (Lagos) – 13 inds. Estação da Quinta de Marim (Olhão) – 1 ind. Estação dos Camarnais (Bombarral) – 1 ind. Estação Leiria com Pinta (Leiria) – 2 inds. Esta experiência, ainda que breve, vem consolidar a importância do projecto REBN para detectar os movimentos migratórios de algumas espécies. O esforço concertado, em rede, conseguiu detectar o influxo de Hyles livornica e a sua extensão desde o Algarve até, pelo menos, metade do território continental.

Foto: Ana Valadares

Edição e arranjo gráfico: Ana Valadares; Revisão científica: Eduardo Marabuto; Revisão de texto: Elisabete Cardoso; Foto de capa: Lacanobia oleracea (Helder Cardoso) Nota: O Borboletim pode conter textos redigidos ao abrigo do antigo ou do novo Acordo Ortográfico


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