Alexandre Guzanshe
Minas Gerais
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BRASIL
NOVELA
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Dique sepulta Bento Rodrigues
Inovações de Velho Chico
Obra da Samarco/Vale irá enterrar o que resta da comunidade. População luta contra a medida e pede por proteção das memórias e patrimônios
Folhetim levou ao horário nobre da TV debates sobre questões sociais, além de investir em novas técnicas de filmagem
Divulgação
30 de setembro a 6 de outubro 2016 • edição 155 • brasildefato.com.br • facebook.com/brasildefatomg • distribuição gratuita
Marcelo Camargo / ABr
HORA DE ESCOLHER
Eleição, mesmo em tempos de golpe, é uma oportunidade para discutir política e projetar o que esperamos para a cidade. Neste ano, a disputa foi mais curta e o debate mais frio. Mas isso não tira a responsabilidade de escolher bem quem vai decidir pelo município nos próximos quatro anos. Confira cinco dicas para decidir seu voto e leia também sobre a baixa participação das mulheres em espaços de poder. Reflita, pesquise e um bom voto!
MINAS
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BRASIL
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ESPORTES
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Ensino público sob ameaça
Luta pelo aborto legal
O G4 vai virar G5
Em Minas, Governo quer privatizar educação pública. No Brasil, Temer impõe reforma no setor que pode exterminar reflexão crítica das salas de aula
No dia de luta pela descriminalização do procedimento, legalização é debatida como alternativa para preservar vida das mulheres
Com reformulação da Libertadores, Brasil pode ganhar mais uma vaga em 2017. CBF estuda selecionar participante no Brasileirão e mudar calendário da Copa do Brasil
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 30 de setembro a 6 de outubro de 2016
Editorial | Brasil
O que vem depois do botão verde, confirma? época que antecede as voA tações tem cara própria. São carros alto-falantes percorren-
do a cidade com jingles, a novela e o jornal começando um pouco mais tarde devido ao horário eleitoral, santinhos com todas as caras, alguns nos bolsos e muitos pelo chão, e muita gente pedindo o seu voto. Como decidir? Não existe uma regra, mas algumas dicas podem facilitar a escolha.
ESPAÇO dos Leitores
“Gostaria de parabenizá-los pela sinceridade dos fatos mostrados. É a primeira vez que leio o jornal e adorei. Continuem assim, mostrando a realidade do país e que Deus os abençoe e os proteja sempre, pois quem mostra a verdade os mentirosos querem sempre derrubar. Mas não conseguirão, porque a verdade prevalece”. Wanderson dos Santos, por correio eletrônico
“Conheci há pouco o Brasil de Fato e me senti muito confortável e pensativo ao ler as matérias. Sinto um desejo muito grande de obter informações por outra perspectiva. Gostaria de passar adiante e envolver outras pessoas neste ciclo de crítica e pensamento livre. Parabéns pelo seu trabalho!” Albim Lunkes, por correio eletrônico
Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br
Em primeiro lugar, veja se o seu candidato a prefeito ou a vereador é filiado a um partido ou grupo político que votou a favor do golpe (PSDB, PMDB, PPS, DEM, PSB, PSD, etc). Se eles retiraram uma presidenta legitimamente eleita pela maioria do voto
Cinco dicas para escolher seu candidato(a) popular e aplicam um programa diferente do que foi escolhido, com privatizações e medidas autoritárias, é claro que não respeitam o voto do povo. Ou seja, não vote em golpista! Em segundo lugar, veja quais as propostas dos candidatos, e reflita se elas são mesmo possíveis ou se são só mais um monte de promessas de campanha para enganar o eleitor. Confira se estão voltadas para a maioria da população (como a preocupação com o transporte público, por exemplo), ou apenas com uma parcela, normalmente os mais ricos. É comum encontrar quem fala que saúde é prioridade e nunca usou hospital público. Em terceiro lugar, procure na internet ou em jornais antigos qual a his-
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.
tória daquele candidato ou candidata. Se mudou de partido um monte de vezes, se já foi condenado por má administração ou corrupção, de quem ele(a) é amigo, o que já fez pelo povo. Em quarto lugar, veja a “cara” do candidato. Se parece com você? Por exemplo, se a maioria do povo brasileiro são mulheres, por que tão poucas candidatas? E quando se lança um negro, por que normalmente ele serve pra “puxar o voto” do próprio bairro, mas nunca é o principal candidato do partido? Em quinto lugar, tente pesquisar quem está financiando a campanha.
Seu candidato se parece com o povo brasileiro? Normalmente, descobrir quem está pagando a banda é a melhor pista para saber que música, se o candidato for eleito, vai tocar. As regras deste ano prevêem o não recebimento de financiamento de empresas, e sim doações pessoais. Uma boa dica é consultar o site do TRE. E principalmente, tente vencer a antipatia que muitos políticos ruins ao longo da nossa história causaram, e se interesse por política, discuta com vizinhos e amigos em quem e por que votar. Por isso mesmo, o mais importante é pensar o que vem depois de apertar o botão verde, confirma. Somos nós que pagamos os salários, que devemos decidir o que deve ser feito, como e com quanto dinheiro. Queremos nós mesmos participar da política, e isso só é possível com Constituinte! A luta por mais espaço no poder vai muito além do botão verde, confirma!
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conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Adriano Ventura, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Cida Falabella, Durval Ângelo Andrade, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Laísa Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Milton Bicalho, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Samuel da Silva, Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Larissa Costa, Pedro Rafael Vilela, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Alan Tygel, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, João Paulo Cunha, Léo Calixto, Marcos Assis, Rogério Hilário, Sofia Barbosa, Coletivo Henfil. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Administração: Vinicius Nolasco. Distribuição: Amélia Gomes. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.
Belo Horizonte, 30 de setembro a 6 de outubro de 2016
Eu acho uma atrocidade. Eu não sei quais são as pendências dos donos do terreno com a Justiça, mas eu não concordo em despejar ninguém. Ninguém está ali à toa, ninguém passa por uma humilhação dessas porque quer, elas têm o direito de ter seu quadradinho para morar.
Isso mostra o caráter da nossa Justiça. O TJ tomou uma decisão totalmente parcial a favor dos ricos. Todo mundo sabe que aquilo é uma terra grilada, que não cumpria sua função social. Hoje, vivem 8 mil famílias lá e são elas que têm a posse e cumprem a função social daquela terra.
Alex Junio dos Santos, zelador
Warley Ávila Costa, bancário
Sugerimos ao governo [Dilma] que adotasse as teses que apontávamos no documento ‘Ponte para o Futuro’. Como isso não deu certo, se instaurou um processo que culminou na minha efetivação como presente da república”.
Lula Marques / AGPT
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O que você pensa sobre o despejo de 8 mil famílias na região da Izidora?
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Declaração da Semana
PERGUNTA DA SEMANA
Na quarta-feira (28), o Tribunal de Justiça de Minas Gerais autorizou a reintegração de posse do terreno ocupado por aproximadamente 8 mil famílias na região da Izidora, divisa de BH com Santa Luzia. A empresa Direcional Engenharia reivindica o território. O Brasil de Fato MG foi às ruas perguntar:
GERAL
Disse o Michel Temer sobre os reais motivos do afastamento de Dilma, em palestra para um grupo de empresários e dirigentes da política externa americana Midia NINJA
A vítima não tem culpa Com quase 50 mil casos de estupro por ano no Brasil, um terço da população (33,3%) ainda acredita que os crimes acontecem por culpa das vítimas. A constatação foi revelada por pesquisa nacional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que mostrou que 42% dos homens atribuíram as ocorrências de abusos ao uso de “roupas provocativas”. O levantamento também divulgou que o medo é constante entre as mulheres: 85% das brasileiras temem sofrer violência sexual. Em nota, o vice-presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima, afirmou que “essa cadeia de pensamento precisa ser rigorosamente combatida na sociedade” e que “a mulher, em hipótese alguma, pode ser criminalizada”.
#BOMBOU NA REDE Reprodução
Gosta de rádio? O Brasil de Fato inaugurou recentemente uma sessão com reportagens em áudio sobre o que acontece no país e no mundo. No link, podem ser ouvidas matérias sobre diversos assuntos: cultura, política, cidades, tecnologia, alimentação, entre outros. Para conferir, acesse: www.brasildefato.com.br/radio
Catraca “dupla” revolta usuários Duas empresas de ônibus da cidade de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, instalaram catracas duplas até o teto dos coletivos sob a justificativa de “reduzir o índice de passageiros que não pagam a passagem”. A medida revoltou os usuários, que encontraram grande dificuldade para atravessar as roletas e passar para o outro lado do veículo. A situação foi gravada por passageiros indignados e o vídeo circulou na internet, gerando ainda mais manifestações contra a atitude das empresas. Segundo a prefeitura, a mudança não foi autorizada e já foi exigida a retirada do equipamento extra.
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CIDADES
TRUCO ELEIÇÕES BH
Belo Horizonte, 11 a 17 dea março de 2016de 2016 Belo Horizonte, 30 de setembro 6 de outubro
Mesmo sendo maioria da população, mulheres correspondem a 30% das candidaturas ELEIÇÕES Sub-representação feminina é reflexo do machismo da sociedade Marcelo Camargo / Agência Brasil
Délio, NÃO É BEM ASSIM
O candidato que representa a continuidade da gestão Marcio Lacerda, Délio Malheiros (PSD), declarou que a prefeitura está investindo R$ 5 milhões ao mês no Hospital do Barreiro, e que estado e governo federal é que agora devem investir. Porém, o Relatório Comparativo do Orçamento em Execução de 2016 mostra que o valor pago pela PBH ao hospital foi de R$ 255 mil ao mês, de janeiro a abril.
Alexandre Kalil BLEFOU O candidato do PHS disse que tinha “atestado de pobreza”, mas é milionário. Segundo lista de bens declarada ao TSE, Kalil possui R$ 2,7 milhões em bens móveis e imóveis. Na lista estão: duas casas, dois apartamentos, cinco lojas, dez terrenos, seis veículos, um barco, além de créditos decorrentes de empréstimos, depósito em conta bancária, bens imóveis como porcentagem em vagas de garagem e cotas de capital. >> Estas checagens fazem parte do Truco Eleições 2016, projeto da Agência Pública, que checa as falas de todos os candidatos a prefeito em cinco cidades: Belém, Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. apublica.org/truco2016
Larissa Costa
E
m épocas de eleições municipais, uma questão que vem à tona para além das indignações com o sistema político do país é a participação das mulheres na vida política e nas instituições. Estatísticas eleitorais deste ano, colhidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apontam que as mulheres correspondem a 52% do eleitorado brasileiro. No entanto, são somente 32,9% das candidatas aos postos de vereadora em todo o país. Isso é a porcentagem prevista pela Lei das Eleições, n° 9.504/1997, que estabelece um mínimo de 30% e um máximo de 70% de candidaturas de cada sexo para o legislativo. Para cargos majoritários, como prefeitos, não há obrigato-
riedade do cumprimento de cotas, o que gera uma discrepância ainda maior. Para a candidata à vereadora de Belo Horizonte Neila Batista (PT), a pequena participação das mulheres na política é expressão da sociedade machista. “Toda a construção da nossa cultura é baseada na ideia de que as mulheres ocupem somente o espaço privado, da casa e da família. Isso nos coloca em uma condição de submissão, gerando receio e insegurança, como se fôssemos incapazes de exercer a atividade da política”, afirma. Racismo De todas aquelas que pleiteiam vagas no legislativo e executivo do país, cerca de 31% se autodeclaram negras. Esse número, na opinião de Áurea Carolina (PSol), candidata à vereadora da capital mineira, é muito pequeno, mas reflete o tamanho do
racismo da sociedade brasileira. “Nós, mulheres negras, somos o seguimento que apresenta as condições mais subalternas de vida, em termos de escolarização, rendimento, ocupação de postos de trabalho e também de participação política nas instituições formais. Temos menos acesso a políticas públicas de qualidade e tudo isso tem efeito na nossa baixa presença nas eleições”, explica. Desigualdade A realidade de BH segue a lógica do que acontece em nível nacional: a participação feminina no legislativo é muito pequena. A atual Câmara de Vereadores da capital mineira é composta por 41 parlamentares e apenas uma é mulher. E no que diz respeito às candidaturas, também são 32% de mulheres candidatas, apesar de o eleitorado feminino corresponder a 54% da população. Vanessa Portugal (PSTU) afirma que a participação das mulheres na política, em especial na política eleitoral, é fundamental no combate à opressão e ao machismo. “No entanto, ser mulher por si só não basta. Ampliar o protagonismo dos oprimidos é fundamental para termos políticas públicas voltadas para mulheres, negros e LGBTs”, defende a candidata à prefeitura.
Presença de mulheres nas eleições é apenas para cumprir cotas? www.brasildefato.com.br
Eleições no estado
Sete Lagoas Os candidatos são Elson da Silva (PPL), Emílio de Vasconcelos (PSB), Leone Maciel (PMDB) e Marcio Reinaldo (PP). Segundo pesquisa do DataTempo, Leone aparece como o candidato com mais intenções de voto, contabilizando 39,4%. Em seguida está Emílio Vasconcelos, com 19,6%, sucedido pelo atual prefeito Marcio Reinaldo, com 14,2%. Ainda de acordo com o levantamento, Elson seria o candidato menos votado, somando 2,5%.
Santa Luzia Na cidade da Região Metropolitana, concorrem ao executivo Roseli Pimentel (PSB), João Rasgado (PSOL), Aguinaldo Campos (PSDB), Christiano Xavier (PSD), Ilacir Bicalho (PMDB) e Cristina Correa (PT). Segundo pesquisa da Novas Tendências, Xavier, que é delegado, está à frente da disputa, com 33% da preferência dos eleitores luzienses. Em segundo lugar está a atual prefeita, Roseli Pimentel, com 26,2%. Foram ouvidos 600 eleitores entre os dias 15 e 17 de setembro.
Teófilo Otoni Os candidatos a prefeito de Teófilo Otoni são Daniel Sucupira (PT), Getúlio Neiva (PMDB), Paulo Henrique Coimbra (PR) e Roberto Marcos (50). Neiva é quem exerce atualmente o cargo de chefe do executivo, concorrendo à reeleição.
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MINAS
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Governo do estado projeta Parcerias Público-Privadas para escolas RETROCESSO Para professor, modelo é uma forma de privatizar a educação pública Lúcia Sebe
Wallace Oliveira
O
governo estadual quer entregar a gestão de escolas públicas para empresas privadas, via projeto de Parcerias Público-Privadas (PPPs). Além da reforma e construção de unidades escolares, as empresas entrariam na operação de atividades consideradas não pedagógicas. Atualmente, essas atividades são geridas pelo Estado e executadas por Assistentes Técnicas de Educação Básica (ATBs) e Auxiliares de Serviços de Educação Básica (ASBs). Ao menos 128 unidades estão incluídas no plano. Em dezembro de 2015, o governo lançou um Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI), chamando empresas para discutir um possível edital de PPP. Na últi-
ma reunião, compareceram sete empresas de engenharia, duas de arquitetura e uma do direito empresarial. Nenhuma delas, portanto, é da área da educação. Está previsto que a vencedora do edital
possa operar escolas por um período de 25 anos. “A PPP parte a escola ao meio. Uma parte fica com a gestão democrática e a outra com a gestão empresarial privada. Então, dentro da mesma
unidade, há trabalhadores efetivos, concursados, com carreira e, por outro lado, trabalhadores terceirizados, recebendo 30% a menos e sem segurança no emprego. Além disso, a escola passa a ser organizada para atender ao ritmo e às necessidades de empresas lucrativas”, critica Fábio Garrido, professor de filosofia e diretor do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sindi-UTE-MG). Ele alerta que o contrato da PPP pode sofrer modificações no andamento da concessão, o que possibilitaria estender à área pedagógica a lógica da gestão empresarial. “Isso seria a privatização da educação pública, transformar um direito em mercadoria. Ora, ao se tornar mercadoria, a educação perde suas
Ao se tornar mercadoria, a educação perde suas características humanas e se transforma numa coisa para ser vendida”, afirma professor características humanas e se transforma numa coisa para ser vendida”, afirma. A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Educação, mas até o fechamento, não obteve um posicionamento.
Temer impõe reforma da educação por Medida Provisória N
a última semana, o governo não eleito de Michel Temer (PMDB) baixou a Medida Provisória (MP) 746/2016 (disponível pelo link: migre.me/v5sPg), que altera pontos importantes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. O texto deve ser aprovado pelo Legislativo em 120 dias. Entre os pontos mais discutidos, consta o aumento progressivo da carga horária anual, que hoje é de 800 horas, para 1400 horas. Em 2024, 25% dos alunos deverão estudar nesse regime. Outra alteração polêmica é a mudança
na forma e conteúdo do ensino médio. Com a reforma, metade da carga horária deverá seguir a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que ainda é discutida no governo. A outra metade do currículo é mais flexível e permite ao estudante optar por um itinerário formativo, com ênfase nas áreas de matemática, ciências naturais, ciências humanas e formação técnica e profissional. Arte e educação física serão obrigatórias apenas no ensino fundamental. Outras disciplinas, como filosofia e sociologia, que até então eram
Lula Marques / AGPT
obrigatórias, só serão incluídas com aprovação do Conselho Nacional de Educação e homologação pelo ministro da Educação. Ademais, profissionais com “notório saber reconhecido pelos sistemas de ensino” poderão lecionar conteúdos que tenham a ver com sua formação. “Isso desvaloriza o trabalho e a formação dos professores, fazendo com que um ‘notório saber’ se sobreponha a um curso de licenciatura. De resto, essas propostas tiram qualquer perspectiva de pensamento crítico na escola pública”, aponta Fábio Garrido, diretor do Sind-UTE-MG.
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 30 de 11 setembro 6 de outubro Belo Horizonte, a 17 de amarço de 2016 de 2016
Opinião
A reforma e a morte raciocínio estelionatário do presidente O não eleito Michel Temer ganha sua mais descarada tradução com a reforma da Previ-
dência, que ficou para ser encaminhada ao Congresso depois da eleição municipal. O que vem sendo apresentado ao trabalhador brasileiro até agora é uma perspectiva cruel: trabalhar mais, contribuir mais e receber menos. E ainda ser apontado como responsável pela incompetência do Estado brasileiro em construir uma política de seguridade social digna do nome. Há muitas incongruências na condução do processo. Em primeiro lugar, pela mais absoluta distância dos interesses dos trabalhadores. Sindicatos, entidades profissionais e centrais não têm sido consultados. Os estudos apresentados não levam em conta o orçamento da Previdência definido na Constituição Federal,
preferindo esconder as fontes definidas em lei por trás da retórica do caos. É a litania de que há mais gastos que receitas, jogando os trabalhadores novos contra aqueles que contribuíram por toda a vida. O segundo aspecto está voltado para o incentivo aos produtos de instituições bancárias privadas. O trabalhador será res-
Reforma da Previdência é uma vitória dos senhores da morte ponsabilizado por arcar em grande parcela com sua aposentadoria, além daquilo que é extraído mês a mês, por décadas, do fruto de seu labor. Em terceiro lugar, as medidas anunciadas, que chegam a um tempo de contribuição de 50 anos e idade mínima de 70, padecem de uma falsa universalida-
de, como se todos fossem iguais perante o tempo. Numa sociedade injusta como a brasileira, a expectativa de vida é também traduzida em termos de classe social, até mesmo pelo acesso diferenciado aos tratamentos de saúde. Por fim, as regras que serão divulgadas depois das eleições estabelecem um padrão irreal de manutenção da empregabilidade para uma população mais vivida, sempre a primeira a ser desempregada. Não se trata de uma medida contra essa ou aquela categoria profissional, ideologia, ou contra uma geração. A reforma da Previdência é uma vitória dos senhores da morte. Só há uma saída: a intransigente recusa de toda reforma que retire direitos, penalize o trabalhador, adie a aposentadoria e seja implantada sem debate com a sociedade. Para isso, são válidas todas as ações, da greve geral à desobediência civil, passando pela ocupação incansável das ruas. Já assaltaram nosso presente com o golpe. Agora querem inviabilizar o futuro.
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Belo Horizonte, 30 de setembro a 6 de outubro de 2016
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Foto da semana
OPINIÃO
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PARTICIPE Viu alguma coisa legal? Algum absurdo? Quer divulgar? Mande sua foto para redacaomg@brasildefato.com.br. Maxwell Vilela
Na edição 109... Mata do Planalto segue ameaçada por imobiliárias ...E agora Sete anos de luta em defesa da Mata do Planalto No dia 24 de setembro, cerca de 200 moradores se manifestaram mais uma vez pela preservação dos 300 mil m² da Mata do Planalto, que fica entre os bairros Planalto, Campo Alegre, Itapoã e Vila Clóris, região norte de BH. Dois dias antes, a Câmara Municipal de BH realizou audiência pública sobre o incêndio no Parque do Planalto, acontecido em 26 de julho, e na Mata do Planalto, em 5 de agosto. Os dois atos estão sendo investigados. Na edição 153... Greves em todo o país pela garantia de direitos ...E agora Greve dos continua
bancários
O Comando Nacional dos Bancários rejeitou, na última quarta (28), a proposta apresentada pela Federação Nacional dos Bancos (Feneban). O órgão continua insistindo na proposta de apenas 7% de reajuste salarial para 2016. Na quinta (29), a categoria realizou um ato na Rua Carijós, em frente à agência da Caixa Econômica Federal, com o objetivo de pressionar as instituições financeiras. Na próxima segunda (3), será realizada uma assembleia para decidir os rumos da greve.
BELEZA PURA É chegada a estação mais linda e cheia de vida: a primavera! Todos os anos, Belo Horizonte se transforma com a floração dos ipês. Com flores rosas, amarelas e brancas, as árvores colorem o caminho e encantam transeuntes.
Andrea Hermogenes Martins
Arcângelo Queiroz
Golpe na saúde pública
Pressão para Cemig avançar
O Sistema Único de Saúde – SUS, em seus 26 anos de existência, sofre atualmente o seu maior ataque e o que está em risco é o desmonte da política pública de saúde no Brasil. O SUS foi instituído a partir da Constituição Federal “Cidadã de 1988”, da Lei Orgânica da Saúde 8080/90 e da Lei 8142, que trata do controle social no âmbito da saúde. A PEC 241, que está na ordem de votação no dia 5 de outubro, estabelece congelamento dos recursos destinados ao SUS por 20 anos, estabelecendo teto e retirando a obrigatoriedade do investimento mínimo, o que representa a redução de 2/3 dos recursos que o Ministério da Saúde destina aos Estados, Municípios e Distrito Federal, nas próximas décadas. Essa redução afetará as transferências de recursos financeiros para o custeio de ações de assistência, promoção, prevenção e recuperação da saúde, reduzindo drasticamente o financiamento para a atenção básica (postos de saúde), setores Conquistas só com de urgência e emergência, organização e luta hospitais, medicamentos, exames, entre outros. Belo Horizonte já vivencia as consequências da redução de investimentos no SUS. O Hospital Risoleta Neves, localizado na região Norte da cidade, com atendimento 100% pelo sistema público, vem reduzindo significativamente os atendimentos realizados à população, devido ao subfinanciamento e atrasos nos repasses dos recursos enviados pela prefeitura, estado e governo federal. O hospital representa importante unidade de atendimento à população, que se organizou junto com usuários, sindicatos, centrais sindicais e movimentos sociais para defender qualidade total de atendimento. É chegada a hora de trabalhadores, usuários e gestores defensores do SUS somarem forças. Nenhum direito a menos, o SUS é conquista e direito do povo brasileiro. Andrea Hermogenes Martins é diretora do Sindibel e da Executiva CUT Minas.
Após um mês da entrega da pauta de reivindicações para a renovação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2016/2017 dos eletricitários, a Cemig finalmente marcou a primeira reunião de negociação com a categoria. Em mesa, o Sindicato dos Eletricitários (Sindieletro-MG) cobra respeito às cláusulas do Acordo Coletivo; valorização da categoria, melhoria da qualidade do serviço prestado pela estatal; fim dos acidentes de trabalho e da terceirização na empresa, com a realização de concurso público; e, ainda, que a Cemig e o governo do estado cumpram todos os acordos assinados com os trabalhadores, sobretudo o que prevê a contratação de 400 eletricitários ainda este ano. Por uma Cemig Também cobramos que a estatal cumpra as metas de de qualidade qualidade na prestação do serviço, pois sabemos que o tempo que o consumidor fica sem energia está acima dos índices definidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Caso contrário, pelas regras do órgão, a Cemig Distribuição perderá a concessão do serviço no estado. Completando 65 anos em 2016, o Sindieletro continua exigindo a primarização (fim da terceirização) na Cemig e a manutenção das conquistas dos trabalhadores. No cenário nacional, mantemos a defesa radical e corajosa do emprego, dos direitos da classe trabalhadora e a proteção das empresas públicas. Nesse contexto, é necessário destacar a importância de defender a Cemig da precarização e da privatização, mantendo, com a estatal, as concessões das usinas de São Simão, Jaguara, Miranda e Volta Grande. Nossa luta é por uma Cemig com empregos e serviços de qualidade, condições fundamentais para a retomada do nível de confiança dos empregados e consumidores na Companhia. Arcângelo Queiroz é diretor do Sindieletro/MG.
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BRASIL
Belo Horizonte, 30 de setembro a 6 de outubro de 2016
Samarco planeja estocar rejeitos em cima de destroços de Bento Rodrigues TRAGÉDIA DE MARIANA Empresa construirá dique que alaga pelo menos metade da comunidade atingida pela barragem Isis Medeiros
Rafaella Dotta
A
pós ser vítima da maior tragédia ambiental do país, o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, será novamente coberto por rejeitos de minério. A denúncia do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) é de que não há limite claro para o alagamento a ser feito com o dique S4, obra da empresa para estocar lama em cima de Bento Rodrigues. A Samarco, de propriedade da Vale e BHP/Billiton, alega urgência e risco de segurança com época de chuvas. O rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, trouxe à Samarco o impasse de como estocar os rejeitos de anos de exploração da mina Germano. O local já possui três diques, que retêm 2,16 milhões de m³. Com o dique S4, a mineradora passaria a ter 1 milhão de m³ a mais em sua capacidade de armazena-
Ao fundo, obras do dique S4, da Samarco/Vale/BHP Billiton
mento. Esse volume, segundo a Samarco, é necessário para garantir que as barragens ou diques não se rompam durante a época chuvosa. O enterro de Bento A área a ser alagada corresponde a 55 propriedades e atinge patrimônios culturais como a Estrada Real, os vestígios de um muro arqueológico, um muro colonial e a Capela de São Bento, do século XVIII. Capela e
cemitério terão de ser protegidos por um tapume, segundo a mineradora. Além disso, o dique impossibilita que pessoas e visitantes cheguem pela estrada convencional até a comunidade, que se tornou um “museu da tragédia”. Uma das proprietárias do terreno onde a empresa faz a obra, Lucimar Muniz, é crítica ao empreendimento e afirma que moradores de Bento também são. “Permitir a construção
Alexandre Guzanshe
do dique S4 é compactuar com esse crime contra uma comunidade que merece ter sua memória viva”, declara. Letícia Oliveira, integrante da coordenação do MAB, lembra que o dique S3 passou por alteamento – aumento do muro para aumentar a capacidade – e que o dique S4 corre perigo de sofrer o mesmo processo. “Se altear o dique S4, o que não é difícil, todo o Bento Rodrigues vai ficar embaixo d’água”, alerta. Irregular desde o princípio A mineradora iniciou a construção em junho deste ano, quando foi flagrada pela Polícia Militar do Meio Ambiente. A empresa desmatou, perante o derramamento de minério, cerca de mil hectares de floresta de áreas de conservação ambiental. A atitude rendeu multa de R$ 6 milhões à Samarco, mas moradores denunciam que as obras continuaram.
Governo de Minas dá carta branca para mineradora PRESSÃO Ministério Público Estadual cobra plano de recuperação ambiental Mesmo com as manifestações de moradores e movimentos, o governo estadual emitiu em 21 de setembro a desapropriação dos terrenos e a autorização para construir do dique, por meio de decreto. Em nota, o governo admite que o licenciamento ambiental não existe e que será feito posteriormente, de forma “corretiva”. Em contraposição, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) continua cobrando postura mais ativa da empresa para repa-
rar os estragos que causou. O promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, do MPMG, avalia que a urgência do dique S4 se deve à incapacidade da mineradora em ter feito a remoção da lama. Segundo ele, os rejeitos não foram retirados nem mesmo dos pontos principais, que vão da barragem de Fundão à barragem de Candonga, a 100 km de Mariana. “Plantar graminha em cima da lama não vai resolver o problema”, diz o promo-
tor, criticando a falta de planos de recuperação ambiental por parte da empresa. “A questão é onde estocar os rejeitos. Porém, a Samarco não priorizou esses estudos, mas
A penúltima reza
estava preocupada com a volta do seu funcionamento”, diz. A empresa continua proibida de realizar exploração de minério no local. (RD)
O repórter Daniel Camargos e o fotógrafo Alexandre Guzanshe estiveram em Bento Rodrigues no dia 24 e acompanharam a celebração de Nossa Senhora das Mercês no que restou do distrito de Bento Rodrigues. Apesar da decisão do governo mineiro de alagar parte da área para a construção do dique S4, os atingidos deixam claro que vão brigar por sua história. “Vamos lutar até o final. Até a última gota de sangue. Não vamos deixar isso aqui acabar nunca”, garante Cristiano José Sales, um dos organizadores da celebração. Se depender deles, essa não terá sido a última reza. Confira a reportagem completa no site: www.brasildefato.com.br
Marcha de Regência a Mariana Os atingidos realizarão uma marcha para lembrar o primeiro aniversário do crime. Eles saem de Regência (ES) no dia 31 de outubro e devem chegar a Mariana (MG) no dia 2 de novembro, em ação organizada pelo Movimento de Atingidos por Barragens (MAB). Nos dias 3
e 4, ficam reunidos em Mariana, onde serão promovidos debates sobre os motivos do rompimento da barragem. No dia 5, está previsto um ato público com o lema “Bento Rodrigues pertence aos moradores e não à Samarco”.
Belo Horizonte, 23 a 29 de setembro de 2016
Movimentos feministas pedem aborto legal e seguro
BRASIL
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Ato em foco
SAÚDE Apesar de muito comum, proibição leva a práticas clandestinas e perigosas Fernado Frazão / Agência Brasil
Larissa Costa
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dia 28 de setembro é conhecido na América Latina e no Caribe como a data de conscientização sobre a necessidade de legalizar a prática de interrupção voluntária da gravidez. Em outros termos, é um dia de luta pela legali-
Já atendi mulheres que já sofreram abuso quando crianças, mas não tinham a quem recorrer”, diz médica
zação do aborto, em que movimentos populares e feministas alertam sobre os impactos que o aborto clandestino causa na vida das mulheres. Uma enquete do Senado sobre o assunto ganhou as redes sociais. Por meio do Portal e-Cidadania, inter-
nautas podem opinar sobre o que pensam de “regular a interrupção voluntária da gravidez, dentro das 12 primeiras semanas de gestação, pelo Sistema Único de Saúde”. Até esta semana, 200 mil pessoas se manifestaram favoráveis à proposta, e 180 mil contra.
Situações permitidas No Brasil, somente em três situações as mulheres têm direito ao aborto legal: quando a gravidez é fruto de um estupro; se a gestante corre risco de morrer ou se for comprovado que o feto é anencéfalo [ausência parcial do cérebro]. Em qualquer outra situação, o Código Penal prevê punição de um a três anos de cadeia para as mulheres. “A atual política pública é um avanço e está, de fato, ajudando as mulheres e crianças. Já atendi mulheres que sofreram abuso quando crianças, mas não tinham a quem recorrer”, explica Meire Rose Cassini, psicóloga hospitalar que trabalha no Hospital Júlia Kubitschek, referência em Minas Gerais em saúde da mulher.
05/10: Marcha em Brasília Movimentos e sindicatos convocam para 5 de outubro uma manifestação nacional contra o desmonte do Estado. As organizações protestam contra a política adotada pelo governo não eleito de Michel Temer, de diminuir gastos em serviços públicos e propor reformas nos setores trabalhistas, da previdência e da educação. De Minas Gerais, devem se somar caravanas coordenadas pelo Sindifes, Sind-Saúde, Sind -UTE e Sindieletro.
Depois dos 40, uma em cada 5 mulheres já fez aborto P
ara além da legislação, todas as demais motivações que levam as mulheres a praticar o aborto são consideradas crime. Mesmo assim, a Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), realizada pelo Instituto de Bioéti-
ca, Direitos Humanos e Gênero revela que o aborto é tão comum no Brasil que, ao completar 40 anos, mais de uma em cada 5 mulheres já fez aborto. Um relatório deste ano da Organização Mundial de Saúde e do Guttmacher Institute apon-
ta que ocorreram 56 milhões de abortos entre 2010 e 2014 em todo o mundo. Para Rosângela Talib, uma das coordenadoras da ONG Católicas Pelo Direito de Decidir, que há mais de 20
Legalização pelo mundo Em 56 países, o aborto é legalizado sem restrições. Na América Latina, Cuba e Uruguai são os únicos países que permitem a prática. Rosângela explica que é comum nos países onde o aborto é legalizado uma queda do número de procedimentos e de mortalidade materna. “O aborto não é um problema moral, mas sim de saúde pública”, complementa.
anos atua em defesa da laicidade do Estado e da autonomia das mulheres, afirma que a ilegalidade é a responsável pela dificuldade de obter dados reais. “As mulheres
têm medo de se expor, uma vez que podem acabar sendo denunciadas ou até mesmo presas”, destaca.
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MUNDO
Belo Horizonte, 30 de setembro a 6 de outubro de 2016
Desaparecimento de 43 jovens no México continua sem respostas IMPUNIDADE Massacre que resultou em morte de estudantes completa dois anos sem que autoridades esclareçam caso Da redação, com Opera Mundi
Reprodução
A
Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) do México continua exigindo esclarecimentos do governo Enrique Peña sobre o desaparecimento de 43 jovens na cidade de Ayotzinapa, estado de Guerrero. Dois anos depois, as famílias das vítimas não tiveram nenhuma resposta do que poderia ter acontecido aos seus parentes. Das 57 recomendações feitas pela CNDH a diferentes autoridades mexicanas, apenas oito teriam sido atendidas. A população cobra para que
as instituições federais, estaduais e municipais do país se movimentem pelo desfecho do caso, que caminha a passos lentos. Entenda o que aconteceu Na noite do dia 26 de setembro de 2014, cerca de
cem estudantes da Escola Normal Rural Isidro Burgos, no município de Ayotzinapa, foram atacados enquanto viajavam em cinco ônibus para a Cidade do México, onde iriam participar de uma marcha anual em memória do massacre de Tla-
teloco, que também vitimou estudantes em 1968. Na ocasião, policiais atiraram contra os veículos, matando seis pessoas. Outras vinte ficaram feridas e 57 desapareceram. Atualmente, 43 delas continuam com paradeiro desconhecido. Os dois anos da violência
População cobra para que as instituições do país acelerem investigações
foram marcados por diversos protestos em todo o México. O principal deles, realizado na segunda-feira (26), reuniu milhares de pessoas, representantes de movimentos populares e familiares dos jovens. A Secretaria de Governo do México informou que, até o momento, foram presas 130 pessoas por possível envolvimento no caso, dentre elas o chefe do cartel Guerreros Unidos, Sidronio Casarrubias, e o então prefeito da cidade de Iguala, José Luis Abarca, considerados articuladores da ação.
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Belo Horizonte, 30 de setembro a 6 de outubro de 2016
Novela A aposta da novela das 21h Divulgação
Amiga da Saúde Amiga da saúde, tem alguma chance de o homem ficar com impotência por causa da vasectomia?
Valentina Santos, 29 anos, do lar
C
hega ao fim Velho Chico. Com autoria principal de Benedito Ruy Barbosa, a novela seria exibida no horário das 18 horas, mas, numa aposta da direção artística da Globo, foi exibida às 21 horas, no horário de maior audiência da emissora. Há muitos anos, os folhetins desse horário exibiam tramas que se passavam no eixo Rio - São Paulo, com histórias quase iguais. Ambientada no interior baiano, às margens do Rio São Francisco, a novela apresentou com ousadia os seus temas e personagens. Não passou despercebido do público o tom político e o levantamento de algumas questões sociais que, não poucas vezes, deixaram em segundo plano as clássicas aventuras, dilemas amorosos e as cenas quentes. Vale lembrar o destaque do casal composto pelo vereador Bento dos Anjos (Irandhir Santos) e a professora Beatriz (Dira Paes). Os dois fizeram duros enfrentamentos aos poderosos do município de Grotas. Nesta última semana, Beatriz será eleita prefeita e Bento reeleito vereador, no melhor esNão passou tilo “o povo no poder!”. despercebido tom Outro tema importante foi a político de exploração do solo. Se de um Velho Chico lado o coronel Saruê (Antônio Fagundes), com um modelo de produção extremamente danoso à terra pelo uso de agrotóxicos e explorador dos pequenos produtores; do outro seu neto Miguel (Gabriel Leone) se junta à família dos Anjos para desenvolver um inovador modelo de produção, baseado na agroecologia, em parceria com os pequenos produtores. Além das inovações na parte estética, na fotografia das cenas, nos figurinos, na maquiagem ou na trilha, marca forte do diretor Luiz Fernando Carvalho, o acento político do enredo cumpriu a missão de trazer novidades para as tramas das 21h. Mesmo não sendo um sucesso estrondoso, Velho Chico manteve os índices de audiência, mas principalmente, deu ares e tons diferentes para o horário nobre, contribuindo para elevar o nível de discussão das novelas e do público, coisa rara nos últimos tempos na TV. **Felipe Marcelino é professor de filosofia
Cara Valentina, a vasectomia é um procedimento que não oferece nenhum risco de provocar impotência sexual. Esse é um mito que amedronta os homens, fazendo com que muitos evitem o método contraceptivo. A única possibilidade de a vasectomia interferir na ereção está relacionada ao medo do homem de brochar, o que poderia deixá-lo tenso, sem conseguir ficar excitado na primeira tentativa. A vasectomia é um procedimento simples, rápido, de baixíssimo risco e de
fácil acesso pelo SUS. Contudo, devido a esse medo e também pelo machismo, que faz com que muitos relacionem a esterilidade a uma perda da virilidade masculina, a recusa dos homens à vasectomia é grande. Assim, a responsabilidade pela contracepção fica nas costas das mulheres. Com isso, muitas se submetem à laqueadura de trompas, que é um procedimento muito mais arriscado para a saúde e oneroso para o SUS.
Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barbosa I Coren MG 159621-Enf.
Nossos direitos Desconto na conta de luz: saiba quem tem direito! A Lei Federal nº 12.212/10 define a aplicação da Tarifa Social de Energia Elétrica e estabelece que, para ter direito ao benefício, a família deve estar inscrita no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e possuir renda familiar mensal menor ou igual a meio salário por pessoa. Outra possibilidade é se a família tiver que fazer uso continuado de aparelhos para tratamento de saúde. Também tem a tarifa reduzida quem recebe o benefício de prestação continuada da assistência social (BPC). Mas qual o valor do desconto? I - As famílias indígenas e qui-
lombolas, no consumo mensal de até 50 kWh/mês têm direito a 100% de desconto. II - Para as famílias de baixa renda com consumo inferior ou igual a 30 kWh/mês, o desconto será de 65% ; III - As famílias de baixa renda com consumo entre 31 kWh/mês e 100 kWh/mês, têm desconto de 40% ; Acima desse consumo e até 220 KWh/mês, o descontos é de 10%. Para ter acesso ao direito, a pessoa precisa ir presencialmente a uma das agências da Cemig, com xerox da carteira de identidade, CPF, conta de luz atualizada e número do NIS (CadÚnico) ou BPC (Benefício de Prestação Continuada).
Adília Sozzi é advogada da Rede Nacional de Advogados Populares – RENAP.
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13 VARIEDADES 13 por Alan Tygel
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Dicas Mastigadas Batata-doce Rösti à brasileira
A batata inglesa é o alimento mais consumido da Europa, e seria equivalente ao nosso arroz com feijão. No Brasil, o plantio é pequeno. Quase 100% da batata-frita congelada é importada. A batata rösti suíça é feita com batata inglesa e leva bacon e outros ingredientes, dependendo da região. Na nossa agricultura familiar, que gera mais empregos e usa menos agrotóxicos, é mais comum a produção da batata-doce. Essa variedade tem mais vitaminas e minerais, além de fornecer carboidratos com baixo índice glicêmico - ou seja, engorda menos.
• 2 batatas-doces médias • Queijo coalho ou requeijão a gosto • Sal e pimenta do reino a gosto
Modo de preparo Ferva as batatas por 10 minutos, sem cozinhar totalmente. Ponha numa bacia com água fria, depois rale num ralador grosso. Cuidado para não se queimar, pois mesmo que por fora esteja fria, o interior pode estar quente. Tempere com um pouco de sal e pimenta do reino. Unte uma frigideira com manteiga ou óleo. Ponha metade das batatas raladas, depois o queijo, em seguida o restante das batatas. Com uma espátula, ajeite as bordas e comprima levemente a mistura. Tampe a frigideira e deixe no fogo baixo por 5 minutos. O objetivo é ficar um pouquinho tostada. Unte a superfície do rösti, e vire com a ajuda de um prato (ou jogando para o alto, se tiver coragem!). Deixe tostar por mais cinco minutos e sirva
Participe enviando sugestões para receita@brasildefato.com.br.
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CULTURA
Belo Horizonte, 30 de setembro a 6 de outubro de 2016
Festival da Cultura Campesina movimenta Campo do Meio
A ‘boniteza’ da língua sertaneja
Divulgação
SUL DE MINAS Evento do MST quer valorizar artistas da região e mostrar resistência à reintegração de posse na Usina Ariadnópolis Gustavo Marinho
Raíssa Lopes
N
os dias 22 e 23 de outubro, a cidade de Campo do Meio recebe o 1º Festival de Cultura Campesina do Sul de Minas. Organizado pelo Movimento dos Trabalhadores s Rurais Sem Terra (MST), a iniciativa pretende valorizar os artistas locais e fazer frente aos últimos acontecimentos na Usina Ariadnópolis. Lá está localizado um assentamento que resiste há pelo menos 14 anos e, em último acordo realizado com a empresa Usina Ariadnópolis Açúcar e Álcool S/A, as famílias foram obrigadas a se
retirar da sede do terreno e ocupar uma área menor. “A arte, os saberes populares e a produção de alimentos saudáveis foram despejados. Esse festival vem para mostrar que a cultura é uma grande ferramenta de transformação social e de diálogo com a sociedade. Para mostrar que iremos lutar”, ressalta a coordenadora da atividade e militante do MST, Maysa Matias. Resistência e memória Durante o final de semana, serão realizados shows, oficinas, apresentações de capoeira, feira de produtos da reforma agrária popular e artesanato. Além dis-
so, na semana que antecede o festival, o MST prepara debates em escolas municipais e estaduais da região a respeito da origem dos alimentos. “Queremos mostrar que o nosso café, por exemplo, não é igual ao dos agronegociantes, que atravessa o Brasil e é vendido lá fora. Ele faz parte de uma produção que leva saúde às pessoas e continua dando frutos, auxiliando as famílias daqui a se manterem.”, conta Maysa. Já no evento, uma exposição fotográfica também narrará às novas gerações o histórico da luta pela terra em Campo do Meio.
Na próxima terça (4), acontece em BH o pré-lançamento do documentário “Sertão como se fala”, filme que investiga o modo diferente que o sertanejo tem de dizer o alfabeto. A produção pesquisa as raízes do povo nordestino e o teor pejorativo que o estilo de se comunicar ganhou a partir da adoção da língua portuguesa formal. Por meio de entrevistas com professores, educadores, estudantes e artistas, o longa também coloca em evidência o risco de extinção sofrido por essa manifestação cultural do Brasil. Para a realização da obra, a equipe de cineastas percorreu mais de 9 mil km pelos estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Piauí. A sessão será exibida no Cine 104 (Praça Ruy Barbosa, 104 - Centro), a partir das 20h30, com entrada franca. Os ingressos devem ser retirados no local uma hora antes do início do evento. Para saber mais sobre o projeto, acesse: www.sertaocomosefala.wordpress.com
Celebrando a literatura De 5 a 9 de outubro, BH sedia o Circuito das Letras, projeto com mais de 130 convidados e mais de 80 eventos focados na valorização da leitura. Toda a programação é gratuita e conta com mesas-redondas, painéis, oficinas, contação de histórias, ações educativas, shows, feiras e saraus literários. As atividades acontecem no Circuito Cultural da Praça da Liberdade.
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Belo Horizonte, 30 de setembro a 6 de outubro de 2016
ESPORTES
André Cintra é penta na geral
Terminam os Jogos Escolares da Juventude Terminaram na quinta (29) os Jogos Escolares da Juventude, realizados em João Pessoa (PB) desde o dia 22, com a participação de 3800 atletas de 12 a 14 anos. Minas Gerais encerrou sua participação nas modalidades individuais com 14 medalhas: quatro ouros, nove pratas e um bronze. Destaque para a estudante Bárbara Cunha, da E.M. Maria de Magalhães Pinto, que faturou o primeiro ouro mineiro no atletismo, na disputa dos 80 metros com barreira. A próxima etapa, com estudantes de 15 a 17 anos, será realizada entre os dias 10 e 19 de novembro.
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Divulgação / CPB
O paratleta André Cintra conquistou o ouro no Campeonato Brasileiro de Snowboard, nas provas de boardercross e slalom gigante, realizadas em Corralco, Chile. André foi o primeiro brasileiro a se classificar para uma edição de Jogos Paralímpicos de Inverno, em 2014, na Rússia. Agora, ele busca a vaga para a edição de 2018, a ser realizada em Pyeongchang, Coreia do Sul. (Com informações do CPB) William Lucas/Exemplus/COB
Sexta tem Massa Crítica em BH
Reprodução
Sexta (30), ciclistas saem às ruas de BH para mais uma Massa Crítica. O evento é realizado toda última sexta-feira do mês em centenas de cidades no mundo, fazendo uso de bikes e outros meios de transporte de tração humana (skate, patins, etc). A Massa Crítica também é uma celebração da bicicleta como meio de transporte e as alternativas à ditadura do automóvel.
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Onde: Praça da Estação, BH Quando: sexta-feira (30), às 19h Informações: migre.me/v6xYp
Curto e Grosso
Libertadores o ano todo Reprodução
Diego Silveira
Eleições 2016 | Coligação Frente BH Popular - PT, PCdoB | CNPJ candidato: 25.792.502/0001-23 | Prefeito – Reginaldo Lopes 13 | Vice – Jô Morais CNPJ Fornecedor: 20.555.103/0001-25 | Valor: R$590,00
A Copa Libertadores será disputada de fevereiro a novembro, a partir de 2017. A competição contará com 42 times, quatro a mais do que hoje. Outra mudança importante tem a ver com o destino de 10 clubes eliminados na fase de grupos, que terão vaga direta para a Copa Sul-Americana. A mudança no calendário da competição vai exigir uma boa gestão do futebol. Libertadores, Sul-Americana, Brasileirão e Copa do Brasil correndo juntas demandarão elencos grandes e qualificados. Isso implica enfrentar o interesse europeu durante a janela de transferência de atletas de julho/agosto. Em termos estritamente futebolísticos, o fim da Libertas em novembro ajudará o campeão em seu preparo para o mundial. Hoje, nós e nossos vizinhos insistimos no mesmo erro: um semestre de desmotivação e desmonte do elenco até a hora de enfrentar o campeão da Europa. O desafio aos dirigentes está lançado.
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Belo Horizonte, 30 de setembro a 6 de outubro de 2016
Brasileirão vai ter G5
O G4 vai virar G5. A vaga adicional vem da mudança no formato das competições continentais, anunciada pela Conmebol nesta semana. A partir de 2017, a Libertadores terá 42 equipes e o Brasil deve entrar com mais um participante, que a CBF pretende selecionar no Brasileirão. A Copa do
ESPORTES
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DECLARAÇÃO DA SEMANA Bruno Cantini
Brasil também deve ser alterada para não prejudicar o calendário internacional: “Uma reclamação era que um clube teria que optar por Sul-Americana ou Copa do Brasil. Isso deixa de existir. A Copa do Brasil será adequada”, disse Manoel Flores, diretor de competições da CBF.
Reprodução
Fui vítima de racismo toda a minha vida, nas ruas e nos estádios. Quando soube que a força-tarefa da Fifa não iria prosseguir o seu trabalho, fiquei desiludido. Yayá Touré, meio-campista do Manchester City, que integrava a força-tarefa da Fifa contra o racismo. Nesta semana, a entidade informou o fim das atividades da força-tarefa.
Gol de placa O time alemão de St. Paulil, em parceria com a banda escocesa The Wakes, lançou uma campanha em apoio aos refugiados no país. Camisas com a frase “nenhum ser humano é ilegal” estão sendo vendidas e o dinheiro será doado a projetos sociais.
Gol contra O tenista sul-africano Joshua Chetty foi banido do esporte por ter tentado manipular resultados de jogos. Ele admitiu ter oferecido 2 mil dólares a outro jogador para ele fingisse passar mal e perdesse uma partida da terceira divisão da África do Sul.
Decacampeão
É Galo doido!
La Bestia Negra
Bráulio Siffert
Rogério Hilário
Nádia Daian
Assim compôs o americano Fernando Brant: “Se muito vale o já feito / Mais vale o que será / E o que foi feito / É preciso conhecer / Para melhor prosseguir”. Ao América vale o já feito em sua longa história e o já feito nas últimas rodadas, com desempenhoDecacampeão que, se for mantido até o final do campeonato, salva o time da degola. Para prosseguir, é preciso que os atletas e o técnico saibam o que representa o América e explorem ao máximo suas potencialidades. A remota chance que resta poderá valer mais. “Falo assim sem tristeza / Falo por acreditar / Que é cobrando o que fomos / Que nós iremos crescer / Outros outubros virão / Outras manhãs plenas de sol e de luz”.
O futebol não é ciência exata. Se fosse, o Atlético estaria perdido. Pelo departamento de matemática da UFMG, tem 6,9% de chances de ganhar o título brasileiro. Quanto à Libertadores, as probabilidades são de 79%. Os dados do site InfoboÉ GaloAsdoido! la são semelhantes. estatísticas variam a cada rodada e dependem do desempenho no decorrer do campeonato. Faltam 11 rodadas. Os prognósticos mudam conforme os resultados. O Galo não depende apenas do seu desempenho, embora vá enfrentar em BH os principais concorrentes ao maior troféu nacional. A maior esperança vem da eficiência de Fred e Lucas Pratto, do retorno das opções para a armação de jogadas e do equilíbrio na marcação.
Mano Menezes completa dois meses à frente do Cruzeiro e, neste segundo mês, amargamos uma sequência de derrotas que nos levou novamente à zona de rebaixamento. Sábado (1) enfrentaremos o Grêmio e somente a vitória interessa. La Bestia Negrapode perMesmo ganhando, o Cruzeiro manecer no Z4, o que torna esse jogo o mais importante. O que mais assusta é a queda de rendimento do time. O caminho é difícil e árduo, e se o Cruzeiro não reencontrar o bom futebol, este caminho pode ser ainda mais penoso. O desespero volta a acometer a torcida e a única coisa que podemos fazer é carregar esses jogadores no grito e deixar nossa voz no Mineirão. Esperamos, em troca, empenho e dedicação do time.