Edição 112 do jornal Brasil de Fato MG

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BRASIL 8

Mídida NINJA

ESPORTES 15

Se empurrar, Calcanhar de ele cai? Ouro Movimentos da Frente Brasil Popular vão às ruas para gritar “Fora Cunha”. Sete razões motivam pedido de saída do presidente da Câmara dos Deputados, que coleciona acusações de corrupção

Minas Gerais

Reprodução

Brasileiro no nome, na bola e no compromisso com o povo. Campo de futebol da Escola Florestan Fernandes homenageia o craque Sócrates Brasileiro Sampaio

13 a 19 de novembro de 2015 • edição 112 • brasildefato.com.br/mg • distribuição gratuita

Uma tragédia anunciada Duas barragens romperam na quinta-feira, 5 de novembro, em Bento Rodrigues, distrito de Mariana. Dezenas de pessoas ainda estão desaparecidas, muitos mortos e centenas desabrigadas. Uma terceira barragem corre o risco de romper. Os impactos atingem toda a bacia do Rio Doce. As barragens são de responsabilidade da empresa Samarco, que pertence à Vale e à BHP Billiton. Confira cobertura completa em http://cobertura.brasildefato.com.br Fotos: Isis Medeiros, Lucas Bois, Rafael Lage, Douglas Resende, Caio Santos, Vinícius Vieira, Rafaella Dotta.

MINAS CULTURA

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CIDADES

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Venha para o FAN

Eletricitários em vigília

Festival de Arte Negra reveste BH com as cores da matriz africana. Entre os dias 25 e 29 de novembro, evento traz festas, apresentações culturais e encontro de saberes populares

Funcionários da Cemig lutam pela primarização da empresa e mostram os danos que a terceirização traz aos usuários e trabalhadores

CULTURA

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Quem trabalha o descanso merece Se você não quer ser passado/a para trás no serviço, leia a coluna Nossos Direitos. Nesta edição, o tema é direito a férias


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

Editorial | Minas

Não foi um acidente: é um modelo

ESPAÇO dos Leitores “Será preciso sempre viver uma tragédia para nos lembrar quem a gente é, de onde vem e o que de fato importa?! Parabéns ao Brasil de Fato e aos Jornalistas Livres pela cobertura sensível, humanizada, de um tema tão delicado.” Israel do Vale, presidente da Rede Minas, sobre a cobertura especial do Brasil de Fato da tragédia em Mariana

“E se a mídia não mostrar? O Brasil de fato vai mostrar!” Adonay Jo Calderone , sobre a cobertura especial do BF

“É hora de a PF confiscar os passaportes dos donos e diretores da Vale/Samarco e se o presidente da BHP ainda estiver no Brasil, não deixá-lo sair do país!” Cristiano Santos, sobre a tragédia em Mariana

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Quando uma tragédia como a que cado como um crime de lesa-pátria, ocorre na região de Mariana aconte- tamanha a discrepância entre o vace, somos tomados de muitos senti- lor da empresa e o que o Estado rementos: compaixão, raiva, indig- cebeu por ela. Antes mesmo de vennação, medo. As inúmeras campa- der a empresa por pouco mais de nhas de solidariedade às vítimas de- R$ 3 bilhões, o então presidente Fermonstram que somos afetados di- nando Henrique Cardoso aprovou retamente pela dor do outro, ain- uma lei que isenta as mineradoras da que não o conheçamos pessoal- de pagar tributos pela circulação de mente. Faz mercadorias e parte da nosserviços, uma É preciso investigar sa condição operação que humana esretira bilhões motivos da tragédia sa sensação do orçamento de impotênpúblico. cia frente a um desespero tão reDiversos movimentos populaal e uma das saídas que encontra- res alertam há décadas sobre o rismos é nos prontificar a ajudar, seja co para o país e sua população desrecolhendo roupas e dinheiro para se modelo predatório, que gera desos atingidos, seja através de orações, truição ambiental, exploração do seja atuando como os heróis anôni- trabalho e mortes. mos, que rompem a barreira policial Não é à toa que se configura copara tentar salvar pessoas e animais. mo resumo da tragédia a palavra de Essa reação é digna, louvável e ordem “não foi acidente”. O desastre merece ser incentivada. Mas é pre- faz parte de uma lógica, amparada ciso também pensar e atuar mais a na economia, nas leis, na estrutura fundo. Este não foi um acidente na- do governo que se rende ao mercatural. Está demonstrado que a causa do, interessado somente em lucros. do rompimento da barragem não foi E não custa repetir: esses lucros são um tremor de terra ou algo que não apropriados sempre por muitos poderia ter sido planejado. É preciso poucos acionistas e empresários. investigar os motivos que levaram O Estado, por sua vez, nega seu ao acontecipapel de mento e enagente pútender. Porblico ao se que ele não é O desastre faz parte de uma lógica p o s i c i o n a r um fato isoao lado desde cobiça e exploração lado. se modelo. É O Brasil, no mínimo e especialrevoltante mente Minas Gerais, é rico em mi- que o governador escolha a sede da nério. Ele foi duramente explorado empresa responsável pela destruidesde os tempos de colônia, e se- ção para uma coletiva de imprengue como um dos motores da eco- sa. Com esse gesto, o governo parenomia. Para garantir a extração des- ce demonstrar seu lado. se material e, teoricamente, gerar Somos e seremos solidários. A riqueza e desenvolvimento, o po- dor, especialmente a dor dos trabader público, em todas suas esferas, lhadores, vítimas do sistema, é nostransfere para a iniciativa privada sa dor. Mas a dor é também motor sua exploração, em troca do paga- de revolta, de questionamento, de mento de alguns impostos e “com- organização. Essa tragédia explicita pensações” sociais e ambientais. que é cada vez mais necessária a deEssa lógica se aprofundou com núncia desse modelo predatório e a privatização da então Vale do Rio novas formas de lidar com a natureDoce, em 1997, em um processo za e com a humanidade. cheio de irregularidades e classifi-

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora também com edições regionais, em MG, no Rio e em SP. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

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conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Adriano Ventura, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Carlos Dayrel, Cida Falabella, Cristina Bezerra, Deliane Lemos de Oliveira, Durval Ângelo Andrade, Eliane Novato, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Laísa Silva, Luís Carlos da Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Michelly Montero, Milton Bicalho, Neemias Souza Rodrigues, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rilke Novato Públio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Sérgio Miranda (in memoriam), Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Repórteres: Pedro Cíndio, Pedro Rafael Vilela, Rafaella Dotta e Wallace Oliveira. Colaboradores: Acsa Brena, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, João Paulo, Léo Calixto, Marcos Assis, Olivia Santos, Rogério Hilário, Sofia Barbosa, Coletivo Henfil. Fotografia: Larissa Costa. Estagiária: Raíssa Lopes. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Administração: Vinicius Nolasco. Diagramação: Bruno Dayrell. Tiragem: 40 mil exemplares.


Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

CIDADES

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Cemig continua se negando a negociar com trabalhadores MOBILIZAÇÃO Em protesto, eletricitários de várias regiões de Minas Gerais realizam o “Dia Vermelho” Reprodução / Facebook

Raíssa Lopes Apesar de a vigília de eletricitários na sede da Cemig continuar, gestores da empresa se negam a analisar a possibilidade de primarização. Representantes do Sindieletro realizaram mais um ato na quarta-feira (11). Eletricitários de todo o estado se vestiram de vermelho para manifestar união e cobrar uma resposta favorável e efetiva da empresa. Segundo Jefferson Silva, coordenador geral do sindicato, o chamado “Dia Vermelho” reuniu, somente na sede da Cemig em Belo Horizonte, cerca de 300 trabalhadores. Participaram também do protesto eletricitários de Governador Valadares, Uberaba, Uberlândia, Bom Despacho, Patos de Mi-

nas, Montes Claros, Paracatu, Itaúna, São João Del Rei, Barbacena, Usina Nova Ponte, Pitangui, Ponte Nova, Pará de Minas, Guanhães, Lagoa da Prata e Oliveira. Nas duas últimas cidades, 100% dos funcionários aderiram à paralisação. “A dimensão das manifestações deixa claro que [a terceirização]não é um problema localizado, está diretamente ligada às formas de organização do trabalho na empresa. Além disso, também evidencia a disposição da categoria de mobilizar para tratar o assunto”, ressalta Jefferson. Precarização O coordenador ainda esclarece que a terceirização, além de prejudicar seriamente os trabalhadores, gera danos aos consu-

midores, à empresa e ao Estado. “Com o modelo, a empresa perde em receita devido aos valores dos contratos com empreiteiras. Os consumidores são lesados com a indisponibilidade de energia elétrica, fruto dessa prestação de serviço e os trabalhadores perdem com a falta

Moradoras da Pedreira Prado Lopes protestam contra problemas do Vila Viva William Araújo

Wallace Oliveira Na quarta-feira (11), moradoras Pedreira Prado Lopes, juntamente com o Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), se manifestaram em frente à sede da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). Elas vivem nos condomínios construídos pelo Programa Vila Viva e reivindicam os títulos de propriedade dos apartamentos e a reparação de problemas da construção dos prédios. “Há sete anos, fui reassentada. Na época, a Urbel disse que receberíamos os títulos após dois anos, mas até hoje não cumpriram o combinado”, relata a moradora Andreza Quirino. Além disso, não foram instalados hidrômetros individuais em cinco edifícios, apesar de promessas. A Prefeitura pagava a conta de água dos prédios, mas em agosto de

de controle sobre o processo de trabalho e o grave número de acidentes que matam e mutilam. Já o Estado perde por não ter representação de sua maior empresa, já que nos municípios a manutenção e operação do sistema são realizadas por um serviço com qualidade

inferior”, destaca. Por meio de nota, a Cemig informa que, a partir do de 2016, se compromete a negociar um acordo coletivo específico, caso algumas premissas estabelecidas sejam aceitas pela categoria. Entre elas, estão “realização de concurso público para reposição de quadro” e “elaboração de um novo plano de prevenção dos riscos de acidentes de trabalho”. Para Jefferson, no entanto, a proposta não dialoga com os anseios dos trabalhadores e nem com a necessidade real da empresa a respeito da qualidade do serviço e custo de manutenção. “A proposta não traz uma primarização em si, discute alguns pontos para primarizar, muito pautada pelo marco regulatório”, explica o coordenador.

PERGUNTA DA SEMANA

Após o rompimento da barragem em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, muitos comunicadores e militantes que presenciaram a situação do local criticaram a mídia brasileira pela cobertura dada aos fatos. O Brasil de Fato MG saiu às ruas e perguntou: Quem você acha que são os culpados pela tragédia?

2015, informou que cessará o pagamento e não arcará com o custo da individualização dos hidrômetros. “O programa não pode oferecer aos atingidos uma condição pior do que tinham. O Estatuto das Cidades deixa claro que projetos de reassentamento devem melhorar a habitabilidade das famílias. O reassentamento sem a individualização do acesso à água, para famílias que já possuíam o acesso individualizado, é um prejuízo e violação de direitos”, explica a advogada Adília Sozzi.

Falta diálogo Durante a manifestação, a Companhia informou que se reuniria com moradores, desde que o movimento não participasse da reunião. A proposta foi recusada pela maioria das pessoas presentes no ato, que terminou com uma passeata na Avenida do Contorno. “Nós construímos a pauta com os moradores. Não aceitamos que a Urbel defina unilateralmente quem pode discutir o problema, numa clara tentativa de dividir e fragilizar o movimento”, argumenta Vinícius Nolasco, do MTD.

Claro que é a Samarco. Mas, ainda assim, queria saber o que aconteceu de fato. A mídia só está mostrando os “resultados” da tragédia, não existe investigação para sabermos qual o motivo de a barragem ter rompido. Heitor Antônio, 21 anos, designer

Acho que é da Vale e da Samarco. A Samarco não tinha um alerta sonoro para incidentes do tipo e eu acho que ela deveria ter mais cuidado pra evitar tragédias como essa. Pra mim, a mídia está maquiando a situação. Bruna Sales, 24 anos, estudante


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CIDADES

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

Movimentos cobram medidas para combater desastre da Samarco/Vale ALERTA Pauta com reivindicações dos atingidos foi entregue a Dilma e Pimentel Roberto Stuckert Filho / PR

Na quinta-feira (12), o Movimento dos Atingidos por Barragens e a Arquidiocese de Mariana encaminharam à presidenta Dilma Rousseff e ao governador Fernando Pimentel um documento com reivindicações das pessoas que foram diretamente prejudicadas pelo desastre ambiental da Samarco/Vale. A catástrofe, que começou há uma semana com o rompimento dos reservatórios de rejeitos de Fundão e de Santarém, devastou o distrito de Bento Rodrigues, matou moradores e funcionários, está contaminando

rios e nascentes e prejudica o fornecimento de água em diversas cidades. O documento contém seis pontos, que passam pela assistência às comunidades atingidas, recuperação da região da bacia do Rio Doce, formação de mesas de negociação entre governos, entidades da sociedade civil e as empresas responsáveis pelo desastre, uma legislação que “não coloque o interesse pelo lucro acima da vida”. Os propositores do documento também estão preocupados com o risco de que a Barragem de Ger-

mano venha a se romper e aumente os danos à população de Minas Gerais. Por isso, pedem que os governos intervenham imediatamente para garantir a segurança. Multa de R$ 250 milhões Na tarde da quarta-feira (11), o Ministério Público de Minas Gerais estipulou um prazo de 48 horas para que a Samarco/Vale apresente uma projeção dos impactos que um eventual rompimento da Barragem do Germano pode causar. A mineradora também deverá propor ações emergen-

Dilma e Pimentel sobrevoam a área atingida, uma semana depois do ocorrido

ciais para enfrentar um novo desastre. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)

vai aplicar multa de R$ 250 milhões à mineradora, pelo lançamento de rejeitos e pelos prejuízos causados à biodiversidade.

Isis Medeiros

“Eu achava que não ia acontecer nunca, mas tinha gente ali que sempre ficava com esse medo sim. Toda reunião que a gente fazia, mesmo que não era nesse assunto, alguém sempre falava que aquilo podia estourar. Eu nem sei o que eu vi. Era um barulho insuportável e eu via árvore, casa, gente… A comunidade agora tem que ser mais unida. Se for pra montar uma associação, vamos montar. Não foi unido que a gente venceu a lama? Um ajudando o outro? Agora tem que ser também!”

Edilaine Marques dos Santos, 26 anos, moradora de Mariana Isis Medeiros

Cerca de 500 pessoas se concentraram na Praça Jardins, em Mariana, e foram em marcha até a Praça Sé , onde aconteceu um debate com o MAB, a Arquidiocese, sindicatos e ambientalistas. O ato cobra a apuração da responsabilidade dos envolvidos na tragédia e informações sobre a reconstrução da vida dos atingidos e trabalhadores. O ato também teve o objetivo de levantar propostas de organização

Em crítica à Vale, internautas compartilharam vários memes nas redes sociais

“A opção da Igreja já foi feita. Na luta entre Golias e Davi, nós ficamos ao lado do menino. A posição tem que ser clara e sem ambiguidades: temos que ficar do lado dos atingidos e não de quem provocou a tragédia” Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo da diocese de Mariana


Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015 Reprodução / Justiça Global

MINAS

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Caio Santos

“A lama foi arrancando todas as pontes. Tem partes que a lama chegou a dois metros. Na comunidade, não há comida, remédios, comércio ou acesso a produtos básicos. Só existe mau cheiro”

Performance em frente à sede mundial da Vale na terça-feira (10), no Rio de Janeiro. Com os corpos cobertos de lama, artistas denunciaram a responsabilidade da mineradora no desastre.

Dirceu da Luz, morador da comunidade de Mandioca, interior de Barra Longa (MG), onde diversas famílias ficaram ilhadas. Ele perdeu a casa, assim como mais de 500 cabeças de galinhas, patos, perus e porcos.

O que a Vale tem a ver com O DESASTRE? A Vale é uma das maiores mineradoras do mundo, acumula lucros exorbitantes e detém 50% das ações da Samarco, junto com a australiana BHP Billiton. A mineradora brasileira foi privatizada em 1997, no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), do PSDB. Movimentos populares questionam, até hoje, todo o processo de privatização. Isto porque a empresa

foi vendida num leilão por R$ 3,3 bilhões, enquanto especialistas estimavam seu preço em, ao menos, R$ 30 bilhões. Desde então, a Vale é o centro de diversos processos na justiça e denúncias sobre as violações de direitos humanos e ambientais no país, como a falta de investimento na segurança dos empreendimentos.

Artigo

Réquiem para uma terra morta João Paulo Cunha

Onde havia vida, hoje se procura um sinal, ainda que de confirmação da dor. No lugar em que pessoas viviam, hoje chafurda um grito que não vence a resistência do barro envenenado. Na cidade que viu nascer Minas Gerais, tudo regride a um estado mineral e sem brilho. Nada há de brotar tão cedo daquele solo. A matéria tóxica e plástica envolve todas as possibilidades imediatas de vida. Até a água, elemento primário do mundo, perde seu poder saneador para ser apenas veículo do que escorre como operoso fluxo de rejeitos. Fosse apenas o sofrimento, já seria demasiado. Mas há mais: o descaso. A degradação do ambiente e do trabalho de homens e mulheres foi apontada sem trégua por movimentos sociais demonizados pelos meios de comunicação. São décadas de denúncia da exploração, da ausência de cuidado com a terra, da submissão sem constrangimento aos interesses do lucro. Os distritos de Mariana se tornam símbolos de uma forma torpe de entrega. Da troca do futuro possível pela sobrevivência imediata; da capitulação da dignidade pela urgência;

do engodo da sustentabilidade que turvou as mentes antes de enlamear a paisagem. Um jogo desigual, imundo, desonesto. A barganha da vida e de suas possibilidades pela oferta de um horizonte limitado no tempo. A vizinhança imposta da morte em forma de matéria incontível, de lama pútrida, do anúncio fatal. Quando a morte mostrou sua trabalhosa construção do nada, o que se viu foi o jogo da mentira assumir a cena. Não foi a ganância que empilhou milhões de toneladas venenosas sobre as pessoas; não foi a necessidade de conter

Fosse apenas o sofrimento, já seria demasiado. Mas há mais: o descaso gastos que impediu o investimento em segurança; não foi a irresponsabilidade que armou a tragédia inevitável. Foi o terremoto. A fatalidade. O risco incontornável do acaso. Não foi uma empresa que nunca respeitou a vida, como a Vale, escondida em nome de subsidiárias; não foram pedidos de leniência na legislação ambiental que hoje correm no Legislativo; nem mesmo artifícios fiscais para aumentar o lucro e não deixar para a terra e seus

habitantes nada além de crateras e lama química. Foi a necessidade da economia. Foram as leis de mercado. É assim que se forjam mentiras. O Estado, ao aceitar a empresa como espaço para manifestar sua leitura do drama humano que testemunhava, trocou a legitimidade pela sombra da conivência. Minas Gerais, cumprindo um destino funesto, abre seu caminho para o mar. Impulsionada pela dinâmica da economia que, sem metáforas, arranca a riqueza do chão e deixa seu rastro de monturos, opera a química inviável de transformar em lucro imediato o que a natureza demorou milhões de anos para criar. A diferença de tempos – geológico e econômico – está na raiz da tragédia. A ganância trabalha no horizonte de uma geração, já que os acionistas precisam ficar ricos; Gaia segue outra dinâmica e não se apieda de quem não cuida dela. O Estado brasileiro, subserviente e fraco, vem sendo sequestrado historicamente por esse projeto. E tem, dia a dia, arrastado com ele vidas mal vividas, mortes evitáveis e destruição. Algumas vezes a resposta dos elementos se transforma em um som poderoso, ainda que difícil de suportar. Neste momento, no entanto, os gritos mais verdadeiros já foram calados para sempre. É por eles que precisamos levantar nossa voz.


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MINAS

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

Salário mínimo sem aumento real, após década de valorização DIREITOS Valorização do salário na última década é fruto da luta sindical Reprodução

Wallace Oliveira No aniversário de 60 anos do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), nos dias 9 e 10 de novembro, a Escola de Formação da Assembleia Legislativa recebeu o seminário “Salário Mínimo e Desenvolvimento: lições do Brasil e experiências internacionais”. A atual política de valorização do Salário Mínimo foi analisada por especialistas, gestores públicos e sindicalistas. O Salário Mínimo (SM) é a menor contrapartida que a pessoa que trabalha deve receber para que garanta seu sustento e de sua família. Entretanto, o atual patamar, de R$ 788, está muito abaixo do que previu a Constituição de 1988: um mínimo capaz de cobrir despesas com moradia,

recuperação do poder de compra naquele ano, foi nas campanhas unificadas das centrais sindicais, a partir de 2005, que se

O Salário Mínimo deveria ser de R$ 3.210,28

Segundo a Constituição, o salário mínimo deveria ser capaz de cobrir despesas gerais do trabalhador

alimentação, saúde, higiene, vestuário, transporte, energia, lazer e educação. Seria preciso um salário de pelo menos R$ 3.210,28, segundo o Dieese. “Desde que foi instituído no Brasil, em 1940, o Sa-

lário Mínimo teve muitos avanços e perdas, até chegar ao menor valor de sua história em 1995”, informa o economista Frederico Melo, do Dieese-MG. Ele explica que, embora o SM tenha iniciado uma lenta

conquistaram os aumentos mais expressivos e, em 2007, a criação de uma política de valorização contínua. “O salário mínimo de janeiro de 2015 tem um poder aquisitivo cerca de 70% maior do que o salário de 2004”, afirma o economista. Como a economia brasileira deve sofrer retração nos próximos dois anos, o SM deve ter apenas a reposição das perdas inflacionárias, em torno de 10%, sem aumento real. Em agosto, o governo enviou ao Con-

gresso o Projeto de Lei Orçamentária Anual, prevendo que o salário passe de R$ 788 para R$ 865,50 em 2016, um reajuste de 9,83%.O texto precisa ser votado até o dia 22 de dezembro. Política de reajuste Foi instituída em 2007, consolidando-se em 2011 com a lei 12.382. Possui três componentes fundamentais: - Reajuste: o poder de compra do SM deve ser recuperado, com a reposição das perdas inflacionárias do último ano. - Aumento real: acima da inflação, calculado com base na variação do Produto Interno Bruto (PIB) do biênio anterior. - Data-base: a data foi sendo antecipada todos os anos, até chegar a 1º de janeiro.

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Agricultores familiares do Sul de Minas recebem capacitação para produção de alimentos saudáveis Mais de 150 agricultores familiares participaram de um ciclo de capacitação para produção de alimentos saudáveis. O ciclo de capacitação foi realizado pela ASFAPSUL - Associação dos Assentados Familiares do Assentamento Primeiro do Sul, no município de Campo do Meio – MG, e contou com a presença de agricultores assentados deste município e também de Guapé – MG. As atividades foram divididas em duas etapas. A primeira, nos dias 9, 10 e 11 de outubro, trabalhou

sobre formação e educação no campo, e a segunda nos dias 23, 24 e 25 de outubro, tratou de temas ligados à importância do processo de união e organização de pequenos produtores. As atividades contaram com a presença de diversos professores das Universidades e Institutos Federais do Sul de Minas. Também contou com a presença da Superintendente Regional de Educação de Varginha Arlete Ribeiro Ramos Gomes, e de Poços de Caldas Rosana Aparecida de Miranda. Esse ciclo de capacitação teve grande importância aos agricultores assentados de Campo do Meio e Guapé, e também para consumidores que poderão ter acesso a um alimento cada vez mais saudável. A realização do evento contou com o patrocínio do Governo do Estado de Minas Gerais e da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – CODEMIG.


Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

Acompanhando

Foto da semana

OPINIÃO

PARTICIPE Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br.

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Priscila Musa

Na edição 111... Greve dos petroleiros atinge 25% da produção ...E agora Greve continua Na quinta-feira (12), o Conselho Deliberativo da Federação Única dos Petroleiros se reuniu para avaliar a proposta apresentada pela Petrobras e definir os próximos passos da categoria, que está em greve desde o dia 1º de novembro. Ao longo do dia, os trabalhadores realizaram manifestações nos edifícios da Petrobras e outros atos estão programados para a semana. Na edição 111... Norberto Mânica codenado, Antério é réu ...E agora Hugo Pimenta é condenado a 96 anos de prisão Acusado de ser um dos intermediários da Chacina de Unaí, Hugo Pimenta foi o último a ser julgado pelo crime. No final da tarde dessa quartafeira (11), recebeu a sentença de 96 anos de prisão. Como o réu fez um acordo de delação premiada, a pena caiu para 48 anos, descontando o tempo que já cumpriu. Dos nove envolvidos na chacina, apenas o agenciador Chico Pinheiro não foi condenado porque morreu antes de ir a julgamento. Os mandantes receberam penas próximas a cem anos cada. Os condenados podem recorrer em liberdade.

CULTURA NEGRA - Entre os dias 6 e 8 deste mês, aconteceu em Belo Horizonte o primeiro Festival de Cultura Quilombola de Minas Gerais, o Canjerê. Com a participação de 60 grupos, de 27 cidades do estado, a programação contou com feira de artesanato e de produtos agrícolas, culinária quilombola, apresentações de grupos culturais, shows com artistas da música afro-mineira, debates políticos, oficinas e cortejo. Na foto, a Guarda de Moçambique do Quilombo dos Arturos, de Contagem.

Beatriz Cerqueira

Gilberto Cervinski

Ouvir quem? Governar para quem?

Greve dos petroleiros enfrenta capital internacional

Na manhã do sábado, dia 7, o senhor Valdir foi cedo para a feirinha de produtos da agricultura familiar. Ficou em pé, ao lado da sua barraca, que estava vazia. Não havia o que vender. Tudo foi levado pela lama criminosa da Samarco e Vale. Ele me disse que foi lá para confortar as pessoas. Ele não sabe por quanto tempo não terá nada pra vender e ficará em abrigos provisórios. O governo do estado não conversou com o senhor Valdir, como não conversou com outras vítimas desta tragédia. Conversou com a Samarco. O Centro de Operações envolvendo Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil foi montado dentro da sede da empresa, guardada por um forte esquema de segurança privada. É a Samarco que tem o controle das informações sobre os atingidos, onde estão, que assistência estaria sendo prestada. Também é a Samarco que tem o controle sobre o número de trabalhadores que estavam na região no momento da tragédia. Não havia nenhum plano de atendimento emergencial Não havia nenhum para situação de desastre, se- plano de atendimento ja da empresa, seja do Goveremergencial no do Estado. Foi de dentro da Samarco que o governo, através de coletiva com a imprensa, conversou com a sociedade. Os impactos não estão sendo assumidos pela Samarco e a Vale. O prefeito, refém da estrutura montada pela Samarco, se divide entre cobrar providências e o desespero do impacto econômico que a suspensão das atividades da Samarco terá na região. A cidade está fragilizada e vulnerável frente ao poder econômico da Vale. Não é possível estar nos dois lados. Tem que escolher para quem quer governar e quem quer escutar. As mineradoras já foram escutadas durante as três gerações do choque de gestão em Minas Gerais. Está na hora de escutar o povo. E governar para ele.

Os trabalhadores da Petrobrás estão em greve nacional contra a privatização da empresa. Mais do que enfrentar o plano de desinvestimento, a greve significa um enfrentamento ao capital internacional. A decisão de privatização adotada pela atual direção da Petrobrás é parte da estratégia e do jogo político que vem desde antes das eleições presidenciais que teve a difícil vitória da presidenta Dilma. O fato é que desde 2008 há uma crise mundial da economia, que vem afetando principalmente os países centrais do capitalismo, como Europa, Estados Unidos e Japão. Baixo crescimento significa baixo lucro gerado aos setores empresariais. Sem perspectivas de retomada no curto prazo, a estratégia do capital é adotar medidas para “ajustar” a retomada das taxas de lucratividade. Aumentam disputas intercapitalistas e a ofensiva do capital contra os trabalhadores para explorar mais e retomar taxas de acumulação. Petróleo e gás são a principal base de matéria prima para a indústria Pré sal e Petrobras são alvo de cobiça mundial. A estratégia de redução nos preços dessas matérias primas jogou o preço do barril abaixo dos U$ 50, reduzindo a lucratividade das petroleiras. É em meio a essa disputa mundial que se situam a ofensiva e os ataques contra a Petrobrás e a legislação brasileira de petróleo, principalmente a lei de partilha e a política que garante à Petrobrás ser operadora única nas áreas de pré-sal e a política de conteúdo nacional. O Brasil tem o que qualquer país gostaria de ter, o présal, que são as maiores reservas mundiais de petróleo. E a Petrobrás com a melhor tecnologia de exploração em áreas profundas, com 92% da produção brasileira de petróleo. Defender a Petrobrás é defender o Brasil, por isso a sociedade deve apoiar a greve e lutar contra a privatização. Gilberto Cervinski é dirigente nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB. Leia íntegra em www. brasildefato.com.br

Beatriz Cerqueira é professora, presidenta da CUT Minas e Coordenadora-geral do Sind-UTE MG


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BRASIL

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

Movimentos reivindicam #ForaCunha CORRUPÇÃO Conheça os motivos apresentados pelas organizações sociais para a saída do presidente da Câmara Mídia NINJA

Da redação, do Rio de Janeiro (RJ) Contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB -RJ), movimentos populares, sindicais, feministas e da juventude convocaram um ato nacional para a próxima sexta-feira (13). Manifestações acontecerão em várias capitais brasileiras. Entre os motivos para a mobilização estão os US$ 5 milhões encontrados em contas do deputado na Suíça, além da quebra de decoro ao mentir na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás dizendo que não tinha contas no país europeu, o que foi contraria-

do pelo Ministério Público suíço. Na quarta-feira da semana passada (4), militantes do Levante Popular da Juventude jogaram dólares falsos no presidente da Câmara, enquanto gritavam “chegou sua encomenda da Suíça”. Todos os movimentos que compõem a Frente Brasil Popular estarão presentes, entre eles MST, Marcha Mundial das Mu-

lheres, CUT, UNE e Levante Popular da Juventude. O Levante realizou protestos em 16 estados do país na semana passada. Na semana anterior, mulheres e movimentos feministas organizaram manifestações no Rio de Janeiro e em São Paulo, contra o PL 5069/2013, de autoria do deputado. Estima-se que mais de 10 mil pessoas participaram dos atos.

Razões: Atos #ForaCunha acontecerão em várias cidades brasileiras. Em BH, está marcado para as 17h, do dia 13, na Praça Sete.

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1 #CunhaSonegador: há muito tempo já se sabe que Eduardo Cunha só chegou à presidência da Câmara porque intermediou o financiamento de campanha de dezenas de deputados, com esquemas de corrupção. Além de acusado pelo MP, agora está comprovado que Cunha e sua família tem US$ 5 milhões em contas secretas na Suíça. 2 #CunhaMentiroso: o deputado quebrou o decoro parlamentar ao mentir na CPI da Petrobrás, dizendo que não tinha contas no exterior. O Ministério Público da Suíça apresentou recentemente toda documentação do Deputado. 3 #CunhaHipócrita: Cunha foi eleito com apoio de setores religiosos, mas não disse aos seus eleitores que tem uma frota de carros de luxo, incompatível com seus rendimentos declarados, vinculada à empresa “Jesus.com”. 4 #CunhaHomofóbico: Cunha é autor do projeto de lei 1672 que institui o dia do “Orgulho Hétero”, em clara afronta aos movimentos LGBTs, fortalecendo a cultura homofóbica que está disseminada em nosso país. 5 #CunhaMachista: outro projeto de Eduardo Cunha recentemente aprovado na CCJ é o PL 5069, que proíbe o SUS de oferecer às mulheres vítimas de estupro a pílula do dia seguinte, o que viola um direito básico de evitar uma gravidez indesejada, em casos de violência sexual. 6 #CunhaCriminalizador: o deputado foi o principal articulador da votação da PEC 171 que institui a redução da maioridade penal para 16 anos. Essa medida poderá afetar a vida de milhares de jovens, em especial a juventude negra, que ao invés de oportunidades, será submetida ao encarceramento. 7 #CunhaGolpista: como Presidente da Câmara, Cunha se notabilizou por violar o regimento, e pelas manobras nas votações da Câmara. Sempre que perde no plenário, coloca a mesma matéria em votação até atingir seus interesses.


BRASIL

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

Renda será avaliada como critério de desempate em acesso à universidade Edilson Rodrigues / Agência Senado

Da redação Já está em vigor a nova legislação que estabelece que a renda familiar será critério de desempate no vestibular. A lei foi sancionada no dia 4 de novembro pela presidenta Dilma Rousseff e regulamenta que, em caso de empate no processo seletivo, o candidato aprovado que tenha menor poder aquisitivo terá prioridade na disputa por vagas em instituições públicas de ensino. Anteriormente, cada universidade determinava o critério utilizado para escolha do candidato - muitas utilizavam a nota da redação do ENEM, disciplinas com maior peso na pontuação e até mesmo a idade

Lideranças afirmam que greve dos caminhoneiros faz parte de manobra golpista Da redação

do aluno. Agora, segundo o documento, caso o empate aconteça, o candidato deverá comprovar renda inferior a dez salários mínimos. Se ainda assim o impasse permanecer, será escolhido aquele cuja família possuir a menor renda.

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Segundo nota divulgada pela liderança do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara Federal, a paralisação dos caminhoneiros faria parte de uma manobra golpista para impeachment da presidenta Dilma Rousseff. De acordo com as informações da assessoria, a greve se trata de um movimento encabeçado pelo empresário Ivar Schmidt, de Mossoró (RN), e organizações ligadas à direita como “Vem pra Rua”, Movimento Brasil Livre (MBL) e “Revoltados Online”. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Lo-

gística (CNTTL), entidade filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), também se manifestou por meio de comunicado. O texto afirma que os caminhoneiros estão sendo

Grupos que lideram movimento não possuem compromisso com caminhoneiros usados em prol de interesses políticos e que os grupos que lideram o movimento não possuem compromisso com a categoria. “Os caminhoneiros não precisam de mobilização

para derrubar governo. Os caminhoneiros precisam de mobilização para regulamentar frete e preço de frete, para melhorar as condições de trabalho como pontos de parada com estrutura adequada, confortável e segura para atender suas necessidades”, declarou a entidade. O Governo Federal afirma que a maioria das reivindicações da categoria, que iniciou paralisação também em abril deste ano, foram atendidas. Os motoristas, no entanto, continuam pedindo salário unificado em todo país, criação de frete mínimo, redução do preço do óleo diesel, entre outras pautas.

Homicídios de mulheres negras aumentam 54% em 10 anos, aponta estudo Reprodução

mes acontecem no ambiente doméstico, sendo 33,2% cometidos por parceiros ou ex-companheiros das vítimas. A respeito da idade das mulheres, o Mapa da Violência evidencia baixa incidência até os 10 anos de idade, com crescimento até os 18 e 19 anos. A partir daí, há uma tendência de lento declínio até a velhice.

Da redação Homicídios de mulheres negras aumentaram 54% em dez anos no Brasil, passando de 1.864 em 2003, para 2.875 em 2013. Em contrapartida, no mesmo período, o número de assassinatos de mulheres brancas caiu 9,8%, diminuindo de 1.747 em 2003 para 1.576 em 2013. Os dados fazem parte do Mapa da Violência 2015: Homicídios de Mulheres no Brasil, estudo da Faculdade Latino -Americana de Ciências So-

ciais (Flacso), divulgado na segunda-feira (9). Ainda segundo a análise, em 2013, 13 mulheres foram mortas por dia no país - em média 4.762 homicídios.

Em 2013, uma média de 13 mulheres foram mortas por dia no Brasil O documento foi construído com ênfase na violência de gênero e releva que 55,3% desses cri-

Homicídios de mulheres no Brasil De 1980 a 2013, foram vítimas de assassinato 106.093 mulheres. Entre 2003 e 2013, o número de vítimas do sexo feminino passou de 3.937 para 4.762, ou seja, 21,0% a mais na década. As capitais com maior índice são Vitória, Maceió, João Pessoa e Fortaleza, acima de dez homicí-

dios para cada 100 mil mulheres. São Paulo e Rio de Janeiro são as cidades com menores taxas. (Com informações da Agência Brasil) Para visualizar o estudo completo, acesse o link: www.mapadaviolencia.org. br/mapa2015_mulheres. php INFORME PUBLICITÁRIO


MUNDO

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

Em Portugal cai governo de Passos e esquerda deve formar novo gabinete SUCESSÃO O governo português caiu no dia 10, em uma reviravolta política inédita no país. Enric Vives / Rubio

O governo do PrimeiroMinistro de Portugal, Pedro Passos Coelho (PSD) foi dissolvido no último dia 10. A decisão de colocar fim ao mandato de quatro anos do PSD ocorreu com a rejeição ao programa de governo da chapa de centro-direita Portugal à Frente, formada pelo Partido Social Democrata (PSD) e o Partido Popular (CDS-PP), liderada por Coelho. Com 123 votos a favor e 107 contra, o governo foi dissolvido e em seu lugar deve assumir uma inédita coligação de esquerda encabeçada pelo Partido Socialista (PS), liderado por António Costa, que conta também com o Bloco de Esquerda (BE), o Partido Comunista de Portu-

O Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho foi deposto por, dentre outros motivos, ter cortado benefícios sociais

gal (PCP) e o Partido Ecologista Os Verdes (PEV). Entre os motivos para a queda do governo de Passos Coelho (PSD) eleito em 2011, está o fato de ter aplicado um pacote

de austeridade fiscal, que envolveu corte de benefícios sociais, privatizações e aumento de impostos. (Com informações do Opera Mundi)

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EM IO! A R RÁR O AG HO O OV

Programa Outras Palavras

O Programa Outras Palavras, uma produção do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), passa a ser exibido, a partir do próximo sábado (07/11), na TV Band Minas, em novo horário (das 18h50 às 19h20). O objetivo do Outras Palavras é promover uma ampla discussão sobre a educação pública mineira na visão dos educadores e educadoras. Informamos que nas TVs Band Triângulo e Candidés a exibição do programa Outras Palavras permanecerá no mesmo horário: aos sábados, das 10h às 10h30. Fique ligado no programa Outras Palavras!

Ex- agente duplo da CIA conta como os EUA usam a mídia para derrubar governos Entre 2004 e 2011, Raul Antonio Capote Fernandes trabalhou como agente duplo na CIA (Agência Central de Inteligência Americana, em inglês), a pedido da inteligência cubana. A sua missão era formar líderes universitários e criar o projeto “Genesis”, com o objetivo de estabelecer em Cuba a estratégia do “golpe suave”. “A ideia da guerra não violenta consiste em ir solapando os pilares de um governo até que ele imploda. O objetivo não é fazer com que um governo renuncie. Se isso acontecer, o projeto fracassou. A ideia é que o governo imploda e que isso cause caos. Com o país em caos, é possível recorrer a meios mais extremos”, relata, sobre o plano dos EUA. Segundo Raul Capote, esse tipo de ação já foi fei-

to na Venezuela, Irã, Líbia e em outros países. Em entrevista ao jornal sul 21, ele relata que “a CIA utiliza o cinema, as rádios, as televisões os jornais e outros canais a partir de um plano prévio. A agência criou um departamento que se especializou neste tipo de guerra cultural. Em 2005, eu me converti em chefe de um projeto específico da CIA em Cuba, chamado de Projeto Gênesis.”. O projeto era uma integração da América Latina, com estudantes e professores que faziam intercâmbio nos Estados Unidos. Capote afirma que recebeu uma preparação intensa de como se organiza um golpe suave para derrubar governos progressistas ou que iam contra os interesses dos Estados Unidos. (Da redação)

Outras Palavras vo horário o N ! Todos os sábados, na TV Band Minas

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Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

ENTREVISTA 11

“Vale e BHP são responsáveis pela tragédia” CRIME Em entrevista ao Brasil de Fato, especialista fala das causas da tragédia e do descaso das empresas de mineração na hora de garantir os direitos das famílias atingidas Reprodução

Rafaella Dotta

tato com a empresa e ela se negava a discutir o perigo e qualquer possibilidade de negociação. A Vale e a BHP Billiton PLC são responsáveis pela tragédia.

Alex Sandra Maranhos, integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), está em Mariana para apoiar as vítimas do rompimento da barragem em Bento Rodrigues. Em entrevista ao Brasil de Fato MG, a militante dá mais detalhes sobre a situação alarmante vivenciada pelos moradores do distrito e acusa a Samarco e Vale de omissão de informações, além de responsabilizá-las pela tragédia.

“Essas empresas não estão preocupadas com a população” Muitos falam em abalo sísmico, como se fosse esse o motivo do rompimento da barragem. Qual a posição do MAB em relação à informação? Nós ouvimos isso na imprensa. Não acreditamos nessa hipótese. Para o movimento, essa é uma forma de a empresa não se responsabilizar pelo que está acontecendo. A gente sabe que esse abalo que existi foi muito fraco, de 2 a 2.6 e que tremores dessa intensidade são normais em barragens. Eles não podem ser responsáveis por essa tragédia. Então, qual a melhor hipótese? A barragem estava sendo aumentada cada vez mais. Já havia um muro, uma extensão de altura, e estavam construindo mais uma. Então, ela se tornou maior do que poderia ter suportado. E existe também a questão que os dejetos que estavam dentro da barragem são líquidos e poderiam causar infiltrações na edificação. Quais eram os resíduos que ficavam na barragem?

“O cheiro do local onde ocorreu a tragédia era muito forte, de produtos químicos”

Alex Sandra Maranho: “Se tivessem acesso a uma maior renda, os atingidos não estariam morando nesses lugares perigosos”

Resíduos provenientes do processo de mineração. Quando se processa a mineração, ela passa pela água para separar algumas substâncias. Essa água se armazena na barragem.

para que esse número não seja revelado. Acreditamos que os mortos já foram retirados e não foram publicizados.

São tóxicos? Conversamos com a equipe médica no primeiro dia que chegamos, quando as pessoas ainda estavam procurando ajuda em alojamentos. As vítimas apresentavam muito enjoo, além de confusão mental. O cheiro do local onde ocorreu a tragédia era muito forte, de produtos químicos. Quem passou por lá saiu com ardência nos olhos e garganta.

“Tanto a Samarco quanto a Vale estão encobrindo informações”

Qual a opinião do MAB sobre a postura que a Samarco está tendo em relação ao atendimento às famílias atingidas e responsabilidade da empresa? Tanto a Vale quanto a Samarco estão encobrindo informações. Pelos dados oficiais, são 25 desaparecidos, mas existem boatos de que vários corpos já foram encontrados e isso não está sendo divulgado. As empresas estão, de alguma forma, pressionando

Como a Vale trata as pessoas atingidas por barragens? Sabemos que quando existe uma empresa mineradora em um local, a economia gira em torno da mineração, e existe uma certa dependência dos podres locais com as empresas. Só que essas empresas têm um único objetivo, elas não querem desenvolver a cidade, apenas explorar e ter lucro. Não estão preocupadas com a população. O povoado de Bento Rodrigues poderia ter sido um modelo, com estrutura e trabalho para as pessoas e não era. As famílias, inclusive, tinham medo de ficar no local. Tentavam con-

Quem são os atingidos pela barragem? São pessoas pobres, que se tivessem acesso a uma maior renda, não estariam morando nesses lugares perigosos. São extremamente carentes e, nesse momento, se encontram perdidas por não saber o que vai ser do futuro delas. Qual o tratamento utilizado pelas empresas após o rompimento das barragens (sejam hidrelétricas ou de resíduos)? Os direitos das famílias são garantidos? Normalmente, pela história e experiência do movimento, sabemos que a primeira coisa que a empresa faz é procurar negociar individualmente com as famílias. Pressionar para que as pessoas aceitem uma pequena indenização. Elas não vão a fundo para entender o que essas pessoas perderam e tentam ter o menor custo econômico possível na hora de repor esses direitos. Para evitar isso, o que é importante que a comunidade de Bento Rodrigues faça nesse momento? A comunidade deve se manter organizada, atenta, e cobrar para que a negociação seja sempre coletiva, até mesmo se tratando de individualidades. É nisso que o MAB tem con-

dições de intervir, mediar com o poder público, Estado, Justiça. Qual a opinião que o MAB tem, acumulada, sobre a Vale? A Vale e a BHP Billiton PLC são duas grandes mineradoras e são elas as responsáveis pela barragem que estourou. A Vale é a segunda maior empresa de mineração do mundo e, em 2012, foi eleita também a pior empresa do mundo em tratamento dos trabalhadores, questão social e ambiental. Esses são dados oficiais que já trazem muitos elementos. É uma empresa que foi privatizada e não está preocupada com as pessoas, com os seres humanos. Quer apenas gerar mais lucro e levar a riqueza do Brasil para fora.

“Empresas tentam o menor custo econômico na hora de repor os direitos” Como está sendo a atuação do MAB em Mariana desde o rompimento das barragens? O MAB tem ficado perto dos atingidos, tem se sensibilizado também com toda essa situação e prestado solidariedade. Em um segundo momento, a preocupação é que os atingidos decidam o que vai ser da vida deles. Vamos lutar para que não haja terceiros decidindo o que vai ser do futuro dos moradores, da construção da comunidade. Para isso, já estamos atuando com a arquidiocese aqui de Mariana para organizar as famílias, entender o que elas querem e construir uma pauta de trabalho. Fizemos reunião com lideranças e estamos realizando várias assembleias nos hotéis onde as famílias estão hospedadas.


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CULTURA

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

Novela também é mercadoria

Novela Joaquim Vela também no email: quimvela@brasildefato.com.br

O clima entre a equipe da novela “Os Dez Mandamentos”, da Rede Record, não poderia ser melhor. Até porque o sucesso da novela também se relaciona ao profissionalismo dos atores, equipes de direção, produção e dramaturgia. Todos parecem es-

Divulgação

tar alinhados. Afinal, a novela é um produto, um dos tantos da indústria cultural. Essa indústria tem suas contradições: se por um lado pode atuar para a democratização da cultura e da informação, por outro atua como um grande reprodutor de ideias, geralmente de

um mesmo tipo. Sem dúvida, a teledramaturgia da Rede Record vem se aperfeiçoando há muito tempo. A emissora entrega cerca de duas novelas por ano, investiu em tecnologia e corpo artístico, diversificou os temas dos folhetins (que vão desde a ficção científica sobre mutantes até a história bíblica de Moisés), ganhou experiência e credibilidade. A consequência disso é simples: melhores novelas, mais audiência. O capítulo da terçafeira (10) desta semana alcançou dez pontos a mais no Ibope que a novela da Globo do mesmo horário, uma média de 28 pontos. Um verdadeiro sucesso para o horário nobre. O episódio exibiu a cena da abertura do Mar Vermelho, um clímax da história do povo hebreu.

O mar é um golfo (pequena porção do mar rodeado por terra), localizado no oceano Índico, entre a África e a Ásia. O Velho Testamento da Bíblia conta que Moisés recebeu o designio de Deus para abrir o Mar Vermelho e possibilitar a passagem, por terra seca, do povo hebreu que fugia dos egípcios. A cena é impressionante, tanto pelos efeitos especiais quanto pela atuação dos personagens, vivamente felizes no momento da libertação de seu povo. A equipe da novela está realmente de parabéns! Mas, todo esse brilhantismo industrial da emissora tem também um outro lado. Este foi o ano de atuação mais conservadora do Congresso Nacional e, não só lá, mas das pessoas em geral, na minha família e na sua, aposto. Enfim, o ascenso reacionário

Projeto de lei aumenta violência contra a mulher de ocorrência, para, só então, em caso de confirmação do estupro, a mulher ter o direito de receber a pílula. O projeto ainda acrescenta que o profissional de saúde não será obrigado a prescrever o medicamen-

PL provoca mais uma agressão: humilha e cala as vítimas to, no caso em que em sua “consciência moral discorde do procedimento”. Este projeto de lei ainda precisa ir ao plenário da Câmara e seguir os trâmites de uma reformulação constitucional. Sua proposição aponta para a intenção de redução da autonomia da mulher. A dor da violência terá que

Escreve lá: quimvela@brasildefato. com.br Joaquim Vela

Nossos Direitos

Sexualidade A lei de atendimento às vítimas de violência sexual, de número 12.845/13, traz algum avanço no campo dos direitos da mulher. Seu texto reconhece como estupro toda forma de atividade sexual não consentida. Pela lei, a vítima tem direito de receber nas unidades de saúde o tratamento preventivo da gravidez, a chamada pílula do dia seguinte. E se o estupro resultar em gestação, autoriza a realização do aborto. O deputado e presidente da Câmara Eduardo Cunha propôs e já foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados um projeto de reformulação do texto desa lei de 2013. Pela proposta, depois da agressão deverá ser feito um exame de corpo de delito e um boletim

se acirrou em 2015. E, com ele, bancadas e investidores interessados no conservadorismo ampliam seus interesses em canais de vocalização de suas ideologias. Eu não estou desmerecendo a qualidade técnica de “Os Dez Mandamentos”, nem o elemento histórico e pedagógico do texto bíblico. Mas é preciso ficar atento que tanto na emissora que perdeu audiência quanto na que ganhou, há interesses claros de dar voz a ideias, textos e ao que algumas pessoas querem ver. Estou falando de indústria televisiva e do produto novela, que fique claro. Viagem? O que acha?

Direito a Férias

ser refém de uma mediação policialesca, além de passar por um crivo moralizante. Este projeto de lei, além de tornar burocrático e policialesco o andamento da vivência feminina, humilha, submete e, no fim das contas, promove outra violência: cala a vítima. Ao humilhar, submeter e calar, dá voz e força para as estatísticas que apontam que no Brasil, a cada hora, seis mulheres são estupradas. Esse comportamento desnuda o grau de contradições que vivemos hoje em nossa sociedade. Um grupo de deputados poderosos e moralistas de um lado, e de outro uma sociedade ávida por discutir novos valores, novas formas de ser gente, novas e mais livres formas de viver. Mariana Tavares é psicanalista.

Todo empregado tem direito ao gozo de férias a cada 12 meses de trabalho. A partir do momento que se completou um ano, contado a partir do 1º dia de serviço, a empresa tem 12 meses para conceder as férias. Normalmente, as férias tem duração de 30 dias corridos, podendo ser reduzidos na proporção do número de faltas injustificadas, conforme tabela: Faltas

Desconto de dias nas férias

Até 5 dias

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De 6 a 14 dias

6 dias

De 15 a 23 dias

12 dias

De 24 a 32 dias

18 dias

Acima de 32 dias

Perde as férias

Em situações excepcionais, as férias serão concedidas em 2 períodos, um dos quais não poderá ser inferior a 10 dias corridos. Funcionários de uma mesma família têm o direito ao gozo de férias no mesmo período. O trabalhador pode vender até 10 dias de férias, recebendo os dias que vendeu integralmente. Tirar férias dá o direito a receber o salário do mês somando mais 1/3 (abono de férias), pago até 2 dias antes do início das férias. Ronaldo T. Pagotto é advogado trabalhista em São Paulo.


CULTURA

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

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Ilê Aiyê e Banda Black Rio estão no FAN DIVERSIDADE Festival de Arte Negra completa 20 anos e leva manifestações da cultura de matriz africana para vários locais de Belo Horizonte Sidney Rocharte

Da redação Em sua 8ª edição, o Festival de Arte Negra (FAN) comemora 20 anos de existência. Durante 25 a 29 de novembro, serão realizadas diversas atividades que buscam fortalecer o diálogo sobre a diversidade cultural na cidade. Shows, palestras, exibições de filmes e exposições ocuparão oito lugares da capital: Praça da Estação, Parque Municipal, Teatro Francisco Nunes, Teatro Marília, Circuito da Praça da Liberdade, Viaduto Santa Tereza, Sesc Palladium e Academia Mineira de Letras, entre programação oficial e associada. Um dos destaques é a apresentação do Ilê Aiyê, mais antigo bloco afro do carnaval de Salvador, que irá participar do even-

to no domingo (29). Também marcam presença Gaby Amarantos, Tony Tornado e Banda Black Rio. Além das atrações artísticas, o FAN também promove o “Ubuntu - Encontro da Diversidade Religiosa”. De origem africana, Ubuntu significa “sou porque nós somos” e representa a filosofia de várias tribos do continente. O encontro pretende discutir a diferença entre as crenças e promove ainda uma mesa de chás com a participação das “mulheres de rocha”, do quilombo de Mangueiras, e Eda Costa, que apresentará canções em yorubá. A atividade integra também os quilombos Manzo Ngunzo Kaiango e Luizes, que irão bordar uma toalha com ilustrações sobre os chás típicos. A curadora do FAN Rosá-

FAN será realizado de 25 a 29 de novembro, em oito locais

lia Diogo acredita que, durante todo o tempo de atuação do festival em BH - que tem mais de 51% de população negra -, alguns preconceitos foram deixados pra trás. “Principalmente nos últimos cinco anos, a cidade avançou muito no

A preços populares, Grupo Corpo se apresenta em Belo Horizonte DANÇA Companhia completa 40 anos de existência Jose Luiz Pederneiras / Divulgação

Durante os dias 20, 21 e 22 de novembro, o Grupo Corpo inicia a temporada de comemoração do seu 40º aniversário. A companhia de dança, nascida na capital, irá apresentar os espetáculos “Onqotô” e “Parabelo”, com ingressos no valor de R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). “Onqotô” é a expressão em “mineirês” para a pergunta “onde estou?”. Outros dois questionamentos existenciais - “pronqovô” (para onde vou?) e “qemqosô” (quem eu sou?) - fazem parte da base do espetáculo lançado em 2005, que permeia questões relacionadas ao surgimento do universo e inquietação do ser humano por respostas que deem sentido à vida. A coreografia, assinada pelo artista Rodrigo Pederneiras, foi criada a partir da trilha sonora desenvolvida pelo músico Caetano Veloso e José Mi-

sentido da criação de projetos que dão visibilidade à cultura de matriz africana, cada vez mais dialogando com outros setores”, declara. Ela conta, ainda, que o FAN surgiu durante a comemoração dos 300 anos

de Zumbi dos Palmares, líder de resistência negra durante os anos de escravidão, e tem fomentado a discussão sobre os saberes populares, espaço urbano e arte. Para conferir a programação completa, acesse o site: www.fanbh.com.br.

Agenda Grátis do Final de Semana Divulgação

Direitos humanos na telona O Cine Humberto Mauro recebe, de 13 a 18 de novembro, a 10ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos no Mundo. A programação conta com 40 filmes que abordam a temática, além de uma retrospectiva histórica das edições anteriores, homenagens e programas especiais. Entre os assuntos discutidos estão os direitos das pessoas LGBT (com a exibição do longa “Eu não quero voltar sozinho”), direito à participação política (filme “O muro é o meio”), direitos da população negra (documentário “Branco sai, preto fica”), entre muitos outros. Divulgação

guel Wisnik. Já “Parabelo” (1997) tem a coreografia influenciada por ritmos brasileiros tradicionais, mais precisamente forró e baião. Desta vez criada por Tom Zé, a trilha embala movimentos fluídos dos dançarinos e complementa cenários e figurinos coloridos. As apresentações acontecem no Cine Theatro Brasil Vallourec e os ingressos podem ser adquiridos na por-

taria do prédio ou pelo site www.compreingressos. com. Serviço Quando: Sexta (20), sábado (21) e domingo (22) de novembro, às 19h Onde: Cine Theatro Brasil Vallourec (Rua dos Carijós, 258 - Centro/Praça Sete) Quanto: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia-entrada)

Encontro de Trançadeiras valoriza identidade negra

O projeto “Forças Trançadas” nasceu com o objetivo de discutir o olhar das trançadeiras em relação ao cabelo afro não só como estética, mas como símbolo de resistência. No encontro, que acontecerá no Mercado da Lagoinha (Av. Antônio Carlos, 821 - São Cristóvão), serão realizadas oficinas sobre o tema, espaço para crianças, shows, roda de conversas, exposição de fotos e documentários, feirinha e desfile de penteados. A entrada é gratuita.


14 VARIEDADES

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015 Reprodução

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1 dente de alho ralado 500 g de abóbora 500 g de batatinha 300 ml de leite de coco bem grosso 3 colheres de sopa de margarina com sal 1 colher de chá de leite em pó sal a gosto

MODO DE PREPARO Cozinhe a abóbora e a batatinha com pouco sal. Depois de cozidas, passe no espremedor ou processador. Leve a uma panela e acrescente a manteiga, o leite em pó, o leite de coco, o alho e o sal. Deixe em fogo baixo e mexa até ferver e ficar pastoso. Esse prato é um ótimo acompanhamento para um peixe frito e arroz de coco.

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Amiga da Saúde Amiga da saúde, você tem alguma dica para praticar o sexo anal? Gorete Lisboa, 36 anos, instrutora. Cara Gorete, por se tratar de uma região muito contaminada, com grande irrigação sanguínea e alto poder de absorção, o risco de contrair DSTs e outras infecções com o sexo anal é grande. Por isso, para uma prática segura o primeiro requisito é o uso da camisinha. Outra dica é o uso de lubrificantes à base de água, para evitar lesões pois, diferente da vagina, o ânus não possui lubrificação própria. Como a maioria das pessoas costuma sentir dor, é recorrente o uso de anestésico. Entretanto ele não é recomendado porque, com a baixa sensibilidade local, pode haver exagero de força sem que a pessoa tenha controle e vir a provocar lesões. Antes de penetrar o pênis ou similar, é bom usar os dedos para aplicar o gel lubrificante e buscar um relaxamento dos músculos da região anal, isso facilitará e trará mais prazer ao passo seguinte. O ato sexual deve ser prazeroso para todos os envolvidos. Jamais deverá ser realizado se não houver vontade. É importante relaxar para ter prazer e isso só é possível com envolvimento e entrega. Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barbosa Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde Coren MG 159621-Enf.


ESPORTES

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

na geral

Diga-me com quem voas...

Reprodução

Sócrates vira nome de campo de futebol na Escola Nacional Florestan Fernandes CRAQUE Campo com nome de jogador fica em Guararema, no interior de São Paulo Bruno Porpetta, do Rio de Janeiro (RJ)

O jornal Folha de São Paulo divulgou registros do Gabinete Militar de MG, mostrando que Aécio Neves, quando foi governador, cedeu aviões públicos a celebridades, como o apresentador Luciano Huck, o dono da Revista Veja, Roberto Civita, e o executivo Boni, da TV Globo, entre outros. No futebol, um dos favorecidos foi o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o mesmo que agora é investigado na Fifa, acusado de vender seu voto durante a definição do país sede da Copa de 2022.

Torneio de bocha paralímpica

Comitê Paralímpico Brasileiro

Começou, na quinta-feira (12), no Rio de Janeiro, torneio de bocha paralímpica que compõe a série Aquece Rio. As competições vão até sábado (14). O evento é uma preparação para os Jogos Paralímpicos de 2016. Participam 22 representantes de cinco países. Nos Jogos de Londres 2012, o brasileiro Maciel de Souza conquistou uma medalha de ouro na classe BC2, para atletas com quadro de paralisia cerebral.

Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou simplesmente Magrão, para aqueles que durante 15 anos dividiram os gramados com ele, foi um dos maiores gênios da história do futebol brasileiro. Não bastasse sua genialidade em campo, Sócrates se notabilizou por sua atuação política. Ele participou da luta pela redemocratização do país e, principalmente, promoveu uma grande reflexão sobre o papel que os operários da bola têm na construção de uma sociedade mais justa. Uma reflexão digna do seu “xará” grego. A Escola Nacional Flo-

restan Fernandes (ENFF), espaço de formação intelectual do Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST), batizou o seu campo de futebol com o nome de Sócrates. A escola fica em Guararema, no interior de São Paulo. O campo Dr. Sócrates Brasileiro, fazendo jus à vida do eterno ídolo corintiano e da seleção brasileira, além de um espaço onde a bola rolará com alegria, também serve de estímulo à reflexão. A direção da escola vem promovendo debates políticos que tenham o futebol como temática. Com artistas, intelectuais, torcedores, jogadores e jornalistas debatendo o futebol brasileiro e suas relações com a

Para dar ao campo de futebol da escola um novo espírito, algumas reformas serão feitas. Uma arquibancada, vestiários, gramado e outras intervenções darão ao campo Dr. Sócrates uma cara de estádio, onde pulsa o amor pelo futebol em seu sentido mais popular. O ciclo de debates que mantém os vínculos ideológicos entre o MST e o Dr. Sócrates começou com Luiz Gonzaga Belluzzo, economista e apaixonado pelo Palmeiras. Na terça-feira

Craque da seleção também foi reconhecido por atuação política

sociedade, o campo dá vida ao homenageado. Da mesma forma, o homenageado acaba por dar vida ao campo também.

A ENFF fica em Guararema, cidade do interior de São Paulo

(10), foi a vez de Juca Kfouri, José Trajano e Lúcio de Castro, três amantes do futebol e amigos de Sócrates. Ao longo de 2016, as reformas no campo darão ainda mais sentido para es-

ta união entre futebol e política. Será um local onde a paixão popular encontrará a luta do povo brasileiro por um país mais igual, a mesma luta de Sócrates.

Pratique esportes

Taekwondo

Onde:

Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG. Avenida Presidente Carlos Luz, 4664. Pampulha, BH.

Quando:

21 de novembro, das 8 às 12h.

Informações:

(31) 98878-8116

na geral

Cuidado com a cuca

Reprodução

Reprodução

Divulgação

A vida no campo

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O Centro de Treinamento Esportivo da UFMG seleciona crianças e adolescentes entre 10 e 22 anos, de ambos os sexos, para equipe de alto rendimento. Não é obrigatório ter experiência.

O jornal Brasil de Fato não se responsabiliza por eventuais mudanças na programação. Recomendamos aos interessados que entrem em contato com os organizadores das atividades para confirmar data, horário e local.

A US Soccer (federação de futebol dos EUA) proibiu que crianças de até 10 anos cabeceiem a bola durante treinos e jogos. Entre adolescentes de 11 a 13 anos, as jogadas de cabeça serão limitadas. O objetivo é prevenir contra problemas neurológicos, que poderiam estar associados a leves lesões cerebrais. Nos Estados Unidos, mais de três milhões de crianças praticam futebol. A regra também pode chegar aos adultos do profissional. A mudança surgiu por iniciativa da ex-jogadora Rachel Mehr, que levou essa questão à Justiça. Em 2013, um estudo da Universidade Yeshiva (Nova York) descobriu que atletas que cabeceiam com frequência têm anormalidades cerebrais semelhantes àquelas encontradas em pacientes com traumatismo crânio-encefálico leve.

VocêSabia?

O taekwondo é uma arte marcial de origem coreana, criada por volta do ano 50 d.C. Em 1980, a modalidade foi reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional, mas só passou a compor o programa olímpico oficial nos Jogos de Sydney 2000.


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ESPORTES

Belo Horizonte, 13 a 19 de novembro de 2015

CURTA E GROSSA

DECLARAÇÃO DA SEMANA

As Libertadoras da América Divulgação / Ferroviária

Olívia Santos No domingo (8), as meninas da Ferroviária de Araraquara fizeram história, conquistando, em sua primeira participação, a Copa Libertadores de futebol feminino. A partida foi em Medelín, contra o Colo Colo, no estádio Atanasio Girardot. Cerca de 500 pessoas acompanharam a Vitória de 3 a 1 da Ferroviária. Tabatha (2) e Ana Barrinha (1) fizeram os gols da equipe brasileira. O único gol do time chileno foi de Millamayor, nos acréscimos do primeiro tempo. A “Ferrinha” se classificou no grupo B e, invicta, conquistou o título de campeã da América. A chegada à Libertadores 2015 é fruto de campanhas vito-

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Reprodução / América Mineiro

Você está avançando muito. Mais do que o nosso centroavante. Brincadeira. Se eu dissesse que não, estaria mentindo.

O bonachão Givanildo Oliveira, treinador do América, respondendo a repórter que perguntou se o Coelho brigaria pelo título da Série B, durante uma divertida entrevista coletiva.

riosas desde 2013, quando as meninas conquistaram o Campeonato Paulista. No ano seguinte (2014), se sagraram campeãs da Copa do Brasil. Mesmo com todo o abandono do futebol feminino no Brasil, a Ferroviária mostrou força, talento e união como arma poderosa de conquistas. A participação na Libertadores de 2016 está garantida. E

espera-se que essa caminhada de vitórias se estenda e que cada vez mais os times de futebol feminino de nosso país possam fazer história no futebol internacional. *Até o fechamento desta edição, ainda não havia terminado a partida entre Argentina e Brasil, que começou às 22h da quintafeira (12)

Gol de placa

Claro, para o golaço de Neymar contra o Villarreal! Mas gol de placa também para as meninas do time da Ferroviária de Araraquara, que venceram as chilenas do Colo Colo por 3 a 1, em Medellín, na Colômbia, e conquistaram a Libertadores da América feminina.

Gol contra

O Boca se sagrou campeão da Copa da Argentina, na quarta-feira (4), ao derrotar o Rosario Central por 2 a 0. Mas os responsáveis pela vitória foram os árbitros: anularam um gol do Rosario em impedimento questionável, deram um pênalti inexistente pro Boca e aceitaram um gol irregular do time de Buenos Aires.

OPINIÃO Bráulio Siffert O massacre de 4 a 0 do América para cima do Vitória vai entrar para a história. Foi a primeira vez que o Coelho ganhou dos baianos, foi o maior público do novo Independência em jogos do América e deixou o time muito próximo do acesso à primeira divisão de 2016. Matematicamente, o América precisa de apenas mais uma vitória nos

três jogos restantes, que são contra Paraná (fora), Ceará (em casa) e Botafogo (fora), nesta ordem. Dependendo de outros resultados, um empate pode ser suficiente. Esta situação confortável foi coroada com a melhor atuação do time na temporada, neste jogo contra o Vitória, mas fundamental foi a arrancada recente: foram seis vitórias e um empate nos últimos oito jogos.

OPINIÃO Rogério Hilário O Atlético ganhou “sobrevida” com a vitória sobre o Figueirense. Se apenas adiou o título do Corinthians, a certeza é a classificação para a Libertadores. Falta confirmar o segundo lugar e assegurar os R$ 6,5 milhões de premiação. Com remotíssimas chances do bi, fracassos na Copa do Brasil e na Libertadores, fiquemos com a quarta participação

seguida na competição continental e uma bem-vinda remuneração. Resta, ainda, um planejamento para 2016. E Levir Culpi, contestado por alguns, precisará de reforços, pois só o fanatismo dos torcedores e elenco mediano não garantem títulos. Trocar Levir por outro seria um desatino no atual momento do futebol brasileiro. As opções no mercado não inspiram confiança.

OPINIÃO Luís Mauro Queiroz Domingo (8), Mineirão. Debaixo de sol forte, o clima na Pampulha era agradável. Cruzeirenses e são paulinos, historicamente amigos, conviviam tranquilamente antes do jogo que definiria um bom lugar na tabela do Brasileirão. O que ninguém imaginava era o que acontecia no posto policial de Betim, onde torcidas organizadas do São Paulo sofriam uma

repressão autoritária da PM mineira. Sem motivo algum, por puro preconceito, a polícia impediu torcedores que viajaram a noite inteira de acompanhar seu clube no jogo. Para quem conhece e é do meio, algo normal. Normal, perante uma polícia despreparada, desorganizada e preconceituosa, cujo único objetivo é desmoralizar entidades sociais e esportivas de periferia.


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