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13 CULTURA
Elas nos quadrinhos Site reúne trabalhos feitos por e para mulheres. Cada vez mais as artistas conquistam espaço na produção de arte e cultura no país
Minas Gerais
ENTREVISTA
Dedo de prosa com o narrador Pequetito Em entrevista descontraída, o locutor esportivo conta sua história no rádio, a paixão pelo Cruzeiro e o que acha da Copa no Brasil
27 de junho a 03 de julho de 2014 • edição 43 • brasildefato.com.br/mg • distribuição gratuita
Eficaz
14, 15 E 16
ESPORTES
E a favorita é a América Latina
Midia Ninja
Com sete seleções classificadas para a segunda fase, os países latino-americanos fizeram bonito. Nas páginas 14, 15 e 16 acompanhe uma avaliação da primeira fase, com suas surpresas positivas, negativas e craques. E ainda, notícias sobre a Copa fora e dentro de campo
5 MINAS
3 CIDADES
6 MINAS
4 CIDADES
Jovens cobram políticas nas eleições
Saiba dos direitos dos passageiros
O que conquistaram as greves
Moradia: PBH perde na justiça
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OPINIÃO
Belo Horizonte, de 27 de junho a 03 de julho de 2014
editorial | Minas Gerais
editorial | Brasil
O que querem os camponeses de Minas
A lição de uma vaia
Segundo dados do IBGE (2010), Minas Gerais possui a segunda maior população rural do Brasil, tanto em números proporcionais quanto absolutos. Aproximadamente 15% da população do estado reside na zona rural, 2.882.352 habitantes. Deste total, 24,3% são jovens economicamente ativos. A agricultura camponesa e familiar mineira corresponde a 79% de todos os estabelecimentos rurais, totalizando 437.415 propriedades. Estas propriedades são responsáveis por 32% da produção de café e feijão; 44% da produção de arroz; 47% da produção de milho e 83% de toda a produção de mandioca. Destaca-se também a produção pecuária e leiteira, sendo a agricultura camponesa familiar responsável por 48% da produção de leite. Mesmo com este potencial socioeconômico permanece o desafio de avançar no desenvolvimento no campo mineiro, já que o governo estadual do PSDB tem priorizado o agronegócio, com o monocul-
O estado precisa de universalizar o acesso dos jovens do meio rural a todos os níveis de escolarização
vada da terra e regularizem todas as terras dos povos e comunidades tradicionais – quilombolas, ribeirinhos, indígenas, vazanteiros, veredeiros e tantas outras expressões no campo mineiro. Priorizando as terras devolutas para o povo, não para o agronegócio. É urgente uma política estadual que garanta os direitos dos atingidos por barragens e pela mineração. O estado precisa de um amplo programa de escolarização no campo para universalizar o acesso dos jovens do meio rural a todos os níveis de escolarização. Aproveitando do momento eleitoral, que seja apresentado à sociedade mineira um novo referencial político de desenvolvimento econômico e social para o campo. Um programa agrícola e hídrico, que priorize a soberania alimentar, com o estímulo à produção de alimentos sadios sem veneno, à diversificação da agricultura, à reforma agrária com ampla democratização da propriedade da terra e distribuição de renda.
As vaias que a presidenta Dilma Rousseff recebeu na abertura da Copa, na presença de inúmeros chefes de Estados e transmitidas pelas redes de televisão ao mundo todo, revelam aspectos do que temos em nosso país.Vaiar autoridades em eventos que reúnem multidões não é nenhuma novidade. No entanto,há singularidades nos xingamentos que atingiram a mulher que, por decisão da maioria da população brasileira, ocupa atualmente o cargo de presidente da República. A mídia noticiou que o xingamento começou na área VIP do estádio e, precisamente, com uma colunista social do jornal O Estado de S. Paulo, presente no camarote do Banco Itaú.O coro do “Ei Dilma, vá tomar no c...” foi promovido pela elite branca, na certeira definição do ex-governador Cláudio Lembo. Uma elite endinheirada, que se regozija com férias em Miami e no parque de Walt Disney. Rica, mas desprovida de educação, civilidade e, mais ainda,
tivo de eucalipto, cana e soja transgênica em grande escala. Diferente da agricultura familiar, o agronegócio destrói o meio ambiente e exige grandes quantidades de venenos agrotóxicos, que prejudicam a saúde e a qualidade dos alimentos. É no agronegócio que se encontra o uso do trabalho escravo, informal e infantil. É comum a exploração dos assalariados rurais sem garantia de direitos trabalhistas, previdenciários e segurança no trabalho. Com suas enormes extensões de terra, o agronegócio privatiza as águas e o direito da pesca, e inviabiliza a pesca artesanal. É preciso medidas que impeçam a concentração da propriedade pri-
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em SP, no Rio e em MG. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.
de valores democráticos. O tucano Aécio Neves e Eduardo Campos (PSB), que sonham em eleger-se para o cargo ocupado hoje por Dilma, trataram de tirar proveito político e eleitoral do ato vergonhoso, dizendo que aquele era um sentimento generalizado no país. O jornalista Juca Kfouri, um dos primeiros a condenar os
A elite endinheirada não admite quaisquer políticas públicas, por mais tímidas que sejam, que beneficiem os pobres xingamentos, foi ouvir os voluntários e trabalhadores presentes no estádio, e estes se somaram aos que criticaram as vaias. Aécio foi lembrado pelo jornalista Renato Rovai que, em 2007, num jogo entre Brasil e Argentina, o mineirão lotado gritou: “ôôô Maradona, vai se f... o Aécio cheira mais que você!”. E agora Aécio? É emblemático o berço daqueles xingamentos raivosos. Tendo começado por uma colunista social do Estadão, convidada especial do Banco Itaú, é a síntese de dois principais protagonistas das bandeiras conservadoras e neoliberais da política brasileira: a mídia e o sistema financeiro. Os xingamentos mostram que a elite endinheirada não admite quaisquer políticas públicas, por mais tímidas que sejam, que beneficiem os pobres. Já é hora de confrontar esses setores conservadores com mudanças mais profundas em nossa sociedade e na forma de governar o país. Iniciando com uma Assembleia Nacional Constituinte Exclusiva, que promova uma reforma política imprescindível para fortalecer a democracia participativa. Mesmo com reformas como essas, ainda haverá xingamentos e falta de civilidade dos setores mais endinheirados dessa elite branca. Mas serão cada vez mais fracos e de poucos.
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CIDADES
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Clássico no Mineirão enfrenta traumas do passado COPA DO MUNDO Alexis Sánchez enfrenta Neymar, seu colega no Barcelona Joana Tavares Chegou a hora de BH receber a seleção brasileira. No sábado, Brasil e Chile jogam pelas oitavas de final no Mineirão. O jogo, que decide quem disputa a próxima fase, deve lotar o estádio. A Belotur estima que 30 mil chilenos passem pela capital, o que deve esquentar a torcida pelas seleções. “Me guardei para este jogo, o principal, o melhor. Acho que vai ser um jogo difícil, mas o Chile vai ganhar. O Chile mete medo”, afirma o empregado público José Valdebenito, que já comemorava vestido a caráter nas ruas da Savassi, na região Sul. Uma das apostas da seleção chilena é o atacante Alexis Sánchez, colega de Neymar no Barcelo-
na. O forte time treinado por Jorge Sampaoli tem como uma de suas vantagens o bom entrosamento dos jogadores, ao contrário da equipe brasileira, altamente dependente do talento de Neymar nas finalizações. “Só a camisa sozinha não vai não. Acho que o Felipão devia colocar o Fernandinho, Paulinho não está bem. Deveria tirar o Daniel Alves e tirar o Maicon. Acho que melhoraria o Brasil. Mas ainda assim o Brasil é um dos favoritos. Joga em casa. Acho que vai dar”, aposta o narrador esportivo Osvaldo Reis, conhecido como Pequetito (leia mais na página 9). Além da pressão da torcida verde-amarela, o time chileno enfrenta ainda o trauma do passado: a
Secopa
Quartas e semifinal Se o Brasil vencer a partida neste sábado, enfrenta o ganhador do jogo de Uruguai e Colômbia, na quarta, em Fortaleza. Se também sair vencedor, vem jogar a semifinal de novo no Mineirão, no dia 8 de julho, às 17h. A última vitória do Chile contra o Brasil foi em 2000
última vitória contra o Brasil foi nas eliminatórias da Copa do Mundo no Japão e Coreia do Sul, no ano 2000. Isso sem falar na derrota na África do Sul, no último mundial, na mesma etapa
Você conhece seus direitos de passageiro? FIQUE DE OLHO Lei que regulamenta viagens de ônibus ainda é desconhecida Da redação Em fevereiro deste ano, a ANTT (Agência Nacional de Transporte Terrestre) firmou regras para viagens de ônibus acima de 75 quilômetros. A resolução 4.282 define direitos e deveres dos passageiros, mas a população ainda os desconhece. Veja abaixo alguns dos benefícios e como fazer quando as empresas descumprem a lei. Lei de gratuidade: idosos acima de 65 anos, crianças até 6 anos e demais pessoas contempladas com o benefício tem dois assentos garantidos em cada viagem ou 50% de desconto na passagem.
Adiar viagem: o passageiro pode desmarcar sua viagem até 3 horas antes do horário marcado e terá um ano a partir da data de emissão para remarcá-la. Neste momento, a empresa está proibida de cobrar tarifas de remarcação caso ela aconteça 3 horas antes da viagem. Cancelar viagem: caso haja desistência da viagem, é possível cancelar e ter o reembolso do dinheiro. Essa devolução tem quer ser feita via formulário, no próprio guichê, e até 3 horas antes da viagem. Caso o guichê não tenha formulário, a empresa fica obrigada a devolver a quantia imediatamente.
Outro trauma também pode ser superado: em 1962 o Chile perdeu em casa, quando sediava a Copa, por 4 a 2 para o Brasil, nas semifinais.
Atrasos: a partir de uma hora de atraso para saída do ônibus, o passageiro tem o direito de requerer transporte através de outra transportadora ou ter o valor da passagem devolvido imediatamente. Nos atrasos acima de 3 horas, a empresa está obrigada também a pagar alimentação e hospedagem. Reclamações: para denunciar alguma violação da lei, a orientação é procurar o guichê da empresa e, persistindo o problema, é preciso entrar em contato com a ANTT através do telefone 166 ou do e-mail ouvidoria@antt.gov.br.
da competição, por três a zero. Mas o bom momento da equipe chilena – que tirou a campeã Espanha do mundial ainda na primeira fase – não deve ser menosprezado pelos brasileiros.
Protestos No quinto jogo da Copa em Belo Horizonte, manifestantes prometem fazer um ato contra os gastos do Mundial. A concentração está marcada para as 10h, na Praça Sete. De lá, o protesto deve seguir para a Savassi.
PERGUNTA DA SEMANA Com o início da Copa do Mundo, Belo Horizonte foi inundada por estrangeiros, que vieram ver seus países jogando e também conhecer o Brasil. A estimativa é que 160 mil estrangeiros passem pela capital mineira. Em véspera de jogo de brasileiros contra chilenos no Mineirão, o Brasil de Fato MG pergunta:
O que você está achando da presença dos estrangeiros?
Eu acho que não atrapalha não, pelo contrário, é interessante ter pessoas diferentes aqui. Estou sentada aqui na Praça Sete, e passam vários estrangeiros pra lá e pra cá, mas não conheci ninguém ainda. Janaína Santos Aparecida, trabalha no lar
Eu fiquei sabendo a questão dos colombianos e bolivianos, que estavam assaltando muitas pessoas. Mas fora as confusões, tem a alegria do pessoal, o que é muito bom. Dá pra ver que todo mundo está se divertindo bem. Renan Júnior, estudante
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CIDADES
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Prefeitura descumpre acordo e é condenada pela Justiça MORADIA PBH deixa 45 famílias participantes da Cohabita na rua Reprodução câmara municipal Bh
Maíra Gomes No início de junho, a Prefeitura de Belo Horizonte perdeu três processos na Justiça, por ter descumprido um acordo, de dezembro de 2013, e deixado 45 famílias na rua. O caso começou em 2010, quando 687 famílias participantes da Cooperativa Habitacional Metropolitana Ltda (Cohabita), do bairro Jardim Vitória, na região Nordeste, doaram um terreno para que a PBH construísse casas pelo programa Minha Casa Minha Vida. “Doamos o terreno em troca de um apartamento para cada um, porque a gente não tinha condição de construir sozinhos. O terreno era nosso e eles sabem disso”, declara Ednéia Aparecida de Souza, uma das cooperadas e atual integrante da diretoria de liquidação da Cohabita. Quando os conjuntos habitacionais ficaram prontos, no fim de 2012, foram entregues 517 apartamentos, deixando 170 famílias de fora. De acordo com as normas do programa habitacional, é permitida a doação de 50% dos imóveis sem a aplicabilidade dos critérios, como o perfil socioeconômico das famílias. No entanto, esse percentual não foi levado no caso da Cohabita e os critérios foram aplicados para todos. Assim, 170 famílias ficaram
de fora da entrega dos apartamentos. Destas, 45 moravam de favor e não têm para onde ir. O golpe Já no início de 2013, Ednéia foi a um encontro de lideranças com o prefeito Marcio Lacerda e levou um ofício da Cohabita sobre o caso. “Em resposta, ele disse: ‘não vamos discutir a situação da cooperativa. Quem fez a parceria com vocês foi a secretaria de habitação e ela não existe mais. Então o acordo não existe mais’. Aí descobrimos que ele estava dando um belo calote na gente”, relata. Ela explica que, quando firmada a parceria, a relação com a PBH se dava via Secretaria de Habitação, extinta dois meses depois. A cooperativa contatou o Ministério Público Federal (MPF), que elaborou uma recomendação à PBH que não realizasse o sorteio das 300 unidades habitacionais restantes, até que se investigasse o caso da Cohabita. Apesar da recomendação, o sorteio ocorreu no dia 20 de junho de 2013. No mesmo dia, as 45 famílias cooperadas não contempladas com apartamentos foram para a porta do conjunto habitacional, onde moram acampadas até hoje. “Vivemos situação precária aqui, não tem como se alimentar direito, precisamos usar o banhei-
ro emprestado. As pessoas passam e nos humilham com olhares”, conta Gilvanete Custodia Cardoso,
que vive no local com o filho de dez anos e o marido. Eles moravam de favor em um barracão quando foram
mandados embora. Sem ter para onde ir, doaram seus pertences e seguem na porta do conjunto.
Em dezembro de 2013, o MPF realizou uma reunião de conciliação entre a PBH e a Cohabita. Dali, saiu um novo acordo. A Prefeitura iria atender imediatamente às 45 famílias acampadas na porta do conjunto habitacional e apresentar as justificativas de indeferimento de todas as 170 famílias em até 30 dias. Como contrapartida, a Cohabita abriu o prédio para a
entrada de algumas famílias sorteadas. “Cumprimos a nossa parte e depois deram banana pra gente”, reclama Ednéia. A dias para o fim do prazo, a PBH entrou com um recurso contra o acordo. A Justiça negou o recurso. A prefeitura entrou com uma apelação, que também foi negada. Mais uma vez a prefeitura buscou cancelar o acordo, com um agra-
vo. Desta vez em Brasília, já em última instância, foi novamente negado. “Está claro que a prefeitura agiu de má fé. Quando fez o acordo e quando não cumpriu. Mas não sei se agora, tendo perdido em última instância, vai ser capaz de sustentar esse tratamento. Espero que mude”, afirma o vereador Adriano Ventura (PT), que acompanha o caso desde o início.
Judiciário condena PBH
Políticos que cometeram fraude O Tribunal de Contas de Minas Gerais divulgou lista com 2 mil políticos mineiros que fizeram gestão irregular em seu último mandato, sendo a maioria de prefeitos e ex-prefeitos. Os documentos foram encaminhados ao Tribunal Regional Eleitoral, para análise e possível proibição de candidaturas, e obedece a Lei Federal 9.504/97 e a Lei Complementar 64/90, que já contém as alterações do “Ficha Limpa”. A inelegibilidade depende de decisão da Justiça Eleitoral e, após dado o parecer, os políticos e partidos poderão ainda recorrer. As listas podem ser visas em: tce.mg.gov.br.
Filme revela ações da Vale O grupo Mídia NINJA, em parceria com o Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, lançou nesta quartafeira (25) a chamada do filme “Buraco do Rato”. O documentário mostra as práticas da empresa Vale, com destaque para a apropriação dos recursos naturais, o mau tratamento a funcionários e a espionagem de movimentos. De acordo com denúncia filmada pela equipe, a Vale gastava R$ 500 mil por mês com serviço de escuta e perseguição a comunidades atingidas pelos seus empreendimentos. O filme, que promete desvendar “fraudes e crimes da maior empresa brasileira”, será lançado no próximo semestre, mas seu teaser já pode ser visto no site ninja.oximity.com.
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MINAS
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Faltam políticas para a juventude em Minas ELEIÇÕES Educação de qualidade, acesso à cultura, lazer e esporte, e mercado de trabalho estão entre principais demandas da juventude Maíra Gomes O jornal Brasil de Fato MG segue a série de matérias sobre as exigências dos mineiros para os candidatos às eleições. Nesta edição, escutamos as organizações de juventude. “O primeiro problema da juventude de Minas Gerais é que a gente ainda vive sob um governo neoliberal. Isso traz uma se-
rie de dificuldades”, aponta Renan Santos, do movimento Levante Popular da Juventude. Criminalização, violência e assassinatos são realidades frequentes na vida do jovem mineiro, principalmente o jovem negro. Falta de acesso à educação de qualidade, e políticas de acesso a lazer cultura e esporte já fazem parte do cotidiano.
EDUCAÇÃO “O ensino médio está sucateado, os trabalhadores da educação desvalorizados. E o governo não abre diálogo com a sociedade para pensar a Educação”, denuncia Vinícius Borges Gomes, da Coordenação nacional da Pastoral da Juventude (PJ). Para tentar sanar a deficiência na universaliza-
“O primeiro problema da juventude de Minas Gerais é que a gente ainda vive sob um governo neoliberal ”
VIOLÊNCIA “Nas grandes cidades de Minas quem mais sofre com a violência policial é a juventude, principalmente a negra. Mas, ao mesmo tempo, a juventude é colocada como a causa da violência pela sociedade”, constata Renan. De acordo com o Mapa da Violência no Brasil, de 2001 a 2011, o número de homicídios subiu 80% em MG, saltando de 2.344 em 2001 para 4.235 em 2011. Foi o maior crescimento da região sudeste, enquanto Rio de Janeiro e São Paulo tiveram quedas nos índices. Segundo Priscylla Ra-
malho, integrante da secretaria executiva do Fórum das Juventudes, o debate da violência contra a juventude abarca uma série de questões que passam pela Política de Segurança Pública. “Tem que rever o sistema de segurança como um todo, criar outra lógica de atuação da PM”, afirma. Violações aos direitos dos menores em conflito com a lei, a criminalização do uso de drogas, e outras formas de criminalizar o jovem são usadas diariamente para justificar a violência e o assassínio.
Demandas - Rediscutir a política antidrogas no estado - Desmilitarização da Polícia Militar - Contra a redução da maioridade penal - Fiscalização dos Centros de Internação - Contra a privatização dos presídios - Tornar efetivo o Sistemas de Medidas Socioeducativas
ção do ensino médio, o governo de Minas criou o programa Reinventando o Ensino Médio, que insere aulas profissionalizantes. No entanto, Renan aponta que isso tem afastado os jovens da escola e não tem investimentos suficientes para de fato preparar o jovem para o mercado de trabalho. De acordo com a Constituição de 88, é obrigatório o investimento de 25% de toda a arrecadação estadual para a educação. A atual gestão de Minas não tem enviado nem mesmo 21%, além de não pagar o Piso Salarial do Professor. Segundo denúncias do Sindicato dos Trabalhadores em educação (Sind-UTE MG), desde o início da gestão PSDB, há 12 anos, a educação já deixou de receber R$ 8 bilhões. “Não investir o mínimo em educação gera re-
flexo direto na realidade da educação. A evasão é de quase 50% no ensino médio”, aponta Renan. Segundo o Censo Educacional de 2012, Minas Gerais tem o pior resultado do Sudeste em estrutura de salas de leitura, quadras de esporte e laboratório de ciências. O estado tem apenas duas universidades públicas, a Universidade Estadual de Montes Claros e a Universidade Estadual de Minas Gerais, ainda assim sem muita disseminação no estado e com pouco investimento. “O governo não apresenta um plano de financiamento das universidades estaduais, para cobrir gastos básicos e também para assistência estudantil”, demonstra Paulo Sergio de Oliveira, presidente da União dos Estudantes de Minas Gerais (UEE MG).
Demandas
- Cumprimento do mínimo constitucional de investimento em educação - Mais diálogo com organizações e movimentos de juventude - Criação do Plano de Assistência Estudantil para as universidades estaduais - Criação do Fundo Social do Minério, que reverteria royalties para a educação estadual
TRABALHO, CULTURA E LAZER “Com a política neoliberal de Minas, o jovem é quem mais sofre com a precarização do trabalho. É quem está nos piores postos de trabalho, informal ou terceirizado”, questiona o militante do Levante. Ele conta que segundo pesquisa de 2013, quase 70% dos jovens de 15 a 17 anos que trabalham em Minas Gerais estão na informalidade, ou seja, trabalham por conta própria ou de forma precarizada. “O estado de Minas não tem políticas para a juven-
tude. É preciso mais esporte, lazer e cultura que atenda a quem está exposto às principais dificuldades, que é o jovem da periferia”, declara Vinícius. Um exemplo disso no estado é o programa Fica Vivo, que aplica oficinas aos
jovens das comunidades. No entanto, o programa está ligado à Secretaria de Segurança Pública, com foco na redução dos índices de criminalidade e entidades defendem que deva ser do setor de Políticas Sociais.
Demandas
- Política de incentivo ao primeiro emprego - Fortalecer o ensino técnico profissionalizante no estado - Tornar efetivo o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto da Juventude - Desvincular o programa Fica Vivo da Secretaria de Segurança Pública de MG - Priorizar a criação de programas de acesso ao lazer, esporte e cultura à juventude
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MINAS
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Greves conquistam aumentos e novos direitos DIREITOS Primeiro semestre teve muitas paralisações em Minas Gerais Rafaella Dotta Estudo feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) aponta que as greves aumentaram mais de 100% nos últimos dez anos. Em
Profissionais Limpeza urbana (terceirizada) Motoristas de ônibus BH e região Servidores municipais Trabalhadores da Copanor (filial da Copasa no Norte de Minas Gerais)
2001 foram 416 greves, em 2009 foram 518 e em 2012 foram 873. Nas reivindicações, os trabalhadores continuam tendo como prioridade o aumento de salário. Porém, categorias como dos
bancários, professores, policiais e médicos trazem problemas nas condições de trabalho. Devido à grande pressão que sofrem, têm desenvolvido altos índices de depressão. Em Belo Horizonte e
no ticket Reajuste salarial Aumento alimentação
Minas Gerais, o primeiro semestre de 2014 teve greves em áreas essenciais, como a educação, a saúde, o transporte, a coleta de lixo e o fornecimento de água. Algumas conquistaram seus aumentos, e ou-
tras seguem em negociação, com greves suspensas em função do período da Copa. O quadro mostra uma comparação entre esses setores e, abaixo, uma breve entrevista que analisa as greves no Brasil.
Outros
Dias de greve
14%
R$ 5,00
Adicional noturno passou a ser pago integralmente.
2 dias
7,26% geral 15% para BRT
R$ 1,12
Redução das horas de trabalho: menos 20 minutos por dia.
2 dias
7%
R$ 1,50
Igualdade de salários na área da saúde.
21 dias
5,58%
R$ 0,60
Plano de saúde para todos os trabalhadores.
62 dias
Professores municipais
Em negociação - greve suspensa temporariamente
35 dias
Professores do estado
Em negociação - greve suspensa temporariamente
15 dias
Servidores da saúde do estado
Em negociação - greve suspensa temporariamente
18 dias
Visão de especialista As informações sobre greves são estudadas continuamente pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Para analisar o início de 2014, perguntamos a Thomaz Ferreira Jensen, economista e assessor técnico do DIEESE, quais são suas opiniões. 1.O número de greves aumentou muito entre 1997 e 2012. A partir disso, a crescente continuou? Sim. Os dados de 2013 ainda não estão completamente sistematizados, mas indicam aumento. Para 2014, temos apenas impressões a partir do que é veiculado na imprensa. E, por estas fontes, nota-se que há intenso movimento de greves. 2. Quais são os setores que mais praticaram greve neste ano? Pelo que se veicula na im-
Arquivo Pessoal
prensa, a maior parte das greves aconteceu nos setores de serviços de transporte, seguidos pelos metalúrgicos e pelos trabalhadores da construção civil e pesada. No funcionalismo público, a maioria foi deflagrada por trabalhadores das redes municipais de ensino. 3. As demandas continuam sendo salariais? Esse tema ainda é central para o trabalhador do século 21? Segundo os dados de imprensa, as demandas por reajuste salarial e alimentação dividem o primeiro lugar de importância para os funcionários de empresas privadas. A seguir, vêm as reivindicações por PLR (participação em lucros ou resultados) e assistência médica. E, sim, a luta pela ampliação dos salários segue sendo central para o trabalhador brasileiro no século 21.
Notícias da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
Projeto veta queima de lixo A partir do PL 4.051/13, aprovado na quarta-feira (25) pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), fica proibida a incineração de “resíduos sólidos urbanos passíveis de reciclagem economicamente viável ou compostagem oriundos do sistema de coleta do serviço público de limpeza urbana nos municípios do Estado”. O Projeto espera a sanção do governador para começar a valer. 4. Por que nos últimos anos as greves só tem aumentado? Após forte crescimento econômico entre 2004 e 2010, a economia brasileira praticamente estagnou. O rendimento dos trabalhadores, que cresceu bastante até 2011, tem se mantido estável desde então. Aliado a isso, o clima de lutas nas ruas por melhores serviços públicos impulsionou a retomada da estratégia de greves.
Novas regras para distribuição de sacolas plásticas Foi aprovado em 2º turno proposta de que todas as sacolas plásticas venham com as informações, em caracteres visíveis, sobre o peso e volume que suportam. Além disso, o estabelecimento deverá fornecer sacolas recicláveis, biodegradáveis ou oxibiodegradáveis aos consumidores, pois se decompõem em até 18 meses. O PL 1022/13 espera sanção do governador.
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Polícia Militar segue usando o cerco a manifestantes REPRESSÃO Tática é criticada por cercear o direito de livre manifestação Da Redação Uma “guerra judicial” sobre a atuação da Polícia Militar (PM) em manifestações está precedendo o jogo entre Brasil e Chile na capital mineira. Usado a partir de 14 de junho, a técnica de cerco aos manifestantes foi proibida e, após dois dias, liberada novamente através de decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Na última terça-feira (24), uma liminar da Justiça mineira proibiu que a PM impedisse a realização de protestos realizados no estado contra a Copa do Mundo. A decisão atendeu a um mandado de segurança co-
letivo impetrado pelo Centro de Cooperação Comunitária Casa dos Palmares sob alegação de que, durante os últimos protestos realizados em Belo Horizonte, a PM cercou manifestantes impedindo a realização do ato previsto. “Não há dúvida de que é direito de todos os cidadãos brasileiros manifestar-se publicamente questionando a realização da Copa do Mundo da FIFA que está sendo realizada no Brasil, como forma de liberdade de expressão, desde que o façam pacificamente, sem armas e que avisem previamente à autoridade competente no caso específico, à Polícia Mi-
Midia Ninja
Liminar da Justiça mineira proibiu o cerco
litar de Minas Gerais”, dizia a sentença do juiz Ronaldo Claret de Morais. No entanto, a decisão foi suspensa na quinta-feira (26) pelo presidente do TJMG, o desembargador Joaquim Herculano Rodrigues. O magistrado afirma que “a gravidade e a contundência da atuação criminosa eventualmente infiltrada nos movimentos populares” justificaria a ação policial. Com este cenário, a PM declara que mantém a tática de cerco e revistas para este sábado (28), contra o protesto marcado para as 10h na Praça Sete. (Com informações do Portal Minas Livre)
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OPINIÃO
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Acompanhando Midia Ninja
Na edição 07... Moradores em protesto contra “Brasilinha do Lacerda ” ...E agora
Se espalham por toda a cidade cartazes que exigem mais metrô. “Governador, cadê o metrô?” foi o primeiro. Poucos dias depois, a resposta: “Pergunte pra Dilma, o metrô é federal”. E logo outro: “Governador mentiu de novo, Metrominas é estadual”. É mais uma queda de braço envolvendo a ampliação do metrô. A Caixa Econômica Federal devolveu em maio um projeto do governo do estado, pois este não constava no cronograma nem no orçamento.
Frei Betto
Paulo Sério de Oliveira
Para decidir os rumos do Brasil
Das manifestações de junho à derrota do projeto neoliberal em Minas
Mês que vem começa a propaganda eleitoral. Mais uma eleição em outubro, da qual é importante todos nós participarmos. Antes, porém, haverá algo tão importante quanto: o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana, na Semana da Pátria (1 a 7 de setembro). Eis a ocasião de dar uma virada no jogo! Vamos responder à questão: “Você é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Soberana sobre o sistema político?” Adianto aqui a minha resposta: eu sou. A Constituição de 1988, em vigor, representa uma transição conservadora da ditadura à democracia. Teve o erro de não ser exclusiva. Foram seus formuladores os mesmos deputados e senadores eleitos para o Congresso pelo atual sistema político viciado. Por isso, preservaram muitos resquícios da ditadura, como a militarização da polícia, a estrutura fundiária favorável ao latifúndio, o pagamento da dívida pública, a injusta anistia aos torturadores e assassinos do regime militar, impunes até hoje! A Constituinte Exclusiva e Soberana deverá ser unicameral, sem o Senado, e sem tutela do Judiciário e ingerência do poder econômico. Só através dela nosso país alcançará, de modo pacífico, as tão almejadas reformas de estruturas, como a agrária e a tributária, e priorizará a qualidade da educação, da saúde, do transporte público e outras. Com essa Constituinte, proposta pelos movimentos sociais, poderemos aperfeiçoar a democracia representativa e participativa e fortalecer o controle social sobre as instituições brasileiras. Organize um Comitê Popular ou participe dos já criados. Saiba como fazê-lo e onde os comitês já atuam através destes contatos: www.plebiscitoconstituinte.org.br / facebook.com/plebiscitoconstituinte Frei Betto é escritor, autor do romance “Aldeia do silêncio” (Rocco), entre outros livros
Junho de 2013 foi inesquecível para boa parte dos brasileiros, em especial para aqueles que foram às ruas lutando por transformações em nosso país. O Brasil viveu nos últimos 12 anos um período único de sua história. Conseguiu fortalecer a sua ainda jovem democracia, expandir fronteiras comerciais, fortalecer a indústria nacional, gerar e distribuir renda. Mais de 1 milhão de jovens estão hoje cursando a universidade através do PROUNI, dobramos as vagas nas universidades públicas, aprovamos os 10% do PIB pra educação e ainda vamos fortalecer os investimentos com os 50% do Fundo Social do Pré-Sal e os 75% dos Royalties do Petróleo pra a educação. As manifestações de junho são fruto de uma juventude trabalhadora que não viveu anos anteriores a estes citados. Anos estes em que nosso país vivia sendo ameaçado e subjugado a ser apenas um devedor do FMI. Já a geração de junho quer aprofundar e radicalizar os investimentos nas áreas sociais. Já em Minas vivemos 20 anos de um projeto que tem em sua base a midia e setores conservadores da elite mineira, uma oligarquia que endividou nosso estado, tomou medidas impopulares como o não investimento do mínimo constitucional em saúde e educação, tem o ICMS mais caro do país e ainda ataca os movimentos sociais. A Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG continua até hoje com um baixo investimento e não contribui como deveria para o desenvolvimento regional. As regiões do Norte, Vale do Jequitinhonha e Mucuri ainda são abandonadas pelo poder público. É necessário ter um novo modelo de desenvolvimento para que possamos ficar menos dependentes dos commodities agrícolas e da mineração e distribuir a todos os mineiros a nossa riqueza. Paulo Sério de Oliveira é presidente da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais
Prefeitura de BH abre consulta pública, divulgado em 11 de junho, para construção e operação do novo Centro Administrativo. A nova sede da PBH, que deverá funcionar por meio de uma Parceria Público-Privado (PPP) será construída no estacionamento externo da Rodoviária, no Centro. O empreendimento custará em torno de R$ 450 milhões. A previsão é que as obras terminem em até cinco anos. A expectativa é que 60 unidades administrativas sejam transferidas para o prédio. Na edição 11... Ato pede mais recursos para a educação ...E agora A presidenta Dilma Rousseff sancionou, sem vetos, o Plano Nacional de Educação (PNE). O plano tramitou por quase quatro anos no Congresso até a aprovação e estabelece 20 metas para serem cumpridas ao longo dos próximos dez anos. As metas vão desde a educação infantil até o ensino superior, passam pela gestão e pelo financiamento do setor e pela formação dos profissionais. O PNE estabelece meta mínima de investimento em educação de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) no quinto ano de vigência e de 10% no décimo ano.
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ENTREVISTA
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“Transmitir futebol é uma arte” HISTÓRIA Um dos maiores radialistas do Brasil fala da sua experiência e das expectativas com o Brasil Diego Silveira e Wallace Oliveira Nascido em Monte Santo/MG, em 1960, Francisco Osvaldo Pereira Reis herdou do pai o apelido, Pequetito. Aos 15 anos, procurou emprego no rádio, mas a primeira oportunidade só veio aos 19, na Rádio Progresso. Desde então, seu trabalho não cessa de atrair admiradores. Cruzeirense confesso, narra os jogos do Atlético com a vibração, criatividade e respeito que lhe são característicos. Com sua companheira Rejane, ele gentilmente nos acolheu em sua casa para esta entrevista. Brasil de Fato – Conte-nos um pouco da sua trajetória como narrador. Pequetito - Comecei minha carreira em Monte Santo, em 79, e logo fui para uma cidade perto e já ingressei no rádio esportivo mesmo, em 80, na cobertura de um time de segunda divisão. Em 94, vim tentar um concurso na rádio Inconfidência. Fiquei na Inconfidência até 2002, depois vim pra CBN. Me convidaram para ser narrador titular e fui, mas continuei fazendo um programa de música popular na Inconfidência, primeiro ao vivo, depois gravado. Quais foram suas referências? O Osmar Santos foi o cara que mais me impressionou, pela maneira como ele narrava. Ele foi uma referência muito grande, incentivava muito os narradores, essa molecada que estava chegando. No sul de Minas, a gente ouvia muito as rádios de São Paulo e do Rio, era difícil sintonizar a Inconfidência, a Itatiaia não chegava. Ouvia o Wilibaldo Alves, grande nome da narração aqui em BH. E, quando vim pra cá, o Willy Gonzer, Alberto Rodrigues, esses que são mesmo ícones, referências para todos nós. É notório que tanto cru-
zeirenses quanto atleticanos aprovam sua narração. Dos últimos tempos pra cá, desde 2007, principalmente a torcida do Cruzeiro tem gostado muito. Parece que há uma identificação do meu trabalho com a torcida do Cruzeiro, por algumas coisas que faço na narração, a maneira como
Eficaz comunicação
“ Eu esperava que não fosse uma Copa tão boa assim ” grito “gol”, o “Cruzeirô”... Mas é legal que também faço jogos do Atlético e transito bem no meio da torcida, de uma forma igual, como a do Cruzeiro. Sua narração do pênalti do Victor foi muito elogiada. No outro dia, estava indo pra TV e minha filha me mostrou que tinham postado minha narração com a defesa do Victor e estava bombando. Era pouco mais de 11h e já tinha mais de 200 mil visualizações, hoje mais de 450 mil, de um post. E um blog do Galo colocou também. Há uns sete meses já tinha 40 mil compartilhamentos. Você vai fazendo a multiplicação disso e pode ser que ela tenha passado de um milhão e meio de acessos. Essa narração realmente me projetou pro país todo. E não só aqui. Me falaram disso na Argentina, no Paraguai, gente da Venezuela, Estados Unidos, Japão. Como é o processo de criação dos seus bordões? Até que quando eu comecei, não gostava muito desses bordões, mas aqui em Belo Horizonte parece que há uma cultura de que se tem que criar. Pra mim, gol é gol e bola é bola. Tem umas coisas que não tem mais como inventar. Então, prefiro narrar bem o gol do que ter um jargão ou bordão pra quando acontece o gol. Mas, por exemplo, o “vai que eu tô te ven-
“ Prefiro narrar bem o gol que ter um bordão pra quando acontece o gol”
do” saiu de uma brincadeira com o Reinaldo [ex-jogador do Atlético/MG] na Copa da França. A gente tava andando e, às vezes, eu fi-
“ Seria fantástico: Brasil e Argentina no Maracanã na final ” cava muito estressado e ele falava: “vai, Pequetito, vai que eu to te vendo”. Você costuma, na comemoração de gols ou antes de jogos importantes, misturar as letras de várias músicas. Como você bola isso? Tem que estudar um pouco. Claro que tem que ter uma ideia. Não vou pegar uma letra toda e ler, pego partes de uma canção. Já uso isso há muito tempo. Comecei a narração em 84. Tem uma música que gosto muito, que é do Flavinho Venturini e do Ronaldo Bastos e fala: “quando mergulhei no azul do mar, vi que era amor e que veio pra ficar”. Tem cruzeirense que ficou apaixonado por isso. E eu falei: “mas eu não escrevi não”. Os times de Minas estão num momento interessante. Você acha que vai
narrar novos títulos neste ano? Uai, o Cruzeiro este ano vai ser bicampeão brasileiro! Se nada descarrilar, acho que é difícil tirar o título do Cruzeiro. Talvez o Atlético, se mantiver o Ronaldinho, trazendo novos nomes, Tardelli jogar bem, se volta o Marcos Rocha, do Réver, tem o Victor... Acho que a briga pode ficar entre Cruzeiro e Atlético.
cia”, como a Argentina tem uma “Messidependência” e a Holanda uma “Robbendependência”. Então, acho que a França pode dar uma costurada aí. Mas é uma Copa imprevisível. No outro grupo, que o Brasil vai enfrentar agora, Holanda e Espanha eram as favoritas. O Chile vem por fora e vai enfrentar o Brasil. Vai ser um jogo muito difícil, mas o Brasil vai vencer.
O que você está achando dos jogos da Copa do Mundo? Muito boa. Eu esperava que não fosse uma Copa tão boa assim. Me surpreendeu o que a França está jogando. Não gostaria de encontrar a França agora, porque a França é carrasco da gente. E eles estão com um bom meio de campo. Acho que o Brasil está muito dependente do Neymar, é uma “Neymardependên-
Que outras seleções você vê como fortes? Argentina, pelo Messi. Eu acredito que vai dar Brasil e Argentina na final. E o Brasil vai ganhar de 3 a 0. Seria fantástico: Brasil e Argentina no Maracanã! Talvez seja a grande final dos sonhos, com o Brasil vencendo. Colaboraram nesta entrevista: Nina Lana e Vera Lima, da Eficaz Comunicação.
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BRASIL
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Empresas administradas pelo PSDB puxam aumento da conta de luz ESPECULAÇÃO Na ‘guerra’ da política, quem paga a conta é o povo Divulgação
Pedro Rafael Vilela, de Brasília (DF)
As maiores empresas fornecedoras de energia elétrica do Brasil estão pedindo aumento significativo na conta de luz dos brasileiros. Um levantamento do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), que acompanha o setor elétrico, revela que, das 65 distribuidoras de energia que operam no país, 22 já tiveram autorização do governo federal para aumentar o preço da conta em valores muito acima da inflação. Os reajustes variam de 9,8% a 38,5%. As principais responsáveis pelo aumento são as empresas estatais de Minas Gerais, São Paulo e Paraná, as mesmas que se recusaram, no fim de 2012, a renovar os contratos de concessão com o governo federal para baratear a conta de luz. A recusa impediu que a presidenta Dilma Rous-
seff cumprisse a promessa de baixar a conta residencial em cerca de 18%. “Com os novos aumentos deste ano, as contas voltam a ter o mesmo valor de antes do anúncio do desconto”, explica Gilberto Cervinski, da coordenação nacional do MAB. Esta semana, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou o reajuste de 33,5% nas contas de luz Companhia Paranaense de Energia (Copel). Tratase de um dos maiores aumentos já concedidos este ano e vai impactar sobre os mais de 4,2 milhões de consumidores da empresa no estado. A medida causou resultado político imediato. Pelo twitter, o governador Beto Richa (PSDB) se disse “surpreso” com o aumento e que pediria a suspensão da aplicação do reajuste. Porém, segundo Gilberto Cervinski, do MAB, foi a própria empresa Copel, comandada pelo gover-
Governos do PSDB em MG, SP e PR, recusaram em 2012 a renovar contratos de concessão com o governo federal para baratear a conta de luz
no do Paraná, quem pediu o aumento à Aneel. Em abril, outro estado governado pelo PSDB pediu aumento na conta de luz. A Cemig, de Minas Gerais, solicitou reajuste de
mais de 29%, mas a Aneel só permitiu aumento de 15,78%. Na próxima semana, a Eletropaulo, distribuidora que atende a 6,7 milhões de domicílios no estado de São Paulo, inclusive a
capital, também deverá ter o pedido de aumento aprovado pelo governo federal. A empresa solicita reajuste de 17% na tarifa e a mudança deve entrar em vigor a partir de 4 de julho.
comprometida. Além disso, com o fim dos contratos de venda da energia via leilão público, essas mesmas empresas ficaram livres para vender a energia no chamado Mercado de Curto Prazo,
a um custo muito alto. Estima-se que o valor da energia elétrica vendida pela Cemig, este ano, tenha alcançado, em alguns casos, cerca de R$ 822 megawatt/hora.
Especulação tarifária Gilberto Cervinski, do MAB, explica que os aumentos “tão elevados” se devem a um processo de especulação tarifária provocada, principalmente, pelas empresas geradoras de energia de Minas Gerais, São Paulo e Paraná. “Em 2012, a Copel,
a Cemig e a Cesp não aceitaram renovar seus contratos de concessão e, ao mesmo tempo, não aceitaram vender sua energia nos leilões realizados pelo governo”. A renovação das concessões, proposta pelo governo federal, garantiu a re-
dução de R$ 100 para R$ 33 o megawatt/hora. Entretanto, com a negativa das três empresas, que juntas produzem 10% da energia elétrica do país, a redução das tarifas ficou
Com horário alternativo na Copa, Voz do Brasil corre risco de extinção Uma Medida Provisória (MP) permite que, durante o Mundial da Fifa, A Voz do Brasil seja transmitida entre as 19h e 22h. Na avaliação de comunicadores, a flexibilização do horário abre espaço para as tentativas de extinção do informativo. Para o jornalista Beto Almeida, a flexibilização atende a interesses econômicos dos empresários do setor. “Eles querem é uma hora a mais de baixaria e de comércio no rádio brasileiro.” (Radioagência BdF)
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MUNDO
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Imprensa internacional muda tom sobre Copa no Brasil ELOGIOS Após previsão inicial de fracasso, jornais avaliam positivamente transporte, estádios e aeroportos Alexandre Macieira-Riotur
Após os protestos anti-Copa e as greves ao redor do país, um correspondente da Al Jazeera no Brasil escreveu no dia 1 de junho que “nada iria mudar radicalmente nos próximos 12 dias”. O prenúncio do desastre continuou sendo sustentado pela imprensa internacional, que manteve o tom apocalíptico até a abertura da Copa do Mundo. Mas o tratamento mudou. Mas como esse pessimismo deu lugar à euforia? Chamemos isso de “milagre brasileiro”, define o Le Monde. Nele, o jornal francês reforça que a catástrofe anunciada não aconteceu. Apesar de problemas logísticos e do atraso, o Brasil “organiza um Mundial à sua maneira: desordenado e simpático, despreocupado e re-
ceptivo”, define. A análise do jornal francês segue a mesma linha de uma reportagem publicada pelo New York Times, intitulada “As previsões do juízo final dão lugar a soluços menores no Brasil”. A matéria do jornal dos Estados Unidos reconhece que o funcionamento dos estádios e do transporte público merece uma avaliação positiva. A revista The Economist elogia os aeroportos brasileiros: apenas 6,5% dos voos atrasaram no primeiro fim de semana de competição, bem abaixo dos 15% considerados aceitáveis pelos padrões internacionais, ressalta o veículo inglês. (Patrícia Dichtchekenian, do Opera Mundi)
Maio foi o mês mais quente no planeta desde 1880 O mês de maio foi o mais quente no planeta. A temperatura média chegou a 15,54 graus centígrados, 0,74 grau acima da média do século 20. “A maior parte do mundo teve temperaturas mais quentes, com recorde no Cazaquistão, Indonésia e Austrália”, comunicou à NOAA, agência que mede temperaturas desde 1880. A temperatura dos meses de maio dos últimos 39 anos tem sido superior à média de todo o século 20.
Cristina Kirchner quer suspender sentença sobre dívidas Divulgação pg
O governo da Argentina anunciou na segundafeira (23) que pedirá à justiça dos EUA a suspensão da medida que obriga o país a pagar os fundos especulativos (chamados de fundos abutre) para poder cumprir seus compromissos com os outros credores de dívida.
Apenas 6,5% dos voos atrasaram no primeiro fim de semana de competição
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Novela
Galã ao revés
perar o fantasma em que Laerte se tornou. O que não significa estar livre dele, já que a filha Luiza caiu na lábia doce do rapaz. Falando da vítima da vez, Luiza já dá sinais de desconfiança do ciúme obsessivo do noivo. Ele vem controlando a menina por telefone, na faculdade, caçando confusão com o ex-namorado dela. A história de 20 anos atrás parece se repetir. Luiza sofre porque a família desaprova seu romance. Sofre por ir aos poucos percebendo que o
Amiga da Saúde
moço tem sim um “jeitinho” duvidoso de amar. Se é que ele ama mesmo. Na carona da mãe e filha, estão Shirley e Lívia, já que Verônica está cantando no galinheiro de Cadú. Shirley é Laerte de saia. Botou na cabeça que o homem é dela e não mede esforços por uma migalha de atenção. Lívia está confusa diante do galanteio do colega de trabalho comprometido, mas não parece estar imune à sua sedução. Acho que algo vai rolar entre os dois, confirmando mais uma
Joaquim Vela (quimvela@brasildefato.com.br)
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
© Revistas COQUETEL
Subdivisão da linha telefônica Opção para quem não pode ter filhos
(?) Gil, cantora Centro de treinamento da CBF em Teresópolis (RJ) Acessório usado com o terno Suplantar
Patrão Escultor de "Os Doze Profetas"
Lindiomara, 17 anos, estudante De (?): com efeito O Nascimento de Cristo (Rel.) Característica da tartaruga
A índole da fada, nos contos infantis
Prática psicofísica de origem indiana
Manoel da Nóbrega, jesuíta português
Interface gráfica de acesso a programas Altar religioso A Roma Brasileira
A constelação das Três Marias (Astr.) Pistas Portal de templos japoneses Tribunal Superior do Trabalho (sigla)
Analisar (uma obra) Jovem, em inglês Letra-base da escrita do cifrão (Fin.) Diz-se do decote muito sensual
Formato do gol, no rúgbi
Postar, em inglês "Compact", em CD
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Solução
A E J A N O T A
BANCO
"Inflamação", em faringite
V E A R B I R A I D S E G L A A B R I N T E S T T E
Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde
Abrigo para pessoas carentes
3/tim. 4/maid — post — tori. 5/dicas — young. 6/janela — janota.
tos, mas que, principalmente, sejam confortáveis. Sempre que tiver oportunidade fique descalça, isso também ajuda. Se mesmo com esses cuidados o joanete continuar crescendo, procure avaliação ortopédica.
Policial (pop.) Influente capitalista
"Devagar (?) vai ao longe" (dito)
Amiga da saúde, minha irmã tem joanetes e sofre muito com dores. Percebi que começou a aparecer em mim também, nada demais ainda, mas estou preocupada. O que posso fazer pra evitar que ele cresça? Vitória Aparecida, 32 anos, trabalhadora do correio
Parte colorida do olho
Empregada, em inglês Caçoar (gíria)
O sentido popular de "olho grande"
Quantia destinada ao pagamento de salários dos secretários parlamentares
O R I O N
Olá Lindiomara! Parece estranho, mas isso pode acontecer sim. A beterraba possui um pigmento chamado betacianina, que pode levar a urina a ficar avermelhada por não ser digerido no organismo de algumas pessoas. Isso não causa nenhum problema à saúde. A beterraba é rica em vitaminas e minerais e ainda ajuda a controlar a anemia e hipertensão. Já os diabéticos precisam ter mais cuidado ao ingerir esse vegetal porque a beterraba contém muito açúcar.
Almofadinha (?) Burton, cineasta
R A T M I A M L M Z A O G A N R A T C A G P C A
Oi Amiga, na semana passada minha urina ficou avermelhada e levei um susto porque não estava sentindo nada. Minha mãe disse que foi porque comi muita beterraba. Depois voltou ao normal. Pode ter sido isso mesmo?
Cara Vitória, o joanete é uma espécie de calo na lateral do dedão provocado por uma deformidade na articulação conhecida como halux valgo. Essa deformidade tem como causa principal o uso inadequado de sapatos, mas também pode estar relacionada a fatores genéticos e doenças das articulações. Os sapatos de salto muito alto e bico fino são os principais vilões. Para evitar joanetes, procure evitar saltos maiores que 3 centímetros e dê preferência para calçados de bicos arredondados ou re-
vez o mau-caratismo do galã. Medo e raiva. É isso que sinto cada vez que vejo Laerte na novela. Medo de sua cara de obcecado e de matador em série. Raiva de seus desmedidos de homem mimado e machista. Todo homem mimado é machista e por isso espero que Laerte tenha um final típico de galãs ao revés. Bem longe de Helena e Luíza, as mocinhas da novela. Bem longe de “Em família”.
A V D O O T A A L R E I J A I D T I U N H V O
Um olhar que dá medo. Um comportamento oscilante entre carinhos e desafeto. Um ciúme desmedido, que só pode ser sentido por ele mesmo. Um mix de sensualida-
de e egocentrismo. Sabe de quem estou falando? Do galã avassalador de “Em Família”, que agora parece estar mostrando a que veio na trama: Laerte e sua maneira possessiva de amar. Comecemos por Helena, que viu o galã destruir o sonho do amor feliz no altar e marcar, para sempre, sua vida e de sua família. Eu pensava que os dois iriam se reencontrar como amantes no presente. E que esta seria a grande trama “maneco” da vez. Mas agora Helena aponta su-
P G R P R E F A T N A J V A GA C N B O A M N S A C C R I Y O S P R O
12 VARIEDADES
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CULTURA
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Mulheres conquistam os quadrinhos HQ’S Site reúne obras de artistas femininas que ainda lutam por espaço no mundo da produção cultural Magra de ruim
Raíssa Lopes Durante muito tempo, o mundo dos quadrinhos foi masculino. Histórias que enalteciam os feitos dos super-heróis, sempre fortes e viris, e que tratavam mulheres como coadjuvantes estereotipadas pareciam comuns ao universo das HQ’s. Cansada dessa realidade, a jornalista Mariamma Fonseca criou o Lady’s Comics, site para apresentar quadrinistas mulheres e abordar personagens femininas. Ao visitar a página, a frase “HQ não é só para seu namorado” - presente na arte principal do site - dá o recado. “Essa frase é uma alusão ao que normalmente é escutado por grande parte de meninas que querem trabalhar nesse ramo: ‘quadrinhos é
coisa de menino’. E não é assim, quadrinhos são para todos”, declara Mariamma. Quatro anos depois, já com as jornalistas Lu Cafaggi, Samara Horta e a design Samanta Coan, elas formam um coletivo que
“Muitas quadrinistas usavam codinomes masculinos para que não fossem discriminadas” busca discutir a representação feminina nesse meio. Mariamma conta que antigamente, muitas quadrinistas usavam codinomes masculinos para que não fossem discriminadas. Para mudar esse contexto, reunir somente tra-
é tudo de graça! LITERATURA
AGENDA DO FIM DE SEMANA MÚSICA
O cantor e compositor Kiko Klaus apresenta o show “Desconstruindo e Reinventando”. Sexta (27), às 21h, na Casa Una Centro de Cultura (Casa Aimorés, 1451, Lourdes). A distribuição dos ingressos ocorrerá no local.
balhos femininos foi uma maneira de se reafirmar. A jornalista avalia que em um mercado editorial restrito, onde a produção é em maioria feita por e para homens, as mulheres precisam se distinguir para serem vistas. Além disso, ela afirma que um dos preconceitos enfrentados nos quadrinhos é de que a mulher tende a fazer apenas coisas fofas, fato que acredita estar sendo desmistificado. A artista Gabi LoveLove6, por exemplo, publica a série de HQ’s “Garota Siririca”, pela revista Samba (DF). Seus quadrinhos valorizam e tratam a sexualidade feminina, historicamente reprimida, de forma natural e não diferenciada da sexualidade masculina. Já Sirlanney, dona da página “Magra de Ruim”, retra-
TEATRO
Coletivo Movasse apresenta o espetáculo “Playlist”, obra de improvisação interativa com dança. Os elementos que compõem a peça são escolhidos pelo público antes de cada apresentação. Sábado (28) e domingo (29), às 18h, no Museu Mineiro (Av. João Pinheiro, 342, Funcionários).
Lançamento do livro “#BHNASRUAS: uma experiência de cobertura colaborativa”, que conta os bastidores da cobertura jornalística dos protestos de junho de 2013. Sexta (27), às 18h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi).
SOLIDARIEDADE Evento “Tropeiro Solidário” terá renda arrecadada para apoio a presos políticos. Para venda serão disponibilizados tropeiro comum e vegano, cerveja e caipirinha. Domingo (29), a partir das 11h, no Bar do Olÿmpio, 2º andar do edifício Maletta (Rua da Bahia, 1148).
ta em obras densas experiências pessoais e particularidades da construção do feminino. “Há uma diferença no público [masculino e feminino]. É possível enxer-
gar algumas distinções, talvez pela representação de uma personagem. Portanto, se há diversidade de público, é bom incitar diferentes olhares”, diz Mariamma.
Segunda a quinta-feira CINEMA
Mostra de Cinema Iraniano exibe oito longas com objetivo de apresentar a cultura do Irã para moradores e visitantes da capital mineira. Até 27/06, das 17h às 19h, no Museu Histórico Abílio Barreto (Avenida Prudente de Morais, 202, Cidade Jardim).
TEATRO
MÚSICA
Grupo ESPANCA! apresenta a peça “Congresso Internacional do Medo”, em comemoração aos 10 anos de carreira da companhia. Sexta (27), sábado (28) e domingo (29), às 21h, no Teatro Alterosa (Av. Assis Chateaubriand, 499, Floresta).
Show do pernambucano Otto, pela 14ª edição do Festival Conexão. Quinta-feira (3), às 18h, no Parque Municipal.
EXPOSIÇÃO Mostra “Demasiado Humano”, conta jornada do ser humano a partir de experiências visuais, táteis e sensoriais. Até 31/12, todos os dias da semana - exceto segundas-feiras -, das 10h às 17h, no Espaço TIM UFMG do Conhecimento (Praça da Liberdade, 700).
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ESPORTES
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Copa: avaliação da primeira fase SURPRESAS POSITIVAS
Costa Rica
Colômbia
Tratada por muitos como zebra do grupo D, a verdade é que a Costa Rica jogou muito e mereceu o primeiro lugar no grupo da morte. Entra nas oitavas como favorita contra a Grécia.
A torcida da Colômbia encantou o Brasil, mas não se pode esquecer o show cafetero nos gramados. Com jogadores leves e um contra-ataque mortal, a equipe de José Pekerman já mete medo.
SURPRESAS NEGATIVAS
Espanha
Itália
A poderosa esquadra de Vicente Del Bosque sucumbiu aos bombardeios de holandeses e chilenos. Há tempos se falava no declínio do tiki-taka espanhol, mas ninguém previu um desempenho tão ruim na primeira fase.
E o que dizer da Squadra Azzurra? Não agüentou o grupo da morte. Precisava de um empate com a Celeste, mas uma falha na marcação permitiu que o uruguaio Diego Godín subisse às alturas para cabecear e liquidar a seleção de Cesare Prandelli.
SELEÇÕES QUE AINDA NÃO JOGARAM O QUE SABEM
Argentina
Brasil
Sem os gols salvadores de Messi(as), a vida alviceleste seria bem mais difícil no grupo E. Jogou burocraticamente contra a Bósnia, teve enormes dificuldades para furar a barreira iraniana e passou aperto contra a Nigéria. Se continuar assim, tem razão Maradona, que diz não esperar o título neste ano. Se jogar o que sabe, pode eliminar qualquer adversário.
CRAQUES DA PRIMEIRA FASE Benzema Matador nato, não fica plantado na frente esperando a bola. Busca o jogo, marca, troca passes, cria jogadas. Tem tanta fome de gols, que até quando o jogo está parado ele manda paras as redes. Olho nele!
Neymar Quem não entende nada de futebol critica seu cabelo. Pelo que já jogou nesta Copa, deixou para trás muito “marmanjo” que pouco fez em outras copas, como Kaká e R10. Se a Seleção melhorar, tem tudo para ser o craque da Copa.
Messi A equipe não tem ajudado e os adversários o marcam cada vez mais duro. Não importa. Três dos gols mais bonitos saíram dos pés desse ser de outro planeta. Se a Argentina começar a jogar bem, quem poderá detê-lo?
Robben Dizem as más línguas que, na véspera do dia em que comandou o massacre sobre a Espanha, ele chegou ao hotel onde estava hospedado às onze da noite, bêbado, carregado. Imaginem se ele resolve se preservar para as partidas!
A Seleção Brasileira ainda está entre as melhores, mas vence sem convencer. Se a Argentina tem sua Messi-dependência, o Brasil depende sobremaneira de Neymar. Com jogadores fora de série, às vezes parece um amontoado de boas peças. Jogando o que pode, será a favorita ao título. Sem alterações táticas, sobretudo no meio campo, terá vida curta na competição.
UMA ANDORINHA NÃO FAZ VERÃO Num esporte coletivo, poucas vezes o talento de um craque é suficiente para salvar um time que joga mal. Pirlo, Iniesta, CR7 e Touré: eles mereciam ir mais longe. O público merecia um pouco mais de sua genialidade.
Andrea Pirlo É uma pena ele não poder jogar sua última copa numa equipe um pouco mais experiente. Tivesse a Itália mais um Pirlo e todas as seleções estariam em apuros.
Cristiano Ronaldo Jogar na fraquíssima Portugal não faz com que ele deixe de ser o melhor da atualidade. A eliminação poderia ter se confirmado já no segundo jogo, caso ele não tivesse lançado com tanta perfeição na cabeça de Varela, que empatou com os EUA nos acréscimos.
Andrés Iniesta Não se pode culpá-lo pelo naufrágio da Espanha. Nas derrotas para Holanda e Chile, ele se esforçou, mostrou o repertório e provou que ainda é um dos melhores da Europa.
Yayá Touré Perdeu o irmão, Oyala Ibrahim, durante a Copa. Sua Costa do Marfim foi prejudicada pela marcação de pênalti inexistente, no fim do jogo contra a Grécia, quando pressionava e podia ter feito o gol salvador.
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ESPORTE
FIFA e Globo: queremos jogar também ARTIGO Análise sobre o mundial de futebol e a atua;áo da globo A mídia privada tem tratado a Copa do Mundo ora como um tema eleitoral, explorando seus aspectos negativos, ora fazendo uma cobertura ‘oba-oba’, focada na “festa do futebol”. Enquanto isso, as críticas legítimas de movimentos sociais ao favorecimento de grandes corporações no Mundial não aparecem nos noticiários. O que está em jogo O lucro da Globo A Globo não informou o valor pago à FIFA para transmitir os jogos. Mas não importa se o investimento é cada vez mais alto, pois o retorno é garantido. A Globo embolsou cerca de R$ 1,44 bilhão só com o que recebeu dos patrocinadores, além do que ganha na retransmissão para
outros veículos e os serviços agregados. Um exemplo foi o sorteio das eliminatórias, em 2011, no Rio de Janeiro. Prefeitura e governo estadual transferiram R$30 milhões para a Globo comandar o evento. Infraestrutura de telecomunicações Acordos feitos com a FIFA estabeleceram que o Brasil deveria oferecer internet com uma qualidade que o país nunca conseguiu implantar. Apenas para modernizar a infraestrutura, foram destinados R$ 404,56 milhões. Esse gasto não foi discutido com a sociedade. Só existirá legado se, depois do Mundial, as redes forem ampliadas nas cidades onde a tecnologia 4G foi instalada. Ainda somos mais de 100 milhões de brasileiros desconectados da rede.
Divulgação
Repressão às rádios comunitárias e criminalização de ativistas A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) reforçou seu aparato de fiscalização e repressão às emissoras comunitárias durante a Copa. Ao mesmo tempo, manifestantes que saíram às ruas para exigir direitos e criticar gastos excessivos foram recebidos pela PM com balas de borracha e spray de pimenta. Parte deles foi criminalizada pela grande mídia e profissionais de comunicação também foram perseguidos. Democratizar é preciso Desde os protestos na Copa das Confederações, diferentes coletivos de mídia, ao fazer a cobertura dos atos, provocaram impor-
tante debate sobre a produção e difusão de informação e conteúdos audiovisuais. Ao mesmo tempo, a grande mídia foi alvo de protestos em diversas cidades. Tudo isso deixou muito clara a necessidade de debater a sério o tema das comunicações e lutarmos pela democratização da mídia no país. Na Copa e durante outros importantes mo-
na geral Arena Pantanal
A Arena Pantanal será administrada pela iniciativa público-privada e pode ter sua lotação reduzida pela metade. O objetivo é livrar o Estado das despesas de manutenção e reduzir o custo operacional do campo. Assim, o principal legado da Copa em Cuiabá dará lucro ao capital privado. O ex-jogador Ronaldo e o ex-presidente corintiano, Andrés Sanchez, estariam interessados no negócio.
Mujica defende, Ghiggia critica
Balotelli desabafa
O protesto de Karim Benzema
A mordida do atacante uruguaio Luis Suárez no zagueiro italiano Giorgio Chiellini continua rendendo. O presidente do Uruguai, José Mujica, defendeu seu compatriota, dizendo que no futebol “se cumpre o que manda o árbitro. Se vamos decidir com base no que sai na televisão, vários pênaltis e bolas na mão não são contestados”. Por sua vez, Alcides Ghiggia, carrasco do Brasil na Copa de 1950, reprovou o ato: “creio que devem puni-lo, pois é um absurdo. Não sei o que esse rapaz tem na cabeça”. O comitê disciplinar da FIFA condenou o jogador a nove jogos de suspensão pela seleção e quatro meses de suspensão do futebol, além de multa de 100 mil francos suíços, R$ 247 mil. Mas ainda cabe apelação.
O atacante Mario Balotelli outra vez enfrenta o racismo de seus compatriotas. Em vídeo postado numa rede social, um torcedor diz que Balo não atuou bem no mundial por não ser italiano e exige que não defenda mais a seleção do país. Em resposta, o jogador, que nasceu na Itália e tem origem ganesa, afirma estar “bravo e decepcionado” consigo mesmo. Além disso, o craque faz uma provocação, ao dizer que “talvez não seja mesmo italiano, pois os africanos jamais abandonariam um irmão. Nisso, os negros, que é como vocês nos chamam, estamos anos-luz à frente. Vergonha não é errar um gol ou correr mais ou menos. Vergonha são essas coisas”, em referência às críticas e aos atos racistas. A Itália precisará mudar não só dentro de campo.
O jogador Karim Benzema, em protesto contra a xenofobia, optou por não cantar o hino nacional antes dos jogos de sua seleção. Uma passagem do hino, que foi escrito em 1792, atualmente é reinterpretada por alguns como uma alusão aos imigrantes e seus filhos, como se eles fossem o “sangue impuro” da França. Benzema é filho de imigrantes originários da Argélia, colônia da França no século 20. Políticos conservadores reagiram à postura do artilheiro pedindo sua não convocação. Esta sugestão não é inédita, já que, na copa de 98, foi proposta a não convocação de jogadores negros ou de origem árabe. Curiosamente, uma seleção de maioria negra e árabe rendeu aos franceses seu único título mundial, tendo como protagonista o argelino Zinedine Zidane.
mentos da história, o oligopólio dos meios de comunicação invisibiliza e tenta calar as lutas populares. Mais uma vez é a população que está perdendo o jogo! O artigo completo está disponível em: www.fndc org.br (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação)
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Você Sabia
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O clima de guerra na Europa marcou a copa de 1938. Foi quando aconteceu o único W.O. (abandono de partida) da história das copas do mundo e o jogo entre Áustria e Suécia não ocorreu. A Alemanha nazista anexou a Áustria, reforçando seu time com austríacos. A Espanha não participou desse campeonato, porque estava atravessando uma guerra civil. A Itália, por ordens de Mussolini, trocou a tradicional camisa azul por um uniforme preto, cor do Fascismo.
16 ESPORTES
Belo Horizonte, de 27 de junho a 03 de julho de 2014
ARTIGO - Dentro de Campo
A Copa da América Latina SURPRESA Seleções favoritas saem na primeira fase Leonardo Calixto Copa das copas: é assim que está sendo chamada a Copa do Mundo disputada no Brasil em 2014. Futebolisticamente, ela é, sem dúvidas, a melhor copa do século 21. Vários os elementos confirmam a afirmação feita acima, entre eles a alta média de gols marcados e as surpresas que fizeram muita gente parar e pensar se realmente entende de futebol. A goleada sofrida pela seleção espanhola, juntamente com sua eliminação precoce, fomentará as rodas de debates sobre o futebol até o fim do ano. Afinal, é ou não é o fim de um estilo de jogo que marcou
época e de um ciclo vitorioso da “La Roja”? A classificação em primeiro lugar, no grupo da morte, da polivalente Costa Rica - que uniu muito bem a disciplina européia com a ousadia latino-americana - é ou não é um indício de que as grandes seleções devem renovar suas formas de jogar? São questões que vêm à cabeça quando os deuses do futebol resolvem aprontar. Aprontaram, no caso particular desta copa, pra cima dos europeus. Países que sempre exportaram jogadores estão se sobressaindo perante os que sempre importaram. As grandes seleções da Espanha, Itália e Inglaterra e a mediana Portugal, quatro das principais
Reprodução
As grandes seleções devem renovar suas formas de jogar
importadoras de jogadores latino-americanos, sequer passaram da primeira fase. O futebol tornou-se moder-
no e globalizado, as táticas e estratégias que antes davam vantagem a estes países, hoje os fazem vítimas.
Assim, a Copa das Copas vai virando a Copa das Américas, a Copa da América Latina!
Charge
ARTIGO - Fora de Campo
A universalidade da miséria humana Reprodução
Marcelo Pereira O esporte imita a vida. As quatro linhas do campo são uma “arena” onde são encenadas as glórias e tragédias do cotidiano. O herói e o vilão, o justo e o desonesto, o medíocre e o brilhante estão presentes tanto na tragédia esportiva quanto no drama da vida real. Até agora, a Copa recebeu belos episódios de alegria, tanto dentro de campo (com a média espetacular de gols por partida), quanto fora dele. Poucos foram os momentos em que mostramos nosso lado ruim, mas eles existiram. Entre os milhares de argentinos que vieram a BH, alguns poucos entraram em conflito com brasileiros na Savassi. O episódio acabou com um homem detido pela polícia. Lamentável. Mas o “privilégio” não
O mundo inteiro provou que somos muito parecidos
foi só dos argentinos. A PM divulgou na quarta (25) que foram registradas, até então, cem detenções em BH desde o começo da Copa. Destas, 48 ocorreram com estrangeiros, a maioria colombia-
nos. Na terça (24), dois ingleses tentaram roubar um taxista. A mim parecem números muito tímidos diante dos estimados 384 mil estrangeiros que virão a BH. Mas servem para nos mos-
trar a universalidade da miséria humana. O mundo inteiro provou que somos muito parecidos. Outros números ficarão escondidos. Por exemplo, o da exploração sexual de mulheres e crianças. Sabemos como o futebol pode ser um antro de violência contra a mulher. Quando a bandeirinha erra a marca-
ção do impedimento, chamam-na de vadia. Quando o bandeirinha erra, chamam a mãe dele de vadia. Até agora, somos mais alegria e integração do que qualquer outra coisa. O Brasil tem sido palco privilegiado para a Copa. Que siga assim até o dia 13 de julho. E, de preferência, que a taça fique por aqui.