Rafael Ribeiro / CBF
Minas Gerais
BRASIL
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CULTURA
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PEC do fim do mundo
Projeto Voz
Já aprovada na Câmara, a PEC 241 deverá ser votada no Senado em dezembro. Se aceita, medida entra em vigor e congela por 20 anos investimentos em educação e saúde
Uma revista feita por detentos e um livro que conta como é ser mãe na prisão. Conheça as iniciativas de jornalistas mineiros que compartilham o poder de se comunicar
Divulgação
28 de outubro a 4 de novembro 2016 • edição 159 • brasildefato.com.br • facebook.com/brasildefatomg • distribuição gratuita
UM ANO DE LAMA E LUTA
Isis Medeiros
ESPECIAL Na próxima semana, o crime da Samarco (Vale/BHP) completa 365 dias. Para marcar a data, o Brasil de Fato MG realizou, em parceria com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), uma edição especial sobre o que restou das comunidades atingidas: injustiça, impunidade das mineradoras e muita força do povo. Relembre os números da tragédia, saiba sobre as tentativas de acordos e leia sobre as iniciativas de resistência, como uma grande marcha pela Bacia do Rio Doce, que começa no dia 31 e termina no dia 5, em Mariana.
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OPINIÃO
Belo Horizonte, 28 de outubro a 4 de novembro de 2016
Editorial | Brasil
Resistência intransigente
ESPAÇO dos Leitores
“Adoro ler Brasil de Fato, parabéns a todos da redação. Só resumindo a PEC 241: pra mim o Brasil está completamente perdido”. Joel Damasceno via correio eletrônico
“Leio sempre o Brasil de Fato, me faz um bem danado. Minha esposa, com quem sou casado há 50 anos, também lê. Sou um interessado pela vida, amo viver e levar esperança a quem encontro e, lendo coisas boas como as que escrevem, me fortaleço. O jornal é encantador, tem excelentes propósitos. O povo brasileiro sofre demais, jamais devia sofrer o que sofre”. Antônio Caldeira via correio eletrônico
“Com certeza”. Anna Patricio comentando o editorial da edição 158, “Cunha foi preso, falta Temer”
Escreva para nós: redacaomg@brasildefato.com.br
Vivemos tempos difíceis. Os ataques vêm por todos os lados e numa velocidade tão grande que chegam a dar tonteira. O projeto que se desenha para o Brasil neste momento é tenebroso: cortes em investimentos essenciais que afetarão as futuras gerações, entrega do patrimônio nacional para empresas estrangeiras, aumento da repressão, avanço de ideias conservadoras, do machismo, do racismo e de outras violências. O governo golpista de Michel Temer, em aliança com setores muito ricos da sociedade, mostrou a que veio em todas as áreas, basta ver a composição de seus ministérios. Para tentar convencer a população dos imensos disparates que come-
rais levam seus produtos sem veneno para as cidades. Há resistência quando atingidos pela lama de uma mineradora bilionária se negam a aceitar calados indenizações injustas.
Golpistas têm medo do exemplo da luta
lentos donos do poder mandam suas polícias, juízes e cadeias. É por isso que o grande sociólogo brasileiro Florestan Fernandes nos alertava: os ricos são intolerantes. E os ricos são aqueles que não dependem do próprio trabalho para viver. Eles não toleram repartir a riqueza, que é gerada por todos. Não toleram que as pessoas pobres – a imensa maioria – sejam sujeitos de direitos. Não toleram que discordem deles. Não toleram que todos sejam igualmente seres humanos, portadores de direitos e deveres iguais. Mas Florestan também nos ensina: contra essa intolerância dos ricos, resta aos pobres a intransigência. É preciso seguir em resistência e é fundamental ser rígido na defesa dos direitos. Se é uma luta o que estamos vivendo, precisamos ser mais fortes e unidos do que o outro lado.
te, se apoia-se no discurso de crise e de corrupção, construído com tempo, esmero e precisão pelos grandes meios de controle da informação. É uma teia complexa, poderosa, articulada, com muito dinheiro e poder. Mas mesmo com todo esse aparato para tentar anestesiar a população e convencê-la de que está tudo bem, há resistência. Há resistência quando milhares de jovens ocupam suas escolas. Há resistência quando mulheres se juntam em todo o continente para denunciar o machismo que mata. Há resistência quando trabalhadores paralisam as atividades e fazem greves. Há resistência quando trabalhadores ru-
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.
Convencimento e força Os golpistas têm medo do diálogo. Têm medo do exemplo fértil que as pessoas em luta podem dar a todas as outras. E por isso apelam para o outro lado da moeda do poder: a força. Se não dá certo pelo convencimento, se ainda há aqueles que se rebelam mesmo com toda a propaganda, os trucu-
É preciso unidade entre os que resistem
REDE SOCIAL: facebook.com/brasildefatomg correio: redacaomg@brasildefato.com.br para anunciar: publicidademg@brasildefato.com.br TELEFONES: (31) 3309 3314 / 32133983
conselho editorial minas gerais: Adília Sozzi, Adriano Pereira Santos, Adriano Ventura, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Cida Falabella, Durval Ângelo Andrade, Ênio Bohnenberger, Frederico Santana Rick, Frei Gilvander, Gilson Reis, Gustavo Bones, Jairo Nogueira Filho, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, José Guilherme Castro, Juarez Guimarães, Laísa Silva, Marcelo Oliveira Almeida, Milton Bicalho, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Rogério Correia, Samuel da Silva, Temístocles Marcelos, Wagner Xavier. Editora: Joana Tavares (Mtb 10140/MG). Redação: Larissa Costa, Pedro Rafael Vilela, Rafaella Dotta, Raíssa Lopes e Wallace Oliveira. Colaboradores: Alan Tygel, Anna Carolina Azevedo, André Fidusi, Bráulio Siffert, Diego Silveira, João Paulo Cunha, Léo Calixto, Marcos Assis, Rogério Hilário, Sofia Barbosa, Coletivo Henfil. Revisão: Luciana Santos Gonçalves. Administração: Vinicius Nolasco. Distribuição: Amélia Gomes. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Tiragem: 40 mil exemplares.
Belo Horizonte, 28 de outubro a 4 de novembro de 2016
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“A América Latina não pode mais ser tolerante com essa barbaridade. Basta!” A atriz Taís Araújo comentando o assassinato da jovem argentina Lucía Perez
O Brasil de Fato MG foi às ruas perguntar: o que você pensa sobre as ocupações dos estudantes no Brasil?
Sou inteiramente a favor das ocupações dos estudantes e contra a PEC 241. Temos que bater palmas para o pessoal que está ocupando as escolas, pois são a favor do povo.
Jordialino de Araújo Campos, ator de teatro
Estou acompanhando as votações sobre a PEC 241 e sou contra o que o Temer está fazendo. Não é tirando investimento que vai melhorar. Muito pelo contrário, tem que investir mais.
Bárbara Luísa Ferreira Mota, estudante
Elza Fiuza / AGBr
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Declaração da Semana
PERGUNTA DA SEMANA
Em todo o Brasil, mais de mil escolas, universidades e outras instituições de ensino estão ocupadas por jovens, e a expectativa é que esse número não pare de aumentar. Os estudantes protestam contra a PEC 241, que vai acabar com os investimentos em educação pelos próximos 20 anos, e a Medida Provisória 746, que reforma o ensino médio em todo o país, sem levar em conta a opinião de estudantes, professores e outros envolvidos no debate sobre a educação.
GERAL
Reprodução de vídeo
BOMBOU NA REDE A secundarista Ana Júlia Pires Ribeiro emocionou o país ao fazer, na Assembleia Legislativa do Paraná, um discurso sobre a ocupação das escolas. Aluna do Colégio Estadual Senador Manuel Guimarães, em Curitiba, a jovem de 16 anos criticou o projeto Escola Sem Partido e a PEC 241, além de defender a legitimidade do movimento organizado pelos estudantes do Brasil. As palavras da adolescente encantaram pela força e embasamento e viralizaram nas redes sociais. Para ver o discurso completo, acesse: http://migre.me/vmdA8
Alimentos que mais causam alergia
Reprodução
Vacina contra HPV também para meninos A partir de janeiro de 2017, meninos de 12 a 13 anos também serão vacinados contra o HPV. Oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a imunização consiste na aplicação de duas doses, com seis meses de intervalo entre elas. De acordo com o Ministério da Saúde, a faixa etária dos atendidos será ampliada até 2020, período em que devem ser incluídas crianças com 9, 10 e 11 anos. A meta para o ano que vem é imunizar mais de 3,6 milhões de usuários.
A alergia alimentar acontece quando o corpo identifica como ameaça substâncias que não causam doença, mas instigam uma resposta imune do organismo para combatê-las. Leite de vaca, soja, amendoim, ovo, castanhas, trigo, peixe e frutos do mar são responsáveis por 90% das reações anormais. Se, quando você come algum desses produtos, tem sintomas como inchaço, coceira, disenteria, dores abdominais ou vômitos, é bom ficar atento. Após diagnóstico médico, a ingestão do “elemento estranho” deve ser evitada e, em caso de consumo acidental, a medicação indicada pelo profissional é a melhor solução. (Com informações do Instituto HCor)
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CIDADES
Belo Horizonte, 11 a 17 de de 2016 de 2016 Belo Horizonte, 28 de outubro a 4março de novembro
Sem vigias, escolas e Umeis de BH vivem onda de furtos
Eleições BH Saúde em primeiro lugar?
RISCO Foram levados computadores, alimentos e as até câmeras de vigilância Reprodução / PBH
NITRO
Direito à moradia
M
vamos fazer um “Nósatendimento nas
unidades muito cuidadoso para que não falte o remédio, não falte o exame especializado, não falte a consulta especializada”, afirmou o candidato João Leite (PSDB). Curioso é que seu partido, um dos principais articuladores do golpe, apoia a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241 que pretende congelar, por 20 anos, o investimento em áreas sociais, inclusive a saúde. Segundo o Conselho Nacional de Saúde, a aprovação da PEC pode gerar uma perda de até R$ 400 bilhões para o SUS. O Conselho Municipal de Saúde entregou uma carta com dez pontos considerados “prioridades emergenciais” para garantir o direito à saúde da população da capital. Além da não aprovação da PEC 241, o texto exige a garantia do funcionamento básico adequado de todas as Unidades de Saúde do SUS, a redução da terceirização e da privatização na saúde, o funcionamento pleno do Hospital do Barreiro e a inauguração da Maternidade Leonina Leonor.
Eleições BH
Raíssa Lopes Alunos e professores de Belo Horizonte têm sofrido após as demissões dos mais de 500 porteiros e vigias noturnos das Unidades de Educação Infantil (Umeis) e escolas municipais. Com a ausência dos funcionários, os servidores relatam um aumento alarmante de furtos e invasões nas unidades. De acordo com o Sindicato do Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal (SindRede-BH), já são mais de 20 instituições arrombadas. A que mais sofreu, até o momento, foi a Umei Nova Esperança, da Regional Noroeste, invadida cinco vezes - três em menos de 10 dias. Dos locais são levados mantimentos usados na merenda dos estudantes, computadores, pertences de professores, entre outros. O sindicato relata que muitas escolas também estão sendo usadas para consumo de drogas. “Os alunos ficam muito prejudicados. Após um arrombamento, eles não têm aula por pelo menos um dia. Os funcionários estão com medo, muitos já foram afas-
Sindicato exige que a PBH contrate novamente os 500 vigias demitidos tados com suspeita de síndrome do pânico”, relata o diretor do SindRede Wanderson Rocha. Ainda segundo ele, o acordo com a Prefeitura prometia uma parceria com a Polícia Militar e Guarda Municipal para que fossem efetuadas rondas nas instituições, que não estaria sendo cumprida. Falsa economia Wanderson explica que os vigias e porteiros foram substituídos por sensores de movimento e monitoramento de uma empresa particular que conta com quatro motos, quatro carros e um telefone para atender possíveis ocorrências. O diretor ressalta que o número não estaria sendo suficiente para supervisionar as mais de 300 unidades educacionais de BH.
“Quando a PBH iniciou as demissões, justificou a medida com a economia dos gastos, mas a cada nova situação de roubo aumentam os prejuízos, novos equipamentos e alimentos têm que ser comprados. Até as câmeras de vigilância são furtadas”, afirma Wanderson. Ele explica também que os vigias eram escolhidos por serem figuras de referência nas comunidades que atendiam, o que ajudava a evitar os crimes. O sindicato exige que a PBH contrate novamente os trabalhadores responsáveis pela segurança das escolas. Em nota pública, os trabalhadores pedem pela revogação das exonerações e apoio dos pais e associações de bairro para evitar novos riscos. Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte argumentou que os casos estariam acontecendo apenas na Umei Nova Esperança e que “está fazendo o possível” para solucionar os problemas. A PBH não se manifestou sobre a recontratação dos vigias, parceria com a PM e insuficiência de mão de obra para fiscalizar as unidades.
ovimentos populares, técnicos, acadêmicos, sindicatos e integrantes do sistema de Justiça presentes no II Seminário sobre Política Municipal de Habitação, em setembro, redigiram uma carta com reivindicações e propostas para a política de habitação na capital. A carta foi apresentada no último dia 19, mas somente Alexandre Kalil (PHS) esteve presente. João Leite nem justificou a ausência. Na ocasião, Kalil criticou os despejos e se comprometeu a não desalojar as 8 mil famílias residentes na ocupação Izidora, região norte de BH, como tem ameaçado o atual prefeito. Dentre as demandas listadas, estão o fortalecimento da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), a aprovação e implementação imediata do Plano Diretor aprovado na IV Conferência Municipal de Política Urbana e o fim da violência e criminalização dos movimentos populares pela Polícia Militar, pela Guarda Municipal e pela própria prefeitura, sobretudo nos processos de reintegrações de posse. Bruno Cantini
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OPINIÃO
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Opinião
Muito poder, pouca democracia O
equilíbrio dos três poderes da República sempre foi defendido como uma garantia da harmonia democrática. No mundo ideal, o Executivo coloca em ação as políticas definidas democraticamente pelas urnas; o Legislativo elabora leis por meio de um processo representativo, também democrático, e fiscaliza o governo; e o Judiciário funcionaria como guardião do Estado de Direito, por meio da defesa da lei emanada pelo povo. Como se vê, a democracia é fundamento, método e objetivo dos três poderes. No atual estágio da crise de legitimidade, essa estrutura se desmanchou na atmosfera do arbítrio. O governo não eleito é herdeiro de um golpe, autoritário e regressivo, exercendo o poder contra o projeto aprovado nas urnas. O Legislativo rompeu com a representatividade popular. Foi o que demonstrou ao aprovar a PEC 241, numa flagrante desobediência às manifestações majoritárias
de vários segmentos da sociedade – em troca de dois jantares, ameaças e promessas paroquias. O Judiciário é um caso à parte. Considerada a instância mais preservada e independente, o Judiciário brasileiro, com raríssimas exceções, sempre foi um poder legitimador, para não dizer um legitimador do po-
Pode Judiciário se tornou midiático, vaidoso e partidário der. Independentemente da orientação, foi fiador de regimes autoritários em diferentes momentos de nossa história. Enquanto o pau comia, havia uma quase secreta certeza de que o Judiciário, ao final, se aliaria aos vencedores. Ainda que com oportuno zelo em manter-se na sombra.
O Judiciário parece querer descer ainda mais em termos morais. Perdeu, nos últimos tempos, pelo menos a elegância e o saber jurídico que o destacava. Mordido pela sede de nomeada, se tornou midiático, vaidoso e partidário. Somam-se os episódios em que deixou sua posição de juiz imparcial para ser ator na cena política. Tomou gosto pela exibição. O desprestígio da política, expresso nas últimas eleições, é apenas um dos descaminhos perigosos dessa proeminência. Num contexto de Executivo sem legitimação popular e de Legislativo sem representatividade real, o Judiciário pode passar a incorporar o papel de poder tantalizante, que esmaga a diferença em nome da norma autoritária que se consagra como vingança e perseguição. Com a vigência do imperialismo do jurídico, não precisa mais chamar os milicos para o serviço sujo. Esse estado de coisas é bem conhecido. Atende pelo nome de fascismo. Basta olhar à volta para reconhecer o ovo da serpente.
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MINAS
Belo Horizonte, 28 de 11 outubro 4 de novembro Belo Horizonte, a 17 dea março de 2016 de 2016
“Criança Feliz” é um retrocesso nos direitos sociais, alertam trabalhadores da assistência social CLIENTELISMO PEC 241 vai retirar mais de R$ 800 bi da área Lula Marques / AGPT
Wallace Oliveira
programa Criança O Feliz, do governo não eleito de Michel Temer
(PMDB), vai gerar um retrocesso na profissionalização e reconhecimento dos direitos sociais. É o que diz a Frente em Defesa do Suas e da Seguridade Social, coletivo formado por trabalhadores/a, usuários e estudiosos da Programa Criança Feliz foi lançado pela primeira-dama Marcela Temer, que nunca trabalhou com assistência social assistência social no país. O programa, de responsabilidade do Ministério trabalho será voluntário problema. do Desenvolvimento Sopara sensibilizar e mobi“Somos contra o Criancial e Agrário (MDS), foi lizar setores da socieda- ça Feliz porque ele sobrelançado no início do mês Políticas sociais de em torno de ações que põe ações que já são exepela primeira dama Mar- são direitos, não possam garantir a melho- cutadas nos Centros de cela Temer, que nunca favores ria na vida das pessoas”, Referência de Assistência trabalhou na área. “Meu disse, em cerimônia de Social (CRAS), padronilançamento. zados em âmbito nacioO foco é atender a ges- nal. Além disso, nos preotantes, crianças de até 3 cupa o fato de que o trabaPEC 241 ameaça SUAS anos beneficiárias do Bol- lho seja feito pelo voluntasa Família e crianças de riado, numa perspectiva O Sistema Único da Assistência Social conta com até 6 anos atendidas pelo assistencialista, e não por Benefício de Prestação trabalhadores formados uma rede pública-estatal de mais de 10.000 cenContinuada ou afastadas tros de referência básicos e especializados (CRAS, do convívio familiar por CREAS e Centros POP) e 18 mil entidades e orgaaplicação de medida de nizações. Anualmente, mais de 1,9 milhão de famíproteção. O atendimento lias são acompanhadas, assistidas e apoiadas pelas consistirá em visitas com equipes. Atualmente, 4,2 milhões de beneficiários aconselhamentos às fa- O Criança Feliz do Benefício de Prestação Continuada e 13,9 mimílias, realizados por visi- se sobrepõe a lhões de famílias beneficiárias do Programa Bolsa tadores, cada um respon- ações que já são Família recebem repasses por esse sistema. sável por 30 domicílios. O Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa visitador poderá acionar executadas nos Econômica Aplicada aponta que, caso o Congresso a rede de proteção social, CRAS” aprove a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) caso identifique algum 241, a assistência social pode perder R$ 868 bilhões, mesmo se a economia brasileira voltar a crescer. “Em BH, por exemplo, nós temos 34 CRAS, mas são necessários pelo menos 70. Então, é necessário expandir essa política, precisamos de mais recursos, e não de redução do que já tem para trazer voluntários como prática de Estado”, alerta o historiador Márcio Caldeira, integrante do Fórum de Sociassistenciais de Belo Horizonte.
e remunerados, que integrem o Sistema Único da Assistência Social (SUAS)”, critica a gestora pública e assistente social Maria da Páscoa Andrade. Recursos
O governo tenta aprovar no Congresso a PEC 241, que vai acabar com os investimentos na área social pelos próximos 20 anos. Para a Frente, isso faz com que as políticas sociais deixem de ser reconhecidas como direitos dos cidadãos e passem a ser tratadas como favores, que podem ser negociados. “Significa o retorno a um Brasil no qual, em época de eleições, o remédio e a cesta básica era uma moeda para compra de votos. Mostrar que os pobres têm direitos como saúde, trabalho, educação, transporte de qualidade, o atendimento do CRAS, é um avanço. Em áreas rurais, por exemplo, o trabalho forçado diminuiu, as crianças não ficam em casa para servir de mão de obra barata, mas vão para a escola. Com o voluntariado, isso tudo fica incerto”, afirma o assistente social do governo do estado Leonardo Kouri Martins.
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365 dias de impunidade
Leandro Taques
Prestes a completar um ano, maior crime socioambiental da história do Brasil continua impune. Enquanto processos seguem sem continuidade na Justiça, moradores das comunidades atingidas vivem em péssimas condições e enfrentam descaso da Samarco (Vale/BHP). Empresa pretende, ainda, construir dique que pode enterrar de vez o distrito de Bento Rodrigues. Na próxima semana, atingidos e movimentos populares realizam grande marcha contra crime da Samarco. Ação começa no Espírito Santo e termina em Mariana, com ato no dia 5
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ESPECIAL
Belo Horizonte, novembro de 2016
Um ano de lama, um ano de luta NÃO FOI ACIDENTE Maior crime socioambiental da história do Brasil continua atingindo comunidades e segue impune Isis Medeiros
Eloá Magalhães O rompimento da barragem de rejeitos Fundão, da Samarco (de propriedade da Vale/BHP Billiton, as maiores mineradoras do mundo) no dia 5 de novembro de 2015, escancarou para o mundo a ferida aberta pela mineração em Minas Gerais. Foi o atual modelo minerador agressivo que provocou a maior tragédia socioambiental do Brasil, destruindo comunidades, matando pessoas e contaminando mais de 640 km de cursos d’água. Após um ano do crime, os responsáveis pela tragédia ainda estão impunes. Movimentos populares que atuam na região denunciam que uma série de direitos seguem sen-
Comunidades da Bacia sofrem até hoje com água contaminada
do violados. As comunidades atingidas de toda a Bacia do Rio Doce sofrem com a água contaminada, com as perdas de postos de trabalho, com a carência de informações e de indenizações. Isso sem falar na saudade, especialmente de quem morava no entorno da barragem e perdeu tudo. Justiça lenta Diversos processos foram movidos pelos atingidos, mas poucos foram para frente. Em agosto, a Justiça anulou um “acordão” entre os governos federal, de Minas Gerais e do Espírito Santo com as mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton, em que elas pagariam apenas R$ 20 bilhões para a reparação social e ambiental da bacia. Além de sugerir um valor bem maior – R$ 155 bi – o Ministério Público Federal critica a ausência de participação dos atingidos na formulação do acordo. “Apesar da anulação, as empresas ignoram as decisões judiciais e seguem as
medidas propostas pelo acordo”, denuncia Maria do Carmo Silva Dangelo, atingida de Paracatu de Baixo e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). A Funda-
“Acordão” previa apenas R$ 20 bilhões para reparação ção Renova, criada pela Samarco para tratar das reparações, tem escritórios em Mariana, Governador Valadares e Linhares, onde estariam sendo oferecidas “indenizações voluntárias” aos atingidos. Segundo Maria, o valor é estipulado por critérios da empresa e, se os atingidos não os aceitarem, são orientados a levar o processo à Justiça. “Isso exclui possibilidades de negociações coletivas, que em geral garantem mais direitos”, avalia.
Mineradoras impunes O Ministério Público Federal denunciou 22 pessoas e 4 empresas como responsáveis pelo crime, por terem conhecimento prévio dos riscos de rompimento da barragem. A Polícia Federal indiciou 8, mas ninguém foi julgado até hoje. As empresas “refutam” as acusações Por outro lado, atingidos sofrem perseguição judicial e policial por parte das mineradoras. Alguns militantes que participaram de mobilizações em defesa de seus direitos sofrem, inclusive, processos por parte da Vale S.A. Em Belo Oriente, por exemplo, alguns bairros chegavam a passar cinco dias por semana sem água. “Fizemos várias reuniões, mas a Samarco e a Vale não solucionavam o problema. Os atingidos ocuparam a ferrovia como último recurso de pressão”, explica Guilherme Camponêz, um dos processados. “Mas não podemos ter medo, porque só com muita mobilização e união entre os atingidos vamos conseguir um pouco de justiça por tudo que sofremos”, reforça.
Denunciados pelo MPF 22 pessoas e 4 empresas Responsáveis presos:
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(Fonte: MPF)
Belo Horizonte, novembro de 2016
Tragédia em números • 40 milhões de m³ de rejeitos • 19 mortos / 1 aborto forçado • Mais de 1.600 desabrigados • 643 km de rios e 200 km de litoral contaminados • 14 toneladas de peixes mortos • 41 municípios atingidos
1 milhão de atingidos • Dificuldade de acesso à agua • Perda de postos de trabalho • Destruição de áreas agrícolas e pastos • Queda no turismo • Perdas culturais e espirituais • 9 aldeias indígenas impactadas
ESPECIAL
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Marcha e ato político marcam um ano de mobilização
E
ntre 31 de outubro e 5 de novembro, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) organiza uma grande marcha, que sairá de Regência, distrito de Linhares (ES), até chegar a Mariana (MG), para denunciar o descaso da mineradora com os pescadores, ribeirinhos, agricultores, mulheres e todos os atingidos dessas regiões. A marcha passará por Colatina e Mascarenhas, no Espírito Santo; Governador Valadares, Cachoeira Escura, Ipatinga, Rio Doce e Barra Longa, em Minas. No dia 2, será realizada uma missa de finados em homenagem aos 19 mortos da tragédia.
Encontro em Mariana Nos dias 3 e 4, o encontro em Mariana recebe atingidos da Bacia do Rio Doce e de diversas outras regiões do Brasil, entidades internacionais e lideranças religiosas para grandes plenárias e debates sobre as consequências do crime da Samarco (Vale/BHP) e os desafios organizativos e da luta na garantia por direitos.
Ato político No dia 5, quando se completa um ano da grande explosão de lama, será realizado um ato político em Mariana. Está prevista uma visita até Bento Rodrigues, primeiro lugar a ser devastado. No local, será realizado um Culto Ecumênico e Um Minuto de Sirene. Encerrando as atividades, haverá uma missa na cidade de Mariana.
Saúde em risco • Doenças respiratórias, de pele e contaminação por metais pesados • Estresse acumulado e sofrimento mental • Elevação nos níveis toleráveis de vários metais analisados, como arsênio, bário, chumbo, cobre, mercúrio, níquel e outros (Fontes: MPF, Ibama, Saúde Popular, MAB e Samarco)
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Apoio As atividades estão sendo organizadas pelos movimentos e atingidos, que abriram uma conta para quem quiser apoiar a iniciativa. Quem quiser apoiar, basta fazer um depósito em nome da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social.
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ESPECIAL
Belo Horizonte, novembro de 2016
“Somente com organização será possível reconstruir a vida de forma justa e duradoura” ATINGIDOS Militante do MAB fala sobre atuação das mineradoras, dos governos e das comunidades Isisi Medeiros
Joana Tavares
A nossa experiência de 25 anos prova isto.
T
hiago Alves é militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), uma das organizações populares que atua junto aos atingidos desde o dia do rompimento da barragem. Nesta entrevista, ele conta sobre os impactos na lama na vida das pessoas e critica a exclusão dos atingidos nos processos de acordos entre governos e mineradoras. Brasil de Fato - Você mora em Barra Longa, um dos locais atingidos pelo rompimento da barragem. Qual foi o impacto disso na vida da cidade, das pessoas, na sua vida? Thiago Alves - Moramos atualmente dentro de um canteiro de obras, que chegou a abrigar mais de 650 trabalhadores para uma cidade de menos de 6 mil habitantes. Convivemos com a poeira, com o barulho e a sujeira de caminhões e máquinas que trabalham 24 horas por dia. Não temos nossos espaços coletivos de lazer e esporte. E perdemos a riqueza que era o rio Gualaxo e o rio Carmo limpos em meio a montanhas esverdeadas. Esses impactos trazem tristeza e causam doenças, deixando problemas sérios e de longo prazo para todos nós. Passado um ano, qual balanço o Movimento faz da atuação das mineradoras e do Estado de forma geral? A Vale e BHP Billiton, donas da Samarco, são as duas maiores mineradoras do mundo e demostram a cada dia o seu poder político e sua influência profunda no
Desde o dia da tragédia, mobilizações populares pressionam as mineradoras e os governos para respeitarem os direitos dos atingidos
“Os governantes são totalmente submissos às mineradoras” Estado brasileiro. O “acordão” que está sendo imposto aos atingidos é uma prova desta submissão dos governantes, que ignoram a vontade das famílias, inteiramente excluídas de todos os espaços de debate e decisão sobre como as criminosas vão reparar os danos que provocaram. Estamos vivendo um momento de retrocessos políticos e sociais no país. Como isso se relaciona com o crime da Samarco e com a situação dos atingidos? O golpe de Estado que estamos vivendo no Brasil representa para os atingidos um imenso retrocesso. Todas as leis ambientais que garantiam o mínimo de precaução em relação aos impactos ambientais e permitiam algum espaço de
debate público estão sendo enfraquecidas ou anuladas. A privatização crescente do setor elétrico, sobretudo das distribuidoras de energia, e a recusa de se criar uma política nacional que garanta os direitos dos atingidos vão aprofundar a violação de direitos e piorar a condição do acesso à energia elétrica no campo e na cidade. Toda a população do Brasil também é atingida duramente por este modelo e por este golpe. Muitas pessoas atingidas pelo rompimento da barragem tiveram seus direitos negados. Qual a importância de se atuar de forma coletiva e organizada? Como não existe legislação federal que garanta os direitos, somente se as famílias se organizarem , desde a base, e construírem o protagonismo popular, em especial das mulheres, será possível garantir indenização justa, reassentamentos e a reconstrução das condições de vida de forma digna, sustentável e duradoura. Não há outra saída.
Novo dique pode soterrar Bento Rodrigues Rafaella Dotta A área a ser alagada para a construção de um novo dique da Samarco – o dique S4 - corresponde a 55 propriedades e atinge patrimônios culturais como a Estrada Real, os vestígios de um muro arqueológico, um muro colonial e a Capela de São Bento, do século XVIII. Além disso, o dique impossibilita que se chegue ao distrito pela estrada convencional, que se tornou um “museu da tragédia”. “Permitir a construção do dique S4 é compactuar com esse crime contra uma comunidade que merece ter sua memória viva”, declara Lucimar Muniz , ex-moradora de Bento Rodrigues. Letícia Oliveira, integrante da coordenação do MAB, lembra que o dique S3 passou por alteamento – aumento do muro para aumentar a capacidade – e que o dique S4 corre perigo de sofrer o mesmo processo. “Se altear o dique S4, o que não é difícil, todo o Bento Rodrigues vai ficar embaixo d’água”, alerta.
EXPEDIENTE Esta edição especial é uma parceria do Brasil de Fato MG e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Contatos: (31) 3309 3314 / 3213 3983 / redacaomg@brasildefato.com.br secretariamabmg@gmail.com www.brasildefato.com.br // www.tragediaanunciada.com.br http://tragedianunciada.mabnacional.org.br
MUNDO
Belo Horizonte, 21 a 27 de outubro de 2016
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Maduro cria sessão permanente pela paz e estabilidade do país VENEZUELA Oposição tenta referendo para depor presidente, mas órgão eleitoral acusa fraude no processo Reprodução
Da redação
O
presidente eleito pelo povo da Venezuela, Nicolás Maduro, criou uma sessão permanente do Conselho de Defesa da Nação, na quarta (26). O objetivo é defender o país das ações de desestabilização provocadas pela oposição. Cabe à sessão zelar pelo diálogo, a paz, a economia, a justiça e a defesa da soberania do país. Maduro também pediu que o povo venezuelano ajude a construir um grande acordo social no país.
Na segunda (24), dia em que o Papa Francisco recebeu o presidente Nicolás Maduro para uma conversa, o Vaticano anunciou que vai intermediar uma tentativa de acordo entre governo e oposição. As partes devem
se reunir no domingo (30), na ilha de Margarita, Caribe Venezuelano. Oposição provoca caos no país Há anos, a oposição tenta desestabilizar a economia e a
ordem pública da Venezuela, com vistas a depor governos eleitos com voto popular. Os conflitos se agravaram quando, no ano passado, pela primeira vez, desde a aprovação da Constituição de 1999, os partidos oposicionistas conquistaram maioria de deputados na Assembleia Nacional. Desde então, a oposição tem tentado concretizar seu antigo objetivo de depor Maduro por meio de um referendo, o que está formalmente previsto na Constituição. Entretanto, é preciso que, primeiro, a proposta te-
nha 1% das assinaturas dos eleitores do país, e depois sejam coletadas mais 20% das assinaturas, numa nova fase. Entretanto, o Conselho Nacional Eleitoral adiou, até nova ordem da Justiça, a primeira coleta de assinaturas, por conta de denúncias de fraude. A oposição, que detém maioria no Legislativo, não aceitou a decisão e aprovou um julgamento de responsabilidade política do presidente, acusando-o de quebrar a ordem constitucional e provocar um golpe de Estado.
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Metalúrgicos de Minas na luta por melhores salários e condições de trabalho
Os metalúrgicos de BH/Contagem e região estão em campanha salarial desde o dia 29/07, quando entregaram a pauta de reivindicações na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). O presidente do Sindicato, Geraldo Valgas fala sobre o andamento da negociação e explica como a entidade está levando adiante o processo de mobilização da categoria contra o governo golpista de Michel Temer e sua ofensiva contra os direitos da classe trabalhadora. Como está o andamento da campanha salarial dos metalúrgicos de BH/Contagem? Geraldo Valgas - Em três meses de negociação, pouco se avançou. As propostas apresentadas pela Fiemg até agora, nem de longe atendem as expectativas dos trabalhadores. Para se ter uma ideia, a melhor proposta colocada na mesa só repõe pouco mais da metade da inflação do período, mas mesmo assim, para vigorar a partir de fevereiro de 2017. Quais são as maiores dificuldades para mobilizar a categoria nesta campanha salarial? GV - Bom, sem dúvida o cenário
político e econômico atual do Brasil são os principais fatores que impedem o bom andamento das negociações. Fica difícil mobilizar a categoria quando os trabalhadores estão com a corda no pescoço. A ofensiva do governo golpista de Michel Temer, contra os direitos da classe trabalhadora, reflete nas negociações da campanha salarial? GV - Com certeza! Os empresários acreditam cegamente de que agora com o governo Temer, vão poder retirar e rebaixar direitos dos trabalhadores a vontade. Eles acham que estão com a faca e o queijo na mão. Portanto, se não houver partici-
pação e luta dos trabalhadores com os sindicatos, não vamos conseguir manter ou ampliar direitos. O que os metalúrgicos de BH/Contagem estão fazendo para defender seus direitos e denunciar os perigos do governo golpista? GV - Estamos lutando junto com todos os setores organizados da sociedade, que repudiam este retrocesso e sabem dos perigos que o golpe representa para a democracia e trabalhadores. Estamos intensificando a mobili-
zação da categoria rumo à greve geral. Quero aproveitar para informar que a partir de agora temos, pelo menos uma vez por mês, espaço garantido no jornal Brasil de Fato para publicação de informações sobre os metalúrgicos de BH/Contagem e região.
Geraldo Valgas
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BRASIL
Belo Horizonte, 21 a 27 de outubro de 2016
Senadores analisam proposta que congela gastos sociais PEC 241 Senadores analisam proposta que congela gastos sociais Arquivo
ticas sociais pelo simples fato de que o que necessitamos são mais gastos per capita em diversas áreas, com destaque para saúde e educação”, defende o economista.
Pedro Rafael Vilela, de Brasília
E
stá prevista para o dia 13 de dezembro a votação em segundo turno, no Senado Federal, da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que congela gastos sociais, como saúde, educação, meio ambiente, assistência social, transportes, entre outros. Após passar na Câmara, a medida, se for aprovada pelos senadores, vai proibir o governo feEscola Estadual Santos Dummont, em Venda Nova (BH), segue ocupada por secundaristas contra a PEC 241
Solução para problema fiscal do Brasil seria mexer no pagamento de juros da dívida, avalia economista
deral de aumentar os gastos públicos acima da inflação pelos próximos 20 anos. Está fora desse limite, no entanto, o pagamento de juros da dívida pública, que remunera principalmente banqueiros e grandes acionistas do mercado financeiro. Esses poderão ver seus rendimentos ampliados quando o país voltar a
crescer. Já os serviços públicos, por outro lado, não receberão investimentos pelas próximas duas décadas. Por causa disso, a PEC não resolve o problema fiscal do Brasil, na opinião de especialistas. É o que explica, por exemplo, o economista João Sicsú, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Nossas dificuldades fiscais advêm dos exagerados pagamentos de juros da dívida pública que decorrem as elevadas taxas Selic que são praticadas pelo Banco Central. E a PEC nada propõe para conter esse desperdício de recursos públicos”, critica. “A PEC desmontará o Estado brasileiro e suas polí-
Greve geral Como resposta à emenda constitucional dos gastos públicos e as propostas do governo para a reforma da previdência e mudanças nas leis trabalhistas, movimentos populares e organizações sindicais preparam uma greve geral para o dia 11 de novembro. A paralisação de diversas categorias está sendo articulada em todos os estados e conta com apoio das oito maiores centrais sindicais do país. Outra paralisação está sendo programada para o dia 25. Soma-se a esse levante a ocupação de mais de 1.100 escolas por secundaristas em quase todos os estados brasileiros.
Estudantes resistem e sofrem repressão VIOLÊNCIA Jovens são presos por ocupar escola no Tocantins. No Paraná, membros do MBL foram flagrados agredindo secundaristas Da redação Já são 1154 escolas ocupadas por todo o país, de acordo com a União Brasileira dos Estudantes (UBES). O número de jovens que luta contra a reforma do ensino médio e contra a PEC 241 cresce a cada dia, assim como as ofensivas que tentam conter os protestos. Em Miracema, no Tocantins, 26 estudantes (11 menores de idade) foram algemados e presos, na quinta (27),
por estarem acampados no colégio Dona Filomena Moreira. A PM teria entrado na instituição sem aviso prévio e sem documento de reintegração. Os alunos foram levados para a delegacia e, segundo a UBES, impedidos de receber seus familiares. No Paraná, casos de agressões e ameaças contra os secundaristas também se tornam cada vez piores. Na tarde de segunda-feira (24), o adolescente Lucas Eduardo Araújo Mota, de 16 anos,
foi encontrado morto nas dependências do Colégio Estadual Santa Felicidade, Safel, em Curitiba. O suposto autor do crime, conforme indicou o secretário de Segurança do Paraná, tem 17 anos e também é aluno da escola. Os colegas teriam se desentendido após consumo de “droga sintética”. O incidente gerou manifestações em repúdio às ocupações por parte de grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) e incentivou pedi-
dos de reintegrações de posse, alguns deles revertidos. “Foi um fato isolado que espantou e entristeceu todos nós. Por isso repudiamos qualquer pessoa ou organização que tente utilizar a morte do Lucas para desmoralizar e deslegitimar o movimento das ocupações”, diz Matheus dos Santos, presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes). As ocupações de escolas paranaenses seguem massivas e já duram três semanas.
Nos últimos dias têm se multiplicado os casos de agressões e ameaças contra estudantes participantes do movimento. Neste contexto, diversos advogados populares têm assessorado gratuitamente os adolescentes e jovens. De acordo com Ramon Bentivenha, do coletivo Advogados pela Democracia e Direitos para Todos e Todas, todo o material referente às agressões que os estudantes têm sofrido será reunido para processos judiciais.
Belo Horizonte, 21 a 27 de outubro de 2016
Amiga da Saúde Noto minha boca seca com muita frequência. E costumo tomar uns 2 litros de água por dia. O que pode estar acontecendo?
Regina Célia, 36 anos, costureira Querida Regina, a sensação de boca seca pode ser devido a vários fatores. Um deles é o clima, que pode fazer você suar mais e perder líquido, necessitando aumentar a quantidade de água habitual. Outro fator é a alimentação: quando você ingere alimentos mais ricos em fibra, as fezes retêm mais água (o que melhora o trânsito intestinal), fazendo com que sobre me-
nos água para o restante do corpo. A atividade física mais pesada que o de costume também pode ser a causa. Alguns medicamentos podem interferir na produção de saliva. Outros fatores são doenças como o diabetes, alterações nas glândulas salivares, etc. Respirar pela boca e falar muito também ajudam a deixar a boca seca.
Aqui você pode perguntar o que quiser para a nossa Amiga da Saúde Mande sua dúvida: amigadasaude@brasildefato.com.br Sofia Barbosa I Coren MG 159621-Enf.
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Nossos direitos Trabalhadora doméstica: saiba seus direitos! A PEC que regulamenta a profissão das domésticas já está em vigor há mais de um ano, e representou uma grande conquista para as mais de 6 milhões de trabalhadoras domésticas do Brasil. Dentre os direitos hoje assegurados, destacam-se: Carteira de Trabalho e Previdência Social, devidamente assinada; Salário-mínimo fixado em lei, jornada de 44 horas semanais e direito a recebimento de hora-extra remunerada; Férias de 30 dias; Feriados civis e religiosos; 13º (décimo terceiro) salário; Estabilidade no emprego em razão da gravidez e li-
cença maternidade; Auxílio-doença pago pelo INSS; Aviso-prévio de, no mínimo, 30 dias; Integração à Previdência Social (recolhimento do INSS); Recolhimento obrigatório do FGTS pelo empregador e Seguro desemprego. Na prática, muitos destes direitos ainda são desrespeitados. Isso acontece porque nosso país tem uma história de escravidão e de relações produtivas machistas. Se você tem dúvidas sobre a proteção de seus direitos, procure o Sindicato das Trabalhadoras e dos Trabalhadores Domésticos de Minas Gerais!
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CULTURA
Belo Horizonte, 21 a 27 de outubro de 2016
“A Voz” de mulheres e homens presos LANÇAMENTO Projeto reúne iniciativas para visibilidade de detentos Divulgação
Raíssa Lopes
M
ulheres que cumprem pena no Centro de Referência Para Gestantes, em Vespasiano, único presídio exclusivo para grávidas e lactantes do Brasil, querem contar suas histórias em livro. Na última quarta (25), aconteceu no Sindicato dos Jornalistas o lançamento do financiamento coletivo para a publicação de “Mães do Cárcere”. Ele já está finalizado e preci-
sa da arrecadação para a impressão dos exemplares. O livro conta com fotografias e relatos de mães com diversas experiências de vida, mas que compartilham a realidade de serem afastadas de seus filhos após o período de amamentação. O livro faz parte do Projeto Voz, conjunto de iniciativas de comunicação realizadas em unidades prisionais. Idealizado pelos jornalistas mineiros Natália Martino e
Gentileza gera gentileza
Até o domingo (30), o Circuito da Liberdade, em BH, recebe o Festival Gentileza, com programação totalmente gratuita. Com shows, palestras, projeção de poemas, dança, oficinas, feiras, piqueniques, a proposta do evento é refletir como relações humanas sadias e gentis são capazes de promover uma vida urbana melhor. Um portal de fitas coloridas com frases gentis será instalado na Praça da Liberdade para que as pessoas se deixem levar pela boa energia. Mais informações em https://goo.gl/i0MT2B
Leo Drummond, o programa também tem como prioridade a confecção da revista “A Estrela”, produzida exclusivamente por detentos a partir de oficinas de jornalismo e de fotografia ministradas dentro das casas de detenção. A ideia, segundo Leo, é fornecer ferramentas para que pessoas esquecidas pela sociedade se façam ouvidas. “Em 2014, criamos o projeto pensando em como a população carcerária sofre com
as restrições à comunicação. Gostaríamos de fazer uma ponte entre esses dois mundos. Nas prisões, existem pessoas reclusas há tanto tempo que o contato com a tecnologia se torna também um contato com o mundo de fora”, conta. Mães do Cárcere O livro é resultado de um ano de convivência dos jornalistas com mães e filhos destinados a um dia se separar. São dez histórias que
nos aproximam do cotidiano da prisão: mulheres que se casam, cuidam das crianças, despedem-se delas, fazem festa junina, enfrentam condenações. “Quisemos respeitar ao máximo a voz delas. Mostrar que quem está preso deve ser humanizado, que é uma pessoa que faz parte da família de alguém”, conta Leo. O apoio para financiamento da impressão pode ser feito até o dia 24 de dezembro, via Catarse (www.catarse.me/ maesdocarcere).
A Estrela A revista já está na segunda edição. A primeira foi desenvolvida na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC) de Itaúna. Já a mais recente contou com o trabalho de homens da APAC de São João Del Rei, no Campo das Vertentes. Leo conta que nas duas unidades o cotidiano dos jornalistas profissionais foi recriado, com reunião de pauta, direcionamentos sobre as reportagens, entrevistas, etc. Um dos detentos, inclusive, chegou a ser o entrevistador do juiz que o condenou. As histórias estão resumidas em 32 páginas de textos e imagens, que só quem sabe o que é viver em cárcere pode contar.
Xote coladinho
Para aqueles que não perdem um bom arrasta pé e um xote bem amoroso, no sábado (29) acontece a edição especial do Forró Raiz na Pampulha. Ao som de várias bandas, como Trio Lampião, Trio Balancê e Os 4, o evento será na Praça Padre Dino Barbiero, no bairro São Francisco. A festa começa às 15h e segue quente até meia noite. A entrada é gratuita. Mais informações em https://goo.gl/F7Cj40
Música e arte, junto e misturado
Graveola, Zaika dos Santos, Djambê, Coletivo Dinamite e Todos os Caetanos do Mundo são as atrações do Festival Concreto, que acontece no sábado (29), embaixo do Viaduto Santa Teresa, Centro de BH. Das 16 às 22h, enquanto a música rola solta, grafiteiros irão cobrir os muros do local com muitas cores e personalidade. A entrada é gratuita.
ESPORTES
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Torcedor morto chegou ao hospital com múltiplos traumas
tada por testemunhas. Uma torcedora conta que tudo começou por um desentendimento com seguranças da Prosegur, empresa que presta serviços à Minas Arena. “Nós estávamos tentando passar para o setor laranja, [o Eros] pediu para o segurança e ele não deixou por causa
das câmeras. Aí, o Eros falou: ‘Tudo bem’. Só que ele levou o pé para a frente, eu acho que o segurança pensou que estávamos tentando invadir e já foi aplicando nele um mata leão, puxou para dentro do quarto e, nisso, veio um segurança, deu um mata leão e foi asfixiando”, contou
ONDE TIVER UMA FAMÍLIA MORANDO, VAI TER LUZ.
Agora, ela volta às suas origens para quitar um compromisso histórico com Minas Gerais e levar
de infraestrutura do Brasil, com 15 mil km de rede construída, 774 municípios atendidos e um
ENCON T OS
D
A
levar energia elétrica a essas famílias mineiras até o fim de 2018. Trata-se de um dos maiores projetos
Geralda das Dores Andrade, Orosino Pereira Gomes e Elisângela Aparecida Gomes. Felício dos Santos/MG.
CID
energia a 50 mil famílias que vivem sem luz na zona rural. A Cemig e o Governo do Estado vão
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S RO
Nos últimos anos, a Cemig cresceu no Brasil e no mundo. Mas algo importante ficou para trás.
Solidariedade Torcidas organizadas se manifestaram com pesar sobre a morte de Eros, que era vinculado à Torcida Pavilhão Independente, e criticaram a Minas Arena. “Prestamos aqui nossa solidariedade à Pavilhão Independente e à família do diretor da Pavilhão, Eros, que foi, segundo relato de sua esposa, assassinado nesta quarta, jogo contra o Grêmio, pelos seguranças que deveriam proteger o torcedor no Mineirão”, afirma a torcida Resistência Azul Popular.
OS
torcedor Eros Dátilo, que morreu durante o jogo da quarta (26), no Mineirão, deu entrada no Hospital Odilon Behrens sem vida e com vários traumas. Foi o que informou a Secretaria Municipal de Saúde: “O paciente chegou ao hospital já sem vida – apresentando múltiplos traumas - e o óbito foi oficialmente declarado às 23h16. O corpo foi encaminhado para o IML”. Inicialmente, a Minas Arena e os grandes veículos de comunicação disseram que Eros morreu por conta de um infarto. Entretanto, a versão começou a ser contes-
AN
D
O
comentou o ocorrido e disse que está colaborando com as investigações.
à reportagem a cuidadora de idosos Alecsandra Luciana de Abreu. A Polícia Civil informou que foram ouvidas testemunhas e o segurança envolvido na ocorrência, mas que este não foi detido por não haver flagrante. Um inquérito foi aberto para apurar o caso. O corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para exames. Na quinta (27), a médica legista Lena Lapertosa indicou que as lesões não são suficientes para explicar o óbito, de modo que seriam necessários outros exames. O Cruzeiro e a Minas Arena lamentaram a morte do torcedor. A Prosegur também
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Arquivo pessoal
Wallace Oliveira e Léo Souza
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investimento de 800 milhões de reais. Esse imenso trabalho é a contribuição da Cemig para o Programa Novos Encontros, o plano de ação do Governo de Minas para combater a pobreza no campo. A Cemig está de volta às suas origens porque a gente cresce mais forte quando coloca os mineiros em primeiro lugar.
www.cemig.com.br
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Brasil e Argentina: começa venda de ingressos
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DECLARAÇÃO DA SEMANA Reprodução
Rafael Ribeiro / CBF
ela 11ª rodada das eliminatórias da P Copa de 2018, Brasil e Argentina se enfrentam no Mineirão, no próximo dia
10. O jogo marca o retorno da Seleção ao palco dos 7 a 1 contra a Alemanha. A venda de ingressos começa nesta
sexta-feira (28), às 15 horas. As informações ficam disponíveis a partir das 11 horas nas redes sociais da CBF. Ao todo, Brasil e Argentina já se enfrentaram 102 vezes, com 39 vitórias brasileiras, 37 argentinas e 26 empates.
Opor-se à homofobia, ao racismo e a qualquer forma de violência é, para todos os genuínos membros do Hertha, uma questão importante e, acima de tudo, parte do caráter. Declaração do time alemão Herta Berlim, em repúdio a uma faixa de conotação homofóbica exibida por alguns torcedores na partida contra o Colônia, no Estádio Olímpico de Berlim.
Gol de placa Pelas semifinais da Série C, o Guarani perdeu o primeiro jogo para o ABC de Natal por 4 a 0. Na volta, em Campinas, o bugre campineiro esbanjou milagre: 6 a 0 na sacola dos potiguares! A final da terceirona será disputada entre Guarani e Boa.
Gol contra Pessoas sem ingresso foram proibidas de circular no entorno do estádio Palestra Itália horas antes da vitória do Palmeiras contra o Sport, domingo (23). Tradicionalmente, o exterior do estádio fica lotado de pessoas que se unem nos bares e barraquinhas para torcer, tomar uma e comer churrasco.
Decacampeão
É Galo doido!
La Bestia Negra
Bráulio Siffert
Rogério Hilário
Nadia Daian
Na vitória contra o Atlético Paranaense, o América jogou como deveria ter jogado no resto do campeonato. Reconhecendo sua inferioridade técnica, o time preocupou-se em manter uma defesa sólida e organizada, sem atacar desesperadamente; Decacampeão por outro lado, vendo ser possível ganhar, foi à frente quando possível, acreditou nas suas potencialidades, pressionou nas horas certas e, assim, chegou ao gol da vitória. Além disso, ainda que em virtude de lesões e suspensões, o técnico Enderson Moreira, enfim, está usando jogadores da base com mais regularidade. Renato Bruno entrou muito bem e Messias e Matheuzinho precisam continuar como titulares já também para 2017.
Em duas frentes, o Atlético, em menos de uma semana, garantiu duas vitórias importantes. Como sempre, sofridas. Pragmaticamente, o técnico Marcelo Oliveira já definiu seu objetivo neste ano, embora, para evitar conflitos com os torcedoGalofinjam doido! res fanáticos,Éalguns apostar em virada histórica no Campeonato Brasileiro. Desistir, nunca; conformismo, jamais. Porém, tenhamos os pés no chão. Caminhemos para o mata-mata da Copa do Brasil com convicção, pois neste sistema conquistamos os dois títulos inéditos no Século XXI, enquanto há mais de 40 anos sonhamos repetir a consagração de 1971. Repetir a façanha ainda é possível, mas cada coisa vem em seu devido tempo.
Decepcionada. Esse é o meu sentimento para com o primeiro jogo do Cruzeiro contra o Grêmio, na quarta-feira (26), pela semifinal da Copa do Brasil. As últimas partidas tinham enchido o torcedor cruzeirense de esperança e passamos Negra a acreditar La queBestia tudo seria diferente, que iríamos fortes na busca do pentacampeonato do torneio. Aí, veio a realidade nua, crua e dolorida. No Mineirão, a equipe foi o retrato dessa temporada oscilante e sem brio de 2016. O mais importante, agora, é juntar os cacos e seguir firmes na nossa luta, que é pelos 45 pontos no Campeonato Brasileiro para sair da zona de rebaixamento. Faltam apenas quatro pontos nos seis jogos restantes.