Catálogo Festival CriaSons 2018/2019

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2018/2019


Ă?ndice


_ 04 A B E RTU R A D O FESTI VA L CRI A SO NS

_ 08 D I RE CTO R A RTÍ STI CO D O FESTI VA L _ B r i a n M a c K ay

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_ 22 P RO G RA M A DO I S _ A l e xa n d re D elgado

_30 P RO G RA M A T RÊS _ A m í l c a r Va sques-D ias

_42 P RO G RA M A Q UATRO _ Fe r n a n d o L a pa

_ 58 P RO G RA M A CI NCO _ C â n d i d o L i ma

_74 P RO G RA M A SEI S _ A l ej a n d ro Erlic h O liva

_88 AC ORD E F I N AL

_89 A P OI OS E PATRO CI N A D O RES

F E STIVAL CR I ASO NS | 2º E DI Ç ÃO | T ENDÊNCI A S DA MÚSI CA CO NTEMP O RÂ NEA

P RO G RA M A UM _ Eu r i c o C a r r a patoso


Abertura Festival Criasons

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F E STI VA L C R I A SO NS | 2º E DI Ç ÃO | T ENDÊNCI A S DA MÚS I CA CONT EMPORÂNEA


O festival CRIASONS 2018/19 é a segunda edição de um evento concebido e organizado por MUSICAMERA PRODUÇÕES que tem como objectivo promover e divulgar amplamente a música erudita, com particular incidência na criação contemporânea produzida em Portugal. Privilegiar essa matriz é a tomada de consciência de que, no mundo contemporâneo, a marca identitária de um povo, mormente na Europa, se define, antes de mais, pelas suas valências culturais, que prevalecem sobre as geográficas e económicas, abrindo caminho ao seu pleno desenvolvimento e diferenciação.

São necessários impulsos que operem a imperativa mudança de mentalidade – o nosso contributo contempla a promoção de novas obras musicais, o investimento sério dos artistas e a angariação da necessária alavancagem do Estado. Visando estes objectivos, o Festival CRIASONS assegura – com periodicidade bienal – a concretização do ciclo vital completo da obra musical: criação, difusão pública, gravação e edição.

Criação Nesta edição foram convidados seis prestigiados “compositores residentes” - Eurico Carrapatoso, Alexandre Delgado, Amílcar Vasques Dias, Fernando Lapa, Cândido Lima e Alejandro Erlich Oliva. A eles competiu a construção dos seis programas deste Festival, que contêm obras suas – muitas delas em estreia absoluta –, obras de outros compositores contemporâneos – relevantes na sua formação ou no seu percurso – e, ainda, uma obra especialmente composta para o Festival por cada um dos seis “compositores emergentes”, que seleccionaram através do Concurso Criasons. Estas seis personalidades, provenientes de quadrantes estéticos muito diferenciados, conferem à programação musical uma desejável e enriquecedora amplitude estilística.

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Constata-se a dificuldade que esta música tem revelado em se promover e adquirir “fluência discursiva”, içando-se a níveis de usufruto equivalentes aos que gozam actualmente outros géneros musicais nacionais (o fado, algum jazz, o rock português e outras expressões urbanas). Consideramos não haver nenhum motivo objectivo, endógeno, para o desconhecimento e a ausência de interesse a que o país (Estado e cidadãos em geral, programadores e agentes culturais) vota a sua criação musical “erudita” contemporânea. Tanto mais que tal não se verifica se considerarmos outras áreas afins como o Teatro e a Dança contemporâneos, actividades que lograram encontrar o seu lugar regular na programação e na preferência do público.


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Concurso para Compositores Emergentes O Festival CRIASONS realizou, em Novembro de 2018, o referido concurso de composição, destinado a seleccionar os seis compositores que integram, com uma obra sua, cada um dos seis Programas definidos pelos “compositores residentes”. A este certame - que permitiu comprovar a vitalidade do sector - concorreram compositores de todos os distritos do Continente e Ilhas e alguns estrangeiros residentes em Portugal, com idades compreendidas entre os 17 e os 59 anos, 10 mulheres e 41 homens. Foram recebidas 150 obras, cuja análise e seriação ocupou cerca de 250 horas de trabalho dos jurados.

Difusão pública e edições Os seis Programas propostos serão levados a diversos auditórios e teatros disseminados por todo o território nacional e em algumas digressões internacionais. O primeiro ocorreu já a 21 de Junho em Amesterdão. O Festival visitará ainda Lisboa, Porto, Viana do Castelo, Faro, Mirandela, Vila Real, Seia, Almada e Évora. Serão fixadas em CD as novas obras. Publicar-se-á estas obras também em edição impressa, tendo em vista não só a sua utilização nacional mas também a sua divulgação internacional.

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Equipa

MUSICAMERA PRODUÇÕES convidou para este Festival um grupo de instrumentistas e cantores de excelência, cuja variedade se manifesta também em diferentes graus de contacto prévio com a música contemporânea. Refira-se, para memória futura, aqueles cuja participação MUSICAMERA PRODUÇÕES tem o prazer de poder anunciar, à data da edição do presente catálogo: Adriano Aguiar, Ana Assiz, Paulo Banaco, Pedro Correia, Luís Pacheco Cunha, Franz Dorsam, Isabel Martin Garcia, Almeno Gonçalves, Nélia Gonçalves, Paulo Gaspar, Aoife Hiney, André Lacerda, Eliot Lawson, Jill Lawson, Ricardo Lopes, Beatriz Maia, Laura Martins, Daniela Matos, Angélica Neto, Pedro Oliveira, Luís Rendas Pereira, Katharine Rawdon, Natasa Sibalic, Catherine Strynckx, Paolo Vettori, Quarteto Lopes-Graça e o maestro Brian MacKay. Podem ser consultadas, anexas a este catálogo, fichas/programa com mais informações sobre estes músicos. Esta nova edição do Festival CRIASONS constitui um fórum privilegiado de divulgação e fruição da música (vocal e instrumental) feita hoje em Portugal, que, através dela, se reinventa e progride.

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Mencionados os compositores, falta referir os intérpretes.


Director Artístico do Festival

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Brian M ac K ay

Essa riqueza é também demonstrada pelo sucesso dum outro elemento importante e essencial deste festival único - seleccionados pelos nossos seis compositores residentes, entre mais de cinquenta candidatos (uma resposta que nos surpreendeu e encantou tanto pela qualidade quanto pela quantidade), apresentamos seis compositores ‘emergentes’, cada um a escrever uma nova obra. Esta será criada em ‘conversa’ com o compositor residente em cujo programa será incluída. Conversa, talvez a palavra mais importante, pois este festival abriu muitas e assim prosseguirá. Esta brochura é, em muitos aspectos, uma conversa. Em cada capítulo pode ler-se, nas entrelinhas, a história por detrás da gênese de cada programa, claramente influenciado pela personalidade do seu criador e pelos músicos que o inspiraram. Tantas vezes assumindo ser – mas, na verdade, nunca sendo - um exercício académico, este processo é sempre uma viagem criativa, musical, pessoal e emocional. O resultado e a fonte de muitas conversas, internas e externas. Mas continuamos a falar... e falar de música é um acto efémero. Agora começamos o emocionante processo de transformar os planos em som. Tenho de agradecer a todos os meus colegas que participaram neste projecto, aos nossos compositores residentes, aos nossos compositores ‘emergentes’, aos muitos músicos que agora trabalharão arduamente para dar vida a esta música, e, mais importante, a todos os envolvidos na organização. Por fim, gostaria de homenagear o trabalho, muitas vezes desconhecido, do nosso produtor, o inexaurível Luís Pacheco Cunha. Sem a sua força de vontade, visão e determinação paciente, este projeto teria permanecido uma conversa. Desfrutem!

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Bem-vindo ao CRIASONS 2! É um enorme prazer estar envolvido na planificação deste festival, desta celebração da música contemporânea portuguesa e dos compositores portugueses. É uma excelente oportunidade para trabalhar em estreita colaboração com os nossos seis ilustres compositores residentes, propondo as suas próprias ideias para cada um dos seis programas distintos, destacando a sua própria música, juntamente com a música que os inspirou e influenciou. Seis personalidades musicais muito diferentes - Eurico Carrapatoso, Alexandre Delgado, Amílcar VasquesDias, Fernando Lapa, Cândido Lima e Alejandro Erlich Oliva - proporcionam um retrato da extraordinária riqueza da criatividade musical que se vive actualmente em Portugal.


Programa um



EURICO CARRAPATOSO Co m p o s i t o r

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Resi de n t e

“Ouvi, claramente ouvido o lume vivo” _ 12


Programa

Eurico CARRAPATOSO Mirandela, 1962

L’HOMME DESARMÉ, para Quarteto de Cordas (2012)

Miguel JESUS Lisboa, 1984

ELOGIO DA MORTE, SOBRE POEMAS DE ANTERO DE QUENTAL, para Soprano e Quarteto de Cordas (2019) Altas horas da noite Na floresta dos sonhos

Eurico CARRAPATOSO Mirandela, 1962

LLAÇOS, CONTRADANÇAS E DESCANTES, para Quarteto de Cordas, versão Soprano (2016) (obra em estreia absoluta nesta versão) Searas Rabatida Ninho Encomendação Malhadas

Fernando LOPES-GRAÇA

CATORZE ANOTAÇÕES, para Quarteto de Cordas (1966)

Eurico CARRAPATOSO

IN ILLO TEMPORE, para Quarteto de Cordas, versão Soprano (2008-2018)

Tomar, 1906 – Parede, 1994

Mirandela, 1962

(dedicado a Manuel Dias da Fonseca - obra em estreia absoluta nesta versão) Animato Moderato Lento Moderato Animato

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Melancolia Galope Meditação L’Homme Desarmé Despedida


“Ouvi, claramente ouvido o lume vivo”

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Imaginei, para este evento, um programa em torno do QUARTETO DE CORDAS, uma vez que, sendo um orgânico histórico incontornável, singular na pureza e coesão do seu timbre, está pouco divulgado em Portugal, principalmente ao nível da interpretação de obras portuguesas para tal conjunto instrumental. Sendo suposto haver nestes concertos uma marca pessoal e, como tal, uma presença relevante da minha música, focada num diálogo com outras músicas, em interacção com outras sensibilidades, numa celebração da vida e da arte na fascinante companhia de outros compositores, sugeri um programa com a execução dos meus três quartetos de cordas (uma situação em estreia, só por si, acrescido da convocação também inédita do soprano, que infunde neste evento o sopro incorpóreo da alma), envolvendo a obra de Miguel Jesus em criação mundial, mais as “14 ANOTAÇÕES”, obra-prima de Fernando Lopes-Graça. Temos aqui três gerações: o mestre Graça, compositor central da história da música portuguesa, nascido no início do século XX, e que nestas “14 ANOTAÇÕES” atinge o milagre da concisão numa das suas experiências mais próximas da sensibilidade cirúrgica do Webern pantonal do Opus 5 ou do Opus 9. Eu, nascido no início da segunda metade do século XX, em pleno Estado Novo, e o Miguel, nascido no doce colo da Liberdade de Abril, que faz a transição de século e milénio. Dois compositores diversos, como é normal e desejável, mas que têm um elo de ligação incontornável: a matriz coral fundadora em que alicerçam parte substantiva do seu discurso, numa demanda, por fim, da pureza das quatro linhas polifónicas (voire quarteto de cordas, expressão instrumental perfeita desta matéria inicial, lá está). E essa matriz firmada na pureza do quarteto SATB (VL1, VL2, VLA, VC, que mais dá) é, lá no fundo, a essência de uma antiquíssima tradição em que se firmou a música ocidental, que muitos pensavam perdida após o purgatório de Darmstadt, mas que, afinal, está aí para as curvas, qual fénix renascida, fresquinha como uma alface daquelas biológicas, criadas sem adubos nem pesticidas estéticos.

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No ta s de pro gr a ma

EURICO CARRAPATOSO L´ HOMME DESARMÉ, para Quarteto de Cordas _2012

Havia já algum tempo que andava a piscar o olho a este jogo de palavras com o título da famosa melodia que foi usada por tantos compositores do Renascimento: L’homme armé.

Também um pouco na linha de Stravinsky, que em 1966 desconstruiu a teatralidade escatológica e toda a retórica ribombante das Missas de defuntos românticas (de Berlioz a Verdi) com o seu Requiem Canticles (doze minutinhos de música mais serial que teatral, seca como um carapau), a que chamava ternamente my pocket requiem, chegou-me, com este L´homme desarmé, a oportunidade de escrever o meu pocket quartet. Eurico Carrapatoso, 9 de Janeiro de 2014

LLAÇOS, CONTRADANÇAS E DESCANTES, para Quarteto de Cordas, versão Soprano _2016

Não esqueço mais a cerimónia de inauguração do Centro Cultural de Palaçoulo, ali ao pé de Miranda do Douro. Em boa hora fui convidado a estar presente. Não me perguntem porquê, mas estive emocionado desde o primeiro minuto. Estremeci quando os Pauliteiros fizeram o assalto ao castelo, com o estrépito dos paus e dos pés a assentar com força no chão. Estava frio. E começou a nevar com abundância. Mas o principal estava para vir: eis, se não quando, chegam à cena os Pauliteiricos de Palaçoulo. Lá estavam os miúdos, alguns deles ruivos e sardentos pela gota de sangue suevo que ainda lhes corre nas veias, mirandeses de gema nados e criados naquele planalto mítico. Lá estavam os miúdos, assim iniciados à nobreza dos antigos rituais da dança pírrica, tão lindos e seguros de si, agarrando a estafeta cultural maravilhosa que, daquele modo, recebiam de seus progenitores.

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Estas palavras, L´homme desarmé, traziam-me um qualquer sentido de desconstrução que logo me interessou, desmistificando, através de um registo musical descontraído que atravessa toda esta pequena peça, o mais insigne, quiçá, dos repositórios da transcendência musical: o quarteto de cordas, precisamente.


Not a s d e p ro gra m a

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Lá estavam com os seus paulitos mais pequenos para não magoarem seus dedinhos engaranhados do frio que fazia. Lá estava um ruivinho e sardento com seu pai atrás a soprar no fole da pequenina gaita de foles, que roncava, afinal, tanto como as outras, naquele arranque do seu bordão que tem tanto de grotesco quanto de épico, mais o vasqueiro em que refulgiu a sua sonoridade bronzina, com apenas duas dinâmicas disponíveis: ou forte, ou fortissimo, a ecoar naquele branco planalto mirandês, alvinho de neve. Nesse momento fui-me abaixo de emoção, confesso, e jurei a mim próprio que toda a minha vida continuaria a honrar, com a minha música, a memória do meu povo, as minhas origens, a minha identidade, os llaços do meu afecto, e que levantaria bem alto o pendão do meu orgulho de ser transmontano; e, virando-me para leste, de onde me chegavam os fétidos ares d’além Pirinéus, amaldiçoei a corja dos vaidositos burgueses e mimados que, de modas urbanas, vociferam ainda hoje o caminho da estética e o fim da história da música pelo trágico diapasão do eixo IRCAM-Darmstadt, cristalizado, hoje ainda, no inominável instituto da música-poder, continuando a vomitar, como que amaldiçoados por um anátema, uma arte trágica que se arrasta, entubada, no circuito dos concertos de música contemporânea, mantida em estado vegetativo pelos programadores culturais com desfibriladores em riste. Temática transilvana. Perante aqueles pauliteiricos de Palaçoulo jurei a mim próprio, naquele dia frio e limpo, esfregar na cara a esses caramelos um manifesto que lhe berra nos seguintes termos: “Ide dar sangue! Ide cagar longe!”, pardonnez mon français. E termino esta nota na minha amada lléngua mirandesa: L aire de l campo fai-mos sentir bien. Eurico Carrapatoso, desassiête de Novembro de dous mil i desassiête

IN ILLO TEMPORE, para Quarteto de Cordas, versão Soprano _2008-2018

Algumas das nossas obras favoritas foram firmadas na formação de quarteto de cordas, clássico dos clássicos, de tamanha homogeneidade tímbrica e perfeito equilíbrio sonoro. De Haydn a Mozart, de Beethoven a Mendelssohn, de Zemlinsky a Webern, de Debussy a Ravel, de Bartók a Ligeti: um conjunto esplêndido de obrasprimas que deixaram uma herança asfixiante. E quantas dessas obras não estão sedimentadas na nossa memória, fazendo parte da nossa cultura, dos nossos afectos, da nossa vida?

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No ta s de pro gr a ma

Quando Manuel Dias da Fonseca me pediu uma obra para o Quarteto de Cordas de Matosinhos, tive emoções contraditórias, um misto de entusiasmo e de ansiedade. Acabei por colher o exemplo de Ravel, quando lhe perguntaram se esperava pela inspiração para compor. Respondeu mais ou menos isto: “estou todos os dias à mesa de trabalho entre as 9h e o meio-dia. Almoço e regresso ao trabalho entre as 14h e as 19h. Se a inspiração quiser aparecer, sabe perfeitamente onde me encontar.”

FERNANDO LOPES-GRAÇA LOPES-GRAÇA E OS GÉNEROS A multifacetada personalidade artística de Fernando Lopes-Graça não se reduz à sua “cruzada” em favor da valorização da música tradicional e do DE CÂMARA CLÁSSICOS

seu uso enquanto base para a composição erudita. Esse é, de facto, um dos aspectos mais marcantes do percurso criativo do compositor, mas o certo é que o leque dos seus interesses era bastante mais alargado. Lopes-Graça foi também um herdeiro directo do legado oitocentista. Isto pode ser entendido de forma paradoxal, tomando em consideração que ele foi simultaneamente o mais aguerrido “antirromântico” e o maior defensor do “moderno” na música entre aqueles da sua geração. O nosso compositor não foi um tradicionalista no sentido reaccionário do termo. Aplicou na sua obra um conceito dinâmico de tradição que incluiu a reflexão sobre aquilo que é o legado do século XIX. Quando em Portugal se assistia ao enaltecimento da Época das Descobertas e do século XVIII, juntamente com as suas manifestações musicais, LopesGraça advogou pelo século XIX, reivindicando o romantismo e a sua expressão política, o liberalismo, como a origem da introdução em Portugal de uma “cultura musical séria”. Esta tese foi defendida por Lopes-Graça nos anos 30 e permaneceu implícita no seu pensamento ao longo de toda a sua vida.

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Resolvi cantar a memória daqueles mestres amados. Daí o título: in illo tempore. Compondo, fui espargindo a sua memória através da minha. Como disse Camões “Se forem bons, é o mote de V.M.; se maus, são as glosas minhas”.


Not a s d e p ro gra m a

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Um dos géneros particularmente conotados com a “cultura musical séria” é, sem dúvida, a música de câmara. O compositor verbalizou indirectamente esta ideia nalgumas das suas Reflexões sobre a música, a propósito da pouca frequência com que se ouviam em Lisboa quartetos de cordas. Aí sublinhou a “dificuldade” do género, como música que “para ser plenamente gozada, necessita, além da participação mais ou menos passiva dos órgãos auditivos, uma participação activa dos centros intelectivos.” O quarteto era, na sua opinião, uma das formas musicais “mais puras” que exclui tudo o “que não seja pura essencialidade musical, puro pensamento sonoro.” Exige concentração, esforço, amor musicalis… sem, no entanto, como é o caso dos últimos quartetos de Beethoven, excluir as implicações com o mundo das ideias. Não é, por isso, de admirar que, no que diz respeito à música de câmara, Beethoven partilhasse com Schubert e com Bartók, um lugar de proeminência nas afeições musicais do nosso compositor. Tão pouco que esta dupla aspiração de rigor de escrita e de expressividade se evidencie particularmente na sua obra camerística. Extracto de um texto de Teresa Cascudo (in CD – FLG – Complete Music for String Quartet and Piano, vol. 2 – Quarteto Lopes-Graça, ed.Toccata Classics - TOCC 0254)

CATORZE ANOTAÇÕES, para Quarteto de Cordas _1966

Como contraste à contemporânea Suite Rústica, estas breves peças não partiram de canções populares reais ou imaginárias, mas antes de preocupações mais abstractas. Contudo, o conjunto geral de influências não é assim tão diferente. As Anotações reflectem de imediato o universo de tão grande importância na música de livre atonalidade de Schoenberg e Berg, bem como a obra aforística de Webern. A dissonância cromática e a vitalidade rítmica dos quartos e quintos quartetos de Bartók estão sempre presentes nestas peças curtas mas poderosas de Lopes-Graça. O compositor emprega a técnica do ostinato tão caro a Stravinsky, para urdir tapeçarias complexas, estáticas e dissonantes. É possível perceber o carácter das canções populares em estruturas melódicas, que por vezes surgem lentamente ou então ressaltam de forma inesperada destas Anotações. Fernando Lopes-Graça privilegia quatro esquemas básicos na organização interna das Anotações: o desenvolvimento de uma peça inteira a partir de um gesto musical básico, muitas vezes revestido de um carácter rítmico

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forte; a criação de texturas através do ostinato; uma exploração de um timbre primordial e por vezes impressivo; o uso da simetria para definir a harmonia ou a forma ou ambos. A tabela seguinte mostra a disposição destas técnicas organizacionais que percorrem as catorze pequenas peças.

Como que para destacar esta quase simetria, Lopes-Graça compõe a última Anotação como uma inversão da primeira: no número 1, o mesmo motivo surge tocado pelo violino 1 contra o tom baixo do pedal em Ré bemol; no número 14, tocado pelo violoncelo, contra o tom alto do pedal em Ré (o único exemplo de motivo partilhado entre Anotações). É esta espécie de espelhamento cromático que a tabela tenta explicar com a indicação de “simetria”. E é esta simetria que pode servir de sumário para o método global do compositor: rigoroso até certo ponto. É como se o lado intelectual de Lopes-Graça (preocupado com a simetria formal e a beleza arquitectónica) se complementasse com o lado psicológico de LopesGraça (preocupado com a vitalidade, energia e contraste dramático) - é uma fusão que resulta num intrincado equilíbrio, mais convincente do que qualquer das abordagens isolada poderia criar. Mas o que mais agrada nestas miniaturas é perceber a riqueza da criatividade do compositor, na forma como Lopes-Graça escolhe e esculpe os seus materiais, confiando-os aos dedos e arcos dos músicos talentosos revelando a obra com uma vitalidade e energia que ecoa no ouvido da mente muito depois da actuação musical ter terminado. Extracto de um texto de Frederick Guilfford (in CD – Música Portuguesa para um Quarteto – Quarteto Lopes-Graça, ed. Numérica - NUM 1182)

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Embora não exista um plano único que dite a forma global das Catorze Anotações, parece ter havido um tratamento cuidado do contraste entre as várias técnicas de composição e dos resultantes universos sonoros. Também existem demasiadas simetrias (se a disposição acima se focar nas peças centrais) para que a organização se possa considerar ocasional.


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EURICO CARRAPATOSO Eurico Carrapatoso nasceu em 1962 e é natural de Mirandela. É licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Foi assistente de História Económica e Social na Universidade Portucalense. Iniciou os seus estudos musicais em 1985, tendo sido aluno de composição de José Luís Borges Coelho, Fernando Lapa, Cândido Lima e Constança Capdeville. Concluiu em 1993 o curso superior de composição no Conservatório Nacional com Jorge Peixinho. Leccionou na área da composição em várias instituições, nomeadamente na Escola Superior de Música de Lisboa, na Academia Nacional Superior de Orquestra e na Academia de Amadores de Música. É professor de Composição no Conservatório Nacional desde 1989, integrando o quadro desta instituição. Recebe regularmente encomendas de importantes instituições nacionais e estrangeiras da área da cultura e a sua música tem vindo a ser executada, editada e difundida desde 1992 na Europa e nos restantes continentes. Fundou vários prémios de composição tais como o Prémio Jorge Peixinho, o Prémio Eborae Mvsica - 2ª Escola de Évora e o Prémio Dom Dinis. Integrou o júri do Prémio de Composição da Sociedade Portuguesa de Autores. A sua música representou Portugal três vezes na Tribuna Internacional de Compositores da UNESCO realizadas em Paris em 1998, 1999 e 2006, com Cinco melodias em forma de Montemel (para soprano, trompa e piano), Deploração sobre a morte de Jorge Peixinho (para grande orquestra) e O meu poemário infantil (para tenor e orquestra). Ganhou as primeiras edições do Prémio de Composição Lopes-Graça e do Prémio Francisco de Lacerda. Em Maio de 2001 foi distinguido pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal com o Prémio da Identidade Nacional. Em 10 de Junho de 2004 foi condecorado pelo Presidente da República com a Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique. Em Maio de 2011 foi distinguido com o Prémio Árvore da Vida pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

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Bio gr a fia s

MIGUEL

COMPOSITOR EMERGENTE, seleccionado no Concurso CRIASONS.

Como compositor, está mais ligado à produção coral, tendo tido as primeiras peças estreadas na Semana da Composição da ESML, pelo Ensemble Vocal Desafinados. Trabalhou também com o Coro Ricercare, tendo escrito uma encomenda para o Santuário de Fátima que foi estreada pelo coro e uma peça para orquestra de cordas e coro, para o 20º aniversário da Associação Ricercare, estreada pelo mesmo coro e a Orquestra Sinfonietta de Lisboa.

Como guitarrista, foi membro do “Chiado Ensemble”, quinteto de guitarras formado por alunos da Academia de Amadores de Música, e, como coralista, é membro do Coro Gulbenkian e do Coro Ricercare, tendo já integrado outros grupos como o Officium Ensemble e as Voces Caelestes.

(Ver Biografia Fernando Lopes-Graça, programa quatro, pág. 54)

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Iniciou os estudos musicais na Academia de Música de Santa Cecília como aluno de violino. Mais tarde optou pela guitarra, primeiro como autodidacta, depois ingressando na escola do Hot Clube de Portugal. Três anos depois decidiu enveredar pela guitarra clássica estudando na Academia de Amadores de Música, na classe do prof. António Ferreirinho, e posteriormente na Escola Superior de Música de Lisboa, na classe do prof. João Pedro Duarte, onde terminou a licenciatura.

DE JESUS


Programa dois



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Co m p o s i t o r Resi de n t e

ALEXANDRE DELGADO

“Sopro, XX/XXI”

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Programa

Hukvaldy, 1854 – Ostrava, 1928

MLADI (JUVENTUDE), para Sexteto de Sopros (2012) Allegro Andante sostenuto Vivace Allegro animato

Tiago DERRIÇA

Lisboa, 1986

QUINTETO DE SOPROS, (2018)

(obra em estreia absoluta, composta para o Festival Criasons)

Alexandre DELGADO Lisboa, 1965

OS NOSSOS DIAS, para flauta, oboé, trompa e fagote (1987) QUINTETO DA RAPOSA, para piano, flauta, oboé, clarinete e fagote (2018) (obra em estreia absoluta)

Francis POULENC Paris, 1899 – 1963

SEXTETO, para Piano e Sopros (1932) Allegro vivace Divertissement: Andantino Finale: Prestissimo

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Leoš JANÁČEK


Not a s d e p ro gra m a

“Sopro, XX/XXI”

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Neste programa de sopros e piano, Mladi de Janacék ilustra a originalidade telúrica do grande modernista checo e o Sexteto de Poulenc traz-nos a irreverência cativante desse parisiense de gema. Entre esses dois clássicos do século XX, temos duas obras de Alexandre Delgado inspiradas em Alexandre O’Neill e no “Romance da Raposa” de Aquilino Ribeiro, e um quinteto para piano e sopros do jovem Tiago Derriça composto para o Festival Criasons.

LEOŠ JANÁČEK MLADI (JUVENTUDE), para Sexteto de Sopros _2012

Esta obra do compositor foi escrita para flauta (e piccolo), oboé, clarinete, trompa, fagote e clarinete baixo. Em termos formais esta obra pode ser entendida como uma suite em quatro partes ou uma sonata “livre” em forma de rondo. Evoca os dias felizes do compositor em Brno – o que explica a sua vitalidade e remete para o título – juventude.

FRANCIS POULENC SEXTETO, para Piano, Flauta, Oboé, Clarinete, Fagote e Trompa _1932

Iniciada a sua criação em 1932, a obra só ficaria completa em 1939-40. Obra alegre e variada, permitindo aos seis instrumentistas uma abordagem expansiva e expressiva. O Alegro vivace é pleno de brilho, sucedido pelo Divertimento lento e poético, que antecede um Finale rápido em forma de rondo e com reminiscências dos motivos do primeiro andamento.

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Bio gr a fia s

ALEXANDRE DELGADO

Foi membro da Orquestra Gulbenkian e é desde 2005 membro do Quarteto com Piano de Moscovo. Como diretor artístico do Festival de Música de Alcobaça, tem programado desde 2002 numerosas estreias modernas e estreias absolutas. Assina o programa A Propósito da Música na Antena 2 desde 1996 e é autor dos livros A Sinfonia em Portugal, A Culpa é do Maestro (Crítica Musical) e Luís de Freitas Branco.

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Estudou na Fundação Musical dos Amigos das Criança (AMAC). Foi aluno particular de Joly Braga Santos em composição e estudou com Jacques Charpentier em França, diplomandose com o 1.º Prémio de Composição do Conservatório de Nice em 1990. Com encomendas de Portugal e do estrangeiro, a sua produção abarca especialmente música de câmara, música orquestral, obras vocais e ópera. Langará, para clarinete solo (1992) tornou-se obra de reportório desse instrumento a nível internacional. Dirigiu a estreia da sua ópera O Doido e a Morte (1993) no Teatro Nacional de São Carlos, no Theter Am Halleschen Ufer em Berlim e no Theatro da Paz em Belém do Pará. Dirigiu igualmente a estreia da sua ópera A Rainha Louca (2009) em Portugal e no Brasil. Entre as suas estreias mais recentes contam-se as cantatas O Pequeno Abeto e O Soldadinho de Chumbo, que dirigiu com mais de 200 crianças no Tivoli e na Casa da Música. Como violetista, foi aluno de Barbara Friedhoff, diplomouse em França e venceu o Prémio Jovens Músicos em 1987. Estreou como solista o seu Concerto para Violeta e Orquestra em Portugal, Espanha e na Holanda. Fez parte da Orquestra de Jovens da União Europeia, onde atuou sob a direção de Claudio Abbado e de Zubin Mehta.


Biogra f i a s

DERRIÇA

TIAGO

COMPOSITOR EMERGENTE, F E STI VA L C R I A SO NS | 2º E DI Ç ÃO | T ENDÊNCI A S DA MÚS I CA CONT EMPORÂNEA

seleccionado no Concurso CRIASONS.

Tiago de Sousa Derriça nasceu em Lisboa em 1986. Estudou violoncelo na Metropolitana, onde teve como professor de composição Pedro Faria Gomes. Licenciou-se em Composição na Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou com João Madureira, Luís Tinoco, Pinho Vargas e Sérgio Azevedo. Realizou depois estudos de mestrado na ESML, com Carlos Marecos, e, na Universidade de Évora, com Christopher Bochmann. A sua música tem sido maioritariamente interpretada por grupos de câmara, contudo, trabalhou também com a Albany Symphony Orchestra, Chamber Orchestra Kremlin, Menuhin Academy Soloists, Nova Orquestra de Lisboa, Orquestra Gulbenkian, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Orquestra do Norte, Orquestra Sinfonietta de Lisboa, United Europe Chamber Orchestra, Coro Gulbenkian, Coro mpmp, GV Olisipo e Coro Ricercare. Tem também escrito música de cena, tendo colaborado com: o Teatro da Trindade e com M.ª Emília Correia, em Não se ganha, Não se paga!, de Dário Fo; o Teatro S. Luiz, Beatriz Batarda e Cesário Costa, em Uma Bizarra Salada e com Paulo Sousa Costa e João Didelet, em Alice no País das Maravilhas e A Bela e o Monstro. Como orquestrador e arranjador, trabalhou com Rodrigo Leão, Fernando Alvim, Piñeiro Nagy, Ricardo Parreira, Elisabete Matos, Ana Moura, Cuca Roseta, Katia Guerreiro, Mafalda Arnauth, Marco Oliveira, Raquel Tavares e Ricardo Ribeiro. O seu trabalho está editado pela Althum, CULTlabel, Deutsche Grammophon, DGArtes, HEVHETIA, HM-Música e Metropolitana. É professor de composição e teoria musical na Academia de Amadores de Música, Academia Musical dos Amigos das Crianças e Escola Luís António Verney.

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Bio gr a fia s

De origem checa, Leoš Janáček destacou-se como director orquestral, organista e pedagogo, tendo se revelado, nomeadamente a partir do final da Primeira Guerra Mundial, um dos mais apreciados compositores de ópera do século XX.

POULENC

FRANCIS

COMPOSITOR Compositor parisiense, deixou-nos uma música muito francesa, graciosa, natural, ligeira, por vezes grave e sempre subtil. “Amante da vida, melancólico e serenamente místico, ao mesmo tempo um monge e um rapaz traquinas” diz dele Stéphene Audel.

JANÁČEK COMPOSITOR

Para além das edições das recolhas de música tradicional, Janáček trabalharia na Exposição Etnográfica de Praga (1895) e comporia uma série de danças orquestrais e suites (Danças para Lassko, Suite para Orquestra, ou o bailado de inspiração folclórica Rákos Rákoczy) e a ópera em um acto Pocátek románu (“O início de um romance”), que popularizaram o seu trabalho de recolha e pesquisa. A sua obra, que inicialmente assume as características da linguagem musical do século XIX, sendo de grande referência a herança de Dvořák e Smetana, apresenta uma passagem para uma fase de maturidade a partir da composição da ópera Jenufa com o consequente desenvolvimento de um estilo de compo-sição próprio. Os ritmos acentuados, a ligação entre texto/palavra e ritmo, um contexto de tonalidade alargada, recorrendo a experimentações harmónicas e ao uso da modalidade, são características da música de Janáček. Na última fase da sua vida interessa-se sobretu-do por composição de ópera, demonstrando na sua linguagem a evidência de experimen-tações no domínio do timbre e das possibilidades dos instrumentos.

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Filho e neto de professor e director coral, estudou em Praga e, mais tarde, no Conservatório de Leipzig, tendo-se trans-ferido, em 1880, para o Conservatório de Viena, onde estuda com Franz Krenn. Em 1888, foi convidado por Frantisek Bartos para trabalhar na recolha de música tradicional no norte da Morávia, então império austríaco, de onde Janáček era originário. Desenvolveu, então, um cuidadoso trabalho de pesquisa de frases e expressões populares checas (fazendo anotações minuciosas das entoações que, mais tarde, serviriam de base à construção de melodias e a experimentações tonais, nomeadamente através do uso dos materiais tradici-onais e de linhas melódicas originadas a partir dos ritmos e cadências da fala, como se observará sobretudo no seu trabalho operático – de que é exemplo a sua ópera Jenufa de 1904 ou Kátia Kabanová (1921) – e antecipando correntes de composição como a de Béla Bartók, numa busca de realismo musical e de ligação com o quotidiano e a vida das pessoas).

LEOŠ


Programa trĂŞs



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Co m p o s i t o r

Resi de n t e

AMÍLCAR VASQUES-DI AS

“Persistência”

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Programa

DE VOLHARDING (PERSEVERANCE), (1972)

Amílcar VASQUES-DIAS

PRANTO, (1984/88)

Utrecht, 1939

Badim, Monção, 1945

CORO DA PRIMAVERA - CANÇÃO DE JOSÉ AFONSO, (1981) Misha MENGELBERG

DRESSOIR, (1982)

Louis ANDRIESSEN Utrecht, 1939

DAT GEBEURT IN VIETNAM (Aconteceu no Vietnam,1973)

Edward LUIZ D’ABREU

VANFARRA, (2019)

Klas TORSTENSSON

JARN, (1982-87)

Kiev, 1935 – Amsterdão, 2017

Lisboa, 1989

Nässjö, 1951

(Obra em estreia absoluta, composta para o Festival Criasons)

Todas as obras deste programa foram criadas para a Orquestra VOLHARDING, fundada por Louis Andriessen, com a seguinte instrumentação - flauta, saxofone soprano, saxofone contralto, saxofone tenor, trompa, 3 trompetes, 2 trombones, trombone baixo, piano, contrabaixo.

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Louis ANDRIESSEN


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“Persistência” O programa do concerto PERSISTÊNCIA apresenta ao público português a ORKEST DE VOLHARDING, fundada em 1972, em Amsterdão, pelo compositor Louis Andriessen. Constituída por 13 músicos de formação erudita e com práticas musicais nas áreas do jazz, do rock, pop e da improvisação, o elenco instrumental da Orkest tinha características sui generis: flauta / piccolo, 3 saxofones (soprano, alto, tenor), trompa, 3 trompetes, 3 trombones, contrabaixo e piano. Era uma alternativaprovocação ao aparatoso ‘símbolo de Estado’ da grande e pesada orquestra clássico-romântica holandesa! Várias centenas de peças foram escritas por compositores holandeses e estrangeiros para a Orkest durante os seus 37 anos de existência (de 1972 a 2009). No seu 20º aniversário, a orquestra possuía já um património de 150 peças. O arranjo/orquestração de ‘Grândola, Vila Morena’, de José Afonso, que realizei em 1974, a pedido de Louis Andriessen, meu professor, como 1º trabalho de casa da aula de Orquestração, e ainda as peças ‘Balada do Amor militante’ (1980), ‘Coro da Primavera’ (1981), ‘Canto de trabalho’ (1980), ‘Romance d’O Conde da Alemanha’ (1982) e ‘Pranto’ (1984/88), encomendas da Fundação para a Arte e da Fundação para a Criação Musical, de Amsterdam, fazem parte deste património e ilustram a atitude ideológica da Orkest. É óbvia a dificuldade na selecção de umas poucas peças representativas da imensa produção da ORKEST DE VOLHARDING para um programa de concerto. É óbvia a dificuldade na selecção de umas poucas peças representativas da imensa produção da ORKEST DE VOLHARDING para um programa de concerto! Escolhi: “A persistência” (De Volharding) (1972) e “Isto acontece no Vietnam” (Dat gebeurt in Vietnam) (1973) – cujas temáticas mostram a preocupação humana, social e política de Louis Andriessen;

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“Järn is more or less concerned in the division of labour: in the first movement the collective activities are instigated by a small group, in the second movement a continuous and
organic music is produced by the constant changing of groups, while the third movement is dominated by one uniform and aggressive musical layer” – nota de Klas Torstensson. Coro da Primavera (1981), de José Afonso, em arranjo/orquestração que dediquei a Louis Andriessen e à ORKEST. Pranto (1984/88) In memoriam Manuel Faria, inspirada na tradição das ‘pranteadeiras’ (actividade ainda existente há 30 anos em algumas aldeias do Alto Minho, em que algumas mulheres eram ‘contratadas’ para ‘chorar’ durante o velório as virtudes da pessoa defunta), usei a melodia da canção ‘Moda do entrudo’ (versão de José Afonso) na introdução da peça (3 trompetes) como um cantus firmus ornamentado. Pretendi com esta obra – que dediquei à ORKEST DE VOLHARDING - realizar uma das ‘normas’ de composição escrita do meu professor L. Andriessen: ‘todos os músicos têm direito a tocar partes instrumentais musicalmente interessantes’! Vanfarra (2018/19), de Edward Luiz Ayres d’Abreu.

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Dressoir (1977) (aparador onde se guardam objectos-relíquia como foto de casamento, caixa de biscoitos, jogo de dominó, cesto de costura, etc), de Misha Mengelberg * (1935-2017) (colega e amigo de L. Andriessen no curso de Composição do professor/compositor Kees van Baaren, no Conservatório Real de Haia) é, pelo contrário, uma peça com sentido de humor, de um ‘homem do palco’ – pianista de jazz reconhecido internacionalmente. Era um filósofo, um ‘pensador’ sobre música, mas que não se ‘levava a sério’! Recordo com saudade o seu magnífico concerto com Evan Parker (sax), em Agosto de 2015, na Fundação C. Gulbenkian, e a nossa entrevista informal após o concerto. À minha inocente pergunta: ‘Misha, o que é que andavas a fazer com os dedos sobre o teclado?’, respondeu-me com um sorriso: ‘tivesse eu há 10 anos a coragem de fazer o que faço agora: Nada! Não faço nada de especial, não penso nos dedos, nem nas notas! Deixo a música acontecer... Não estou preocupado com o devir da ‘peça’! Não me interessa pensar no que vem a seguir... Nem me interessa ou preocupa o público! Já há mais de 30 anos que tocamos juntos, o Evan e eu. Nunca ensaiamos...! Nem é preciso’. A partir dos anos ’80, as partituras que DE VOLHARDING recebe são mais complexas de execução. Aparece então um novo elemento na ORKEST: o maestro. Järn (1982), de Klas Torstensson, compositor sueco residente na Holanda, apresenta uma escrita abstracta, plena de invenção, com secções em notação proporcional, repleta de grandes contrastes dinâmicos e uso de registos extremos.


A ORKEST DE VOLHARDING marcou indelevelmente a cultura musical holandesa nos últimos 30 anos do século XX.

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ORKEST DE VOLHARDING

Na primavera de 1972, Louis Andriessen reuniu vários músicos do mundo da música improvisada e clássica para trabalharem juntos na sua composição De Volharding (a palavra holandesa ‘volharding’ significa perseverança / persistência). A primeira apresentação aconteceu em Amesterdão, a 12 de maio de 1972, num memorável e ruidoso ‘Inklusief Konsert’. A fundação oficial da Orkest De Volharding seguiu-se no outono daquele ano. Desde então, e até 2010, o grupo de 13 membros (com um 14º membro / maestro desde 1989) desempenhou um papel central no desenvolvimento único da produção musical nos Países Baixos. Os anos setenta foram o período em que a maneira tradicional de fazer música foi objecto de grande desafio e a década em que a Orkest De Volharding se tornou a orquestra de Protesto Holandês, no sentido mais amplo do termo. A orquestra combinou a chamada Música de Protesto com música erudita contemporânea. A sua ênfase principal estava no aspecto ideológico da produção musical, e o seu principal objetivo era levar uma música simples a um público que não costumava ir a concertos ou a lugares onde essa música raramente era ouvida. Nos anos oitenta, De Volharding foi capaz de construir um repertório de concerto. O som especial e o método de trabalho da orquestra pareciam ter uma grande atracção para os compositores holandeses e também estrangeiros. O fluxo de novas obras compostas especialmente para o grupo era enorme. Em 20 anos de persistência, mais de 150 peças foram escritas ou arranjadas para a orquestra. De Volharding não era apenas um grupo de 14 músicos. Era a combinação de vários fatores que lhe conferiam um caráter especial: o line-up fixo de flauta, 3 saxofones, trompa, 3 trompetes, 3 trombones, piano e contrabaixo; a recusa de empregar substitutos; a combinação de músicos de jazz e de formação clássica, cada um com origens diferentes (que não estavam sob pressão para se fundirem num som unificado ou se submeterem a uma interpretação unificada. Os gostos e ideias individuais eram precisamente o que o grupo explorava; o papel central que a orquestra desempenhava nas fronteiras da música erudita contemporânea, a música improvisada e a música pop; o facto de a música que a orquestra tocava exigir um esforço físico, já que a orquestra tocava em pé parte da sua herança do jazz e, por fim, a responsabilidade artística colectiva. Estes factores combinavam para criar o som original da Orkest De Volharding. Textos de Amílcar Vasques-Dias

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Bio gr a fia s

AMÍLCAR VASQUES-DIAS

Como pianista, interpreta a sua música e utiliza a improvisação como um meio de expressão, tendo realizado concertos em Portugal, Espanha, Holanda, Alemanha, Bélgica, França, Rússia, Canadá e nos Estados Unidos da América. Como compositor, tem recebido encomendas de várias instituições públicas e privadas holandesas e portuguesas no âmbito da música de câmara instrumental e vocal, ou electroacústica, orquestra sinfónica, orquestra de metais, coro a cappella e acompanhado, obras multimédia, ópera, e música para filme e teatro. A sua música tem sido tocada em Portugal e em outros países da Europa, da América e Japão, nomeadamente em festivais de música contemporânea. Tem diversas obras gravadas em vários CD’s editados na Holanda e em Portugal, sendo alguns exclusivamente de sua autoria.

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Nasceu em Badim, Monção. Efectuou estudos superiores de Piano e de Composição nos Conservatórios de Música do Porto e de Braga. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e da Secretaria de Estado da Cultura para o Curso Superior de Composição Instrumental e Electroacústica no Conservatório Real de Haia, na Holanda, onde foi aluno de Louis Andriessen, Peter Schat, de Jan van Vlijmen e de Dick Raaijmakers. Destaca-se a formação que teve com Karlheinz Stockhausen, na Holanda, com Iannis Xenakis, em Aix-en-Provence, em França, e com Cândido Lima, em Portugal, considerando estes compositores/professores os que mais o influenciaram na sua formação de músico e compositor. Em 1989, conheceu Fernando Lopes-Graça a quem deu a conhecer os seus trabalhos de composição realizados na Holanda. É a partir deste convívio que começa a dar mais atenção à música tradicional portuguesa, manifestando-se a sua influência em algumas das suas peças. Na Holanda, desenvolveu actividade artística e pedagógica como pianista e como compositor durante 14 anos.


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Biogra f i a s

Paralelamente à sua actividade de compositor, mantém actualmente projectos de fusão do piano “erudito” com músicas tradicionais, nomeadamente com o cante alentejano ‘Em Cante: uma música do Alentejo’, com Manuel Caldeira e Pedro Calado, cantadores do Grupo Cantares de Évora, e com o cante flamenco, com a cantaora Esther Merino. Conheceu e acompanhou José Afonso em 1978, na Holanda, e desde então dedica-se ao estudo e recriação da sua música, tendo criado com o violinista Luís Pacheco Cunha e a cantaora Esther Merino o projecto ‘José Afonso: de ouvido e coração’. Desde o seu regresso da Holanda, em 1988, foi docente nas Escolas Superiores de Música de Lisboa e do Porto, na Universidade de Aveiro e na Universidade de Évora. Foi mentor e director artístico do Encontro do Alentejo de Música do Séc. XX.I, desde 1998 até 2009. Actualmente, a convite da Câmara Municipal de Évora, é o director artístico do festival ‘20.21 ÉVORA MÚSICA CONTEMPORÂNEA’.

EDWARD LUIZ D’ABREU Nascido em 1989, Edward Luiz d’Abreu estudou no Conservatório COMPOSITOR EMERGENTE, seleccionado no Concurso CRIASONS.

Nacional com Eli Camargo Júnior e Daniel Schvetz, e na Escola Superior de Música de Lisboa com Sérgio Azevedo e António Pinho Vargas. Em programa Erasmus frequentou o Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris, tendo trabalhado com Gérard Pesson. Contactou ainda com Emmanuel Nunes, João Pedro Oliveira, Marc-André Dalbavie e Faradzh Karaev, entre outros. Entre outros agrupamentos e músicos solistas, a sua música foi interpretada pela Orquestra Gulbenkian, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Banda Sinfónica Portuguesa, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa e Ensemble MPMP. Escreveu três óperas, a última delas, Manucure, estreada em 2012 no Teatro Nacional de São Carlos sob a direcção de João Paulo Santos e a encenação de Luís Miguel Cintra.

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Bio gr a fia s

É mestre e doutorando em Ciências Musicais. Enquanto investigador, foi distinguido com o 2.º Prémio do Concurso Otto Mayer-Serra 2017 da Universidade da Califórnia. É membro fundador do MPMP, Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa, associação no âmbito da qual tem coordenado diversos projectos editoriais e de programação musical, e foi director da revista Glosas nos seus primeiros quinze números.

Após uma precoce formação com seu pai, o compositor Hendrik Andriessen, continua os seus estudos com Kees van Baaren no Royal Conservatory de The Hague. Galardoado com um prémio de composição por altura da sua graduação, Andriessen continua os seus estudos com Luciano Berio em Milão (1962-63) e Berlim (1964-65).

Afirmou-se como figura de proa no mundo da música através das suas obras e como intérprete das criações de outros compositores e das suas. É, desde 1978, professor no Royal Conservatory de Amsterdão. Também leccionou no Californian Institute of Arts (Los Angeles), Princeton University, Katholieke Universiteit Nijmegen e, em 1987, na Yale University. Começou em 1991 a sua colaboração com Peter Greenaway, no filme “M is for Man, Music, Mozart”, uma encomenda da BBC para o bi-centenário daquele compositor. Em 1994 foi Director Artístico do Meltdown Festival at South Bank Centre, em Londres. Em 2004 integra o corpo docente da Art Faculty of the University of Leiden. A par das suas actividades directamente musicais, é co-autor, com o musicólogo e crítico Elmer Schönberger, do livro sobre Igor Stravinsky, The Apollonian Clockwork (editado na Oxford University Press, em 1989). Uma colectânea dos seus artigos, seminários e entrevistas, com o título The art of stealing time, é editada por Mirjam Zegers na Arc Publications (2002). _39

COMPOSITOR

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LOUIS Louis Andriessen nasceu em Utrecht a 6 de Junho de 1939. ANDRIESSON


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Biogra f i a s

Compôs obras electroacústicas e música para cinema. Refira-se, entre os seus trabalhos para teatro - ‘Mattheus Passie’ (Matthew’s Passion; 1976), ‘Orpheus’ (1977), ‘George Sand‘ (1980) e ‘Doctor Nero’ (1984). ‘De Stijl’, um trabalho em grande escala, criado para os ensambles ‘De Volharding‘ e Hoketus foi estreado em 1985, no Holland Festival. ‘De Materie’ (Matter), produzido pela De Nederlandse Opera foi cabeça de cartaz no Holland Festival de 1989. Seguem-se, em 1994, a ópera ‘Rosa’ e, em 1999, ‘Writing to Vermeer’ (ambas com Peter Greenaway). Completa, em 2007, o filme - ópera ‘La Commedia’ sobre textos de Dante. Pelo seu trabalho ‘De Staat’ (The Republic; 1976) recebeu o pretigioso prémio Matthijs Vermeulen Prize in 1977 e o primeiro prémio do Rostrum of Composers. Pelas suas obras de 1991: ‘M is for man, Facing death’ (escrita para o Kronos Quartet), ‘Dances’ (para soprano e orquestra de câmara), ‘Hout’ (para ensemble) e ‘Lacrimosa‘ (para dois fagotes) recebe, de novo, o Matthijs Vermeulen Prize em 1992. Em 1993 é-lhe atribuído o 3M-prize e, em 2001, recebe do World Music Contest Kerkrade um prémio pela sua contribuição para a música para sopros. Recebe o Johan Wagenaar Prijs em 2008 e, pelo seu 70º aniversário, é-lhe entregue a medalha de prata da cidade de Amsterdão.

MISHA MENGELBERG Nascido em Kiev, a 5 de Junho de1935, leader do Instant Composers COMPOSITOR, PIANISTA

Pool Orchestra, Mengelberg é uma figura intrigante na cena holandesa e mundial da música improvisada: um filósofo dos fenómenos musicais que, não se levando muito a sério, contribuiu, de forma determinante, para trazer à composição e à música improvisada, apoios estatais na Holanda dos anos 60 e 70. Como pianista de jazz, vai beber a Thelonious Monk (acordes densos e impactantes) e a Herbie Nichols (harmonias ‘subversivas’). Em finais dos anos 60, Mengelberg ajudou a desenvolver a “European improvised music” que se emancipa do jazz, com o seu baterista de sempre Han Bennink.

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Bio gr a fia s

As suas “game pieces” de 1960 antecipam trabalhos posteriores do seu amigo e benfeitor John Zorn. Nos anos 90, a ICP firma o seu prestígio internacional graças à escrita elegante e engenhosa de Mengelberg. Os seus trabalhos ‘eruditos’ são, igualmente, reconhecidos pelas inspiradas melodias e imprevistos desenvolvimentos.

composição na Ingesunds Musikhögskola, musicologia na Universidade de Gothenburg (ambas na Suécia), e música electrónica no Institute of Sonology, em Utrecht (Holanda). Viveu e trabalhou a maior parte da sua vida na Holanda, mas a sua música salta fronteiras. Apesar do seu pendor abstraccionista, revela, por vezes, influências da paisagem da sua terra nativa (e mesmo da região polar). Nas suas extrovertidas criações iniciais, de um modernismo frequentemente considerado “ruidoso”, seguiu nas pegadas de Edgar Varèse e Iannis Xenakis. Mas a partir da sua ópera The Expedition (1994-1999), enriquece a sua paleta com sons, cores e padrões melódicos extraídos da tradição sinfónica clássica, que usa de forma dramática e surpreendentemente contrastante.

As suas obras são apresentadas por orquestras, ensambles e solistas em todo o mundo, particularmente nos vários festivais europeus de música moderna e contemporânea: Huddersfield, Ultima (Oslo), Steirischer Herbst (Graz), Wien Modern, Stockholm New Music, Nordic Music Days (Reykjavik/Malmö/Berlin), Gaudeamus (Amsterdão), Warsaw, Gaida (Vilnius), Festival van Vlaanderen (Bélgica), Holland Festival (Amsterdão), GAS (Gothenburg), NYYD (Tallinn), Darmstadt, entre muitos outros.
 Foi ainda compositor residente em festivais como Stockholm New Music 1999 (junto com Mauricio Kagel e György Kurtág), Time of Music 2001, (Viitasaari, Finland), Montreal-Nouvelles-Musiques 2003 and Sacrum Profanum 2009 (Krakow).

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COMPOSITOR

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KLAS Nascido a 16 de Janeiro de 1951, em Nässjö, na Suécia, estudou TORSTENSSON


Programa quatro



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Co m p o s i t o r

Resi de n t e

FERN ANDO C. L APA

“Atmosferas”

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Programa

Carlos AZEVEDO Vila Real, 1964

TEMPO DE OUTONO, para Clarinete e Piano (2014)

António PINHO VARGAS

QUATRO OU CINCO MOVIMENTOS FUGIDIOS DA ÁGUA, para Clarinete, Violoncelo e Piano (2001)

Fernando LOPES-GRAÇA

IN MEMORIAM BÉLA BÁRTOK, OP. 126 - SUITE Nº 8, para piano solo (1960-75)

Vila Nova de Gaia, 1951

Tomar,1906 – Parede,1994

1. Pórtico 2. Coreia I 3. Encantação I 4. Epicédio 5. Coreia II 6. Encantação II 7. Tributo / Festivo

Hugo Vasco REIS Lisboa, 1981

RIZOMA, para Violino, Violoncelo e Piano (2018)

(Obra em estreia absoluta, composta para o Festival Criasons)

Fernando C. LAPA Vila Real, 1950

POEMAS DE AMOR E DE NEBLINA, (poemas de Maria Helena Vieira, para Coro de Câmara, Clarinete, Quarteto de Cordas e Piano, 2006) (obra em estreia absoluta nesta versão) 1. brilho molhado da calçada 2. se a beleza for o espanto 3. murmúrio azul deste silêncio 4. há três dias e três noites 5. silêncio das estrelas 6. se o rosto vislumbrado da beleza

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(Obra dedicada a Nuno Pinto e Elsa Marques Silva)


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“Atmosferas” A ideia de mosaico – verificável na organização interna de algumas destas peças – está reflectida também no plano geral deste concerto. Desenhado a partir de Poemas de amor e de neblina – obra que se estreia parcialmente neste concerto – o presente programa apresenta obras de compositores portugueses do nosso tempo, de diferentes gerações. São obras diversas, nos seus propósitos, no histórico de cada compositor e na peculiaridade dos seus discursos musicais. Cada uma delas desenha um espaço específico, em boa parte derivado do programa extra-musical que sugerem, insinuam ou afirmam sem rodeios. Quer esse programa tenha sido prévio à composição, quer se constitua como uma posterior ilustração, explicitação ou chave do que a obra musical pretende ser, uma larga terminologia comum está aqui evidentemente implicada: gesto, cor, desenho, luz, sombra, movimento, percurso, sombra, dinâmica, textura, linha, contraponto, figuração, perspectiva, aresta, modulação, ponto, figura, horizonte, narrativa, grande plano, direcção, saturação, transparência… (e tanto mais, numa lista propositadamente misturada e não organizada). São obras que se afirmam por si só – como construções sonoras no espaço e no tempo – com a sua própria definição e percurso, permanecendo entendíveis e analisáveis como objetos artísticos plenos, sem recurso a outras explicações ou traduções. E, no entanto, há por detrás desta música, ou assumidamente à frente dela, uma contaminação positiva que abre caminho a leituras plurais. Nem que seja apenas pelo título – e nenhum deles é neutro – estas obras insinuam um conjunto de sensações, de maneiras de ver e olhar, de panoramas e ambiências que desafiam a nossa imaginação. O traço geral de todas elas respira uma clara ambiência poética, com forte marca expressiva, mesmo nas obras apenas instrumentais. Ainda que nem sempre explícito, este repertório tem muitas sugestões visuais, desde as cores às formas, texturas, gestos ou ambientes. O vento, a água, as estrelas, o céu, a lua, a noite, o outono, as terras, os tempos, as memórias… Fernando C. Lapa

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I. Brilho molhado da calçada. Candeeiros de silêncio que derramam pequenos luares aveludados, como um céu só nosso, que só vemos pela noite, cá de dentro, e que esquecemos.

MARIA HELENA VIEIRA _1987

IV. há três dias e três noites há três semanas, três meses há três Novembros, três anos três demoras, três enganos três vezes trinta e três vezes há nuvens que separámos há ventos que adormecemos há temporais nos telhados há segredos que calámos há frios agasalhados medos que empalidecemos desejos que abandonámos há vidas que nos morremos

III. murmúrio azul deste silêncio nenúfares meigamente sobre a água um céu de fogo sobre um lago de penumbra e talvez a lua, ou o teu rosto brancamente no jardim

V. silêncio das estrelas neste chão sem rumos o céu pesado de infinitos cobriu lentamente o meu corpo mineral.

VI. se o rosto vislumbrado da beleza me contempla antes, hoje, sempre, claro é o regaço, e o abraço e o sim, e o sorriso, e a nudez de tudo o que não preciso.

Brisa, Bruma, Brilho, Alma de Sol! Hálito da lua esboroado em silêncios! Quando estenderás por fim O teu manto incandescente sobre mim?

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“Poemas de amor e de neblina”

II. se a beleza for o espanto for o embalo dos teus dedos se os teus braços de luar forem a prece antiga e límpida com que vestes os teus dias se esta gravidez azul de nevoeiro solar for a chuva respirada for a luz atravessada no silêncio das memórias, então sim, que venham já as gaivotas e os musgos das árvores que não nasceram as feridas e os urros das montanhas que morreram venham sismos, cataclismos, venham estrelas cadentes, venham sãos, venham doentes, venhas tu, venham as gentes.


Nota s d e p ro gra m a

CARLOS AZEVEDO TEMPO DE OUTONO, para Clarinete e Piano

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_2014

Em Tempo de Outono, Carlos Azevedo explora a imagética desta estação. A primeira secção evoca a forma mais lenta da passagem do tempo, propícia à reflexão e à introspecção. Partindo da ideia de transformação cíclica e inevitável da natureza, somos conduzidos a uma segunda secção contrastante, de carácter rítmico, que termina com um regresso ao universo sonoro da primeira, sublinhando o carácter cíclico da ideia que lhe subjaz. Vítor Pinho, 2017

ANTÓNIO PINHO VARGAS QUATRO OU CINCO MOVIMENTOS FUGIDIOS DA ÁGUA, para Clarinete, Violoncelo e Piano _2001

Antes de começar a compôr o Trio ouvi os trios de Brahms e Beethoven para me colocar na sonoridade desta peculiar formação instrumental. Admirei as obras, especialmente a de Beethoven, que já não ouvia há muito tempo, mas percebi claramente que, para esta obra, as referências aos clássicos estavam-me vedadas. Enquanto, por exemplo nos meus dois Ciclos de Canções de António Ramos Rosa de 1995 e Albano Martins de 2000, a sombra de Schubert e Schumann não tinha constituído um peso mas antes uma leveza. Neste caso o caminho tinha de ser outro. Cada peça reclama, sem dúvida, o seu modo de ser, o seu universo. Por outro lado os “Quatro ou cinco movimentos fugidios da água” estão ligados pela proximidade cronológica à obra para piano solo “Holderlinos”. Trata-se de uma peça sobre as grandes variações de movimento que a água do mar proporciona, desde que haja disponibilidade para olhar para ele, da aparente imobilidade profunda dos fins de tarde, até à agitação impressionante das tempestades. Não fiz nenhum estudo das periodicidades fractais das marés. Penso que a arte não tem como objecto a natureza mas a memória dela, ou mesmo a própria memória da arte. António Pinho Vargas, Junho de 2001

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No ta s de pro gr a ma

HUGO VASCO REIS RIZOMA, para Violino, Violoncelo e Piano _2018

FERNANDO LOPES-GRAÇA IN MEMORIAM BÉLA BARTÓK, O tributo a Bartók, um dos compositores de referência para Lopes-Graça, OP. 126 - SUITE Nº 8, para Piano Solo _1960-1975

é o mais certo indício da importância que as 8 suites tiveram para ele. O carácter progressivo das peças é típico de uma intenção pedagógica, que referencia como modelo o carácter pedagógico, musical e mesmo ético do Mikrokosmos de Bartók. Em paralelo com obras semelhantes do compositor húngaro, Lopes-Graça espelha de forma inequívoca a sua crença pessoal nas forças dialécticas que impelem a humanidade na direcção de um futuro melhor. Como em Bartók, a pedagogia e a ética, o humanismo e a arte, encontram-se inextricavelmente ligados na música de Graça. A oito suites evoluem, da primeira à última, não apenas em termos de exigência pianística, mas também da complexidade da música escrita (que, por vezes, recorre a três pautas simultâneas), da riqueza estética e da própria duração das peças (vejam-se oa quase 20 minutos da suite nº 8). Problemas de resistência física e complexos enigmas musicais associamse às dificuldades puramente técnicas para tornar esta viagem musical acessível só a intérpretes de eleição.

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A reflexão para a criação desta peça, atende ao modelo descritivo de rizoma proposto por Gilles Deleuze e Félix Guattari. Nesse modelo (tal como imaginei a formalização, realização e resultado desta peça), o rizoma prolifera sem hierarquia, numa multiplicidade de linhas que se ligam de maneiras infinitas, sempre no mesmo plano horizontal. A sua estrutura de passagens labirínticas, sem princípio nem fim, sem centro nem periferia, continua. Mergulha num sistema aleatório e em constante variação. Um espaço de encontros imprevisíveis, dedicado a realizar múltiplos processos de troca no seu ambiente. Os seus elementos, sempre autónomos, continuam focados em encontrar novos começos, mobilidade e multiplicidade de linhas em todas as direções. “A questão é produzir inconsciência e, com ela, novos enunciados, outros desejos: o rizoma é esta produção de inconsciente mesmo.” (Deleuze & Guattari, Mil Platôs I)


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C. LAPA

FERNANDO

Nasceu em Vila Real em 1950. Fez os seus estudos musicais no Conservatório de Música do Porto, onde concluiu o Curso Superior de Composição, na classe do prof. Cândido Lima. Nas últimas 3 décadas, criou perto de 300 obras que abrangem quase todos os géneros musicais: concerto, repertório sinfónico e coral-sinfónico, ópera, música de câmara, obras para instrumento solo, bandas sonoras para cinema e teatro. Algumas das suas obras mais representativas e recentes: Variações sobre o Coro da Primavera, de José Afonso, para piano; o ciclo de canções Estuário, sobre 10 poemas de J. M. Mendes, para soprano e piano; in nomine, quinteto instrumental, para os Solistas do Porto; da primeira liberdade, obra para uma grande massa coral e grande orquestra, sobre poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen, na estreia da Sala Suggia da Casa da Música do Porto; storyboard, para piano a 4 mãos; A lágrima e a estrela (sobre conto de Mia Couto), para narração e ensemble instrumental, estreada no âmbito do projecto “Contos Com Música… Música Com Contos” promovido pela Academia de Música de Viana do Castelo; Say beautiful, para septeto de percussão, para o Drumming-Grupo de Percussão; No coração do Porto, sobre poema de Vasco Graça Moura, para coro e orquestra, no centenário da Universidade do Porto; um verso para lá do horizonte, abertura sinfónica para orquestra, encomendada por Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura; Estudos sobre a luz, para piano; oito poemas breves de valter hugo mãe, para soprano e ensemble, para o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa; Trindades, para clarinete e vibrafone; quatro versos de olhar suspenso, para flauta e piano, reflexos das paisagens do Douro; o luar da minha terra (sobre excertos de Teixeira de Pascoaes), para coros e orquestra, para a Rota do Românico; como perder-se em tanta claridade (sobre poemas de Marco Lucchesi) para mezzo-soprano e ensemble, encomenda de Síntese Grupo de Música contemporânea; música para os 3 Autos das Barcas de Gil Vicente, recentemente estreados nos Dias da Música no CCB em Abril de 2018; e muitas outras peças, para os mais variados intérpretes e formações.

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Bio gr a fia s

Leccionou em diversas escolas, como professor de ATC, de Composição, Orquestração e outras disciplinas, nomeadamente no Conservatório de Música do Porto e na Escola Superior de Música e das Artes e do Espetáculo do Porto. Ligado desde há muito ao mundo da música coral, dirigiu o Coro Académico da Universidade do Minho durante 16 anos. Tem participado em inúmeros colóquios e seminários, fazendo palestras em diversas instituições, sendo convidado com regularidade para integrar o júri de diversos prémios e concursos, muitas vezes na qualidade de presidente. Foi colaborador permanente do jornal diário Público, como crítico musical, desde 1994 até 2008. Tem textos publicados em diversos livros, revistas, jornais e rádios.

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Algumas das suas obras são interpretadas em centenas de concertos, tanto em Portugal como no estrangeiro (Espanha, França, Alemanha, Itália, Bélgica, Áustria, Polónia, Hungria, Noruega, Finlândia, Macedónia, Eslovénia, Egipto, Índia, Japão, Singapura, México, Brasil, Canadá, EUA). Diversas obras foram gravadas e transmitidas pela RTP, RDP Antena 2 e outras estações de rádio e televisão nacionais e estrangeiras. Tem partituras editadas em Portugal, em França e na Alemanha; e dezenas de obras gravadas em CD.


Biogra f i a s

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VASCO REIS

HUGO

COMPOSITOR EMERGENTE, seleccionado no Concurso CRIASONS.

VARGAS COMPOSITOR

Hugo Vasco Reis (Lisboa, 1981) é compositor, guitarrista (guitarra portuguesa) e engenheiro (civil). Como guitarrista estudou na Escola de Jazz do Porto, no Conservatório de Música do Porto e na classe particular de Pedro Caldeira Cabral. Como compositor estudou na Escola Superior de Música de Lisboa, com Sérgio Azevedo, Luís Tinoco e António Pinho Vargas, onde se formou em composição. Participou em masterclasses com João Heitor-Rigaud (Portugal), Alicia Terzian (Argentina), Achim Christian Bornhoeft (Áustria), Luigi Abbate (Itália), Ivan Moody (Inglaterra), Åke Parmerud (Suécia), Jaime Reis (Portugal) e Hans Tutschku (Alemanha/EUA). O seu catálogo contém obras para orquestra, música de câmara, instrumentos a solo e electroacústica, sendo interpretadas em várias salas de concertos e premiadas em diversos concursos nacionais e internacionais. Mantém uma intensa actividade como guitarrista e compositor. Editou os álbuns monográficos “Poema Anacrónico”, “Metamorphosis and Resonances” (nomeação SPA | 2017 – melhor trabalho de música erudita), “I am (k)not” e “O Espaço da Sombra”, onde estão gravadas as suas composições, sendo apoiado pelo Ministério da Cultura, DGArtes, Antena 2 e Escola Superior de Música de Lisboa.

ANTÓNIO PINHO Compositor. Licenciado em História, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Completou o Curso de Piano do Conservatório do Porto em 1987 e o Curso de Composição no Conservatório de Roterdão em 1990. Professor de composição na Escola Superior de Música de Lisboa desde 1991 e Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, desde 2006. Doutorado pela Universidade de Coimbra em 2010 em Sociologia da Cultura.

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Bio gr a fia s

Compôs 4 óperas, 3 oratórias para Coro e Orquestra, 18 peças para Orquestra, 28 obras de música de câmara, 8 obras para solistas e música para 5 filmes. Entre as obras mais recentes incluem-se Requiem (2012) Magnificat (2013) De Profundis (2014) Concerto para Violino (2015) Concerto para Viola (2016), Memorial (estreia em Dezembro 2018) e Sinfonia (subjectiva) (estreia em 2019).

CARLOS Carlos Azevedo nasceu em Vila Real, em 1964 estudou composição na Escola Superior de Música do Instituto Politécnico do Porto. Posteriormente estudou com George Nicholson na Universidade de Sheffield, onde obteve o mestrado em composição. A sua lista de obras inclui desde música de câmara, peças orquestrais e para instrumentos a solo. Desde 1997 dirige e toca piano na “Orquestra Jazz de Matosinhos”, tendo também uma grande colaboração como compositor e arranjador. Como pianista de Jazz tem participado em muitos festivais de Jazz e clubes. Actualmente é professor na ESMAE.

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AZEVEDO COMPOSITOR

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Foi condecorado pelo Presidente da República Portuguesa com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique em 1995. Em 2012 recebeu o Prémio Universidade de Coimbra pelo conjunto da sua obra e o Prémio José Afonso pelo disco Solo II. Em 2014 recebeu o Prémio Autores pela sua obra Magnificat para Coro e Orquestra. Publicou os livros, Sobre Música: ensaios, textos e entrevistas (Afrontamento, 2002) Cinco Conferências sobre a História da Música do Século XX (Culturgest, 2008) e a sua tese de doutoramento concluída em 2010: Música e Poder: para uma sociologia da ausência da música portuguesa no contexto europeu (Almedina, 2011). Gravou 10 discos de jazz como pianista/compositor entre os quais os CD duplos, Solo (2008) Solo II (2009). A Naxos editou Requiem & Judas (2014), reeditou em versão digital a ópera Os Dias Levantados (1998) e Verses and Nocturnes (2015) e Monodia (1995) foi reeditado pela Warner (2015).


Biogra f i a s

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FERNANDO LOPES-GRAÇA Fernando Lopes-Graça (1906-1994), um dos principais nomes da COMPOSITOR

criação musical em Portugal, compôs cerca de quarenta obras para piano solo no período entre 1927 a 1991. Sua estreia como compositor foi, aliás, com as “Variações para um tema popular português” (1927), obra escrita para este instrumento e apresentada em primeira audição pelo próprio compositor. Formado em piano pelo Conservatório Nacional de Lisboa, LopesGraça frequentou, em 1927, a Classe de Virtuosidade do pianista português Vianna da Motta, um dos últimos alunos de Liszt. Diferentemente de alguns compositores-pianistas do passado e mesmo de seu tempo, como, por exemplo, Béla Bàrtok a quem LopesGraça reconhecia como uma das suas principais referências no campo da criação, a “carreira de virtuoso do piano” foi abandonada relativamente cedo pelo nosso compositor, “mal tendo até começado” (Azevedo 2010:12). É provável que esta opção de Lopes-Graça se deu pela impossibilidade de conciliar a atividade de concertista com a de ensaísta, crítico, tradutor, regente, professor, atividades que lhe eram solicitadas e que garantiam mais imediatamente sua subsistência, além, sobretudo, do interesse prioritário pela atividade de compositor. Texto extraído de artigo de Ana Cláudia de Assiz, “Entre teclas pretas e brancas: a propósito da escrita pianística de FL-G”, Aveiro 2011

Fernando Lopes-Graça iniciou os seus estudos musicais na sua cidade natal, tendo-os concluído no Conservatório Nacional de Lisboa em 1931. Nessa instituição foi discípulo de piano dos professores Adriano Merea e José Vianna da Motta, estudou composição com Tomás Borba, e ciências musicais com Luís de Freitas Branco. Frequentou ainda o curso de Letras das Universidades de Lisboa e de Coimbra. Iniciou nesta época um notável trabalho como cronista musical, manifestando um raro talento literário e uma ampla cultura. _ 54


Bio gr a fia s

Em 1932 começou a ensinar na Academia de Música de Coimbra, cidade onde permaneceu até 1936. Os anos de Coimbra foram precedidos e encerrados com duas detenções por motivos políticos que o impediram de ensinar em escolas públicas durante os anos posteriores, apesar de ter ganho uma vaga de professor de piano no Conservatório Nacional de Lisboa em 1931.

Em 1937, Lopes-Graça instalou-se em Paris, onde estudou Musicologia na Sorbonne, assistindo às aulas de Paul-Marie Masson e contactou o compositor Charles Koechlin, estudando os seus escritos. Ali escreveu obras para piano, o bailado La Fièvre du Temps e as suas primeiras harmonizações para voz e piano de canções tradicionais portuguesas. Parte da sua produção derivou num “nacionalismo essencial”, nas suas palavras, caracterizado pelo tratamento do material proveniente da música tradicional e pela assimilação dos seus rasgos melódicos e rítmicos. Esta nova tendência denota influências de Bartók e de Falla. Em 1939, de regresso em Lisboa, retomou a sua actividade de cronista musical, musicólogo e professor, iniciando o seu labor como organizador de concertos e maestro coral. Ensinou piano, harmonia e contraponto na Academia de Amadores de Música e constituiu a sociedade Sonata que, entre 1942 e 1960, promoveu a apresentação de programas inteiramente preenchidos por música do Séc. XX. A sua primeira obra importante após o seu regresso de Paris foi o Concerto para piano e orquestra nº 1, Primeiro Prémio Círculo de Cultura Musical 1940. Recebeu a mesma distinção em 1942, com a cantata História Trágico-Marítima sobre textos de Miguel Torga, em 1944, com a Sinfonia per orchestra, e, em 1952, com a Sonata para piano nº 3. Retomou as suas colaborações nas publicações Seara Nova e O Diabo. Participou, com Bento de Jesus Caraça, na organização da Biblioteca Cosmos e publicou vários livros de excertos dos seus artigos jornalísticos e diversos assuntos de carácter musical. Após a Segunda Guerra Mundial, participou activamente no Movimento de Unidade Democrática. Afiliou-se no Partido Comunista Português na década de 40. É de 1945 o seu plano para a organização estatal da música, inédito até à sua publicação em 1989. _ 55

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Neste período modernista do seu percurso criador, recebeu influências de, Schönberg e Hindemith. Nas suas primeiras obras também se destaca um atento estudo da prosódia da língua portuguesa, manifesto nas suas canções de poetas como Casais Monteiro, Régio ou Pessoa. O seu gosto pelos géneros vocais e pela poesia contemporânea foram uma constante ao longo de toda a sua vida.


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Biogra f i a s

Em 1945 começou a composição das Canções Heróicas, que apesar da proibição que impedia a sua execução pública, continuou a compor até 1974, e inclusive em anos posteriores. O Coro do Grupo Dramático Lisbonense, fundado em 1945, foi o antecedente do Coro da Academia de Amadores de Música, fundado em 1950. Para além do trabalho de regência, FLG escreveu para este agrupamento dezenas de harmonizações corais de canções tradicionais portu-guesas. Também em 1945, FLG começou a colaborar regularmente na revista Vértice, onde publicou quatro artigos que balizaram a sua atitude estética e política: “Necessidade e capri-cho da música contemporânea” (1945), “Sobre o conceito de popular na música” (1947), “O valor da tradição nas culturas musicais” e “Valor estético, pedagógico e patriótico da canção popular portuguesa” (ambos de 1949). O seu interesse pela música tradicional continuou presente na sua música da década de 50, nomeadamente na Sonata nº 3 e nas Glosas, ambas para piano. O fim da sua actividade pedagógica na Academia de Amadores de Música, em 1954, foi decidido por um despacho ministerial que proibiu-lhe dar aulas em instituições privadas de ensino. Conseguiu, porém, manter a sua ligação com a instituição através da direcção do Coro, da revista Gazeta Musical (1950-1957), fundada por ele juntamente com João José Cochofel e da edição do Dicionário de Música (1954-8), iniciado a partir do projecto de um dos seus professores, o então já falecido Tomás Borba. Em parceria com Michel Giacometti deu início a um extraordinário trabalho etnomusicológico. Em 1960 foi editado o primeiro volume discográfico da colecção “Antologia da Música Regional Portuguesa” (Trás-os -Montes). Em 1981 foi lançado pelo Círculo de Leitores, o Cancioneiro Popular Português. A produção posterior de FLG define uma terceira fase iniciada na segunda metade da década de cinquenta, e marcada por obras como o ciclo vocal As mãos e os frutos (1959), sobre poemas de Eugénio de Andrade, o quinteto com piano Canto de Amor e de Morte (1961), e a Sonata para piano nº 5, escrita em 1977. Estas três obras contam-se entre a produção mais intensa e exigente em termos formais e expressivos do compositor.

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Bio gr a fia s

Embora nunca abandonasse completamente as referências à canção tradicional, FLG passou a explorar intensivamente naqueles anos o ritmo e a harmonia, utilizando um número reduzido de intervalos, em estruturas mais elaboradas. Esta é também a época do Concerto da camera col violoncelo obbligato - encomenda de M. Rostropovich, que o estreou em Moscovo - e do Quarteto de cordas nº 1, vencedor do Prémio Rainier III de Mónaco em 1965.

Os anos transcorridos desde 1974 até ao seu falecimento foram para Lopes-Graça criativamente muito férteis. São prova disso as duas sonatas para piano, um quarteto de cordas, o Requiem para as vítimas do fascismo em Portugal (1979) e as Sete predicações de “Os Lusíadas” (1980), o bailado Dançares, a Sinfonietta em homenagem a Haydn, e numerosas canções. Da sua última produção para voz e piano, destacam-se os Dez Novos Sonetos de Camões, Aquela nuvem e outras (sobre poemas infantis de Eugénio de Andrade) e canções sobre textos de Fernando Pessoa e de José Saramago. Nos anos 80, FLG cultivou formações instrumentais que não tinha trabalhado antes (Sete Apotegmas e Geórgicas). Indiscutivelmente, Fernando Lopes-Graça é uma das figuras cimeiras da música portuguesa do Sec. XX.

Nota de Alejandro Erlich Oliva, por extrapolação e complementação de texto de Teresa Cascudo

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Nesse ano foram gravadas pela primeira vez obras sinfónicas da sua autoria interpretadas pela Orquestra do Porto (Dir.: Mtrº. Silva Pereira). Com o 25 de Abril veio o reconhecimento oficial da importância de Lopes-Graça para a cultura portuguesa através de diversas homenagens e encomendas estatais. No que diz respeito à divulgação da sua obra, devemos referir a reedição, ao longo das décadas de 70 e de 80, dos seus livros numa colecção da Editorial Caminho e a gravação em disco de um considerável número de obras da sua autoria, editadas pela etiqueta discográfica Portugalsom, então dependente da Secretaria de Estado da Cultura.


Programa cinco



Co m p o s i t o r Resi de n t e

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LIM A

CÂNDIDO

“Para além da música - memórias e afectos” _ 60


Programa

SONATA - 1º ANDAMENTO, para Violino e Piano (2015)

António DE SOUSA DIAS

CINCO CIRCUNSTÂNCIAS, para Clarinete e Piano (1995)

Arouca, 1952 Lisboa, 1959

(Dedicada a Cândido Lima)

Pascal DUSAPIN Nancy, 1955

CANTO (POEMA DE GIACOMO LOMBARDI), para Soprano, Clarinete e violoncelo (1994) (Dedicada a Cândido Lima)

Ângela LOPES

DUAS CANTIGAS DE AMIGO (SOBRE POESIA DE D. SANCHO I E DE ANÓNIMO), para Clarinete, Violino, Violoncelo, Soprano e Piano (2004)

Iannis XENAKIS

MORSIMA - AMORSIMA, para Violino, Violoncelo, Contrabaixo e Piano (1962)

Camila MENINO

PRIMEVO, para Flauta, Clarinete, Violoncelo e Contrabaixo (2018)

Arada, 1972

Braila, 1922 – Paris, 2001

Porto, 2001

(Obra em estreia absoluta, composta para o Festival Criasons)

Cândido LIMA

Vila de Punhe, 1939

CADERNOS DE INVENÇÕES (SÉRIE B) SONS PARA DESCOBRIR - TÍTULOS PARA INVENTAR 10 miniaturas para Ensemble variável: Flauta, Clarinete, Violino, Violoncelo, Contrabaixo, Voz (vocalizo/ad libitum), Piano (2007-2010) (Obra dedicada aos músicos deste programa e ao mundo anónimo de milhares e milhares de jovens músicos das escolas de toda a parte – em estreia absoluta)

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Fernando VALENTE


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“Para além da música - memória e afectos” Entre as infindáveis possibilidades de agregação de obras para um programa de concerto no contexto do Festival CRIASONS, optei por reunir obras e autores que são o reflexo dos afectos e das memórias que me enriqueceram como pessoa e como músico ao longo da vida. O título “Para além da música-memória e afectos” significa isso, significa uma panorâmica de todos os afectos e memórias de que se rodeia a nossa existência. Dessas vivências e experiências pessoais, de músico e de pessoa, com os compositores e com as compositoras do programa, misturam-se amizades e cumplicidades entre discípulos, amigos, mestres, colaboradores, tudo colorido pelo conhecido e pelo desconhecido de gerações distantes no tempo, com os extremos entre o gigante Xenakis e a jovem Camila Menino, “compositora emergente” do Projecto de CRIASONS. A instrumentação do programa tem origem nas obras de Xenakis (mestre e amigo de décadas, no Olimpo desde 2001), Pascal Dusapin (companheiro de “escola” nos bancos da Universidade de Paris, nos seminários de Xenakis de Saint-Charles) e António de Sousa Dias, cujas obras são dedicadas a Cândido Lima, todas as outras, vindas de cumplicidades antigas, do discípulo-colega Fernando Valente (que em tempos de estudante me havia dedicado também uma obra!), confluindo essa relação afectiva e institucional, anos depois, na coabitação de docência na mesma Instituição (Conservatório de Música do Porto) de outra discípula de geração posterior, a compositora Ângela Lopes. Os contrastes de perspectivas musicais e estéticas do programa, entre amigos e amores, exprimem o fascínio meu pela coexistência de que se deveria alimentar também o mundo moderno. O programa é, assim, uma manifestação de liberdade e de independência “Para além da música, da memória e dos afectos”. Nele coabitam, classicismo (Fernando Valente), novas acústicas (Sousa Dias), ciências e tecnologias (Xenakis), lirismo de ontem e de sempre (Dusapin e Ângela Lopes), juventude face à modernidade (Cândido Lima).

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No ta s de pro gr a ma

VALENTE

FERNANDO

SONATA “FRACTA/FREITA” - 1º ANDAMENTO, para Violino e Piano

O 1º andamento teve a sua primeira apresentação pública em 2015 e a audição integral em 2017 com interpretação de Suzanna Lidegran (violino) e Eduardo Resende (piano). As indicações metronómicas são as que escolhi ao escrever a obra; a interpretação “ao vivo” pode não respeitar em absoluto o que está marcado, poderá ser ligeiramente menos rápido, desde que as características se mantenham com uma boa interpretação e não perca a vivacidade. Creio que a gravação existente demonstra isso mesmo. Deverá ser comunicado aos intérpretes. Esta é a nota do compositor a uma música cujo vocabulário e perfil se enquadram nos moldes da escrita clássica e neoclássica. A melodia, o ritmo, a escrita violinística e pianística assim e o revelam, criando uma atmosfera de grande energia e de grande jovialidade, entroncando-se, em muitos momentos, no espírito das tocatas modernas, aqui obedecendo à ordem imposta pela estruturação de um pensamento rigoroso, rico de contrastes marcados por grande coerência de linguagem e de unidade de pensamento que provêm da estruturação da grande forma clássica da forma-sonata. Originário da região (Arouca), é de imaginar, que pelo, sub-título, o compositor quis evocar a fantástica e memorável Serra da Freita, que um dia atravessei como por abismos!

ANTÓNIO de SOUSA DIAS CINCO CIRCUNSTÂNCIAS, para Clarinete e Piano _1995

“Circunstância: Particularidade que acompanha algum facto, alguma coisa [...] Diz-se do estado actual e temporário [...] Conjuntura, momento, ocasião [...] Diz-se do que é adequado ao momento, à quadra, e não se destina geralmente a perdurar [...].” («Circunstância», Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol VI, Lisboa: Editorial Enciclopédia, Limitada.)

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_2015

A obra “Relevos” (Moderato) é o 1º andamento de Fracta/Freita, composição em três andamentos para violino e piano.


Not a s d e p ro g ra m a

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Misteriosamente, as circunstâncias, apesar da sua efemeridade, contêm uma estranha propriedade: a de poderem interferir, muitas vezes, de forma mais decisiva na nossa vida do que as coisas premeditadas, os planos, os projectos a longo prazo. E é assim, que uma obra, na qualidade de circunstância, se transforma num lugar privilegiado, momento de encontro entre os seus intérpretes e outros dois: o compositor e o ouvinte. Tal como esta obra: escrita para a presente ocasião, corresponde às preocupações musicais do seu autor neste específico momento, e é dedicada com toda a amizade e apreço ao seu amigo Cândido Lima.

DUSAPIN

PASCAL

CANTO (POEMA DE GIACOMO LOMBARDI), para Soprano, Clarinete e Violoncelo _1994

“Canto tira o seu nome do poema de Giacomo Leopardi Canto della Fanciulla. E se sabemos que a maior parte da sua obra poética é habitualmente reunida sob o título de Canti, ser-me-ia fácil retirar o título em forma de homenagem. Naturalmente dedicada à voz, Canto não é só uma partitura para voz feminina acompanhada por um clarinete e por um violoncelo. Cada músico desenvolve uma linha delicada e sinuosa, de um perfil predominantemente descendente, como um lamento doce e tímido numa longa melodia a três vozes. Inútil adiantar que a escolha de um texto é raramente inocente para um compositor”. Assim fala Pascal Dusapin desta obra, dedicada ao amigo Cândido Lima, desde os tempos em que ambos seguiam os seminários de Xenakis no Institut d’Art et de Sciences de l’Art, Rue de Saint-Charles (Université de la Sorbonne-Paris 1). A obra está estruturada sobre letras do nome do amigo, que lhe dedicou, dez anos depois, Canto a Leopardi, sobre poema de Fernando Pessoa, estreada em Paris num concerto Pascal Dusapin-Cândido Lima, na presença de ambos os compositores.

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No ta s de pro gr a ma

XENAKIS

IANNIS

MORSIMA - AMORSIMA, para Violino, Violoncelo, Contrabaixo e Piano

Com efeito, duas tendências marcantes da segunda metade do século caracterizavam-se pela extrema pulverização dos sons no espaço, no tempo e na percepção auditiva. Eram a diagonalidade ou obliquidade dos sons no espaço levadas ao máximo grau de escrita: de forma linear, em contraponto tradicional, através do “sistema serial” (Boulez), de forma não linear, por “nuages”, processos matemáticos, através da estocástica (Xenakis). Época de rupturas e convulsões em todos os sentidos nos anos 50, esta obra vai mais longe nessas rupturas e nesse visionarismo. Interessado pelas leis das probabilidades em música, domínios de que ouvira falar na École Normale des Hautes Études, tentou em várias obras fundir ciência e música, aplicando novas técnicas na sua actividade de compositor. É a época da “música estocástica” que deu origem ao rótulo de “matemático” a um dos maiores inovadores e compositores da história da música. Características deterministas e abstractas das obras revolucionárias da primeira fase da sua produção, garantiram-lhe o anátema permanente do epíteto de matemático, numa visão redutora e romântica de fuga de processos que pudessem por em causa os padrões conceptuais e musicais da pureza da melodia e da harmonia clássica. Conservadores e e vanguardistas “seriais” assim se comportaram. Características graníticas transfiguradas, afinal, em obras colossais sobre grandes poemas clássicos, ou simplesmente em obras música de câmara e de grandes orquestra sinfónicas. A obra do programa pertence a essa época, em que se tornou pioneira pela intromissão do computador na música. Morsima-a-Morsima: ‘Moros’ destino, morte; ‘Morsima’ - o que vem do destino; ‘Amorsima’ (o ‘a’ significando negação) - o que não vem do destino. Nesta partitura o autor aplica o mesmo programa ST / 10 (“Stochastique pour 10 instruments”) que aplica para obras para diferentes instrumentos. A obra foi calculada pelo cérebro eletrónico 7090 IBM, em Paris, usando um programa estocástico especial (probabilístico) criado pelo compositor.

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_1962

Morsima-Amorsima pertence a uma época de máximo afastamento da escrita clássico-romântica que se estendeu por décadas do séc. XX.


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Not a s d e p ro g ra m a

Este programa deriva daquilo a que Xenakis chama o “mínimo de regras” em composição, teoria já formulada com Achorripsis, para 21 instrumentos, mas foi apenas quatro anos mais tarde que sua “mecanização” se tornou possível na IBM em França. As características do som e outros elementos são injectados no computador, que tudo define numa sequência calculada previamente. Pierre Barbaud chamou a esta música de “algorítmica”, determinista. Xenakis deixa ao computador parcialmente a “responsabilidade” do resultado, pois vêse nessa injecção de matéria prima a mão do compositor, da sua imposição ao computador um retorno musical para além do imprevisível e determinista. Há alguma intervenção do músico no processo. É a época da estocástica que desapareceu com as grande obras sinfónica e coral-sinfónicas (“mas eu tenho um cérebro probabilista”; “J’ai des probabilités dans le sang”, disseme ele um dia, apesar das monumentais obras pós-estocástica!). Esta obra foi estreada em Portugal, nos Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea, em 1988, pelo Grupo Música Nova, dirigida por Cândido Lima, com os músicos: Alberto Gaio Lima (in memoriam), violino, Paulo Gaio Lima, violoncelo, Adriano Aguiar, contrabaixo e Francisco Monteiro, piano).

MENINO

CAMILA

PRIMEVO, para Flauta, Clarinete, Violoncelo e Contrabaixo _2018

“Primevo, é o título que gostaria para esta obra. O significado desta palavra anda em torno de “estar na origem de algo”, “primeiros tempos”, algo que associo a esta nova etapa na minha vida (a composição). Visto que este é um grande desafio que de certeza ficará marcado no meu percurso enquanto estudante, acho importante considerá-lo desta forma”. É este breve texto enviado pela “compositora emergente”. Jovem instrumentista, mereceu a sua presença no Festival pela capacidade criativa, genuína e intuitiva de se exprimir fora das suas zonas de conforto, as suas intervenções regulares em grupos instrumentais e a sua actividade nuclear de trompetista. Sem grande passado na experiência como compositora, confessa-se entre duas realidades: a sua vida intensa como intérprete e as tentações do mundo da composição musical, tudo entrelaçado com o seu quotidiano de estudante.

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No ta s de pro gr a ma

LIMA

CÂNDIDO

CADERNOS DE INVENÇÕES SONS PARA DESCOBRIR -TÍTULOS PARA INVENTAR,

para Ensemble variável: Flauta, Clarinete, Violino, Violoncelo, Contrabaixo, Voz (vocalizo/ad libitum), Piano _2007/2010

Introdução à música contemporânea Cadernos de Invenções é um conjunto de cadernos (82, até agora) de 10 pequenas peças, cada um para diversos instrumentos. Peças breves como aforismos, como epigramas, abstractas, à maneira dos Prelúdios, e das Invenções de Bach, ou de miniaturas que compositores do séc.XX escreveram por entre obras de grandes proporções. Os jovens músicos, as novas gerações de instrumentistas são os seus destinatários principais, mas os públicos-alvo são todos os públicos, executantes e ouvintes, jovens e adultos, estudantes e profissionais, através da sua própria prática como músicos e como instrumentistas. Estes cadernos poderiam integrar os próprios curricula (currículos), criando assim uma união entre a prática do instrumento num novo repertório, a criação de novos hábitos auditivos e a prática de novos sons, novas sonoridades, novas combinações de harmonias, de melodias, de ritmos, de timbres, de espaços. Estas pequenas peças ajudarão também a compreender o modo como o compositor cria, projecta, amplia e estrutura as suas ideias, como organiza a forma e como constrói as suas arquitecturas sonoras. É o desafio dos sons para descobrir.

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Os seus diálogos à distância com o seu mentor, programador deste concerto, situa-se num compromisso entre os seus afazeres intensos no campo escolar, no campo da actividade instrumental na escola e fora da escola, e os primórdios da aventura de compositora em embrião em diálogo internético com o compositor. Daí o título e o que ela dele diz, de forma lúcida e humilde. Obra in progress ou in fieri, daí este texto realista e premonitório sobre o desconhecido. Para esse nascimento e crescimento dessa obra ainda em gestação (quando este texto está a ser redigido), a jovem estudante escolheu a seguinte formação instrumental: flauta, clarinete, violoncelo e contrabaixo.


Not a s d e p ro g ra m a

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O compositor convida o jovem, a criança e o adolescente ao espaço dos títulos para inventar, estimulados pela atmosfera de cada página que toca, passando assim do abstracto para o concreto, da neutralidade descritiva para mundos visuais e poéticos palpáveis, num exercício pessoal de criatividade e de diálogo com o compositor e com o ouvinte. As suas experiências visuais do dia-a-dia serão a fonte de inspiração. Estes cadernos são ainda uma peculiar introdução à música contemporânea, pela execução, pela análise, pelo solfejo, uma forma simples e um caminho de fácil acesso à música dos grandes criadores: Olivier Messiaen, Pierre Boulez, Luciano Berio, Iannis Xenakis, Karlheinz Stockhausen, Gyorgy Ligeti, Luigi Nono, Bruno Maderna, John Cage e tantos outros génios da moderna e antiga criação musical, incluídos os grandes praticantes das novas tecnologias. O passo seguinte será ouvi-los nas suas obras, entreabertas aqui em paisagens e histórias musicais de breves instantes. O piano tem um papel central, pois contém, além dos elementos de técnicas de escrita e estilísticos descritos acima, uma função de envolvente do instrumentista na Série A para principiantes. Sem problemas técnicos a superar, o solista absorverá, sem dar por isso, toda a informação musical vinda do piano, verdadeiro veículo transmissor de gramáticas e de atmosferas. A Série B, para níveis mais avançados, retoma os materiais de A e desmontaos projectandos em novas formas e sonoridades. (Ver mais textos descritivos sobre a obra e as suas aplicações, como instrumento de pedagogia e como espectáculo)

Cândido Lima - Porto, 26 de Julho de 2010

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Bio gr a fia s

CÂNDIDO

LIMA

Fundou o GMN. Autor da gravação de Arts/SciencesAlliages de Xenakis. Música para diversas fontes sonoras e grupos corais ou instrumentais. OCEANOS e A-MÈR-ES introduzem na música para orquestra o computador e electroacústica. OCEANOS teve destaque na Tribuna Internacional de Compositres da UNESCO, e A-MÈR-ES foi reouvida no Festival Música Viva de Miguel Azguime em 2019. Formou, com o tenor Fernando Serafim, um duo nas décadas de 60/70. Editados escritos de diversa índole, e em CD/LP: Sond’Ar-te, Performa, Música no Tempo, Atelier de Composição, MPMP, Síntese, GRAMA001, Plancton, SEC/MC, Matosinhos, GMN, Casa da Música, Coimbra-Capital da Cultura, Póvoa de Varzim, etc. Foi estreada em 2009 a obra multimédia MÚSICAS DE VILLAIANA-coros oceânicos, encomenda da Câmara de Viana do Castelo, nos 750 anos do Foral, de onde surgiram diversas obras editadas em CD.

Cândido Lima, Outubro 2018

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Actividade em composição, instrumentos, ensino, investigação, ensaio, conferência, jornalismo, animação cultural, divulgação. Diplomado em Piano e Composição pelos Conservatórios de Lisboa e Porto. Doutorado pela Universidade de Paris I e Paris IV. Frequentou cursos internacionais, cursos de música electrónica e informática musical, nas Universidades de Paris VIII, Paris I e II, no CEMAMu, e no IRCAM. Bolseiro da Fundação Gulbenkian e da SEC/MC. Escreveu nas Enciclopédias Verbo e na imprensa. Televisão e rádio séries de programas. Director e professor dos Conservatórios de Braga e Porto, Professor Coordenador da ESMAE/IPP.


Biogra f i a s

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MENINO

CAMILA

COMPOSITOR EMERGENTE, seleccionado no Concurso CRIASONS.

VALENTE COMPOSITOR

Camila Menino iniciou os seus estudos musicais na escola da Banda Musical de Gondomar, com 8 anos, na classe de violino da professora Vânia Bajão, durante 4 anos. Em 2011 ingressou no Ensino Articulado de Música na Academia de Música de Costa Cabral na classe de trompete do professor Telmo Barbosa, e, em 2013, no Ensino Integrado, onde concluiu o 5º grau. Em 2016, ingressou no Curso Profissional de Instrumentista de Sopro e Percussão na Escola Profissional de Música de Espinho na classe de trompete do professor Ivan Crespo, onde se encontra atualmente no 7º grau. Nos anos de 2017 e 2018 venceu o 1º prémio e menção honrosa na 8ª e 9ª Edição do concurso “Prémio de Composição Séc. XXI”. É a mais jovem dos “compositores emergentes” do Festival.

FERNANDO Fernando Valente, natural de Arouca (n. 1952), é diplomado em Composição pelo Conservatório de Música do Porto na classe do professor Cândido Lima. Lecciona no referido Conservatório a disciplina de Análise e Técnicas de Composição, e nele tem exercido várias funções na sua organização pedagógica. Tem obras escritas para instrumentos a solo para grupos de câmara e orquestra; obras para canto e piano, para coro e piano/órgão/metais/orquestra; obras de música profana e sacra para coro misto a capella; música para grupos infantis e juvenis com acompanhamento instrumental. A obra “Relevos” (Moderato) é o 1º andamento de “Fracta/Freita”, sonata em três andamentos para violino e piano. O 1º andamento teve a primeira apresentação pública em 2015.

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Bio gr a fia s

ANTÓNIO DE Compositor, artista multimédia, professor e investigador, António SOUSA DIAS

Actualmente, o multimédia, a instalação e a criação visual encontramse nos seus focos de interesse, assim como a recuperação de obras musicais (através de transcodificação ou transferência tecnológica). É Professor Associado na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa.

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COMPOSITOR

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de Sousa Dias é doutorado em Estética, Ciências e Tecnologias das Artes - Música e diplomado com o Curso Superior de Composição. É autor de obras explorando diversas formações e géneros bem como de música para filmes. A performance e o teatro musical também desempenham um papel importante no seu percurso, donde a colaboração com grupos como: ColecViva, Grupo Música Nova e Les Phonogénistes.


Biogra f i a s

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DUSAPIN COMPOSITOR

PASCAL Pascal Dusapin realizou estudos em Música, Belas Artes, Ciências e Estética na Universidade Sorbonne-Paris. Entre 1974 e 1978 frequentou os seminários de Composição de Xenakis, e entre 1981 e 1983 foi bolseiro da Villa Médicis, em Roma. As influências da música de Xenakis, de Varèse e de Donatoni marcam a estética do compositor. Notável sinfonista, foram-lhe atribuídos muitos prémios ao longo dos anos. Homem dramático e romântico, reflete-o em toda a sua música, das obras para instrumento solo às grandes formações orquestrais. Dusapin exprime-o em Medeia Material, Perelà-Uomo di Fumo, To Be Sung, etc. Algumas obras foram apresentadas pela primeira vez em Portugal pelo Grupo Música Nova de Cândido Lima, a quem Dusapin dedicou a obra CANTO.

LOPES COMPOSITOR

ÂNGELA Concluiu a licenciatura e o CESE na ESMAE, Porto, em 2000, na classe de composição do professor Cândido Lima. Em 2004 iniciou o Doutoramento na Universidade de Aveiro, sob a orientação de João Pedro Oliveira e de Mário Mary (Universidade Paris VIII). Em 2010 efetuou provas de profissionalização em Composição, obtendo a maior qualificação. Participa na realização técnica em diversas obras de Cândido Lima. Colabora nos festivais Música Viva e DME. Colaborou na projecção electroacústica das obras Madonna of Winter and Spring de Jonathan Harvey, Casa da Música, e Mixtur de Karlheinz Stockhausen, Mosteiro dos Jerónimos (Música Viva 2007/ 2008). Compõe para formações diversas e música electroacústica com encomendas de vários grupos portugueses.

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Bio gr a fia s

IANNIS

Xenakis será sempre rotulado de “matemático” pelos movimentos que ignoram obras colossais sobre textos clássicos como Medea, Oresteia, A Colone, ou obras como Phlegra, Kraanerg, Jonchaies, ou audiovisuais como os Polytope e o Diatope, etc. Musique-Sciences-Alliages foi editada a partir da gravação feita por Cândido Lima, numa das salas da Sorbonne, em 1977. Era a defesa de tese de Doctorat d’État. Michel Serres e Olivier Messiaen faziam parte do júri.

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XENAKIS COMPOSITOR

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Figura mundial, dos maiores criadores da história compõe, em 1954, Metastasis, uma das obras pioneiras do séc. XX, origem gráfica e plástica do Pavilhão Phillips, da Exposição Universal de Bruxelas, em 1958. Entre numerosos prémios, avulta o Prémio Quioto, equivalente ao Prémio Nobel em Música.


Programa seis



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Co m p o s i t o r

Resi de n t e

ALEJANDRO ERLICH OLIVA

“Argentino em Portugal”

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Programa Alejandro ERLICH OLIVA Buenos Aires, 1948

TRÊS AIRES ARGENTINOS, para Quarteto de Cordas (2015)

(Obra dedicada ao Quarteto Lopes-Graça), Preludio y Zamba, Baguala, Divertimento Chamamecero

(obra em estreia absoluta, nesta versão) (In Memoriam Ángel Lasala)

TRES DANZAS ARGENTINAS, para Quarteto de Cordas (2018)

(Obra dedicada ao Quarteto Lopes-Graça – em estreia absoluta), Chacarera con Preludio, Zamba de muy lejos, Cueca Cabo de Vila

Samuel PASCOAL

OPUS BREVIS, para Quinteto de Cordas (2018)

Diego KOVADLOFF

CANÇÃO SOBRE POEMA DE JOSÉ LUÍS PEIXOTO, para Soprano e Quarteto de Cordas (2018)

Santarém, 1986

Buenos Aires, 1968

(obra em estreia absoluta, composta para o Festival Criasons)

(Obra dedicada a Natasa Sibalic e ao Quarteto Lopes-Graça, em estreia absoluta, composta para o Festival Criasons)

Constança CAPDEVILLE

AMEN PARA UMA AUSÊNCIA, para Contrabaixo Solo

Alejandro ERLICH OLIVA

TRÊS CANÇÕES, para Soprano e Quarteto de Cordas (2016)

Barcelona, 1937 – Lisboa, 1992 Buenos Aires, 1948

(Obra dedicada a Alejandro Erlich Oliva)

Florbela Espanca (1894-1930) - “A Vida e a Morte” Marquesa de Alorna (1750-1839) - “Sozinha no Bosque” Natália Correia (1923-1993) - “Do Dever de Deslumbrar” (Obra dedicada a Natasa Sibalic)

Alberto GINASTERA

Buenos Aires, 1916 - Genebra, 1983

QUARTETO DE CORDAS COM SOPRANO, Nº 3, OP. 40, (1973) Contemplativo, Fantastico, Amoroso, Drammatico, Di nuovo contemplativo

Astor PIAZZOLLA

Mar del Plata, 1921 - Buenos Aires, 1992

KICHO

Transcrição livre de Alejandro Erlich Oliva para contrabaixo e quarteto de cordas.

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PEQUEÑA CANCIÓN Y DANZA, para Contrabaixo e Quarteto de Cordas (2017)


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“Argentino em Portugal” Este programa enquadra-se numa evidente confluência de critérios estéticos, históricos e pessoais. A matriz autoral é argentina e portuguesa, como corresponde à minha condição de residente e admirador do generoso país que me recebeu de braços abertos em 1976, ano em que a Argentina mergulhava na tragédia de uma feroz ditadura. A escolha dos compositores simboliza a permanente passagem de testemunho e a troca de influências estilísticas que caracterizam desde sempre o devir da cultura. Seja qual for a sua linguagem, o criador artístico jamais parte do nada, do zero absoluto. Nesse sentido, tornou-se famosa a expressão com que Piazzolla rende tributo aos seus três mestres: “...Alberto Ginastera, Nadia Boulanger e a Cidade de Buenos Aires...”. Constança Capdeville desenvolve em Portugal o moderno conceito de TeatroMúsica, a partir das fascinantes experiências de Teatro-Dança realizadas por Pina Bausch em Alemanha. Pela minha parte e com sincera humildade, homenageio na minha Pequeña Canción y Danza a memória do insigne compositor argentino Ángel Lasala, um dos meus mais inesquecíveis professores, e apresento em primeira audição um segundo quarteto dedicado ao Quarteto Lopes-Graça. Ao mesmo tempo, convido o meu compatriota, discípulo e querido amigo Diego Kovadloff para apresentar uma obra em primeira audição mundial. Todo este jogo de influências artísticas e de relações de aprendizagem recíproca não estaria completo sem a presença de uma figura portuguesa emergente, factor que constitui a razão de ser do FESTIVAL CRIASONS 2018-2019. O jovem compositor português Samuel Pascoal é um dos seis laureados no Concurso de Compositores Emergentes, escolhidos por um júri sério, objectivo e rigoroso do qual tive a honra e o privilégio de fazer parte. Quero expressar aqui o meu sincero reconhecimento aos grandes intérpretes que dão vida a este concerto. Todos e cada um deles merecem uma chapelada de admiração pela alta qualidade do trabalho apresentado.

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No ta s de pro gr a ma

ALEJANDRO ERLICH OLIVA TRÊS AIRES ARGENTINOS, para Quarteto de Cordas _2015

Três formas musicais tradicionais do folclore rural argentino estão na base destes “aires”: Zamba e Baguala - oriundas da região Noroeste - e Chamamé, proveniente da Mesopotâmia.

A minha abordagem respeita o carácter destas danças, mas não responde às estruturas métricas, por esse motivo utilizo a denominação “aires”. O prelúdio inicial é uma propositada subversão: a zamba não tem prelúdio. Este quarteto, dedicado ao Quarteto Lopes-Graça, foi estreado no Teatro Colón de Buenos Aires em 2015 e posteriormente interpretado em Amsterdão (Temporada Amstelkerk) e em várias cidades portuguesas.

PEQUEÑA CANCIÓN Y DANZA, Este breve díptico está dedicado à ilustre memória do compositor e pedapara Contrabaixo e Quarteto de Cordas

gogo argentino Ángel Lasala (1914 - 2000), o meu inesquecível professor de Música de Câmara no Conservatório Municipal “Manuel de Falla” de Buenos Aires.

Tomo o título de uma obra da sua autoria para contrabaixo e piano que tive a honra de estrear em Buenos Aires nos anos 70. Apesar da sua brevidade, os dois “andamentozinhos” da minha minimal peça denotam logo a sua origem: a canção é uma baguala e a dança é uma chacarera.

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Zamba: dança de subtil sedução em ritmo sereno de 6/8 que por vezes se comporta agogicamente como 3/4. Para além de uma dança, é também um género de canção. A estrutura métrica é nitidamente estrófica e cada estrofe tem 12 compassos. Baguala: forma quase exclusivamente vocal, é um lamento lento e pesante em 3/4, com referência metronómica de semínima a 60, aproximadamente. Chamamé: a mais difundida dança da Mesopotâmia Argentina (províncias de Entre Ríos, Corrientes e Misiones). É viva, alegre e assumidamente polirrítmica (permanente interacção de 3/4 e 6/8). O homem e a mulher dançam abraçados, com movimentos precisos e elegantes.


Not a s d e p ro gra m a

TRES DANZAS ARGENTINAS,

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para Quarteto de Cordas

É a minha segunda composição para quarteto de cordas dedicada ao Quarteto Lopes-Graça. Escrevi estas danças simultaneamente em dois formatos: piano solo e quarteto de cordas. Apenas foi tocado publicamente o primeiro andamento, com interpretação a cargo da pianista Olga Prats. Utilizei a denominação “danças” para salientar, logo à partida, uma diferença fulcral com os “aires” do meu anterior quarteto: nestas danças respeito escrupulosamente as estruturas formais e estróficas tradicionais, com uma única excepção: o prelúdio inicial. A Chacarera, oriunda da Província de Santiago del Estero, é rítmica, pulsante e enérgica. A Cueca, de origem partilhada entre Argentina e Chile, é veloz, fluída e leve; o subtítulo Cabo de Vila - remota aldeia do Miño Galego onde a escrevi - homenageia a casa dos meus queridos amigos Erik Kirksaether e Cecilia Santamaría, um dos meus refúgios preferidos contra el mundanal ruido.

Florbela Espanca, “A Vida e a Morte” - (1894-1930) Marquesa de Alorna, “Sozinha no Bosque” - (1750-1839) Natália Correia, “Do Dever de Deslumbrar” - (1923-1993) Estas canções constituem a minha homenagem - humilde e sincera - a três grandes nomes referenciais da poesia portuguesa dos Séculos XVIII, XIX e XX. Concordo com a opinião de Natália Correia quando afirmava que a poesia não tem género. Por esse motivo não gostava que se lhe aplicasse o termo “poetisa”; para ela, a definição de quem se expressa através daquela arte devia ser poeta, independentemente do género. A minha escolha destas três enormes criadoras do universo poético lusófono é totalmente intencional. É uma mensagem que faz parte do mensageiro. Numa Europa onde, por exemplo na Suíça, o voto feminino na totalidade do território só foi autorizado já bem ultrapassada a metade do Século XX e num Portugal onde só agora, na segunda década do Século XXI está a ser implementada a lei que se digna incluir as mulheres no nobre princípio “Trabalho igual, salário igual”, não está a mais qualquer gesto coadjuvante da luta pela afirmação e defesa da condição feminina. _ 80

TRÊS CANÇÕES, para Soprano e Quarteto de Cordas

“A vida e a morte” é o primeiro poema de Florbela Espanca, escrito aos oito anos de idade. Em “Sozinha no bosque”, a Marquesa de Alorna exibe um magnífico exemplo de poesia premonitoriamente modernista. “Do dever de deslumbrar” é um dos poemas mais filosóficos da grande escritora e temível oradora parlamentar. O breve, mas intenso, texto culmina com a comovente afirmação da importância existencial da poesia. Tanto quanto sei, nenhum destes três poemas foi até agora utilizado musicalmente para a elaboração de canções. Esta trilogia vocal instrumental está dedicada - com toda a minha admiração artística - à Natasa Sibalic e ao Quarteto Lopes-Graça.


No ta s de pro gr a ma

DIEGO KOVADLOFF CANÇÃO SOBRE POEMA DE JOSÉ LUÍS PEIXOTO, para Soprano e Quarteto de Cordas

Diego Kovadloff

CONSTANÇA CAPDEVILLE AMEN PARA UMA AUSÊNCIA, para Contrabaixo Solo

Enigmática e intimista, esta peça reflecte - apesar da sua brevidade - o mundo feérico da música da Constança, figura ímpar da vida cultural portuguesa. A versão para contrabaixo solo foi extrapolada da versão encenada apresentada pelo Grupo Colecviva, dirigido pela compositora, do qual fui membro fundador. A elaboração e fixação do grafismo da partitura esteve a meu cargo, por expressa indicação da autora. O esqueleto intervalar do material melódico é uma escala modal descendente.

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A musicalização de “Limpar o Pó” não tenciona mais do que enquadrar as belas palavras do poema num contexto musical sentido. Tentei criar um espaço que integrasse o poema naquilo que poderíamos chamar canção breve. Os seus elementos procuram vias de expressão em espaços relacionados com o quarteto - como protagonista e como acompanhador - e também em atmosferas onde a voz, para além de um instrumento melódico central, é em si própria mais um elemento do conjunto instrumental, “como nuvens e cinzas” (parafraseando o poema) que se movimentam discretamente, entre silêncios. O tratamento instrumental do poema não visa um reflexo literal do mesmo mas propõe-se criar complementaridade num espaço não essencial da sua existência; tenciona outorgar-lhe um contexto musical dirigido ao núcleo central da sua densidade simbólica, diluindo-se no âmbito dual da música como significado e como ausência mas, ao mesmo tempo, integrando o texto poético na sua sintaxe carente de palavras. Como compositor não pretendo determinar o que é que está “antes” ou “depois”, mas apenas poder dizer “durante” e gerar qualquer coisa de belo no intento. Agradeço ao Quarteto Lopes-Graça e à Natasa Sibalic o honroso pedido de esta obra e também ao José Luís Peixoto por autorizar a utilização do seu belo poema.


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Not a s d e p ro gra m a

A géstica obedece à doutrina básica defendida pelos militantes do género: o som é o resultado de um gesto, e não ao contrário. Há também uma embrionária actividade vocal do intérprete: assobios, sons fricativos de imitação eólica, canto a bocca chiusa, etc. Os procedimentos não tradicionais de obtenção do som que a obra indica são de alta exigência técnica: friccionar com o instrumento no arco (exactamente ao contrário da técnica normal), procurar “sons industriais” com perfeito controlo dinâmico, etc. Nos pizzicati finais aparece um interessante efeito polifónico de duas vozes divergentes por progressão microtonal.

ALBERTO GINASTERA CUARTETO DE CUERDAS Nº 3, OP. 40, CON SOPRANO

l - Contemplativo - Texto “La Música”, Juan Ramón Jiménez (1881-1958) ll - Fantastico - Instrumental lll - Amoroso - Texto “Canción de Belisa”, Federico García Lorca (1898-1936) lV - Drammatico - Texto “Morir al sol”, Rafael Alberti V - Di nuovo contemplativo - Texto “Ocaso”, Juan Ramón Jiménez Imponente quarteto com soprano, de enquadramento atonal. Uma das mais carismáticas obras da música de câmara argentina. Quatro dos cinco andamentos são cantados, sobre poemas de três “Grandes de España”: Juan Ramón Jiménez (1881-1958), Prémio Nobel de Literatura 1936, Federico García Lorca (1898-1936), jovem vítima do terror franquista e Rafael Alberti (1902-1999), Prémio Nacional de Literatura de Espanha 1925 e Prémio Cervantes 1968. A escolha de Ginastera não é inocente: os três grandes poetas eram firmes opositores da ditadura de Franco. Jiménez e Alberti sofreram o exílio; García Lorca foi sumariamente executado, num dos crimes políticos mais vergonhosos do Séc. XX.

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No ta s de pro gr a ma

ASTOR PIAZZOLLA KICHO, transcrição livre de Alejandro Erlich Oliva para contrabaixo e quarteto de cordas

Esta virtuosística peça está dedicada ao contrabaixista “Kicho” Díaz (19181992), um dos mais valiosos companheiros de estrada de Piazzolla na sua gesta de renovação do Tango.

O tango “Kicho” faz parte da trilogia piazzoliana dedicada ao contrabaixo, junto com “Contrabajissimo”, que gravei com o Opus Ensemble em transcrição do autor especialmente dedicada ao agrupamento e “Contrabajeando”, obra que foi ampliada por Piazzolla com uma longa cadência dedicada a Hamlet Greco, o meu professor. Textos de Alejandro Erlich Oliva

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No ano 2000 o Governo de Buenos Aires auscultou a opinião pública num referendo acerca da cultura, das artes, das ciências, do desporto. Nessa votação, “Kicho” Díaz foi consagrado - a título póstumo - como “o contrabaixista de Tango do Século XX”.


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ALEJANDRO ERLICH OLIVA Nasceu em Buenos Aires em 1948, no seio de uma família de conhecidos músicos. Cursou estudos no Conservatorio Municipal de Música de Buenos Aires “Manuel de Falla”, onde foram os seus principais mestres Hamlet Greco (Contrabaixo), Enrique Belloc (Forma e Análise) Fermina Casanova (Harmonia), Roque de Pedro (Contraponto), Ángel Lasala (Música de Câmara), Mario García Acevedo e Alicia Terzian (História da Música). Frequentou o Camping Musical Bariloche e a International Menuhin Music Academy de Gstaad, Suíça. Nos anos 70 foi laureado Selección Jóvenes Valores Argentinos, 1° Premio Estímulo Cultural e 1° Premio Promociones Musicales. Solista adjunto da Orquesta Sinfónica Nacional em 1974 e 1º Contrabaixo Solista da Orquestra Gulbenkian entre 1976 e 2010. Actuações a solo, recitais, master classes e concertos de música de câmara alicerçaram o seu prestígio ao longo de mais de quatro décadas. Co-fundador do Grupo Colecviva, do Grupo de Câmara do Festival de Estoril e do Opus Ensemble, conjunto que divulgou obras da sua autoria à escala mundial (Portugal, Espanha, França, Luxemburgo, Polónia, Estados Unidos de América, Argentina, Uruguai, Brasil, Japão, China, Macau e Cabo Verde). Outros dedicatários (Olga Prats, Duo Contracello, Stravinstrio, Quarteto LopesGraça e quarteto de saxofones argentino Cuatro Vientos) estrearam obras suas em Lisboa, Castelo de Vide, Buenos Aires e Amsterdão. É sócio da SPA, membro da GDA e sócio fundador de MUSICAMERA Produções.

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Bio gr a fia s

SAMUEL

PASCOAL

COMPOSITOR EMERGENTE, seleccionado no Concurso CRIASONS.

Criou música para todo o tipo de agrupamentos. Várias das suas peças têm sido obrigatórias em concursos de bandas. As suas obras, editadas e gravadas em CD, são tocadas um pouco por todo o mundo (Portugal, Espanha, Suíça, EUA, Canadá, Singapura, Tailândia, China e Costa Rica). É clarinetista na Banda da Armada.

DIEGO Compositor, produtor e baixista, diplomou-se em Jazz & Pop no KOVADLOFF

Goldsmiths’ College (Universidade de Londres), onde cursou a seguir o seu mestrado em Composição. É também licenciado em Filosofia pela University of North London.

Em Portugal, conta desde 1990 com o apoio pedagógico de Alejandro Erlich Oliva como orientador complementar em Composição.

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COMPOSITOR, PRODUTOR E BAIXISTA

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Samuel Pascoal estudou clarinete e percussão no Conservatório de Música de Caldas da Rainha e no Conservatório Nacional. É licenciado em Direção e Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa. Participou em master classes instrumentais e de Direção Orquestral dos professores A. Saiote, L. Gomes, Y. Gilad, V. Rius Marti, F. Meloni, A. Simon, J. Brito, D. Gonçalves, J. Conjaerts, J. S. Béreau, L. Marks, M. Heron, R. Montenegro, S. D. Davis, J. R. Pascual Vilaplana, T. Reed e A. Schillings, entre outros.


Biogra f i a s

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Dedicou obras a destacados intérpretes portugueses (Quarteto Lopes-Graça, Duo Contracello, pianistas Olga Prats e Artur Pizarro), que as apresentaram em Portugal, Amsterdão, Londres e Buenos Aires. Lidera o grupo britânico Lomo como compositor, baixista e produtor da sua própria editora. Foi professor de licenciatura da Academy of Contemporary Music de Guilford e do Institute of Contemporary Music Performance de Londres. Como consultor/examinador da Rockschool Awards de Londres, tem trabalhado na Europa, Àsia e Extremo Oriente. Poeta publicado na Argentina e traduzido para Alemão e Holandês, com leituras públicas em Inglaterra, Alemanha e Argentina.

CAPDEVILLE

CONSTANÇA Compositora, intérprete e professora, diplomada com os Cursos Superiores de Composição e de Piano do Conservatório Nacional.

COMPOSITORA, INTÉRPRETE E PROFESSORA

Foi docente no Conservatório Nacional, na Escola Superior de Música de Lisboa e na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (UNL). Escreveu obras para diversas formações e géneros, desde a orquestra à música de câmara, passando pela dança, teatro e cinema, mas foi na exploração de diferentes aspectos do teatro musical que se tornou mais notória (obras de teatro musical, peças de explicita teatralidade, espectáculos cénico-musicais e concertos encenados). Fundou e dirigiu o Grupo Colecviva. Recebeu a Medalha de Mérito Cultural (1990) e o grau de Comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada (1992, a título póstumo).

Dados biográficos de Constança Capdeville gentilmente cedidos pelo Prof. António de Sousa Dias

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Bio gr a fia s

ALBERTO Provavelmente, o mais importante compositor argentino do Séc. XX.

COMPOSITOR

O seu prestígio internacional garantiu-lhe encomendas de numerosas instituições culturais norte-americanas e europeias. Algumas das suas obras sinfónicas fazem parte do reportório de prestigiadas orquestras sinfónicas mundiais.

ASTOR A sequência pedagógica Athos Palma (1891- 1951), Alberto Ginastera e Astor Piazzolla é uma das vertentes geradoras da melhor música argentina do Séc. XX. Piazzolla encontra o cruzamento certo entre a sua alta formação técnica e o sabor urbano do tango. A mágica fórmula elevou o seu criador à fama mundial. Grande bandoneonista e inspirado compositor, conseguiu tirar o Tango do seu habitat maioritariamente dançante rumo a uma área de contornos difusos: tango “moderno”, jazz latino, world music ou clássico? A força do seu estilo estilhaçou o peso dos rótulos e fez surgir um novo género hoje já reconhecido como o que é: uma mensagem universalista emitida desde a especificidade cultural poliédrica da Cidade de Buenos Aires.

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PIAZZOLLA COMPOSITOR

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Discípulo de Athos Palma, José Gil y José André no Conservatório Nacional de Música de Buenos Aires, a vastidão e a alta qualidade da sua música constituem um monumento cultural de formidável solidez. O seu trabalho pedagógico influenciou várias gerações de compositores (Astor Piazzolla entre eles) e a sua evolução como criador levou-o a percorrer um longo itinerário estilístico, desde o nacionalismo musical até procedimentos associados às tendências mais modernas.

GINASTERA


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Acorde final Este Festival CRIASONS que aqui vos apresentamos é o resultado do esforço colectivo de muitos - compositores, intérpretes, criativos, assessores, colaboradores nas mais variadas áreas, apoiantes, co-produtores e patrocinadores, profissionais de media, som e imagem, editores - muitos a quem, em primeiro lugar, endereçamos o nosso sincero agradecimento. Aos amigos e família que sempre e desde a primeira hora acreditaram e nos apoiaram, a inexaurível gratidão. Ao Público que nos acompanhou - razão primeira e destinatário privilegiado destas inesquecíveis horas de música e convívio – a cada um e vós, um abraço e o desejo de que VOLTEM SEMPRE!

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Apoios

Câmara Municipal de Almada – Convento dos Capuchos Câmara Municipal de Évora – Teatro Garcia de Resende Festival Cister-Música Festival ZêzereArts Lisboa Incomum

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Palácio Foz – Presidência do Conselho de Ministros Câmara Municipal de Seia – Casa Municipal da Cultura




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